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A profissionalização do jornalista no Brasil

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SBPJor – Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo 15º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo

ECA/USP – São Paulo – Novembro de 2017

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A profissionalização do jornalista no Brasil

Maria Elisabete Antonioli1

Resumo

Este artigo busca resgatar a trajetória da profissionalização do jornalista no Brasil, tendo em vista o aporte teórico de autores que tratam a questão, bem como, da legislação que regulamen-tou a profissão e outras que dispuseram sobre as condições de trabalho, funções desenvolvidas e a própria necessidade do diploma. Nesse sentido, trata-se de uma pesquisa sustentada com base bibliográfica e documental, no que diz respeito à profissão do jornalista e seu percurso, princi-palmente a partir do período em que os jornais ganharam realmente a condição de empresas comerciais, que data entre o final do século XIX e início do século XX.

Palavras-chave: Profissão; profissionalização; jornalismo; jornalista; legislação.

1. Introdução

A profissionalização do jornalista tem sido objeto de discussões, ao longo dos anos, tanto por teóricos que pesquisam essa demanda como também por aqueles que fizeram parte de organizações que buscaram legitimar a profissão por meio de seus esta-tutos.

Michael Kunczik (2001, p. 33), afirma que o termo profissão é utilizado quan-do:

1. A ocupação requer um reconhecimento altamente especializado, adquirido por uma formação ocupacional prolongada, com base téorica; 2. a introdução à ocupação é controlada, e as pessoas que a exercem se comprometem a cumprir certos

1 Doutora em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. Coordenadora do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mestrado e do Bacharelado em Jornalismo da ESPM.

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mentos profissionais; e 3. há uma formação de grêmio formal que representa os inte-resses da comunidade ocupacional, a mesma que considera como uma de suas tare-fas principais o encarecimento da importância essa ocupação em particular.

Para o pesquisador, os jornalistas não são uma categoria social homogênea, pois, dependendo de sua posição no tipo de mídia em que atuam, as tarefas e a autoima-gem profissional têm uma ampla variação. Ele observa que há diferenças entre, por exemplo, repórteres locais, jornalistas de agências de notícias, correspondentes estran-geiros e chefes de redação. Também menciona as profissões individuais, que podem variar de um país para o outro, como: repórter, sub-redator, redator pleno, mediador, fotógrafo jornalístico e editor. Com relação ao chefe de redação, Kunczik diz que o pro-fissional participa mais da administração, do controle, da distribuição do trabalho e das tarefas do que os outros jornalistas e nos jornais alemães ele decide com que ênfase se apresentam as matérias e manchetes, além de representar externamente a organização e manter contatos. O trabalho jornalístico “genuíno”, de investigação, de redação e de edição, praticamente não existe na atualidade. Não raro os jornalistas, graças ao seu bom desempenho, são promovidos a postos onde já não podem utilizar suas habilidades jornalísticas (KUNCZIK, 2001, p. 17).

Neveu (2006) chama atenção para o desempenho de papéis múltiplos, pois de acordo com o autor, o jornalista, segundo proporções variáveis, é um coletor de infor-mações e um produtor de textos. Celso Kelly2 (1966, p. 12) se apropria de Fraser Bond para dizer que “o jornalista demonstra acima de tudo um insaciável interesse pelas pes-soas e acontecimentos. É essa curiosidade e esse interesse que, em primeiro lugar, o levam para o trabalho jornalístico”. Para Kelly, a tarefa do jornalista não tem limites. Na captação, o que mais vale é a capacidade de discernimento do profissional entre tantos fatos e a escolha daqueles que sensibilizarão os seus leitores. Já Luiz Beltrão (1969, p. 35), acredita que o exercício do jornalismo está subordinado ao uso da linguagem, em qualquer que seja sua função, pois se baseia na comunicação, no “ato pelo qual se transmite uma mensagem, de pessoa a outra ou de um grupo a outro”. Conforme o pes-quisador, o processo de comunicação necessita do comunicador, da mensagem e do

2 Celso Kelly foi conselheiro do Conselho Federal de Educação e relator do Currículo Mínimo de Jorna-lismo do ano de 1966 e do Curso de Comunicação Social em 1969.

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3 ceptor. Já na comunicação jornalística deve-se acrescentar o veículo e o intermediário (indivíduos ou organizações que colaboram com o jornalista informando-o sobre os acontecimentos).

O pesquisador português Nelson Traquina (2008) lembra que o jornalismo atu-al das sociedades democráticas tem suas raízes no século XIX. Conforme o autor, a ver-tiginosa expansão dos jornais nesse século permitiu a criação de novos empregos e um número crescente de pessoas passou a se dedicar o tempo inteiro a uma atividade que ganhou um novo objetivo: fornecer informação e não propaganda. Para Traquina, os jornalistas, embora com algum atraso, acompanharam a tendência histórica mundial da profissionalização e, em todos os países, eles não foram exceção quanto aos objetivos essenciais desse processo por meio de maior liberdade e autonomia e um estatuto social como diversas profissões. Outras tendências, que o pesquisador identificou em diversos países, foram a expansão da imprensa, o aumento da comercialização, o aumento do número de pessoas ganhando seu sustento por meio de atividades em jornais e a divisão o trabalho, com uma crescente especialização na profissão emergente. A comercializa-ção tornou possível o amadurecimento da profissão de jornalista (Traquina, 2005, p. 63). Contudo, o pesquisador observa que na história do jornalismo, o processo de pro-fissionalização foi lento e difícil e, nessa perspectiva, é interessante mencionar que o Brasil não foi exceção.

Conforme Juarez Bahia (1990), as características iniciais do jornalismo brasi-leiro voltadas à literatura e à política estão presentes até a proclamação da República, mas, a partir de então, os editores de jornais e empresários gráficos compreenderam que elas não atendiam mais aos anseios da sociedade e de um país em transformação e parti-ram para melhorar a qualidade de seus produtos e buscaparti-ram a profissionalização. Entre-tanto, é efetivamente no século XX que os jornais se estruturam como empresas jorna-lísticas no Brasil.

Marinalva Barbosa (2010), por sua vez, comenta que até o início do século XX, os jornalistas continuavam a ser, em grande parte, oriundos das faculdades de Direito e ocupavam cargos de prestígio ou eram redatores e repórteres que, na maioria das vezes, faziam dessa profissão um patamar para alcançar cargos públicos ou entrar na política. A pesquisadora argumenta que o estudante de Direito via o jornalismo como um lugar

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4 natural para o exercício da profissão, pois se identificava com a imparcialidade e neutra-lidade. Para ela:

Mais do que ensinamentos adquiridos, as Faculdades de Direito fornecem a possibi-lidade de manejar a palavra escrita, a frase lapidar, o pensamento inflexível, vistos pela sociedade como fundamentais e como a verdadeira essência da sabedoria (2010, p. 150).

Já Dalton Jobim (1992) menciona a participação natural dos escritores nas re-dações e a ocorrência de improvisações nesse ambiente. A forte presença dos bacharéis em Direito e escritores nas redações também ocorreu, pois, o curso de jornalismo só veio a ser criado no final da década de 1940 e, portanto, até esse período, não havia pro-fissionais com formação específica.

As questões abordadas pelos pesquisadores considerados nesta pesquisa biblio-gráfica, como parte introdutória deste trabalho, se referem à profissão do jornalista e, em especial, à fase inicial do jornalismo brasileiro. Entretanto, é interessante prosseguir com o registro de outros fatores que contribuíram para o fortalecimento da profissão.

2. O movimento associativo dos jornalistas

Alguns fatos também foram fundamentais para a profissionalização do jornalis-ta, como a criação de sindicatos e organizações. Edgard Leuenroth (1987) diz que, de uma forma geral, o movimento associativo dos jornalistas, abrangendo toda a classe de forma sistematizada, que teve início no Brasil no início do século XX, tem “dupla fei-ção: civil e sindical”. Segundo o autor, as organizações civis são as que estão sujeitas à legislação comum, com formação mista, e que reúnem em seus quadros sociais pessoas que desenvolvem as várias atividades no jornalismo sem distinção entre empregados e empregadores. Com relação, às organizações sindicais, aquelas que reúnem apenas os profissionais empregados, assalariados, e que são considerados jornalistas conforme o que estabelece a legislação relativa ao movimento sindical. Ele lembra, ainda, que, em paralelo existem as organizações dos empregadores.

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5 Leuenroth (1987) esboçou o seguinte esquema do movimento associativo dos jornalistas: Organizações Civis: associações de imprensa em geral; associações de im-prensa de setores; associações de imim-prensa de credo e tendências; federações regionais, estaduais e nacionais das associações de imprensa. Organizações Sindicais dos Profissi-onais: sindicatos de jurisdição limitada; sindicatos de jurisdição estadual; delegacias regionais de sindicatos; confederação nacional dos sindicatos. Organizações Sindicais Patronais: sindicatos dos proprietários de jornais e revistas; federações desses sindica-tos. É interessante ressaltar algumas características dessas organizações, assinaladas por Leuenroth: a predominância de autonomia e muitas vezes distanciamento entre organi-zações de empregados e empregadores, em casos de reivindicações que as colocam em situação de litígio, como também, uma aproximação quando o motivo é a liberdade de imprensa.

O jornalista profissional pode desdobrar sua atividade associativa em todos os setores: no sindicato, na associação de imprensa em geral e na associação de imprensa de setor. O jornalista não profissional, se empregador, pode pertencer a seu sindicato e às associações de imprensa em geral e de setores. Os demais jornalistas, não profissio-nais e não empregadores, poderão participar das associações de imprensa em geral e de setores (LEUENROTH, 1987, p. 61).

Em relação à criação dos sindicatos, registram-se o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro, em 1934, e o Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo em 1937. Conforme Freitas Nobres (1987), anteriormente existiu em São Paulo a União dos Trabalhadores do Livro e do Jornal, que era um órgão comum aos jornalistas e aos gráficos. Dois anos mais tarde foi a vez da criação da Associação Paulista de Im-prensa, em 1939. Nesse contexto é fundamental mencionar a Associação de ImIm-prensa, hoje Associação Brasileira de Imprensa (ABI), criada em 1908 pelo jornalista Gustavo Lacerda.

Ao assumir a presidência da ABI, Gustavo Lacerda estabeleceu como objetivo a criação de um curso de Jornalismo. Fernando Segismundo (1962) lembra que Gustavo de Lacerda foi um dos jornalistas raros a viver exclusivamente da imprensa, pois jorna-lismo, nesse período, era considerado um bico, uma atitude boemia ou, então, servia de trampolim para posições mais altas. O fundador da ABI e seus sucessores lutaram por

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6 melhores condições de trabalho e salários para os jornalistas. Foi também da ABI que surgiu a proposta de criação de curso de jornalismo. Marques de Mello (1974, p. 16.) recorda o 1º Congresso de Jornalistas realizado pela ABI dez anos após sua criação, no ano de 1918, em que foram oficializadas as propostas de criação de um curso de Jorna-lismo. Sobre a proposta, o autor resgata as palavras de Victor de Sá (1955, p. 220-225):

Segundo o regulamento estabelecido para a Escola de Jornalismo, onde havia ideias colhidas nas organizações norte-americanas, o curso geral seria de três anos, além de um curso vestibular de dois anos que são de preparo para a matrícula no instituto. (...)

A Escola de Jornalismo, que não queria ser oficial, que não faria doutores nem ba-charéis, mas que se propunha unicamente a propinar a seus alunos o ensino de maté-rias julgadas essenciais à prática da profissão cuidando da cabeça e das mãos dos es-tudantes, com a teoria da ciência necessária e a prática das artes de gravar. Ao lado do programa das aulas do curso teórico propriamente dito, a Escola ministraria o en-sino prático. Seria, então, fundado o jornal para os alunos e na redação e nas ofici-nas dessa folha iriam os estudantes desenvolver praticamente a sua força na sintaxe e na ortografia da língua. O jornal seria a escola de aplicação, onde os alunos comple-tariam os seus estudos, redigindo reportagens, que poderiam ser mundanas, artísti-cas, policiais ou sociais, escrevendo artigos de política e finanças, com orientação própria ou ditada pelo professor, fazendo a crítica de música, pintura, teatro e letras, conforme o adiantamento no Curso regular da Escola.

As aspirações dos membros da ABI foram concretizadas, por meio de um ba-charelado em Jornalismo, conforme o Decreto nº 23.087, de 19 de maio de 1947 que criou o curso da Faculdade Cásper Líbero. É interessante mencionar, ainda, que além da contribuição das organizações e criação do curso, ocorreu a regulamentação da profis-são que foi disciplinada pela legislação promulgada também no século XX.

3. A regulamentação da profissão

Em 1938, o Decreto-lei n. 910, de 30 de novembro, dispôs sobre a duração e condições do trabalho em empresas jornalísticas. Os dispositivos dessa legislação foram aplicados a jornalistas, revisores, fotógrafos ou “na ilustração”. O Decreto-lei definiu como jornalista “o trabalhador intelectual cuja função se estende desde a busca de in-formações até à redação de notícias e artigos e à organização, orientação e direção desse trabalho”. Como empresas jornalísticas, “aquelas que têm a seu cargo a edição de

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7 nais, revistas, boletins e periódicos, ou a distribuição de noticiário, e, ainda, as de radio-difusão em suas secções destinadas à transmissão de notícias e comentários”. Esse De-creto-lei também previu, no art. 17, a criação de escolas de jornalismo, destinadas aos profissionais de imprensa, pelo Governo Federal em acordo com os Governos Estadu-ais. O parágrafo único desse artigo dispôs que, criadas essas escolas, o registro da pro-fissão jornalística só ocorreria em face dos diplomas do curso feito ou exames prestados nas mesmas.

Em 1969, outro Decreto-Lei, o de n 972, de 17 de outubro, foi promulgado, dispondo sobre o exercício da profissão do jornalista. O art 2º estabeleceu a profissão de jornalista como o exercício habitual e remunerado de qualquer das seguintes atividades: a) redação, condensação, titulação, interpretação, correção ou coordenação de matéria a ser divulgada que contenha ou não comentário; b) comentário ou crônica, pelo rádio ou pela televisão; c) entrevista, inquérito ou reportagem, escrita ou falada; d) planejamento, organização, direção e eventual execução de serviços técnicos de jornalismo, como os de arquivo, ilustração ou distribuição gráfica de matéria a ser divulgada; e) planejamen-to, organização e administração técnica dos serviços de que trata a alínea " a "; f) ensi-no de técnicas de jornalismo; g) coleta de ensi-notícias ou informações e seu preparo para divulgação; h) revisão de originais de matéria jornalística, com vistas à correção redaci-onal e a adequação da linguagem; i) organização e conservação de arquivo jornalístico, e pesquisa dos respectivos dados para a elaboração de notícias; j) execução da distribui-ção gráfica de texto, fotografia ou ilustradistribui-ção de caráter jornalístico, para fins de divul-gação; l) execução de desenhos artísticos ou técnicos de caráter jornalístico.

Como empresa jornalística o Decreto-Lei considerou, aquela com atividade de edição de jornal ou revista, ou a distribuição de noticiário, com funcionamento efetivo idoneidade financeira e registro legal. Também equiparou a empresa jornalística à seção ou serviço de empresa de radiodifusão, televisão ou divulgação cinematográfica, ou de agência de publicidade, em que fossem exercidas as atividades previstas no artigo 2º, já descrito. Entre a documentação exigida para o registro profissional, o Decreto-lei assi-nalou o diploma de curso superior de Jornalismo.

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8 O Decreto nº 83.284, de 13 de março de 1979, deu nova regulamentação ao an-terior Decreto-Lei nº 972. Nesse novo decreto, na exigência do diploma de curso supe-rior de Jornalismo foi acrescida “ou Comunicação Social, habilitação Jornalismo”, que era o curso oferecido e criado no ano de 1969.

Após 32 anos da promulgação do Decreto-lei nº 972, em outubro de 2001, a ju-íza substituta Carla Rister, da 16ª Vara Cível da Justiça Federal em São Paulo, concedeu liminar suspendendo provisoriamente a obrigatoriedade de exigência do diploma de jornalismo para a obtenção do registro profissional. Na liminar, a juíza afirmou que o Decreto-lei 972 de 1969, editado durante o regime militar com a exigência do diploma, é contrário à Constituição. Mas, efetivamente, a suspensão dessa exigência veio ocorrer no dia 17 de junho de 2009, quando, por oito votos contra um, os ministros do Supremo Tribunal Federal votaram contra a obrigatoriedade do diploma para o exercício da pro-fissão.

No período entre a liminar concedida e o julgamento pelo STF, um longo em-bate foi desencadeado pelos órgãos sindicais e outras entidades que defendem a manu-tenção do diploma. A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), por exemplo, pre-parou um agravo de instrumento, solicitando a cassação da liminar. Em nota oficial emi-tida logo no início, no dia 31 de outubro de 2001, a FENAJ e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo se expressaram:

Desde o I Congresso Brasileiro de Jornalistas, em 1918, no Rio de Janeiro, quando pela primeira vez reivindicaram o estabelecimento de um curso específico de nível superior para a profissão, os jornalistas brasileiros vêm lutando pelo direito a uma regulamentação que garanta o mínimo de qualificação profissional àqueles que pre-tendam trabalhar como jornalistas.3

Importante lembrança da FENAJ e do Sindicato, em relação ao 1º Congresso Brasileiro de Jornalistas, ocorrido em 1918, conforme mencionado anteriormente neste trabalho.

3 Trecho da Nota Oficial da Federação Nacional dos Jornalistas e do Sindicato dos Jornalistas

Profissio-nais no Estado de São Paulo, em 31 out de 2001. Disponível em:

http://observatoriodaimprensa.com.br/primeiras-edicoes/em-defesa-da-profisso-de-jornalista/. Acesso em: 7 nov. 2001.

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4. Considerações Finais

Nas últimas considerações a respeito da trajetória do jornalismo brasileiro, as-sim como da própria profissionalização do jornalista, reiteram-se os diversos fatos que marcaram esse percurso e que foram fundamentais para a legitimação da profissão. Co-mo já referenciado, Traquina (2005) lembra que o processo de profissionalização do jornalismo foi lento e difícil. Acrescenta-se ainda que, no Brasil, além dos problemas apontados, a própria imprensa chegou tardiamente e só ocorreu no ano de 1808 por meio de dois fatos: a publicação do jornal oficial a Gazeta do Rio de Janeiro, no mês de setembro, e a publicação em Londres, no mês de junho do Correio Brasiliense, de Hipó-lito da Costa que entrava clandestinamente no país e era considerado de oposição aos atos da administração colonial portuguesa.

Embora o jornalismo tenha uma função extremamente social, é inegável a ne-cessidade de sua inserção no mercado para que possa subsistir e, nesse sentido, as em-presas contribuíram para a profissionalização do jornalista. A legislação promulgada, a organização dos sindicatos e entidades e a criação do curso de jornalismo foram, tam-bém, fundamentais para a legitimação profissional. Mesmo sem a obrigatoriedade do diploma, atualmente, muitos jovens continuam a procurar o curso de jornalismo em busca de uma formação adequada para adentrar no mercado de trabalho. Nesse contex-to, observa-se, ainda que, hoje, a profissão é recorrentemente discutida em função dos desafios enfrentados, principalmente pelos baixos níveis salariais e extensas jornadas de trabalho enfrentadas pelos jornalistas. Uma discussão que se direciona, portanto, à pre-carização da profissão. Contudo, mesmo diante de um certo desalento e instabilidade, muitas pessoas almejam essa profissão de forte cunho social e contribuição para os pila-res da democracia. Por isso, a intenção, nesta pesquisa, é ppila-reservar a memória do per-curso construído pelos jornalistas e por aqueles que vislumbraram na profissão as possi-bilidades de um trabalho voltado à sociedade e, ao mesmo tempo, mantido por uma em-presa sustentável financeiramente e sem qualquer vínculo que possa ameaçar sua inde-pendência.

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Referências

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______ . Decreto-Lei, o de n 972, de 17 de outubro de 1969. Disponível em: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/844543.pdf. Acesso em: 10 jan. 2017. ______ . Decreto nº 83.284, de 13 de março de 1979. Disponível em:

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