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QUANDO A QUEDA DA PESSOA IDOSA RESULTA EM ÓBITO: UM PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO NO RIO GRANDE DO NORTE ENTRE 2005 E 2015.

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QUANDO A QUEDA DA PESSOA IDOSA RESULTA EM ÓBITO: UM PANORAMA EPIDEMIOLÓGICO NO RIO GRANDE DO NORTE ENTRE 2005 E 2015.

Denise Guerra Wingerter¹,², Kalline Fabiana Silveira¹, Lara de Melo Barbosa¹, Maria

Ângela Fernandes Ferreira, Maria do Socorro Costa Feitosa Alves¹, Luana Kelle Batista Moura³, Isabelle Ribeiro Barbosa¹

Instituições: 1 UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2 Secretaria Estadual de Saúde Pública do RN (SESAP/RN), 3 Centro Universitário

UNINOVAFAPI

Resumo: Indivíduos de todas as idades apresentam riscos de sofrer quedas,

entretanto para os idosos, as quedas possuem um significado mais relevante, uma vez que podem levá-lo à incapacidade física, lesões e morte, possuindo assim um alto custo psicológico, social e econômico, e impacta diretamente na diminuição da autonomia do idoso e da sua independência, muitas vezes passando a necessitar de institucionalização, além do fato de que as quedas em idosos estão associadas a altas taxas de mortalidade. Objetivo: Traçar o perfil dos idosos que foram a óbito por queda no estado do Rio Grande do Norte, no período de 2005 a 2015. Método: Estudo descritivo de série histórica utilizando dados secundários com indivíduos com 60 anos ou mais de idade sobre mortalidade associada à queda, registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) para o período de 2005 a 2015, utilizando a Regressão Logística com a interpretação da razão de chances (OR), tendo por ferramenta o software SPSS para a análise estatística. Resultados: No período de 2005 a 2015, ocorreram no total 461 óbitos por quedas registrados no Sistema de Informação nesse segmento populacional. O Coeficiente de Mortalidade Específica por queda obtido para os idosos para o período foi de 13,12/100.000, sendo que em 2005 foi de 9,55 e em 2015 foi de 14,86, um aumento percentual de 55,6%. Em contrapartida, o CME por quedas para a população em geral no período foi de 2,10/100.000 e para a população abaixo de 60 anos foi de 0,89/100.000. Estratificando por idade, o CME da faixa etária 60-69 foi de 2,99 no período, enquanto o de 70-79 foi de 9,54 e o de 80+ de 52,01. Nesse sentido, os resultados permitem concluir que a mortalidade por queda é significativamente maior para os idosos que para a população em geral, e em especial na faixa etária de 80 anos e mais com um risco

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2,3 vezes maior que a faixa de 60-69 (IC 95% 1,4-3,5), dos idosos de cor parda (OR1,4;IC 95% 0,7-2,5), Solteiros (OR 1,2; IC 95% 0,9-1,8) e separados/divorciados (OR 1,1; IC 95% 0,4-2,9). Não houve significância na associação entre sexo e a escolaridade, entretanto para a variável sexo, ainda é possível perceber uma maior tendência da idosa vir a óbito por queda, se observamos a proporção de óbitos e o CME. A Escolaridade apresentou 51% de omissão no preenchimento da Declaração de Óbito. Observou-se o aumento de 36% da população idosa no Estado, e o aumento do Coeficiente de Mortalidade Específica por quedas de 56% e o CME feminino apresentou aumento de 90%. Conclusões: Este estudo aponta para a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas adequadas que atendam às demandas específicas para essa faixa etária no referido estado, e ações que minimizem ou evitem este agravo, assim como a necessidade de capacitação para o preenchimento da Declaração de Óbito da pessoa idosa, e sugere estudos comparativos com outras bases de dados a fim de verificar falhas na coleta do SIM.

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INTRODUÇÃO

O envelhecimento humano é um processo natural, dinâmico e progressivo, no qual acontecem importantes alterações físicas, bioquímicas, funcionais e morfológicas, ocorrendo com o tempo a redução da capacidade de adaptação funcionais às situações do cotidiano, tornando o organismo mais suscetível às enfermidades e às casualidades do dia-a-dia (MAIA et al., 2011).

No Brasil, considera-se pessoa idosa aquela que tem 60 anos ou mais, independentemente de seu estado biológico, psicológico e social (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2015). Entretanto, o conceito de idade é multidimensional e alguns autores argumentam que considerar somente a idade não seria adequado para analisar desenvolvimento humano, uma vez que a idade e o processo de envelhecimento possuem outras dimensões e significados que extrapolam as dimensões da idade cronológica, variando com estilos de vida e decisões ao longo da vida e desta forma, duas pessoas não envelhecem de maneira idêntica (BRASIL, 2003; SCHNEIDER; IRIGARAY, 2008; TOMÁS, 2016)

O mundo tem vivenciado um processo de envelhecimento demográfico de suas populações, com aumentos da expectativa de vida, com quedas bruscas das taxas de natalidade e de mortalidade, o que acarretará a longo prazo, populações mais envelhecidas. No Brasil, a tendência de redução dos níveis de fecundidade e mortalidade no País, chamado de transição demográfica, tem surpreendido por sua velocidade e pelo seu caráter generalizado, e é considerada um fator determinante para a modificação da estrutura etária de uma sociedade, e sua observação é importante para a análise e modificações das demandas sociais de um território, uma vez que tem repercussões no arrefecimento do crescimento da população e na consequente alteração da composição etária, alterando as demandas de serviços públicos em geral (ARBACHE, 2011; BARBOSA; SPYRIDES, 2018; MUNIZ, 2012; RIOS-NETO, 2005).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que em 2020 a população com mais de 60 anos de idade seja de, aproximadamente, 11% da população brasileira.(ARBACHE, 2011).

O processo de envelhecimento populacional demandará cada vez mais, produtos e serviços específicos para esta parcela crescente da população além de ajustes na estrutura social, econômica, política e cultural da sociedade, uma vez que

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os idosos possuem demandas específicas para obtenção de adequadas condições de vida (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2015).

Uma das principais preocupações relacionadas ao envelhecimento são as comorbidades que acometem estes indivíduos, sendo a instabilidade postural e as quedas, síndromes geriátricas que englobam as alterações de saúde mais comuns nos idosos, constituindo um dos principais problemas clínicos e de saúde pública devido à sua alta incidência, às consequentes complicações para a saúde e aos altos custos assistenciais (NASCIMENTO; TAVARES, 2016)

A Organização Mundial de Saúde define “queda” como “vir a inadvertidamente ficar no solo ou em outro nível inferior, excluindo mudanças de posição intencionais para se apoiar em móveis, paredes ou outros objetos”, e avalia que em torno de 28% a 35% das pessoas com mais de 65 anos de idade sofrem quedas a cada ano, proporção que é acentuada para 32% a 42% para as pessoas com mais de 70 anos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2007).

Estudo de Terra (2013) estima que um em cada três indivíduos com mais de 65 anos venha a cair e que entre os idosos que caem, um em cada vinte sofram uma fratura ou necessitem de internação, e dentre os mais idosos (80 anos e mais) o percentual de queda aumenta para 40% a cada ano, sendo as quedas mais frequentes nos indivíduos institucionalizados (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, 2007).

Embora indivíduos de todas as idades apresentem riscos de sofrer quedas, para os idosos as quedas possuem um significado mais relevante, uma vez que podem levá-lo à incapacidade física, lesões e morte, possuindo assim um alto custo psicológico, social e econômico, e impacta diretamente na diminuição da autonomia do idoso e da sua independência, muitas vezes passando a necessitar de institucionalização, além do fato de que as quedas em idosos estão associadas a altas taxas de mortalidade, uma vez que de 5 a 10% das quedas evoluem para óbito, e este percentual aumenta para 30% em quedas de idosos institucionalizados (TERRA, 2013).

Frente ao panorama observado e aos poucos estudos encontrados sobre mortalidade por queda em idosos, verifica-se a importância da realização deste estudo que teve como objetivo caracterizar social e demograficamente os idosos que foram a óbito por queda no Rio Grande do Norte, no período de 2005 a 2015. Assim, pretende-se traçar o perfil desse idosos visando proporcionar mais subsídios para o

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desenvolvimento de políticas públicas adequadas que atendam às demandas específicas para essa faixa etária no referido estado.

METODOLOGIA:

Estudo descritivo de série histórica utilizando dados secundários com indivíduos com 60 anos ou mais de idade sobre mortalidade associada à queda, registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade-SIM (BRASIL, 2004), composto pelas informações provenientes das Declarações de Óbito (DO) e disponibilizado pelo Departamento de Informática do SUS (DATASUS)(BRASIL, 2008) para o período de 2005 a 2015.

A faixa etária selecionada foi a de 60 anos ou mais, idade definida como inicial do envelhecimento pela Política Nacional do Idoso(BRASIL, 2003).

As variáveis utilizadas para traçar o perfil epidemiológico foram as informações disponíveis sobre indivíduos na Declaração de Óbito, que são: sexo, idade, cor da pele, estado civil e escolaridade.

Os idosos que foram a óbito por queda foram selecionados pela identificação dos códigos referentes à Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10), no seu Capítulo XX – Causas externas de morbidade e mortalidade. Foram selecionados os óbitos codificados entre W00aW19, pertencentes ao grupo "quedas".

Posteriormente, foram realizadas algumas adaptações no banco de dados, tais como: a junção das informações anuais em um único arquivo e a eliminação dos indivíduos que não continham a informação da idade, pela relevância dessa informação para a definição do banco de dados.

Os dados da população idosa residente no RN para a construção dos coeficientes de mortalidade específicos foram obtidos por meio do site do DATASUS/MS.

Como indicador de mortalidade por causa externa, foi utilizado o coeficiente de mortalidade específico por queda, calculado por ano, sexo e faixa etária. Número de óbitos pela causa específica, expresso por 100 mil habitantes, ocorridos em determinado local e período.

Na modelagem estatística realizou-se uma análise descritiva, para verificar o comportamento das variáveis. A seguir, desenvolveu-se uma análise univariada das

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variáveis potenciais de risco sobre a resposta à mortalidade por queda, para a seleção das variáveis candidatas ao modelo, com p-valor < 0,20.

Com o objetivo de ajustar um modelo parcimonioso e significativo, de maneira que a explicar o conjunto dos dados em estudo, fez-se uso do Modelo Linear Generalizado (MLG). Como a variável dependente, mortalidade por queda, é categorizada com distribuição binomial, o modelo indicado foi o de regressão logística. Esta modelagem permite estabelecer as relações entre a variável dependente com as variáveis potenciais explicativas e definir a contribuição relativa de cada uma na determinação da mortalidade por queda. A interpretação dos parâmetros estimados pelo modelo de regressão logística é feita através da razão de chances (“odds ratio”). As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o aplicativo computacional SPSS 20. Foram calculadas as razões de chance OddsRatio(OR) e seus respectivos intervalos de confiança a 95%.

Por tratar-se de um estudo que utiliza bancos de dados secundários e não nominais, não foi necessário submeter o projeto desta pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. No entanto, os pesquisadores se comprometeram a manter os princípios éticos preconizados para a pesquisa desta natureza, respeitando as ideias, citações e referenciando os autores e suas publicações.

RESULTADOS

No período de 2005 a 2015, ocorreram 192.447 óbitos no Rio Grande do Norte, e 752 óbitos com a queda como causa básica, sendo que destes, 117.618 foram de indivíduos com mais de 60 anos, o que representa 61% dos óbitos totais, e dos óbitos com 60 anos e mais, ocorreram 461 óbitos por queda, o que representa 0,39% do total de óbitos em idosos no período estudado.

A Tabela 1 apresenta a população idosa total no período, o incremento populacional, as frequências absolutas e percentuais de óbitos por quedas e por outras causas, e os Coeficientes de Mortalidade Específicos por quedas.

Tabela 1 – População total de idosos e incremento populacional do número de idosos, mortalidade total e por quedas e coeficiente de mortalidade específico por queda e sexo, por 100 mil idosos, no Rio Grande do Norte de 2005 a 2015

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Ano População Idosos Óbitos óbitos por Quedas CME por queda

M F Total Inc N % Inc M F M F Tot Inc

2005 119674 152657 272331 Base* 8745 26 0,30 Base * 15 11 12,53 7,21 9,55 Base* 2006 122710 157667 280377 2,95 8700 21 0,24 -0,19 10 11 8,15 6,98 7,49 -21,55 2007 126270 163192 289462 6,29 9104 34 0,37 0,31 17 17 13,46 10,42 11,75 23,03 2008 130186 169047 299233 9,88 9813 33 0,34 0,27 19 14 14,59 8,28 11,03 15,51 2009 134181 174966 309147 13,52 10341 30 0,29 0,15 14 16 10,43 9,14 9,70 1,64 2010 138096 180779 318875 17,09 10651 51 0,48 0,96 22 29 15,93 16,04 15,99 67,52 2011 141993 186571 328564 20,65 11507 59 0,51 1,27 31 28 21,83 15,01 17,96 88,09 2012 145889 192371 338260 24,21 11444 49 0,43 0,88 25 24 17,14 12,48 14,49 51,73 2013 149897 198293 348190 27,86 12183 39 0,32 0,50 17 22 11,34 11,09 11,20 17,32 2014 154212 204530 358742 31,73 12104 64 0,53 1,46 26 38 16,86 18,58 17,84 86,86 2015 158963 211167 370130 35,91 12980 55 0,42 1,12 26 29 16,36 13,73 14,86 55,64 Tot 1522071 1991240 3513311 * 117.572 461 0,39 16,73 222 239 14,59 12,00 13,12 * Legenda: M – Masculino; F- Feminino; Inc – Incremento; N – Número total de óbitos por quedas; % - Percentual de quedas em relação aos óbitos idosos; CME: Coeficiente de Mortalidade Específico

Fonte: Elaboração própria

Em relação ao aumento populacional de idosos no estado, houve um crescimento da população idosa em torno de 4% ao ano, e o aumento percentual entre 2005 e 2015 corresponde a 35,91%, ou aumento de aproximadamente 1/3 da população em relação a 2005, o que representa um contingente de quase 100.000 pessoas idosas no Estado.

O Coeficiente de Mortalidade Específico por queda também apresenta crescimento progressivo e intenso, de 55,6% no período estudado, maior do que o crescimento populacional.

Em contrapartida, o CME de quedas para a população em geral foi de 2,10 óbitos por 100.000 habitantes, e para indivíduos com menos de 60 anos foi de 0,89/100.000hab.

A Tabela 2 apresenta a população idosa por faixa etária no período e os Coeficientes de Mortalidade Específicos por quedas e faixa etária.

Tabela 2 – População de idosos por faixa etária, mortalidade por quedas e coeficiente de mortalidade específico por queda e faixa etária, por 100 mil idosos, no Rio Grande do Norte de 2005 a 2015

A Ano

População por faixa etária Óbitos por quedas CME por quedas

60-69a 70-79a 80a e+ 60-69a 70-79a 80a e+ 60-69a 70-79a 80a e+

2005 134500 89918 43981 2 5 19 1,49 5,56 43,20 2006 136133 90972 44487 5 7 9 3,67 7,69 20,23 2007 154360 87091 47056 3 8 23 1,94 9,19 48,88 2008 159194 89415 48062 5 4 24 3,14 4,47 49,94 2009 163904 91795 48823 1 9 20 0,61 9,80 40,96 2010 179762 102676 60452 6 14 31 3,34 13,64 51,28 2011 181357 103535 60949 10 12 37 5,51 11,59 60,71 2012 182906 104361 61421 6 12 31 3,28 11,50 50,47 2013 188753 106007 53431 6 8 25 3,18 7,55 46,79 2014 194442 109927 54355 9 12 43 4,63 10,92 79,11 2015 200201 114164 55762 3 13 39 1,50 11,39 69,94 Total 1875512 1089861 578779 56 104 301 2,99 9,54 52,01

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Fonte: Elaboração própria

Na Tabela 2 observa-se que o maior quantitativo de óbitos por quedas em todo o período acontece nos idosos mais longevos, de 80 anos e mais, bem como esta faixa etária possui os maiores CME em todos os períodos, apontando para a maior fragilidade desta faixa etária em relação à queda.

A Figura 1 apresenta o Coeficiente de Mortalidade Específico por quedas, segundo sexo para o Rio Grande do Norte, no período de 2005 a 2015. Para o período estudado, o aumento percentual do CME para os homens foi de aproximadamente 30%, enquanto que para as mulheres, aproximadamente 90%, e embora o aumento percentual tenha sido muito alto para as mulheres, observa-se que para os últimos três anos, existe uma grande similaridade entre no coeficiente entre os sexos.

Observa-se que nos anos de 2006,2009 e 2013, houve um decréscimo no CME em relação ao ano anterior, e observando-se os anos seguintes, em que há um percentual de aumento maior que os outros anos, sugere-se que houve falha na coleta dos dados de mortalidade neste período, especificamente para a causa básica queda.

Figura 1- Coeficiente de Mortalidade Específico por quedas: Total e por sexo, RN, 2005-2015.

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Masculino 12,53 8,15 13,46 14,59 10,43 15,93 21,83 17,14 11,34 16,86 16,36 Feminino 7,21 6,98 10,42 8,28 9,14 16,04 15,01 12,48 11,09 18,58 13,73 Total 9,55 7,49 11,75 11,03 9,70 15,99 17,96 14,49 11,20 17,84 14,86 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 C M Eq u ed as

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Figura 2 - Coeficiente de Mortalidade Específico por quedas: Total e por faixa etária, RN, 2005-2015

Com intuito de avaliar a correlação entre as variáveis estudadas e o desfecho - óbito por queda, utilizou-se, no estudo, o teste qui-quadrado e a razão de chances (OR), demonstrado na Tabela 3, onde foram encontradas associações entre a queda e a faixa etária, cor da pele e estado civil.

Tabela 3 - Distribuição de frequências dos óbitos por queda, total, teste Qui-quadrado e OddsRatio das variáveis para os idosos no RN, no período de 2005 a 2015.

TESTE QUI-QUADRADO REGRESSÃO LOGÍSTICA

Óbitos

Outras causas Queda Total P-valor OR IC P-valor

N % N % N Inf Sup RL Sexo 117.151 100 461 100 117.612 0,256 Masculino 59.521 50,8 222 48,2 59.743 - - - - Feminino 57.630 49,2 239 51,8 57.869 1,1 0,8 1,4 0,6 Faixa Etária 117.157 100 461 100 117.618 0,0000* 60-69 anos 25.333 21,6 56 12,1 25.389 - - - - 70-79 anos 33.091 28,2 104 22,6 33.195 1,4 0,9 2,3 0,16 80 e mais 58.733 50,1 301 65,3 59.034 2,3 1,4 3,5 0 Raça/Cor 100.284 100 395 100 100.679 0,0000* Branca 50.950 50,8 149 37,7 51.099 0,9 0,5 1,6 0,661 Amarela 363 0,4 1 0,3 364 1,6 0,2 12,6 0,649 Indígena 81 0,1 0 0 81 0 0 0 0,998 Parda 43.225 43,1 225 57 43.450 1,4 0,7 2,5 0,35 Preta 5.665 5,6 20 5,1 5.685 - - - - 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 60-69a 1,49 3,67 1,94 3,14 0,61 3,34 5,51 3,28 3,18 4,63 1,50 70-79a 5,56 7,69 9,19 4,47 9,80 13,64 11,59 11,50 7,55 10,92 11,39 80 e+ 43,20 20,23 48,88 49,94 40,96 51,28 60,71 50,47 46,79 79,11 69,94 TOTAL 9,55 7,49 11,75 11,03 9,70 15,99 17,96 14,49 11,20 17,84 14,86 0 10 20 30 40 50 60 70 80 C MEq ue da s

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Estado Civil 105.926 100 405 100 106.331 0,020* Casado 47.145 44,5 151 37,3 47.296 0,8 0,6 1,2 0,353 Solteiro 21.703 20,5 102 25,2 21.805 1,2 0,89 1,8 0,212 Separado/ Divorciado 2.608 2,5 11 2,7 2.619 1,1 0,45 2,9 0,774 Viúvo 34.470 32,5 141 34,8 34.611 - - - - Escolaridade 81.774 100 221 100 84.697 0,463 Nenhuma 40.501 49,5 119 53,8 40.620 - - - - 1 a 3 anos 24.318 29,7 67 30,3 24.385 1,1 0,8 1,5 0,548 e 4 a 7 anos 11.782 14,4 23 10,4 11.805 0,8 0,5 1,3 0,325 8 a 11 anos 5.173 6,3 12 5,4 5.185 1 0,5 1,9 0,99 12 anos e mais 2.695 3,3 7 3,2 2.702 1,3 0,6 2,9 0,502

Legenda: OR – OddsRatio IC – Intervalo de confiança RL – Regressão Logística *Estatisticamente significantes ao nível de 5%.

** Razão de chances a variável Causa do Óbito, onde 1=Queda e 0=Outras Causas. Fonte: Elaboração própria

Com relação à faixa etária, a chance de óbito por queda nos idosos é significativamente maior para indivíduos acima dos 80 anos, com um risco 2,3 vezes maior que a faixa de 60-69 (IC 95% 1,4-3,5). A análise também aponta o risco maior dos idosos de cor parda, com um risco 1,4 vezes maior (IC 95% 0,7-2,5). Ainda na cor da pele, o item “amarelo” não foi considerado por ter apenas um registro informado ao SIM no período, o que pode criar viés de pequeno numero na avaliação, conforme estudo de Souza (2000).

A análise do estado civil apontou que os indivíduos Solteiros possuem risco 1,2 vezes maior de óbito por queda que os viúvos (IC 95% 0,9-1,8) enquanto os separados/divorciados, um risco 1,1 vezes (IC 95% 0,4-2,9).

Para a população avaliada, o sexo e a escolaridade não foram associadas com aumento do risco da ocorrência de óbitos por quedas, entretanto a variável sexo, mesmo não apresentando significância estatística ao nível de 5% ainda é possível perceber uma maior tendência da idosa vir a óbito por queda, se observamos a proporção de óbitos e o CME.

A análise da variável escolaridade provavelmente foi inviabilizada pelo fato de haver muita informação não coletada na Declaração de Óbito, com 51,2% das DOs com o campo escolaridade não informado, reforçando a importância do preenchimento para análises em saúde (MESSIAS et al., 2016) (BRASIL, 2015).

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O Coeficiente de Mortalidade Específico para o período teve um aumento importante, passando dos 50%, e o valor desse aumento percentual é menor que o aumento percentual do número de idosos na população, o que acarreta mais óbitos por esse agravo, e implica na necessidade de políticas e serviços diferenciados para esta população específica, a fim de evitar este agravo na população, (FALSARELLA et al., 2014), principalmente tendo em vista que o óbito por queda trata-se de agravo evitável segundo a Lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil(MALTA et al., 2007).

Os dados mostraram para este estudo que no período recente, não houve diferenças significativas acerca do gênero na mortalidade por quedas, assim como encontrado no estudo de Araújo et al (2014). Estudos diversos apontam prevalência do gênero feminino, como Rosa et al (2015) que encontrou uma prevalência de 56,9% para este sexo, em contrapartida, estudos como o deMaciel et al (2010) encontrou prevalência do sexo masculino, o que aponta para uma variação em que não é possível afirmar atualmente uma tendência para risco de quedas por gênero.

Quanto à faixa etária, verificou-se que idosos com 80 anos ou mais possuíam maior risco de óbito por queda, tendo nessa faixa etária, 130% mais chance de ocorrência de óbito por queda (OR=2,30) em relação à faixa etária de 60 a 69 anos. De acordo com ANTES et al. (2015) e ALVES et al. (2017), esse aumento nas idades mais avançadas, pode acontecer em decorrência dos efeitos cumulativos das alterações relacionadas à idade, à fragilidade, às doenças e co-morbidades, ao uso de medicamentose ao meio físico não adequado para a pessoa idosa.

Em relação à raça/cor, evidenciou-se que há um risco maior de óbito por quedas em relação à cor parda, um risco 40% maior. Estudos como ARAÚJO et al. (2014)encontraram achados similares, entretanto há de se salientar que desde o censo IBGE de 2010, mais da metade da população Norte-Rio-Grandense se autointitula parda(IBGE, 2010).

Quanto ao estado civil, ser casado se mostrou um fator de proteção para o risco de óbito por queda, e os separados/divorciados e solteiros apresentaram maiores riscos de padecer deste agravo, provavelmente pelo fato de morarem sozinhos, que pode ocorrer nestes estados civis, e delegaria ao idoso, tarefas que possam maximizar a sua à instabilidade postural e psíquica, causando maior quantitativo de situações adversas que culminem em quedas(NASCIMENTO; TAVARES, 2016).

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A escolaridade provavelmente não apresentou significância pelo alto índice de incompletitude do campo, posto que 52% das declarações continham esse campo como ignorado ou não informado, assim como foi descartada neste estudo a variável ocupação, pelo alto número de informações omissas do campo, que apresentou 78% de incompletitude, o que inviabiliza a análise epidemiológica e estatística quando possui valores acima de 20% (ROMERO; CUNHA, 2007), e reforça a importância do preenchimento para análises em saúde do Estado e a necessidade de treinamento no preenchimento da Declaração de Óbito (SILVA et al., 2013).

O CME dos anos 2006, 2009 e 2013 apresentam inconsistências de valores em relação aos anos anteriores e posteriores, o que sugere problemas na coleta dos dados para este período.

Este estudo possui algumas limitações, dentre elas a utilização de uma base de dados secundária, que podem limitar a análise de algumas variáveis que seriam importantes em um estudo sobre óbitos por quedas, como a avaliação de riscos domiciliares, em instituições de longa permanência e em hospitais, assim como a abordagem do local e dos fatores que influenciaram a queda. Uma outra limitação refere-se ao uso de projeção populacional e não censo ou contagem, posto que somente a projeção traz o detalhamento de faixa etária por sexo para todos os anos do estudo, o que pode criar um viés nos coeficientes que utilizam a população como denominador.

CONCLUSÕES

No período de 2005 a 2015, ocorreram 461 óbitos informados ao Sim por quedas da pessoa idosa, que representaram 0,24% do total de óbitos no Rio Grande do Norte. O risco de óbito por queda é significativamente maior na faixa etária de 80 anos e mais, nos idosos de cor parda, de estado civil solteiro ou separado/divorciado e não há associação com sexo e escolaridade.

Observou-se o aumento da população idosa no Estado, assim como o aumento do Coeficiente de Mortalidade Específica por quedas, apontando para a necessidade de desenvolvimento de políticas públicasadequadas que atendam às demandas específicas para essa faixa etária no referido estado, assim como ações que minimizem ou evitem este agravo.

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Sugere-se estudos posteriores de comparação com outras bases de dados, como a base de internações hospitalares do sistema de informação de hospitalização (SIH/SUS) para se verificar a possível falha de coleta em alguns anos do estudo.

REFERÊNCIAS

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