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Mulher e trabalho: um debate necessário no contexto das políticas neoliberais

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Academic year: 2021

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Anais do I Simpósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas, ISSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 24 e 25 de junho de 2010 GT 7. Gênero e Trabalho – Coord. Anne Grace Gomes

Mulher e trabalho: um debate

necessário no contexto das

políticas neoliberais

Elza Marques da Silva Mariucci٭ Carla Cecília Rodrigues Almeida∗∗

Resumo

As recentes transformações nas relações de gênero e trabalho vêm atingindo todos os estratos e segmentos sociais no contexto brasileiro das políticas neoliberais. Hobsbawm(1996) afirma que a maior revolução social ocorrida no “curto” século XX é a das mulheres. O objetivo geral do presente estudo é identificar algumas alterações no mundo do trabalho feminino sob a hegemonia neoliberal nos anos 1990 a 2000 segundo dados da PNAD/ IBGE. Os processos sócio-ocupacionais vêm contribuir na compreensão dos mecanismos de segregação através das novas formas de inserção e organização no trabalho - feminização, precarização e rearranjos familiares. A análise das variáveis em suas correlações poderão aproximar as(os) assistentes sociais da reflexão sobre o trabalho feminino no Brasil e suas possíveis intervenções.

Palavras- chave: mulher; trabalho; contexto neoliberal

٭ Universidade Estadual de Maringá. Email: emsmariucci@yahoo.com.br ∗∗ Universidade Estadual de Maringá. Email: carlaalm@uol.com.br

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1. Introdução

Historicamente, no Brasil, a mulher é considerada objeto sexual do homem colonizador e proprietário, em papel de sujeição ao pai ou ao marido. No entanto, a partir do século XX, principalmente, a partir dos anos de 1970, incorporada aos modernos avanços tecnológicos há maior abertura no mercado de trabalho pelo suposto desenvolvimento econômico e a deterioração dos níveis de renda real nas camadas mais pobres e médias inferiores.

As reestruturações produtivas como forma de garantir a própria reprodução do capital vêm fragilizando cada vez mais as condições de trabalho tanto para o homem quanto para a mulher. No entanto, se torna mais incisiva a exploração da mão de obra feminina. Marx( s/d) destaca que “antes, o trabalhador vendia o trabalho do qual dispunha formalmente como pessoa livre. Agora vende mulher e filhos.

As recentes transformações nas relações de gênero e trabalho feminino vêm atingindo todos os estratos e segmentos sociais no contexto das políticas neoliberais. Os processos sócio-ocupacionais nos estados brasileiros têm enorme importância na compreensão dos mecanismos de segregação. A inserção das mulheres no mercado de trabalho é uma das múltiplas expressões que favorece a identificação das desigualdades. Hobsbawm(1996) afirma que a maior revolução social ocorrida no “curto” século XX é a das mulheres.

Especificamente, as mulheres conquistam direitos legais, se inserindo no espaço público( mundo do trabalho), com alterações na esfera privada( maior autonomia nas escolhas afetivas e enfraquecimento da hierarquia de gênero nas relações conjugais, composição e estruturação). O Movimento Feminista tem papel fundamental nessas novas dinâmicas. Se percebe também que as novas configurações refletem uma assimetria das dinâmicas urbanas geradas pela globalização e pelas políticas neoliberais adotadas nos anos 1990, exacerbando os processos de dualização, polarização, desigualdades e fragmentação sociais.

Um relacionamento que é marcado pela desigualdade entre duas categorias são socialmente construídas por gênero nos espaços públicos(mundo do trabalho) e privados, hierarquizando os lugares no interior desses espaços. É útil e necessário ao sistema capitalista manter um exército de reserva de mão-de-obra barata, necessário à manutenção do próprio sistema, principalmente quando ocorre crise econômica. No conflito capital e trabalho se transpõe os limites das relações de produção através da mudança na composição da própria classe trabalhadora com a inserção das mulheres no mercado de trabalho.

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O presente estudo buscará tecer algumas considerações sobre as mulheres ao identificar algumas alterações no mundo do trabalho sob a hegemonia neoliberal nos anos 1990 a 2000 segundo dados da PNAD/ IBGE. Em Araújo & Scalon(2005, p. 20), as relações de gênero se realizam num ambiente mediado também pela já mencionada dinâmica externa das relações de produção e reprodução e por dimensões ideológicas e culturais mais gerais da sociedade. As variáveis selecionadas são as taxas de atividade segundo faixas de idade e sexo; algumas características da ocupação feminina em posições mais precárias; a distribuição dos ocupados por sexo e faixas de rendimento; por sexo e horas semanais de trabalho na ocupação principal e por distribuição de ocupados por sexo e posição na ocupação.

2. Mulher e mundo do trabalho: algumas considerações

A mercantilização da força de trabalho vem caracterizar a mulher no mundo do trabalho pela queda de fecundidade e pelos novos arranjos familiares e com a mulher complementando a renda familiar são eixos a serem clarificados por dados do IBGE. Não só as mulheres pobres estão se inserindo no mercado de trabalho, mas também as mais instruídas e das camadas médias. O movimento feminista contribuiu para o atual papel social da mulher atuante nos espaços públicos.

O primeiro recenseamento brasileiro em 1872 vem clarificar que 45,5% da população economicamente ativa é composta de mulheres. Nos anos de 1920 e 1940 há a redução dessa participação para 15,3 e 15,9, respectivamente. Especificamente, em 1940 há uma lei autorizando o pagamento de 10% a menos para as mulheres em relação aos homens.

Nos anos de 1990 a 2000 se tem uma leve diminuição nas taxas de atividade masculina em todas as faixas de idade e um aumento significativo nas taxas de atividade das mulheres a partir dos 20 anos.

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A tabela acima vem reiterar a mulher ampliando sua participação no mercado de trabalho. Dados de 1970 referenciam apenas 19% e 15% das mulheres com idade entre 40 e 49 anos e 50 e 59 anos, respectivamente, em atividade no mercado de trabalho. Especificamente, no ano de 1990, 49,5% e 34,5% e em, 2002, cerca de 66,7% e 50,1% permanecem ativas, respectivamente, nessa mesma faixa etária. Interessante é perceber que há uma inflexão de percentual das mulheres de 40 a 59 anos no mesmo ano de 1998 e 60 anos e mais nos anos de 1995 e 1998, correspondendo, portanto, ao período da matriz de cunho ultraliberal de Fernando Henrique Cardoso.

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Os dados a serem considerados estão, primeiramente, no fato das trabalhadoras domésticas até 29 anos terem saído dessa ocupação incisivamente ao se comparar o ano de 1990 e 2002, principalmente até os 19 anos. E há que se relacionar a tabela anterior

com o aumento das taxas de atividade, principalmente, das mulheres dos 30 aos 59 anos

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e a percepção de que também ocorre nessa mesma faixa etária um aumento extremamente significativo na ocupação de trabalhadoras domésticas. O fato da trabalhadora não possuir carteira de trabalho vem acentuada nos anos de 1995 a 2002, retomando ao aspecto de desregulamentação das relações trabalhistas.

No Brasil, o IBGE até recentemente classificava os afazeres domésticos como inatividade econômica. Em 1992, foi feita uma questão específica- " realizou ou não afazeres domésticos na semana anterior?", que tem permitido conhecer e avaliar melhor a realização dessas tarefas, não mais entendendo-as apenas como uma categoria de inatividade. Porém, grande parte das trabalhadoras ainda se encontram no emprego doméstico, no trabalho domiciliar e em atividades não remuneradas.

Ainda persiste a desigualdade dos rendimentos femininos em relação aos masculinos. O maior aumento de percentual segundo a faixa de rendimento para as mulheres nos anos de 1990 e 2000 é a faixa de 1 a 2 salários- mínimos, de 20,8 a 25,6%. A diminuição no percentual se percebe na faixa de rendimento de 2 a 5 salários mínimos e mais de 5, respectivamente, de 21,9% e 12,5% a 14,6% e 6,1%. O rendimento de até um salário mínimo ainda mantém no decorrer do período estudado e as mulheres sem rendimento passam de 11% a 14,3%. Os anos de 1993 e 1995 acentuam esse trabalho não remunerado e invisível.

Especificamente, os homens também ampliam a faixa de rendimento de 1 a 2 salários mínimos no período de 1990 a 2202, de 20,3% a 27%, respectivamente. E, como as mulheres, têm diminuido a faixa de rendimento de 2 a 5 salários mínimos e, significativamente, em mais de 5

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salários mínimos. No que se refere a homens sem rendimento, o percentual passou de 7% a 8,1%, mas, bem menos atingidos que as mulheres no contexto neoliberal.

Atualmente, os homens estão em sua maioria na faixa de rendimento de 1 a 2 salários mínimos e, em seqüência, de 2 a 5 salários mínimos e, as mulheres, em sua maioria, 32,2% recebem até 1 salário mínimo.

No que se refere a horas semanais trabalhadas, as mulheres aumentaram na faixa de até 39 horas, com o percentual de 38,7% a 44,7% nos anos de 1990 a 2002. Há relevância na diminuição de 40 a 48 horas semanais trabalhadas, passando de 46,6% a 42,1%, bem como a diminuição menos expressiva de 49 horas ou mais, de 14,6% a 13,2%.

Em 2002, a maioria dos homens estão na faixa de horas semanais trabalhadas de 40 a 48 horas, com 54%. Essa faixa declinou o percentual, considerando o ano de 1990, com 59,6% e aumentando nas horas semanais trabalhadas até 39 horas, de 13,9 a 19,4.

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A categoria divisão sexual do trabalho permite compreender o processo de constituição das práticas sociais a partir de uma base material. No ano de 2002, a distribuição dos ocupados por sexo tem quase a metade das mulheres predominando na ocupação de empregadas, com 47% e menos como empregadoras, somente 2,7%. No entanto, em 1990, o percentual era de 66,7 mulheres empregadas. Os homens, em 2002, também se ocupam mais como empregados, 59,4%, e menos como empregados domésticos, 0,9%. Proporcionalmente, os homens são o dobro na ocupação de empregadores em relação às mulheres, 5,4%. Há um aumento nos anos de 1990 e 2002 dos homens com ocupação autônoma/ conta própria, de 23,8 para 26,5% e no que se refere às mulheres, em 1990, não se computava tal ocupação com as mesmas e em 2002, há o percentual significativo de 16,2%. A precarização do trabalho vem sinalizando o trabalho autônomo/ conta própria que perpassa a desproteção social e a perda de postos de trabalho.

Considerações finais

Existem vários significados e práticas no contexto neoliberal no mundo do trabalho que destacam o capital se apropriando das diferenças entre os sexos. As relações de gênero vem sendo determinadas pelas relações sociais de produção e permeando toda a vida.

A evolução da taxa de participação das mulheres revela avanço na busca por autonomia, podendo as mesmas suprirem a si, complementarem a renda da família ou provê- la totalmente. Há mais mulheres acima dos 30 anos trabalhando, mas, também há maior percentual na ocupação de trabalhadoras domésticas nessa mesma faixa etária. Tanto homens quanto mulheres têm um rendimento mensal baixo, podendo se afirmar que o contexto neoliberal fragiliza e explora indistintamente os sexos, aumentando a pobreza e a segregação social.

A flexibilização do trabalho vem intensivamente ampliando empregos precários e sem proteção social. Há o aumento de postos de trabalho informais. No que se refere a ocupados por sexo e horas semanais de trabalho na ocupação principal, se percebe um declínio no maior número de horas para as mulheres. Nas sociedades modernas, o uso do tempo se define pelos interesses da acumulação capitalista, o tempo que conta é o que produz mais- valia, do cuidado com a reprodução como nos trabalhos domésticos.

A conotação é de uma maior participação das mulheres na esfera produtiva e com posição secundária em relação aos homens mesmo

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quando têm mais estudo ou quando trabalham igual número de horas. Outros dados já assegurados pelo IBGE exprime que o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho pode ter como determinante a sua maior capacitação, maior escolaridade, havendo discrepâncias na valoração desses itens. Melhorar a condição de vida não está ligada, necessariamente, a um maior número de anos de estudo.

O fato é que as relações de gênero vem determinando valores diferentes para profissionais no mercado de trabalho. As novas configurações no mundo do trabalho vem deixando de ser fator de inclusão, solidificando a segregação e a desigualdade. Essa dinâmica nada mais é que o fortalecimento e continuidade do processo de dominação, atendendo aos interesses do capital.

A mplementação de políticas sociais efetivas respaldadas na realidade concreta pode transpor ações pontuais e emergenciais, podendo minimizar as excessivas desigualdades no mercado de trabalho a partir da categoria gênero, visto a preocupação em gerar postos de trabalho formal dos formuladores de políticas públicas e também o fortalecimento das organizações políticas das mulheres para minimizar as dicotomias existentes.

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Referências

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