A N D R E F O U C H E
A PEDAGOGIA
Traduçâo deLUfS MAGALHAES DE ARACJO ANTONIO SALES CAMPOS
B I B L I O T E C A p e d a g O g i c a B R A S I L E I R A Série 3.» A T U A L I D A D E S PEDAGÔGICAS Volume 63 e GH00791
A PEDAGOGIA DAS MATEMATICAS
pOT
ANDRÉ FOUCHÊ
Traduçâo de
LUIS MAGALHAES DE ARAÛJO ANTONIO SALES CAMPOS
tépicosprincinak^ '• os
judiciosa proporcâo combinar, em
mélodo heuristico ^ ^°^atismo e o
expende, aliâs onL-?'
P e r t i n ê a c i a ) ' d a m a i o r
compreensâoïi'nÎe ahf "a
®ai resultados de invtlr embora
0 ensino tem c
considerâvel de crio^- Parte a Quem ^ Pessoal do
mes-«« e dar vida S "("If' 'J'"' «
i'iœ°aTOn,o°'"" ^ ° "oma^dSfe
g" outro lado, peK ™m'cuIo e,
f Possibilidades dn J diligente
S&ï#:îa-S5
Eï'jSîûi"""-nada com «dificii S®
C a s h 5 P ' a u e t i o d n n I c c i o
r a r ô , J j ' a t e m â t i
-aluno Ynp"'''°"^^n^emé ?m ®' "âo
">^^0 da^^- Nemé oùSP'"g'das aos
hidante sL'ï^'^^^'adticas" n? ®
obï ® que n 4 ® es-J ^ P r i m i r P a r a
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S^^IPANBîa ^
Sao Paulo
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A P E D A G O G I A
DAS MATEMATICAS
A T U A L I D A D E S P E D A G Ô G I C A S
Série S.°'
d a
BIBLIOTECA PEDAGOGICA BRASILEIKA
★
Dircçào de
J . B . D A M A S C O P E N N A
A relaçâo compléta dos livres publicados era "ATU AL ID AD ES PED AGOGIC AS"
e s t d n o fi m d C s t e v o l u m e
B I B L I O T E C A P E D A G O G I C A B R A S I L E I R A
S É R I E 3 . " < V O L . 6 3
★ ATUALIDADES PEDAGÔGICAS ★
A N D R É F O U C H É
Anligo aluno da Eactda Normal Superior de Paria. " A o r i g i " d a U n i o e r a i d a d e . D o u i o r c m C i i n c i a a ,
A
P E D A G O G I A
DAS MATEMÂTICAS
Traduçào de L U Î S M A G A L H Â E S D E A R A Û J O E A N T Ô N I O S A L E S C A i l P O SFrofcssôrcs clo Coldgio Rio Branco, Sâo Paulo
★
' O f g a " ^ F i e t e g a
r .
i
j COMPANHIA EDITORA NACIONAL
_ C O ^ i
-Do original francês
La pédagogie des mathématiques
publicado pelas
PRESSES UNIVERSITAIRES DE FRANCE (Pauls) c m s u a
"NOUVELLE ENCYCLOPÉDIE PÉDAGOGIQUE", 1952
I N D I C E
p A q s .
P r e f I c i o ( J . D e s f o r g e ) V I I
Introduçâo: Evoluçâo da Pedagogia das Matemdticas... 1
P R I M E I R A P A R T E
A l g e b r a Capftulos
I — A e s l r u l u r a d o c â l c u l o 1 1
II — 0 nûmero jracionârio e as operaçôes sôbre fraçOes 23 III — Os nûmeros gualijicados ou relatives e os parênteses 39
I V — 0 c d l c u l o a l g é b r i c o 5 0
V — Funçôes. Probleinas. EquaçOes e ineq^uaçôes 61
1 9 5 7
Direitos para a Ungua portuguÊsa adquiridos pela
C O M P A N H I A E D I T O R A N A C I O N A L
Rua dos Gusmôes, 639,
S A O P A U L O - B R A S I L
que se réserva a propriedade desta traduçâo Impreaso noa EetadoB Unidoa do Brasil
PnnUd tn the Vnittd State» of BratH
S E G U N D A P A R T E
G E O M E T R I A Capftulos
I — E v o l u ç â o e e s t r u t u r a d a G e o m e l r i a 7 5 II — Como analisar e resolver um problcma do segundo
i i p o : d e m o n s t r a ç â o d e p r o p r i e d a d e 8 1 III — Conio analisar e resolver um problema do quarto
i i p o : l u g a r e s g e o m é t r i c o s 9 3
IV — Como analisar e resolver um problema do terceiro I i p o : p r o b l e i n a s d e c o n s l r u ç O e s I Q O
V — 0 c u r s o 1 0 8
V I — A G e o m e l r i a e 0 c â l c u l o 1 1 8 V I I — A G e o m e l r i a n o e s p a ç o 1 3 0
P R E T A g i o
Querer expor, em algumas paginas, uma Pedagogia das
Matemdiicas, pode parecer emprêsa aiidaciosa. Porque nao se podejalar de Pedagogia, seja em que dominiojôr, sem peneirarem um mundo movediço de jatos e de idêias; e, traiando-se de
Matemdiicas, pariicularmente de iniciaçào às Matcmdiicas, poder-se-d evitar tocar em àlguns dos dijiceis prohlemas que propoe a gênese dos Jundamentos do conhecimento e do pensamento
cieniijicos ?
0 autor delimitou precisamente o seu assunto: traiard essenciahnente das Matemdticas no ensino do segundo grau e
quase sô do inicio da Algebra e da Geomelria.
Digo Algebra, deveria dizer Cdlculo, pois, a maioria dos capitulos desta parie da obra rejere-se ao cdlculo e à técnica do
cdlculo. Poderemos surpreender-nos com a dijerença de
quali-dade que, assim, parece jicar esiabelecida entre Algebra e Geome
lria, ao menas na jase de iniciaçào. Pensa que ésie ponto deve
ser esclarecido para eviiarmos qualquer equivoco.
A Algebra {compreendendo a Aritmética jundamental e
iambém seu prolongamenio pela Andlise) esiuda entes cujo campo de açào e de exiensào é muito mais vasto do que os da Geometria
elemeniar; desde a sua criaçâo, neles surgem propriedades que ultrapassam injinitamente o objeto e a idéia elemeniar que Ihes deu origem. Sô pouce a pouco, por um trahalho lento, se revelam as propriedades varias que ocultam. Ordenar as aquisiçôes
pro-yUî A peda^osxa das, matemàticas
9 sivas para a realizaçào dêsse objetivo ê ohra de grande jôlego;
rfesco&erfas nêsee domînio ê, alias, ilimitado, por
estard ai a ezplicaçâo do lento progressa do
comn hp e do atraso de dois milênios que aparece,
elem ^ ^ aw/or, entre a constituiqdo de uma Gcomeiria
^lementar quase perfeita e a de uma Algebra coerenie?
corpo de dJu parece hoje codijicado e jorma lun
deseia Dn ^'^Wntos sâo indispensdveis a qiiem
0
c k u l
M a i e m d i i c a s ;
806 jorma alrael't""""fr Mciaçao e nos Imnsmile,
^'"Va'^mriinciadZn^Z t """"
àe mécanismes de ' ^ Vnncipalmente na aquisiçâo
interêsse nào voder^^ (automatisme, cuja importância e
<^888 oo^efeTo'tT; Enlretanto, nào se
UO inicio, dem .redm^-le -^kebra, particularmente
(io- memôria passiva N~ ^ memôria, talvez mesmo
treinar o principiante Algebra, de
<('Pre8eniar~lhe os entes ni aï. mdquina: trata-se de
0 seu manl 1 T' ' Wopriedades, de ensi.
quanta possivel, suai ^ projundamente
f a.«orear.so para que o espirito
^orma, em cada ocasiào utilizd~los da melhor
escoimo. obsenado, refletido, imaginado,
esta soUcitac^^ a .
ZT7 n" inielectuais çue um bom
ll^àeaoometria,e oT^Zrll '' " <=<""
-sem T"-/"™" "'^'o "wa ««i-re o asstmto,
i^ndZêeZlT' ° Ti
'®^^rfaocapifuZo(ios7,r.M ^^ffe6ra, especialmente
Vroblemas (eguaçàes, ineguaçôes).
F r e f â c i o I X
Alids, indo mais adiante, além dos elementos, poderemos
ainda distinguir verdadeiramenie a Algebra da Geometria ? Nâo
joi tomando à Algebra, nào seus automatismos, mas seus entes
e propriedades projundas que a Geometria pôde ultrapassar os
limites que Ihe sâo jixados tradicionalmente e pôde vir também,
por sua vez, em auxilio da Anâlise e dar-lhe, coin êsle apoio,
novo impulsa ?
Quanta à Pedagogia, se nào é concebivel que as pesquisas nesse domînio possam, um dia, "dar certo", isto é, ehegar a conchisôes dejinitivas, ou reconhecidas unânimemente como tais,
é, no entanto, indispensdvel que essas pesquisas sejam conti-nuadas, levando em conta tanto as injormaçôes que jornecem os incessantes progressas da Fisiologia e da Psicologia, como a rejlexào Jilosôjica sôbre a Lôgica e a Ciência.
0 pequeno livra de A. Fauché traz, na concepçâo e nos desenvolvimentos, contribuiçào muito intéressante para o estxido dêsses problemas dijiceis e sempre atuais. Se a jorma viva e dgil parece, por vêzes, imperativa, é, creio, para impressionar mais 0 espirito do leitor, provocando às vêzes a contradiçâo e,
certamente, a rejlexào; parque o autor sabe muito bem que nào
é razodvel, em seïnelhante matéria, dizer "rfeye-se" ou "nào se
se deve . A qualidade das observaçôcs, bem malizadas, que jonnam
a trama dêste seu trabalho nos dd, indubitàvelmente, a prova disso.
J . D e s f o r g e
I N T R O D U Ç A O
Evoluçâo da Pedagogia das Matemâticas
UANDO ESTUDAMOS do ponto de vista histôrico
a evoluçâo da Pedagogia das Matemâticas,
o que mais nos impressiona é a alternância de dois
métodos opostos.
Algumas vêzes o dogmatismo triunfa, impôe sua
intransigência. Cumpre aprender antes de
compre-ender, à custa de exemples, de problemas-tipo, de resumes ; tudo toma o carâter de verdade revelada. Cumpre crer, obedecer às regras, saber de cor os
teoremas, agir e agir depressa; o êrro é uma vergonlia
inexpiâvel. O professer vai puxando o rebanho dos alunos ; e tante pior se alguns nao compreendem, pois nâo têm razâo e o lôbo mau da ignorância os
comerâ. O professer é infalivel, inumano, é o super-homem que tudo sabe, que nunca se engana e nin-guém imagina tenha podido ser alimo outrera, hâ jâ muito tempo.
Outras vêzes o método heuristico volta à moda, admite a discussâo. Deve-se compreender antes de
aprender ; tudo toma o aspecto de uma descoberta. Cumpre procurar, redescobrir os teoremas, repensar
A peda^o^ia das matemâticas
as regras ; o tempo gasto nao importa, o traballio
menos amda. 0 êrro nâo é mais que um acidente,
acilmente reparâvel e até instrutivo, visto ensinar o
que nao é a verdade. 0 professor empurra para diante
o seu rebanho ; é necessârio que todos compreendaui :
n alguns vâo depressa demais ; mas
um hoTYi fome. 0 mestre nâo é senao
r i e n t p ^ c o l e g a m a i s e x p e
-e -e n t -e s -e m s -e -e n v -e r g o n h a r -e a
friança sofrimentos de
mente nn^ entre os dois extremes,
exata-torna todos ^ '^^r'iade, o bom método que
adCar-îos nf P'°^^®®ôres e alunos. Podemos
cido desde muitr^Hâ
começamos a conhecer ''''' ® razôes que mal
nâo se linSta da Matemâticas
apresenta também um^nrL opostos ;
pressâo de causas py+p?" medio regular, sob a
dessas causas é o mmentT ^ principal
dade, dos conhecimpi? ' quantidade e
quaU-Pre durante o mesmo tl^^® devemos adquirir,
sem-buscar melhorar o rPTiri^^^*^ ' ^ necessârio
^açâo feliz de dogmatic''' ^ uma combi-
é iâ antiga e é ela nron^*^ ^ descoberta. Essa busca
nancia entre os dois ainda a
alter-r f p q u a n d o t i v e alter-r m o » d a alter-r
s Matemâticas, consideranri ^-odo o ensino
S 'd "odetSo°^ "-^os que fer
mente, da onança. ^^omena e,
principal-I n t r o d u ç à o
As pesquisas atuais, levadas a efeito nas classes novas(*) onde o fator humano desempenha grande
papel, jâ mostraram que nâo é sômente o ensino que deve ser modificado. Serâ precise em certas partes
reconsiderar também o encadeamento lôgico das prô-prias Matemâticas. A.busca de um mellior rendi-mento nâo é, pois, ùnicamente de ordem psicolôgica, como se acreditou de inicio; é também do dominio
da Lôgica pura.
Necessârio se faz uma aproximaçâo util entre
nossas preocupaçôes pedagôgicas e as da mdùstria moderna, que exige, também, rendimento melhor.
Com efeito, este é obtido na indùstria per uma orga-nizaçâo mais bem estudada da fabricaçâo cm série, uma utilizaçâo mais racional do fator tempo e mais perfeita compreensâo do fator humano. Os dois pro-blemas têm muitos pontes comuns e as pesquisas de
um podem auxiliar as do outre. As Âlatemâticas
nâo devem ser uma tôrre de marfim, devem perder o aspecto rébarbative, desagradâvel, inumano; devem
ser, no comêço pelo menos, acessiveis a todos e o
ensino, mais bem planejado, mais bem organizado,
deve apoiar-se em combinaçâo harmoniosa e eficaz
d o s d o i s m é t o d o s c o n t r â r i o s .
O fator tempo. — Quando se estuda, lôgica-mente, a contradiçâo entre o dogmatisme e a
desco-(•) Refere-se o Autor ao ensino secuncidrio francês, no quai, a partir de outubro de 1945, foram estabelecidas (pela reforma Langevin) classes expérimentais, corn inspiraçâo pedagôgica sensivelmente diferente da tradiçào no ensino dêsse grau. V., a tal respeito, Paul Foulqcié, As esco?as Tioros, trad. port, de Luiz Damasco Peuua, vol. 55 destas "Atualidades
1
A peda^o^ia das matemâticas
mesmo ritrnn^f^^^+métodos nao tern o
da mesma forma 'îi a o tempo
entre a m-inn; ' mesma oposiçâo existante
riti^taTTnTrro^'rnW^f' ° engenheiro e
doffmatismn n /obot e o cientista. Para o
tempo é dbheirT^'p?.^' ° o "robot" o
artista, o cientista o + ^ descoberta, o artifice, o
0 verH^Jf ' é sempre vida,
geralmente muito T descoberta consome,
nha-lo. Com eSo P°''
d e s c o b e r t a é a s e d e s p e n d e n a
a c^cunstâncias novas e^imT ^ ^ adaptaçâo
muitas vêzes longo npuno ^ esfôrço
cbega a bom têrmn o ^ ^ mgrato. Se a descoberta
estabelecer uma regra^onp simples e pode-se
de adaptaçâo, ouaTirln mais fâcil o esfôrço
se renovam ; mn Tiou^f '^^l'cunstâncias imprevistas
sepiida, pelas renetionpo^ ^ desenvolver-se, em
fal hâbito se traduz ou freqlientes, e
Gm ganho de tempo' ^ quase acessôriamente,
descoberta,'^mas, sub-produto da
J^portância primordial ®^b-produto tem
ir 0 esfôrço da descoberta muito tentador
supri-egra, mas o ganho dp ^'^smar dogmàticamente
o h^bitHe comprometido,
8 ° . s " " s „ , r " • " "
a s r e e r a s i 0 1 ^ ^ •da d«c l^glcamentT' ®er ensinadas,
o t e m n ° a c a b a o m é t o d o
om efeito, o esfôrço
I n t r o d u ç â o
de adaptaçâo que a descoberta impôe, favorece a
compreensâo da regra encontrada e apressa a
aqui-siçâo do hâbito correspondente. 0 enunciado da
regra conserva seu conteùdo inteligente'pelo fato de
indicar 0 que é precise fazer e pelo fato de saber-se porque é precise agir como diz. Se nos couber, em seguida, ensinar uma outra regra que se ligue
lôgica-mente à anterior, uma parte do esfôrço de descoberta jâ esta feita, a adaptaçâo é mais fâcil e adquire-se o hâbito mais depressa. 0 dogmatisme, ao con
trario, justapôe as regras sucessivas, exigindo para
cada uma a repetiçào do mesmo trabaÙio. As regras jâ
nâo sâo inteligentes, mas apenas inteligiveis ; dizem
imicamente o que é precise fazer, mas nâo se sabe
porque é precise obedecer-Uies. A memôria faz todo
o trabalho, s6 se adquii'e o hâbito por numerosos
exercicios e o tempo despendido para cada regra sô
pode aumentar, por fôrça da fadiga da compreensâo.
Adota-se freqtientemente um método
interme-diârio, enunciando primeiramente a regra e
demons-trando-a ou justificando-a em seguida. Suprime-se
0 esfôrço da descoberta e aproveita-se o
encadea-mento lôgico das regras. Daî decorre um ganho
duplo de tempo imediato; mas forma-se o hâbito
mais lentamente e é menps seguro que pelo método
de descoberta pura.
^ O professer que dispôe de um dado tempo, para
ensinar um programa também dado, acha-se, pois, em
face de um verdadeiro problema de economia. 0
ritmo da descoberta é muito lento para ser sempre
empregado, é preciso reservâ-lo para os pontos mais
A pedagogia das matematicas
da Geometria e algumas regras do câlculo algébrico.
0 ritmo mais râpido do método intermediârio é
neces-sdrio frequeBtemente, em algumas passagens do curso e, às vêzes, o dogmatismo puro se impôe, como para
cartas regras de câlculo aritmético, por exemple.
0 método pedagôgico que apresentarâ o melhor
rendimento nâo poderâ ser uma combinaçâo fLxa e
unica de descoberta e dogmatismo, definida por uma
quîmica misteriosa dos espîritos. Quaisquer que sejara
os progresses que possamos fazer em nossas pesquisas,
a Pedagogia serâ sempre tanto arte quanto ciência.
O fator humano. — A afirmaçâo que
acaba-mos de formular relaciona-se com o aluno médio
ideal, que sô se encontra raramente, e é reforçada
pelo estudo do fator humano. Alguns de nossos
aunos tem a mentalidade de espeetador, sâo
con-îormstas, demasiado obedientes, passives e
indife-rentes; cumpre reeducâ-los por uma dose mais forte
p o s t e ^ ^ t â o s e m p r e n o
Ihes muito d^grnktlmm
de um OTâtion^- Pedagogo sâo as mesmas
seuralSt °bem i^dividualmente
Progr^l^î^que dTve Zina'r
se alguns de sens slnr. ~ saber também que
é d e v i d o i s s o M o
razôes de saûde ou afetivas elf®- mas a
mente, porque têm ^ mesmo,
tola-Matemâtica, mêdo de parecerem^TsÏ5dos"'®'^°
I n t T o d u ç à o 7
0 escopo a que visamos nesta obra é
principal-m e n t e a n a l i s a r o s principal-m o t i v e s e r a z ô e s d o h o r r o r à s
Matemàticas e indicar os meios pedagôgicos e lôgicos
que têm side achados para vencê-lo. Queremos pro-var que o ''dom para a Alatemâtica'^ nâo existe, que essa misteriosa e fabulosa faculdade nâo passa de um preconceito que, infelizmente, tem desenco-rajado e feito sofrer muitas crianças.
Muitos alunos classificados como ''mal dotados"
por seus pais e às vêzes também por certes
profes-sôres, sofrem na realidade de um simples complexe de inferioridade, que bastaria analisar para atenuar
e depois fazer desaparecer. Em alguns o complexe
se apresenta como mêdo da derrota; em outres
mani-festa-se por uma predileçâo môrbida pelo
excepcio-nal, entretido pelas mâs vulgarizaçôes cientificas, que
procuram mais distrair o leitor que instrui-lo ; e
outros, ^ ainda, têm uma sunples falta de vitalidade
fisiolôgica que os faz procurai* o menor esfôrço', o
t r a b a l h o m a i s f â c i l .
^ Ao contrario, os alunos considerados "bem
dota-dos'' sâo, por vêzes, crianças que um bom êxito tornou
sùbitamente apaixonadas pelas Matemàticas e que um
desenvolvimento progressive hipertrofiou, em
detri-mento de outras matérias. Essa hipertrofia torna-se
ràpidamente perigosa porque se transforma em
com-pensaçâo de fraqueza em outras disciplinas e a
evo-luçào em "bola de neve" acentua-se
irremediàvel-m e n t e .
• Nâo poderâ ser objeto dêste pequeno trabalho
estudar todo o curso de Matemàticas. Analisaremos
8 A pedagogia das matematicas
apenas a fundo o princfpio do calcule algébrico e o
da Geometria Plana; quanto ao reste, daremes indi- |
caçôes ligeiras, sejam peculiares a cartas partes de ; curso, sejam para mostrar e prelengamento de que '
desenvoivemos a proposite des referidos estudes
intro-d u t ô r i o s .
I
J I i P R I M E I R A P A R T E^
A L G E B R A
( I IC A P I T U L O I
A e s t r u t u r a d o c a l c u l e
Evoluçào do câlculo
A palavra câlculo provém da raiz khalk, cujo
significado é cal. Khalix e ka-khlex em grego, calculus
em latim, querem dizer pedra, cdlcvlo, calhau, seixo. As crianças aprendiam o câlculo com pedrinhas. Com estas, as crianças e os comerciante de antanho nao poderiam fazer senao contagem e operaçôes
ele-m e n t a r e s .
Ho je o câlculo é feito com auxilio de mâqui-nas eletrônicas gigantescas, cuja potência e veloci-dade desafiam a imaginaçao. Estas mâquinas podem calcular todos os pormenores de sua propria fabri-caçâo; é quase a geraçâo espontânea.
Os hindus foram os precursores e seus antigos poemas didâticos mostram a prôdigiosa potência men tal dos primeiros trabalhos. Mais tarde, os ârabes
recolheram e depois nos transmitiram as descobertas
dos hindus, apos have-las enriquecido consideràvel-mente. Pouco a pouco, o câlculo sistematizou-se coerentemente e desenvolveu-se com uma velocidade
1 2 A pedagogia das matemâticas
crescente. Atualmente, o progresse atingiu tal rapidez
que, durante sua vida ativa, um homem deve rever
varias vezes seus conhecimentos para estar a par
das transformaçôes ocorridas.
Os progresses do calcule foram mais lentos e
tardios^^ que os da Geometria. No século XVI, a
operaçâo de divisâo que ensinamos às crianças de
01 0 anos, era ainda uma proeza reservada aos
espe-cia istas, enquanto hâ dois mil anos a Geometria
m a ja, no seu ativo, descobertas que nâo se
ensi-e l ensi-e m ensi-e S a r ensi-e s M a t ensi-e m â t i c a s
atraso é a mesma que
c â S o
^
t é c n i c a
d o
den^ 1 ^ tornar-se fâcU senâo
aepo^ de numerosos exercîcios.
deverifl^T(?rn ^ trabalho de nossos jovens
S as\orr;f â'-duo, à medida
no ensino eleme"
porque OS nrno-rûo^ • ^ebzmente, isto nâo é exato,
nuir o esfôrco tnr^ ^ecnicos tendem sempre a
dimi-à custa de novos tiîfvf calcules mais simples, e
aoonteceu, por 6x011101^' mais fâcil. Assim
relativamente hâ nni?r.r>'^ bicicleta, inventada
depressa e mais iLo-p permite ir mais
esfôrço muscular. E^idpu+p^® f O mesmo
a andar de bicicleta ®^nte é précise aprender
adquirirnovoshâbitos equilibrio,
compreensâo que o adulto L possui mener
epressa e com maior faciliri^^ geralmente mais
dos nossos des^eUeS?e ;
®°"doa-j ao contrârio,
volva-A estrutura do câlculo 13
mes uma recordaçâo comovida aos romanes, que deviam fazer multiplicaçôes, servindo-se do seu
sis-tema de numeraçâo.
O ensino do câlculo, seja aritmético, algébrico,
trigonométrico, vetorial, depende do ensino de téc-nicas, da aquisiçâo de hâbitos que nâo sâo naturals às crianças e o pedagogo précisa cuidar de duas ordens de dificuldades, de natureza e origem
diferentes.-Todos os que se tornam técnicos e que desejam
ensinar sua técnica conhecem bem uma delas; é a das dificuldades lôgicas e técnicas que surgem
das prôprias particularidades técnicas. Se todos os
homens nâo as dominam da mesma forma, tais dificuldades sâo constantes e sô podem ser atenuadas
por um aperfeiçoamento técnico, em principle
aces-sivel a todos.
Ao contrârio, a outra ordem de dificuldades é bem
menos conhecida, particularmente pelos técnicos que se esforçam, quase sempre inconscientemente, para esquecê-la na medida do desenvolvimento de sua
instruçâo. Sabem que este ponte é delicado mas,
em gérai, nâo sabem mais porque, e sâo incapazes de voltar ao estado de ignorância, para reconstituir
a natureza exata da dificuldade que encontraram e nem sabem como venceram. E isso é assim porque
êste tipo de dificuldade é quase totalmente efetivo. 0 primeiro tipo de dificuldade depende do
dogma-tismo ou do método de descoberta, segundo o tempo
de que se dispôe ; mas o segundo, em que a adapta-bilidade représenta papel mais importante que a compreensâo, impôe o método da descoberta. A
1 4 A pedago^ia das matematicas
combinaçâo dos dois métodos é muito sutil, muito
dehcada e a Pedagogia que decorre delà é mais uma
ar e o que uma ciência, porque depende muito dos
caractères e temperamentos dos alunos e do profes
sor. Jintretanto, podemos emitir algumas leis gérais.
Umas relacionam-se corn a apresentaçâo da técnica
^ ^ outras com o comportamento psicolôgico
o ^ conseqUências résultantes para
s i
e
i n d e p e n d e n t e s
e n t r e
esDecifll ^^^^^outo técnico ou um auditôrio
ta^trL n concorrer para modificâ-las.
Entre-decorrer dn ^ ® citaremos no
utilizâvel em nn<iL + "^^uos, um valor normativo
tância e o nûmero S! casos. A
impor-se compararmos r» podem surpreender
Isto decorre Tfato dL'^-i''''^ Geometria.
Çâo, ter construfdn nr^ ' durante sua
evolu-de base muito estreita elevadissimo e
tomou-se muito PrnTiriL P^^or de açâo do câlculo
®âo ficasse fâcil fnî « ' ^
compreen-"condensados" de racioM^f ^®ëi*as, isto é,
aos olhos dos alunos pst«Q°^* muito tempo,
pela coerêneia; a lôdfs, ?^o se ligam senâo
bom sense vulgar e-Tinr ^ oonjunto nâo aparece.
s à o p o s t o s a p r o p r i e d a d e
S i :
:
A estrutura do câlculo 1 5
Generalidades sobre as regras de câlculo
Uma regra é, essencialmente, um meio de açâo, um meio que dispensa de refletir, de raciocinar.
Uma regra deve ser inteligîvel, expor claramente 0 que é necessârio fazer, mas nâo é preciso que seja inteligente, que diga porque é preciso fazer o que
i n d i c a .
Uma regra é a descriçâo e mesmo a definiçâo de um hâbito que devemos adquirir; portanto, a
aplicaçâo de uma regra deve tornar-se" mecânica, inconsciente e seu enunciado deve ser esquecido, tâo
logo 0 hâbito se forme.
É muito diflcil destruir um hâbito, portanto nâo convém dar regras, introduzir hâbitos, criar reflexes que serao abandonados mais tarde. Nâo é
conveniente uma sistematizaçâo que nâo venha a
integrar-se em uma sistematizaçâo ulterior, nada de
hâbitos que nâo participarâo de'hâbitos mais gérais.
Nâo convém apresentar sinônimos mais ou menos aproximados. Cumpre cuidar da correçâo e exatidâo
da linguagem. Convém esperar que as palavras novas
sejam totalmente adotadas pela linguagem corrente,
antes de nos utilizarmos delas para définir novas
idéias.
As palavras regra e régua vêm ambas da palavra
latina régula (a raiz é reg, do verbo regere, dirigir)(*).
Assim, à idéia de regra associa-se estreitamente à de linha reta, isto é, de uma linha de açâo onde
nada muda, onde o espîrito pode descansar, onde o
(*) No original: Le mot rhgle et le mot droite viennent tous deux
1 6 A pedagogic das matematicas
aluno espera uma posiçâo quase confortavel. Uma
regra deve, pois, ter um mmimo de exceçôes. É
melhoi'j por exemplo, escrever la: ao invés de x, sem
coeficiente. Convém nâo recuar diante das
dificulda-des de câlculo e de sinais que podem aparecer na
aplicaçâo de uma regra e nâo contornâ-las com
a r t m c i o s .
Uma regra dada pode fazer parte de duas gene
ra izaçôes distintas que so se relacionarâo numa ordem
maB elevada. Assim, (a/6) X 6 = a, résulta da
defi-mçao e divisao. Esta operaçâo pode ser
conside-a conside-a como multiplicconside-açâo de umconside-a frconside-açâo por um
( u ^ o p e r a d o r i n v e r s o
r ^ operaçâo inversa da divisâo).
stas duas generahzaçôes fundem-se na idéia de grupo.
r C m - P ^ e i r a d L L
mesmos o modo
abre-regra.' oportuno reexaminar a primeira
atençâo, gradu^^entT^'^^^^''^^^^' convém chamar a
Çâo coml ^^^rência de uma
dedu-conjunto dedutivo ' p ^ P^^'^ a logica do
d e m o n s t r a ç L s u n A u m a
dades évidentes para an? ™ ^i^cadeamento de
ver-do aluno que, geralmentp ° P^^®^ seletor mental
l^to do que as minûcias' a ^ ^
i^cia para as articulaofip« ri ^ P^-rticular
impor-generahzaçào e para as anli™®-'™^ sua
figurem os nWos o! ^^«^^ricas em que
A estrutura do câlculo 17
Inversamente, para certas regras um pouco ele-vadas (Relaçâo de Chasles), uma demonstraçâo cuja coerência foi bem fixada permite reclamar a con-fiança dos alunos para uma regra que compreendem,
mas a que se adaptam com esfôrço. Pode-se, entao, por meio de numerosos exemples, criar um hâbito artificial para forçar a passagem dificil e facilitar a adaptaçâo. O hâbito criado se liga aos outros ja adquiridos, perde seu carater artificial, e o campo mental de observaçâo fica mais amplo.
0 câlculo algébrico deve ser sempre considerado como sendo escrito em estenografia, as letras repre- .
sentando numéros anônimos (nâo falar em incog
nitas senao a partir das equaçôes). É portante
inad-missivel que um aluno cometa, com as letras, erros que nâo cometia com os numéros. Para evitar esses erros, o unico método eficaz é o do ensino das Ifnguas estrangeiras. Cumpre fazer versoes (traduçôes em linguagem corrente e valores numéricos) e temas, nâo
esquecendo que o tema é mais dificil que a traduçâo, que é um exercicio de especialista, de técnico.
Uma dificuldade suplementar apresenta-se com
relaçâo à escrita algébrica ; é precise convencer o
aluno de sua validade, de sua coerência e de sua
universalidade. Os dois primeiros caractères podemos
estabelecê-los lôgicamente e por exercfcios de tradu
çâo e de temas, mas o terceiro sô pode ser estabele-cido com segurança por meio de exercicios
combi-nados e correçâo miitua. Exemplificando, o professor
dita em linguagem corrente, com o mener numéro
18 A pedagogia das matematicas
durante o ditado, os alunos devem fazer o tema;
OS cademos sao trocados entre os alunos e cada um
deve fazer a traduçâo do que foi escrito pelo seu
colega.
As regras e os alunos
^ Nao se devem dar explicaçôes muito longas,
arriscam-se a distrair a atençao. 0 aluno nao é capaz
de um esfôrço contmuo de atençâo superior a dez
segundos. Sua atençâo é, na realidade, oscilante, seu
céjebro recebe pedaços de frases que ouve, mas
nâo entende, que nâo penetraram no seu espîrito.
Faz-se mister repetir a explicaçâo mudando um pouco
0 ntmo oratorio; Consequentemente, deve o pro
essor cuidar de perto da correçâo e da exatidâo da
sua ngua. Por causa da atençâo oscilante, que
1 a o poder de compreensâo, cumpre nâo abusar
e no açoes novas e nem mudâ-las no decurso de
uma exposiçâo.
o fin? ser râpido, principalmente
Que aci adaptam menos fàcilmente
nacâo baver uma como que
impreg-» £ a s " ^
q» o m«„ d. err„ ï ,, e>q"«qr
é um mêdo naturel ^pbcaçao de uma regra
,hâbito. ' normal na aquisiçâo de um
A e s t r u t i i m d o c â l c u J o 1 9
esta demanda tempo e muitos exercicios, mas
pre-cisamos nâo esquecer que o que parece simples e
fâcil apôs luna longa prâtica, pode ser simples e
difîcil {Relaçcio de Chastes, derivadas, etc.), ou
com-plicado e fâcil (operaçoes aritméticas).
Na mesma ordem de idéias, certas simplifica-çôes da escrita algébrica (supressâo do coeficiente um, do sinal de multiplicaçâo entre numéros e lêtras, dos parênteses nos produtos...) nada têm de lôgico, ou, mais exatamente, nâo sâo coerentes com a lôgica
do câlculo. Parecem artiffeiais, arbitrârias aos olhos dos alunos e originam outras dificuldades se nâo
forem logo justificadas. Convém, para isto, apelar
para uma Lôgica mais elementar que conduz a sim-plificaçôes semelhantes, na linguagem corrente. Dare-mos exemples pormenorizados.
Muita atençâo para a difusâo entre^duas regras
de formas prôximas (produtos de somas e produtos de
! produtos..As crianças julgam-se perfeitamente
16-gicas e generalizam naturalmente, por extensâo, mas o
î que sucede realmente é que sâo igualitârias,
preocupa-das com uma justiça distributiva por simpatia pelo
simples, o simétrico, por uma estética subjetiva ou,
antes, quando sâo mais instruîdos, colocam a
propor-cionalidade em-tudo. As regras de formas prôximas
devem ser rejustificadas, redemonstradas, senâo
re-descobertas periôdicamente, para conservai- um
mîni-nio de conteûdo inteligente, que assegurarâ a
dis-tmçâo dos habites respectives.
Geralmente, 50% dos alunos que dizem ter
com-1 preendido uma demonstraçâo, dizem-no para agradar
para evitar um novo esfôrço do professor, 30% podem
2 0 A pedagogia das matematicas A estrutura do calculo 2 1
o
o
ser sinceros, mas se acham mais espantados do que
v e r d a d e i r a m e n t e c o n v e n c i d o s . P o d e a c o n t e c e r q u e
a segunda taxa atinja 100% e que todos os alunos
de uma classe pretendam ter compreendido, a partii'
do momento exato em que deixaram de compreender
inteiramente. É, pois, util e prudente verificar a
suposta compreensâo dos alunos, perguntando queiu
se sente capaz de refazer a demonstraçâo ou, de
uma vez por outra, mandar ao quadro um dos que pretendem tê-la compreendido.
Dificuldades reais, técnicas
d e lôgicas do calcula
d 1*. ^^gébrica é composta de numéros,
^ de operaçâo. Nâo hâ diferença entre
r t T ï S q u e s â o n u m é r o s a n ô n i m o s .
nùmeros^oii ^^smo, à_ primeira vista, entre os
^ dades smais operatôrios. As
dificul-{$ Qâo e emnr^ffn A decorrentes da
cria-sâo as da^ f>nTy.K°^ s^bolos. As dificuldades lôgicas
^ os nûmeros. ^^^^oes dos sîmbolos entre si e com
a técnica e^a babitualmente entre
ficial e perigosa • fnl^ p^lculo, é, na realidade,
super-~ S s , - ! ^ e r o q u e t ê m
gue aos sinais de onpro ~ ™ material inerte
entre-eialmente o nùmero abstmto °
espe-os operadores, é o operad^nr^' ^ P™eiro de todespe-os
lia prâtica do ensii^rdo Jaleul®""
caicuio passa-se muito
de-pressa do numéro concreto ao abstrato, despojando o primeiro do que o multiplica. 0 numéro abstrato, isolado, parece perder seu carâter de adjetivo
multi-plicador e nâo ser mais que um nome comum.
Quando se passa da Aritmética à Algebra, onde o
numéro abstrato, perdendo tôda individualidade, é representando por uma letra, o mal estâ feito, o
n u m é r o n â o t e m m a i s n e n h u m s e n t i d o . A t é c n i c a e
a lôgica dos sîmbolos operatôrios permanecem o ûnico alvo de nossa solicitude e, como nâo têm mais apoio concreto,. vemos nossos discîpulos escrever, sem
hesi-tar, erros énormes, que nâo teriam cometido anos
antes, em Aritmética. Veremos que bastarâ
resta-belecer o nûmero em seu carâter ativo de multipli-cador, para reduzii- as dificuldades do ensino do
câlculo, particularmente no caso das fraçôes.
Além da idéia de nùmero que, a certa altura, é
precise melhorar no espîrito de nossos discîpulos,
hâ outras dificuldades de Lôgica pura que vâo sendo
encontradas, no decorrer do curso. A principal é relativa à idéia de operador inverso.
Freqiiente-mente coloca-se o professor sob o ponto de vista técnico para expô-la. Somos do parecer que é um
êrro, convém pelo menos acompanhar a exposiçâo técnica de um raciocînio feito em linguagem corrente, cuja essência consiste em inverter uma frase, ao invés de uma operaçâo. Demais, os alunos nâo apre-ciam muito êste gênero de raciocînio que exige com
preensâo e adaptabilidade ; preferem a boa regra
técnica que, cômodamente, os dispensa de refletir, mas que nâo os educa.
2 2 A pedagogic das matematicas
TJma outra dificuldade é que as operaçôes suces-sivas sao lidas da esquerda para a direita, como se
apresentam escritas e os alunos tendem a efetud-las
na mesma ordem. Cumpre inventar regras de
prio-ridade, bem dificeis de justificar, ou colocar
parcnte-ses por toda parte.
Outra dificuldade ainda é o emprego dos
parên-teses e dos traços de fraçôes algébricas, bem como
as suas combinaçôes.
Hâ muitas outras dificuldades mais ou menos
graves no ensino do câlculo, mas é impossivel, numa
obra_ tâo pequena, citd-las a tôdas, seguindo o
desen-volyimento de um curso normal. Isso nos levaria
muito longe. Pareceu-nos mais intéressante e mais
eficaz, grupâ-las em tôrno de uma combinaçâo da
idéia de momero e do operador inverso. Isto nos conduzirâ, muito naturabnente, aos numéros
fracio-nârios e as operaçôes com mlmeros fraciofracio-nârios •
depois aos numéros relativos, aos parênteses clâssicos
e, finalmente, as fraçôes algébricas racionais
C A P I T U L O I I
O n u m é r o f r a c i o n â r i o
e as operaçôes sobre fraçôes
O n u m é r o i n t e i r o
e o n û m e r o i n v e r s o d o i n t e i r o
0 nûmero é uma palavra, ou um grupo de
pala-vras, que permite lembrar e refazer em outro lugar
e em outro instante, uma grandeza simples por
com-paraçâo com uma outra grandeza simples da mesma natureza. Para que tal comparaçâo seja util, é con-veniente que se possa escolher a segunda grandeza de tal forma que seja fâcil recorda-la. Tal grandeza chama-se padrâo ou unidade.
Assim, um rebanho de carneii'os contém certo nûmero de carneiros ; uma cidade, certo nûmero
de casas ; uma distâneia, certo nûmero de passos ou de dias de viagem ou, ainda, certo nûmero de vêzes o comprimento do'bordâo que serviu de ben-gala ao viajor.
Quando se trata de carneiros ou de casas,
obtém-se um nûmero inteiro. Quando obtém-se trata de
compri-mentos, pode-se nâo obter um nûmero inteiro. 0
2 4
A pedagogia das matemâticas
entre dois numéros inteiros consécutives e veremos,
mais adiante, como melhorar a aproximaçâo dêsse
resultado. Estudemos primeiramente o significado
do numéro inteiro, independentemente das grandezas
que êle serve para comparai e medii*.
Quando dizemos que um rebanho tem dezessete
carneiros, a palavra dezessete tem o carâter passive
de um resultado, mas, quando se diz que para refazer
um rebantio do mesmo tamanho é preciso tomar
dezessete vêzes um carneiro, a palavra dezessete tem
o carâter ativo de um multiplicador. Emprega-se
entâo a palavra dezessete, com a palavra vêzes; torna-se abstrata e a idéia expressa existe indepen
dentemente das grandezas particulares que ela serviu
para comparai ou medir.
Assim, sâo équivalentes as expressôes :
1) dezessete carneiros ;
2) dezessete vêzes um carneiro ;
3) um carneiro multiplicado por dezessete e
4) um carneiro X 17. Devemos destacar a
inver-sâo entre as expressôes 2 e 3 e a substituiçâo
das palavras ''multiplicado por" pelo
sim-bolo operatôrio "X".
Ipalmente, a palavra dezessete pode ter o carâ
ter atrvo de um divisor, quando se diz que para teri
um carneiro é preciso dividir nnr 7 ^
inteiro. Dir-se-â também que y® ? rebanho
dezessete avo do rebanlin ^ ^ carneu'o é um
para distinguir, na generalidadfoTnW
} os numeios mversos
O numéro fracionârio 2 5
de inteiros, atuando como divisores de ndmeros intei ros que, normalmente, atuam como multiplicadores(*).
Hâ eqiiivalência entre as expressôes : 1) um dezessete avo de rebanho 2) rebanho dividido por dezessete e
3) rebanho : 17. Destaque-se a inversâo
exis-tente da primeii'a para a segunda expressâo e a substituiçâo das palavras "dividido por"
pelo sinal operatôrio " :
Primeiras tentativas de generalizaçào
d o n u m é r o i n t e i r o
Vimos que quando se quer comparai um com-primento com outro menor, que serve de base à comparaçâo, pode-se nâo chegar a um nûmero inteiro.
Ahâs, é o caso gérai, como nos mostra a experiência.
Isso nâo é certo, dizem as crianças.
Consideremos dois segmentos de reta ÂB e 'cD (convidamos o leitor a fazer a figura, tomando 7cm para AB 10cm p^ CD). Transportemos
mental-mente o segmento AB sobre CC, de modo que
coin-cidam os pontos A e C e que os pontos B q D fiquem
sobre a mesma semi-reta, cuja origem é o ponto A,
(•) Para poder ajuster a idéia à Hngua portuguésa, fomos levadosa alterar os valores numéricos do exemple. Para dar, contudo na intecra a argumentaçâo do Autor, reproduzimos a seguir a porçâo do texto nn^
figura no original, a esta altura. "0 emprôgo do sufixo "ième" também usado no caso dos numéros ordmais, que definem um lugar node
car-se pelo fato de que, depois de haver dividido, em sete m>tes i3," uma grandeza dada, contam-se essas partes para verificar-lh^ o nûrnem e toma-se em gérai a ùltima." (Nota dos trads.). numéro
2 6
A pedagogifl das matemâticas
coincidente em C. Os dois segmentes têm, entâo,
uma extremidade e uma parte comum e po
constatai que CD é maior que AB.
Para sermos mais précises, somos conduzidos à
comparai o excesso ou diferença, BP, com. o sCo
mente Jb e constataremos que_.BD é mener
Xs. Podemos entâo dizer q^ CD é maior^ que AB
e mener que duas vêzes AB. Poder-se-â chegai,
per comparaçôes sucessivas, a dizer que um segmen o
é quatre vêzes maior que um outre e mener que
cinco vêzes o mesmo. O resultado da cemï)araçao
dos dois segmentes é um ndmero inteii'o e diremes
que a medida do primeiro segmento é "4 per falta
ou "5 per excesso", quando se toma o segundo seg
mento para padrâo ou unidade.
O espirito das crianças nâo pode ir além. Elas
vêem muito bem que a operaçâo que descrevemos
nâo é outra coisa senâo uma divisâo concreta a menes
de uma unidade, mas, o resto torna-se imprecise e
sem grande interêsse, o resultado obtido Ihes é
sufi-ciente. Entretanto, se Ihes perguntarmes corne
pede-riam fazer para melbor conbecer o resto, voltar-se-iam
para o segmento menor, que serviu como unidade e
diriam, no primeiro exemple, que o resto ^ estâ
contido duas vêzes em AB, mas nâo très vêzes
T r x m o r i p m H T P . S t O R I ) . n i l P Q n r r i v r t  ^
/
Tomariam o resto BD, que agora é
mento, como uma nova unidade e dêle nfîiî
zariam para medir a antiga ; nâo • w. ,
comparar BD corn a metade ou a tÏ! 'n
Ê foxçoso reçonhecer que é 1 ^
ver e dizer que BD estâ contido dnn^®^
uuas vezes em ab
O numéro fracionârio 2 7
e nâo très, do que ver e dizer que BD é maior que 1/3 de e menor que a sua metade, Nâo hâ apenas um artificio de linguagem na intençâo de introduzir os numéros divisores, hâ duas transposiçôes de
pen-samento e o fato concrete de dividir TË em duas e
depois em très partes.
Para ir adiante, é indispensâvel manter Zfî como base de comparaçâo e para levar-se em consideraçâo
o resto BD, é necessârio recorrer a uma unidade auxiliar, menor que AB, mas delà dependendo dire-tamente. Tomar-se-â, para tanto, um segmento que
esteja contido em Zb um numéro inteiro de vêzes,
a isto chamaremos parte aliquota de Zb.
Os egipcios procuravam, sistemàticamente, a maior parte aliquota da unidade que pudesse estar contida no resto, que séria 1/3, em nosso exemple, e
para o novo resto, procuravam uma nova parte ali
quota, a maior possîvel que pudesse ser contida e assim sucessivamente. O resultado destas medidas
apresentava o carâter curioso de ser formado por
um numéro inteiro e por uma série de numéros inver
sos de inteiro, ou como diriamos, por uma série de
fraçôes tendo tôdas como numerador 1. Este método é muito intéressante na prâtica e constitui um
exce-lente exercicio para os alunos. IDe fato, nao liâ
hesi-taçâo na escollia das partes aliquotas sucessivas e muito ràpidamente, somos conduzidos a um resul
tado com aproximaçâo que quisermos. Entretanto,
o inconveniente estâ em sermos obrigados a
2 8
A pedagogia das matemâticas
O nûmero fracionàrio
O método que hoje seguimos para comparai' dois comprimentos consiste em procurar diretamente se
existe um segmento que seja parte alîquota, tanto
de AB como de CD.
Designemos per u tal segmento, se o descobrii-mos, e suponhamos que êle esteja contido n vêzes em e m vêzes em CD, m e n sendo numéros intei-ros. Dizemos que a medida de CD, quando tomamos
AB por unidade, é o numéro fracionàrio min e,
inversamente, que a medida de AB, quando tomamos CD por unidade, é o nûmero fracionàrio njm.
Antes de explicar a origem e o sentido dêstes nûmeros fracionârios, que sâo combinaçôes de dois numéros inteiros, convém assinalar que a procura do segmento u, se existir, nâo é simples nem fâcil. Com efeito, nâo se pode dizer, à primeira vista,
quai parte alîquota de ÂD serâ também de CD,
nem mesmo se existe alguma. Convém nâo esquecer também que o nosso raciocinio se aplica apenas a com
primentos dados geomètricamente, para os quais nâo
conhecemos nenhum valor numérico, em relaçao com
um terceiro segmento, que serviu como unidade
auxi-liar. O ûnico método que pode conduzir a um resul"
tado é uma extensâo do método de comparaçâo do"
crianças e que inspira, em Aritmética, a promra do
mâxuno divisor comum, pelo processo das divisôp^
s u c e s s i v a s .
Kepisamos que nâo podemos estar
acbar uma parte alîquota comum a ^ de
dois
compri-O nûmero fracionàrio 2 9
mentos dados, isto é, estar seguros de que tais com primentos sejam mensurâveis um pelo outro ou, como se diz, comensurâveis. Parece, entretanto, que se
prolongarmos por muito tempo a procura, cliegarâ
um momento em que, tornando-se os restos cada
yez menores, chegaremos a um reste nulo. P] uma idéia muito humana, onde se mesclam o sentimento
de uma possibilidade tornar-se mais e mais provâvel,
depois certa, apôs um nûmero suficientemente grande
de^ ensaios, e uma confusa noçâo do infinito, que dâ
a impressâo de que, se um segmento se torna cada
yez menor, acabarâ por tornar-se nulo. Esta dupla
idéia é inexata e demonstra-se que dois comprimentos
dados sâo, em gérai, incomensurâveis. Veremos exem
ples relatives às raizes quadradas, e a noçâo de infi
nito serâ estudada no capitulo V, relative às
fun-çôes. Na prâtica concreta- somos forçados a
con-tentar-nos com comparaçôes e medidas aproximadas
e a reconhecer que, se nâo houvessem inventado as
fraçôes décimais, o método dos egîpcios séria ainda
0 m e l h o r .
Carâter ativo do tiUTneTo fio-cioncirio
_ Recordemos, antes de tudo, para evitar
confu-soes, o que se entende por niimero fraciondrio no
ensino do primeno grau : um nûmero fracionàrio é
a soma de um nûmero mteiro corn uma fraçâo. Esta
noçao composta tem origem no fato de ser uma
fraçao normalmente inferior à unidade, jâ que Toi
s o A pedagogia das matematicas O numéro fraciondrio 31
mais geral, um comprimento menor que o
compri-mento empregado como unidade. Entretanto, a
adi-çâo de fraçôes pode conduzir, tècnicamente, a um resultado de mesmo aspecto que uma fraçâo, mas
onde o numerador é maior que o denominador. Acs
ollios das crianças isto é um contra-senso logico e
etimologico, pois, a palavra o indica, uma fraçâo é
uma parte da unidade. Cumpre entao extrair as unidades do resultado que, desta forma, Ihes aparece
mais claro e mais fâcil de imaginar. Tal ponto de
vista é perfeitamente aceitavel, se se tratar do resul
tado final, mas, se tivermos que trabalhar com estes nùmeros mistos, arriscar-nos-emos a sérias
complica-çôes. É por esta razâo que, mais tarde, renunciamos
a êsse gênero de numéros, que apresentam também
o inconveniente de ser escritos justapondo-se
sim-plesmente o inteiro à fraçâo, sem que o sinal de adiçâo
indique tratar-se de uma soma.
Voltemos, agora ao nûmero fracionârio, tal como o definimos antes e que é usado no ensino de um
grau mais elevado, especiabnente a partir do comêço
da Algebra. A idéia diretiva é a da hoçâo de relaçao,
que encontramos em Geometria, na comparaçâo de
dois comprimentos nâo medidos em relaçâo a um
terceiro, sem que seja preciso fLxar quai o menor
Esta noçâo de relaçao é essencialmente recîproca e
pode ser invertida, conforme se tomar para base de
comparaçâo um ou outro dos segmentes dados
A idéia de numéro fracionârio é li"-eirampn+o
diferente, porque o nùmero fracionârio é -Ta
numérica composta que mede uma relaçao cnuT®'''®
se escolha um ou outro dos
como unidade. Pode-se dizer que ao mesmo pensa-mento de uma razâo geométrica correspondem dois
numéros fracionârios, inversos um do outro. Esta
reversibilidade atrapalha durante muito tempo os
alurios, porque hâ grande esfôrço da compreensâo
na inversâo da frase que expressa a relaçâo. Além
disso, um dos numéros fracionârios résultantes é uma
fraçâo ordinâria, inferior à unidade, enquanto o outro
parece ser um verdadeiro ndmero fracionârio, maior
que 1.
Cumpre vencer absolutamente êsse incômodo
afetivo résultante de Mm antigo habito contrai'do
nâ alguns anos, que naquele tempo tinha razâo de
^r, mas que é, agora, causa de numerosos erros.
0 melhor processo é dar ao nùmero fracionârio seu
carâter ativo, reversivel, de ser a combinaçao de um
nùnaero inverso de um inteiro, divisor, e de um nùmero
inteiro, multiplicador. Hâ uma passagem delicada,
que é preciso forçar, sobretudo pela descoberta e',
por vêzes, por um pouco de dogmatisme. Julgamos
que séria intéressante modificar a ordem de
expo-siçâo das operaçôes sobre os nùmeros fracionârios
como o indicamos adiante. ^tionaiios,
Tomemos um exemple numérico, para nos
exprès-d e T t a l l ' e s e g m e n t e s
V contida t?ês
3 2 A pedagogia das mafemnticas O numéro fracionârio 3 3
AS = (CD : 5) X 3
e CD vale cinco vezes um têrço de AS, ou seja,
CD = (Zs ; 3) X 5.
As expressoes precedentes, que sac as unicas que
podem expressar corretamente a idéia do numéro
.fracionârio com as palavras e os sinais de que
dis-pomos, sâomuito compridas para que as conservemos. As expressoes em linguagem corrente podem ser
reduzidas pelo emprego do plural, que faz
desapa-recer a palavra vêzes. Exemplificando, dizemos que
"as é très quintos de CD" ou, menos corretamente,
que "as é o très quintos de CD". Quanto às expres
soes estenogrâficas, escritas com auxilio dos sinais
de divisâo, de multiplicaçao e dos parênteses,
pode-mos simplificâ-las utilizando o traço de fraçâo, hori
zontal ou oblîquo (empregaremos, geralmente, o traço
obliquo, que é mais cômodo para a impressâo) 0
numéro escrito embaixo do traço é o divisor ou
denommador e o escrito acima é o multiplicador
o u n u m e r a d o r . ^
_ J^mi, M perfeita eqUivalência entre as
esnres-que c^siderimos ambas
um ultimo passo que'dev^'s'^
pareceraplvra'^de" S
micial. Nâo é simples neTn da frase
convençâo a que cheeamn^ realidade, a
muito os alunos, por bastanto ^
inverter 8/5 e CD e trocar a n^i ^^'^^siste em
de multipplicaçâo, da mesma f
a mesma forma que para os
intei-ros, quando se substitui a expressâo clara "3 vêzes
por "râ X 3".
Devemos reconhecer que os alunos têin o direito de se surpreender pois a palavra vêzes nada tem de
comum com a palavra "de" e, traduzindo a forma
CD X 3/5, serâo tentados a dizer : CD vêzes 3/5,
0 que nâo tem sentido. Além disse, na expressâo CD X 3/5, a multiplicaçao por 3 é apresentada antes
da divisâo por 5 e nâo tinha sido provado que se
tivesse o dh-eito de agir assiin.
É precisamente o que dissemos na ultima frase
que^permite explicar a colocaçâo do sinal de multipli
caçao antes do niimero fracionârio, em substituiçâo à
palavra de. De fato, se demonstarmos que (CD : 5) X
X 3 = (Cû X 3) : 5, a forma CD X 3/5 justifioa-se
plenamente. Os parênteses sâo dispensâveis, se
to-marmos a ordem de leitura, da esquerda para a
dueita, por ordem logica das operaçôes sucessivas e
o sinal de divisâo fôr substituîdo pelo traço de fracâo
A demonstraçào é simples, podendo inspirar-se na
comutatividade do produto de dois nûmeios inteiros
O nûmero fracionârio e a noçào
de quociente exato
Acabamos de utilizar n j
dividir um comprimento por 5 den équivalente
34 A peda^o^ia das mateinaticas
resurtado obtido por outro mimero inteirOj
ao mesmo resultado que se multiplicâssemos
primento dado pelo quociente do primeiro niu
pelo segundo, quando a divisao exata é i:)0ssiye .
A divisao exata do numerador de um^
fracionario pelo denominador nao é possivei, e
geral, mas, nao obstante, o resultado
correspondente existe. Assim, somos Icvados a
que o mimero fracionario 3/5 représenta o qiioaen^
exato de 3 por 5, e que as formas 3/5 e 3 - o
équivalentes.
Podemos entretanto ir além, valendo-nos àos
numéros décimais, supondo que estes tenham sido
definidos pela convençâo da posiçao dos algarisrnos,
segundo a qual todo algarismo colocado à esquerda
de um outro représenta unidades dez vêzes maiores,
a virgula determinando a posiçâo da unidade prii^'
cipal. Poderîamos dizer, entâo, que
3/5 = 3 :5 = 0,6
Mas isso é apenas um progresso na escrita ;
bâ sempre duas operaçôes na determinaçâo
geomé-trica de CD X 0,6. É precise primeiro dividir CD
por 10, depois multiplicar o resultado por 6 Contudo
M um grande, progresso técnico se, porventura rn
fôr conhecido por sua medida em refagao a um
to-c e i r o to-c o m p r i m e n t o , q u e t e n Vi a i u u i u e i
auxiliar. De fato, a multiplicacao rl umd^
per 0,6 podemos fazê-la em umn ^
métioa e podemos dizer one n « x operaçâo
ant-d e 3 p o r 5 . ' ® ^ q u o c i e n t e e x a t o
O n û m e r o f r a c i o n â r i o 3 5
Esta extensâo da idéia de quociente exato, com a ajuda de décimais exatos, isto é, limitados em seu desenvolvimento além da virgula, é muito
res-trita, visto que a base do nosso sistema de numeraçâo é 10. Por exemplo, o quociente de 2 por 7 nâo é
limitado em seu desenvolvimento decimal ; sê-lo-ia
se a base fosse 7 ou mûltiplo de 7. O quociente
exato de 2 por 7 nâo pode ser definido e nem cômo-damente escrito, senâo com o auxilio do nûmero fracionârio 2/7.
Comparaçôes sucessivas de varias grandezas
Produtos de nûmeros fracionârios
Sejam très segmentos de reta Âd, cd e EF.
Suponhamos que ab e CD tenham uma parte
ali-quota comumjw, contida 3 .vêzes em AD e 5 em CD,
e que CD e EF tenham também uma parte aliquota
comun^i', diferente de xi, contida 7 vêzes em râ e
4 em ef. Teremos :
dD = 3/5 de =CD X 3/5 e
CD = 7/4 de EF = ~ËF X 7/4 e,
conseqliente-mente,
• ~ 3/5 de (7/4 de df) = (ËF X 7/4) X 3/5 ;
isto é, se supusermos dado o segmente DF,_ para
obter AB é preciso dividir ~ËF por 4 e multiplicar
o resultado por 7, depois, dividir este segundo resul
tado por 5, multiplicando-o por 3.
Ota, é possîvel demonstrar, em
3 6 A peda^o^îa das matemâticas
caçâo e divisâo, que podemos grupar as operaçôes da
mesma natureza e substituir cada grupo de nùmeros
operatôrios pelo produto dêles. Assim *. (ËF X 7/4) X
X 3/5 = { KËF : 4) X 7] ; 5) X 3 = { [{ËF X 7) X
X 3] : 4 ) : 5 = [IF X (7 X 3)] : (4 X 5) =
= EF X (7 X 3)/(4 X 5). Portanto, o produto de
dois nùmeros fracionârios é um nùmero fracionârio,
que tem por numerador o produto dos numeradores
dos nùmeros fracionârios dados e, por denominador,
o produto dos denominadores dêsse mesmos nùmeros
f r a c i o n â r i o s .
Pode-se também dizer, mais ràpidamente : ob-tém-se o produto de dois nùmeros fracionârios
mul-tiplicando os numeradores entre si e fazendo o mesmo
aos denominadores.
Divisào por numéro fracionârio
Por definiçâo, o quociente de uma grandeza por
um nùmero é uma segunda grandeza, cujo produto
pelo nùmero iguala a grandeza dada.
Por extensâo, podemos escrever • se Tr =
= CD X 3/5, que CD = AB_. 3/5. Sabemos que
CD - AB X 5/3, portante, AB : 3/5 = Zg v 5/3
Podemos, pois, dizer'que para dividir por um ntoero
fracionârio, podemos multiplicar pelo nirme^ri!
c l o n â n o i n v e r t i d o . u m e r o f r a
-O nitmero fracionârio 3 7
transformando-se em multiplicador. Podemos mesmo chegar a imaginai* uma regra para a combinaçâo dos sinais X e analoga à da combinaçâo dos si-nais + e -, que caracterizam os nùmeros relativos.
«
Simpîificaçâo e complicaçào de numéros
fracionârios
Em Aritmética, podemos também mostrar que
uma expressâo numérica, composta ùnicamente de
multiplicaçôes e divisées de nùmeros inteiros, nâo
tem o resultado alterado se suprimirmos nùmeros
cujas açôes se destruam. Igualmente, podemos
acres-centar quantidades cujas açôes se compensem.
Podemos, assim, deduzir que um nùmero fra
cionârio pode ser simplificado ou complicado,
supri-mmdo-se ou ajuntando-se simultâneamente ao nume
rador e ao denominador um ou mais fatôres,
efe-tuando as operaçôes que indicarem.
Por exemple, 3/5 = (3 X 2)/(5 X 2) = 6/10, isto é
u que chamamos complicar uma fraçao ;
15/20 = (15 : 5)/(20 : 5) = 3/4, que chamamos
^irnplijicar. Podemos concluir que : o valor de um
nùmero fracionârio nâo muda se multiplicarmos ou
diyidirmos numerador e denominador pelo mesmo
n ù m e r o .
Comparaçào, adiçâo e subtraçào de numéros
f r a c i o n â r i o s .
Podemos, enfim, utilizar a
3 8 A pedagogia das matematicas
trair fraçôes, reduzindo-as ao mesmo denominador,
segundo o método clâssico.
Estas operaçôes sâo mais complicadas que a
multiplicaçâo e a divisâo de fraçôes, podendo
enco-brir a siAplicidade daquelas, no espirito dos alunos.
Parece-nos que devemos apresentar a comparaçâo,
a adiçâo e a subtraçâo em ultimo lugar.
Esta inversâo na ordem de apresentaçâo das operaçôes pode surpreender os alunos, mas tal sur-prêsa é util: acentua mais a diferença das regras e évita tôda difusâo de habites, de técnica de opera
çôes, de uma regra para a outra.
Temos escrito varias vêzes a palavra fraçâo no lugar das palavras nùmero fracionârio. E um uso
generalizado contra o quai é diffcil lutar. Entretanto,
a idéia^ de nùmero fracionârio, combinaçâo de um
multiplicador e de um divisor, é mais gérai que a
de fraçâo de que proveio, e nâo convém que o uso
da palavra "fraçao" évoqué a idéia primitiva. É no
entante, o que deve de dar-se no espîrito de nossos
alunos, o que é um mal, porque a idéia ativa de
numéro fracionârio é necessâria para simplificar n
e n s m o d a A l g e b r a . P ^ ^ ^ i t a r o C A P I T U L O I I I
Os numéros qualificados
ou relativos e os parênteses
Definiçâo e caracteristicos d o n u m é r o r e l a t i v oDefinimos, de um modo gérai, o nùmero relativo como uma combinaçâo do sinal + ou do sinal
-com um nùmero aritmético inteiro ou fracionârio.
Servem para medir grandezas orientâveis, isto é,
susceptiveis de ser consideradas em dois sentidos
opostos. Por exemple, um avanço ou um recuo, um
lucro ou uma perda.
Os alunos aceitam fàcilmente os nùmeros rela
tives e adaptam-se logo ao fato de empregarmos
sinais de adiçâo e de subtraçâo para caracterizar a
idéia de orientaçâo, que êles representam. Os alunos
geralmente se surpreendem quando o professor tenta
justificar esse emprêgo, que a êle, professor, parece,
no entanto, dever ser demonstrado. Tal surprêsa
poderâ ser explicada pelo conhecimento das medidas de temperaturas(*), que criou um hâbito fâcil de
(*) Na França, onde, no invemo, a temperatura é inferior a zero graus Celsius, os alunos jd têm essa noçâo. Aqui, ficam surpresos e s<5
trads.)-4 0
A pedagogic das matemâticas
generalizar e pela existência de uma idéia lôgica natu ral, présente na criança e nâo explorada pelo ensino. Entretanto, tal idéia natural nâo deve existir igual-mente para tôdas as crianças e deve ser muito frâgil
para os que a conhecem. Verificamo-lo a
propô-sito das interpretaçôes das soluçôes negativas dos
problemas de Âlgebra. Quaisquer que sejam as razôes
desta surprêsa, ela existe e evidencia-se quando o
aluno é colocado diante de uma demonstraçâo mais
técnica do que lôgica. De fato, começamos por
expli-car o numéro negativo como sendo o resultado de
uma subtraçâo em que o subtraendo é maior que o
minuendo, ou por uma "convençâo" de escrita ou,
amda, em virtude de "razôes" de comodidade, que
so virao a^ser justificadas muito tarde.
Ha, nâo obstante, uma razâo tanto para o desejo
f demonstraç^ como paJa
çao, mas esta deve versar sômente «sôKm
onstra-dos valores ativos onstra-dos
passives, e isto é quase nul «A ® valores
g r a m â t i c a . ^ ^ q u e s t â o d e
O sentido ativo do sinal j_
Os numéros relativos 4 1
evitar o verbo "aumentar", que pressupôe uma
orien-taçâo no resultado. O sentido ativo do sinal - ,
na subtraçâo, é dado pelos verbos : "tirar, suprimir, subtrair". Nâo hâ uma palavra para subentender
tais verbos, e cumpre evitar também o verbo
"dimi-n u i r " .
Os sentidos passives sâo dados pelos mesmos verbos, no participio passade, mas é aqui que surge
a verdadeira difieuldade lôgica ; os sentidos passives
podem também ser dados pelas palavras "avanço"
ou "reçue", "lucro" ou "perda", quando se trata de grandezas com sentido duplo. Estas ultimas pala
vras indicam que a orientaçâo dos resultados passives
esta escolhida prèviamente, no .espirito daquele que
efetua a operaçâo e que, evidentemente, a escolheu no
sentido favorâvel aos seus intéresses. Na realidade,
é a pessoa que opera que estâ orientada e impôe a
mesma orientaçâo às grandezas com que opera. Assim,
um pedestre dira -f- 3 para um avanço de 3, isto é,
para um deslocamento de 3 no sentido que tem em
mira, à sua trente. Igualmente, um guarda-Kvros
empregarâ o nùmero relative - 5 para um prejuizo
ou despesa de 5, pois, tal prejuizo ou despesa condù-lo
a diminuir 5 do que tem em caixa, o que significa
fazer uma subtraçâo.
. Vemos, desta forma, o porque da nâo
conveniên-cia de usar as palavras "aumentar" e "diminuir"
para exprimir os sentidos ativos dos sinais + e estas palavras sâo orientadas por antecipaçâo. Tinham
um valor claro, natural, para os numéros aritméticos
que medem grandezas com sentido ùnico,