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As alterações climáticas e a protecção civil

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Academic year: 2021

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AS

ALTERAÇÕES

CLIMÁTICAS

E

A

PROTEÇÃO

CIVIL

Nuno Miguel Velosa Teixeira Gomes

Provas destinadas à obtenção do grau de Mestre em Riscos e Proteção Civil

Maio de 2016

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I

NSTITUTO

S

UPERIOR DE

E

DUCAÇÃO E

C

IÊNCIAS

Escola de Segurança, Tecnologias e Aviação

Provas para obtenção do grau de Mestre em Riscos e Proteção Civil

AS

ALTERAÇÕES

CLIMÁTICAS

E

A

PROTEÇÃO

CIVIL.

Autor: Nuno Miguel Velosa Teixeira Gomes

Orientador: Mestre Henrique Vicêncio

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Agradecimentos

Ao meu orientador Mestre Henrique Vicêncio pela constante disponibilidade, interesse, empenho e simpatia demonstrada durante a elaboração deste trabalho.

À Doutora Ana Oliveira pela constante disponibilidade, interesse e apoio, não só na elaboração desta tese, mas também durante todo o período em que decorreu a 4ª edição do Mestrado em Riscos e Proteção Civil.

Ao Doutor Carlos Marques pela disponibilização de alguns artigos essenciais para a elaboração desta tese.

Um especial agradecimento ao Dr. Joaquim Caeiro da Associação Nacional de Municípios Portugueses pelo elevado interesse e empenho na divulgação do inquérito realizado, sem o qual não seria possível de concretizar.

A todos os municípios que responderam ao inquérito apresentado nesta tese.

A todos os docentes do Mestrado em Riscos e Proteção Civil que contribuíram de várias formas na minha formação académica, com os quais aprendi imenso.

Aos colegas do Mestrado em Riscos e Proteção Civil por todo o apoio, simpatia e amizade.

Ao meu pai José Gomes que me proporcionou oportunidades de me formar como estudante e como pessoa.

À minha namorada Cátia Silva por todo o amor, carinho e compreensão constantes.

A todos os outros amigos e familiares que de alguma forma contribuíram e apoiaram a elaboração desta tese.

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Resumo

As alterações climáticas são um dos principais desafios que a humanidade enfrenta atualmente. O Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas identificou para o continente Europeu, as inundações costeiras e fluviais, a degradação de recursos hídricos e o aumento da intensidade e frequência de fenómenos extremos como os principais impactes decorrentes das alterações climáticas. Contudo, os impactes não serão sentidos de igual forma por todos os países. Este trabalho pretende estudar os impactes decorrentes das alterações climáticas na perspectiva da proteção civil e investigar a relação entre as alterações climáticas e o ciclo da catástrofe. É bastante comum, dentro da temática das alterações climáticas o conceito de mitigação ser acompanhado do conceito de adaptação. De um modo geral a adaptação é um conceito transversal a todas as fases do ciclo da catástrofe.

Para se caracterizar a atuação dos municípios de Portugal continental, no âmbito das alterações climáticas, elaborou-se um inquérito às câmaras municipais de Portugal Continental. Os municípios portugueses revelam preocupações relativas às alterações climáticas e preferem introduzir medidas preventivas no âmbito dos seus Planos Municipais de Ordenamento do Território. Os incêndios florestais, pelo seu período de retorno, parecem ser o perigo que maior atenção merece por parte dos municípios portugueses. A seca, fenómeno mais lento e controlável, não merece destaque, parecendo ser subvalorizado em termos de impactes futuros. Os municípios que implementaram políticas de adaptação são os que pensam implementar outras. Deverão ser pensadas estratégias com vista ao envolvimento de novos municípios na adaptação às alterações climáticas.

A criação de políticas, normas, diretivas, leis, entre outros, cabe aos governantes e decisores, contudo, estas necessitam do apoio e colaboração dos cidadãos e das comunidades locais para ser possível obter resultados práticos com base nas políticas praticadas.

Palavras-chave

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Abstract

Climate change is one of the main challenges facing humanity today. The Intergovernmental on Climate Change identifies for the European continent, coastal and river flooding, degradation of water resources and the increased intensity and frequency of extreme events as the main impacts of climate change. However, the impact will not be felt equally by all countries. This work aims to convey the negative impacts of climate change in view of the risk and civil protection and expose a link between climate change and the disaster cycle. It is quite common within the theme of climate change the concept of mitigation be accompanied by the concept of adaptation. In one way, the overall adjustment is a cross concept to all phases of the disaster cycle.

To characterize the actions of the Portuguese municipalities, regarding to climate change, it was created -an inquiry to the municipal chambers of the Portuguese mainland. The Portuguese municipalities reveal concerns about climate change and prefer to introduce preventive measures within their spatial planning plans. Wildfires, for their return period, seem to be the hazard that deserve more attention from the Portuguese municipalities. Droughts, a slower and controllable phenomenon, do not deserve an highlight, looking underappreciated in terms of future impacts. The municipalities that had implemented adaptation policies are the same that think in implementing others. Strategies that could involve more municipalities in climate change adaptation should be considered.

The creation of policies, regulations, guidelines, laws, among others, it is up to governments and policy makers, however, they need the support and cooperation of citizens and local communities to be able to get practical results based on prevailing policies.

Keywords

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Índice

1. As Alterações Climáticas, um efeito global. ... 1

1.1. A ação dos gases de efeito de estufa na atmosfera ... 2

1.1.2. A precipitação ... 6

2. Cimeiras e acordos Internacionais ... 7

2.1. Cimeira da Terra ... 7

2.2. Protocolo de Quioto. Quioto, 1997. ... 8

2.3. Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas ... 10

2.4. Conferência das Nações Unidas para o Clima ... 10

2.5. Portugal na Conferência das Nações Unidas para o Clima. Paris, 2015. ... 11

2.5.1. O cumprimento dos Acordos assinados. ... 12

2.6. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas. ... 13

3. Os Impactes das Alterações climáticas. ... 17

3.1. Os impactes no Mundo ... 17

3.2. Os impactes em ilhas ... 19

3.2.1. Caso de Estudo: As ilhas Quiribati ... 20

3.3. Os Impactes diferenciados na Europa. ... 23

3.3.1. Casos de estudo na Europa ... 28

3.3.1.1. Risco de incêndio atual e projeções futuras devido a alterações climáticas. ... 28

3.3.1.2. As Alterações Climáticas e as inundações rápidas no rio Llobregat. ... 31

4. As alterações climáticas em Portugal ... 35

4.1. O clima em Portugal ... 35

4.2. Previsões Gerais. ... 37

4.2.1. Previsões de temperatura. ... 39

4.2.1.1. Temperatura mínima de Inverno. ... 39

4.2.1.2. Temperatura máxima no Verão. ... 41

4.2.1.3. Anomalia da temperatura mínima no Inverno. ... 43

4.2.1.4. Anomalia da temperatura máxima no Verão. ... 45

4.2.1.5. Número médio de “dias de Verão” por ano. ... 46

4.2.1.6. Número médio de “dias muito quentes” por ano. ... 48

4.2.1.7. Número máximo de dias consecutivos com temperatura máxima superior a 35ºC. 50 4.2.2. Previsões de precipitação. ... 52

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5. Os impactos das Alterações climáticas, a perspectiva da Proteção Civil e o ciclo da

catástrofe... 59 5.1. Ondas de Calor ... 66 5.1.1. Medidas de Adaptação ... 74 5.2. Incêndios ... 76 5.2.1. Medidas de Adaptação ... 85 5.3. Inundações ... 88 5.3.1. Medidas de adaptação ... 93 6. Inquéritos ... 97 6.1. Introdução ... 97 6.2. Metodologia ... 98 6.3. Resultados ... 100 6.4. Conclusões. ... 117 7. Conclusões ... 119 8. Referências bibligráficas ... 123 9. ANEXOS ... 129

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Índice de Figuras

Figura 1. Reconstituição da evolução da temperatura média global e da concentração de

dióxido de carbono da baixa atmosfera.. ... 2

Figura 2. Total anual de emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa. ... 2

Figura 3. . Evolução das concentrações de vários componentes da atmosfera. ... 4

Figura 4. Temperatura anual média global da atmosfera à superfície ... 5

Figura 5. Média anual e global da alteração do nível do mar... 5

Figura 6. Emissões de gases com efeito de estufa ... 13

Figura 7. Evolução da anomalia da temperatura média global da baixa atmosfera desde 20000 anos. ... 16

Figura 8. Projeções da variação da temperatura média global desde 1990 e projeções futuras. ... 16

Figura 9. Principais riscos presentes em cada região. ... 19

Figura 10. Localização da República de Quiribati. ... 21

Figura 11. Variações da temperatura no Verão e Inverno na Europa. ... 24

Figura 12. Alteração da temperatura média anual na Europa em 2003. ... 24

Figura 13. Temperaturas projetadas para a Europa até 2080. ... 25

Figura 14. Número médio de incêndios por unidade de área e por dia... 30

Figura 15. Número médio de dias de risco de incêndio crítico para o período de controlo (1961-1990). ... 31

Figura 16. Localização da bacia do Rio Llobregat ... 32

Figura 17. Distribuição generalizada de Pareto ajustada aos valores de descargas da sub-bacia de Alt Llobregat ... 34

Figura 18. Clima de Portugal Continental ... 36

Figura 19. Temperatura média anual e Precipitação acumulada anual. ... 36

Figura 20. Projeção das alterações de precipitação no Verão na Europa até 2080. ... 38

Figura 21. Média da temperatura mínima no Inverno. ... 41

Figura 22. Média da temperatura máxima no Verão ... 43

Figura 23. Anomalia da temperatura mínima no Inverno ... 44

Figura 24. Anomalia da temperatura máxima no Verão ... 45

Figura 25. Número de dias de Verão por ano ... 48

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Figura 27. Número máximo de dias consecutivos com temperatura máxima superior a

35ºC ... 52

Figura 28. Precipitação média anual no modelo regional do Hadley Center - versão 3. 53 Figura 29. Anomalia da precipitação no modelo regional do Hadley Center - versão 2.54 Figura 30. Anomalia relativa da precipitação no modelo regional do Hadley Center - versão 3 ... 56

Figura 31. Anomalia da precipitação no modelo regional do Hadley Center – versão 3. ... 58

Figura 32. Ciclo da catástrofe. ... 60

Figura 33. Ciclo da catástrofe e a adaptação às alterações climáticas. ... 61

Figura 34. Gestão de riscos e as alterações climáticas. ... 62

Figura 35. Impactos das ondas de calor. ... 67

Figura 36. Carta de suscetibilidade a ondas de calor ... 68

Figura 37. Distribuição diária do número total de óbitos no período de 1 de Julho a 30 de Agosto de 2003. ... 69

Figura 38. Distribuição do número total de internamentos nos anos de 2001, 2002 e 2003 ... 70

Figura 39. Variação da mortalidade média diária e da temperatura mínima e máxima do ar nos distritos do Porto, Coimbra e Lisboa entre 2003 e 2012. ... 71

Figura 40. Impactos das ondas de calor. ... 73

Figura 41. Carta de perigosidade de incêndios florestais ... 78

Figura 42. Evolução da área ardida anual e do nº de ocorrências entre 1980 e 2010. .... 79

Figura 43. Relação entre o risco de incêndio e o número de ocorrências ... 81

Figura 44. Comparação entre valores observados da área ardida e valores modelados. 82 Figura 45. Carta de suscetibilidade a cheias e inundações ... 89

Figura 46. Impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos. ... 91

Figura 47. Relação entre a precipitação acumulada e ocorrências ... 92

Figura 48. Distribuição Geográfica dos municípios de Portugal Continental que responderam ao inquérito elaborado ... 100

Figura 49. Distribuição geográfica das respostas relativas à existência de estudos sobre possíveis impactos das alterações climáticas ... 104

Figura 50. Distribuição geográfica das respostas relativas à existência de um plano estratégico de adaptação às alterações climáticas ... 105

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Figura 51. Distribuição geográfica das respostas relativas à existência de um plano estratégico de adaptação às alterações climáticas ... 107 Figura 52. Distribuição geográfica das respostas relativas à informação fornecida à população... 109 Figura 53. Distribuição geográfica das respostas relativas às medidas de adaptação e/ou mitigação implementadas ... 112 Figura 54. Distribuição geográfica das respostas relativas às medidas de adaptação e/ou mitigação a implementar ... 114 Figura 55. Distribuição geográfica das respostas à relativas à articulação entre a Câmara Municipal e os Comandos Distritais de Operações de Socorro e a Autoridade Nacional de Proteção Civil………...117

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Índice de Tabelas

Tabela 1. Trajetórias Representativas das Concentrações ... 15 Tabela 2. Impactos em ilhas devido à subida do nível das águas do mar. ... 20 Tabela 3. Impactes das alterações climáticas na Europa... 26 Tabela 4. Sumário dos valores de descarga na sub-bacia do rio Alt-Llobregat para três períodos em estudo e dois cenários ... 33 Tabela 5. Sumário dos valores de descarga na sub-bacia do rio Anoia para três períodos em estudo e dois cenários ... 34 Tabela 6. As 10 ocorrências mais mortíferos em Portugal nos últimos 100 anos ... 66 Tabela 7. Principais ocorrências decorrentes das ondas de calor. ... 66 Tabela 8. Óbitos observados em 2003 devido à ocorrência de uma onda de calor …….69 Tabela 9. Ótimos térmicos identificados para os distritos de Porto, Coimbra e Lisboa..72 Tabela 10. Medidas de adaptação às alterações climáticas relativas a ondas de calor ... 75 Tabela 11. Área ardida e número de incêndios florestais entre 2000 e 2013 ... 77 Tabela 12. Estatística do teste de normalidade one-sample Kolmogorov- Smirnov para áreas ardidas em Julho e Agosto ... 83 Tabela 13. Dados observados entre 2001 e 2011 relativos ao número de incêndios, área ardida e desvios de temperatura ... 84 Tabela 14. Tendências observadas de Junho a Setembro relativas ao número de incêndios, área ardida e desvios de temperatura ... 84 Tabela 15. Tendências potenciais de Junho a Setembro relativas à variação de temperatura e ao acréscimo do número de incêndios e área ardida ... 84 Tabela 16. Medidas de adaptação às alterações climáticas relativas aos incêndios florestais. ... 87 Tabela 17. Principais ocorrências de cheias e inundações ... 88 Tabela 18. Impactos das alterações climáticas nos recursos hídricos (ENAAC 2013 ... 91 Tabela 19. Tendências potenciais de desvios de precipitação e do número de ocorrências face aos cenários analisados ... 93 Tabela 20. Medidas propostas para o controlo do risco de cheias... 94 Tabela 21. Medidas de adaptação às alterações climáticas relativas às inundações. ... 95 Tabela 22. Resumo dos impactos das alterações climáticas que tenham uma ligação mais direta à proteção civil e à sua actividade... 96

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Tabela 23. Resultados da questão número 8: ―Os estudos referidos na pergunta 7 têm influência na aprovação de planos municipais (Plano Diretor Municipal, Planos de Urbanização, Planos de Pormenor e Plano Municipal de Emergência)?‖ ... 104 Tabela 24. Resultados da questão número 15: ―Foram implementadas medidas de adaptação e/ou mitigação face às alterações climáticas?‖ ... 111 Tabela 25. Resultados da questão número 17: ―Estão planeadas medidas de adaptação e/ou mitigação face às alterações climáticas? ... 113 Tabela 26. Resultados da questão número 20: ―Existe articulação da câmara municipal com o CDOS/ANPC nesta matéria?‖ ... 116

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Índice de Gráficos

Gráfico 1. Graus de relevância (percentagens) atribuídos pelos municípios à temática das alterações climáticas. ... 101 Gráfico 2. Resultados da questão número 5: ―Quais são os principais riscos associados às alterações climáticas no município?‖ ... 102 Gráfico 3. Resultados da questão número 6: ―Quais são os principais riscos associados às alterações climáticas no município?‖ ... 103 Gráfico 4. Resultados da questão número 7: ―Existem estudos sobre possíveis impactos das alterações climáticas no concelho?‖ ... 103 Gráfico 5. Resultados da questão número 9: ―As políticas de prevenção e ordenamento do território levadas a cabo pela câmara municipal têm em conta as alterações climáticas e os seus impactos?‖ ... 105 Gráfico 6. Resultados da questão número 10: ―Existe um plano estratégico para implementação de medidas de adaptação às alterações climáticas?‖ ... 106 Gráfico 7. Resultados da questão número 11: ―Existem técnicos na câmara municipal com formação em adaptação às alterações climáticas?‖ ... 108 Gráfico 8. Resultados da questão número 12: ―Foi fornecida informação à população sobre os possíveis impactos das alterações climáticas?‖ ... 108 Gráfico 9. Resultados da questão número 13: ―De que forma foi distribuída a informação à população?‖ ... 109 Gráfico 10. Resultados da questão número 14: ―A adaptação municipal às alterações climáticas deverá assentar essencialmente em?‖ ... 110 Gráfico 11. Resultados da questão número 15: ―Foram implementadas medidas de adaptação e/ou mitigação face às alterações climáticas?‖ ... 111 Gráfico 12. Resultados da questão número 16: ―Que tipo de medidas foram implementadas no município?‖ ... 113 Gráfico 13. Resultados da questão número 17: ―Estão planeadas medidas de adaptação e/ou mitigação face às alterações climáticas? ... 114 Gráfico 14. Resultados da questão número 18: ―Que tipo de medidas estão planeadas para o município?‖ ... 115 Gráfico 15. Resultados da questão número 19: ―Quais são os organismos (ou o organismo) da administração central ou regional que tem informado a câmara municipal sobre a temática das alterações climáticas? (MAI – Ministério da Administração

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Interna; APA – Agência Portuguesa do Ambiente; CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional). ... 116 Gráfico 16. Resultados da questão número 20: ―Existe articulação da câmara municipal com o CDOS/ANPC nesta matéria?‖ ... 117

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Lista de Siglas e Acrónimos

AR5 - Relatório de Avaliação 5 do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.

APA - Agência Portuguesa do Ambiente. ANPC - Autoridade Nacional de Proteção Civil.

ANMP - Associação Nacional de Municípios Portugueses. BUI - Índice de Combustível Disponível.

CBD - Convenção sobre Diversidade Biológica, ou Convenção da Biodiversidade. CPLP - Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

CIMAC - Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central. CDOS - Comando Distrital de Operações de Socorro. CFC - Clorofluorcarbonetos.

CCDR - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional. CO2 - Dióxido de Carbono

CO2e - Equivalente de Dióxido de Carbono N2O – Óxido Nitroso

CH4 - Metano

Distribuição GP - Distribuição Generalizada de Pareto. DC - Índice de Húmus.

DMC - Índice de Seca.

ENAAC - Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas. EMAAC - Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas. EEA - Agência Europeia do Ambiente.

FOLU/LULUCF - Florestas e uso do solo. FWI - Fire Weather Index.

FMC - Índice de Humidade dos Combustíveis Finos. GEE - Gases de Efeito de Estufa.

GWP100 - 100 anos de Potencial de Aquecimento Global.

HadRM 2 e 3 - Modelos Climáticos Regionais do Hadley Center – versões 2 e 3. HCFC - Hidrofluorcarbonetos.

ICU - Ilhas de Calor Urbano.

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ISI - Índice de Propagação Inicial de Fogos Florestais. INDC - Contributo Previsto Determinado.

IS92 - IPCC Scenarios 1992.

IPCC - Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

MAI - Ministério da Administração Interna. OMM - Organização Meteorológica Mundial. ONU - Organização das Nações Unidas.

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. PALOP - Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

PNAAC - Plano Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas. PNDFCI - Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios.

RCP - Trajetórias Representativas das Concentrações de gases com efeito de estufa. SRES - Special Report Emission Scenarios.

SIAM - Scenarios, Impacts and Adaptation Measures.

SAR - Segundo Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas.

SMPC - Serviço Municipal de Proteção Civil. UTC - Coordinated Universal Time.

UNFCCC - Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Combate às Alterações Climáticas.

UNCCD - Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação.

UNISDR - Estratégia Internacional das Nações Unidas para Redução de Catástrofes. UE - União Europeia.

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1. As Alterações Climáticas, um efeito global

O nosso planeta está em constante alteração e desenvolvimento a todos os níveis, desde o tecnológico, social, económico, ambiental e o político. Estes níveis interrelacionam-se e são suscetíveis a ameaças que interfiram na sua evolução e sustentabilidade. As alterações climáticas, que são um dos principais desafios que a humanidade enfrenta atualmente, são um exemplo de ameaças à escala global, que podem afetar isoladamente, ou em simultâneo, os níveis referidos.

A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas define alterações climáticas como “uma mudança no clima que é atribuída direta ou indiretamente à ação humana que altera a composição global da atmosfera e que vai para além da variabilidade climática natural observada sobre períodos de tempo comparáveis.” (UN 1992, p. 7).

Na definição acima transcrita a variabilidade climática natural refere-se à variação do clima ao longo da história da Terra. Este conceito foi durante algum tempo o principal fator de discórdia entre a comunidade científica e a população em geral quanto à aceitação das alterações climáticas.

A atmosfera que é essencial para a evolução e preservação da vida tem variado significativamente ao longo da história do nosso planeta. Têm-se observado ciclos de glaciação e interglaciações com as consequentes oscilações de clima. Durante a última glaciação, aproximadamente há 120 000 anos, a temperatura média global da atmosfera à superfície era 5 a 7 °C menor do que a atual e o nível médio do mar estava cerca de 100 a 120 metros abaixo do atual (Santos, 2006).

A Figura 1 representa as variações da temperatura média global, relativamente à média do período de 1961 a 1990, e da concentração do dióxido de carbono (CO2) por partes por milhão por volume (ppm) na atmosfera nos últimos 400 000 anos.

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2

Figura 1: a) Reconstituição da evolução da temperatura média global da baixa atmosfera representada por meio da anomalia relativamente à média do período de 1961 a 1990. b) Concentração atmosférica do

CO2 nos últimos 400 000 anos. Fonte: (Santos, 2006 Ibid Petit, 1999)

1.1. A ação dos gases de efeito de estufa na atmosfera

Desde a revolução industrial nos meados do século XVIII que a intensiva utilização de combustíveis fósseis tem contribuído para um aumento da quantidade de gases de efeito de estufa (GEE) na atmosfera (principalmente dióxido de carbono) e um consequente aumento da temperatura média global (EEA 2004, 21). Os principais GEE presentes na atmosfera são o vapor de água, o CO2, o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozono (O3), os clorofluorcarbonetos (CFC) e os hidrofluorcarbonetos (HCFC). A Figura 2 representa a evolução das emissões antropogénicas de alguns GEE entre os anos de 1970 e 2010. Observa-se a grande quantidade de CO2 que foi emitida para atmosfera pela queima de combustíveis fosseis e processos industriais entre 1970 e 2010, é também observável a quantidade de CO2 emitida por alterações do uso do solo e florestas (FOLU).

Figura 2: Total anual de emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa (GEE) (giga toneladas de equivalente de CO2 por ano, Gt CO2e / ano) para o período 1970-2010. Fonte: (IPCC 2015, 5).

(26)

3

Este gráfico baseia-se nos dados disponibilizados pela segunda avaliação (SAR) do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) e os valores do quinto relatório de avaliação (AR5) do IPCC, incluem também os dados disponibilizados pelo pacote de gases de Quioto (CO2, CH4, N2O, bem como gases fluorados), calculado com base em 100 anos de Potencial de Aquecimento Global (GWP100) (IPCC, 2015).

Em 2010, as emissões de CO2 corresponderam a 65% do total de emissões dos GEE. Adicionando os 11% do total de emissões correspondentes a atividades de exploração florestal e diferentes usos do solo (FOLU), conclui-se que o dióxido de carbono é o principal gás emitido por ações antropogénicas. Estão representados igualmente na Figura 2, as emissões relativas ao metano (CH4), ao óxido nitroso (N2O) e ainda aos gases-F (CFC e HCFC), que representam num total de emissões 16%, 6,2% e 2% respectivamente.

Os gases acima referidos provocam um forçamento radiativo que influência e provoca alterações nas trocas de energia do sistema Terra-atmosfera, o que o torna um mecanismo de alteração do clima. O forçamento positivo tende para um aumento da temperatura à superfície, por outro lado um forçamento negativo leva a diminuições das temperaturas (IPCC, 2007).

A Figura 3 representa a evolução da concentração atmosférica de 3 dos principais GEE (CO2, CH4 e N2O), e o seu consequente forçamento radiativo. Estes dados foram obtidos a partir da análise de calotes de gelo retiradas de furos efetuados na Antárctida e Gronelândia e de observações diretas nas últimas décadas. Na Figura 3b) relativa à concentração do CH4 na atmosfera a curva representa a sua média global nos últimos 1000 anos. Os GEE têm a capacidade de absorver e emitir radiação infravermelha, quando os níveis de concentração de GEE aumentam há uma maior parte da radiação emitida pela superfície terrestre absorvida. O forçamento radiativo provocado pela presença destes gases na atmosfera está representado à direita e no caso do CH4 e N2O a concentração está representada em ppm (Santos, 2006). É bem visível o aumento exponencial destes gases na atmosfera após a data da revolução industrial.

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4

Figura 3: Concentração na atmosfera de (a) CO2, (b) CH4 e (c) N2O nos últimos 1000 (IPCC, 2001).

Dos três gases referidos na Figura 3 verifica-se que no ano de 2000, o CO2 atinge uma concentração atmosférica de cerca de 360 ppm com um consequente forçamento radioativo de cerca de 1,5 Watts por metro quadrado (Wm-2), sendo assim o gás que mais contribui para o efeito de estufa e consequente aquecimento global. Apesar de o metano (CH4) apresentar uma concentração atmosférica superior ao CO2 (~1750 ppm no ano 2000) o seu forçamento radiativo é cerca de 0,5 Wm-2, ou seja, bastante inferior ao provocado pelo CO2.

O óxido nitroso (N2O) apresenta uma concentração de 310 ppm e um forçamento radioativo de 0,15 Wm-2, valores bastante inferiores aos dos restantes gases.

1.1.1. A temperatura da Terra

Na Figura 4 apresenta-se a variação da temperatura anual média global da atmosfera à superfície, representada em termos da anomalia relativamente ao valor médio do período de 1961 a 1990 (IPCC 2001). Verifica-se existir um aumento exponencial da temperatura média desde 1960 em relação direta com a concentração atmosférica de GEE, e com as ações antropogénicas principais fatores causadores das alterações climáticas. A variação observada nos últimos 100 anos excede largamente as variações climáticas naturais dos últimos mil anos (Santos, 2006).

a)

b)

(28)

5

Figura 4: Temperatura anual média global da atmosfera à superfície, representada em termos da anomalia relativamente ao valor médio do período de 1961 a 1990 (IPCC, 2001)

O aumento da temperatura média global é o principal responsável pelo degelo nas zonas do Ártico e Antártida, e por consequência, responsável pela subida do nível médio das águas do mar, o que tem vindo a aumentar a vulnerabilidade das zonas costeiras continentais e das ilhas de todo o planeta às inundações (IPCC, 2014). O nível médio das águas do mar aumentou entre 0,17 e 0,21 m entre 1901 e 2010 e a extensão de gelo marítimo no Ártico diminuiu substancialmente entre os anos de 1979 e 2012. Verificou-se igualmente uma diminuição de 3,5% a 4,1% desta extensão por década e que esta diminuição tem sido contínua ao longo de todas as décadas e de todas as estações do ano.

Na Figura 5 está representada a subida do nível médio das águas do mar durante o século XX observando-se um aumento contínuo e exponencial.

Figura 5: Média anual e global da alteração do nível do mar em relação à média, durante o período de 1986 a 2005 no conjunto de dados de mais longa duração (IPCC,2015).

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1.1.2. A precipitação

Segundo o IPCC (2015) é provável que os fenómenos extremos de precipitação se tornem mais frequentes e intensos nalgumas regiões. Noutras regiões acontecerá o inverso, o que poderá provocar impactes significativos no uso dos recursos hídricos e no ambiente. Estas variações e a fusão de gelos e neves estão a alterar os sistemas hidrológicos, afetando recursos hídricos em termos de quantidade e qualidade (IPCC, 2015).

Na região do Pacífico, o fenómeno do ―El Niño‖, é um exemplo de um evento extremo, que provoca secas e inundações frequentes e que pode ser agravado, trazendo grandes impactes para as populações desta região do globo (IPCC, 2015).

A capacidade de adaptação às alterações climáticas consiste na capacidade de um país ou região implementar medidas de adaptação com vista a minimizar os seus impactes. Esta capacidade advém de fatores sociais, económicos, políticos, ambientais, entre outros, que de alguma forma podem influenciar a implementação dessas medidas. Nalgumas regiões do globo, onde a capacidade de adaptação às alterações climáticas é mais reduzida, os impactes nos recursos hídricos podem tornar-se num grave problema de saúde pública e de sustentabilidade das próprias populações que tenham como principal setor de atividade a produção animal e agrícola.

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2. Cimeiras e acordos Internacionais

Nas últimas décadas têm-se realizado conferências internacionais sob a égide da Organização das Nações Unidas (ONU) em que se pretendem acordar estratégias para a diminuição dos riscos associados às alterações climáticas. A primeira Cimeira realizou-se no Rio de Janeiro em 1992, realizou-sendo denominada de ―Cimeira da Terra‖, desde então houve diversos eventos internacionais onde foram assinados diversos acordos tendo sempre em vista a redução da emissão de GEE. A cimeira mais recente foi a Cimeira de Paris em 2015, denominada de ―Cimeira do Clima‖, onde foi assinado um acordo histórico com o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global até um máximo de 2ºC em comparação com a temperatura média global do período pré-industrial.

2.1. Cimeira da Terra

Em 1992 no Rio de Janeiro, realizou-se uma conferência histórica que reuniu 108 Chefes de Estado e de Governo, onde foi assinada a Agenda 21, que consistiu num plano de ação em prol do desenvolvimento sustentável. Até à data esta tinha sido a maior reunião internacional já realizada (ONU, 2002).

Nesta Cimeira, além da Agenda 21, foram assinados três Tratados:

 A Convenção-Quadro das Nações Unidas para o Combate às Alterações Climáticas (UNFCCC);

 A Convenção sobre Diversidade Biológica, ou Convenção da Biodiversidade

(CBD);

 A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD).

Estes tratados foram a resposta da comunidade internacional às crescentes preocupações com o ecossistema global. Os primeiros relatórios do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas apontavam para uma interferência humana no clima global. Perdas de biodiversidade, a desertificação e a sobre-exploração dos oceanos foram referidas em vários relatórios do Programa das Nações Unidas para o Ambiente. A Convenção-Quadro para o Combate às Alterações Climáticas é a base do regime jurídico internacional sobre clima (APA s.d.).

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2.2.

Protocolo de Quioto. Quioto, 1997

O Protocolo de Quioto é um acordo internacional ligado à Convenção-Quadro das Nações Unidas que pela primeira vez na história estabelece metas internacionalmente vinculativas relativas à redução de GEE. Neste Protocolo reconhece-se que os países desenvolvidos são os principais responsáveis pelos níveis elevados de emissões derivados da grande e contínua atividade industrial a longo de mais de 150 anos. Esta responsabilização traduziu-se no princípio de responsabilidades comuns mas diferenciadas colocando uma maior imputação aos países desenvolvidos.

O Protocolo de Quioto foi assinado a 11 de Dezembro de 1997 na cidade Japonesa de Quioto, mas apenas entrou em vigor a 16 de Fevereiro de 2005. As regras para a implementação do Protocolo foram adotadas em Marraquexe, Marrocos, em 2001. O período de compromisso definido neste protocolo teve início em 2008 e terminou em 2012 (UNFCCC s.d.).

A UNFCCC entrou em vigor a 21 de Março de 1994 com 165 signatários (países que assinaram os acordos) e 186 partes (países que participaram na convenção) que na sua maioria falharam o objetivo de reduzir até 2000 as emissões de GEE para os níveis de 1990. Em 1997 no Protocolo de Quioto, foi acordado que os países industrializados aceitavam as metas juridicamente vinculativas de reduzir em média as emissões de GEE para níveis 5% abaixo aos de 1990. O protocolo foi assinado por 84 países e ratificado por 54 partes mas apenas dois países industrializados ratificaram o Protocolo (ONU, 2002).

O Protocolo de Quioto foi o primeiro tratado jurídico internacional que tem como objetivo limitar as emissões de GEE dos países desenvolvidos. Sendo o Protocolo anexo à UNFCCC adquire os princípios fundamentais de um regime climático, incluindo o princípio das responsabilidades comuns mas diferenciadas, que resultou numa divisão dos países:

 ―Anexo I‖ - Países desenvolvidos (divididos num subconjunto de países com limites de emissões quantificados).

 ―Não-Anexo I‖ - Países em vias de desenvolvimento (sem metas de redução de emissões quantificadas) (APA s.d.).

Uma das principais características do Protocolo de Quioto é a diferenciação entre as metas de redução de emissões. Este tema foi introduzido pelos Estados Unidos para que fosse possível existirem vários argumentos para justificar circunstâncias especiais nas

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metas de cada Parte. No final, nem todas as Partes se comprometeram a reduzir as emissões, algumas (p.e. Austrália) têm como compromisso apenas limitar o crescimento das emissões. Contudo a não-ratificação do documento por parte dos Estados Unidos limita a eficácia a nível ambiental deste Protocolo (APA s.d.).

O Protocolo de Quioto foi também o primeiro tratado internacional a reconhecer o potencial da economia de mercado na concretização das metas estabelecidas. Os mecanismos incluídos no Protocolo permitem às Partes adquirir direitos de emissão permitindo assim que as Partes que o façam consigam mais eficientemente atingir os seus objetivos (APA s.d.).

Foram inscritos três mecanismos de mercado do Protocolo de Quioto:

 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo;

 Mecanismo de Implementação Conjunta;

 Mecanismo do Comércio Internacional de Emissões.

O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo tem como principal objetivo incentivar os países em desenvolvimento a participar na redução de emissões e incentivar a transferência de tecnologia entre os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento (APA s.d.).

O Mecanismo de Implementação Conjunta, permite a colaboração entre as Partes deste acordo, ou seja, um país do Anexo I pode investir em projetos com vista à redução de emissões no território pertencente a outro país (APA s.d.).

O Mecanismo de Comércio Internacional de Emissões representou um grande desenvolvimento da política ambiental internacional, sendo esta a primeira vez que foi aplicado um instrumento económico na política ambiental à escala mundial. Este Mecanismo é o resultado da participação dos Estados Unidos que insistiu na existência de um instrumento para reduzir custos de regulação (APA s.d.).

Em Portugal, as políticas e medidas a nível nacional estão incluídas no Plano Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), aprovado em Conselho de Ministros em 2004. Este plano apresenta medidas de mitigação e procura identificar as responsabilidades de redução de GEE de uma forma equilibrada nos setores da energia, indústria, transportes, agricultura, floresta, doméstico, serviços e resíduos com o objetivo de cumprir o acordado no Protocolo de Quioto. Conjuntamente com estes esforços é necessário um plano de adaptação que possa minimizar os impactes das alterações climáticas nos vários setores. Para isto ser realizável, é necessário existir conhecimento detalhado

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sobre os impactes das alterações climáticas que pode ser obtido através de projeções de modelos climáticos. Este conhecimento pode ser bastante útil na justificação e na tomada de decisões sobre a aplicação ou não, de certas politicas e/ou medidas ao nível nacional, europeu ou mundial (Santos, 2006).

2.3. Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas

A Conferência de Copenhaga foi marcante nas negociações internacionais, sendo uma das maiores Cimeiras de sempre das Nações Unidas. Vários países-chave, como a China e os Estados Unidos estavam a dar os primeiros passos em termos de planeamento e estratégias nacionais relativas às alterações climáticas, pelo que as expectativas eram elevadas. No entanto estes países estavam um pouco limitados quanto aos compromissos que poderiam assumir nesta Cimeira. Por outro lado, a União Europeia tem sido ambiciosa quanto à existência de políticas relativas a esta matéria.

Nesta cimeira os resultados ficaram aquém das expectativas pois não foi possível a adoção de um acordo jurídico internacional para um período posterior a 2012. De qualquer forma, esta Cimeira representa uma mudança ao nível das políticas globais para o clima, viso que inclui, pela primeira vez, propostas de compromissos de limitação ou redução de emissões para um número significativo de países que conjuntamente representam mais de 80% das emissões globais de GEE (APA s.d.).

2.4. Conferência das Nações Unidas para o Clima

Em 2015 realizou-se em Paris a Conferência das Nações Unidas para o Clima, também conhecida por 21ª Conferência das Partes (COP 21) com o objetivo de efetuar um acordo jurídico vinculativo e universal que permita limitar até ao final do século o aumento da temperatura média global até um máximo de 2ºC em comparação com o período pré-industrial. Este acordo deverá abranger todas a Partes da Convenção.

As prioridades da União Europeia e de Portugal são assegurar o dinamismo e ambição deste acordo, concretizadas através de um mecanismo de aumento de ambição dos compromissos, que consiste na atualização sem retrocessos, dos compromissos de mitigação de todas as Partes, em ciclos de 5 anos independentemente dos horizontes temporais que possam ter estabelecido individualmente. É fundamental que o Acordo de Paris transmita confiança no compromisso de todas as Partes, para que este tenha

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sucesso e as sociedades sejam mais resilientes aos impactes das alterações climáticas (APA s.d.).

2.5. Portugal na Conferência das Nações Unidas para o Clima. Paris,

2015

Portugal concluiu com sucesso o 1º período de cumprimento do Protocolo de Quioto, ao limitar o aumento de emissões entre 2008 e 2012 em 20% face a 1990, superando até o desempenho a que se tinha comprometido em Quioto que permitia um aumento até 27%. Relativamente a desafios futuros Portugal tem-se empenhado em várias frentes:

 Ratificou a emenda do Protocolo de Quioto e está alinhado com as metas europeias para 2020 e com as metas do 2º período de cumprimento do Protocolo de Quioto.

 Apresentou a sua contribuição nacional no âmbito do Contributo Previsto Determinado (INDC) da União Europeia (UE) visando o cumprimento conjunto dos objetivos.

 Estabeleceu metas de redução de emissões para 2030 e um Quadro Estratégico de Política Climática no horizonte 2020-2030, integrando o Programa Nacional para as Alterações Climáticas 2020/2030 (PNAC 2020/2030) e a Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas 2020 (ENAAC 2020).

 Promove a dinamização do papel da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) na temática alterações climáticas através de um Memorando de Entendimento que prevê uma contribuição de 500 mil euros para o Fundo Especial da CPLP com o objetivo de reforçar a capacitação institucional nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.

 Desenvolve programas de cooperação com países CPLP, sobretudo para projetos de capacitação quer para mitigação quer para adaptação às alterações climáticas.

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2.5.1. O cumprimento dos Acordos assinados

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) elaborou um documento com a avaliação do cumprimento dos objetivos do Protocolo de Quioto em Portugal. Este documento demonstra que Portugal cumpriu os objetivos para o período entre 2008 e 2012.

A União Europeia como um todo está obrigada pelo Protocolo de Quioto a reduzir as emissões de GEE em 8% em relação às verificadas em 1990. No acordo de partilha de responsabilidades ao nível da comunidade europeia foi estabelecido que Portugal poderia aumentar as suas emissões até 27% em comparação com 1990, não podendo exceder em 2012 os 381,94 milhões de toneladas de equivalentes de CO2 (Mt CO2e) no período entre 2008 e 2012, representando um valor médio anual de 76,39 Mt CO2e. (APA, 2012).

Mais recentemente, o Relatório do Estado do Ambiente de 2015, publicado pela APA confirma a tendência atual de diminuição de emissões de GEE. A Figura 6 demonstra a evolução das emissões de GEE em Portugal desde 1990. É observável um aumento até ao início do último século e posteriormente uma gradual diminuição até 2013 sendo expectável que esta tendência se mantenha.

No ano de 2013 em Portugal o total de emissões de GEE foi estimado em 65,3 Mt CO2e (excluindo as alterações do uso do solo e florestas (LULUCF)), o que representa um aumento de 7,5% face a 1990 mas uma diminuição de 2,8% em relação a 2012. O total de emissões de GEE em 2013, incluindo as alterações do uso do solo e florestas (LULUCF) é de 55,9 Mt CO2e. Valor que indica que o setor florestal e as alterações de usos do solo representam um sequestro de 9,4Mt CO2e. (APA, 2015).

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Figura 5: Emissões de GEE (com e sem LULUCF) (APA, 2015).

Por setor de atividade, a energia é o setor que mais contribuiu para a emissão de GEE em 2013 (68%), sendo a produção e transformação de energia e os transportes os subsetores com uma maior contribuição (23% e 24% do total respetivamente) (APA, 2015).

2.6. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) é o principal organismo internacional para a avaliação das alterações climáticas. Foi criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) em 1988 e é composto por 195 países.

As principais funções do IPCC são a análise e a avaliação da informação e do conhecimento científico, técnico e socioeconómico sobre a forma de relatórios. Foram elaborados cinco relatórios de avaliação sobre alterações climáticas, o primeiro em 1990, e os seguintes nos anos de 1995, 2001, 2007 e 2014. Estes apresentam uma avaliação global às alterações climáticas, as suas causas, os seus impactes e estratégias de resposta. Embora o IPCC não realize qualquer investigação e monitorização de dados ou parâmetros relacionados com o clima, produz relatórios especiais, que são uma avaliação sobre um assunto específico e relatórios metodológicos que fornecem orientações práticas para a elaboração de inventários de GEE.

Em 1992, o IPCC criou um conjunto de cenários, denominados IPCC Scenarios, 1992 (IS92), que podem ser utilizados em modelos de circulação global, com o objetivo de prever cenários futuros de emissões de GEE. Os Modelos Climáticos de Circulação

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Global preveem e simulam, o comportamento do clima terrestre (atmosfera e oceanos), e conseguem calcular valores de variáveis meteorológicas tais como a temperatura e a humidade. Os cenários de emissões contêm cenários relativos às futuras emissões de GEE, aerossóis e outros poluentes que conjuntamente com informação sobre o uso e ocupação do solo são utilizados como inputs na elaboração de modelos climáticos(WMO s.d.).

Estes cenários são baseados em fatores de desenvolvimento demográfico, sociais, tecnológicos e económicos, e permitem uma previsão das emissões de GEE no futuro. Em 1996 foi decidido pelo IPCC, efetuar-se uma atualização dos cenários IS92, e no ano de 2000 foi publicado o Special Report on Emisson Scenarios (SRES) que define 4 principais grupos de cenários com variações nos fatores em que são baseados (A1,A2,B1 e B2).

O cenário A1 apresenta um cenário com um desenvolvimento económico e tecnológico rápido e uma população global que atinge um máximo em meados do século XXI. O cenário A2 corresponde a um desenvolvimento global heterogéneo com um progresso socioeconómico e tecnológico fragmentado em que a população mundial cresce durante todo o século XXI. O cenário B1 privilegia o desenvolvimento sustentável e as soluções globais relativos aos problemas sociais e económicos. Por último, o cenário B2 descreve um mundo centrado em soluções locais e num crescimento da população até ao final do século a um ritmo inferior ao cenário A2 (Santos, 2006)

Em 2013 foi efetuada a última atualização dos cenários de emissões de GEE com a criação dos cenários RCP (Representative Concentration Pathways) utilizados por um dos grupos de trabalho do 5º Relatório de Avaliação sobre Alterações Climáticas.

Os modelos climáticos necessitam de informação sobre a evolução das emissões de GEE ao longo do tempo, o que levou a comunidade científica a identificar vários cenários de emissões a partir dos cenários disponíveis como trajetórias plausíveis da evolução do forçamento radiativo no planeta, estas foram designadas por trajetórias representativas das concentrações ou RCP (Representative Concentration Pathways), Tabela 1. O termo representativo significa que cada RCP fornece apenas um possível cenário do forçamento radiativo (Bernardino, 2015).

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Tabela 1: Trajetórias Representativas das Concentrações (WMO s.d.).

RCP 8.5 Aumento da trajetória do forçamento radioativo apontando para 8.5 W/m²

em 2100.

RCP 6 Estabilização sem ultrapassar a trajetória para 6 W/m² após 2100.

RCP 4.5 Estabilização sem ultrapassar a trajetória para 4,5 W/m² após 2100.

RCP 3-PD2 Pico de forçamento radioativo a ~ 3 W/m² antes de 2100 e posterior

decréscimo.

A identificação precoce de conjuntos de RCP facilita a coordenação de novos cenários socioeconómicos, de emissões e climáticos. A utilização de RCP promove o desenvolvimento de novos cenários integrados permitindo uma melhor modelação das respostas do clima às atividades humanas (IPCC, 2007).

Nenhum dos cenários (IS92, SRES e RCP) tem em conta medidas diretas de redução de emissões de GEE acordadas na Convenção-Quadro das Nações Unidas ou no Protocolo de Quioto.

Na Figura 7 apresentam-se 3 previsões do IPCC para o século XXI tendo em conta os últimos 20 000 anos (data da última época glaciar). Desde à 10 000 anos atrás, quando surgiu a agricultura a temperatura da terra tem tido um período de relativa estabilidade, apenas com algumas variações com destaque para um período quente medieval e uma pequena idade do gelo (Séculos XV a XVIII).

Segundo o IPCC desde o início do século XX a temperatura média global já aumentou cerca de 0,6±0,2 ºC, e como foi referido anteriormente, este aumento deve-se essencialmente à revolução industrial e à utilização intensiva de combustiveís fósseis. Para assinalar este fator, está assinalado no gráfico o ano de 1940, que corresponde à data do pós revolução industrial e o ínicio de um aumento da temperatura média global.

A partir de 2004 representam-se a tracejado três cenários possíveis para a evolução da anomalia da temperatura média global até 2100 obtidos com os cenários do IPCC. O conjunto destes cenários prevê um aumento da temperatura média global entre 1,4°C a 5,8°C) (Santos, 2006).

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Figura 6: Evolução da anomalia da temperatura média global da baixa atmosfera desde 20000 anos, relativamente à média dos últimos 10 000 anos (15ºC), representada numa escala logarítmica do tempo

(Santos, 2006 Ibid Kovats, 2003).

Na Figura 8 as trajetórias a azul representam cálculos anteriores utilizados no Segundo Relatório de Avaliação do IPCC (IPCC, 1996). O cenário de base para as emissões de GEE até 2100 (excetuando o CO2) é o A1B. Admite-se que depois de 2100 as emissões destes gases se mantêm constantes com os valores do cenário A1B em 2100. Os pontos a negro indicam a data em que se dá a estabilização do CO2 (Santos, 2006).

Figura 7: Projeções da variação da temperatura média global desde 1990 obtidas quando a concentração atmosférica de CO2 é estabilizada de acordo com os perfis WRE - Perfis de estabilização da concentração

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3. Os Impactes das Alterações climáticas.

3.1. Os impactes no Mundo

As alterações climáticas são um fenómeno à escala global e parecem corresponder a um aumento da frequência e intensidade de fenómenos extremos, mas os seus impactes não são sentidos de forma homogénea nas diferentes regiões do globo. Esta diferença deve-se esdeve-sencialmente à variabilidade climática entre regiões do planeta, mas também à capacidade de adaptação dos países face às alterações climáticas.

No continente africano o IPCC prevê que as alterações climáticas provoquem uma diminuição nas quantidades de precipitação, o que poderá provocar um stress sobre os recursos hídricos e levar à escassez de água potável disponível para as populações. A subida do nível médio das águas do mar, o aumento da quantidade e intensidade de fenómenos extremos poderão aumentar as vulnerabilidades das zonas costeiras. A escassez de água potável, poderá também contribuir para uma redução da produtividade agrícola, que é uma das principais atividades no continente Africano e o único meio de subsistência de algumas populações. É de salientar que a escassez de água põe em risco toda segurança alimentar que torna propício o aparecimento de novas doenças. O turismo e o setor das pescas em África serão bastante afetados, visto que os recursos hídricos assumem um papel importante na manutenção da biodiversidade, que assume um papel fundamental nestes setores.

A capacidade socioeconómica e a elevada taxa de pobreza nos países africanos tornam a sua capacidade de adaptação às alterações climáticas bastante reduzida, o que poderá tornar a desertificação inevitável em várias regiões do continente.

Na América do Sul o aumento da frequência de fenómenos extremos (secas e inundações) e o recuo dos glaciares poderá provocar grandes impactes nos recursos naturais (recursos hídricos, agricultura, florestas e biodiversidade). Á semelhança do continente africano na América do Sul, a produção e a qualidade alimentar serão bastante afetadas podendo proporcionar o aparecimento de novas doenças. Como a América do Sul tem uma baixa capacidade de adaptação às alterações climáticas os setores do turismo e das pescas poderão ser bastante prejudicados.

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Devido ao relevo acentuado, os deslizamentos de terras, provocados por inundações ou até pela forte atividade sísmica deste continente são um fenómeno bastante frequente. O previsto aumento da quantidade e intensidade de fenómenos extremos poderá aumentar substancialmente a ocorrência de deslizamentos, que são um risco real para pessoas e bens no continente Sul Americano.

Na América do Norte (Estados Unidos e Canadá) existe uma forte capacidade de adaptação às alterações climáticas, sendo que esta capacidade pode mitigar alguns dos impactes relativos a alterações no clima. Os principais impactes das alterações climáticas são o aumento da frequência e intensidade de fenómenos de inundações (fluviais e costeiras) e de ondas de calor. As ondas de calor e secas mais intensas podem aumentar a taxa de mortalidade deste tipo de fenómenos e o risco e a severidade dos incêndios florestais.

Algumas das cidades costeiras dos EUA podem sofrer danos graves devido à subida do nível médio das águas do mar: Nova Iorque, Miami, Los Angeles, San Diego, Boston, Nova Orleães e ainda Honolulu no Havaí.

No Continente Asiático, os principais impactes das alterações climáticas são semelhantes aos da América do Norte (ondas de calor, secas e inundações). Como existe uma grande disparidade socioeconómica entre países deste continente, a capacidade de adaptação às alterações climáticas serão diferenciadas. A produção agrícola, a segurança alimentar e a disponibilidade de água potável são aspetos preocupantes para os países menos desenvolvidos.

Na Oceânia os principais impactes serão essencialmente danos em infraestruturas e em zonas costeiras e fluviais devido ao aumento da intensidade de fenómenos extremos e à perda de biodiversidade, com especial foco para a destruição dos recifes de coral pela acidificação do oceano.

Os oceanos absorvem mais de 26% do dióxido de carbono emitido pelas atividades humanas, e atualmente em certas alturas do ano e em certas partes do oceano excedem a sua capacidade de absorver o CO2, o que leva à acidificação dos oceanos. Esta acidez tem diversos efeitos na biodiversidade existente, sendo o mais relevante, a diminuição na concentração/disponibilidade de ião carbonato para o plâncton e espécies de conchas que fixam carbonato de cálcio. Estas espécies são a base de muitas cadeias alimentares

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marinhas, o que releva o impacto que a extinção destas espécies pode vir a ter (UNESCO s.d.).

Figura 8: Principais riscos representativos de cada continente(IPCC 2015, 65).

A Figura 9 mostra os principais riscos presentes para cada continente incluindo o potencial de redução de riscos através da adaptação e mitigação, bem como limites para a adaptação.

Os níveis de risco são avaliados como muito baixa, baixa, média, alta ou muito alta por três períodos de tempo: o presente, curto prazo (2030-2040) e longo prazo (2080-2100). A curto prazo, são projetados níveis de aumento da temperatura média global que não divergem nos vários cenários. A longo prazo, os níveis de risco são apresentados para dois cenários possíveis (o aumento da temperatura média global 2ºC e 4ºC acima dos níveis pré-industriais).

3.2. Os impactes em ilhas

A subida do nível médio das águas do mar é um fator de risco para inúmeras zonas costeiras. Existem milhares de ilhas em todo o mundo, e centenas que são estados independentes. As ilhas são um caso peculiar, visto que se encontram rodeadas pelo mar ou oceano. Algumas destas são bastante vulneráveis aos impactes das alterações

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climáticas, devido à sua localização geográfica, características morfológicas e/ou fatores económicos. As ilhas do Pacífico têm um especial interesse no âmbito das alterações climáticas visto que são bastante vulneráveis ao fenómeno do ―El Niño‖, que se verifica frequentemente nesta região do globo, com a correspondente intensificação de fenómenos extremos e aumento das vulnerabilidades destas ilhas.

As características morfológicas e o relevo das ilhas têm uma grande importância nos impactes a que estas serão sujeitas com as alterações climáticas. Algumas ilhas têm uma altitude máxima de apenas alguns metros, o que as torna bastante vulneráveis a inundações devido subida do nível médio das águas do mar. Adicionando ao fato de uma parte destas ilhas serem estados independentes, com elevadas taxas de pobreza e uma fraca capacidade de adaptação às alterações climáticas, torna-as ainda mais vulneráveis.

A Tabela 2 identifica algumas ilhas em que os impactes das alterações climáticas podem levar à submersão total ou parcial do seu território e consequente necessidade de relocalização da população.

Tabela 2: Exemplos de ilhas-estado suscetíveis de desaparecer parte ou totalidade do seu território devido à subida do nível das águas do mar.

*Dados de Banco Mundial, 2013.

Ilha(s) – Estado(s) Continentes População * Área aproximada

(km2)

Quiribati Oceânia 102 351 810

Tuvalu Oceânia 9 876 30

Ilhas Marshall Oceânia 52 634 180

Vanuatu Oceânia 252 763 12 190

Maldivas Ásia 345 023 300

Barbados América Central 284 644 430

Nesta tabela estão presentes ilhas localizadas em 3 continentes distintos, o que comprova que os efeitos das alterações climáticas são um efeito global. Estes são apenas alguns exemplos relevantes de ilhas em risco, contudo existem muitos mais a nível global.

3.2.1. Caso de Estudo: As ilhas Quiribati

A República de Quiribati localiza-se no Oceano Pacífico, a Nordeste da Austrália, é composta por 33 atóis de coral (21 são inabitados), subdivididos por 3 grupos de ilhas (Gilbert, Line e Phoenix). A capital Tarawa situa-se no grupo Gilbert. No seu conjunto,

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as ilhas Quiribati têm cerca de 811 km2 de área dispersos por 3,5 milhões de km2 e uma população de 102 351 habitantes.

Figura 9: a) Localização da República de Quiribati, b) Ampliação do mapa com a localização da República de Quiribati (Republic of Kiribati s.d.).

Os cerca de 800 km2 da área terrestre total das ilhas têm uma altitude relativa ao nível médio das águas do mar inferior a 1 m o que torna estas ilhas muito vulneráveis à subida do nível médio das águas dos oceanos.

Em 2010, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas produziu uma reportagem, que retrata o estado atual de Quiribati face às alterações climáticas. Nesta reportagem é descrita a história de Boobu Tioram (um residente local) que foi obrigado a relocalizar a sua habitação por três ocasiões, devido ao avanço do mar.

Algumas ilhas já se encontram totalmente ou parcialmente inundadas, o que já obrigou parte da população a deixar as suas casas para outras ilhas de Quiribati ou até para outros países. Por este fato, torna-se importante a existência de um conceito e um estatuto para os refugiados ambientais.

Em 1951 ocorreu em Genebra a Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados não sendo considerado o conceito de refugiado ambiental. Em 1985 o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) definiu o conceito de refugiado ambienta mas alguns autores consideram que este conceito ainda não é legal e que estes refugiados não estão abrangidos pelo Estatuto dos Refugiados da Convenção de Genebra.

Apesar destas questões políticas, já existem várias organizações internacionais e europeias de apoio a refugiados ambientais.

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O PNUMA define refugiados ambientais como as populações que foram obrigadas a abandonar temporária ou definitivamente a zona tradicional onde viviam devido ao visível declínio do ambiente, perturbando a sua existência e/ou a qualidade da mesma de tal maneira que a subsistência dessas pessoas entra em perigo. Podem-se considerar refugiados ambientais habitantes que não possam regressar ao seu país de origem devido ao seu desaparecimento parcial ou total (p.e. população de Quiribati) ou vítimas de eventos extremos climáticos que destruam ou danifiquem severamente a sua região.

Em Quiribati, o conceito de refugiado ambiental não é apenas um conceito é uma realidade. Em 2013 a EuroNews, publicou uma notícia sobre Ioane Teitiota um emigrante a residir na Nova Zelândia, natural de Quiribati, que foi notificado de que o seu visto teria expirado e teria que regressar ao seu país de origem. Este cidadão efetuou um pedido de asilo às autoridades Neozelandesas, justificando que os efeitos das alterações climáticas em Quiribati o impediam de regressar ao seu país de origem. Este pedido acabou por ser rejeitado, caso contrário Ioane Teitiota seria o primeiro refugiado ambiental do mundo (EuroNews, 2013).

O governo de Quiribati está ciente de que os refugiados ambientais são uma realidade na região e que os impactes das alterações climáticas já originam desalojados.

O Governo de Quiribati criou o Programa de Adaptação de Quiribati para o período 2003-2016 com o objetivo de mitigar os impactes das alterações climáticas, implementando medidas como: gestão de abastecimento de água, gestão de proteção costeira, proteção de infraestruturas públicas, fortalecimento de leis para reduzir a erosão costeira e planeamento de relocalização da população para reduzir os riscos pessoais (Republic of Kiribati s.d.).

A estratégia de deslocalização do Governo de Quiribati assenta em duas principais componentes:

 Devem ser criadas possibilidades para permitir a migração daqueles que desejam

fazê-lo agora e nos próximos anos para que no futuro isto contribua para

estabelecimento de comunidades de pessoas de Quiribati que serão capazes de apoiar um maior número de migrantes a longo prazo.

 Os níveis de educação capazes de ser obtidos em Quiribati devem ser aumentados para um nível semelhante aos da Austrália e Nova Zelândia, o que tornará os habitantes de Quiribati mais atraentes como migrantes para os países

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de acolhimento. O conceito de migração com dignidade é fundamental para que esta estratégia tenha sucesso e seja uma situação de “win-win” para Quiribati e para os países de acolhimento (Republic of Kiribati s.d.).

3.3. Os Impactes diferenciados na Europa

Segundo a Agência Europeia do Ambiente (EEA, 2004) as alterações climáticas observadas na europa durante o século passado, têm afetado glaciares, ecossistemas, sistemas sociais e económicos, a saúde humana e a agricultura. O IPCC identificou para o continente Europeu, inundações costeiras e fluviais, a degradação de recursos hídricos e o aumento da intensidade e frequência de fenómenos extremos como os principais impactes das alterações climáticas. Contudo, os impactes não serão sentidos de igual forma por todos os países.

Como já referido um dos sinais mais claros da alteração climática global é a temperatura média do ar, especialmente nas últimas décadas. As consequências do aumento das temperaturas são variadas: aumento do risco de inundações e secas, perdas de biodiversidade, degelo dos glaciares e novas ameaças para a saúde humana. O aumento de temperaturas pode também afetar setores económicos (silvicultura, agricultura, turismo e seguros). Diferentes setores podem ser afetados de diferentes formas nas várias regiões da Europa. Alguns setores podem até beneficiar com a melhoria de condições ambientais dependendo da sua localização (EEA, 2004).

A Figura 11 ilustra as variações das temperaturas médias no Verão, no Inverno e anuais, para o período entre 1850 e 1990, comparativamente à média do período entre 1960 e 1990. Nesta figura é observável uma tendência para um grande aumento das temperaturas médias nas últimas décadas. Conclui-se também que a temperatura média no Inverno foi a que sofreu variações mais acentuadas, contabilizando um aumento de ~1ºC entre 1850 e 1990. Este aspeto constitui uma diminuição da amplitude térmica, ou seja, as temperaturas no Inverno aumentam mais rapidamente do que as temperaturas no Verão, o que leva a uma aproximação entre as médias das temperaturas destas duas estações do ano.

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Figura 10: Observações anuais das variações da temperatura no Verão e Inverno na Europa comparativamente à média do período entre 1960-1990 (EEA, 2004 Ibid Jones e Morbeg,, 2003).

O aumento da temperatura média anual em anos especialmente quentes como o de 2003, e com as previsões a indicarem que a temperatura vai continuar a aumentar, os riscos de mais extensas e intensas ondas de calor é bastante real. Este cenário pode elevar substancialmente a taxa de mortalidade relacionada com este fenómeno, e ainda aumentar consideravelmente o risco de incêndio florestal por todo a europa, sendo que as autoridades de saúde e proteção civil deverão considerar políticas preventivas quanto a este fenómeno.

A Figura 12 apresenta a alteração da temperatura média anual na Europa em 2003, em relação à temperatura média entre 1961-1990. É bem visível a ampla extensão territorial em que o aumento da temperatura média anual atinge os 1,5ºC. Este comportamento que será idêntico ao de 2003 pode significar impactes ao nível da saúde, incêndios generalizados e impactes nos recursos hídricos.

Figura 11: Alteração da temperatura média anual na Europa em 2003, em relação à temperatura média entre 1961-1990 (°C) (EEA, 2004 Ibid Jones e Morbeg,, 2003).

Imagem

Figura 2: Total anual de emissões antropogénicas de gases com efeito de estufa (GEE) (giga toneladas de  equivalente de CO 2  por ano, Gt CO 2e  / ano) para o período 1970-2010
Figura 9: a) Localização da República de Quiribati, b) Ampliação do mapa com a localização da  República de Quiribati (Republic of Kiribati s.d.)
Figura 10: Observações anuais das variações da temperatura no Verão e Inverno na Europa  comparativamente à média do período entre 1960-1990 (EEA, 2004 Ibid Jones e Morbeg,, 2003)
Figura 12: Alterações de temperatura projetadas na Europa até 2080 em relação a temperatura média no  período entre 1961-1990 (IPCC, 2001 b)
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Referências

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