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O ser brincante: A Abordagem Triangular para o ensino do Coco de Zambê na educação básica.

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

AMANDA DE SOUZA NOGUEIRA

O SER BRINCANTE: A ABORDAGEM TRIANGULAR PARA O ENSINO DO COCO DE ZAMBÊ NA EDUCAÇÃO BÁSICA

NATAL/RN 2018

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AMANDA DE SOUZA NOGUEIRA

O SER BRINCANTE: A ABORDAGEM TRIANGULAR PARA O ENSINO DO COCO DE ZAMBÊ NA EDUCAÇÃO BÁSICA

O presente artigo apresenta o Trabalho de Conclusão de Curso que tem como objetivo compor a avaliação final do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, como requisito parcial para a obtenção do título de Licenciado em Dança.

Orientadora: Profª. Drª. Larissa Kelly de Oliveira Marques

NATAL/RN 2018

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Nogueira, Amanda de Souza.

O ser brincante : a abordagem triangular para o ensino do Coco de Zambê na educação básica / Amanda de Souza Nogueira. -2018.

31 f.: il.

TCC (licenciatura) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Licenciatura em Dança, Natal, 2018.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Larissa Kelly de Oliveira Marques.

1. Brincante. 2. Abordagem triangular. 3. Ensino. 4. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Programa Institucional Bolsas de Iniciação à Docência. 5. Dança. I. Marques, Larissa Kelly de Oliveira. II. Título.

RN/UF/BS-DEART CDU 793.31

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Departamento de Artes - DEART

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

FOLHA DE APROVAÇÃO

A apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “O SER BRINCANTE: A ABORDAGEM TRIANGULAR PARA O ENSINO DO COCO DE ZAMBÊ NA EDUCAÇÃO BÁSICA”, apresentado por Amanda de Souza Nogueira, contou com a participação da seguinte banca:

________________________________________________ Prof.ª Drª. Larissa Kelly de Oliveira Marques - UFRN

ORIENTADORA

________________________________________________ Prof.ª Drª. Karenine de Oliveira Porpino - UFRN

EXAMINADORA

________________________________________________ Prof. Ms. Sebastião de Sales Silva - IFRN

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‘‘Estou sendo a todo momento atravessado por imagens, pela brincadeira, pelas memórias de um sonho, por um imaginário que talvez não conheça de fato a sua dimensão e nem a sua profundidade.’’

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pois sou grata a ele por todas as maravilhas e oportunidades que ele me dá, creio que tudo é no tempo dele, e que nada acontece por acaso, nunca foi sorte, sempre foi Deus.

À minha mãe Zélia Miranda e ao meu pai José Nogueira, por sempre apoiarem minhas decisões e por sempre contribuírem na minha formação, me incentivando e acreditando no meu potencial. Por todo amor, carinho e cuidado comigo.

Aos meus irmãos, Aline Souza e Alef Souza, que com carinho demonstram todo o apoio para comigo.

Aos meus sobrinhos, Juliana Nogueira, Maria Luiza, Luís Otávio, que são os meus maiores tesouros. Apesar de fazerem bastante barulho em casa e, às vezes, atrapalharem na hora em que estava escrevendo o TCC, os sorrisos deles eram minha força para continuar.

Ao meu companheiro e amigo Lucas Diego, que está ao meu lado em todos os momentos, que me apoia e me aconselha. Sempre com muito carinho e amor me motiva a ir além.

À minha orientadora maravilhosa, Larissa Marques, que nesse processo de escrita sempre esteve presente, com muita atenção e carinho, me ajudando, me incentivando e me orientando sempre com muita delicadeza e amor.

À banca examinadora, Karenine Porpino e Sebastião Sales, pelas contribuições e disponibilidade. Minha admiração e gratidão por tudo que aprendi com vocês no PIBID e sobre o ser brincante.

Aos meus professores de dança, do ensino médio e da graduação, pela contribuição com a minha formação e pelo incentivo ao meu crescimento pessoal e profissional.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo espaço de crescimento e formação.

À Turma de 2015.1, em especial às amigas federais: Aline dos Anjos, Francine Gomes, Marina Silva, Andressa Carla, Ravênia Lopes, Ana Raquel, Ana Cláudia, por todo companheirismo, trabalhos, composições, choros, alegrias e união. Que nossa amizade dure para sempre, que o amor seja sempre nossa base. Amo vocês!

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Ao PIBID, pela oportunidade de me inserir no contexto da escola de ensino básico, à coordenadora Karenine Porpino e a professora de Artes Rosane Dantas, por todo carinho e ensinamentos e por serem a base de minha pesquisa. À Escola Ivanira Vasconcelos Paisinho, por dar abertura para o desenvolvimento da pesquisa.

Ao projeto Trilhas Potiguares e ao grupo Beleza Negra por me permitirem compartilhar momentos brincantes.

Enfim, a todos que de certa forma contribuíram, que me apoiaram e que, carinhosamente, estiveram presentes em minha constante formação acadêmica, artística e pessoal.

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O SER BRINCANTE: A ABORDAGEM TRIANGULAR PARA O ENSINO DO COCO DE ZAMBÊ NA EDUCAÇÃO BÁSICA

NOGUEIRA, Amanda de Souza. RESUMO: O trabalho discutiu sobre o ser brincante em uma experiência com alunos da educação básica, desenvolvida no subprojeto PIBID/Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no contexto da Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho, situada em Parnamirim/RN, sob a supervisão da professora de Artes Rosane Dantas. A metodologia do estudo é de abordagem qualitativa, de natureza descritiva sob o viés do relato de experiência em que discute o ser brincante no ensino básico. Na escola, o trabalho deu-se por meio do ensino da dança coco de zambê, com base nos recursos metodológicos da abordagem triangular de Ana Mae Barbosa (2012) e a dança no contexto, preconizado por Marques (2010), que traz o referencial da abordagem triangular para o contexto do ensino da dança. Como avaliação do trabalho realizado, observa-se uma significativa aproximação dos alunos com o contexto cultural norte-rio-grandense, no qual estão situados, mas cujas manifestações populares nem sempre são conhecidas, em virtude da precariedade das políticas públicas para manutenção e circulação dessas manifestações. Conclui-se que esse tipo de proposta amplia o acesso à produção artística no contexto da escola e contribui para a formação de público para a dança, uma vez que o alunado e a comunidade em geral ainda usufruem muito pouco das produções artísticas locais. Reconhecemos que o estudo e a vivência do coco permitiram aos educandos a percepção do brincante como figura que expressa a brincadeira, que traz para ela emoções, sensações e criações, que transmite para o externo, com a celebração da sua corporeidade, a essência da cultura, da sua religiosidade, estética, energia, paixão.

Palavras-chave: BRINCANTE. ABORDAGEM TRIANGULAR. ENSINO. PIBID DANÇA.

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THE BEING PLAYER: THE TRIANGULAR APPROACH FOR COCONUT DANCE OF ZAMBÊ TEACHING IN BASIC EDUCATION

NOGUEIRA, Amanda de Souza. ABSTRACT: The work discussed the experience of students of basic education, developed in the PIBID / Dance subproject of the Federal University of Rio Grande do Norte, in the context of the Municipal School Ivanira Vasconcelos Paisinho, located in Parnamirim / RN, under the supervision of the art teacher Rosane Dantas. The methodology of the study is a qualitative approach, of a descriptive nature under the bias of the experience report in which it discusses the gibbering in elementary education. At school, the work was done through the teaching of the coconut dance of zambê, based on the methodological resources of the triangular approach of Ana Mae Barbosa (2012) and the dance in the context, advocated by Marques (2010), which brings the referential of the triangular approach to the context of dance teaching. As an evaluation of the work carried out, there is a significant approximation of students with the North-Rio-Grandense cultural context in which they are situated, but whose popular manifestations are not always known, due to the precariousness of public policies for the maintenance and circulation of these manifestations. It is concluded that this type of proposal broadens the access to artistic production in the context of the school and contributes to the formation of the public for the dance, since the pupil and the community in general still enjoy very little of the local artistic productions. We recognize that the study and the experience of the coconut allowed the students to perceive the player as a figure that expresses the play, which brings to it emotions, sensations and creations, which transmits to the external, with the celebration of its corporeity, the essence of culture, of their religiosity, aesthetics, energy, passion.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1: Ouvindo o Mestre Geraldo falar sobre a história do Coco de Zambê. Foto tirada no dia da aula de campo da turma de Práticas Educativas em Dança Popular (ART0302). Fonte: Arquivo pessoal (2016)...13 Imagem 2: Fogueira para aquecer e afinar o tambor, foto tirada no dia da aula de campo da turma de Práticas Educativas em Dança Popular (ART0302). Fonte: Arquivo pessoal (2016)...15 Imagem 3: Oficina de empoderamento negro com o grupo Beleza Negra, dançando Coco de Zambê em Patu/RN. Fonte: Arquivo pessoal (2017)...19 Imagem 4: Imagem 4 – Triângulo da Abordagem Triangular. Fonte: MARQUES, 2010, p. 148...21 Imagem 5 – Triângulo do Tripé das Relações. Fonte: MARQUES, 2010, p. 145...22 Imagem 6: Momento de praticar na aula sobre o Coco de Zambê, Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN. Fonte: Arquivo Pessoal (2016)...23 Imagem 7: Momento de refletir na aula sobre o Coco de Zambê, Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN. Fonte: Arquivo Pessoal (2016)...23 Imagem 8: Momento de contemplar na aula sobre o Coco de Zambê, Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN. Fonte: Arquivo Pessoal (2016)...24 Imagem 9: Apresentação do Coco de Zambê, na mostra cultural da Escola Municipal Ivanira V. Paisinho em Parnamirim/RN Fonte: Arquivo Pessoal (2016)...27 Imagem 10: Apresentação do Coco de Zambê, na mostra cultural da Escola Municipal Ivanira V. Paisinho em Parnamirim/RN Fonte: Arquivo Pessoal (2016)...27

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...11

ZAMBÊ, A DANÇA DO COCO PULSANTE...13

O SER BRINCANTE DO COCO DE ZAMBÊ...17

PIBID/DANÇA: A ABORDAGEM TRIANGULAR PARA O ENSINO DO COCO DE ZAMBÊ...20

CONSIDERAÇÕES FINAIS...28

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11 INTRODUÇÃO

O trabalho versou sobre as possibilidades do ser brincante da dança popular Coco de Zambê, pesquisando o que é esse corpo brincante, o que o define e como ele brinca. Focou também em uma discussão acerca desse conteúdo na escola a partir da proposta triangular (BARBOSA, 2012) que integra o fazer/fruir/contextualizar da citada dança.

O estudo parte das experiências vividas no subprojeto PIBID/Dança que integra o Projeto PIBID da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e do Departamento de Artes (DEART), sendo um programa do Ministério da Educação, gerenciado pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Em tal subprojeto a pesquisa teve por objetivos discutir a figura do ser brincante na escola de ensino básico da rede pública e descrever uma possibilidade de vivência do Coco de Zambê, pautada na Abordagem Triangular.

O subprojeto foi desenvolvido na Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho, localizada em Parnamirim/RN, no segundo semestre do ano de 2016, sob a supervisão da professora de Arte Rosane Dantas1 e coordenação da professora

doutora Karenine Porpino2, nas turmas de 4º (quarto) e 5º (quinto) anos do ensino

fundamental I.

Baseado no planejamento anual da professora de Arte, que contemplou no segundo semestre o conteúdo do ensino das danças populares, o Coco deZambê foi o folguedo popular escolhido pelos bolsistas3 para se trabalhar. Uma vez que este

ritmo foi vivenciado por eles no curso de Licenciatura em Dança. O Coco de Zambê

1 Graduada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2008) e Especialista

em Arteterapia e Educação do Ser (2012). Atualmente é professora da Secretaria Municipal de Natal, onde leciona a disciplina de Arte-Dança.

2 Graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1989),

Especialização em Dança-Educação Física pela UNIFEC (1992), mestrado em Educação (1996) e doutorado em Educação pela UFRN (2001). Atualmente é professora associada do Departamento de Artes da UFRN, onde atua no Curso de Licenciatura em Dança. Coordena o Grupo de pesquisa em Corpo, Dança e Processos de Criação - CIRANDAR e participa do Estesia - Grupo de Pesquisa em Corpo, Fenomenologia e Movimento. Atua nos Programas de Pós-graduação em Educação e em Artes Cênicas, ambos na UFRN. Tem experiência no campo da dança como artista e professora, desenvolve projetos de pesquisa e extensão no campo das relações entre corpo, estética, dança e educação.

3 O subprojeto PIBID/Dança (ano 2016), na ocasião, era formado por uma equipe de 15 bolsistas do

curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Duas escolas eram conveniadas, das quais uma foi escolhida para a referida pesquisa, na qual atuaram 4 bolsistas.

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12 é uma dança de uma parte da região litorânea do Rio Grande do Norte, hoje conhecida como Tibau do Sul/RN, caracterizada por:

Homens dançando sem camisas, usando bermudas brancas até o joelho e rodopiando com grande agilidade e expressividade. Corpos negros, fortes, delgados, sensuais, delineados e brilhantes. Tocavam um tambor semelhante a um pedaço de tronco de coqueiro, uma lata tipo de manteiga com capacidade em torno de dezoito litros e cantavam músicas que falavam sobre a vida em sua comunidade. Seus movimentos dançantes eram graciosos, criativos, firmes e precisos em sua concretude. O pulsar dos tambores, as músicas, a criatividade dos dançarinos ou brincantes e a apreciação do público apresentavam-se numa grande sintonia. (ALVES, 2000, p.1).

O pesquisador Antônio Nóbrega, em seu documentário, destaca:

O coco de zambê é uma dança bem distinta das outras modalidades de coco nordestinas. É conhecido também por zambê-do-pau-furado. Sua presença em Tibau do Sul, Rio Grande do Norte, deve-se à provável existência, em passado remoto, de um quilombo na região. O próprio nome 'zambê', ao que tudo indica, é uma corruptela de 'Zumbi'. Na dança, os tambores são reverenciados como deuses que conduzem os brincantes - por vezes, ao êxtase. (NOBREGA, 2008, Documentário parte 1/3).

Os bolsistas de iniciação à docência do PIBID/Dança desenvolveram um planejamento para abordagem do tema em questão, no intuito de fazer com que os alunos pudessem praticar, contemplar e refletir sobre o Coco de Zambê e, sendo assim, tivessem a oportunidade de serem brincantes da supracitada dança.

O trabalho foi baseado em referências como Ana Mae Barbosa (2012), com a Abordagem Triangular (que não se caracteriza como uma metodologia, mas um caminho para o docente desenvolver sua prática metodológica fomentada no triângulo4), e a Dança no Contexto de Isabel Marques, que se utiliza da abordagem

triangular para desenvolver o triângulo Arte, Ensino e Sociedade.

A metodologia do estudo é de abordagem qualitativa, de natureza descritiva, sob o viés do relato de experiência, onde se discute o ser brincante no ensino básico.

É preciso esclarecer, antes de mais nada, que as chamadas metodologias qualitativas privilegiam, de modo geral, da análise de micro processos, através do estudo das ações sociais individuais e grupais. Realizando um exame intensivo dos dados, tanto em amplitude quanto em profundidade, os métodos qualitativos tratam as unidades sociais

4 O Triângulo da Abordagem Triangular de Ana Mae Barbosa (2012), que contempla o fazer, o

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13 investigadas como totalidades que desafiam o pesquisador (MARTINS, 2004, p. 292).

A metodologia qualitativa é a que mais levanta questões éticas, devido à proximidade entre pesquisador e pesquisados. Foi perceptível, pois, no trabalho, essa aproximação entre a pesquisadora e o objeto de estudo, que se deu por meio de um processo de vivências e aulas expositivas dialogadas, no subprojeto PIBID/Dança, na Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho, localizada em Parnamirim/RN.

ZAMBÊ, A DANÇA DO COCO PULSANTE

O meu primeiro contato com o Coco de Zambê aconteceu em uma vivência de uma aula de campo na disciplina de Práticas Educativas em Dança Popular, componente obrigatório na grade curricular do Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ministrado no ano de 2016 pela docente Teodora Alves5. Tive o privilégio de poder adentrar no lar do Mestre Geraldo6

e ouvir sobre a história do Zambê, a dança do coco pulsante.

Imagem 1 - Ouvindo o Mestre Geraldo falar sobre a história do Coco de Zambê. Foto tirada no dia da aula de campo da turma de Práticas Educativas em Dança Popular (ART0302)

Fonte: Arquivo pessoal (2016)

5 É docente, diretora artística, pesquisadora e gestora na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Presidiu a Comissão de Criação do Curso de Licenciatura em Dança da UFRN em 2009, onde atua como docente. É Diretora do Núcleo de Arte e Cultura da UFRN desde 2008 e foi Coordenadora de ações culturais, museológicas e de memória da PROEX/UFRN (2015-2017). Possui Graduação em Educação Física e Mestrado e Doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na linha de pesquisa Corporeidade e Educação. Atua no Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFRN, ministrando componentes curriculares, desenvolvendo pesquisas e orientações em Dança, Teatro, corpo, corporeidade, cultura e educação.

6 Mestre Geraldo Cosme, nascido em Tibau do Sul/RN. Grande nome na cultura popular do Rio grande

do Norte, figura responsável por revitalizar as brincadeiras que estavam se perdendo na região litorânea de Tibau do sul. Pescador, carpinteiro e mestre do Coco de Zambê de Tibau de Sul/RN. É ele quem ensina e preserva os saberes dessa dança.

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14 Coco de Zambê é uma dança cuja origem é creditada aos antigos escravos que habitavam a região litorânea do Rio Grande do Norte, hoje conhecida como Tibau do Sul/RN. Hodiernamente, o Coco de Zambê continua sendo dançado pelos moradores da referida região, que mantêm viva a tradição da brincadeira realizada apenas por homens. O folguedo se organiza no formato de roda e a dança se caracteriza por movimentos livres, de improvisação, que são acompanhados por instrumentos de percussão produzidos pelos próprios brincantes. Os tambores são reverenciados como deuses que conduzem a brincadeira (SOUZA et al., 2017, p. 42).

Só de começar a escrever, já consigo ouvir a batida do Zambê que ainda ecoa dentro de mim, que reverbera a sensação pulsante que esse ritmo me provoca, basta fechar os olhos que as memórias me levam para Tibau do Sul/RN, região litorânea do Rio Grande do Norte, diretamente para o chão de terra batida, sobre o qual se acredita, como já supracitado, que os antigos escravos, que ali habitavam, deram origem a dança do Coco de Zambê.

Atualmente, o Coco de Zambê é coordenado pelo mestre Geraldo, que manteve pulsante a batida e a dança. Ele que aprendeu a dançar observando os mais antigos, e, hoje, juntamente com seus familiares, esquentam a chama do zambê no coração da sua comunidade, para que essa pulsação nunca cesse. Assim é descrito o Coco de Zambê:

Algumas de suas principais características são o ritmo afro-brasileiro, a forte expressividade e a criatividade de cada participante. Quem entra na Roda do Coco deve se expressar ao seu modo, desde que siga o ritmo do Zambê. Outra característica marcante é o ritual de aquecimento do instrumento Zambê, ou seja, a armação de uma fogueira e a ação de esquentar o couro do tambor, também conhecido como pau-furado, esculpido em troncos de cajarana para que dele se obtenha pressão e se produza um som com qualidade. A partir daí, inicia-se o momento de celebração, no qual outras pessoas da comunidade ora assistem, ora dançam. (ALVES, 2000, p. 2).

O nome Coco de Zambê tem relação com o tronco da árvore da qual é retirada a madeira para confecção dos instrumentos da dança, os quais são produzidos pelos próprios brincantes. Os instrumentos possuem grande importância, basta se verificar que os tambores são reverenciados como deuses que conduzem a brincadeira.

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15 Imagem 2 - Fogueira para aquecer e afinar o tambor, foto tirada no dia da aula de campo da

turma de Práticas Educativas em Dança Popular (ART0302)

Fonte: Arquivo pessoal (2016)

O Coco de Zambê é uma manifestação que vem dos antigos batuques africanos, trazendo significativos aspectos de ancestralidade, embora se afirme que não existe um envolvimento direto com a evocação de orixás, pois consideram o Zambê (instrumento) como sendo a própria divindade.

A reverência ao tambor-Zambê, no momento em que cada brincante entra na roda da dança, significa a adoração não apenas a um instrumento percussivo que produz som para a execução da dança, mas, sobretudo, a adoração a um elemento de relação com o divino (ALVES, 2006, p. 150).

Uma das características marcantes da cultura africana é a sua relação sagrada comseus ancestrais, cuja dimensão religiosa revela aspectos referentes ao culto de antepassados comuns a cada comunidade, a cada família, a cada ser. Tal peculiaridade torna-se notória nos valores, gestos, cânticos e danças etc. Podemos assim entender que ''o diálogo corpo-religiosidade, na perspectiva africana, nos permite refletir sobre o corpo como realidade sagrada, lúdica e resistente'' (ALVES, 2006, p.147).

Porém, na fala do Mestre Geraldo, podemos observar que o mesmo não compreende essa ligação que o Coco de Zambê tem com as influências de origem afro-brasileira. Segundo ele, o Coco de Zambê é nordestino e ainda acrescenta que a dança não é frevo, nem capoeira. Revela também que, ao entrar na roda, o brincante é quem cria seu movimento, improvisando a partir do que sentir com a música.

Mas basta ficar de fora da brincadeira, se colocando no lugar de apreciador, que se torna perceptível a influência africana, seja nos gestos, nos cânticos, nas danças e nos corpos brincantes. Para uma compreensão maior do assunto em xeque, vamos mergulhar um pouco nas características do Coco de Zambê.

Segundo Alves (2006), cada brincante, na roda do Zambê, ocupa uma função de acordo com sua habilidade: tocar o instrumento, participar do coro, ser dançarino

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16 ou ser o mestre. Vale destacar que no Coco de Zambê tudo acontece de forma espontânea, numa recíproca relação com o outro.

Assim, os brincantes do coco convocam a comunidade para brincar junto, e não simplesmente para assisti-los. A roda não é apenas para o grupo de brincantes e sim para todos, pois a brincadeira faz parte da cultura daquele povo. Assistir se torna estar ali, dançando junto, sentindo a vibração e a energia que ecoa dos tambores, provocando em cada pessoa um sorriso e a alegria de ser Coco de Zambê, pois, de certo modo, na brincadeira todos se transformam em brincantes.

O Coco de Zambê é uma dança dançada por homens, mas não há proibição para que mulheres entrem na roda. No entanto, para dançar no grupo de dança do mestre Geraldo, que leva para os palcos a dança popular, apenas os homens integram o grupo. Caso a roda aconteça no quintal de sua casa e tiverem mulheres que desejem entrar, o mestre libera a participação.

Os brincantes dançam com vestimentas brancas (geralmente sem camisas e de bermuda). Não se sabe ao certo se isso tem associação com o fato de que, na tradição africana, os negros utilizavam, no tempo da escravidão, o algodão para confeccionar suas roupas (desta maneira, ao usar roupas de algodão, facilitava-se a absorção do suor). Pode-se pensar também que o uso da cor branca possa representar uma ligação direta com o divino, marca das tradições africanas. Uma vez que seu Geraldo não compreende tal influência, não podemos afirmar que o grupo se utilize dessa tradição. De todo modo, percebemos aqui um forte elemento de ligação do Coco de Zambê com as matrizes africanas.

No Coco de Zambê, a dança conta com a criatividade e o improviso dos brincantes e não com frases de movimentos codificados, afinal de contas os passos dançados não possuem nomes definidos. Entende-se que cada brincante contém sua forma de dançar e de se expressar dentro da roda, que por vezes leva ao êxtase. A música que vem do tambor, da voz do mestre e das latas são os elementos que influenciam a movimentação do dançarino dentro da roda. Podemos identificar:

Movimentos de giros, agachamentos, flexões de braços e pernas e contorções, os mesmos são executados de forma improvisada, cada brincante compõe a sua dança a partir de características comuns à resposta dos corpos ao batuque dos tambores. (SOUZA et al., 2017, p. 42).

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17 E assim é o Coco de Zambê, uma dança que transmite liberdade e uma energia que te atrai para roda. É difícil ouvir o batuque eficar de braços cruzados, sem querer participar. Quem está fora da roda, entra. Quem entra não quer sair. Esse é o Coco de Zambê, o pulsante coco que te torna brincante.

O SER BRINCANTE DO COCO DE ZAMBÊ

Conforme mencionado anteriormente, o Coco de Zambê é um ritmo pulsante. Vamos embarcar um pouco mais a fundo nessa pulsação, onde encontraremos a figura do ser brincante, que foi muito importante para o desenvolver desse estudo.

Foi no curso de Licenciatura em Dança, na disciplina de Práticas Educativas em Dança Popular, que eu encontrei esse ser brincante e descobri que o tinha adormecido em meu corpo. Contudo, bastou ouvir a batida que veio dotambor, para que de fato despertasse em mim o desejo de brincar, de dançar, de me entregar a esse lugar de essência brincante.

Mas o que seria esse ser brincante? Primeiramente, eu fui ao dicionário buscar o significado dessa palavra. Lá descobri que brincante é:

Que brinca (ex.: as crianças são seres brincantes).

Pessoa que brinca (ex.: quanto maior o número de brincantes, melhor a brincadeira).

Participante de brincadeiras, folias tradicionais, folclóricas ou populares (ex.: um grupo de brincantes desfilava pelas ruas da cidade). (PRIBERAM, 2018)

É notório que brincante é aquele que brinca, mas será que é apenas isso? Ou tem algo mais? Afinal, que corpos são esses que brincam? Que dança brincante é essa? O que nos conduz a querer dançar, brincar, ainda que cansados? E todos podem ser brincantes? Todos, em especial no Coco de Zambê?

Trago a reflexão da autora Manhães(2010), a qual destaca que o brincante da dança popular ‘‘é um corpo que se movimenta a partir de uma pulsação, com um ritmo e melodia sustentados por uma história’’. Trazendo ainda uma reflexão sobre esse corpo das manifestações populares que brincam, ela diz:

O corpo brincante se move na espontaneidade da brincadeira, embalado pelos sons de tambores e canções que pontuam as pulsações dos movimentos. Esse corpo brincante é movido por forças de variadas matrizes, são estímulos externos religiosos, ancestrais, formas determinadas pelos

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18 mestres ou estímulos internos, impulsos que trazem o movimento individual movido pelas forças motrizes. Este corpo brincante é a junção do lugar da memória, do ritual e da brincadeira dentro da movimentação. (MANHÃES, 2010, p.04).

Pude perceber que, nas danças populares, o brincante é a figura que expressa a brincadeira, trazendo para ela emoções, sensações e criações, que transmite para o externo, com a celebração da sua corporeidade7, a essência da cultura, da

religiosidade, estética, energia, paixão.

Os brincantes são aqueles que brincam, se divertem, são aqueles que têm o compromisso de “segurar e sustentar” a brincadeira ano a ano, são os integrantes dessa irmandade coletiva, são indivíduos que participam criativamente da sua atuação, fazendo da encenação uma brincadeira popular, em que a comunicação com o público é fundamental para firmar uma rede de comunicação; ou simplesmente, essa plateia se mistura a essa manifestação, se unificando corporalmente àquela situação, àquela performance. (MANHÃES, 2010, p. 01-02).

Trago ainda um breve relato para respaldar o meu estudo. Trata-se de uma experiência brincante que aconteceu no projeto Trilhas Potiguares 2017/2018, na qual tive a oportunidade de trabalhar o Coco de Zambê com o grupo Beleza Negra8, da

comunidade quilombola de Jatobá, localizada em Patu/RN.

Durante uma semana pude transmitir a eles o ser brincante do Coco de Zambê. Foi uma emoção ver aqueles corpos negros dançando algo que nunca tinham visto, mas que parecia ser tão próprio deles. Foi magnífico e vibrante ver aqueles corpos brincando.

7 A corporeidade é uma terminologia filosófica sobre o estudo de como o cérebro reconhece e utiliza o

corpo como instrumento de relação com o mundo. Unida a dança, a corporeidade confere ao indivíduo a oportunidade de controlar seu corpo, sua mente, aprimorar suas habilidades e, dessa forma, interagir com o mundo.

8O grupo Beleza Negra foi criado no ano de 2005/2006 a partir de questionamentos de visitantes sobre

a comunidade ainda não ter um grupo de dança que representasse a cultura daquele local. O grupo é coordenado por Sandra e hoje traz em sua dança a montagem brincante da louvação a São Benedito.

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19 Imagem 3: Oficina de empoderamento negro com o grupo Beleza Negra, dançando Coco de

Zambê em Patu/RN.

Fonte: Arquivo pessoal (2017)

Trago o depoimento de um integrante do Beleza Negra para demonstrar o que foi vivenciado durante esse período:

A dança para mim se resume em arte, a arte de se divertir, de emocionar, de conquistar. Ao dançar o Coco de Zambê despertou o meu ser brincante, há pessoas que dançam por obrigação, para passar tempo, mas, não sou assim, ao dançar penso estar brincando com meus amigos, uma maneira de tirar de dentro de mim todas as coisas ruins e ver que a vida é curta para viver chateado, com raiva e infeliz. Desde pequena aprendi a dançar com o coração e saborear cada palavra que a dança nos traz.

Sandra da Silva, líder da comunidade de Jatobá (BELEZA NEGRA).

A partir desse depoimento, é possível compreender nesse estudo que ser brincante é passar por uma transformação. Ora somos aquele que trabalha, estuda, que é filho ou filha, marido ou esposa, dono ou dona de casa e ora, na brincadeira, somos transformados em brincantes, que entra na roda movido por uma alegria, uma vontade de celebrar em que todos "vão dançando uns com os outros e aos poucos se transformando, caem no mundo da brincadeira e são levados para outro estado tempo.'' (SILVA, 2017).

Essa essência que pulsa a batida do tambor nos dá a impressão de que não há tristeza, mas sim que há entusiasmo, há exaltação da vida, do estar junto. O sorriso torna-se inevitável nesse corpo que é:

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20 Brincante, por sua vez, contempla a vida, a morte, a terra, os astros, os humanos, os animais, as plantas etc. Nele, a carne (a matéria de forma mais ampla) possui uma força fecunda e regeneradora e é sempre uma carne incompleta, eternamente criada, recriada e criadora. O corpo é, desse modo, um elemento multiforme: físico e particular, com seus gestos, suores, danças, sonoridades ímpares; coletivo, das tradições populares, carregado de histórias, festejos, com partilhas, seres imaginários; e, também, sensível, espiritual, com rastros vivos de memórias, emoções etc. (MOREIRA, 2015, p.128).

Nessa energia brincante, escrevi o poema “Brincante”, o qual revela o quanto essa brincadeira mexe comigo e com quem brinca, tornando-nos seres brincantes.

BRINCANTE

Eu te olhei, Você sorriu,

Que brincadeira deliciosa de dançar, Tambor,

Pulsa, Diálogo corporal,

UMBIGADA Movimentos fortes,

É frevo, é capoeira, Não, é COCO! É Coco de Zambê,

Dança,

Envolve-se na brincadeira, No sorriso que insiste em virar risada, Riso, Riso alto, Riso gostoso, Riso exagerado,

Ahhh! Mas, Já acabou! Mais uma música!

Mais um coco, mais um se tornar BRINCANTE!

Amanda Nogueira

PIBID/DANÇA: A ABORDAGEM TRIANGULAR PARA O ENSINO DO COCO DE ZAMBÊ

Trazer essa discussão do ser brincante para o ensino básico vai além da prática metodológica que se restringe apenas a ensinar passos. Diz respeito a impactar diretamente a maneira como o aluno pode refletir, praticar e contemplar a dança popular, e então compreendê-la como herança cultural, tornando-se um ser brincante da sua história.

E o PIBID, como sendo um programa de iniciação à docência, permitiu às discentes do Curso de Licenciatura em Dança Amanda Souza, Barbara Alexandre,

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21 Maieça Mendes e Dayse Soares serem inseridas no cotidiano escolar darede pública, no qual planejaram e participaram de experiências metodológicas e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar, que buscaram a superação de problemas pedagógicos identificados no processo de ensino-aprendizagem.

Como já fora citado, o estudo aconteceu na Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho, sob a supervisão da professora de Arte Rosane Dantas e a coordenação da Professora Doutora Karenine Porpino, nas turmas de quarto e quinto anos do ensino fundamental I.

Para o desenvolvimento metodológico do ensino do coco de Zambê, as bolsistas se utilizaram, como referência central, dos estudos de Ana Mae Barbosa (2012), por se identificarem com os conceitos escritos e revistos pela mesma. A autora defende um ensino de artes baseado em experimentar, codificar e informar. Por isso, ela cria a abordagem triangular, que não é um método, mas sim um mapa, que traz um norte para os docentes de como fazer o seu aluno compreender, ler e fazer arte. Destaco que:

A Abordagem triangular não serve para quem quer um manual, nem tem caráter prescritivo. Requer o espírito livre, a disciplina investigativa e a disposição corajosa para perceber o que se anuncia ao longo dos passos no caminho, o que o mapa não mostra e a bússola não define: as escolhas e a intenção do viajante. (MACHADO, 2010, p. 69).

Nesse sentido, compreende-se que a Abordagem Triangular não estabelece um método a ser seguido ao pé da letra. Na verdade, desenha um cenário de conhecimentos inter-relacionados, um campo no qual a aprendizagem e o ensino podem ocorrer.

Imagem 4 – Triângulo da Abordagem Triangular FAZER

APRECIAR CONTEXTUALIZAR

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22 Também se inseriu, dentro da base metodológica, o triângulo de Isabel Marques, preconizado na dança do contexto. Segundo Marques (2010): “Esse tripé se desdobra em outros múltiplos tripés de saberes, possibilitando dialogias, polissemias e polifonias nas práticas de ensino e aprendizagem da dança.”

Imagem 5 – Triângulo do Tripé das Relações ARTE

ENSINO SOCIEDADE

Fonte: MARQUES, 2010, p. 145

Observamos nessa triangulação que os saberes da dança, a serem trabalhados em sala de aula, necessariamente estão atrelados ao cotidiano do aluno, pois estão ligados às suas corporeidades, colocando em prática a pedagogia do sentido de Paulo Freire. Defendo a importância de se trabalhar o coletivo, o conhecimento, o íntimo do aluno.

A proposta metodológica da dança no contexto permite e enfatiza a construção de redes de relações, de tessituras múltiplas e abertas entre os saberes específicos da dança (vértice da arte) e as relações desses saberes com os atores sociais (vértice do ensino) que vivem no mundo e com ele dialogam (vértices da sociedade). (MARQUES, 2010 p.145).

A partir desse estudo, desenvolvemos a ação metodológica para o ensino do Coco de Zambê através do praticar o coco, refleti-lo e contempla-lo. Por meio desta metodologia, os alunos puderam encontrar o brincante adormecido, que foi acordado ao som da dança em xeque.

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23 Imagem 6 – Momento de praticar na aula sobre o Coco de Zambê, Escola Municipal Ivanira

Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN

Fonte: Arquivo Pessoal (2016)

Imagem 7 – Momento de refletir na aula sobre o Coco de Zambê, Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN

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24 Imagem 8 - Momento de contemplar na aula sobre o Coco de Zambê, Escola Municipal

Ivanira Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN

Fonte: Arquivo Pessoal (2016)

O Coco de Zambê foi desenvolvido durante todo o mês de agosto no ano de 2016, num período de quatro aulas. Uma foi de cunho teórico, na qual refletimos sobre o contexto histórico e social da referida dança, contemplando também a vértice sociedade do triângulo de Marques (2010), com ênfase na relação com questões sociais contemporâneas.

Trabalhar com a dança popular na escola é um desafio, principalmente quando se aborda as danças afro-brasileiras, as quais tem como instrumentos os tambores. Os alunos carregam a crença de que tambor está associado com “fazer macumba”, pois a sociedade ou a família, por vezes cercada de preconceitos e repleta de estereótipos, transmitem para as crianças a ideia de que dançar ao som do tambor significa cultuar deuses que fazem mal às pessoas.

Porém, temos que ensinar os nossos alunos a compreenderem, dialogarem e participarem de forma ativa no mundo em que vivem, sem preconceitos e abertos a novas aprendizagens. Fazê-los, pois, entender que a disciplina de Arte, linguagem Dança, tem como objetivo ensinar a estética do movimento e não a sua religiosidade, que praticar, conhecer e refletir sobre as danças populares é importante para sua

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25 formação e para as relações que o educando tece com o universo circundante, com a sua identidade cultural.

Fazendo, criando, apreciando e contextualizando dança é que as questões sociais são abordadas e não separadamente da arte; é a partir do conhecimento específico de dança que os alunos podem perceber a imensa rede de relações que existe entre os indivíduos e o mundo (MARQUES, 2010, p. 60).

Dessa maneira, entendemos a brincadeira como um caminho para a criança se apropriar de regras e dos valores sociais, efetuando transformações fundamentais para seu desenvolvimento, trazendo o conteúdo de ser brincante para o ensino da dança popular e compreendendo que a brincadeira é a escola da vida para a criança, como forma de viver no mundo.

Nessa perspectiva, foram realizadas aulas práticas no sentido de praticar o Coco de Zambê que tinha a seguinte organização:

1° Momento: Iniciava com um breve aquecimento das articulações.

2° Momento: Construíamos uma roda com o objetivo de despertar a experimentação da dança do Coco de Zambê nos corpos dos alunos.

3° Momento: Eram colocadas músicas do grupo do Mestre Geraldo, para que cada aluno entrasse na roda, e através desse estímulo sonoro poder fazer novas descobertas de movimentações a partir das sensações que a batida provocava.

4° Momento: Relaxamento e momento de conversa sobre as descobertas e sensações dos alunos em relação a vivência. A aula unia cada vez mais os estudantes, fazendo com quehouvesse assim uma interação social entre eles.

No contemplar o Coco de Zambê, selecionamos os vídeos do documentário da série Danças Brasileiras de Antônio Nóbrega (2015). Neles foram expostas informações essenciais para compreender a história e a dança do Coco de Zambê. Os alunos puderam apreciar os brincantes, puderam, ainda, contemplar as suas movimentações e ouvir a voz do Mestre Geraldo, falando com muita simplicidade sobre esse Coco que ele aprendeu vendo os mais velhos brincarem. Ao fim do processo das aulas, o alunado compôs uma pequena partitura coreográfica para mostra cultural da escola.

A Abordagem Triangular somada a Dança no Contexto foram fundamentais para que os alunos tivessem a experiência brincante, percebendo que o refletir, o

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26 praticar e o contemplar9 não estão dissociados, uma vez que juntos eles trazem uma

outra visão para os estudantes, despertando neles o ser brincante.

Foram perceptíveis a disponibilidade e o interesse das crianças para a dança em evidência, por se tratar de um estilo sem códigos pré-definidos e de um ritmo pulsante. Ainda que desconhecessem a origem das matrizes africanas, houve identificação de imediato. Isso se deu por semelhança entre o Zambê e as danças da contemporaneidade, no que dizrespeito a exigir do brincante emprego de energia nos movimentos. Aquelas crianças, que antes eram apenas alunos, transformaram-se em brincantes.

Outros pontos podem ser destacados nos depoimentos dos alunos mostrados a seguir:

"Foi divertido, fiz parcerias e aprendi coisas que eu nem sabia, dancei, aprendi. Eu queria participar da apresentação, o coco de zambê é uma dança fantástica, (...) descobri coisas inacreditáveis e legais, existem jeitos de dançar e o que se usa mais é a criatividade e o uso do pensamento”. “O coco de zambê foi muito legal e é bom de dançar, a gente gostou muito, principalmente quando a gente formava grupos e inventava as danças e as professoras ensinando danças novas,’’.

“Pra mim dançar o coco de zambê foi uma experiência muito legal, gostei muito de aprender uma nova dança, uma cultura nova. Gostei muito das aulas, foi muito divertido, foi bem engraçado também. Gostei também dos ensaios, foi muito legal essa experiência e espero conhecer mais sobre outras danças”.

Através desses relatos, notamos a importância do trabalho realizado na escola, tendo a dança popular como foco. Ressaltamos não somente a apreciação de elementos de nossa cultura, que por si só já é importante na formação do cidadão capaz de valorizar seu próprio contexto cultural, mas também a vivência do sentido estético e de coletividade na criação de novas referências do dançar para os alunos. O relato dos alunos expressa o sentido de brincadeira e alegria contagiante, próprio do Coco do Zambê, que pode ser experienciado na escola para o despertar do ser brincante.

As construções coreográficas dos estudantes foram exibidas na mostra cultural da escola, ocorrida no dia 31 de agosto de 2016, aberta à comunidade. Observa-se

9 Método desenvolvido pelas bolsistas do subprojeto PIBID/Dança para o ensino do Coco de Zambê na

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27 que a atividade constituiu uma ocasião de articulação entre os conhecimentos produzidos no ensino superior e aqueles produzidos na Educação Básica, sendo o PIBID uma oportunidade para a aplicação em ambiente escolar dos conhecimentos produzidos na licenciatura. Destaca-se, ainda, a atuação do PIBID Dança na ampliação do acesso às produções culturais norte-rio-grandenses e a formação de público para apreciá-las.

Imagem 9 - Apresentação do Coco de Zambê na mostra cultural da Escola Municipal Ivanira Vasconcelos Paisinho em Parnamirim/RN

Fonte: Arquivo Pessoal (2016)

Imagem 10 - Apresentação do Coco de Zambê na mostra cultural da Escola Municipal Ivanira Vasconselos Paisinho em Parnamirim/RN

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28 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encontrar esse ser brincante nem sempre é fácil. Por vezes, temos enraizados em nós alguns preconceitos que nos impedem de vivenciar a brincadeira. Por tabus ou estereótipos que estão na sociedade há séculos, podamos as nossas mentes, fechando-as para novos conhecimentos.

É dever do profissional de dança mostrar aos seus educandos a importância de vivenciar/conhecer/apreciar todo tipo de dança. Além disso, enaltecer que a dança popular não contém somente aspectos de religiosidade, mas também potencial estético rico em qualidades vibrantes, alegres e brincantes.

Ter no currículo escolar o conteúdo de danças populares é tão fundamental quanto outros tantos conteúdos da dança, principalmente para o aprendiz entender e dialogar com o mundo em que vive; compreender, assim, sua identidade cultural. Cada região da nossa nação tem sua particularidade e suas danças. O ensino das danças populares deve buscar nos alunos o respeito e a valorização das nossas expressões artísticas. Ainda, incutir no alunado a ideia de que não devemos deixá-las morrer.

E, nesse sentido, reconhecer e experienciar a essência de manifestações populares e folclóricas brasileiras, especialmente as potiguares, promovendo aulas baseadas não somente na vivência corporal da dança, mas também em pesquisas sobre o contexto sócio-artístico-cultural de cada manifestação investigada, estimulando no discente o conhecimento e o tornando brincante de sua cultura.

Pensar em danças populares, no contexto dos folguedos e da cultura corporal de movimento, é pensá-las em uma manifestação da arte na qual o corpo brincante é uma linguagem que transmite mensagens, conta histórias, expressa marcas de sua própria dança no tempo e no espaço, se ressignificando no presente como possibilidade de celebrar e provocar transformações na vida em comunidade e, consequentemente, na história.

A escola, por sua vez, torna-se um local privilegiado de aprendizagem, de saberes produzidos pelo homem e, principalmente, um lugar de construção do cidadão consciente, participativo, sensível e transformador da sociedade. É neste processo construtivo da cidadania que o ensino de arte desempenha um importante papel na vida do educando, proporcionando a educação de seus sentidos e o

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29 desenvolvimento de sua capacidade criadora, expressiva e, sobretudo, a aquisição de outras formas de linguagem.

Por meio do estudo da dança, o ensino de arte na escola representa também uma forma de acesso aos bens culturais e simbólicos produzidos pela humanidade. O conhecimento sobre diversas culturas faz-se necessário para as manifestações do intelecto, que se fortalece e possibilita ao indivíduo crescer com autonomia e sentir-se capaz de, junto ao grupo, realizar mudanças criativas em sentir-seu meio.

A atuação do bolsista de iniciação à docência, no âmbito das práticas escolares de sua área de conhecimento, fomenta a possibilidade de uma futura atuação do professor mais adequada às necessidades dos contextos escolares. Nesse sentido, ressaltamos a importância da conexão entre os vários contextos nos quais o conhecimento da dança é produzido, uma vez que ambos se retroalimentam.

Destacamos ainda a atuação do PIBID Dança no que se refere à ampliação do acesso às produções culturais norte-rio-grandenses e a formação de público para apreciá-las. Esta formação de público se dá não somente a partir das aulas de dança, no trabalho direto com os alunos na escola de educação básica, mas também na oportunidade em que a produção desses alunos é apresentada para a comunidade escolar e comunidade externa.

Essa pesquisa aguçou em mim o desejo de uma investigação constante, de encontrar estratégias de ensino da dança popular, em especial o Coco de Zambê. A Abordagem Triangular (BARBOSA, 2012) e a Dança no Contexto (MARQUES, 2010) trouxeram fundamentações que orientaram e orientarão o meu caminhar como professora em formação. Foram, sem sombra de dúvidas, a principal ponte para eu chegar ao meu educando e permiti-lo vivenciar o ser brincante.

Mediante essa base, buscamos a reflexão, a prática e a contemplação da manifestação do Coco de Zambê. O refletir: através de aulas expositivas dialogadas, que possibilitaram ao educando reconhecer a gestualidade dessa manifestação, bem como seus contextos históricos e sociais; o praticar: foram ensinados alguns passos codificados do folguedo popular, como também o uso da improvisação a partir do estímulo sonoro dos tambores e canções populares da referida produção cultural; o contemplar: análise de vídeos e do apreciar dos colegas dançando.

Como avaliação do trabalho realizado, observa-se que a atividade constituiu uma rica ocasião de articulação entre os conhecimentos produzidos no ensino

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30 superior e aqueles produzidos na Educação Básica, sendo o PIBID uma oportunidade para a aplicação em ambiente escolar dos conhecimentos produzidos na licenciatura e, portanto, uma brecha significativa de vinculação do estudante da licenciatura no mercado de trabalho que o espera posteriormente.

Concluímos, assim, que todos têm uma essência brincante, que basta ressoar o tambor para que ela desperte. É possível inserir, na escola, essa energia que vem do brincar, por meio da abordagem triangular e da dança no contexto. Desta maneira, se amplia o repertório de dança dos alunos, contribuindo para que eles reflitam sobre os significados sócio-histórico-culturais das manifestações artísticas de cunho popular e, ademais, tornem-se protagonistas no combate aos preconceitos que cercam as danças populares.

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31 REFERÊNCIAS

ALVES, Teodora de Araújo. Aprendendo com o coco de Zambê: Aquecendo a educação com a ludicidade, a corporeidade e a cultura popular. Dissertação de Mestrado em Educação. Natal: CCSA/UFRN, 2000.

ALVES, Teodora de Araújo. Herdanças de corpos brincantes: os saberes da corporeidade em danças afro-brasileiras/ Teodora de Araújo Alves. – Natal, RN: EDUFRN – Editora da UFRN, 2006.

BARBOSA, Ana Mae Tavares Bastos, A imagem no ensino da arte: anos 1980 e novos tempos/ Ana Mae Barbosa. São Paulo: Perspectiva, 2012 – (Estudos; 126/dirigida por J. Guinsburg).

MACHADO, Regina Stela, Sobre mapas e bússolas: Apontamentos a respeito da Abordagem Triangular. São Paulo: Cortez, 2010.

MARQUES, Isabel A. A linguagem da dança. São Paulo: Cortez, 2010.

MARTINS, Heloisa Helena T. de Souza, Metodologia qualitativa de pesquisa. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.30, n.2, p. 289-300, maio/ago. 2004.

MANHÃES, Juliana Bittencourt. A performance do corpo brincante. Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas – UNIRIO- NEPAA, 2010.

MOREIRA, Andressa Urtiga, “Brincante é um estado de graça”: Sentidos do brincar na cultura popular. Dissertação de Mestrado em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde, na área de Desenvolvimento Humano e Cultura. Brasília: Instituto de Psicologia, 2015.

NÓBREGA, Antônio Carlos. Documentário: Danças Brasileiras – Coco de Zambê. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=whL9JxApS7Q > Acesso em: 22 de julho de 2016.

PRIBERAM. Brincante. 2018. Disponível em:

<https://dicionario.priberam.org/brincante>. Acesso em: 10 maio 2018.

SILVA, Sebastião de Sales. Saudades Z(é): metaforizando a construção do corpo brincante / Sebastião de Sales Silva. - 2017.

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32 SOUZA, A. DE S. N.; ALEXANDRE, B. A. Q. B.; MENDES, M. M. D. L.; DAYSE, A. D. N. S. Coco de Zambê: Experiência vivida pelos bolsistas do PIBID DANÇA. Revista Extensão & Sociedade, v. 8, n. 1, p. 41-49, 8 nov. 2017.

Referências

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