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A religião candomblé como forma de resistência a cultura afro-brasileira

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

MARINEIDE DA SILVA

A RELIGIÃO CANDOMBLÉ COMO FORMA DE RESISTÊNCIA A CULTURA AFRO-BRASILEIRA

CURRAIS NOVOS/RN 2016

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MARINEIDE DA SILVA

A RELIGIÃO CANDOMBLÉ COMO FORMA DE RESISTÊNCIA A CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de História do Ceres, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção de Título de Especialização do Curso de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Orientador: Prof. Dr. Marcelo da Silva Taveira.

CURRAIS NOVOS/RN 2016

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 05

JUSTIFICATIVA ... 06

1. REFLEXÕES SOBRE OS CULTOS AFRO-BRASILEIRAS ... 07

1.1 Candomblé uma religião nascida da diáspora ... 07

METODOLOGIA ... 10

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 10

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RESUMO

Este trabalho aborda uma reflexão sobre a religião do candomblé como forma de resistência dos negros africanos nas terras brasileiras. Desta maneira, procura-se apresentar em uma abordagem clara e objetiva como os africanos se firmaram nessas terras e praticavam seus cultos religiosos. Vimos que a ideia de negro passivo que sofria sem nenhum tipo de revide ou estão vistos apenas como um “ser” que nunca saiu da condição de “peça” produtiva, mas um ser com todas as suas adversidades que lhe foram impostas, tentou criar espaços próprios para amar, construir família, criar filhos, brincar, folgar, cultuar deuses africanos e os que passaram a cultuar no novo mundo ou mesmo as transformações para haver aceitação. Mediante observação nas escolas do município de Acari identificava que nos livros escolares sempre usavam o personagem africano como submisso ao homem branco e quase não se falava que o negro sempre resistiu e se impôs com suas lutas. A metodologia utilizada foi a qualitativa onde os dados coletados de artigos científicos, livros, internet e a observação foram fundamentais para análise do problema. O método empregado foi o indutivo, pois considerei o conhecimento empírico e coloquei para contestação com as fontes pesquisadas e analisadas. Os objetivos desse trabalho são: Descrever conceitos relevantes acerca de diversos tipos de resistência estabelecida pelos povos negros que ocupavam a condição de escravizados no Brasil; enfocando a religião como estratégia para aproximar suas divindades e reelaborar seus mitos, ritos e sistemas religiosos. Ainda apresentar as características dos cultos afro-brasileiros, especialmente da Umbanda e Candomblé, assim como, contribuir para a revisão de certas posturas e preconceitos correntes em diferentes setores da sociedade brasileira. Além disso, procurou-se discutir as diversas formas de resistir às condições de trabalho e do regime escravista. Com esse trabalho, conseguiu-se atender as expectativas e às respostas aos questionamentos propostos nos objetivos.

Palavras-chave: Escravo. Resistência. Religião. ABSTRACT

This paper presents a reflection on the Candomblé religion as a form of resistance of black Africans in Brazilian lands. In this way, seeks to present in a clear and objective approach as Africans firmed these lands and practiced their religious services. We have seen that the idea of passive black suffering without any retaliation or are seen only as a "being" who never left the condition of "play" productive, but a being with all its hardships imposed on him, tried to create spaces own to love, build families, parenting, play, play, worship African gods and those who come to worship in the new world or even the changes to be accepted. By observing the Acari local schools identified that in textbooks always used the African character as submissive to the white man and barely spoke the black always resisted and prevailed with their struggles. The methodology was qualitative where the data collected from scientific articles, books, internet and observation were essential for problem analysis. The method used was the inductive, as considered empirical knowledge and put it to challenge the sources researched and analyzed. The objectives of this study are: describe relevant concepts about various types of resistance established by black people who occupied the enslaved condition in Brazil; focusing on religion as a strategy to bring their deities and redraft its myths, rites and religious systems. Still has the characteristics of african-Brazilian cults, especially Umbanda and Candomblé, as well as contribut to the review of certain current attitudes

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5 , we tried to discuss the various ways to resist the working conditions and the slave regime. With this work, it was achieved to meet the expectations and responses to the questions proposed in the objectives.

Keywords: Slave. Resistance. Religion

INTRODUÇÃO

As condições de vida dos homens e mulheres que viveram sob o cativeiro são fundamentais para compreendermos as bases da sociedade escravista e como os escravos buscaram superar a dominação, para isso, desenvolveram formas sutis de resistências cotidianas, e foi assim que interferiram no seu próprio destino e modificaram o mundo à sua volta.

Pensar o escravo como ser passivo que deia obediência aos senhores único e exclusivamente por chicote é uma ideia que a maioria dos livros de história nos trazem, mas é importante que no âmbito escolar, essa história possa ter um novo paradigma mostrando que em todos os lugares onde existiu escravidão os senhores temendo por revoltas ou sabotagens como: fugas, furtos, assassinatos, envenenamentos, entre outras; adotaram uma ideologia paternalista que consista em colocar o escravo sob a sua proteção familiar; cabendo aos senhores as suas ordens e o arbítrio de castigar ou perdoar faltas, porventura cometidas. Quanto ao escravo era necessário que tivesse humildade, obediência e fidelidade para com seu senhor; mas para tornar a vida mais suportável o cativo buscou meio de transformar essa ideologia paternalista dos senhores ludibriando suas vontades e caprichos e, ás vezes invertendo a direção que eles pretendiam imprimir às suas vidas.

Desmitificar a ideia de um negro passivo que sofria sem nenhum tipo de revide ou então visto apenas como um “ser” que nunca tentou sair da condição de “peça” produtiva, mas sim como ser que mesmo com todas as adversidades que lhes foram impostas tentou criar espaços próprias para amar, constituir família, criar filhos, brincar, folgar, cultuar deuses africanos e os que passaram cultuar no novo mundo; havendo também outras possibilidades de sair desse mundo de escravidão por meio da fuga, revolta ou alforria. Para modificar a sua sorte ou até mesmo tentando meios de sobreviver, os escravos tiveram de recorrer às lembranças do que haviam vivido na África e as experiências ao longo da vida no cativeiro.

Com a realização desse documento pretende-se contribuir para a revisão de certas posturas e preconceitos correntes em diferentes setores da sociedade brasileira.

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6 Como pretendo trabalhar o artigo de Vivência Escolar, é necessário um Projeto Interdisciplinar que possa abranger variadas áreas de ensino como: língua portuguesa, geografia e história.

Tendo como objetivos: descrever conceitos relevantes acerca de diversos tipos de resistência estabelecida pelos povos negros que ocupavam a condição de escravizados no Brasil; enfocando a religião como estratégia para aproximar suas divindades e reelaborar seus mitos, ritos e sistemas religiosos. Ainda procurou-se apresentar as características dos cultos afro-brasileiros, especialmente da Umbanda e Candomblé, assim como, contribuir para a revisão de certas posturas e preconceitos correntes em diferentes setores da sociedade brasileira. Além disso, objetivou-se discutir as diversas formas de resistir às condições de trabalho e do regime escravista.

JUSTIFICATIVA

Mediante observação nas escolas do município de Acari sempre identificava que nos livros escolares apresentava o personagem africano como submisso ao homem branco, como se houvesse uma aceitação dos negros aos castigos e punições impostas pelo homem branco de forma pacífica. Praticamente não se falava que os negros sempre resistiram a esses castigos e se impuseram com suas lutas. Ainda não apresentavam as formas de resistência utilizadas por eles, como os cultos e danças, as brincadeiras de rodas e suas formas de adorar aos seus deuses.

Nesse contexto, procura-se desmitificar a ideia de um negro passivo que sofria sem nenhum tipo de revide; pretende-se mostrar um negro que mesmo com toda adversidade que lhe for imposta, toda a desestrutura que fora a ele colocada mostrar como tentaram superar a dominação. Para isso, desenvolveram formas sutis ou não de resistências cotidianas, e assim interferiram no seu próprio destino e modificaram o mundo à sua volta.

Além disso, ao perceber que existe uma certa discriminação com as religiões afro-brasileiras e uma não aceitação por grande parte da população foi que teve-se a curiosidade de saber como esses cultos permanecem até os dias atuais.

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7 1. REFLEXÕES SOBRE OS CULTOS AFRO-BRASILEIRAS

Os diversos povos africanos desembarcados no Brasil para trabalhar nos engenhos de produção de açúcar, nas lavouras de café, fumo, algodão, nas minas de extração de ouro.

Trouxeram consigo os seus costumes, línguas, valores, deuses e crenças. Diante das contingências que viriam daí por diante, foram abrigados a negociar com os poderes dominantes (Igreja e Senhores de escravos) e a dialogar com as culturas indígenas da nova terra. Forçados aos dias para migratória, que os conduziu ao desconhecido mundo novo, encontraram, ainda assim estratégias para aproximar suas divindades e reelaborar seus mitos, ritos e sistema religiosos.

Candomblé, umbanda, xangô pernambucano, batuque gaúcho, tambor de mina maranhense, os cultos afro-ameríndios assemelhados do norte e nordeste (jurema, toré, catimbó, babassuê e pajelança) são religiões resultados desses diálogos. Além das tradições culturais africanas, tais religiões também incorporam, em graus variáveis, elementos católicos espiritas, aspectos das cosmologias indígenas, misticismo oriental e neo-esotérico.

É importante assinalar que misturas, identificação e intercâmbios são frequentes nas religiões afro-brasileiras e constituintes delas. Não só as africanas, mas todas as religiões são instituições dinâmicas que se transformam de acordo com as circunstâncias socioculturais advindas de fora. Se fossem incapazes de rever ou mesmo abandonar o passado, elas poderiam desaparecer completamente, deixando, quando muito, mero vestígio histórico e arqueológico.

1.1 Candomblé uma religião nascida da diáspora

Segundo o dicionário Falares Africanos na Bahia, de teda pessoa de Castro (2001:196), o termo Candomblé vem do Kandomble cujo significado é “rezar”; “invocar” ou “pedir intercessão dos deuses”. O mesmo termo também designa o local onde se realizam as cerimônias religiosas públicas.

Há pelo menos três padrões rituais específicos ou noções do candomblé existentes no Brasil, a saber: O candomblé de raiz Angola, Congo, o jeje, de procedência daomeana e, por último o Candomblé de procedência iarubá (em suas variantes queto, ijexá, efâ, batuque gaúcho e xangó, pernambucano), que teve origem entre os nagôs, africanos escravizados no Brasil vindo da antiga Costa dos escravos,

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8 área correspondente aos litorais do Togo, Benin e Nigéria. No primeiro cultuou-se deuses chamados inquices, no segundo, os vunduns e no terceiro, os orixás. Reunidos podemos chamá-los de deuses afro-brasileiros, pois têm origem na África, mas foram abrasileirados com o passar dos tempos.

Os adeptos do candomblé veneram um conjunto de dezesseis orixás cujos aspectos e representações podem ser conferidos numa infinidade de mitos que descrevem suas histórias e características particulares. Além de reunirem atributos, personalidades, comportamentos, sentimentos e paixões humanas, os orixás também se associam a determinados locais, elementos e forças da natureza (água, terra, fogo, ar; mares, lagos, cachoeiras, matas, montanhas, florestas etc.); distinguem-se através de cores, vestimentas e emblemas rituais; são sincretizados com santos católicos cuja correspondência pode variar conforme a região geográfica.

Eles são homenageados durante o xirê, a “brincadeira dos orixás”, círculo formado em sentido anti-horário, onde se executam, sequencialmente, os ritmos percutidos nos atabaques, os cânticos e as coreografias rituais dedicadas a Exu (mensageiro, associado aos caminhos, à fala e à comunicação); Ogum (herói civilizador responsável pela metalurgia, fundição das armas de guerra e ferramentas agrícolas); Oxóssi (senhor das matas, da fartura, protetor da caça e do caçadores); Ossaim (dono da folhas, dos preparados medicinais e rituais empregados nos candomblés); Obaluaiê ouOmulu (relacionado às doenças tendo como principal atuação a cura); Oxumarê (deus ambivalente, associado ao arco-íris e à chuva); Nanã (patrona da agricultura, ligada à morte e ao renascimento); Xangô (mítico rei da cidade de Oió, deus do fogo e da justiça); Oxum (dona do ouro, riqueza e beleza, uma das esposas de Xangô); Logun-Edé (caçador, filho de Oxóssi e Oxum, mora nas matas e rios); Iansã (dona dos raios, outra esposa de Xangô); Iemanjá (senhora da maternidade, dos mares e oceanos); Obá (deusa guerreira, também esposa de Xangô); Euá (ninfa guerreira, ora descrita como esposa de Oxumarê, ora como mãe dos filhos de Orumilá, deus patrono do oráculo, relacionado ao futuro e ao destino da humanidade); Oxaguiã (Oxalá mais jovem, guerreiro e viril) e Oxalufã (Oxalá mais velho, criador de todos os seres vivos que habitam o aiê, a terra).

Principalmente ao que se diz respeito as religiões afro-brasileira metodologicamente, o trabalho realizado deu-se por meio de observações e leituras variadas e principalmente informações obtidas no decorrer da Especialização de História; os procedimentos utilizados: conversas informais, notas escritas e registros.

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9 Justifica-se então a importância desse respectivo trabalho para mostrar os vários caminhos possíveis, que uma história pode percorrer desmitificando a ideia da passividade do cativo vendo que mesmo na desorganização imposta não foi o suficiente para destruir sua cultura e tradição, enfocando o candomblé como uma religião de resistência.

O dia em que se realiza o xerê para os orixás é conhecido como festa, o mesmo toque, uma referência às batidas dos tambores sagrados rum e lé. Há um calendário de festas anuais, muitas vezes baseado no sincretismo entre catolicismo e culto-afro-brasileiros, que pode variar conforme a região do país ou terreiro, pois cada liderança goza de autonomia para realizar suas próprias festividades e constituir seus grupos de adeptos.

Em geral, o mês de janeiro costuma encerrar o ciclo de Festa do Bonfim, na Bahia, dedicada ao Santo Católico correspondente a ele. Oxossi costuma ser festejado neste mesmo mês, pois São Sebastião, seu santo correspondente e padroeiro de muitas cidades brasileiras, é homenageado no dia 20 de janeiro. A quaresma marca uma pausa no calendário, pois é o período do Lorugum, guerreira simbólica travada entre os orixás, sendo que muitos candomblés permanecem fechados durante 40 dias no resguardo católico. Abril costuma ser marcado pelas festas Ogum, mas muitos terreiros também festejam Oxóssi no mesmo dia. Junho é reservado a xangô, orixá do fogo identificado com São Jerônimo, São Pedro ou São João. Muitas casas de candomblé acendem grandes fogueiras em sua homenagem,

Agosto é reservado ao alubajé, refeição comunal em louvor aos orixás da terra; Nanã, Abaluaiê e Oxumarê. Nessa ocasião, a dessa Euá e Ossaim, os deuses das folhas, também são homenageados. Setembro dá início ao ciclo das Águas de Oxalá (Cerimônia da purificação dedicada ao velho Orixá da criação) e da festa de Ibejus ou Caruru de Cosme e Damião. Novembro é o mês das iabás (deusas) Iansã, Oxum, Obá e Iemanjá; este ciclo feminino pode se estender até o mês de dezembro.

Além de regular o calendário de festas, os terreiros têm uma organização sacerdotal composta por abiã, primeiro degrau, pessoa não iniciada, aspirante, que participa de algumas cerimônias, sobretudo públicas; iaô, filha ou filho de santo iniciada (o); ialorixá e babalorixá, mãe e pai de santo, postos hierárquicos mais elevados as casas de culto. Há, também, os cargos auxiliares ocupados pela equedes (mulheres que cuidam dos orixás manifestados e de seus objetos rituais) e pelos gãs (homens responsáveis pelos cânticos, toques de atabaques e outras atividades masculinas).

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10 Durante o transcorrer das festas, as coreografias rituais ficam a cargo dos adeptos especialmente preparados para “receber orixás”. Esse fenômeno central em muitas religiões afro-brasileiras, definindo como possessão, constitui um instante privilegiado, pois permite reaproximar o orum (morada dos deuses) e aiê (morada dos homens). Os filhos-de-santo cedem seus corpos para que os orixás passam manifestar e executar um conjunto de movimentos e gestos corporais ritmados, que têm por função dramatizar e louvar suas histórias e sagas heroicas.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada foi a qualitativa onde os dados coletados de artigos científicos, livros, internet e a observação foram fundamentais para análise do problema. O método empregado foi o indutivo, pois considerei o conhecimento empírico e coloquei para contestação com as fontes pesquisadas e analisadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a nossa história colonial, as crenças afro-brasileiras só puderam subsistir de modo disperso por meio de “batuques”, entendido por parte dos senhores de escravos (outros costumavam reprimi-los) como divertimentos úteis para manter a paz nas senzalas. Desse período, passando pelo evolucionismo social em voga na segunda metade do século XIX, os templos afro-brasileiros foram alvos de desqualificação, perseguições policiais e foram apontados como “antros de feitiçaria”, “curandeirismo” e “charlatanismo”. Na Bahia, a “Roma negra”, os terreiros foram obrigados, até 1976, a se cadastrarem nas Delegacias de Polícia. Na Paraíba, os sacerdotes eram submetidos a exame de sanidade mental através de laudo psiquiátrico. Em suma, há inúmeros exemplos dessa natureza (CEERT,2004).

A partir do princípio de igualdade determinado pela Constituição Brasileira de 1988, essas religiões, outrora praticadas por negros, mestiços e brancos pobres, mudaram de feição, sendo que suas fronteiras nacionais, culturais, étnico-raciais e sociais foram ultrapassadas há muito tempo. Tanto o candomblé quanto a umbanda, por exemplo, já desembarcaram nos países do Mercosul (Uruguai e Argentina), da Europa, inclusive na terra de Camões, e são praticados por adeptos de múltiplas nacionalidades e classes sociais.

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11 Ainda que muitas mudanças tenham ocorrido nas últimas décadas, mesmo hoje é possível se deparar com uma série de preconceitos que põem em risco a seriedade das religiões afro-brasileiras. Leigos se põem a falar delas sem conhece-los minimamente. Recorrem a surrados estereótipos que, além de reforçar preconceitos, não têm validade sociológica, antropológica nem tampouco religiosa. Empregam definições preestabelecidas desprovidas de fundamentação e contextualização histórica. Sempre depreciativo, o preconceito estigmatiza pessoas e grupos sociais, cristaliza crenças e clichês, provocando generalizações errôneas e apressadas, como aquelas proferidas por um pedestre interpelado na Paulista, a mais badalada entre todas as avenidas de São Paulo: “É uma coisa ruim, que leva as pessoas pra trás; se fosse boa, se chamaria ‘boacumba’; lembra galinha preta...”

Em prol da diversidade religiosa, do respeito e da boa convivência entre “iguais e diferentes” é necessário desconstruir certas pré-noções difundidas oralmente e através de poderosos meios de comunicação de massa que perseguem as religiões afro-brasileiras. Amparados pela Lei Federal 11.645, sancionada em 2008 (antiga lei 10.639/03), que obriga o ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira nas escolas públicas e privadas, cabe sobretudo aos educadores, mas não apenas a eles, discutir a importância dessas religiões na formação da cultura e da sociedade brasileiras. Apesar das atrocidades da escravidão, elas asseguraram a permanência de uma ancestralidade africana milagrosamente preservada e reelaborada graças à memória coletiva de homens e mulheres, de escravos e libertos. Ancestralidade portadora de um passado simultaneamente mítico e histórico rememorado, por exemplo, no xirê de candomblé, festa pública que, além de celebrar os deuses afro-brasileiros, reúne todos aqueles que estejam abertos e dispostos a se juntar à “roda da alegria”.

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12 REFERÊNCIAS

ABREU, Martha. Império do divino: festas religiosas e Culturas popular no Rio de Janeiro, 1930 -1900 Rio de Janeiro NOVA FRONTEIRA, 1999.

CACCIATTORE, Olga. Gudolle. Dicionário dos Cultos afro brasileiras. Rio de Janeiro: FORENSE Universitária, 1998.

CACCIATTORE, Olga. Gudolle. Dicionário dos Cultos afro brasileiras. Rio de Janeiro: FORENSE Universitária, 1998.

CASCUDO, Luís da Câmara. Made in África. São Paulo: Global, 2001.

CUNHA. Maria Clementina Pereira (Org.) Carnavais e outras festas. Ensaios de história social de cultura. Campinas: Ed. UNICAMP, 2002.

FERRETTI, Sérgio Figueiredo. Notas sobre o sincretismo religioso no Brasil: modelos, limitações, possibilidades e tempo. Rio de Janeiro, nº 11. p. 13-26, julho 2001. CHEVIANATO, Júlio José. Negro da Senzala: a Guerra do Paraguai. 2ª ed.

MATOS, Regina Augusto. História e cultura afro-brasileira. – 2º ed. reimpressão S. Paulo. Contexto, 2013.

SANTOS, Milton Santos. Algumas notas sobre as categorias da sexualidade dos deuses homens e mulheres do candomblé nagô – Ketu. Debates do Núcleo de Estudo da Religião. UFRGS, Porto Alegre, ano II, n. 17, pp. 147 – 161, jan/jun. 2010.

SILVA, Vagner Gonçalves da. Candomblé e Umbanda: Caminhos da devoção brasileira. 2 ed. São Paulo: Selo Negro, 2005.

Referências

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