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A divisão do trabalho doméstico e a oferta de trabalho dos casais no Brasil

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - PIMES. MARINALVA CARDOSO MACIEL. A DIVISÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO E A OFERTA DE TRABALHO DOS CASAIS NO BRASIL. RECIFE - PE 2008.

(2) MARINALVA CARDOSO MACIEL. A DIVISÃO DO TRABALHO DOMÉSTICO E A OFERTA DE TRABALHO DOS CASAIS NO BRASIL. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de Pernambuco (PIMES-UFPE), como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutora em Economia. Área de concentração: Métodos Quantitativos Orientador: PROF. DR. TIAGO CAVALCANTI. RECIFE – PE 2008.

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(4) À memória de meu avô Tomás..

(5) AGRADECIMENTOS. A Deus meu amparo, hoje e sempre. A Junior, meu companheiro de todas as horas, e aos meus filhos, Jânio, Raul e Júlio, que constituem a razão da minha energia, persistência e luta, agradeço o apoio de sempre. Aos meus pais e aos meus irmãos, meu eterno agradecimento pela confiança que depositam em mim. Com vocês aprendi sábias lições de amor, crença, compreensão e esperança, que me fizeram crer na realização dos meus sonhos. Ao professor Tiago Cavalcanti, agradeço pela orientação e pelo estímulo ao meu desenvolvimento. Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Economia – PIMES, meu reconhecimento pelas oportunidades de aprendizado oferecidas ao longo do curso. Às professoras Ana Katarina Campelo e Maria Cristina Falcão Raposo, muitíssimo obrigada pelo incentivo em diversos momentos que contribuíram de forma ímpar para esta realização. Aos colegas de curso, André, Carlos, Cláudia, Cleyciane, Cinthya, Cristiane, Diogo, Edivane, Fernanda, Jarsen, Monalisa, Otávio, Sónia, Soninha e Roberta, agradeço pelo convívio, solidariedade e amizade compartilhadas nesse período. Aos membros da banca examinadora agradeço pelas opiniões e preciosas sugestões..

(6) RESUMO. O objetivo desta tese é analisar os determinantes da alocação do tempo dos casais ao mercado de trabalho e às atividades domésticas através de três ensaios baseados em amostras de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – PNAD para o ano de 2004. No primeiro ensaio investigam-se os determinantes do tempo alocado ao mercado de trabalho por casais em que ambos os membros exerçam atividade remunerada. A base teórica é fornecida pelo modelo coletivo, que é considerada atualmente na literatura a ferramenta padrão nos estudos sobre comportamento e tomada de decisão a nível familiar. Os resultados confirmam a adequação do modelo coletivo ao caso brasileiro e evidenciam que diferenças regionais, escolaridade, fertilidade e características do mercado de trabalho são relevantes na determinação da oferta de trabalho dos cônjuges. Além disso, a participação da família em programas sociais de transferência de renda mostrou-se como um fator de redução da oferta de trabalho dos casais. Desse modo o segundo ensaio trata do impacto dos Programas de Transferência Condicional de Renda, em particular o Bolsa Família, sobre a oferta de trabalho dos casais através da análise da participação e das horas ofertadas ao mercado de trabalho dos cônjuges individualmente. A abordagem empírica utilizada foi a técnica de escore de propensão (propensity score). Os resultados evidenciam que a participação no Programa Bolsa Família não afeta a probabilidade de participação no mercado de trabalho dos cônjuges de famílias beneficiárias. No entanto, há uma redução nas horas destes alocadas ao mercado de trabalho, sendo o impacto mais forte para as mulheres. O terceiro ensaio trata da alocação do tempo dos cônjuges às atividades domésticas analisadas sob a visão da teoria neoclássica de produção doméstica com o modelo unitário de Becker-Gronau e sob a visão da alocação do tempo com o modelo de barganha. Os dados do Brasil parecem adequar-se mais aos modelos de barganha, que defendem que o cônjuge com o maior poder de barganha realiza menos tarefas domésticas. No entanto, apesar da boa adequação dos modelos, percebe-se que ainda falta muito para explicar sobre as decisões da alocação do tempo dos casais que resultam em uma sobrecarga dos afazeres domésticos para a mulher. A resposta pode estar ligada a questões culturais e sociais que os modelos econômicos ainda não conseguem captar.. Palavras-chave: Mercado de trabalho. Economia da família. Oferta de trabalho dos casais. Modelo coletivo. Alocação do tempo intrafamiliar. Transferência condicional de renda..

(7) ABSTRACT. This dissertation presents three papers in which we investigate the determinants of time allocation of couples to labor market and domestic activities. We use Brazilian data from “Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD 2004”. In the first essay, we study the determinants of labor supply for dual-earned couples. The theoretical base is the collective model, which is currently considered in literature the standard tool in the study about the behavior at the household level. The results confirm the adequacy of the collective model to the Brazilian case. The estimates show that regional differences, years of school, fertility and characteristics of the labor market are key in the determination of married women. Moreover, the participation of the family in social programs is an important factor decreasing the supply of hours worked in the market by couples. The second paper deals with the impact of the Programs of Conditional Transference of Income, in particular the Bolsa Família, on labor supply of couples through the analysis of the participation and the hours supplied to the market. The empirical technique used was the propensity score. The results provide evidence that the participation in the Bolsa Família does not affect the probability of participation in the market of work of the spouses of beneficiary families. However, it reduces the hours worked in the market, and this impact is stronger to woman than man. The third essays deals with the allocation time of couples to housework activities. We test the neoclassic theory of domestic production based on the unitary model of Becker-Gronau and the bargain model. Results seem to support the bargain model, which suggests that the spouse with greater bargaining power work few hours at home activities. However, there is still unexplained variation in allocation of household time and further studies are needed. Probably, cultural and social issues, which are not captured in classical economic models, might play a big role to explain such variations.. Keywords: Labor market. Family labour Supply. Household economics. Collective model. Intrahousehold allocation. Conditional Cash transfer..

(8) SUMÁRIO. 1 – A DIVISAO DO TEMPO DOS CASAIS ......................................................................... 8 1.1. Introdução .................................................................................................................8 1.2. Fatos históricos ..............................................................................................................9 1.2.1. A participação feminina no mercado de trabalho ...............................................9 1.2.2. Novas formas de organização do mercado de trabalho ....................................11 1.3. Diferenças no uso do tempo por gênero ....................................................................13 1.4. Considerações finais ....................................................................................................17 2 – ALOCAÇÃO DO TEMPO DOS CASAIS AO MERCADO DE TRABALHO.......... 18 2.1. Introdução ....................................................................................................................18 2.2. Referencial teórico.......................................................................................................20 2.3. Modelo Coletivo ...........................................................................................................24 2.4. Especificação do modelo .............................................................................................28 2.5. Estrutura econométrica ..............................................................................................30 2.5.1. Fatores de distribuição.........................................................................................30 2.5.2. Questões Econométricas ......................................................................................32 2.5.3. Sistema GMM .......................................................................................................33 2.6. Dados ............................................................................................................................34 2.7. Resultados empíricos...................................................................................................36 2.8. Considerações finais ....................................................................................................41 3 – O IMPACTO DOS PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA SOBRE A OFERTA DE TRABALHO DOS CASAIS .......................................................................... 43 3.1. Introdução ....................................................................................................................43 3.2. Programas de transferência de renda........................................................................45 3.3. Estratégia de estimação...............................................................................................50 3.4. Dados e preliminares ...................................................................................................54 3.5. O impacto dos Programas de TCR sobre a oferta de trabalho dos casais .............57 3.5. Considerações finais ....................................................................................................60 4 – ALOCAÇÃO DO TEMPO DOS CASAIS ÀS ATIVIDADES DOMÉSTICAS ......... 62 4.1. Introdução ....................................................................................................................62 4.2. Referencial Teórico......................................................................................................64 4.3. Estrutura econométrica ..............................................................................................66 4.3.1. Especificação do modelo ......................................................................................66 4.3.2. Implementação empírica da teoria .....................................................................67 4.3.3. Estimação ..............................................................................................................69 4.4. Dados e preliminares ...................................................................................................70 4.5. Resultados ....................................................................................................................74 4.6. Considerações finais ....................................................................................................79 5 – CONCLUSÃO................................................................................................................... 81 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 84 APÊNDICE ............................................................................................................................. 91.

(9) 8. 1 – A DIVISAO DO TEMPO DOS CASAIS. 1.1. Introdução. Historicamente a organização do tempo social é determinada fundamentalmente pelo tempo dedicado ao mercado de trabalho. No entanto, da perspectiva econômica, é importante analisar tanto o tempo dentro quanto fora do mercado de trabalho. Saber sobre o tempo utilizado na produção no domicílio, transporte para o trabalho, lazer, etc. é de interesse tanto pela ótica da produção e consumo quanto para análises sobre o bem-estar. Estudos sobre o uso do tempo são de fundamental importância para aprofundar o conhecimento sobre o padrão de vida familiar e a alocação de recursos intradomiciliar, além de fornecer subsídios para analisar os efeitos de mudanças de políticas sobre decisões da família com respeito a oferta de trabalho, consumo e poupança. Ademais, dados sobre o uso do tempo alocado às atividades não remuneradas são essenciais para transparecer para a sociedade atividades desconsideradas no conceito econômico tradicional de trabalho, mas que são essenciais no processo de reprodução social, tais como o cuidado de filhos e idosos, que ainda são tarefas predominantemente femininas. Tempo é um dos recursos econômicos mais importantes da economia atual e é alocado de forma bastante diversa entre homens e mulheres. Pesquisas sobre o uso do tempo em países desenvolvidos mostram que homens e mulheres dedicam quantidade similar de tempo a atividades como: sono, alimentação e cuidado pessoal. A diferença está no tempo dedicado ao trabalho. Em geral, mulheres dedicam mais tempo ao trabalho dentro do domicílio (tarefas domésticas) enquanto os homens têm a maior parte do seu tempo alocada ao mercado de trabalho. Há duas perspectivas sobre a diferença no padrão do uso do tempo. Por um lado argumenta-se que normas sociais ditam uma segregação de atividades por gênero. Mulheres predominantemente executam mais afazeres domésticos e os homens atividades de geração de renda. Por outro lado, as diferenças por gênero estariam relacionadas a incentivos econômicos e restrições que alteram o uso do tempo. De uma forma ou de outra, os estudos relatam uma interdependência das relações entre trabalho e família. Jatobá (1994) analisou as decisões de participação no mercado de trabalho no Brasil para indivíduos ligados por laços de família. Os resultados evidenciaram que o desemprego e o declínio do rendimento do chefe direcionam outros membros da família para.

(10) 9. o mercado de trabalho. No caso da alocação individual do tempo, para mulheres, sabe-se que o seu papel como esposa e mãe influencia o seu papel como participante da força de trabalho através dos efeitos sobre o custo de oportunidade do tempo alocado ao mercado de trabalho e o valor da renda gerada por aquele trabalho. No caso dos homens, os estudos indicam uma associação positiva entre rendimentos/horas alocadas ao mercado de trabalho com o fato de ser casado e ter filhos. (CHOI et al., 2005). Esta tese tem como objetivo analisar os determinantes da alocação do tempo dos casais ao mercado de trabalho e ao trabalho doméstico no Brasil. No capítulo 2 será analisada a decisão de oferta de trabalho dos casais através da estimação de equações individuais das horas alocadas ao mercado de trabalho tendo como suporte teórico o modelo coletivo. No capítulo 3 serão avaliados os efeitos do programa de transferência de renda sobre a oferta de trabalho dos casais. Os determinantes do tempo de atividades domésticas dos casais no Brasil serão estudados no capítulo 4 e no capítulo 5 será apresentada a conclusão do trabalho. Como forma de introduzir o assunto que será tratado nos próximos capítulos, será apresentada a seguir uma contextualização do tema e uma análise descritiva referente à divisão da alocação do tempo dos casais entre o mercado de trabalho e as atividades domésticas. 1.2. Fatos históricos A partir dos anos setenta o mundo passou por diversas modificações que provocaram transformações em cadeia nos diversos setores da sociedade. A relação família-trabalho foi em parte reestruturada como conseqüência de diversos fatores. Dentre eles destacam-se a inserção maciça da mulher no mercado de trabalho e as novas formas de organização do mercado de trabalho, que serão detalhadas a seguir. 1.2.1. A participação feminina no mercado de trabalho Uma das transformações mais marcantes no mercado de trabalho nos Estados Unidos no século XX foi a inserção maciça das mulheres no mercado de trabalho. (JACOBSEN, 1999). Este fato impulsionou o desenvolvimento de diversos estudos que buscam entender os mecanismos e motivações que têm levado ao crescimento histórico da participação da mulher no mercado de trabalho ao longo das últimas décadas. No Brasil este tema vem recebendo.

(11) 10. considerável atenção 1 pelo fato da taxa de participação feminina ser um indicador sócioeconômico básico uma vez que está intimamente ligado a pelo menos três questões sociais: os desníveis sócio-econômicos por gênero; à redução da pobreza e ao comportamento geral do mercado de trabalho. (BARROS et al., 1997). Na composição da População Economicamente Ativa (PEA) do Brasil, as mulheres apresentaram um forte crescimento. Apesar das taxas de participação dos homens manteremse superiores às das mulheres, o diferencial vem diminuindo significativamente ao longo dos anos. O Gráfico 1 apresenta a evolução da proporção de homens e mulheres na composição da PEA com microdados extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) para diversos anos, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Observa-se que a diferença em 30 anos caiu de 42,4 para 15,1 pontos percentuais.. 30. 40. 50. 60. 70. Gráfico 1 – Proporção de homens e mulheres na composição da PEA. Brasil. 1976-2004. 1975. 1980. 1985. 1990 Ano. Homens na PEA (%). 1995. 2000. Mulheres na PEA (%). Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio. Diversos fatores têm sido apontados como determinantes do crescimento da taxa de participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. Em um estudo que procura identificar tais determinantes, Bruschini e Lombardi (1996) verificam a importância do aumento da escolaridade e da redução da fecundidade. Costa (1990) ressalta a industrialização 1. Destacam-se os trabalhos de Sedlacek e Santos (1991), Ramos e Soares (1994), Wajnman et al. (1998), Scorzafave e Menezes Filho (2001) e Soares e Izaki (2002)..

(12) 11. de bens e serviços antes produzidos em casa, a pronunciada queda da fecundidade, que encurtou o tempo gasto em gestações e na guarda das crianças pequenas, e a processo de urbanização, que colocou a mulher em contato com novas oportunidades. Leme e Wajnman (2003) relacionam o aumento da participação feminina com a queda da fecundidade e o aumento dos anos de estudo. Scorzafave e Menezes-Filho (2001) destacaram que os efeitos dos determinantes diferem por subgrupo de idade e anos de estudo, concluindo que o aumento da qualificação e mudanças de atitudes ante os desafios do mercado de trabalho são responsáveis pela inserção maciça das mulheres. A Tabela 1 corrobora essas afirmações apresentando as taxas de atividade da mulher por anos de estudo, o que confirma o relacionamento diretamente proporcional das taxas de participação no mercado de trabalho com a escolaridade. As mulheres com maior nível educacional participam mais ativamente do mercado de trabalho. Tabela 1 – Taxa de atividade feminina por anos de estudo Anos de estudo Sem instrução/ - de 1 ano 1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 10 anos 11 a 14 anos 15 anos ou mais. 1993 40.2 38.5 43.4 51.4 68.2 81.4. 1995 40.2 39 44 52.8 69 82.3. 1997 37.4 37.2 41.4 52.1 69.4 81.9. 1998 36.6 36.7 41.8 52.1 69.6 81. 2002 36.5 37.3 41.6 53.5 71.2 82.6. Total ( % ). 47.0. 48.1. 47.2. 47.5. 50.3. Fonte: IBGE, PNAD’s. O Gráfico 2, por sua vez, mostra a relação inversa entre a participação feminina no mercado de trabalho e a fecundidade. Justamente no período de maior declínio das taxas de fecundidade ocorreram os maiores aumentos nas taxas de atividade femininas. 1.2.2. Novas formas de organização do mercado de trabalho Na economia mundial o mercado de trabalho passou por transformações significativas nas últimas décadas. A recessão e a crise fiscal na década de setenta criaram o cenário propício para a reestruturação econômica e o reajustamento social e político. Caracterizou esse período o surgimento de novos setores de produção e de novos mercados de consumo, inovações comerciais e tecnológicas, mudanças nos serviços financeiros e de serviços que resultou no aumento da competição e da utilização das novas tecnologias produtivas. (CATANI et al., 2001)..

(13) 12. 2. 30. 3. Taxa de part. feminina 35 40. 4 5 Taxa de fert. total. 45. 6. Gráfico 2 – Taxas de participação feminina e fertilidade. Brasil. 1970/2004. 1970. 1980. 1990. Taxa de part. feminina. 2000. 2010. Taxa de fert. total. Fonte: IBGE, PNAD’s. O Brasil reagiu à crise da economia mundial nos anos setenta mantendo um elevado nível de investimento e intensificando o seu projeto industrial, o que levou a uma expansão da economia. Desse modo, a industrialização e a urbanização crescente propiciaram um momento econômico favorável para mudanças no mercado de trabalho. As transformações no período foram de ordem econômica, social e demográfica que provocaram mudanças no nível e na composição interna do mercado de trabalho. Em especial, expandiram-se as taxas de crescimento econômico e os níveis de emprego; ampliaram-se as oportunidades de trabalho para determinados setores da população; intensificou-se a transferência de empregos do setor primário para os setores secundário e terciário e aumentou o aspecto formal das relações de trabalho. Com o mercado em expansão aumentou também a fatia de participação das mulheres no mercado de trabalho. O crescimento econômico, no entanto, provocou um aumento das desigualdades sociais e concentração de renda. (BRUSCHINI, 1989). A crise atingiu o país somente no final dos anos setenta, acentuando-se no início da década de oitenta com o Brasil perdendo a força de crescimento e entrando em uma profunda recessão com elevadas taxas de inflação. Concomitante ocorreu no período uma tendência estrutural à terceirização de bens e serviços. O resultado foi o aumento do desemprego e mudanças na forma de incorporação da força de trabalho com a precarização das relações de.

(14) 13. trabalho. A busca por trabalho levou os demitidos a aceitar colocações com menores remunerações e, em muitos casos, à margem da regulamentação legal. Por outro lado a queda do poder de compra dos salários impulsionou a procura de emprego por outros membros da família além do chefe. Ou seja, a população encontrou uma forma de se inserir no novo formato. econômico, mas o aumento da precarização do trabalho dá uma idéia da forma em que se deu essa incorporação. (CASTRO, 1993). Os anos noventa iniciam com um cenário de abertura comercial e recessão econômica, porém a partir de 1993, a economia começa a se recuperar. No entanto, acentuaram-se as modificações nas estruturas produtivas e nas formas de organização do trabalho. Como conseqüência de tais mudanças, além da redução do poder de compra e aumento dos diferenciais de rendimento entre os ocupados, acentuou-se a queda nos níveis de sindicalização. (GUIMARÃES, 2002). Aliado a isso, ocorreram alterações na estrutura do mercado de trabalho como a perda da participação relativa do setor industrial e o crescimento dos serviços, altas taxas de desempregados, precarização do trabalho, novos requisitos de desempenho profissional e exigências maiores em relação à educação e formação profissional. Tais transformações provocaram modificações intrafamiliares, com o rearranjo da inserção de seus componentes no mercado. Embora nem sempre os novos membros inseridos no mercado de trabalho consigam manter os rendimentos familiares em seus níveis anteriores. (MONTALI, 2003). Nesse sentido, as novidades na forma de incorporação resultaram em prejuízos da qualidade da inserção com a precarização dos vínculos e a perda da proteção oferecida pelos direitos trabalhistas. (MONTALI, 2004). No entanto, para as mulheres o efeito pode estar sendo mais grave, porque na sociedade atual, ainda conservadora, apesar da grande participação feminina no mercado de trabalho, cuidar da casa, de filhos, pais idosos, parentes de cônjuges, etc, continuam sendo tarefas que recaem sobre as mulheres, fazendo com que estas desempenhem a jornada dupla ou tripla de trabalho. 1.3. Diferenças no uso do tempo por gênero Considerando que as análises apresentadas em estudos anteriores relatam diferenças no uso do tempo por gênero, esta investigação inicial retrata os resultados para uma amostra de casais economicamente ativos selecionados do banco de dados da PNAD para o ano de 2004. Esta será considerada a amostra básica, composta de casais com idade entre 20 e 60 anos. Ela servirá como base para as diversas análises nos demais capítulos. Foi escolhida a.

(15) 14. pesquisa de 2004 da PNAD por ser a única, até o momento, que apresenta informações sobre transferência de renda. O Gráfico 3 apresenta o uso do tempo alocado individualmente para o trabalho remunerado, afazeres domésticos e outros, que incluem lazer, sono, cuidados pessoais, deslocamento para o trabalho, etc. Nota-se que os resultados confirmam o padrão internacional do uso do tempo. Não há grande diferença entre a alocação do tempo para outras atividades, porém com relação ao trabalho, é de grande destaque que os maridos alocam mais tempo ao trabalho remunerado e somente uma pequena parcela ao trabalho doméstico. A situação se inverte no caso da mulher, que dedicam menos tempo ao mercado de trabalho, porém realizam jornadas bem intensas de atividades domésticas na comparação com os maridos. Esses resultados já começam a mostrar o tamanho da desigualdade de gênero na realização dessas atividades.. 0. 50. horas/semana 100 150. 200. Gráfico 3 – Uso do tempo segundo o sexo. Brasil. 2004. Marido Atividades domésticas Lazer e outras atividades. Mulher Mercado de trabalho. Fonte: IBGE, PNAD – 2004. Considerando a grande diversidade regional no Brasil aliada a diferentes atividades econômicas, processos de povoamento e culturas, é importante verificar se a alocação do tempo também é feita de maneira diversa nas regiões. Na alocação do tempo aos afazeres domésticos destaca-se a região nordeste, que apresenta a maior desigualdade de gênero e a região sul com a alocação menos desigual às atividades domésticas por gênero. (Gráfico 4)..

(16) 15. 0. 10. horas/semana 20 30. 40. 50. Gráfico 4 – Divisão regional do uso do tempo. Brasil. 2004.. Marido Mulher. Marido Mulher. Marido Mulher. Marido Mulher. Marido Mulher. Norte. Nordeste. Sudeste. Sul. Centro-oeste. Atividades domésticas. Mercado de trabalho. Fonte: IBGE, PNAD – 2004. Esses resultados são comparáveis aos encontrados por Knudsen e Wærness (2007) com outra base de dados para o Brasil. Esses autores classificaram o Brasil como o segundo dentre 34 países, no número de horas alocadas pela mulher aos afazeres domésticos. As brasileiras só perdem para as chilenas. O Gráfico 4 mostra que essa quantidade é devida em grande parte pelas nordestinas que têm considerável parte do seu tempo alocado às atividades domésticas em detrimento do tempo de trabalho remunerado. Quanto ao nível educacional, o Gráfico 5 confirma que mulheres com maior escolaridade participam mais do mercado de trabalho, porém a redução do seu tempo de afazeres domésticos ainda deixa a desejar. Quanto à desigualdade de gênero na realização de atividades domésticas, observa-se que os casais com maior educação têm tendência mais igualitária na divisão das tarefas. Essa tendência vai reduzindo conforme se reduz os anos de estudo. Finalmente na comparação entre os casais que têm e os que não têm filhos em idade pré-escolar apresentada no Gráfico 6, observa-se que filhos realmente impactam mais fortemente a alocação do tempo das mães...

(17) 16. 0. 10. horas/semana 20 30. 40. 50. Gráfico 5 – Divisão do uso do tempo por classes de anos de estudo. Brasil. 2004.. Marido Mulher. Marido Mulher. Marido Mulher. Marido Mulher. 0-4 anos. 4-8 anos. 8-11 anos. 12 ou + anos. Atividades domésticas. Mercado de trabalho. Fonte: IBGE, PNAD – 2004. Os maridos têm um pequeno acréscimo no seu tempo de atividades domésticas com a presença de filho, mas é a mãe que vai alocar seu tempo de forma diversa. Filhos pequenos fazem a mulher reduzir seu tempo alocado ao mercado de trabalho e aumentar o seu tempo de afazeres domésticos. 0. 10. horas/semana 20 30. 40. 50. Gráfico 6 – Divisão do uso do tempo dos casais de acordo com a presença de filho em idade pré-escolar na família. Brasil. 2004.. Marido. Mulher. Sem filhos 0-7 anos Atividades domésticas. Fonte: IBGE, PNAD – 2004.. Marido. Mulher. Com filhos 0-7 anos Mercado de trabalho.

(18) 17. 1.4. Considerações finais Este capítulo serve como introdução para diversas análises que serão realizadas nos capítulos seguintes relacionadas à alocação do tempo no contexto familiar. A análise preliminar aqui apresentada não difere muito dos resultados obtidos para outros países com relação ao tempo de atividades domésticas. Com o aumento da escolarização feminina, que foi um dos fatores que impulsionou a inserção e permanência da mulher no mercado de trabalho, esperava-se que a distribuição das atividades domésticas fosse mais igualitária, porém os resultados mostraram que as mudanças no interior do domicílio são mais difíceis de acontecer. As tendências mais igualitárias observadas para casais com maior nível de escolaridade ocorrem mais por redução do tempo de afazeres domésticos da mulher, que nessa condição se encontra mais engajada no mercado de trabalho, do que por um aumento no tempo alocado pelo marido. Fatores como escolaridade, diferenças regionais e a presença de filhos em idade préescolar são muito importantes na determinação da alocação do tempo dos casais ao mercado de trabalho e às atividades domésticas..

(19) 18. 2 – ALOCAÇÃO DO TEMPO DOS CASAIS AO MERCADO DE TRABALHO. 2.1. Introdução Há um grande interesse, tanto no âmbito acadêmico quanto político, em analisar as questões relacionadas a trabalho e família. A crescente participação das mulheres casadas no mercado de trabalho provocou diversas mudanças tanto a nível familiar quanto de mercado. No contexto domiciliar a mudança no status da esposa na composição da renda está associada a importantes efeitos sobre o bem-estar da família, através de mudanças gerais nos recursos disponíveis para consumo no domicílio ou através do aumento no seu poder de barganha nas decisões familiares. Desse modo o estudo da oferta de trabalho dos casais é fundamental, não somente por auxiliar no entendimento do comportamento da família com relação à participação e horas ofertadas ao mercado de trabalho como também por permitir a avaliação de reformas políticas e a análise da relação da oferta de trabalho com programas sociais, por exemplo. Apesar da relevância do tema, poucos estudos foram realizados no Brasil para analisar essas questões. As escassas pesquisas estão limitadas a análises parciais do problema, como a taxa de participação das mulheres casadas (SEDLACECK e SANTOS, 1991) ou da família (JATOBÁ, 1994), oferta de trabalho de homens (RIBEIRO, 2001) e oferta de trabalho das mulheres casadas (AVELINO; MENEZES-FILHO, 2003). Há necessidade então de um trabalho que investigue quais os determinantes da oferta de trabalho, baseada em uma estrutura teórica apropriada que consiga explicar a tomada de decisão intrafamiliar com relação à alocação do tempo do casal ao mercado de trabalho. Nos estudos de oferta de trabalho, a seleção da estrutura teórica para estimar a equação de oferta de trabalho é uma importante questão a ser considerada. Para tanto, dois fatores devem ser levados em conta: os dados disponíveis e os desenvolvimentos teóricos existentes. Como no Brasil há carência de pesquisas longitudinais com informações sobre trabalho e características individuais que possam influenciar na decisão de trabalhar, não é possível uma análise dinâmica dos determinantes da oferta de trabalho. Optou-se então por um estudo com observações a nível familiar para apenas um período (cross-section). A base de dados escolhida foi a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) por ser a mais abrangente e conter, dentre outras, as informações sobre trabalho a nível familiar. Em relação à estrutura teórica, este trabalho optou por uma abordagem alternativa ao modelo neoclássico.

(20) 19. ou unitário, que foi o primeiro modelo desenvolvido nos estudos de oferta de trabalho da família e bastante utilizado nos primeiros trabalhos sobre o tema (BECKER, 1991; GRONAU, 1977). Este modelo trata a família como um agente representativo que maximiza uma função utilidade que depende do consumo e lazer de cada membro, desconsiderando as preferências individuais. Desse modo, a principal implicação do modelo unitário é a agregação da renda familiar, ou seja, não importa a distribuição de renda entre os membros do domicílio, somente a renda familiar total. Isto gerou diversas críticas que impulsionaram o surgimento de modelos alternativos que tentam incorporar as preferências individuais para analisar a tomada de decisão a nível familiar, tais como os modelos de barganha (MANSER; BROWN, 1980; ASHWORTH; ULPH, 1981 apud VERMEULEN, 2002) e o modelo coletivo (CHIAPPORI, 1988). Para o caso brasileiro, a hipótese de renda agregada do modelo unitário foi testada no trabalho de Thomas (1990) 2 . Com dados sobre saúde e nutrição de famílias no Brasil, o autor rejeitou o modelo concluindo que a identidade do membro do casal que controla os rendimentos não provenientes do salário afeta a alimentação, fertilidade, sobrevivência e a relação peso/altura dos filhos. O rendimento não proveniente de salário nas mãos da mãe, por exemplo, tem um efeito muito maior sobre a saúde da família, do que quando controlada pelo pai. Tiefenthaler (1999) também testou o modelo unitário no Brasil estimando equações de oferta de trabalho multi-setoriais para homens e mulheres. Seus resultados rejeitaram o modelo para os homens nos setores de emprego informal e auto-emprego. Para as mulheres, a rejeição do modelo deu-se nos setores formal e informal do mercado de trabalho. Considerando esses aspectos, para analisar a oferta de trabalho dos casais, optou-se por utilizar a abordagem teórica do modelo coletivo (CHIAPPORI, 1988, 1992) que se tornou, nos anos noventa, a ferramenta padrão para analisar comportamento familiar (DONNI, 2005). Sua estrutura parte da suposição de que cada membro do casal tem uma função de utilidade e suas demandas de consumo e lazer são determinadas em um processo não-observável dentro do domicílio que produz uma resposta pareto-eficiente. Desse modo torna-se possível realizar comparações do bem-estar a nível individual e não somente entre domicílios, como era o caso da abordagem tradicional. O modelo teórico utilizado nesse capítulo segue a extensão desenvolvida por Chiappori et al. (2002), que acrescentaram ao modelo original os fatores de distribuição 3 (distribution factors), que forneceram um método 2. O modelo unitário foi também rejeitado em diversas aplicações para outros países como, por exemplo, Fortin e Lacroix (1997), Browning et al. (1994), Lundberg et al. (1997) e Browning e Chiappori (1998). 3 Fatores de distribuição são equivalentes aos extrahousehold environmental parameter (EEP) utilizados na.

(21) 20. mais simples e robusto de obter a identificação do modelo e o desenvolvimento de restrições testáveis a partir das derivadas parciais de primeira e segunda ordem das equações de oferta de trabalho individuais. Além do modelo teórico, outra preocupação na análise empírica da oferta de trabalho de casais é a escolha de uma estratégia econométrica que possa contornar algumas questões que surgem quando da estimação das equações da oferta de trabalho. Dentre os principais problemas estão: a endogeneidade do salário nas equações de oferta de trabalho, o viés de seleção amostral e a correlação entre os erros das equações individuais. Para solucionar em parte os problemas, optou-se por utilizar técnicas de equações simultâneas, estimando os parâmetros através do método generalizado dos momentos (GMM). Diante do exposto, o objetivo deste capítulo é analisar a oferta de trabalho de casais em que ambos os membros exerçam atividade remunerada, com base em uma amostra de dados da PNAD para o ano de 2004. Como o processo de alocação do tempo intrafamiliar pode ser afetado pela presença de filhos (LUNDBERG, 1988), para provar a robustez, serão também apresentados os resultados para uma amostra restrita a casais sem filhos. Dessa forma pretende-se acrescentar à literatura existente pelo menos dois aspectos. Primeiro, o estudo dos determinantes da alocação do tempo dos casais ao mercado de trabalho utilizando um modelo teórico apropriado ao contexto e, segundo, confirmar a adequação do modelo coletivo ao mercado de trabalho brasileiro fazendo uso de dois fatores de distribuição que, ao menos de nosso conhecimento, ainda não foram utilizados conjuntamente na literatura sobre o tema. 2.2. Referencial teórico A partir dos trabalhos de Gary Becker (1965), autor de uma das mais influentes obras sobre a família no contexto econômico, surgiu a idéia de que a restrição de tempo deveria ser considerada nos estudos de comportamento demográfico e econômico a nível domiciliar. Na abordagem de Becker, assume-se que a família é uma unidade econômica racional. Podem ser aplicados então os pressupostos teóricos da economia neoclássica, tais como, o comportamento maximizador, o equilíbrio de mercado e as preferências estáveis para explicar escolhas individuais no âmbito familiar, como, por exemplo, as decisões sobre casamento, filhos ou alocação do tempo, e as relações entre essas decisões e a produção de riqueza. A formulação geral de Becker, entretanto, não diferenciava entre lazer e trabalho estrutura de modelos de barganha por McElroy (1990), que definiu assim as variáveis que podem influenciar o comportamento familiar, mas não afetam diretamente as preferências individuais nem a restrição orçamentária da família, tais como, a diferença no nível educacional ou na idade do casal..

(22) 21. doméstico. Gronau (1977) argumentou que esses dois elementos não poderiam ser agrupados em uma única variável (tempo de não-mercado) haja vista que eles não satisfazem as suposições básicas para a justificativa teórica de agrupamento que são: (a) reação similar a mudanças no ambiente sócio-econômico, e (b) conformidade com as características de insumo composto (preço relativo constante). Gronau (1977) propôs uma extensão ao modelo de Becker incorporando explicitamente o tempo como um insumo na produção de bens e serviços consumidos no domicílio. Esse modelo ficou conhecido como o modelo de BeckerGronau ou modelo neoclássico de produção no domicílio e deu uma contribuição fundamental ao dissociar o trabalho doméstico do lazer, permitindo análises mais apuradas sobre esses temas. Neste estudo, Gronau confirma diversos fatos estilizados sobre trabalho e família. Ele mostra, por exemplo, que mudanças no ambiente socioeconômico, tais como, rendimento, educação e o número de filhos têm diferentes efeitos sobre a alocação do tempo dos casais. O autor mostra que um aumento da taxa salarial da esposa provoca um aumento na sua oferta de trabalho e conseqüente redução do tempo dedicado às tarefas domésticas e lazer. Por outro lado uma mudança no rendimento da mulher não afeta a oferta de trabalho dos maridos, porém se a mudança é na taxa salarial do marido, ocorre um aumento na oferta de trabalho do mesmo e redução na oferta de trabalho da esposa. Este autor conclui também que a presença de filhos induz a mãe a transferir seu tempo no mercado de trabalho para atividades domésticas. Como essa transferência de tempo ainda é insuficiente para o cuidado dos filhos, a mãe também reduz suas horas de lazer. Em relação aos pais, o principal efeito da presença de filhos é o aumento do tempo dedicado às tarefas domésticas (principalmente para pais com maior nível educacional) e também da oferta de trabalho. Nos dias atuais a abordagem econômica neoclássica para modelar comportamento familiar é referida na literatura como modelo unitário ou do “ditador benevolente” por permitir a análise do ponto de vista apenas de um indivíduo representativo. Logo, a maior implicação do modelo unitário é que a distribuição dos rendimentos não provenientes do salário entre os membros do domicílio não importa, somente a renda total da família vai determinar o consumo de bens e lazer. Na prática isso significa que o que importa para certas políticas sociais, tais como programas de transferências de renda, é a quantidade de renda que o domicílio recebe e não a identidade do indivíduo que é focalizado pelo programa. Isto é conveniente do ponto de vista técnico, mas a viabilização no contexto familiar tem recebido críticas teóricas de diversos autores, cujos argumentos recaem em dois pontos: (i) ao tratar a família como agente representativo, a representação unitária violaria o princípio individualista da moderna teoria microeconômica que estabelece que cada indivíduo deva ser caracterizado.

(23) 22. por suas próprias preferências, e (ii) ao considerar a família como um todo, o modelo unitário não permite o surgimento de qualquer questão intradomiciliar que possa ter efeito significante sobre o bem estar de um membro individual. Do ponto de vista empírico, diversos estudos têm rejeitado a hipótese de renda agrupada (Por exemplo, Schultz (1990) com dados da Tailândia e Thomas (1990) com dados do Brasil). As críticas impulsionaram o desenvolvimento de diversos modelos alternativos, como os. modelos. de. barganha. não-cooperativos. (ASHWORTH;. ULPH,. 1981. (apud. VERMELEUN, 2002); LOMMERUD, 1997; LUNDBERG; POLLAK, 1994; BROWNING, 2000), que utilizam o conceito padrão de equilíbrio de Nash de jogos não-cooperativos e assumem que cada membro do domicílio maximiza sua própria utilidade, considerando o comportamento dos demais membros da família como dado. A crítica que recai sobre esses modelos advém do fato de que o equilíbrio de Nash não precisa ser eficiente de Pareto em um contexto não-cooperativo. Esse modelo portanto, não parece apropriado para analisar comportamento familiar, pois a eficiência de Pareto é aparentemente uma propriedade natural para decisões a nível familiar, assumindo-se que haja informação perfeita entre os membros do domicílio. Outra abordagem desenvolvida são os modelos de barganha cooperativos (McELROY; HORNEY, 1981; MANSER; BROWN, 1980; LUNDBERG; POLLAK, 1993) nos quais os membros do domicílio são os agentes que tentam entrar em acordo sobre como dividir os ganhos de cooperação (ganhos de morar junto). Dependendo do poder de barganha do indivíduo dentro da família, uma alocação intradomiciliar eficiente de Pareto pode ser obtida. Vários conceitos de equilíbrios (Nash, ditatorial) podem ser aplicados, impondo uma estrutura específica sobre o comportamento familiar observado. De acordo com Tiefenthaler (1999), nos modelos de barganha de Nash, se um dos membros do domicílio recebe um aumento nos rendimentos de outras fontes que não o salário, isso vai implicar no aumento do seu poder de barganha no domicílio. Porém, Vermeulen (2002) afirmou que, ao escolher um conceito de barganha específico, se as implicações empíricas são rejeitadas é impossível determinar se é a escolha particular por si só que está sendo rejeitada ou se é o contexto de barganha como um todo. Uma terceira abordagem, que é considerada atualmente a ferramenta padrão para análise do comportamento domiciliar, é o modelo coletivo (CHIAPPORI, 1988; APPS; REES, 1988), que parte das suposições de que o indivíduo é a unidade de decisão básica, representado por suas próprias preferências e decisões conjuntas levam a um equilíbrio eficiente de Pareto. A família é descrita como um grupo de dois indivíduos com preferências.

(24) 23. racionais potencialmente diferentes. O casal interage entre si ao tomar decisões através de um processo exógeno não observável que produz uma alocação eficiente de Pareto. As preferências da família, representadas por uma função de bem-estar social, podem ser entendidas como uma espécie de soma ponderada das preferências individuais, na qual os pesos individuais representam o poder de barganha dos membros da família. Essas preferências podem sofrer alterações de acordo com mudanças nos preços, nos salários ou no rendimento da família proveniente de outras fontes que não o salário. Entretanto, outros fatores podem afetar o processo de alocação intrafamiliar, tais como o rendimento individual de outras fontes. Um aumento nesse rendimento individual pode mudar o poder de barganha de um indivíduo para o outro trazendo conseqüências para a alocação do consumo familiar e oferta de trabalho. Bourguignon et al. (1994) denominaram esses fatores que podem influenciar o processo de alocação familiar de fatores de distribuição. Outros exemplos de fatores de distribuição são: mudanças na Lei de divórcio e na legislação sobre os direitos à pensão alimentícia, que podem afetar as oportunidades de saída do relacionamento de membros do domicílio melhorando o seu poder de barganha intrafamiliar. Os fatores de distribuição fazem um papel muito importante para a identificação do modelo estrutural, porém ainda é necessário impor condições adicionais sobre o processo de decisão intrafamiliar para a completa identificação do modelo. Chiappori (1988) assumiu que os indivíduos possuem preferências “egoístas”, ou seja, cada indivíduo toma sua decisão levando em consideração apenas o próprio consumo e lazer. Com essa suposição e aplicando o segundo teorema do bem estar, Chiappori (1992) mostrou que o programa de alocação eficiente de Pareto pode ser reescrito usando uma função denominada “regra de compartilhamento”. Essa função descreve de que forma o rendimento de outras fontes está dividido e é utilizada na identificação das preferências individuais e o processo de alocação intradomiciliar. A regra de compartilhamento é função dos preços exógenos, dos salários, do rendimento de outras fontes e dos fatores de distribuição. Com base no trabalho seminal de Chiappori (1988, 1992), foram desenvolvidas diversas extensões do modelo coletivo para analisar aspectos relevantes relacionados às decisões sobre oferta de trabalho da família. Chiappori et al. (2002) e Chiappori e Ekeland (2002) incluíram bens de consumo público. Donni (2003) e Blundell et al (2001) consideram as decisões de não participação e conjuntos orçamentários não-convexos. Chiappori et al. (2002) derivaram condições para a recuperação parcial das preferências individuais e para a determinação de uma regra da partilha do rendimento de outras fontes da família entre os cônjuges..

(25) 24. Uma das fragilidades do modelo coletivo de oferta de trabalho, conforme a formulação original de Chiappori (1988, 1992), é que este não considera a produção domiciliar, o que implica que todo o tempo não utilizado no mercado de trabalho é interpretado como lazer. Procurando preencher essa lacuna, Chiappori (1997) e Apps e Rees (1997) formularam o desenvolvimento teórico do modelo coletivo de oferta de trabalho e produção doméstica. Porém a implementação do modelo assume diversas restrições, difíceis de testar por causa da necessidade de dados sobre consumos individuais geralmente não coletados em pesquisas sobre trabalho (FERNÁNDEZ-VAL, 2003), sendo, portanto raras as aplicações baseadas nesse modelo. A extensão do modelo coletivo proposta por Chappori et al. (2002) fornecerá a base teórica para a estimação da oferta de trabalho dos casais neste trabalho e sua estrutura será detalhada a seguir. 2.3. Modelo Coletivo Na abordagem coletiva, a família é composta por dois indivíduos, com preferências racionais potencialmente diferentes. Os membros do casal interagem entre si ao tomar decisões através de um determinado processo exógeno não-observável, que produz uma resposta eficiente de Pareto. As preferências da família são representadas, na versão padrão do modelo coletivo, por uma soma ponderada das preferências individuais do casal que por sua vez são caracterizadas por funções de utilidade que são estritamente quase-côncavas, crescentes, contínuas e diferenciáveis, Ui(1 – h1, c1, 1 – h2, c2), onde i = 1, 2, representam os membros do casal. Nas utilidades individuais, hi denota a oferta de trabalho de cada membro do casal i, ci o consumo individual de um bem privado hicksiano que se assume ter preço unitário. Desse modo o comportamento da família pode ser representado pelo seguinte problema:. Max W = μU 1 + (1 − μ )U 2 2 1 2. {c ,c 1. ,h ,h. }. sujeito a. (2.1). w1 h1 + w2 h 2 + y ≥ c1 + c 2. 0 ≤ hi ≤ 1. i = 1,2,. onde μ é um fator de ponderação, wi e y são variáveis exógenas que representam os salários e os rendimentos da família provenientes de outras fontes, respectivamente, e o preço do bem.

(26) 25. de consumo privado está normalizado, sendo seu valor igual a 1. Assume-se na estrutura coletiva que o fator de ponderação, μ ∈ [0,1], é função de variáveis que afetam o poder de barganha de cada membro da família: dos salários individuais, w1 e w2, e dos rendimentos da família provenientes de outras fontes, y. Considerando que o modelo geral não deverá ter identificação única a menos que sejam feitas suposições adicionais sobre o processo de decisão intrafamiliar, Chiappori (1988) assumiu adicionalmente que as preferências individuais são, ou “egoístas” ou “altruístas” à la Becker. Se os indivíduos são egoístas, eles estão preocupados somente com o seu próprio consumo e lazer, mudanças no consumo do outro membro do domicílio não afetam o seu bem-estar. Se as preferências são altruístas, ao contrário, o indivíduo não se preocupa somente com suas variáveis de decisão, ele cuida também do bem-estar do cônjuge. Sob a suposição de que as preferências individuais são egoístas, Chiappori (1992) mostrou que o processo de decisão intrafamiliar implicado pela eficiência de Pareto pode ser interpretado em dois estágios. No primeiro, os membros do casal dividem o rendimento de outras fontes de acordo com uma “regra de compartilhamento” não observável que reflete o poder de barganha de cada membro do casal. A regra de compartilhamento, φ, é uma função que depende dos salários, wi, do rendimento de outras fontes, y e dos fatores de distribuição, s. No estágio seguinte cada membro i do domicílio (i = 1,2) resolve o seu próprio problema de maximização:. (. Max U i 1 − hi , c i i i. {c , h }. ). sujeito a. (2.2). wi hi + φ i ≥ c i. 0 ≤ hi ≤ 1 onde φ1 = φ, φ2 = y − φ e 0 ≤ φ ≤ y. A interpretação do processo de decisão intrafamiliar nesse contexto nada mais é que uma aplicação do Segundo Teorema Fundamental do bem-estar, que estabelece que, na ausência de externalidades, qualquer alocação eficiente de Pareto pode ser alcançada através de um equilíbrio competitivo determinado por uma distribuição de riqueza apropriada (representada pela regra de compartilhamento). Formalmente, Chiappori (1992) provou que, sob a hipótese de preferências egoístas, a regra de compartilhamento φ (wh, wm, y) existe e os problemas (2.1) e (2.2) são equivalentes. Este autor mostrou ainda que, sob a suposição de preferências egoístas, o modelo pode ser.

(27) 26. identificado. Porém, a identificação requer derivadas parciais de segunda ordem das ofertas de trabalho individuais, e nem sempre é possível derivar tais restrições. Os fatores de distribuição foram incorporados por Chiappori et al. (2002) que acrescentaram também o vetor de características individuais, z (tais como idade, educação, número de filhos, etc), ao modelo coletivo de oferta de trabalho apresentado em Chiappori (1992). O termo fator de distribuição é usado na literatura para representar variáveis que têm influência sobre o comportamento familiar através de seus efeitos sobre o processo de decisão intrafamiliar, mas não afeta nem as preferências individuais nem a restrição orçamentária do domicílio. Essas variáveis fazem um papel muito importante na identificação do modelo estrutural e na derivação de restrições testáveis no âmbito familiar. Bourguignon et al. (1995) mostraram que, para ser possível derivar identificações testáveis no contexto paramétrico são necessários no mínimo dois fatores de distribuição. Eles mostraram que essa extensão produz um método mais simples e robusto de obter identificação e de derivar condições testáveis baseadas nas derivadas parciais de primeira e segunda ordem das ofertas de trabalho individuais. Adicionalmente eles mostraram que é necessário apenas um fator de distribuição para obter os resultados de identificação do modelo sob preferências egoístas. Assumindo solução interior, Chiappori et al. (2002) mostraram que, sob certas condições de regularidade, as equações de oferta de trabalho no contexto coletivo são dadas pelas seguintes expressões: h1 = H 1 (w1 ,φ (w1 , w2 , y, s, z ), z ). (2.3). h 2 = H 2 (w2 , y − φ (w1 , w2 , y, s, z ), z ). (2.4). onde Hi, i = 1, 2, são as funções de oferta de trabalho Marshallianas resultantes do problema de maximização do segundo estágio. A estrutura das equações (2.3) e (2.4) impõe restrições testáveis sobre o comportamento da oferta de trabalho, o que permite a recuperação parcial da regra de compartilhamento φ. Intuitivamente, uma mudança na taxa salarial do esposo pode ter um efeito renda sobre o comportamento da sua esposa somente através do seu efeito sobre a regra de compartilhamento φ, do mesmo modo que o rendimento de outras fontes e os fatores de distribuição. Sendo assim, o impacto dessas variáveis (salário, rendimento de outras fontes e fator de distribuição) sobre o comportamento da oferta de trabalho do marido possibilita a estimação da taxa de substituição marginal entre a taxa salarial da esposa e o rendimento de.

(28) 27. outras fontes, bem como entre o fator de distribuição e o rendimento de outras fontes na regra de compartilhamento. Tecnicamente, são geradas duas equações que envolvem os correspondentes parciais da regra de compartilhamento. Usando o mesmo argumento em relação ao comportamento da esposa, obtêm-se mais duas equações. Essas quatro equações servirão para identificar as quatro derivadas parciais da regra de compartilhamento (com respeito ao salário de cada um dos membros do casal, rendimento de outras fontes e fatores de distribuição). Formalmente, Chiappori et al. (2002) definiram, a partir das equações (2.3) e (2.4), as razões:. A = hw1 2 h1y , B = hw21 h y2 , C = hs1 h1y , D = hs2 h y2 , ∀. h1y ⋅ h y2 ≠ 0. Todas essas. variáveis utilizadas são observáveis e podem, portanto, ser estimadas. Então, em sua Proposição 3, Chiappori et al. (2002) mostram que os seguintes resultados são válidos: (i) se existe exatamente um fator de distribuição s tal que C ≠ D, para que qualquer par (h1, h2) seja a solução do problema de maximização (2.2). (. Max U i 1 − hi , ci , z i i. {c ,h }. ). sujeito a. (2.5). wi h i + φ i ≥ c i 0 ≤ hi ≤ 1 onde φ1 = φ e φ2 = y − φ, então as seguintes condições são necessárias para alguma regra de compartilhamento φ: ∂ ⎛ D ⎞ ∂ ⎛ CD ⎞ ⎜ ⎟= ⎜ ⎟, ∂s ⎝ D − C ⎠ ∂y ⎝ D − C ⎠. (2.6a). ∂ ⎛ D ⎞ ∂ ⎛ BC ⎞ ⎜ ⎟= ⎜ ⎟, ∂w1 ⎝ D − C ⎠ ∂y ⎝ D − C ⎠. (2.6b). ∂ ⎛ D ⎞ ∂ ⎛ AD ⎞ ⎜ ⎟= ⎜ ⎟, ∂w2 ⎝ D − C ⎠ ∂y ⎝ D − C ⎠. (2.6c). ∂ ⎛ CD ⎞ ∂ ⎛ BC ⎞ ⎜ ⎟= ⎜ ⎟, ∂w1 ⎝ D − C ⎠ ∂s ⎝ D − C ⎠. (2.6d). ∂ ∂w2. (2.6e). ⎛ CD ⎞ ∂ ⎛ AD ⎞ ⎜ ⎟= ⎜ ⎟, ⎝ D − C ⎠ ∂s ⎝ D − C ⎠.

(29) 28. ∂ ⎛ BC ⎞ ∂ ⎛ AD ⎞ ⎜ ⎟= ⎜ ⎟, ∂w2 ⎝ D − C ⎠ ∂w1 ⎝ D − C ⎠. (2.6f). BC ⎞⎛ D − C ⎞ ⎛ hw11 − h1y ⎜ h1 + ⎟⎜ ⎟ ≥ 0, D − C ⎠⎝ D ⎠ ⎝. (2.6g). AD ⎞⎛ D − C ⎞ ⎛ hw22 − h y2 ⎜ h 2 − ⎟⎜ − ⎟ ≥ 0. D − C ⎠⎝ C ⎠ ⎝. (2.6h). e. (ii) Assumindo que as condições (2.6a) – (2.6h) sejam satisfeitas para um dado vetor de características, z, as derivadas parciais da regra de compartilhamento com respeito aos salários, rendimento de outras fontes e fator de distribuição, serão dadas por:. φy =. D , D−C. φs =. CD , D−C. φw =. BC , D−C. φw =. AD , D−C. 1. 2. Desse modo a regra de compartilhamento poderá ser definida a menos de uma função aditiva k(z), que depende somente do vetor z. De acordo com Chiappori et al. (2002), a estimação e os testes das condições (2.6a) – (2.6h) tornam-se mais fáceis se for considerada uma forma funcional particular para o modelo. A próxima seção apresenta uma representação específica do sistema de equações de oferta de trabalho que permitirá testar as restrições impostas pela estrutura do modelo coletivo sobre as ofertas de trabalho observadas. 2.4. Especificação do modelo. A estimação do modelo coletivo requer a especificação de uma forma funcional para as funções de oferta de trabalho individuais. Chiappori et al. (2002) propuseram a seguinte forma semi-logaritmica:.

(30) 29. h1 = α 0 + α 1 log w1 + α 2 log w2 + α 3 y + α 4 log w1 log w2 + α 5 s1 + α 6 s 2 + α '7 z. (2.7). h 2 = β 0 + β1 log w1 + β 2 log w2 + β 3 y + β 4 log w1 log w2 + β 5 s1 + β 6 s 2 + β '7 z. (2.8). onde (2.7) representa a oferta de trabalho da mulher e (2.8) a oferta de trabalho do marido. Nessas equações, w1 e w2 representam os salários da mulher e do marido respectivamente, y, o rendimento proveniente de outras fontes distintas do salário, si (i = 1, 2) os fatores de distribuição e z um vetor de características individuais. Os termos αi e βi, para i = 0,...,6 são escalares e α '7 e β '7 são vetores de ordem k dos parâmetros. Usando as definições de A, B, C e D, as restrições impostas pelo modelo coletivo podem então ser derivadas para a forma semi-logaritmica. A=. α 2 + α 4 log w1 w2α 3. B=. β 2 + β 4 log w2 w1 β 3. C1 =. α5 α3. C2 =. α6 α3. D1 =. β5 e β3. D2 =. β6 β3. A condição C ≠ D vai sempre ser satisfeita, a menos que β 3 α 3 = β 5 α 5 , o que é improvável de ocorrer no contexto coletivo. Isso pode ser verificado ao notar que. β 3 α 3 representa a razão dos efeitos renda sobre as ofertas de trabalho individuais e, assumindo o lazer como um bem normal para o casal e que um aumento no rendimento de outras fontes será compartilhado pelo casal, essa razão será positiva. Por outro lado,. β 5 α 5 representa a razão dos efeitos do fator de distribuição sobre as oferta de trabalho e como, por definição, qualquer fator de distribuição afeta o compartilhamento do rendimento de outras fontes do marido e da mulher em direções opostas, a razão precisa ser negativa..

(31) 30. Considerando válida a diferença entre C e D e aplicando as condições (2.6a) – (2.6h), no sistema irrestrito (2.7) e (2.8), há somente uma restrição paramétrica que é dada pela expressão:. α4 α5 = β4 β5. (2.9). O sistema de equações (2.7) e (2.8), estando na forma irrestrita, possibilita a imposição de um conjunto de restrições relativas ao modelo coletivo que podem ser empiricamente testadas. Caso as restrições coletivas sejam satisfeitas, é possível recuperar em parte a regra de compartilhamento (a menos de uma função aditiva, k(z)) 2.5. Estrutura econométrica 2.5.1. Fatores de distribuição Diversos fatores podem influenciar o comportamento intradomiciliar. Alguns têm impacto direto sobre a restrição orçamentária e as preferências, tais como aumento de salários e mudança nos preços de bens de consumo, que podem provocar mudanças na demanda e/ou na oferta de trabalho da família pelo fato de que modificam o conjunto de opções disponível. Por outro lado, há fatores exógenos que influenciam o comportamento familiar, porém, sem afetar as preferências individuais ou a restrição orçamentária do domicílio. Tais variáveis, denominadas por Bourguignon, Browning e Chiappori (1995) de fatores de distribuição, caracterizam-se por mudar o poder de barganha de um dos membros do casal para seu/sua esposo(a), alterando assim as decisões do domicílio sobre consumo e lazer. Os fatores de distribuição têm um papel fundamental na identificação do modelo estrutural e na derivação de restrições testáveis no contexto coletivo e fornecem ainda um meio adicional de decidir entre o modelo unitário e o coletivo, uma vez que a estrutura do modelo unitário impõe que a oferta de trabalho seja independente de quaisquer fatores de distribuição. Desse modo a significância dessas variáveis e o efeito contrário nas equações de oferta de trabalho dos cônjuges contrariam a adequação do modelo unitário. De acordo com Chiappori et al. (2002), os melhores candidatos a fatores de distribuição são as variáveis que representam as condições sobre o mercado conjugal, ou seja, situações que afetam as oportunidades dos cônjuges de sair do casamento atual, tais como a.

(32) 31. razão de gênero e a legislação sobre divórcio no estado de residência 4 . No entanto Weiss (2005) argumenta que diversos fatores podem influenciar o poder de barganha tais como, atributos individuais como a capacidade de obter bons rendimentos ou subjetivos como aversão ao risco. Por outro lado, Browning et al. (2004) afirmam que variáveis relacionadas a rendimentos são importantes fatores de distribuição considerando que elas podem ser alteradas por políticas governamentais, o que caracterizaria a exogeneidade, mas que devem ser considerados também outros tipos de fatores de distribuição tais como a razão de gênero, legislação sobre divórcio e ainda a diferença entre idade e educação dos cônjuges. Porém, não é fácil na prática encontrar variáveis que representem fatores de distribuição, principalmente que contemple o requisito de exogeneidade. Dentre as que já foram utilizadas na literatura empírica destacam-se a razão de gênero (sex-ratio), utilizada por Chiappori et al. (2002), Rapoport, Sofer e Solaz (2003), Aronsson et al. (2001), e legislação sobre divórcio, que mede o quanto a legislação sobre divórcio é favorável às mulheres (CHIAPPORI et al.,2002). Outros exemplos de fatores de distribuição incluem o rendimento individual de outras fontes (THOMAS, 1990), benefícios sociais (RUBACALVA; THOMAS, 2000), diferença no nível educacional do casal (CRESPO, 2005) e diferença de idade do casal (BROWNING et al., 1994). 5 Neste trabalho serão utilizadas como fatores de distribuição as diferenças entre os níveis educacionais e as idades dos cônjuges, s1 e s2, respectivamente. Considera-se aqui que estas diferenças podem influenciar o processo de decisão intrafamiliar através de seu impacto sobre o poder de barganha individual. Embora o nível de educação seja um fator de preferência e, portanto, é uma variável explicativa nas equações de oferta de trabalho individuais, o nível de educação do seu cônjuge não é. Desse modo, a diferença entre os níveis educacionais do casal pode afetar o processo de decisão intrafamiliar, mas não as preferências individuais. Por outro lado, para que esta variável tenha validade como fator de distribuição, s1, como ela é crescente com o nível educacional do marido, ela precisa afetar a oferta de trabalho do homem negativamente e a oferta de trabalho da mulher positivamente. Intuitivamente, quando s1 aumenta, o nível educacional do marido aumenta em relação ao nível da sua esposa. Com isso cresce o poder relativo de decisão intrafamiliar do marido o que vai implicar que ele vai poder ter maior controle sobre os rendimentos de outras fontes do domicílio. E isso vai levar o marido a reduzir suas horas de trabalho como resultado do efeito 4. Explora a diferença de legislação entre os diversos distritos nos Estados Unidos. Para o caso brasileiro, Fernandes e Scorzafave (2007) utilizaram como fatores de distribuição, a razão de gênero e ‘participação em divórcios” que exprime para cada estado da federação o quociente entre o número de divórcios requeridos pela mulher e o número total de separações não-consensuais.. 5.

Referências

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