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Granfluencers: da velhice à senioridade digital

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Academic year: 2021

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MESTRADO

MULTIMÉDIA - ESPECIALIZAÇÃO EM CULTURA E ARTES

GRANFLUENCERS: DA VELHICE À

SENIORIDADE DIGITAL

Thiago Henrique Campos

Orientador: Heitor Manuel Pereira

Pinto da Cunha e Alvelos

M

2020

FACULDADES PARTICIPANTES: FACULDADE DE ENGENHARIA FACULDADE DE BELAS ARTES FACULDADE DE CIÊNCIAS FACULDADE DE ECONOMIA FACULDADE DE LETRAS

(2)

A cultura desenvolve-se e, graças a ela, as pessoas idosas podem adquirir uma grande influência. (Beauvoir, 2018, p.32)

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(4)

Agradecimentos

Fica registrada a imensa gratidão por aqueles que deram apoio imprescindível à concretização desta dissertação:

Dr. Heitor Manuel Pereira Pinto da Cunha e Alvelos — Orientador e Professor de Arte e Comunicação Multimédia.

Dr. Jorge Manuel Gomes Barbosa — Diretor do Mestrado.

Dra. Maria Teresa Magalhães da Silva Pinto de Andrade — Diretora Adjunta do Mestrado. Marisa Isabel Magalhães Brandão Silva — Secretária do Departamento de Engenharia Informática.

Dra. Soraia Alexandra Mesquita Ferreira — Professora de Seminário Multimédia e Narrativas Interativas.

Luciano José Santos Reis Moreira — Professor de Metodologias de Investigação.

Agradecimento especial,

Aos amigos: Raul Dornelles , Dona Ana Fontes, Jairo Ribeiro e Danillo Costa.

Aos amigos e antigos professores: Dr. Carlos Pereira Gonçalves, Dr. Haroutune Armenian, Dra. Maria Carolina Garcia, Dra. Márcia Siqueira Costa Marques e Mestre Tiago Augusto Franco de Vasconcelos Souza.

A minha psicóloga Dra. Ana Rita Silva Começanha.

E, principalmente, aos meus pais: José Antonio Campos e Rosa Maria Campos.

(5)

Resumo

A presente investigação é motivada a compreender o idoso como integrante ativo no

ciberespaço. Tratam-se das pessoas com idade a partir de 65 anos que atuam

como influenciadores nas redes sociais digitais, denominados Granfluencers. Para

tal, foram selecionados dois perfis do Instagram para estudos de casos: Baddie

Winkle e Iris Apfel.

O objetivo principal deste trabalho é demonstrar que a trajetória rumo à senioridade

digital destes agentes representam o emergir de uma nova cultura no âmbito da

cibercultura. Especificamente, procurou-se averiguar se as Granfluencers são

formadoras de opinião, se exercem influência intergeracional e quais são seus

posicionamentos no contexto da pandemia (Covid-19) e do despertar dos

movimentos antirracistas. Para tanto, foi escolhido como método a Análise Temática

(Braun e Clarke, 2006), tendo a pesquisa um carácter essencialmente qualitativo.

Foram codificados 95 posts com a utilização do software MAXQDA 2020. Deste

processo emergiram 6 principais temas: autenticidade, disrupção, formação de

opinião, intergeracionalidade, idolatria e marketing digital. A análise avançada de

tais pilares fundamentais da presença das Granfluencers no espaço digital indica

que elas possuem autenticidade, autoridade e credibilidade. Para além disso,

estimulam a intergeracionalidade, bem como influenciam o pensamento, o

comportamento e o consumo de diversas faixas etárias.

É possível considerar a tese de que as Granfluencers estão a contribuir para a

contínua construção de uma sociedade digital mais diversa e inclusiva.

Palavras-chave: cibercultura; senioridade digital; análise temática, influenciadores

digitais.

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Abstract

This investigation is motivated to understand the elderly as an active member in

cyberspace. People aged 65 and over who act as influencers in digital social media,

called Granfluencers. To this end, two Instagram profiles were selected for case

studies: Baddie Winkle and Iris Apfel. The main objective of this work is to

demonstrate that the trajectory towards the digital seniority of these agents

represents the emergence of a new culture within the scope of cyberculture.

Specifically, we sought to ascertain whether Granfluencers act as opinion makers,

whether they exercise intergenerational influence and what are their positions in the

context of the pandemic (Covid-19) and the awakening of anti-racist movements. For

that, Thematic Analysis (Braun and Clarke, 2006) was chosen as the method , in an

essentially qualitative research. 95 posts were coded using the MAXQDA 2020

software. From this process, 6 main themes emerged: authenticity, disruption,

opinion formation, intergenerationality, idolatry and digital marketing. The advanced

analysis of such fundamental pillars of the presence of Granfluencers in the digital

space indicates that they have authenticity, authority and credibility. In addition, they

stimulate intergenerationality, as well as they influence the thinking, the behavior and

the consumption of different age groups. It is possible to consider the thesis that

Granfluencers are contributing to the continuous construction of a more diverse and

inclusive digital society.

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Índice

Introdução 1 Enquadramento e Contextualização 1 Motivação 4 Problema 4 Objetivos 5 Estrutura 6 Metodologia 7 Estado da Arte 9 Culturas 9 Cultura Digital 9 Cibercultura 11 Contracultura 13 Contracultura Digital 14 Subcultura 17 Influencers 19 Granfluencer 24 Análise exploratória 27

Conclusões sobre o Estado da Arte 29

Análise Temática 30

Exploração dos Dados 30

Software de Análise de Conteúdo 31

Codificação Inicial 32

Codificação Avançada 33

Tematização Inicial 35

Tematização Avançada 37

Relatório Analítico dos Temas 39

Autenticidade (Influência do Comportamento Social) 40

Disrupção (Influência do Comportamento Social) 47

Formadores de Opinião (Influência do Pensamento) 55

Intergeracionalidade (Influência do Pensamento) 62

Divas (Influência do Comportamento de Consumo) 66

Marketing Digital 72

Pandemia (Covid-19) 78

Movimentos antirracismo 81

Considerações finais da Análise Temática 87

Conclusão 90

Referências 96

(8)

Apêndice II — Lista de Figuras 100

(9)

1. Introdução

1.1.

Enquadramento e Contextualização

“We appreciate that older persons are not a homogenous group, but diverse in their needs, preferences, and opportunities throughout their life course.” (United Nations Economic Commission for Europe, 2017, preamble)

A presente pesquisa é realizada no âmbito do programa de Mestrado em Multimédia da Universidade do Porto. A dissertação, fruto deste trabalho científico, é pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Multimédia, com especialização em Cultura e Artes.

Contemporânea a esta investigação, a população idosa cresce a passos largos no 1 mundo. De acordo com o relatório “World Population Ageing 2019” (United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division), as pessoas com 65 anos ou mais já eram 702 milhões, representando 9% da população global. As projeções apontam que em 2050 os idosos serão 1.5 bilhão de pessoas, passando então a representar 16% do total da população. O mesmo documento narra este como um momento histórico de mudanças na expectativa de vida humana:

Population ageing is a human success story, a reason to celebrate the triumph of public health, medical advancements, and economic and social development over diseases, injuries and early deaths that have limited human life spans throughout history. (United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division, 2019, p. 3)

De acordo com o filósofo francês Gilles Lipovetsky (2015), há crescente busca das pessoas por longevidade. O avanço opulente da população idosa é uma das mais evidentes tendências, como também aponta o texto do relatório:

1 O mais recente relatório sobre envelhecimento das Nações Unidas — supracitado — considera

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All societies in the world are in the midst of this longevity revolution [...] all will pass through this extraordinary transition, in which the chance of surviving to age 65 rises from less than 50 to more than 90 per cent at present in countries with the highest life expectancy. What is more, the proportion of adult life spent beyond age 65 increased from less than a fifth in the 1960s to a quarter or more in most developed countries today. (United Nations, Department of Economic and Social Affairs, Population Division, 2019, p. iii)

Tal representação dos idosos também é transladada para o contexto da cultura digital, uma vez que a sua presença online já demonstra ser consideravelmente relevante. Em um estudo acerca do uso da internet nos Estados Unidos, revelou-se que 67% dos americanos com idade acima dos 65 anos acessam a internet (Pew Research Center, 2017). O estudo demonstrou ainda que aproximadamente 35% desses idosos acessam as redes sociais digitais. Em uma publicação anual sobre tendências da internet , grupos2 minoritários figuram como destaque em poder de influência.

Não obstante, existe uma real preocupação das instituições da sociedade com a participação deste idoso ​hipermoderno em um mundo que vive a expansão de uma cultura digital. Em “The Age of Digital Interdependence”, outro relatório das Nações Unidas, as pessoas idosas aparecem como um dos grupos focais destas ações de inclusão digital:

We live in an era of increasing interdependence and accelerating change, much of it driven by technological advances such as low-cost computing, the internet and mobile connectivity. Moments of change present new opportunities to solve old problems. The efficiency, innovation, and speed of a digitally connected world can expand what is possible for everyone – including those who historically have been marginalised. [...] Even where getting online is possible and affordable, extra efforts are needed to empower

2 Trata-se de um amplo estudo realizado com a coleta de dados de agências governamentais e

não-governamentais, concebido em conjunto por sites especializados em internet. Resultando em um relatório anual. Disponível em: https://wearesocial.com/global-digital-report-2019.

(11)

groups that are discriminated against and excluded. For example, digital technologies are often not easily accessible for elderly people [...] (United Nations, Secretary-General’s High-level Panel on Digital Cooperation, 2019, p. 3)

Portugal recebeu em 2017 a Conferência Ministerial sobre o Envelhecimento. Deste encontro entre representantes de governos de 55 países, resultou uma declaração onde se assume compromissos para com esta população, dos quais pode se destacar o seguinte:

[…]​promoting a positive image of older persons, acknowledging their contributions to society and strengthening multigenerational discourse and intergenerational learning by all stakeholders, cultivating a life-course perspective in education, the media and other areas to promote better understanding of individual and societal ageing and the opportunities it presents. (United Nations, Economic Commission for Europe, 2017, p. 4)

Hodiernamente, a sociedade hipermoderna atravessa um turbilhão de transformações socioculturais que conclamam a humanidade a repensar o estilo de vida, especialmente no tocante a coletividade. Vive-se o ápice da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e o despertar dos movimentos antirracistas nos Estados Unidos da América, que reverberam com magnitude global.

(12)

1.2.

Motivação

As pessoas idosas também são actores e as acções que empreendem agora no virar do milénio terão uma profunda influência nos papéis a assumir na aurora do novo milénio.” (Neto, 2004, p. 298)

Compreender o idoso exige ir além de conceituar o termo ou rotulá-lo dentro dos limites de faixas etárias. É imprescindível concebê-lo no espaço virtual e identificá-lo no tempo e espaço, ou seja, estudá-lo como integrante de uma cultura digital em evolução.

Assim, urge aos académicos e profissionais que se dedicam aos novos media, voltar a atenção para as temáticas que envolvam este ​novo velho,ainda pouco investigadas no campo da multimédia. Para isto, cabe a este estudo evidenciar a importância e o potencial deste tema do ponto de vista social e mercadológico.

1.3.

Problema

“[...] as quatro objeções feitas à velhice: que afasta homens dos negócios, que enfraquece o corpo, que suprime todos os prazeres da vida, que se encontra perto da morte.” (Cícero, 2009, p. 9)

Diferente das gerações mais jovens, que são nativas da cultura digital, estes idosos são indivíduos imigrantes neste espaço:

On the most rudimentary level there is simply terror of feeling like an immigrant in a place where your children are natives--where you're always going to be behind the 8-ball because they can develop the technology faster than you can learn it. (Rushkoff, 1994, p. 1)

(13)

Não obstante, estes idosos atuam como influenciadores dotados de autoridade nas redes sociais digitais, onde constituem uma comunidade ao seu redor. Trata-se de idosos que adquiriram um elevado nível de literacia digital e despontam como uma elite dentro deste grupo de pessoas.

Aventa-se então a tese de que estes influenciadores idosos representam o emergir de uma nova cultura, inserida no contexto da cultura digital.

1.4.

Objetivos

“[...] recordemos este princípio fundamental: quanto mais se restringe o campo, melhor se trabalha, e com maior segurança.” (Eco, 2007, p. 39)

Isto posto, é objetivo primário desta pesquisa percorrer a trajetória rumo à

senioridade digital da elite desta suposta nova cultura - demonstrando assim que pessoas idosas estão a romper com o conceito de velhice, ao migrar do analógico para o digital. ​Conseguinte, são objetivos específicos desta pesquisa:

● Indicar se estes influenciadores idosos atuam como formadores de opinião, a promover mudanças de pensamento, comportamento e direcionar preferências de consumo;

● Constatar se tal influência abrange outros idosos e pessoas mais jovens, ou seja, se existe uma reverberação intergeracional;

● Averiguar quais são os posicionamentos ideológicos destes Granfluencers perante aos eventos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) e a insurreição dos movimentos antirracistas.

É importante ressaltar que, mediante tais objetivos, esta investigação está circunscrita ao estudo desta faixa etária específica. Portanto, não cabe nesta conjuntura fazer comparações com influenciadores mais jovens.

(14)

1.5.

Estrutura

Esta dissertação está disposta de modo que propicie o entendimento da trajetória de transformação dos conceitos e fenômenos nela discorridos, como segue:

Capítulo 1 — Introdução

Inicialmente, é dado o domínio do conhecimento no qual a dissertação está inserida, apresenta-se a temática, as razões que motivaram a pesquisa, os problemas levantados para o estudo e esta estrutura.

Capítulo 2 — Metodologias

Neste capítulo o método da pesquisa é apresentado em detalhes. São postas as razões para a escolha e faz-se um breve resumo sobre as etapas de aplicação da metodologia.

Capítulo 3 — Estado da Arte

Em um segundo momento é feita a revisão da literatura e de fenômenos que dão suporte à investigação. Estão dispostos conceitos sobre culturas e influencers, bem como é feita uma breve análise exploratória.

Capítulo 4 — Análise Temática

Trata-se da execução da pesquisa em si, cerne da investigação. São detalhadas todas fases nos seguintes subcapítulos: a) Exploração dos Dados; b) Software de Análise de conteúdo; c) Codificação Inicial; d) Codificação Avançada; e) Tematização Inicial; f) Tematização Avançada e g) Relatório Analítico dos Temas.

Capítulo 5 — Conclusão

Por fim, é feito um retrospecto de toda a investigação, culminando em considerações finais acerca do que foi investigado e faz-se menção a futuras implicações.

(15)

2. Metodologia

“Que o quadro metodológico da investigação esteja ao alcance da experiência do candidato” (Eco, 2007, p. 33)

Com o propósito de clarificar a problemática central, será feita uma pesquisa de abordagem essencialmente qualitativa (Ritchie & Lewis, 2003), tendo a Análise Temática (Braun e Clarke, 2006) como método de investigação.

A análise temática é um método para identificar, analisar e relatar padrões (temas) dentro dos dados. Ela minimamente organiza e descreve o conjunto de dados em (ricos) detalhes. No entanto, ela muitas vezes também vai mais longe do que isso, e interpreta vários aspectos do tema de pesquisa. (Braun e Clarke, 2006, p.5)

Um dos principais fatores que levam a eleição da análise temática é a sua flexibilidade. Diferentemente de outras metodologias consideradas, entre elas a Análise de Conteúdo (Bardin, 1977), “a análise temática não está ligada a um quadro teórico preexistente, e por isso pode ser usada em diferentes enquadramentos teóricos [...] e pode ser usada para fazer coisas diferentes dentro destes” (Braun e Clarke, 2006, p. 7).

Esta pesquisa empreende a análise temática com uma abordagem indutiva, ou seja, orientada pelos dados — embora, as questões de investigação estejam sempre presentes a fim de cumprir com os objetivos.

Uma vez que estas questões estão orientadas a tratar de motivações, ideologias e níveis de influência, a análise temática busca ir além dos significados explícitos, abordando o que está implícito nos dados obtidos:

Em contraste, uma análise temática ao nível latente vai além do conteúdo semântico dos dados, e começa a identificar ou examinar as ideias ​, suposições e conceitualizações - e ideologias – ​subjacentes que são

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teorizados como formatação ou informação do conteúdo semântico dos dados. (Braun e Clarke, 2006, p.11)

Esta investigação segue todas as etapas estabelecidas pela análise temática de Braun e Clarke (2006), beneficiando-se do seu alto nível de adaptabilidade: 1) Exploração dos dados; 2) Codificação inicial; 3) Codificação avançada; 4) Tematização inicial; 5) Tematização avançada; e 6) Relatório analítico dos temas.

Neste processo é utilizado o software MAXQDA 2020 , com uma licença gratuita de 3 uso por 30 dias, com todas as funções disponíveis. O programa torna as etapas de 1 à 4 mais eficientes e organizadas.

A fim de lograr os objetivos definidos, os trabalhos concentram-se na rede social Instagram . 4

3 Informações sobre o software e o seu download estão disponíveis em: https://www.maxqda.com. 4 Em vista de viabilizar um trabalho que não dispõe de tempo alargado, esta pesquisa de carácter

qualitativo estará restrita à rede social Instagram. De acordo com o mais recente relatório publicado em conjunto pela ​We Are Soci​al e ​Hootsuite’s​, o Instagram é a rede social que mais cresceu no último ano (4.5%). Disponível em: https://wearesocial.com/global-digital-report-2019.

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3. Estado da Arte

O influenciador idoso e os domínios sociais nos quais se insere são o fulcro desta pesquisa. Porquanto, antes de prosseguir com o seu desenvolvimento, é primordial dar a conhecer conceitos fundamentais que vêm sendo investigados por estudiosos. O presente estado da arte está ordenado em dois eixos temáticos, tais quais: ​Culturas (cultura digital, cibercultura, contracultura e subcultura) e Influencers (influencer e granfluencer). É também disposta uma breve análise exploratória, a fim de identificar os objetos de estudo. Para além da sustentação teórica desta investigação, identificar-se-ão possíveis lacunas a serem preenchidas.

3.1.

Culturas

“Por cultura entendo um conjunto de valores e crenças que formam o comportamento; padrões repetitivos de comportamento geram costumes que são repetidos por instituições, bem como por organizações sociais informais. Cultura é diferente de ideologia, psicologia ou representações individuais. Embora explícita, a cultura é uma construção coletiva que transcende preferências individuais, ao mesmo tempo em que influencia as práticas das pessoas no seu âmbito, neste caso os produtores/usuários da Internet.” (Castells, 2003, p. 34)

3.1.1.

Cultura Digital

O teórico dos media e professor da Universidade de Lancaster, Charlie Gere, escreve sobre o advento do digital e como essa então nova tecnologia começa a fazer parte da cultura, dando origem à cultura digital.

De acordo com Gere (2008), os primórdios da cultura digital datam do início do século passado (1930), com os trabalhos do cientista britânico Alan Turing sobre os códigos

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binários. Esta combinação de dígitos (zeros e uns) viria, na era pós-guerra, ser a base da construção das maiores invenções tecnológicas do século: os computadores e a internet.

Através da reflexão de Gere, é possível perceber que a cultura digital é o movimento central onde orbitam os discursos da Era da Informação, como a cibercultura:

This can be seen in current terminology and language, with terms such as the ‘Information Society’ and ‘Information Technology’ or the use of ‘cyber’ as a modish prefix, as in ‘Cyberculture’ or ‘Cyber- feminism’. Such usage demonstrates how deeply the ideas of the post-war cybernetic era are embedded in our current digital culture. (Gere, 2008, p. 51-52)

Gere considera a cultura digital como a origem das diversas tecnologias digitais que até hoje nos rodeiam — e não o contrário. Bem como dá o seu advento como uma evolução social:

Digital culture in its present specific form is a historically contingent phenomenon, the various components of which first emerge as a response to the exigencies of modern capitalism, and then are brought together by the demands of mid-twentieth century war- fare. (Gere, 2008, p. 18)

Assim, é possível conceber que cultura digital não é apenas a internet, a realidade virtual ou outras evoluções tecnológicas, mas todo um histórico de inovações que surge com a vinda dos códigos binários. De maneira simplista, pode-se dizer que a cultura digital é o produto de um novo tempo na evolução humana: a Era da Informação.

Quanto ao futuro da cultura digital, o autor diz que estamos a chegar em um momento no qual as tecnologias digitais dominarão nossa cultura participativa, para o bem ou para o mal. Ou seja, bem como o conceito primigênio de cultura, a cultura digital é um conceito em permanente atualização, alimentado todos os dias por inovações de um mundo interconectado — como vê-se a seguir na discussão sobre cibercultura.

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3.1.2.

Cibercultura

Doravante, este estado da arte aprofunda a discussão da literatura, em virtude de os conceitos estarem cada vez mais próximos dos objetivos a serem atingidos por esta investigação.

Em uma nova fase da cultura digital surge um novo conceito denominado cibercultura. É importante não confundir cibercultura como uma nova cultura, distinta da cultura digital. Pelo contrário, ela está dentro do seu contexto histórico mais alargado.

Como fenômeno do desenvolvimento da cultura digital, cibercultura refere-se ao período contemporâneo ao surgimento da internet. Esta trajetória avança para o surgimento dos novos media, contexto no qual atuam os influenciadores atuais e que são o escopo desta pesquisa.

O conceito de cibercultura emerge quando o termo ciberespaço aparece pela primeira vez ainda na década de 80, na obra de ficção “Neuromancer”:

Cyberspace. A consensual hallucination experienced daily by billions of legitimate operators, in every nation, by children being taught mathematical concepts... A graphic representation of data abstracted from banks of every computer in the human system. Unthinkable complexity. Lines of light ranged in the nonspace of the mind, clusters and constellations of data. Like city lights, receding... (Gibson, 1984, p. 37)

Em termos científicos, uma das maiores autoridades sobre o tema é Pierre Lévy. O sociólogo francês tem uma visão otimista da cibercultura, sem deixar de ser realista acerca das suas implicações na sociedade. Para o autor, trata-se de uma cultura que promove a hiperligação dos indivíduos, possibilitada pelo nascimento da internet — uma grande comunidade universal onde todos colaboram para a evolução da humanidade, como nunca antes. E esta cultura prospera dentro de um espaço que recebe o nome de ciberespaço, que vêm a ser, em suma, a rede de internet:

O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informação que ela abriga, assim

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como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço (Lévy, 1999, p. 17)

Estes conceitos — de ciberespaço e cibercultura — são essenciais para compreender o cenário onde atuam os influenciadores idosos, na medida em que eles criam em seu entorno uma comunidade virtual de pessoas interconectadas na busca do que o influenciador representa. Para Lévy, estas comunidades online “são construídas sobre afinidades de interesses, de conhecimentos, sobre projetos, em um processo mútuo de cooperação e troca” (Lévy, 1999, p.127).

Nota-se que a cibercultura expande as fronteiras da cultura digital, porque então passa a existir — com a internet — uma conexão entre os participantes desta cultura, mediante o uso do computador conectado.

Por estar temporalmente associada ao advento da internet, a cibercultura é muitas vezes descrita na literatura como Cultura da Internet. E talvez seja esta a resposta reducionista — e correta — dada por leigos quando perguntado o que vem a ser cibercultura. Castells afirma que esta cultura é formada por quatro camadas que se articulam:

A cultura da Internet é uma cultura feita de uma crença tecnocrática no progresso dos seres humanos através da tecnologia, levado a cabo por comunidades de hackers que prosperam na criatividade tecnológica livre e aberta, incrustada em redes virtuais que pretendem reinventar a sociedade, e materializada por empresários movidos a dinheiro nas engrenagens da nova Economia. (Castells, 2003, p. 54)

A corroborar este pensamento, uma importante autoridade no assunto é o escritor americano Douglas Rushkoff, professor de teoria dos media na City University of New York — CUNY. Para Rushkoff, a cibercultura vai além e representa a transição para a Era da

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Multimédia (que hoje dá nome à este mestrado). Para Rushkoff(1994), graças à tecnologias como o computador e a internet, não dependemos mais do material impresso ou do boca a boca para explorar as últimas inovações e descobertas.

3.1.3.

Contracultura

Bem como os conceitos já abordados neste estado da arte, a contracultura tem uma variedade de definições, a depender do teórico, do contexto histórico e visões ideológicas. Como esta pesquisa está centrada em multimédia, é pertinente trazer para o debate, novamente Charlie Gere, pela sua capacidade didática de demonstrar a trajetória histórica do conceito de contracultura, culminando na contracultura digital.

Gere (2008) narra que a contracultura acontece nos anos 60, particularmente nos Estados Unidos da América, França, Itália e Grã-Bretanha, tendo contudo, seu epicentro em São Francisco, Califórnia. Bem como Rushkoff (1994) descreve momentos de guinadas sociais, o autor narra que os anos 60 marcam uma transição da sociedade para a Era da Informação.

Em um período pós segunda guerra mundial, a sociedade americana e esta geração chamada de ​babyboomers vivem grande transformação social:

The combination of high employment resulting from post-war economic prosperity, and the coming of age of the ‘baby boom’ generation born in the 1940s and 1950s, meant that young people wielded an unprecedented degree of economic and, by extension, cultural power. (Gere, 2008, p. 121)

Entretanto, na decorrência dos anos 60, essa “cultura jovem”, que havia ganho força na década anterior, começa a criar uma nova consciência de seu papel na sociedade. Problemas sociais, que antes estavam ofuscados pela euforia da prosperidade do pós-guerra, começam a ganhar visibilidade. Entre estes o desenvolvimento de armas nucleares, a tão criticada campanha militar americana no Vietnã, para além da discriminação racial e as preocupações com os efeitos desastrosos da indústria na ecologia.

Neste cenário, surgem movimentos que propõe romper com a maneira de pensar e agir da geração anterior. É na negação deste ​status quo que nasce a contracultura:

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Alongside these militant and antagonistic movements, more conciliatory ideas also flourished. Most notably, the concept of a counter-culture, an alternative society based on values other than those supposed to be dominant at that time, found expression in various ways and places. Broadly speaking the counter-culture could be defined as a largely white phenomenon, among whose most notable characteristics were an interest in self-realization, often involving the use of drugs, LSD or ‘acid’ in particular, a devotion to rock music and performance. (Gere, 2008, p. 121)

Neste mesmo ambiente social efervescente, começam a se instalar no Vale do Silício empresas que produzem circuitos integrados — ora utilizados para fins militares como os mísseis teleguiados — que viriam ser a base da indústria dos computadores. Por sua vez, um segmento dessa contracultura era contrário a tecnologia, em especial pelo seu então uso militar.

3.1.4. Contracultura Digital

À época, os primeiros computadores eram de uso das instituições militares e acadêmicas, conectados por redes internas como a intranet. Democratizar o acesso à esta tecnologia através da criação dos computadores pessoais (PCs) estava no centro dos esforços dos primeiros hackers : 5

“a ‘hacker’ culture developed, consisting of young men dedicated to undertaking elegant ‘hacks’, that is, to finding out what computers were capable of, rather than criminal acts, as the term later came to mean.” (Gere, 2008, p. 136)

Esta cultura hacker, apoiada no discurso da contracultura vigente, representa a contracultura digital: capaz de utilizar-se do que havia sido produzido pelo setor militar para o desenvolvimento dos computadores pessoais. Era um ato de liberdade e autonomia.

5 Os hackers que praticam crimes no submundo da internet, estereótipo criado pela sociedade, são

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Evidente que isso só foi possível com os primeiros investimentos governamentais por meio dos projetos militares, mas em especial dos investimentos de capital privado, mencionados por Castells (2003), bem como por Gere:

The counter-culture opened up a space in which the personal computer could be developed. The ideas it encouraged concerning the use of appropriate tools, self- help and empowerment made the concept of building and owning a computer a plausible reality. In particular the counter-culture was instrumental in creating the context in which the real-time interactive technologies developed by the military, or through military funding in the context of the Cold War, could be stripped of their militaristic, technocratic aura, repainted with a gloss of cybernetic idealism, taken in part from the post-war avant-garde, and repurposed as gentler, kinder tools for a new generation. (Gere, 2008, pp. 128-129).

Em consequência, a contracultura digital vem a ser também responsável pela criação da internet, ou seja, do ciberespaço. E, de facto, como bem relata Gere, contracultura digital é uma mistura do capitalismo empreendedor e do idealismo ético da contracultura:

[...]there is a logical progression through which the ideals of the erstwhile counter-culture have mutated and attenuated into a whole-hearted commitment to our current technologically driven capitalism. At the heart of this utopian vision is the Internet, which embodies many of the ideals fostered and promoted by the counter-culture, and which have now become a central constituent of that capitalism. (Gere, 2008, p.153)

Para aclarar esta dicotomia da cultura hacker — entre o idealismo de libertação de um conservadorismo social e o “casamento” com o capitalismo empreendedor — urge trazer novamente à discussão o escritor Douglas Rushkoff. Ele também narra os primórdios da cibercultura em seu livro “Cyberia”, em concomitância com início da contracultura digital.

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Entre os primeiros ​cyberians, como nomeia Rushkoff (1994), estão gênios da informática como Steve Jobs, que eram considerados hackers. Rushkoff denota uma visão romântica sobre eles, uma vez que tiveram papel fundamental na construção da cibercultura, em virtude da defesa da liberdade de criação e partilhamento do conhecimento.

E este certo ativismo em prol de uma sociedade mais livre para a posse, uso e transferência do novo bem mais valorado (a informação) só é viável pela existência de um computador conectado a outros computadores através da internet.

Rushkoff também não deixa de fazer uma crítica nostálgica acerca destes pioneiros do ciberespaço quanto ao desvirtuamento de suas promessas de defesa da liberdade. Isso porque, já na década de 90, quando ele escreve “Cyberia”, obviamente tais ​ciberianos não aplicavam na prática as ideias de uma internet tão plural, como defendiam outrora — visto que alguns (Steve Jobs, Bill Gates, etc.) tornaram-se “papas” do capitalismo tecnológico.

Entretanto, a contracultura digital não morre porque os seus precursores mudaram, pois, novas gerações chegam para continuar a sua construção, partilhando seus ideais:

On one hand, fledgling cyberians are still rooted in the political activism and cultural extremism of the 1960s and 70s, and eager to please the people they consider their forefathers--Tim Leary, Steven Jobbs, Mitch Kapor, William Burroughs--by wholeheartedly embracing their lifestyles and priorities. (Rushkoff, 1994, p. 176)

São ​ciberianos como estes, citados por Rushkoff, os influenciadores de gerações que perpetuam até hoje. Mesmo imbuído de uma perspectiva idealista da cibercultura, Rushkoff(1994) é realista sobre o novo papel dos seus fundadores, ao mesmo tempo em que não deixa de lado o otimismo no que no futuro pode se tornar:

Maybe the detractors are right. Maybe the cyberian technologies are not intrinsically liberating. While they do allow for cultural change through principles such as feedback and iteration, it appears that they can almost as quickly be subverted by those who are unready or unwilling to accept the

(25)

liberation they could offer. But others present convincing arguments that the operating principles of Cyberia eventually will win out and create a more just Global Village. (Rushkoff, 1994, p. 176)

Os empreendedores, ou seja, o capital, foi um dos pilares da fundação da cibercultura e de certa maneira alimentou o fenômeno da contracultura digital. Pois que, foi o dinheiro destes investidores privados que viabilizou o seu desenvolvimento para além da esfera governamental (militar): “A difusão da Internet a partir de círculos fechados de tecnólogos e pessoas organizadas em comunidades para a sociedade em geral foi levada a cabo por empresários”.(Castells, 2003, p. 49)

A contracultura digital — na prática — não foi gerida por grupos marginalizados pela sociedade (movimento negro, movimento feminista, etc), mas sim por jovens nerds brancos e suas startups de informática, que buscavam independência de uma sociedade baseada no conservadorismo da era pós-guerra.

Estes jovens ​ciberianos, que passavam dias e noites a disruptir códigos, defendiam a liberdade para criação interconectada de conhecimento. Tinham o objetivo de ir contra um padrão social de uma sociedade que julgava a quem não se enquadrasse em seu visual alinhado de terno e gravata.

3.1.5.

Subcultura

Antes que este estado da arte adentre à secção seguinte, na qual tratará de buscar a entender a dimensão do indivíduo que vive neste tempo e espaço descritos pelas culturas acima, é preciso ainda compreender as subculturas.

Enquanto uma contracultura tem por essência a ruptura com os valores de uma cultura dominante, a subcultura coexiste nela. Ou seja, mesmo que uma subcultura seja formada por uma dissidência de um agrupamento maior, não é uma negação desta herança e sim a criação de outros hábitos e comportamentos que os diferenciam.

Esta teoria da subcultura é original da Escola de Chicago, nos anos de 1920, onde estudiosos da sociologia investigavam os comportamentos sociais desviantes relacionados a estudos empíricos sobre criminologia. Em um artigo que se aprofunda em todo o processo histórico de construção e modificações do conceito de subculturas, Williams (2007) define

(26)

as suas ideias fundamentais como uma combinação de estilo, resistência, mídia, reação social, identidade e autenticidade.

É importante destacar que desde então o conceito de subcultura sofre mutações (como já visto nas outras variações de cultura) e não há um acordo entre diferentes vertentes de sociólogos. Mais recentemente, foi criado o termo pós-subcultura, que já contempla as influências do consumismo na ideologia destes subgrupos. Para Bennet (1999) esta nova gama de subculturas está mais relacionada ao consumo e ao prazer individual (hedonismo) do que com os movimentos de resistência.

Um exemplo de subcultura que habita na cultura digital são os hackers:

The early hackers at MIT and Stanford established one of the central arche-types of computing subculture, which continues to this day, that of the intellectually advanced but socially and sexually awkward male, who is prepared to devote most of his time to an engagement with the possibilities of digital technology, to the exclusion of almost anything else. (Gere, 2008, p. 136)

Castells também traz os hackers como uma subcultura e consequentemente pode-se entender que os ​crackers vem a ser um exemplo contracultura “Nas margens6 dessa subcultura hacker rebelde, emergem os ​crackers.” (Castells, 2003, p.46)

Enfim, tendo descrito o tempo e o espaço — dimensões as quais norteiam o desenvolvimento desta pesquisa — o estado da arte avança para tratar das pessoas envolvidas neste contexto: os influenciadores e os influenciadores idosos (indivíduos)

3.2.

Influencers

“In an increasingly digital world, digital influence is the currency that really matters” (Backaler, 2018, p. 200)

6

​ ​

“Os hackers não são o que a mídia diz que são. Não são uns irresponsáveis viciados em

computador empenhados em quebrar códigos, penetrar em sistemas ilegalmente, ou criar o caos no tráfego dos computadores. Os que se comportam assim são chamados “crackers”, e em geral são rejeitados pela cultura hacker[...]” (Castells, 2003, p.38)

(27)

O fenômeno dos ​influencers está no âmago desta pesquisa. Embora exista correspondência na língua portuguesa (influenciadores), a versão inglesa é de facto de uso mais comum; até mesmo por estar quase sempre acompanhada da expressão “digital”, outro anglicismo. Ou seja, tornou-se tão natural no dia-a-dia das relações sociais, que já faz parte da cultura.

Ao fazer uma pesquisa rápida com a ferramenta de buscas da Google, o dicionário online Cambridge Dictionary traz a seguinte definição: “someone who7 ​affects or ​changes the way that other ​people ​behave​”. Pesquisadores do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação corroboram tal definição: “O termo se refere aquelas pessoas que se destacam nas redes e que possuem a capacidade de mobilizar um grande número de seguidores, pautando opiniões e comportamentos e até mesmo criando conteúdos que sejam exclusivos.” (Silva & Teessarolo, 2016, p. 5)

Para Karhawi (2017) o termo vem para condensar outros rótulos que num passado muito recente eram (e são) utilizados, tais como: bloggers, vlogger, formadores de opinião, influenciadores e outros como adiciona Backaler (2018): youtuber, KOL e instagrammers. Facto é que todas estas expressões encontram convergência de significado em influencer.

A expressão ganhou nova dimensão uma vez que segue amplamente citada na área do marketing. Nesta seara, influencers são pessoas que, devido ao seu conhecimento e autoridade, conseguem influenciar as decisões (comumente de consumo) das outras pessoas.

Entretanto, o surgimento dos influencers não é contemporâneo dos novos media. A habilidade de influenciar os outros é intrínseca da natureza humana. Antes do advento da internet, figuravam nas revistas, no cinema, na televisão e no rádio, inúmeros influencers. Estes artistas que se tornavam amplamente afamados por suas atuações, influenciavam — e ainda influenciam — o comportamento das massas:

Because traditional media prevented everyday individuals from gaining influence, celebrities became the ultimate influencers. Movie stars and high-profile TV personalities could influence large audiences with their widespread star appeal. They were the ones brands hired to help shape the

(28)

opinions of mainstream audiences and were used as part of a seemingly authoritarian, top-down advertising approach—think about how celebrities featured in fashion magazines used to dictate “what’s hot” in each season. (Backaler, 2018, p. 14)

Outrora, a possibilidade de influenciar o comportamento de um grande número de pessoas e transformá-los no que hoje conhecemos como “seguidores”, estava apenas ao alcance destas celebridades que circulavam pelo ​mainstream. Era imprescindível dispor de poder econômico e conhecimentos técnicos para que as suas mensagens pudessem ser difundidas.

Backaler (2018) relata que a expansão do uso de dispositivos conectados à internet (smartphones, tablets, PCs, etc…) possibilitou a ruptura destas barreiras, trazendo à tona uma nova geração de influencers. Estes novos atores já não dependem de milhões de dólares, uma grande equipa de colaboradores altamente especializados ou equipamentos caríssimos para marcarem presença nas redes sociais e atingirem o seu público-alvo.

Pesquisadores do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação compartilham desta mesma visão: “ficou muito mais fácil ser uma pessoa comum e ainda assim conquistar popularidade e a produção de conteúdo próprio é, mais do que nunca, uma realidade que não necessita obrigatoriamente de um bom suporte tecnológico.”(Moreira & Rios, 2016, p. 8).

O que ainda é relativamente novo, segundo Backaler (2018) é o papel da tecnologia em permitir que um grande número de pessoas comuns possa externar suas paixões e habilidades e assim construir uma audiência. Ação esta que vai de encontro com um dos objetivos deste trabalho, que é reconhecer que pessoas mais velhas estão ganhando espaço e voz neste ambiente digital.

Por ser um termo tão volátil, como quase tudo acerca dos novos media, influencer e as terminologias relacionadas podem ganhar novos significados à medida que este universo sofre atualizações quase instantâneas. A dificuldade em conceituar o que vem a ser um influencer se faz presente mesmo na literatura especializada.

Para Backaler (2018) o termo influencer é amplamente utilizado em diversas situações, que ninguém imagina o mesmo “influencer” quando o assunto surge em uma

(29)

discussão. Contudo, segundo o autor, é possível separar os influencers em três níveis:

Celebrity Influencers, ​Category Influencers e ​Micro-Influencers:

Celebrity Influencers são, como sugere a nomenclatura, celebridades tradicionais que exercem influência sobre uma vasta base de fãs por meio de seus canais digitais. São atores, atletas, músicos ou qualquer pessoa que tenha ganho relevante fama, desde que possua ​expertise para influenciar uma comunidade-alvo, ou seja, não se trata apenas da fama pela fama. Tal inclusão das celebridades no status de influencer é sinal da volatilidade do termo, uma vez que outros pesquisadores (Silva & Tessarolo, 2016) optam por fazer uma separação entre os termos influencer e celebridade ou até mesmo classificar tais ​Celebrity Influencers como uma subcategoria “Por vezes, essas pessoas são assim simplesmente por serem bonitas[...]” (Moreira & Rios, 2016, p. 8).

Category influencers por sua vez, são pessoas que detém conhecimento em um

tópico específico (ex: beleza, música, artes, etc) e se tornam fonte de informação e inspiração para outras pessoas acerca destes temas. Não são necessariamente donos de uma grande audiência, mas conseguem exercer influência e mudar crenças e comportamentos de seus seguidores. Tais ​Category Influencers podem ainda ser divididos entre​Established (com um nome reconhecido e uma comunidade singular) e ​Emerging (um nome substancial e audiência crescente, mas não amplamente conhecido em uma comunidade específica). Esta noção de influencers dedicados à uma categoria é relatada também por Martino (2018) “A ideia dos “influenciadores digitais” [...] poderia ser compreendida como uma descendente longínqua da noção de “líder de opinião”,[...]a pessoa altamente especializada em algum assunto à qual os outros recorrem quando precisam tomar uma decisão.” (p.7)

Micro-Influencers formam um terceiro grupo, que não tem um alcance amplo, mas

são dedicados à um determinado nicho. Mesmo que não tenham uma presença online de larga escala, tais influencers tem uma audiência circunscrita de engajamento relevante.

Backaler (2018) ainda elenca quatro fatores-chave para um influencer da atualidade:

(30)

If someone has a few hundred thousand followers but they pitch different brands every single day, then they’ll lose their audience (lack of authenticity/brand-fit). Alternatively, if someone produces great content, but has a community of zero readers, then...you get the point. These four factors combined are what truly makes an individual influential in the modern-day technology-enabled influence landscape. (Backaler, 2018, p. 32)

Os influencers são assim classificados com base no tamanho real da sua8 comunidade e na influência que exercem sobre ela, tendo em consideração que devem ser (i) conhecidos por algo relevante dentro de uma comunidade específica e (ii) capazes de influenciar ações dos seguidores desta comunidade. Ainda de acordo com Backaler (2018), ser famoso apenas por ser famoso não é o que faz alguém ser um influencer. É preciso ter “[...] ​milhares de seguidores e um estilo admirado por eles.” ​(Silva & Tessarolo, 2016, p. 8).

Em se tratando de tendências, de acordo com Backaler (2018), a significância dos influencers apenas crescerá nos anos que estão por vir. Ou seja, em uma cibercultura em ampla expansão, a influência digital é a nova riqueza. Os influencers são hoje um fenômeno global graças ao avanço da tecnologia e a natureza sem fronteiras das redes sociais. Podemos assim pensar em influencers como o que há de mais novo na evolução da Era da Informação.

Outrossim, a relação simbiótica que os influencers tem com as marcas contribui para a formação de uma visão estreita sobre a sua essência. Mesmo entre profissionais do mercado dos novos media ou no ambiente académico, influencers são por vezes vistos apenas como objetos para fins de uso comercial das campanhas de marketing.

E, de facto, como explicado por Backaler (2018), eles também desempenham este papel. Aliás, os influencers são atores multidisciplinares do ciberespaço, atuando como

trendsetters, ​advocates e outras nomenclaturas cunhadas no marketing digital.

8 O tamanho real da comunidade de um influencer não diz respeito tão somente ao número de

seguidores de sua base. Há que se levar em consideração o engajamento, ou seja, a quantidade de curtidas, comentários e partilhamentos. É preciso ainda atentar-se à qualidade desta interação entre influencer e seguidor.

(31)

Mas esta sua faceta não invalida as demais características de um influencer, como a sua função de formador de opinião. De acordo com o coordenador do núcleo de inovação em mídia digital da Faculdade Armando Álvares Penteado — FAAP :

O fato é que todo influenciador digital não deixa de ser um formador de opinião, mas gostaria de reservar esse novo termo para destacar determinadas pessoas que mereciam mais atenção daqueles que trabalham com comunicação. Penso que influenciador digital é um termo que caberia melhor para identificar aquelas pessoas que fazem parte de um nicho muito específico e; dentro deste grupo, possuem um volume de conexões superior à média das pessoas que pertencem à esse nicho. (Messa, 2016, np.)

No âmbito do consumo ou do comportamento, os influencers da hipermodernidade, bem como seus predecessores, são especialistas na antiga e agora renovada prática do boca-a-boca ou “Word of mouth 2.0”:

While word of mouth has been around since early man gave the first recommendation to a trusted peer, what has changed signifi- cantly is the role word of mouth plays in a world where individuals are con- nected to more like-minded peers than ever before, and internet-enabled word of mouth spreads messages and builds influence at never-before-expe- rienced speed. (Backaler, 2018, p.17)

Urge aos estudiosos de multimédia, obter uma visão holística sobre o que vem a ser um influencer — um ator dos tempos hipermodernos que é gerador de tendências, força motriz do marketing digital e agente de mudança de comportamentos.

Na sequência deste estado arte está o conceito-chave que pode levar a uma contribuição real para os estudos em termos de cibercultura. Trata-se de trazer à argumentação, o fenômeno dos influencers idosos.

(32)

3.3.

Granfluencer

“Marginalised groups are becoming the most influential microcosms on social.” 9

Se a existência de materiais científicos e literários sobre os influencers já não é tão extensa — dada a sua recentidade — os estudos acerca dos idosos influencers são ainda mais escassos, razão pela qual não se encontra uma nomenclatura especial para eles nos poucos artigos encontrados na pesquisa. 10

Não obstante, ao buscar por “elderly influencer” no Google, chama a atenção um artigo com o seguinte título “The rise of the “granfluencer””, publicado pelo site da BBC em 30 de maio de 2019, do qual obtém-se este trecho:

Anyone who still thinks Instagram is reserved for young people is as dated as the social network was before it brought in Snapchat-style Stories. Because a new type of influencer is emerging - one that has more style, lols and life inspo than you can shake a selfie (or walking) stick at. Enter: the 'granfluencer'. As in, grandparents or simply older people who are better at social media than you. (Harvey, 2019, np.)

Foi a primeira vez que o termo ​Granfluencer foi utilizado. Desde então, menos de dez artigos de notícias foram publicados com uso do novo termo, segundo busca realizada no Google. Quando inserida a palavra-chave Granfluencer, ao todo são disponibilizadas apenas 3 SERPs (Páginas de resultados).

O renomado dicionário Collins já incluiu (em fase de aprovação) o novo termo em11 suas páginas como “Granfluencer: ​a senior citizen who is an influencer on social media”.

Assim como fora feito anteriormente com as expressões que norteiam esta pesquisa (ex: influencer, digital influencer, influenciadores, idoso influencer, etc), a palavra-chave

9Insight extraído do relatório divulgado pelo site ​We Are Social,​“Think Forward: trends shaping social

2019. Disponível em: https://wearesocial.com/uk/thinkforward-2019.

10 Na pesquisa bibliográfica não foi encontrado nenhum livro em que os influencers idosos sejam

tema.

(33)

“granfluencer” foi consultada com o auxílio das ferramentas de buscas para publicações académicas: Catálogo da U.Porto , EBSCO , Biblioteca do Conhecimento Online12 13 14 e Google Académico . Até ao momento da escrita deste estado da arte nenhum resultado foi15 encontrado.

Fica evidente a carência de uma literatura específica, não apenas no que se refere a nova terminologia (Granfluencer), bem como em relação ao fenômeno em si, destes idosos que são influencers. E neste sentido, abre-se uma oportunidade para pesquisas como esta contribuírem na construção de um debate mais amplo nesta seara.

Os Granfluencers poderiam ser um novo agrupamento de influencers, a exemplo dos três (​Celebrity Influencer, Category Influencer e Micro-Influencer ), definidos por Backaler (2018). Entretanto, talvez se encaixem melhor como um subgrupo de influencers, que por sua vez pode estar inserido dentro de qualquer um dos três agrupamentos.

Na ausência de livros especializados no tópico, os influencers idosos (sem a menção da terminologia Granfluencers), são objeto de estudo em artigos como “​Os novos idosos na rede digital: consumo e produção de conteúdo da senioridade no Brasil”, em que os pesquisadores alertam sobre a necessidade de “[...]refletir sobre a produção realizada pelos próprios idosos, pessoas acima de 60 anos, com foco em quatro ​influenciadoras

digitais.” (Gonçalves & Campos, 2017, p. 15)

Surgem então os primeiros estudos de caso de Granfluencers, como o presente em “Velhos jovens: uma análise sobre a publicidade de moda e o envelhecer: estudo de caso: Iris Apfel” (Vasconcelos, 2018). Essa dissertação de mestrado faz uso do ​storytelling para narrar a trajetória da Granfluencer Iris Apfel, que tem neste momento quase um milhão e meio de seguidores no Instagram.

Estes influencers não apenas conquistam espaço no ciberespaço, mas tem o poder de transformá-lo a sua própria maneira. Mesmo que, de uma forma ou outra, venham a estar inseridos dentro de um contexto mercadológico, casos como o de Iris Apfel representam uma nova visão:

12 Disponível em: https://catalogo.up.pt. 13 Disponível em: https://www.ebsco.com. 14Disponível em: https://www.b-on.pt.

(34)

Na contrapartida desse consumo desfreado, sem relações afetivas com o que se veste, renascem algumas figuras na moda, a maior parte delas feminina, que trazem de volta valores como a importância do estilo, da personalidade e da autenticidade.São mulheres mais velhas que estão adquirindo visibilidade em um momento social importante na história, esse despontar faz toda diferença no novo contexto cultural de moda e voltar-se para esse público tem se feito cada vez mais necessário. (Vasconcelos, 2018, pp. 49-50)

Em outra tese de mestrado intitulada “​Fabulous, Fierce And Over 40: Women Breaking Barriers On Social Media and Television”, uma pesquisadora da University of Southern California também narra este cenário dos Granfluencers:

I found it inspiring to find so many women breaking barriers and resisting old stereotypes in my research of style influencers on Instagram and actresses on television. After looking at hundreds of photos on Instagram of female fashion influencers between 40-80, my perception of there being a “right or wrong way” to dress changed. I have learned that clothes are more than just utilitarian; they can also be a means of expression and empowerment. Witnessing their bold, creative, stylish, tasteful ensembles reminds me that I don’t need to prescribe to some antiquated story of what it means to be a woman, or how I should represent myself as a woman getting older. And its effect has been truly liberating. (Wolff, 2017, p. 2)

Ao ver os seguidores de Lyn Slater saltarem de 225.000 quando da dissertação de Wolff, para 707.000 enquanto este trabalho é realizado, fica evidente que os Granfluencers são uma tendência das redes sociais, acompanhando a evolução da própria cibercultura e cultura digital, como afirmada anteriormente.

(35)

[…] there are hundreds more pushing the envelope to varying degrees: From conservative in kitten heals and pearls to denim and leather. There is something for everyone. What is the one thing they have in common? They’re sexy, sassy and have attitude for miles.” (Wolff, 2018, p. 8).

3.4.

Análise exploratória

Uma vez que a figura do Granfluencer é o objeto de estudo desta investigação, faz-se necessário trazer casos concretos para o estado da arte. Para tal, é feita uma breve análise exploratória (Ritchie & Lewis, 2003) — no Instagram — a fim de identificar exemplos de Granfluencers.

Apesar dos Granfluencers representarem um microcosmo dentro do ciberespaço, trata-se de uma grande quantidade de perfis. Em uma busca preliminar feita com o auxílio do site ​Hype Auditor , verificou-se existir 6.308 influencers com mais de 65 anos de idade16 no Instagram.

A considerar o cronograma proposto para o desenvolvimento desta tese, convém ater-se a um levantamento lacônico. Neste sentido, é imperioso estabelecer critérios de seleção, para os quais serão observados os princípios de categorização e fatores-chave definidos por Backaler (2018).

Assim, os Granfluencers alvo de estudo desta investigação são selecionados tendo em conta:

1) Enquadramento como ​Established Category influencer ;

2) Existência de comunidade com no mínimo 1 milhão de seguidores; e 3) Obtenção de selo de autenticidade no Instagram. 17

Como resultado, é possível elencar os seguintes perfis (iGs):

16 O site Hyper Auditor dispõe de uma ferramenta avançada para a descoberta de

influencers.Disponível em: https://app.hypeauditor.com/discovery/. Acesso em 4 de fevereiro de 2020.

17 Trata-se de uma certificação concedida pela plataforma Instagram para contas de pessoas que

tornaram-se figuras públicas. Segundo informação da própria plataforma, tal status de conta verificada não pode ser solicitado, pois, é concedido mediante requisitos de elegibilidade. Disponível em: https://help.instagram.com/398038890351915?helpref=search&sr=2&query=selo

(36)

a. @baddiewinkle — A americana Helen Ruth Elam Van Winkle tem 91 anos e possui18 o maior número de seguidores entre os Granfluencers no Instagram: 3.9 milhões; b. @iris.apfel19 — A novaiorquina Iris Apfel completou recentemente 98 anos. A

Granfluencer é dona de uma comunidade com mais de 1.4 milhões de seguidores.

A presença unânime de Granfluencers mulheres na lista acima não é arbitrária, mas sim uma consequência da representatividade delas no universo dos influencers. Segundo dados estatísticos de 2019, 84% dos influencers do Instagram são do sexo feminino. A20 predominância de Granfluencers dos Estados Unidos nesta seleção é compreensível, tendo em vista que 49% dos influencers do Instagram são americanos. 21

Esta abordagem exploratória constata que tais Granfluencers têm em comum: a) livros e documentários publicados sobre a sua trajetória;

b) elevada taxa de engajamento; e

c) menção na maior parte das notícias encontradas na internet.

É notável que essas Granfluencers também convergem quanto ao nicho de influência. Todas elas transitam em torno da temática geral sobre estilo de vida. Enquanto Baddie Winkle publica sobre uma velhice sem pudores, Iris discorre sobre moda e design.

Toda esta diversidade de backgrounds certamente deram origem a consideráveis repertórios, que por sua vez indicam um grande potencial para comparações que serão feitas mais adiante.

18 O perfil da Granfluencer pode ser acessado em: https://www.instagram.com/baddiewinkle. 19 O perfil da Granfluencer pode ser acessado em: https://www.instagram.com/iris.apfel/

20 Estudo estatístico com mais de 3 milhões de postagens patrocinadas no Instagram, publicado por

A. Guttmann no site Estatista. ​Disponível em:

https://www.statista.com/statistics/893749/share-influencers-creating-sponsored-posts-by-gender/

21 Estudo estatístico publicado ​por A. Guttmann no site Estatista. Disponível em:

https://www.statista.com/statistics/893753/leading-countries-influencer-marketing-by-share-sponsored -posts.

(37)

Conclusões sobre o Estado da Arte

Este estado da arte levou em consideração a indispensabilidade de manter-se o foco nos materiais que serão essenciais para dar sustentação a investigação.

Assim como em qualquer narrativa, é preciso seguir uma ordem na qual o que vêm antes dá sentido ao que segue. Por esta razão que a primeira seção foi destinada a dar uma visão geral sobre culturas para depois abordar o fenômeno dos influencers.

Dissertar — mesmo que sucintamente — acerca de cultura digital, cibercultura, contracultura e subcultura é imprescindível para dar sequência em uma investigação que tem como o seu problema central comprovar o surgimento de uma nova cultura.

Acercar-se — com maior propriedade — do que vem a ser influencer e Granfluencer é base para depois, no capítulo em que se desenvolve a pesquisa qualitativa, ser possível analisar a atuação destes indivíduos.

A breve descrição de tais perfis serve para dar uma visão geral acerca de tais Granfluencers. Os mesmos serão analisados em profundidade no capítulo 4.

(38)

4. Análise Temática

4.1.

Exploração dos Dados

A primeira fase da análise temática consiste, segundo Braun e Clarke (2006), em familiarizar-se com todos os dados disponíveis, denominados “corpus”. Nesta pesquisa, tais dados são os posts publicados ao longo de toda a atuação das Granfluencers Baddie Winkle e Iris Apfel na rede social Instagram.

Ao todo, Baddie e Iris fizeram 1461 publicações, de 2014 até maio de 2020. Todos estes posts foram visualizados para obter-se uma visão holística do material produzido. Entretanto, para a viabilidade da pesquisa, foram selecionados 26 posts de Baddie e 69 de Iris. Estas 95 publicações, de acordo com o método da análise temática (Braun e Clarke, 2006) recebem o nome de “itens” e compõem o ​corpus da pesquisa.

Como o questionamento principal da pesquisa procura demonstrar a trajetória das Granfluencers da velhice à senioridade digital, optou-se por esta amplitude temporal, contudo, definindo uma periodicidade. Foram contemplados, no mínimo, 1 post a cada mês, sendo que o início e o final do período analisado tiveram maior atenção. Esta escolha também faz sentido no que tange a obtenção de uma linha narrativa desta atuação, tendo cada post escolhido um significado especial de mudança na estória que é contada pelas Granfluencers — são assim marcadores de eventos, como o início de parcerias publicitárias, mudanças na linguagem imagética, atingimento de maior audiência, etc.

4.2.

Software de Análise de Conteúdo

A despeito de esta pesquisa ter como método a análise temática (Braun e Clarke, 2006), a análise de conteúdo de Laurence Bardin (1977) é precursora neste tipo de pesquisa de caráter qualitativo e, portanto, mais difundida para estudos científicos. Posto isso, os softwares são concebidos para este tipo de metodologia e não especificamente para a análise temática, que é menos utilizada. Entretanto, dada a flexibilidade da análise temática, é possível a sua utilização sem perder eficácia.

(39)

A princípio, objetou-se em conduzir a análise temática manualmente em sua totalidade. Doravante, em uma busca por soluções mais eficientes, notou-se que existem softwares que auxiliam no processo, tornando-o mais organizado. Esta opção é uma prática recomendada por Braun e Clarke (2006) “O processo de codificação pode ser feito manualmente ou através de um software apropriado (ver, por exemplo, Kelle, 2004; Seale, 2000, para a discussão de programas de software)”.(p.17)

Embora todos os dados tenham que ser inseridos manualmente e individualmente, bem como a análise obviamente depende do pesquisador, é de facto muito mais eficiente em termos de organização e visualização utilizar um software.

Foram testados 4 softwares e descartados 3 deles, por não cumprirem as necessidades específicas da pesquisa. O “Tagette.org” é um programa totalmente gratuito, 22 baseado na internet, porém, sua interface não é muito amigável e existem poucas opções para a codificação de dados. Já o Atlas , apesar de ser um programa que atenderia bem a 23 pesquisa, oferece uma versão gratuita de teste com funções limitadas e temeu-se que comprometesse uma análise mais profunda. O NVivo 24 é considerado um dos softwares mais robustos de análise de conteúdo, tanto para dados qualitativos, quanto para quantitativos, porém a versão gratuita de testes permite apenas 7 dias de uso. Estes 3 softwares estão disponíveis apenas em língua inglesa.

Por sua vez, o MAXQDA 2020 tem interface amigável, está todo em português, é totalmente funcional com a licença de teste gratuito por 30 dias e facilmente adaptável para a análise temática. É ainda possível separar os itens por casos, agrupar códigos por cores, inserir variáveis e imputir uma série de filtros. O software permite importar imagens e documentos PDF, o que facilitou o manuseio dos dados, que são todos destes tipos de arquivos. Ainda é possível inserir notas nos documentos (itens), fazer apontamentos em um diário de bordo, gerar relatórios customizáveis, criar mapas dinâmicos e exportá-los em diversos formatos.

22 Informações e acesso ao software estão disponíveis em: https://www.taguette.org. 23 Informações e acesso ao software estão disponíveis em: https://atlasti.com

(40)

4.3.

Codificação Inicial

Tendo definidos os itens a serem analisados, procede-se a sua inserção no software MAXQDA 2020 para que sejam codificados. Como este estudo aborda dois casos distintos — Baddie Winkle e Iris Apfel — foram foram criadas pastas de documentos para melhor organização. O termo usado por Braun e Clarke (2006) para tais grupos de itens de um determinado caso é “conjuntos”.

O conjunto de dados para Baddie Winkle tem 26 itens, sendo o primeiro datado de 10 de abril de 2014 (seu primeiro post) e o último de 22 de maio de 2020. O conjunto de Iris Apfel possui 69 itens, a começar na sua primeira postagem de 2 de dezembro de 2014 e o último em 20 de maio de 2020. Coincidentemente, o período de atuação das Granfluencers é praticamente o mesmo, o que ajuda a comparação de suas jornadas.

Procurou-se manter uma proporção entre o total de posts das Granfluencers e os itens selecionados para a análise. Assim, dos 336 posts de Baddie Winkle, são objeto da análise 26, representando pouco mais de 7% do total. Já Iris Apfel tem um total de 1125 posts e são analisados 69, número que representa cerca de 6% do todo.

Cada um destes itens é analisado em profundidade para identificar códigos, como definem as autoras do método:

Os códigos identificam uma característica dos dados (conteúdo semântico ou latente) que parece interessante para o analista, e referem-se ao segmento, ou elemento, mais básico dos dados ou da informação pura, que pode ser avaliada de uma forma significativa em relação ao fenômeno. (Braun e Clarke, 2006, p.16)

O processo de codificação foi igual para cada item. Os códigos foram atribuídos em três etapas distintas, criando-se as seguintes categorias de extratos:

a) da imagem (foto, vídeo ou conteúdo gráfico);

b) da legenda (pequeno texto escrito pela Granfluencer, podendo conter hashtags e emojis);

Referências

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