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Organ. Soc. vol.19 número63

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Academic year: 2018

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OLI VEI RA, S.R.; PI CCI NI NI , V.C.; BI TTENCOURT, B.M. Juvent udes, gerações e t rabalho: é possível falar em geração Y no Brasil? Organização & Sociedade, v.19, n. 62, p.551- 558, j ul./ set . 2012.

J

UVENTUDE

, G

ERAÇÕES E

T

RABALHO

:

AMPLIANDO O DEBATE

An a H e loísa d a Cost a Le m os*

A

pesar do int eresse em com preender a quest ão das gerações não ser um a novi-dade - o est udo de Manheim ( 1993 [ 1928] ) pode ser apont ando com o um m arco im port ant e desse debat e - , na últ im a década, proliferaram est udos, predom inan-t em eninan-t e norinan-t e-am ericanos, buscando com preender as expecinan-t ainan-t ivas dos j ovens cont em porâneos, not adam ent e no que t ange à sua inserção no m ercado de t rabalho. A lit erat ura acadêm ica no cam po da Adm inist ração e, principalm ent e, a m ídia de negócios t êm produzido descrições da geração que m ais recent em ent e ingressou no m ercado de trabalho, os indivíduos nascidos entre 1980 e 2001, a denom inada Geração Y ( ALSOP, 2008) . Em t ais t rabalhos, os int egrant es dessa Geração são caract erizados com o hedonist as, individualist as, ansiosos, capazes de lidar com t ecnologia digit al e com um a quantidade grande de inform ação. No cam po profi ssional, são descritos com o indivíduos que esperam t er o reconhecim ent o de seus pares e superiores, anseiam por rápida ascensão na carreira, além de desej arem t er aut onom ia e fl exibilidade no t rabalho. Tam bém são vist os com o m enos leais às organizações do que seus ant e-cessores ( TULGAN, 2009; EI SNER, 2005; ALSOP, 2008; ERI CKSON, 2008; LI PKI N; PERRYMORE, 2010; TAPSCOTT, 2010) .

No Brasil, na área de Adm inist ração, o int eresse em m elhor com preender a denom inada Geração Y é m ais recent e. Est udos buscando ret rat ar a referida geração com eçaram a surgir no início de década passada ( COI MBRA, 2001) e a se avolum ar nos últ im os anos ( VELOSO; DUTRA; NAKATA, 2008; VASCONCELOS et al., 2010; VALE; LI MA; QUEI ROZ, 2011; CAVAZOTTE, LEMOS; VI ANA, 2012; LEMOS; COSTA; VI ANA, 2012) . Em sua m aioria, esses t rabalhos procuram ent ender as aspirações profi ssionais dos j ovens ingressant es no m ercado de t rabalho e que, aparent em ent e, t êm expect at ivas diferent es das gerações ant eriores. Todavia, conform e ressalt am Oliveira, Piccinini e Bit t encourt ( 2012) , a caract erização dessa geração é passível de crít icas por seu carát er às vezes generalizant e, que ret rat a um grupo geracional com o um bloco hom ogêneo, sem levar em cont a diferenças sociais, econôm icas, cult urais, de gênero e et nia.

Um a possível explicação para essa hom ogeneização pode ser encont rada na origem das produções que sobressaem no debat e sobre a dit a Geração Y, no cam po da Adm inistração: sensíveis à dem anda do setor produtivo, cada vez m ais preocupado em ret er essa nova força de t rabalho, os est udos fi ndam por focar um grupo especí-fi co desses j ovens, const it uído por indivíduos com form ação superior ou em vias de obt ê- la, oriundos das cam adas m édias, candidat os nat urais às posições de gerência e quadros t écnicos superiores das organizações. A at ração e, principalm ent e, ret enção de j ovens form ados em boas universidades têm sido m otivos de preocupação dos ges-t ores e dos profi ssionais de recursos hum anos, que convivem com o ges-t urnover elevado desse est rat o da força de t rabalho. A necessidade de at rair quadros qualifi cados, de um lado, e a baixa qualifi cação da força de t rabalho brasileira, de out ro, t êm levado as em presas a se ressent irem da pouca lealdade organizacional dos j ovens profi ssio-nais. Nesse sent ido, ao problem a do t urnover t em sido at ribuída um a supost a causa “ geracional”, ist o é, acredit a- se que os j ovens não se fi xariam às em presas devido a seus valores e expect at ivas peculiares, o que j ust ifi caria a necessidade de realização de est udos capazes de dar cont a dessas peculiaridades.

* Dout ora em Sociologia pelo I nst it ut o Universit ário de Pesquisas do Rio de Janeiro da Universidade

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Cabe ressalt ar que não apenas a produção nacional, m as, sobret udo, a int er-nacional, t em buscado responder às indagações dos gest ores acerca dos m ot ivos da baixa lealdade dos j ovens, que não hesit am em t rocar de em prego diant e de ofert as que j ulgam m ais at raent es. Trabalhos com o os de Eisner ( 2005) , Tulgan ( 2009) e Lipkin e Perrym ore ( 2010) , dent re out ros, visam j ust am ent e explicar com o m ot ivar esses profi ssionais. Assim , a caract erização dos j ovens que predom ina na lit erat ura estrangeira produzida no cam po da Adm inistração acaba tratando um grupo particular de j ovens, bem nascidos e bem educados, com o representantes de toda um a geração. Em linha com essa preocupação, que t am bém se m anifest a no cont ext o em presarial brasileiro, a produção nacional acaba focalizando o m esm o subgrupo geracional re-fl et indo a descrição hom ogeneizadora present e nos est udos est rangeiros.

Todavia, apesar de parte da produção nacional sobre os j ovens contem porâneos t rat á- los com o um bloco hom ogêneo, t rabalhos recent es cham am at enção para os equívocos dessa generalização (VELOSO; BARBOSA, 2012). Com o destacam as autoras, a sociologia não t em ignorado as diferenças que at ravessam o conceit o de geração. Ainda que est e conceit o sej a válido, indivíduos nascidos em um m esm o período são int egrant es de um grupo geracional por com part ilharem vivências hist óricas com uns, no entanto, as caracterizações que generalizam os valores, expectativas e sentim entos desses indivíduos são duvidosas. Por esse m ot ivo, pesquisas no cam po da sociologia e da ant ropologia t endem a ut ilizar o conceit o de “ j uvent udes”, por ent ender o carát er m ult ifacet ado desse grupo geracional. Nesse sent ido, pesquisadores brasileiros das referidas áreas t êm enfat izado m ais as peculiaridades dos subgrupos que conform am esse grupo geracional do que suas sem elhanças, buscando construir m últiplos retratos, capazes de dar conta das diferenças econôm icas, sociais, culturais, étnicas e de gênero que caract erizam seus int egrant es ( ABRAMO; BRANCO, 2005; KLI KSBERG, 2006) .

Dessa form a, em respost a às ponderações de Oliveira, Piccinini e Bit t encourt , publicadas na seção I deias em Debat e dest a publicação ( O&S n.62, j ul./ set . 2012) , é realm ent e quest ionável t rat ar os j ovens brasileiros com o um grupo hom ogêneo, int egrant es de um a supost a Geração Y ocident al, t endo em vist a as diferenças que m arcam essa j uvent ude. Ao quest ionam ent o dos aut ores, pode- se acrescent ar que, m esm o em sociedades econom icam ent e m ais afl uent es, onde as desigualdades eco-nôm icas t endem a ser m enores, a referida caract erização hom ogeneizadora t am bém é duvidosa. Não se pode ignorar que, m esm o nos Est ados Unidos, onde part e expres-siva da lit erat ura sobre a Geração Y t em sido produzida, há diferenças econôm icas, sociais, étnicas e culturais consideráveis que, certam ente, infl uenciam as expectativas e aspirações de sua j uvent ude.

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reforçar o quest ionam ent o das supost as sem elhanças geracionais: sem a ponderação das diferent es origens sociais dos j ovens, a caract erização da Geração Y corre o risco de tom ar o todo, pela parte. As considerações do referido autor, apesar de terem com o referência a sociedade francesa da década de set ent a do século passado, perm it em t ant o refl et ir sobre a realidade francesa cont em porânea, m arcada por prot est os de j ovens fi lhos de im igrant es que reivindicam m aior inclusão naquela sociedade, quant o pensar o caso brasileiro, introduzindo no debate sobre a nossa juventude a necessidade de est udar os diferent es grupos sociais que conform am essa geração.

No caso específi co do Brasil, a necessidade de aprofundar o im pacto das diferen-ças sociais nas aspirações e traj etórias geracionais é m ais evidente quando se observa os result ados de pesquisa recent e ( CARDOSO, 2012) que m apeou a educação form al e inserção no m ercado de t rabalho de j ovens brasileiros. Ao revelar que 5,3 m ilhões de j ovens ent re 18 e 25 anos não t rabalham , não est udam e não est ão procurando em prego, o est udo cham a at enção para um a parcela nada desprezível de j ovens ( 19,5% do t ot al) que est á inat iva e sem perspect ivas de inserção t ant o no m ercado de t rabalho, quant o no sist em a de ensino. Se forem som ados a esse cont ingent e os j ovens que est ão buscando, m as não encont ram em prego, o t ot al de excluídos do m ercado de t rabalho sobe para 7,2 m ilhões. Denom inada “ geração perdida” em m a-t éria de j ornal ( RI BEI RO, 2012) , esse cona-t ingena-t e de j ovens reforça a im pora-t ância de se olhar com cuidado as generalizações feit as acerca das aspirações da denom inada Geração Y, principalm ent e quando o assunt o é a inserção no m undo do t rabalho, pois, em linha com os argum ent os de Bourdieu ( 1998) , há nít idas clivagens sociais que sinalizam a provável exist ência de aspirações e valores dist int os, ent re indivíduos desse grupo geracional.

A const at ação da exist ência de um núm ero expressivo de j ovens brasileiros inativos e com poucas perspectivas de inserção no m ercado de trabalho põe em xeque descrições que caract erizam os int egrant es da Geração Y com o am biciosos, focados em suas carreiras, preocupados com o aperfeiçoam ent o profi ssional e pouco leais às organizações. Dessa form a, as diferenças econôm icas, sociais e culturais, sem m encio-nar as de gênero e et nia, devem ser levadas em cont a, t am bém , pelos pesquisadores no cam po da Adm inist ração, com vist as a am pliar o ent endim ent o das expect at ivas e aspirações dos j ovens que vêm ingressando no m ercado do t rabalho. Nesse sent ido, o cam po de pesquisa na área de Adm inist ração, volt ado para com preender as gerações, pode se am pliar e incluir est udos que explorem subgrupos e part icularidades que t êm sido pouco cont em pladas nos t rabalhos exist ent es.

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que est es est udos, ao buscarem ent ender as expect at ivas e aspirações de um grupo específi co de indivíduos - j ovens com form ação superior - ao m esm o t em po em que auxiliam as em presas a ret er esses profi ssionais, podem , t am bém , t razer à t ona as-pect os da dinâm ica das relações de t rabalho das organizações cont em porâneas que vêm desagradando t rabalhadores, de t odas as gerações.

Referências

ABRAMO, H.W.; BRANCO, P.P.M. ( Org.) . Ret rat os da j uvent ude brasileira. São Paulo: I nst it ut o Cidadania. Fundação Perseu Abram o, 2005.

ALSOP, R. The t rophy kids grow up: how t he m illennial generat ion is shaking up t he workplace. São Francisco: Jossey- Bass, 2008.

BOURDI EU, P. La dist incion. Madrid: Taurus, 1998.

CARDOSO, A.M. Relat ório do proj et o j uvent ude, desigualdades e o fut uro do Rio de Janeiro. ( Coord.) . I ESP- UERJ, 2012.

CAVAZOTTE, F.S.C.N.; LEMOS, A.H.C.; VI ANA, M.D.A. Novas gerações no m ercado de t rabalho: expect at ivas renovadas ou ant igos ideais? Cadernos EBAPE.BR, v. 10, n. 1, p. 162- 180, m ar. 2012.

COI MBRA, R. G. C.; SCHI KMANN, R. A geração net . I n: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCI AÇÃO NACI ONAL DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ADMI NI STRAÇÃO E PESQUI SA - EnANPAD, 25., 2001, Cam pinas. Anais... Cam pinas: ANPAD, 2001.

EI SNER, S. Managing generat ion Y. Sam Advanced Managem ent Journal, v. 7, n. 4, p. 4- 20, 2005.

ERI CKSON, T. Plugged in: t he generat ion Y guide t o t hriving at work. Bost on: Harvard Business Press, 2008.

KLI KSBERG, B. O cont ext o da j uvent ude na Am érica Lat ina e no Caribe: as grandes int errogações.Revist a de Adm inist ração Pública, Rio de Janeiro, v. 40, n. 5, p. 909- 942, set ./ out . 2006.

LEMOS, A.H.C.; COSTA A.M.; VI ANA, M.D.A. Em pregabilidade e inserção

profi ssional: expect at ivas e valores dos part icipant es de em presas j uniores. Revist a Pensam ent o Cont em porâneo em Adm inist ração, v. 6, n. 1, p. 91- 104, j an./ m ar. 2012.

LI PKI N N. A.; PERRYMORE, A.J. A geração Y no t rabalho: com o lidar com a força de t rabalho que infl uenciará defi nit ivam ent e a cult ura de sua em presa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.

MANHEI M, K. El problem a de las generaciones. REI S - Revist a Española de I nvest igaciones Sociológicas, n. 62, p. 193- 242, abr./ j un. 1993 [ 1928] .

OLI VEI RA, S.R.; PI CCI NI NI , V.C.; BI TTENCOURT, B.M. Juvent udes, gerações e t rabalho: é possível falar em geração Y no Brasil ? Organização & Sociedade, v.19, n. 62, p.551- 558, j ul./ set . 2012.

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TAPSCOTT, D. A hora da geração digit al. Rio de Janeiro: Edit ora Agir, 2010. TULGAN, B. Not everyone get s a t rophy – how t o m anage generat ion Y. São Francisco: Jossey- Bass, 2009.

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PESQUI SA - EnANPAD, 35., 2011, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2011.

VASCONCELOS, K.C.A. et al. A geração Y e suas âncoras de carreira. Gest ão.Org, v. 8, p. 226- 244, 2010.

VELOSO, E. F. R.; DUTRA, J.S.; NAKATA, L. E. Percepção sobre carreiras int eligent es: diferenças ent re as gerações Y, X e baby boom ers. I n: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCI AÇÃO NACI ONAL DE PÓS- GRADUAÇÃO EM ADMI NI STRAÇÃO E PESQUI SA - EnANPAD, 32., 2008, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.

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