EXPORTAÇÃO
DO AGRONEGÓCIO
2021
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Em 2021, mais uma vez, o setor agro- exportador brasileiro apresentou crescimento no faturamento com suas exportações. O valor obtido com as vendas externas superou os US$
120 bilhões, ficando 18% acima do registrado em 2020. O componente do faturamento exter- no que fez a diferença foi o preço em dólar, que apresentou alta de 27% (média do ano), pois o volume exportado caiu 8% em 2021 frente a 2020. Essa forte alta das cotações internacio- nais esteve atrelada à expressiva recuperação das principais economias mundiais – China, Estados Unidos e países europeus, especial- mente. Além disso, do lado da oferta, fatores climáticos, que contiveram o avanço da produ- ção agropecuária, somaram-se aos desarran- jos de natureza logística no comércio mundial.
Todos os principais produtos expor- tados pelo agronegócio tiveram ganho em
seus preços médios em dólares (nominais).
No entanto, devido à valorização do Real e à inflação (medida pelo Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna, IGP-DI), em termos reais, nem todos os produtos conseguiram va- lorização acima da inflação brasileira. Assim, mesmo diante de faturamento recorde, em moeda nacional, a receita real média não apre- sentou o mesmo desempenho obtido em 2020.
Pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, com base em dados do Ministério da Economia (ME), Secretaria de Comércio Exterior – sistema Comexstat –, mostram que o bom desempenho das exportações agrícolas em 2021 esteve atre- lado ao crescimento dos preços de exportação e aos aumentos dos embarques dos produtos do complexo da soja, carnes (suína e de fran- go), madeira e celulose e frutas, principalmente.
Preço de exportação em alta garante mais um ano de faturamento recorde para o agro
Evolução das Exportações do Agronegócio Brasileiro nos anos de 2020 e 2021
A Figura 1 mostra a evolução men- sal dos indicadores de preços em dólares e de volume de exportação, calculados pelo Cepea para os últimos dois anos. Observa-se que os volumes exportados (IVE-Agro/Cepea), após iniciarem o ano de 2021 em patamares infe- riores aos observados no mesmo período de 2020, passam a superar, nos meses seguintes (março até maio), os do ano anterior. A partir de junho/21, contudo, as quantidades embarca- das são menores, comparativamente ao mesmo mês do ano de 2020, comportamento que só se reverte em dezembro. Desse modo, o quan- tum exportado em dezembro de 2021 superou em 9,5% os embarques de dezembro/20, mas, no acumulado do ano, houve queda de 8% no
volume embarcado em 2021 frente ao de 2020.
Os preços médios em dólares (IPE-A- gro/Cepea) recebidos pelos exportadores do setor apresentaram recuperação já em janeiro e se mantiveram, em 2021, acima dos recebidos em todos os meses de 2020. Nesse cenário, a média anual subiu 27% e, no comparativo de dezembro/21 contra dezembro/20, a alta foi de 39%. Esse movimento dos preços ao longo dos últimos dois anos, e principalmente em 2021, se deve à recuperação da economia mundial, prin- cipalmente de importantes parceiros comerciais do Brasil, como China, EUA e países europeus.
Importante ressaltar que a safra brasileira de grãos na temporada 2020/21 caiu 1,8% fren- te à anterior, segundo a Conab (Companhia
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Figura 1 - Índices de preço médio de exportação IPE-Agro/Cepea e Quantum exportado IVE-Agro/Cepea. Dados mensais de janeiro de 2020 a dezembro de 2021 (índice: jan/20=100)
Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados da Comexstat (ME).
Nacional de Abastecimento), e produtos im- portantes como milho e café foram prejudi- cados por eventos climáticos e apresentaram
redução em relação à oferta esperada. Para a safra 2021/22, há expectativa de avan- ço, mas já há culturas afetadas pelo clima.
A partir desta edição, o antigo Índice de Taxa de Câmbio Efetiva Real (IC-Agro/Ce- pea) é substituído pelo Índice de Câmbio Real (ICR/Cepea). Em termos de comparação, o an- tigo IC-Agro/Cepea pretendia aferir como a competividade (ou atratividade) dos produtos brasileiros era afetada pela evolução das taxas de câmbio real, compostas pela taxa de troca entre o Real do Brasil e as moedas dos prin- cipais países importadores e respectivas taxas de inflação. O ICR/Cepea, por sua vez, deixa de refletir competitividade para indicar o valor real em Reais (moeda nacional) das receitas dos exportadores brasileiros. Para isso, trans- formam-se essas receitas de dólares para re- ais (pelo câmbio nominal corrente) e, a seguir, deflaciona-se pela inflação relevante para os produtores – no caso do Brasil, o IGP-DI. Este índice é utilizado porque mede mensalmente a renda real proveniente das exportações tanto
para fins de compra de bens consumo, quanto insumos e bens de capital pelos produtores do agronegócio – todos itens contemplados pelo IGP-DI. Esse deve ser, aliás, o parâmetro consi- derado pelo exportador: auferir o máximo valor real em moeda nacional por unidade de produ- to exportado. Com a mudança de IC-Agro para ICR, substitui-se o IAT-Agro/Cepea (Índice de Atratividade, usado anteriormente), por IPER, que é o preço médio de exportação em dólares convertido para valor real em moeda nacional.
Em 2021, as cotações do dólar norte- -americano no Brasil se mantiveram mais está- veis, comparativamente ao que se observou no ano anterior; porém num patamar bem mais elevado do que em 2019. Na comparação en- tre os últimos dois anos (2020 e 2021), o Real mostra valorização de quase 18% em relação à moeda norte-americana, já descontando-se o efeito da inflação brasileira (ICR/Cepea).
0 20 40 60 80 100 120 140 160
índce= janeiro2020=100
IPE-Agro/Cepea
2020 2021
0 50 100 150 200 250 300
índce= janeiro2020=100
IVE-Agro/Cepea
2020 2021
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Esse efeito da valorização do Real, valor médio do ano, em conjunto com a inflação brasileira, reduziu o efeito do aumento do preço em dólar sobre os preços recebidos pelos exportadores em Reais (IPER-Agro/Cepea), que se valoriza-
ram em apenas 4%. Ao final do ano, contudo, os preços tornam a registrar altas significativas – o valor de dezembro/21 em relação ao de de- zembro/20 avançou 30% – (Figura 2).
Figura 2 - ICR/Cepea, IPER-Agro/Cepea. Dados mensais de janeiro de 2020 a dezembro de 2021 (índice: jan/20=100).
Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados da Comexstat (ME).
Vale ressaltar que o Brasil, por ser um grande ofertante de produtos agropecuários, tem elevado cada vez mais sua importância no comércio internacional de alimentos, fibras e energia renovável. Por conta dessa caracterís- tica também, seu balanço de comércio com o resto do mundo tem histórico superavitário. Im- portante ressaltar que o cálculo da Balança Co- mercial do setor leva em conta a diferença entre exportação e importação dos produtos em seus diferentes níveis de processamento, básicos e industrializados , e não considera insumos para produção agropecuária e maquinário. Só no ano de 2021, o superávit do setor superou os US$
105 bilhões, resultado de exportações superio- res a US$ 120,5 bilhões e importações, de US$
15,5 bilhões. Essa entrada líquida de moeda es- trangeira (divisas) proporcionou ao País elevar as importações de outros setores da economia, alta de quase 40%, sem pressão sobre o valor do câmbio. Outra importante função do setor é a de contribuir para a estabilidade dos preços domésticos (inflação), seja pelo excedente de divisas gerado, o que ajuda a controlar o valor do câmbio, seja pelo avanço do suprimento de alimentos à população, garantindo, assim, a se- gurança alimentar dos brasileiros.
A descrição dos produtos que compõem a pauta de exportações e importações do setor pode ser encontrada em: http://sistemasweb.agricultura.gov.
br/pages/AGROSTAT.html 1
1
0 20 40 60 80 100 120 140
índce= janeiro2020=100
ICR/Cepea
2020 2021
0 20 40 60 80 100 120 140 160
índce= janeiro2020=100
IPER-Agro/Cepea
2020 2021
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Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados do Comexstat (ME) e Agrostat (MAPA).
Figura 3 - Volume das Exportações para Produtos Específicos (IVE-Agro/Cepea) – variações percentuais referentes às exportações de 2021 em comparação com o ano de 2020
Desempenho dos principais produtos exportados
Devido a adversidades climáticas, cul- turas como milho, cana-de-açúcar e café apre- sentam redução de oferta em 2021. Essa redu- ção na disponibilidade de produto no mercado doméstico resultou em queda das quantidades exportadas no ano. Conforme pode-se obser- var da Figura 3, o volume exportado (IVE-Agro/
Cepea) em 2021 de milho (-40,7%), etanol (-27%), açúcar (-11%) e café (-3,6%) apresen- taram quedas em relação a 2020. Houve redu- ção também dos embarques de carne bovina in natura (-9,5%), por conta da suspensão das
compras pelo mercado chinês, e do algodão em pluma (-5,1%). Os produtos do setor florestal, celulose (+0,3%) e madeira (+19,6%) apresen- taram aumentos dos embarques, da mesma for- ma que os produtos do complexo da soja: grãos (+3,8%), farelo (+1,6%) e óleo, com destaque para o óleo de soja que cresceu quase 49%.
Cresceram também as vendas externas de fru- tas (+18,1%), carne suína (+10,7%), suco de laranja (+10,4%) e carne de frango (+8,3%) (Figura 3).
-40,7% -27,0% -11,0%-9,5%-5,1%-3,6% 0,3%1,6%3,8%8,3%10,4%10,7%18,1%19,6% 48,8%
-50% -40% -30% -20% -10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%
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Figura 4 - Preços de Exportação para Produtos Específicos (IPE-Agro/Cepea) – variações percentuais referentes a 2021 em comparação com 2021
Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados do Comexstat (ME) e Agrostat (MAPA).
Diferentemente do que ocorreu com o quantum exportado, o forte crescimento da demanda mundial por alimentos, aliada a uma oferta mais restrita em importantes países pro- dutores como o Brasil, levou à apreciação dos preços em dólar (IPE-Agro/Cepea) de todos os produtos selecionados (principais produtos de exportação do setor). O destaque ficou com os produtos do complexo da soja: o óleo de soja,
foi o que registrou a maior valorização em dólar, de 78%. Quanto à soja em grão e ao farelo, as altas nos preços em dólar foram de 30% e de 22,7%, respectivamente. Todos os outros pro- dutos apresentaram avanços significativos, aci- ma de 10%. Apenas as frutas (+1,9%), o suco de laranja (+3,1%) e a carne suína (+4,9%) re- gistraram aumentos inferiores a 10% (Figura 4).
A valorização do Real, de 18% em 2021, conteve a remuneração em Reais, des- contada a inflação. Assim, o índice de preços em Real – IPER-Agro/Cepea – indica que apenas os produtos do complexo da soja e o etanol con-
seguiram obter ganhos em 2021 frente a 2020.
Todos os outros produtos tiveram perdas, em termos reais (Figura 5).
1,9%3,1%4,9%11,2%12,1%15,4%18,0%18,2%19,6%20,5%20,6%21,9%22,7%30,3% 78,0%
-10% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
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A China é o principal destino das ven- das externas do agronegócio brasileiro, lugar que ocupa desde 2013, quando assumiu a lide- rança na parceria comercial com o setor. Desde então, o país asiático tem aumentado cada vez mais sua participação na pauta de vendas dos produtos brasileiros. Em 2021, as exportações da carne brasileira para o país asiático aumen- taram, mesmo com o embargo que barrou a en- trada da carne bovina brasileira de setembro até meados de dezembro. A participação do país asiático no total das exportações do agronegó- cio brasileiro ficou em 34% (Figura 6). A soja em grão continua sendo o principal produto envia- do ao país, que adquiriu 70% de toda soja em grão exportada pelo Brasil em 2021. A China também é o principal destino das carnes bovina (49%), suína (51%) e de frango (17%); além de principal comprador de celulose (41%) e da plu- ma de algodão (29%). O óleo de soja (23,5%),
o açúcar (15,4%), a madeira (6,22%) e o suco de laranja (5,7%) também tiveram o país asi- ático como importante comprador em 2021.
A Europa, considerando-se apenas os países que fazem parte da zona do Euro, é o segundo destino mais importante para os pro- dutos brasileiros (Figura 6). Esses países de- mandaram 14,9% do valor total exportado pelo agronegócio em 2021. Os principais produtos adquiridos pelos países europeus são os flo- restais, café, frutas e suco de laranja. Entre os europeus, a Alemanha é um importante destino do café brasileiro, com participação de 17% na aquisição das vendas externas brasileiras; 7,5%
na aquisição do farelo de soja brasileiro e 2%
das frutas. Os Países Baixos foram destino de quase 30% das frutas brasileiras, 27% do suco brasileiro de laranja, 12% do farelo de soja e 3% do grão, 9,8% da celulose, 6,5% do etanol e 4,4% da carne de frango. Espanha ficou com Figura 5 - Índices de Preço real em Reais (IPE-Agro/Cepea) de Exportação de Produtos Específicos (IPER-Agro/Cepea) – variações percentuais referentes ao ano de 2021 em comparação com 2020
Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados do Comexstat (ME) e Agrostat (MAPA).
PRINCIPAIS DESTINOS
46,3%
7,1%
0,8%
0,2%
-0,9%
-1,0%
-1,7%
-2,9%
-3,0%
-5,2%
-7,9%
-8,6%
-13,8%
-15,3%
-16,3%
-30% -20% -10% 0% 10% 20% 30% 40% 50%
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20% do suco de laranja, 9,5% das fru- tas, 4,3% do grão de soja, 4,5% do farelo e 2,2% do café brasileiros vendidos ao exterior.
Os Estados Unidos são o terceiro des- tino das exportações do agronegócio brasi- leiro, e manteve sua participação em 7,5%
em 2021 (Figura 6). O país foi importante destino para madeira (46%), suco de laran- ja (20,4%), etanol (25,2%), café (19%), fru- tas (16,4%), celulose (16,3%), papel (9,5%)
e carne bovina in natura (5,8%) brasileiros.
Outros países asiáticos que têm man- tido boa participação nas vendas brasileiras de produtos do agronegócio são: Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Hong Kong. A participação do gru- po dos “demais países” absorveu 35,4% das vendas externas dos produtos agrícolas – esse grupo engloba mais de 180 países com peque- na participação individual, mas, que, juntos, ti- veram a maior relevância em 2021 (Figura 6).
Figura 6 - Principais destinos das exportações do agronegócio brasileiro em 2021, de acordo com participação no faturamento em dólar
Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados do Comexstat (ME) e Agrostat (MAPA).
No caso da carne de frango, outros des- tinos importantes em 2021 foram a Arábia Sau- dita, com participação de 8,7% nas exportações brasileiras, Japão, com 11,3%, e Emirados Ára- bes Unidos, com 9,2%. O óleo de soja brasileiro tem como importante destino também a Índia, com participação de 38,7%, e Bangladesh, com 10%. Outros destinos importantes para o fa- relo de soja foram Tailândia (14%), Indonésia (11,6%), Coreia do Sul (8,7%) e Vietnã (7,5%).
O Chile (5,7%), a Argentina (3,7%), Hong Kong (12,4%), Vietnã (3,7%) e Japão (2,4%) ficaram com parcela significativa da carne suína vendida ao exterior em 2021.
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PRINCIPAIS SETORES
O complexo da soja é um dos setores da economia brasileira que mais exporta e segue na liderança como o maior setor agroexporta- dor, com participação de quase 40% na receita gerada com os envios externos do agronegócio em 2021, ou o equivalente a US$ 48 bilhões (Figura 7). O setor de pecuária, considerando-se as carnes bovina, suína e de frango, ficou em se- gundo lugar em termos de participação na pau- ta de exportações do agronegócio, represen- tando 16,5% do faturamento obtido em 2021, e também apresentou aumento da receita em dólar, da ordem de quase 16%. O setor florestal tem incrementado suas exportações nos últimos anos e já ultrapassou a geração de receita exter- na do setor sucroalcooleiro, ficando em terceiro lugar, com participação de 11,6%, e geração de receita de aproximadamente US$ 14 bilhões. O setor sucroalcooleiro, por sua vez, se manteve na quarta posição; com participação de 8,5% com vendas que superaram os US$ 10 bilhões, e 3%
acima do faturamento externo de 2020. O setor cafeeiro manteve participação de 5,3%, com vendas no valor de US$ 6,4 bilhões, enquanto o milho gerou receita de US$ 4,1 bilhões, inferior à observada em 2020. Vale destacar que os se- tores produtores de cana-de-açúcar, café e mi- lho foram os que mais enfrentaram problemas com a produtividade em 2020, devido ao clima.
Com queda na oferta esperada, esses setores reduziram seus embarques em 2021, em termos de volume, mas a alta dos preços no mercado internacional puxou o valor das vendas externas tanto do café quanto do açúcar, que cresceram 15% e 5%, respectivamente. Porém, o valor ob- tido com a venda externa de milho caiu 28,5%.
Um importante setor (incluído no grupo outros setores) é o algodão em pluma e seus derivados têxteis, que também tiveram vendas externas maiores em 2021, em relação a 2020, gerando o valor de US$ 3,8 bilhões.
Figura 7 - Principais Setores exportadores do agronegócio brasileiro em 2021, de acordo com participação no faturamento em dólar
Fonte: Cepea-Esalq/USP; com base em dados do Comexstat (ME) e Agrostat (MAPA).
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Foto: Mauro Osaki/Cepea COORDENAÇÃO GERAL: Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, Ph.D, Pesquisador Chefe/Coordenador Científico do
Cepea-Esalq/USP
EXPEDIENTE
CONCLUSÕES
O desempenho do agronegócio no co- mércio exterior em 2021 foi mais uma vez sa- tisfatório, exercendo seu já esperado papel de destaque no mercado e como resultado um im- portante gerador de divisas para o Brasil – com superávit setorial de 105 bilhões de dólares.
Em relação a 2020, o faturamento das expor- tações cresceu 18%. O preço médio em dólar apresentou alta de 27%, suficiente para com- pensar com sobra a queda de 8% no volume exportado. Entretanto, quando se trata da ren- da dos exportadores, é mister considerar o valor real em moeda nacional do faturamento obtido.
Como se sabe, em 2020, o dólar, no mercado nacional, passou por substancial desvalorização real (descontada a inflação) de cerca de 18%
em relação a 2020, com isso, o ganho real de preço de exportação (em moeda nacional) en- tre esses dois anos, foi de apenas 4%. Apenas os produtos do complexo da soja escaparam de queda real de preço. No balanço final o fatura- mento real das exportações caiu 4% em 2021.
O carro chefe das exportações em 2021 continuou sendo a soja e seus deriva- dos, com quase 40% do faturamento expor- tador do agronegócio. Em segundo e terceiro lugares apareceram carnes e produtos flores- tais, com 16% e 12%. O complexo sucroal- cooleiro e o café vêm em seguida, com 8%
e 5%. Do lado comprador, o destaque foi a China, como esperado, proporcionado 34%
do faturamento, enquanto União Europeia e Estados Unidos seguem com 15% e 7,5%.
O ano de 2021 foi marcado pelo alas- tramento da pandemia da covid-19, devido ao surgimento de novas variantes do coronavírus.
Mesmo assim, a economia mundial apresentou
crescimento estimado em 5,9% pelo FMI (Fun- do Monetário Internacional), diante do desem- penho sofrível em 2020 (-3,4%). No biênio, o crescimento acumulado foi de 2,3%. Para 2022, projeta-se crescimento de 4,4%. No Brasil, en- quanto o PIB caiu 3,9% em 2020, estima-se um avanço de 4,5% para 2021, configurando-se uma estagnação no biênio (avanço de apenas 0,4%). Para 2022, a projeção está atualmen- te em apenas 0,3%. O desempenho da eco- nomia brasileira ficará, assim, bastante para trás em relação ao resto do mundo no triênio 2020/22. Desse modo, mais do que o usual, os mercados do agronegócio estarão atrelados às exportações, com consequente aperto no abas- tecimento interno. Os preços internacionais dos alimentos, conforme projeções de órgãos in- ternacionais, apontam para a manutenção de patamares elevados, porém um pouco abaixo dos valores recordes de 2021. No Brasil, ape- sar da estagnação econômica, como os preços do agronegócio são basicamente assentados sobre os valores internacionais, os preços dos alimentos e de outros produtos do agro deverão permanecer relativamente elevados. Ademais, sendo 2022 um ano marcado por disputas elei- torais nacionais e estaduais dificilmente pode ser esperado um recuo do câmbio, sendo mais provável desvalorização adicional da moeda na- cional. Assim, a população brasileira provavel- mente vai passar por mais um ano de alto custo de vida. Especialmente as camadas mais pobres sentirão mais esse efeito e, espera-se, que a so- ciedade e as autoridades do setor público sejam sensíveis o suficiente para acudi-las adequada e oportunamente através de programas de apoio de renda e segurança alimentar.