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LIÇÃO 09 4º TRIMESTRE 2021 OS DONS DE CRISTO PARA A UNIDADE DA IGREJA

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LIÇÃO 09 – 4º TRIMESTRE 2021

OS DONS DE CRISTO PARA A UNIDADE DA IGREJA

TEXTO ÁUREO: E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, Ef 4.11

INTRODUÇÃO

Ef 4.7,8 - Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo. Por isso diz:

Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens.

Os versículos 7 a 16 de Efésios 4 nos fala da diversidade na unidade. Observe, porém, o papel da conjunção “mas” que une o versículo 7 aos anteriores. Vejamos novamente o texto no seu contexto:

Ef 4. 3-7

3. Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.

4. Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação;

5. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo;

6. Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós.

7. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.

A mudança que podemos observar aqui é que a unidade do todo passa para as partes, que compõem o todo, isto é, os membros1. Não há uniformidade na concessão dos dons ministeriais, como não houve em relação aos dons espirituais de 1Co 12, onde Paulo esclarece sua visão a respeito do assunto dizendo: “há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo”, 1Co 12.4. Então, em um contexto de unidade os crentes de Éfeso recebem diferente dons ministeriais, como uma graça, uma dádiva, um favor imerecido, segundo a medida do dom de Cristo. Citando um ator de nome Salmond, o Comentário Bíblico Beacon traz uma consideração sua a este respeito: “Cada um recebe a graça que Cristo tem para dar, e cada um a recebe na proporção à qual o Doador se agrada em dá-la; um a tem em medida maior e outro em medida menor, mas cada um a obtém da mesma Mão e com o mesmo propósito”2.

Ou seja, esta graça é concedida a cada um de nós dentro dos limites que Cristo já determinou.

Eu tenho o meu e você tem o seu, todos os temos. Não há ninguém no corpo de Cristo que não tenha recebido um dom do Senhor. Os detalhes da preocupação com a unidade estão ocupando os pensamentos de Paulo aqui. Ele queria que os crentes soubessem que somos todos iguais e que isto é uma coisa boa, mas também que somos todos diferentes e que isto também é uma coisa boa. Ele precisava expor e a igreja precisava entender, pois quando isto acontece cada um se esforça mais para preservar a unidade, cada um cooperará mais com os demais e o Evangelho poderá manter sua marcha através da igreja militante, que regozija no Seu Deus e faz a Sua vontade.

A primeira dádiva de Deus aos seres humanos foi o dom da vida através do sopro divino. E com ele o ser criado recebeu, não somente a vida biológica, mas também a espiritual e a vida eterna, com a qual haverá de desfrutar para sempre da gloriosa presença do Criador, em um momento em que não será mais atingido pelos males decorrentes do pecado3. As riquezas da graça de Deus, sempre

1 PRICE, Roos E. et. al. Comentário Beacon do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 159.

2 Idem, p. 160.

3 RENOVATO, Elinaldo. Dons espirituais e ministeriais: Servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: 2014, p; 9.

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abundantes, continuaram fluindo através da igreja e o Espírito Santo é o agente deste algo sobrenatural, maravilhoso, um poder indescritível, que dotaria, não somente a igreja do primeiro século, mas a igreja de todos os tempos de condições de sobrevivência, de poder transformador e de vida plena.

A Bíblia de Estudo Pentecostal define “dons” como “manifestações sobrenaturais concedidas da parte do Espírito Santo, e que operam através dos crentes, para o seu bem comum”. O estudo dos dons do Espírito Santo nos conduz em uma diferenciação pedagógica, que os separa em:

▪ Dons espirituais, os dons elencados na primeira Carta aos Coríntios, capítulo 12;

Dons ministeriais, os que são descritos em Efésios 4, razão desta aula, e

▪ Dons de serviço, como interpretados a partir de Romanos 12

Esta classificação é tão somente um recurso didático. Ao expor sobre o assunto, sistematicamente, em 3 de suas cartas o Apóstolo Paulo não parece querer esgotar ou fechar a questão sobre os dons em uma lista, mas assim procede para ajudar em nosso entendimento da questão.

O revestimento especial de poder espiritual concedido por Deus aos seres humanos manifesta- se através de DONS ou CARISMAS do Espírito Santo e devem ser entendidos como capacidades espirituais concedidas, com o propósito de edificar e santificar a igreja de Deus, por meio da instrução aos crentes, e também para ganhar vidas para o reino de Deus. O uso dos dons na igreja precisa ser regulado e equilibrado pela Palavra de Deus.

Os discípulos de Jesus, que foram batizados com o Espírito Santo no dia de Pentecostes, já eram salvos, neles já habitava o Espírito Santo, mas através dessa experiência estavam recebendo o reforço necessário para o “serviço” cristão. Essa experiência deve ser buscada para aqueles que têm o coração no Reino de Deus e lutam por sua expansão.

At 1.8 - Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra. (ARA)

Precisamos, mais do que nunca, em nossos dias, de desenvolver uma visão correta e bíblica a respeito dos dons de Deus, concedidos por sua graça. O abuso dos dons, como meio de autoglorificação e manipulação sempre representou um problema de grandes proporções no meio do povo de Deus. Daí a importância de tirarmos tempo para dedicar ao estudo de cada um deles, procurando entendê-los em seu próprio contexto e aplicar na vida cotidiana o que temos a nossa disposição, com equilíbrio, sobriedade, conhecimento e discernimento.

Ef 4.11-13 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo.

1. OS DONS CONCEDIDOS PELA GRAÇA DIVINA

Nosso entendimento é que o revestimento de poder pelo Espírito Santo é tão atual hoje como foi nos dias da igreja nascente. Embora o Espírito Santo já estivesse em atuação desde a criação do mundo Suas manifestações não foram em Sua plenitude, até que foi derramado no Dia de Pentecoste.

Desde então, como diz a introdução deste tópico: “Por sua graça, Deus tem concedido a cada cristão, membro de Seu Corpo, a capacidade para manter a normalidade que o corpo necessita para sustentar- se e manter o ritmo de suas atividades”.

A origem dos dons é o Cristo ressurreto que ascendeu aos céus. O Cristo exaltado concedeu, e continua concedendo, seus dons aos que O recebem e passam a viver com Ele, em novidade de vida.

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Veja que o Apóstolo Paulo está retomando a ideia presente no Salmo 68, um salmo messiânico que retrata de modo adequado os caminhos do Senhor Jesus entre os seus santos, e sua ascensão à glória.

Com a aplicação que Paulo faz do Salmo 18 temos um caso típico onde o Antigo Testamento é esclarecido pelo Novo Testamento.

Ef 4.8 - Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens.

Sl 68.18 - Tu subiste ao alto, levaste cativo o cativeiro, recebeste dons para os homens, e até para os rebeldes, para que o Senhor Deus habitasse entre eles.

A diferença encontrada é que o Sl 68 é que “Cristo” recebeu dons de Deus para reparti-los com os seres humanos em sua vida e ministério terreno, e, agora os humanos recebem os dons de Cristo para reparti-los a toda humanidade. Por isto Paulo vai afirmar em 1Co 11.23 - Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei...

Sem os recebimentos dos dons de Cristo a igreja não teria condições de se manter. Sem a orientação divina e a capacitação espiritual, ministerial e para o serviço cristão, jamais ela sustentaria o ritmo de suas atividades. A medida do dom de Cristo é perfeita, Ef 4.7, também é completa, plena e suficiente. Todos e cada um se veem à disposição do Espírito do Senhor que sempre pretendeu fazer obras excelentes no meio do seu povo e o fará pela distribuição dos dons.

Sl 84.5-7 - Bem-aventurado o homem cuja força está em ti, em cujo coração estão os caminhos aplanados. Que, passando pelo vale de Baca, faz dele uma fonte; a chuva também enche os tanques.

Vão indo de força em força; cada um deles em Sião aparece perante Deus.

Is 53.6 - Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho;

mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos.

At 2.44. - E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. [...] E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração,

1.1. A graça concedida para a manutenção da unidade

Temos visto que, em Ef 4.7 a ênfase recai sobre a graça de Deus. É pela graça que funções específicas nos são confiadas quando recebemos o dom de Cristo. E, então , somos capacitados para diferentes funções e trabalhos a desempenhar na igreja e no mundo. Sabemos, pelas Escrituras, que Deus criou o ser humano com propósitos específicos, que podem ser resumidos da seguinte maneira:

▪ Para que tivesse conhecimento correto de Deus - Ef 4.24; Is 1.3; Os 6.3; Jo 17.3.

▪ Para que O amasse de todo o coração – Dt 6.5; Mt 22.37; 1 Jo 4.16.

▪ Para que vivesse com Deus - Gn 3.8; At 17.23,24; 2 Co 6.16.

▪ Para que vivesse com Deus em eterna felicidade – Rm 4.6,9; Gl 4.15; Ap 21.3,4

▪ Para que O glorificasse (essa é a principal razão) – Sl 96.6; 104.31; Is 43.7; Rm 1.18,21;

▪ Para que O louvasse – Ap 22.14; Sl 103.1,2; Ef 1.11,12

Todavia, fica muito claro que nada disto é possível sem a oferta da GRAÇA. Foi para tudo isto que o ser humano foi criado, mas não consegue cumprir nenhum deste propósitos sem a graça de Deus. Então, pela manifestação da sua graça Deus nos concedeu “ferramentas”, que são os dons ou carismas, e estão disposição da igreja para que ela exerça sua missão profética, proclamando o Evangelho de Cristo de modo eficaz, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais, Ef 6.12.

“O dom, no sentido cristão, é uma concessão sobrenatural de Deus a nós, tanto para dar sentido às nossas vidas quanto para melhorar o universo em que vivemos”. Não tem a ver com aptidões

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naturais, mas elas, de certa forma, serão aproveitadas no conjunto. A graça de Deus que concede a cada um o dom que lhe é próprio, na medida do dom de Cristo, também dá as condições necessárias para levar adiante a boa obra começada, Fp 1.6, que haverá de ser concluída pelas condições fornecidas pelo próprio Deus de toda graça. O anúncio da graça que liberta, contido no Evangelho revela a misericórdia de um Deus perdoador, cheio de compaixão, piedoso, sofredor e grande em benignidade e verdade, Sl 86.15. Precisamos entender hoje o valor dessa mesma graça, que mudou continua mudando a vida dos seres humanos ao redor do mundo.

Seguindo na esteira da Carta de Paulo aos Efésios 2.5,6, o pecador está morto, e nessa condição não pode ajudar em nada. Como efetuaria ele a sua própria ressurreição? Assim como não pudemos ajudar em nada quando do nosso primeiro nascimento, muito menos em nosso segundo (novo) nascimento. Tudo é pela graça, para que o homem não tenha de que se gloriar4.

Rm 11.6 - Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra.

A constatação final é de que tudo é pela graça:

▪ Nossa salvação em Cristo (At 15.11; Rm 3.24; Ef 2.8;)

▪ Nosso crescimento na fé (2Pe 3.18).

▪ É por meio dela que triunfamos contra o mal (Rm 6.14; Hb 13.9; At 4.33; 2Co 12.9)

▪ É por ela que trabalhamos para o Senhor (Hb 12.28; 1Co 3.10; 15.10; 2Co 6.1)

▪ Através dela, falamos (Sl 45.2; Cl 4.6)

▪ É por ela que cantamos louvores (Cl 3.16)

Temos nela o desenvolvimento de diferentes dons (Rm 12.6)

▪ Ela torna possível o tratamento e cuidado uns dos outros (Rt 2.10)

Antônio Gilberto apresenta um resumo do seu entendimento dessa doutrina nos seguintes termos:

A graça de Deus é o dom da salvação em Cristo, como dádiva de Deus ao pecador, indigno e merecedor do justo juízo de Deus (Tt 2 .1 1). Ela é o poder sustentador de Deus, que nos mantém firmes e perseverantes na fé, depois de salvos (2Co 12.9), como lemos em 2 Timóteo 2.1: “Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus”. A graça do Senhor é a dádiva das bênçãos diárias que recebemos dEle, sem merecê-las (Jo 1.1 6). E, ainda, a dádiva da capacitação divina no crente, para este realizar a obra de Deus (1Co 15.10; Hb 12.28). Atentemos, pois, para a recomendação da Palavra de Deus, em 1 Coríntios 3.10:

“Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele”5.

Nunca foi pelas obras de “justiça” que houvéssemos feito, Tt 3.5, mas por sua graça e segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo, que nos cumula de dons espirituais, ministeriais e para o serviço divino. E assim cumprimos nossa missão no mundo e nos mantemos unidos em torno do Cordeiro de Deus, sendo “igreja” no sentido exato da palavra.

1.2. O fundamento da unidade e dos dons

4 GILBERTO, Antônio. Soteriologia. In: CPAD. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.

352.

5 Idem.

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Os dons ou carismas são concedidos por Cristo, por meio do Espírito Santo. Este é o ponto central, o “núcleo-duro” em torno do qual se desenvolve toda esta questão. Eles são concedidos para o que for útil, 1Co 12.7, e de acordo com aquilo que Deus quer, 1Co 12.18, conforme se lê também no Sl 135.6. Nunca foi para benefício próprio, mas é para o proveito de todo “corpo”.

Neste item o comentarista voltou-se para explicar a expressão: “subindo ao alto, levou cativou o cativeiro e deu dons aos homens” Ef 4.8. Como entendê-la? Há muitos e diferentes comentários sobre este versículo. Pela aplicação que Paulo faz do Salmo 68, o comentarista afirma que Paulo está traçando, neste ponto, “uma imagem de um conquistador militar levando seus cativos e dividindo os espólios com seus seguidores”. E que isto seria o relato de uma declaração profética sobre a vitória de Cristo no calvário e sua ascensão (que veremos no próximo item).

Levar cativo o cativeiro fala da realização sobrenatural de Cristo em sua descida às partes mais baixas da terra e sua ascensão aos céus, que propiciou a restauração geral de todas as coisas.

Champlin6 escreveu que como não há explicação única sobre o que isso poderia significar, várias explicações têm sido oferecidas. Ele então passa a discorrer sobre as explanações principais e mais prováveis:

1. Tornar cativo o que mantém o cativeiro. A alusão é à derrota dos inimigos de Deus, sobretudo os poderes angelicais malignos: Satanás, a morte, a maldição e o pecado (Cl 2.15 e 2Pe 2.4).

Naturalmente que essa é a maneira mais simples de entendermos essas palavras, segundo seu uso normal. Podemos supor que o pecado, a morte e os poderes malignos de toda a sorte estão em foco, incluindo seres inteligentes. Se essa é a correta interpretação, então este versículo é paralelo ao trecho de Cl 2.15: despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz.

2. Libertar os cativos do cativeiros. Outros supõem que este versículo ensina a remoção dos santos que estavam no mundo intermediário (o Sheol), os quais seriam transportados para os lugares celestiais. Esses cativos, portanto, seriam aqueles que anteriormente tinham estado em cativeiro, na porção boa do Hades, mas que foram libertados dali quando da ascensão de Cristo aos céus. É verdade que várias das fontes informativas sobre a “descida de Cristo ao Hades”

mostram-no a levar os remidos para fora daquela “prisão” que o Hades representava.

3. Outros percebem um “sabor” Redentor nessa expressão. Pois Deus conquista, vence, leva consigo, toma para si. Também faz dos inimigos e antagonistas de sua teocracia servos da mesma. Assim também, em um sentido mais elevado, Cristo fez de Saulo, do inimigo e destruidor da igreja um apóstolo. O ato de Deus tomar e receber para si aponta para uma doação subsequente, a doação de Cristo a um recebimento prévio. Trata-se de uma referência aos seres humanos conquistados por ele, a quem ele outorgou dons da graça, a fim de que eles mesmos sejam e possam tornar-se dons para os homens, em círculos maiores.

O fundamento da unidade da igreja e dos dons concedidos a todos os seus membros é Cristo.

E isto sucedeu, segundo relato de Paulo, após Cristo ter levado cativo o cativeiro. Persiste porém, uma dificuldade por parte de alguns em entender como isto pode ter acontecido no lapso de tempo entre a crucificação e a ressurreição. A referência ao mundo dos mortos nas Escrituras faz com que

6 CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. v.4. São Paulo, Milenium, 1987, p. 599

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seja também traduzido, em algumas passagens, por inferno. A palavra inferno não aparece nos escritos originais, mas algumas palavras são assim traduzidas:

Sheol: aparece 65 vezes no Antigo Testamento e pode ser traduzida por sepultura, inferno, morte. É o lugar de todos os que partiram dessa vida, tanto crentes quanto descrentes

Hades: Aparece 42 vezes e é a palavra dada ao mundo dos mortos no Novo Testamento.

Embora traduzidas como inferno essa duas palavras não podem ser entendidas literalmente como inferno porque referem-se a um lugar temporário enquanto inferno é uma habitação permanente de punição que durará eternamente.

Tártaro: aparece apenas uma vez em 2Pe 2.4 e é definida como “o mais profundo abismo do Hades”. Não se sabe muito acerca desse abismo apenas que ele também é temporário e onde alguns anjos decaídos estão aprisionados.

Gehenna: (Geena) Essa é a palavra dada no Novo Testamento ao lugar permanente dos mortos, usada pelo próprio Jesus Cristo 11 vezes, por exemplo Mt 5.22. É acerca deste lugar que Jesus disse: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno [gehenna] a alma e o corpo.” Mt 10.28

A explicação dada por Champlin nos ajuda a entender a utilização dessa palavra: “De fato, ao fogo de Geena, o vale de Hinom, [trata-se de] um vale estreito e escuro, ao sul de Jerusalém, onde o fogo queimava continuamente. Antes os judeus idólatras haviam usado o vale para sacrificar seus próprios filhos, era o lugar onde os sacrifícios humanos erram oferecidos ao deus pagão Moloque nos dias de Acaz e Manassés (2Rs 16.3; 21.6). Mais tarde o lugar foi usado como monturo da cidade.

Além do lixo, eram jogados ali os corpos dos animais e dos criminosos. O fogo que queimava o lixo subia continuamente no vale, e por isso o lugar se tornou símbolo do inferno”7.

Segundo escreveu Tim LaHaye, “Nenhum outro a não ser Jesus Cristo já deu uma resposta digna de crédito a essa questão [a do mundo dos mortos] - nenhuma religião, nenhum educador, ninguém. Isso porque ninguém sabe onde ou como a vida pós-morte vai se revelar. Ninguém, isto é, exceto Jesus Cristo, Ele nos tem dado o ensino mais decisivo sobre esse assunto”8. Isto porque foi o único que esteve lá com poder e autoridade para agir e mudar a estrutura e funcionamento de tudo.

LaHaye, baseando-se em Lucas 16, explica a existência de três compartimentos no Hades: (1) O Seio de Abraão (ou Paraíso); (2) O Grande Abismo e (3) O Lugar de Tormento. Quando Paulo escreveu sobre isto aos crentes de Éfeso, de acordo com a interpretação cristã, nos coloca diante de uma situação pós-morte, que modifica após a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus Cristo. O crente da era da Igreja não tem mais que ir para o Sheol-Hades, assim como ocorria aos crentes do Antigo Testamento ou antes dele. Portanto, nesse assunto, a história mais uma vez divide-se em antes e depois de Jesus Cristo.

Ciro Sanches escreve sobre esse assunto afirmando que: “Nos tempos do Antigo Testamento Paraíso e Hades ficavam na mesma região; eram separados por um abismo intransponível (Lc 16.19- 31). Quando Jesus morreu, desceu em espírito a essa região e transportou de lá os salvos para o terceiro Céu – para entender essa transição claramente, fez-se necessário estudar Mt 16.18; Lc 23.43;

7 CHAMPLIN, Russell, Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. v. 1. São Paulo: Hagnos, 2002, p. 311.

8 LAHAYE, Tim. O final dos tempos: Glorioso Retorno. São Paulo: Abba Press Editorial Ltda, 2004, p. 127.

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Ef 4.8,9 e 2Co 12.1-4, nessa ordem. Quanto aos ímpios permanecem no Hades (uma espécie de antessala do inferno”, que não deixa de ser "um inferno”, um lugar de tormento (Lc 16.23)”9.

1.3. A vitória de Cristo no Calvário

Ef 4.9,10 - Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.

Entendemos esta expressão “partes mais baixas” como o Hades, o mundo dos mortos, ou, possivelmente, a sepultura, e não apenas uma região mais baixa que os céus. Nestes versículos, o apóstolo trata não só da humilhação, mas também da exaltação de Cristo. O impacto planejado de suas palavras é destacar que o doador de dons é o Soberano do universo. Desta forma, Cristo é exaltado para cumprir todas as coisas10.

Fp 2.5-11 - De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens. E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

Aquele que subiu e deu dons aos homens é também aquele que desceu às partes mais baixas a terra. Havendo feito isto, passou pela sepultura, enfrentou a morte e ressurgiu vitorioso, tendo ressuscitado ao terceiro dia conforme predisse. Depois subiu ao céu exaltado, assumindo seu lugar a destra de Deus. Jesus derrotou os nosso adversários espirituais, tornando o que nos mantinha no cativeiro do pecado em seus próprios cativos. O pecado, a morte e Satanás foram derrotados pelo poder do nosso Rei. Mackintosh afirma:

JESUS MORREU E RESSUSCITOU" (1 Ts 4:14). Este bendito Senhor deixou o seio do amor eterno, o trono da glória, as mansões de luz imarcescível, veio a este mundo de dores e pecado, tomou sobre Si a forma da carne do pecado, e, depois de haver manifestado e glorificado perfeitamente Deus em todos os atos da Sua vida bendita no mundo, morreu na cruz sob peso de todas as transgressões do Seu povo. E deste modo satisfez tudo que era ou podia ser contra nós. Ele engradeceu e honrou a lei (Is 42:21); e, fazendo-o, tornou-Se maldição sendo pendurado no madeiro. Todos os direitos divinos foram satisfeitos, todos os inimigos reduzidos ao silêncio e os obstáculos foram todos derribados. [...]. O Senhor Jesus tomou o nosso lugar na cruz: foi o nosso substituto. Ele morreu, "o justo pelos injustos" (IPe 3:18); foi feito "pecado por nós" (2Co 5:21); morreu em lugar do pecador; foi sepultado e ressuscitou, havendo cumprido tudo. Por isso nada há absolutamente contra o crente: ele está unido a Cristo e encontra-se na mesma condição de justiça "porque, qual ele é, somos nós também neste mundo" (1 Jo 4:17)11.

A vitória de Cristo no calvário abriu caminho para os desdobramentos do plano divino de redenção da humanidade caída. A vida de união como Senhor começa no lado celestial da cruz.

9 GILBERTO, Antonio. et. al. Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 504.

10 PRICE, Roos E. et. al. op. cit., p. 160.

11 MACKINTOSH, C. H. Estudos sobre o Livro de Êxodo. 2ª Edição. Diadema, SP: Depósito de Literatura Cristã.

2001, p. 66-67.

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Através de sua morte e ressurreição estamos certos de que há qualquer coisa depois da morte e nossa redenção, está para além dos limites do domínio da morte.

Hb 10.19,20 - Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne.

Não conquistamos o perdão de Deus através da vida de obediência de Cristo. Nossa maior riqueza não está na sua encarnação e ministério terreno, está na sua morte. Foi a Sua morte na cruz que abriu as comportas eternas do amor, que, de outra maneira, ficariam fechadas para sempre. Se o Senhor Jesus continuasse até este presente momento percorrendo as cidades de Israel e “fazendo bem”

(At 10.38) o véu do templo continuaria inteiro, para impedir a entrada do adorador na presença de Deus12. Foi a Sua morte que o rasgou o véu "de alto abaixo", Mc 15.38.

Na cruz ele foi esmagado pelas nossas iniquidades (Is 53.5; 1Pe 2.24); e foi na cruz que Ele suportou essas "pisaduras" e não em nenhuma outra parte. Em sua vida terrena ele disse: Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!, Lc 12.50. Mas mesmo angustiado, com sua alma perturbada, conforme lemos em Jo 12.27 quando Ele diz: Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora. E também turbado em seu espírito, como lemos em Jo 13.21 - Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair. Mesmo assim não rejeitou o cálice que haveria de beber, Lc 22.42.

Sua morte na cruz abriu uma saída justa através da qual o Seu amor pôde correr livremente, até aos culpados filhos de Adão, e foi profetizada por Ele mesmo, quando disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto, Jo 12.24. Ele era o precioso “grão de trigo” e teria ficado para sempre “só”, se, apesar de haver encarnado, não tivesse, por meio da Sua morte sobre o madeiro, tirado tudo aquilo que pudesse impedir a união do Seu povo Consigo na ressurreição. Assim, o unigênito do pai tornou-se o primogênito entre muitos irmãos, Rm 8.29, que desceu como filho único mas subiu levando muitos filhos para Deus. Hb 2.13 - Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu.

E nós somos convidados a sermos participantes desta morte e a trazer a morte de Cristo em nossos próprios corpos, sendo este o único caminho e o meio eficaz de nossa unidade. O crente em Jesus deve se considerar morto para o pecado (não morrendo para o pecado) e viver na dependência do Espírito Santo para que este “considerar” se torne verdadeiro. Conforme palavras de Jessie Penn- Lewis: “Permanecendo na base de “morto para o pecado”, o crente vê o domínio do pecado quebrado, e, na base do “viver para Deus” em Cristo Jesus, ele é nova criação (2Co 5.17). Unido ao Senhor, ele é um espírito com Ele (1Co 6.17) - sua vida está escondida com Cristo em Deus”13.

Rm 6.6 - Sabendo isto, que o nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado.

2Co 4.10 - Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também nos nossos corpos.

2. DONS: PRODUZIR DA UNIDADE DO CORPO

12 Idem, p. 110.

13 PENN-LEWIS, Jessie. A cruz, o caminho para o Reino: o caminho de sangue que nos levou ao trono da glória. São Paulo: Editora dos clássicos, 2002, p. 18.

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Ef 4.11,12 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo;

Os dons ministeriais de Ef 4.11,12 são o foco deste tópico, estudados como meio de produzir a unidade do corpo de Cristo – sua igreja. Renovato considera que no âmbito cristão os ministérios são serviços que devem ser exercidos por quem tem mentalidade de “servo” e o que não pode ser servo também não pode ser ministro na Igreja de Cristo, Mt 20.2814.

Para vermos a estrutura da igreja primitiva e saber como ela é administrada precisamos levar em consideração os dois lados em que a igreja precisa ser considerada:

1) O lado espiritual: Pelo lado espiritual uma igreja precisa de poder , sabedoria e capacitação espiritual. Vem daí a necessidade dos dons espirituais. Este lado espiritual mostra a igreja como organismo ou corpo de Cristo. Vamos ver um pouco disto mais adiante ao refletirmos sobre Ef 4.15,1615.

2) O lado humano: Pelo lado humano a igreja precisa de liderança e esta não pode ser exercida tão somente pela capacidade humana, intelectual ou teológica. Uma liderança eclesiásticas precisa ser espiritual, ministerial e administrativa. Os ministérios ou serviços indispensáveis ao ordenamento e funcionamento da igreja dependem da graça de Deus16. Os dons ministeriais produzem, tanto quanto fortalecem, a unidade da igreja e precisam estar atuando de modo equilibrado, ao lado dos dons espirituais. Nenhum líder cristão pode dispensar a legitimação através dos dons que os capacita para liderar o Corpo de Cristo na terra crendo que tão somente sua formação secular ou teológica vai capacitá-lo para os erviço divino. Jesus que é o dono e Senhor da igreja distribui os dons, através do Espírito Santo, para aqueles que tiverem este perfil de servos.

2.1. Apóstolos e Profetas

Ef 4.11-12 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.

Como nos explica o comentarista, apóstolos e profetas foram ministros com credenciais intransferíveis. Ainda que todo ministério seja de caráter apostólico, devido ao significado do termo, todavia aqueles que forneceram direção divina e estratégias para o corpo de Cristo no mundo, na qualidade de Apóstolos, escolhidos pelo Senhor Jesus para esta função, foram únicos em sua missão e reconhecimento. Por seu lado, os profetas, na Era da Igreja, são portadores de um dom de Cristo, concedido pelo Espírito Santo, que concede a cada um como quer e para o que for útil e não mais porta-vozes sacramentados e reconhecidos, como foram no período do Antigo Testamento. Para cada uma destas categorias ministeriais estaremos fazendo um pequeno apontamento.

APÓSTOLOS

Ef 4.11-12 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, ..., querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.

1Co 12.28 - E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, ...

14 RENOVATO, Elinaldo. op. cit., p. 20.

15 Idem.

16 Idem, p. 21.

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A dúvida sobre a questão da existência ou não de apóstolos como ministério eclesiástico aprovado, em nossos dias, persiste, apesar de toda “evolução” pela qual vem passando a visão bíblica de ministros e ministérios. Nos dons ministeriais ou extraordinários, concedidos à igreja pelo Espírito Santo, o de Apóstolos abre a lista em Efésios 4. Seria esse um indicativo que o ministério apostólico persistiu com a ordenação de apóstolos sucessores no Novo Testamento e a partir dele?

Veremos um pouco dessa questão, do apostolado, segundo a Bíblia, mas, certamente, muito vai ficar sem ser dito. A palavra apóstolo, de origem grega na forma verbal é apostello, “enviar”, significando “enviado”, usada com o sentido de “agente credenciado”. Subentende aquele que faz serviço especial, em nome e pela autoridade de quem o enviou. Um discípulo é um seguidor, um apóstolo é um comissionado. É empregada em Mt 10.2, mas os trechos Mc 3.13-19 e Lc 6.12-16 mostram que foram escolhidos antes do Sermão do Monte, depois que Jesus passou a noite inteira em oração com esse fim. O termo é usado também para se referir a Jesus, em Hb 3.1. Mais tarde alude a Paulo, em numerosas ocorrências; a Barnabé, em At 14.14; a Matias, escolhido para ocupar o lugar de Judas Iscariotes, em At 1.16-26 e ainda a outros.

Quando se faz afirmativas com relação ao apostolado é necessário também referir se ele está sendo considerado em seu sentido estrito ou no sentido amplo. Isto porque no sentido estrito do termo, quanto ao ofício propriamente dito, não há provas que o apostolado perdure na igreja até hoje e os que tomam esse título não apresentam as qualificações ou credenciais bíblicas do apostolado, mas de modo geral, há apóstolos na igreja até hoje como em todos os tempos, uma vez que todos nós fomos chamados para ser enviados [Jo 20.21], e é certo que todos os cristãos são enviados ao mundo como embaixadores, mensageiros e testemunhas de Cristo, portanto, neste sentido, todos são apóstolos.

Como afirma o comentarista, os ensinamentos apostólicos deram substância à fé dos primeiros crentes, contribuindo assim para a formação do corpo doutrinário da igreja. Os sinais confirmatórios do apostolado, segundo as Escrituras, são:

1. Tinham que ser testemunhas oculares, (At 1.21,22; 1Co 9.1,2) ter conhecido pessoalmente a Cristo e serem escolhidos pelo próprio Cristo;

2. Tinham seus ministérios autenticados com milagres especiais (Mt 10.1; At 5.15,16; 2Co 12.12);

3. Deveriam ser testemunhas da ressurreição (At 1.21-23);

4. Eram preceptores especiais, tanto do reino como da igreja (Mt 10.5,6; Ef 2.20). Dentre o grande grupo de discípulos ele escolheu doze, chamou-os de “apóstolos” e, então, enviou-os a pregar (Lc 6.13; Mc 3.14). Eles foram pessoalmente escolhidos, chamados e comissionados por Jesus Cristo e autorizados a ensinar em nome dele;

5. Um serviço definido os esperava no futuro, (Mt 19.28). Trata-se do governo da nação de Israel no milênio, aludindo a poder político literal e não a mera simbologia de glória e autoridade; Mt 19.28; Ap 21.14.

O Novo Testamento evidencia claramente que esse grupo era pequeno e único. A palavra

“apóstolo” não era uma palavra comum, que pudesse ser aplicada a qualquer cristão como as palavras

“crente”, “santo” ou “irmão”. Era um termo especial reservado aos doze e a um ou outro que o Cristo ressuscitado designara pessoalmente. Portanto, não pode haver sucessão apostólica, a não ser a lealdade à doutrina apostólica do Novo Testamento. Os apóstolos não tiveram sucessores. Pela natureza do caso, ninguém poderia sucedê-los. Eles foram únicos.

A ideia dos apóstolos como fundamento tem despertado muitas discussões, principalmente quanto esse texto é equiparado à 1Co 3.11 - Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. Todavia, é preciso sublinhar que Cristo, de maneira sem igual é

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o único alicerce, ou seja, o único sobre quem uma vida pode ser erigida. No entanto, quando está em foco a ideia de um templo feito de pedras vivas, é certo que haja “pedras fundamentais” nesse templo, sem que isso interfira na posição sem igual de Jesus Cristo. Entendo ser esse um dos pontos cruciais a definir a restrição quanto ao ministério apostólico para os dias atuais. Qual ministro ou ministra estaria hoje em condições de assumir tal posição? Após lançar-se os fundamentos de uma casa volta- se a fazê-lo estando a casa já em um adiantado processo de construção?

Podemos afirmar queem sentido estrito o ministério apostólico ordenado cessou com os 12, escolhidos pelo Senhor, mas que em sentido amplo todos os crentes são apóstolos no sentido de que são chamados e enviados com a missão de pregar o Evangelho a toda criatura, Mt 28.19,20.

PROFETAS

Ef 4.11-12 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, ..., querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.

1Co 12.28 - E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, ...

O ministério de profeta segue por uma linha de pensamento afim à questão do apostolado. Há um dom ministerial de profeta em nossos dias que difere do que tínhamos em termos bíblicos, principalmente no que diz respeito ao Antigo Testamento.

Temos uma descrição bíblica de um dom espiritual de profecia, 1Co 12.8-10, e, de um dom ministerial de profeta, Ef 4.11 e 1Co 12.28. Não são a mesma coisa. O dom ministerial de profeta tem a ver com a capacitação espiritual dos anunciadores da Palavra, pessoas cheias do Espírito Santo, que cooperam na edificação da Igreja, dedicando-se ao ensino e a interpretação das Sagradas Escrituras.

Os profetas do Antigo Testamento serviram como canais de comunicação entre Deus e seu povo, conscientizando-o acerca da vontade e do conhecimento divinos. Foram chamados individualmente e ungidos por Deus para o serviço de emergência, em contraste com o serviço regular dos sacerdotes, anciões e reis. Moisés iniciou o ofício profético em Israel, Nm 11.25,26. Qualquer pessoa poderia se tornar um profeta desde que tivesse uma chamada divina específica.

O termo “profeta”, tanto no hebraico nãbi como no grego prophetes, significa “aquele que fala em lugar de outrem”. Assim sendo, o profeta é um representante de Deus. Nos tempos do Antigo Testamento o ministério profético se desenvolveu como vocação, podendo o chamado acontecer até mesmo antes do nascimento, Jr 1.5. Já no Novo Testamento o que mais chama a atenção e que vai prosperar na igreja é o dom concedido pelo Espírito Santo. Observe, porém, que na distribuição dos dons espirituais, 1Co 12, eles estão disponíveis a todos os salvos que tão somente almejem e busquem, mas na questão dos dons ministeriais eles são específicos para quem tem chamada de Deus para o ministério.

Germano escreveu que o profeta se insere no tempo e no espaço, é sujeito histórico, soberanamente e graciosamente escolhido dentre muitos de sua geração (Jr 1.5; Jo 15.16; 2Tm 1.9).

Que como igreja todos temos responsabilidade profética. Um profeta debaixo da unção divina, vê, percebe, entende e sente as coisas do ponto de vista de Deus. João Batista foi considerado o maior de todos os profetas humanos, cf. Lc 7.28a. Também o último dos profetas do Antigo Pacto [Antigo Testamento] cf. Lc 16.16; Mt 11.13. Ele foi um mensageiro enviado por Deus como o precursor do Messias, cumprindo assim a profecia de Malaquias, Ml 3.1. É o único personagem do NT com quem Deus se comunicava da mesma maneira que Ele falava aos profetas do AT.

O profeta é identificado por três vezes na epístola aos Efésios como alguém que acompanhava os apóstolos. Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, Ef 2.20, a igreja do

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primeiro século e desde então, teve e tem o dom ministerial de profeta em seu meio como uma voz viva para edificar, exortar e consolar. O profeta/a profetisa de Deus entrega a Palavra de Deus em sua geração com autoridade e poder, na unção do Espírito Santo, com conhecimento da vontade de Deus, sabedoria e inteligência espiritual, Cl 1.9,10. Se orienta pela Palavra, vive a Palavra, prega a Palavra e está preocupado/a tão somente com o avanço do Reino de Deus. Assim como o dom espiritual de profecia, o dom ministerial do profeta não é propriedade de ninguém, o Espírito Santo dará quando e a quem Ele quiser.

A Bíblia é a maior de todas as profecias, ela é a voz profética e a via preferencial de comunicação de Deus com o ser humano. Com as mudanças operadas na atualidade poderemos encontrar a “voz profética” se fazendo ouvir em alto tom, por vezes se colocando até mesmo acima da Palavra. A falta de conhecimento bíblico leva as pessoas a não atentarem para o fato de que o espírito do profeta está sujeito ao profeta, 1Co 14.32, e que interromper a mensagem que está sendo pregada para entregar “recado” de Deus através de uma profecia não é decente nem honroso. Leiamos 1Co 14.32,37-40. Se a profecia tem seu lugar na igreja e deve ser respeitada como tal, a pregação inspirada e dirigida por Deus, que se caracteriza pela entrega de uma mensagem profética, também precisa ter seu lugar na igreja e ser respeitada como tal.

2.2. Evangelistas

Ef 4.11-12 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.

2Tm 4.5 - Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.

Is 52.7 - Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina!

Tirando de Filipe de At 21.8, nenhum nome é associado a este ministério das páginas do Novo Testamento, mas estes servidores do Reino fizeram um grandioso trabalho ao levar o nome de Jesus Cristo a todas as partes do mundo. Eles não tinham o prestígio e a autoridade dos apóstolos e profetas, mas o serviço divino que executavam era essencial a propagação da mensagem do Evangelho, pois eram portadores das boas novas que o mundo não conhecia.

Ao sermos salvos arde no peito um desejo ardente que outras pessoas também sejam alcançadas pela Palavra da vida que transformou nosso ser. Todavia, nem sempre conseguimos comunicar, satisfatoriamente, o que temos a dizer. Aí vem uma pergunta: Alguma vez você já sentiu uma vontade muito grande de falar de Jesus para uma pessoa, mas não teve coragem? Quando chega perto falta palavras e você simplesmente fica mudo (a) e com a sensação ruim de que não fez a coisa certa? Isso, realmente, acontece em grande escala. Mas a provisão do dom ministerial de evangelista faz com que a pessoa se torne um ardoroso comunicador da mensagem do Evangelho. Então se eu

“não tenho jeito” para essas coisas o Espírito Santo tem e Ele pode nos capacitar para fazer aquilo que não estamos conseguindo sozinhos.

Há algumas controvérsias em torno do ministério do “evangelista”, despertando questionamentos do tipo: trata-se realmente de um oficial da Igreja [aquele que é consagrado ministerialmente a Evangelista] ou refere-se a alguém que recebeu um dom ministerial para evangelizar, independentemente do título? Acerca dos versículos bíblicos que contém esse termo, tomando o vocábulo evangelista (evangelistēs) como aquele que proclama o evangelho, essas passagens fazem a distinção entre evangelistas e apóstolos. Nelas, a palavra evangelista pode ser

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traduzida por “mensageiro do bem”, aquele que proclama da “boa nova”, denotando um pregador do Evangelho. Mas, é difícil afirmar com toda precisão se a referência diz respeito a um cargo, ou, simplesmente, a uma atividade. É possível que estes evangelistas tenham se ocupado na obra missionária (At 21.8) ou na liderança da igreja. Mas, certamente, quando essa atividade é exercida na prática de modo surpreendente e com muitos frutos, trata-se de um dom divinamente concedido, com o fim de fazer avançar o Reino, tornando conhecido o plano de redenção da humanidade caída.

Mesmo que não haja consenso ou firmeza em declarar que o “evangelista” era um “oficial” da igreja, continua sendo uma necessidade em todas as igrejas.

Mas, persistem algumas confusões relativas à vivência desse ministério no contexto das igrejas. Um evangelista, na grande maioria dos casos, é um cargo conferido a alguém desprovido das características bíblicas afirmadas a respeito deste ministério: amor pelas almas, habilidade para pregar o Evangelho; sinais sobrenaturais no seu ministério, poder em sua mensagem etc. Ele pode também ser concedido, pelas mais diversas razões, a quem não tem o dom, enquanto muitos que tem o “dom ministerial de evangelista”, ou, ocupam as funções de auxiliares, diáconos e presbíteros, ou ainda nem oficiais da igreja são.

Nos tempos do Novo Testamento o cargo de Bispo era a mais elevada posição que uma pessoa alcançaria diante da igreja. Escrevendo ao jovem pastor Timóteo o apóstolo Paulo afirma que quem deseja se tornar Bispo está desejando uma excelente coisa, 1Tm 3.1, mas convém que... e deste ponto em diante ele começa a tecer considerações sobre como a pessoa deveria ser antes de se tornar um Bispo. Mackintosh nos escreveu que não temos o direito de escolher a nossa própria obra, podemos desejar todos os dons, mas, no final Deus vai nos qualificar para fazer aquilo que Ele quer e a obra necessita. Se o Senhor fez a uma pessoa evangelista, a outro doutor, a outro pastor, o mais importante é estar ciente de como se deve fazer o trabalho. É exercendo cada um o dom que lhe foi divinamente dado que a obra progride à medida que cada um faz o seu trabalho. O que aspira ao trabalho de outro, ou procura imitar o dom de outro, causa a maior prejuízo que pode imaginar-se à causa de Cristo.

Mas o ser evangelista, ou seja, ser um “mensageiro do bem”, possuidor de um dom espiritual para pregar o Evangelho, não depende de esperar por um chamado específico e um reconhecimento público de um cargo ordenado. É uma missão gloriosa, algo especial, trazido por Deus para nossas vidas como parte da nossa jornada de fé. O “Ide e pregai” diz respeito a todos. De graça recebestes, de graça dai, Mt 10.7,8. Mas cumprirão melhor essa missão aqueles que foram revestido de poder, pela posse de um dom, portanto é algo que pode e deve ser buscado, para que falar de Jesus às pessoas se torne algo simples e contínuo.

2.3. Pastores e mestres

Ef 4.11-12 - E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.

Na versão que mais utilizamos ARC, encontramos pastores e doutores, na NVI, pastores e mestres. Pastores e doutores foram dons distintos na igreja primitiva, mas por vezes distinguidos na mesma pessoa. O pastor sempre foi escolhido para ser o cuidador, o guardador do rebanho de Deus, embora possuísse também a responsabilidade do ensino. O exercício do ministério do ensino por pessoas vocacionadas fez com que houvesse pastores que também eram doutores e pastores que trabalhavam ao lado de mestres/doutores preparados e separados por Deus para atuar na educação para a fé. Vejamos algumas de suas especificidades:

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PASTORES

Is 40.11 - Como pastor apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos, e os levará no seu regaço; as que amamentam guiará suavemente.

Jr 3.15 - E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência.

Ec 12.11 - As palavras dos sábios são como aguilhões, e como pregos, bem fixados pelos mestres das assembléias, que nos foram dadas pelo único Pastor.

A designação “pastor”, do grego poimen, refere-se à atividade de “cuidar do rebanho”, em seu sentido mais amplo. Ovelhas não cuidam de si mesmas, mais do que qualquer outra criação exige atenção e cuidados especiais e permanentes. Todo bem estar do rebanho depende inteiramente da boa administração do seu proprietário. Deus é o Pastor para quem nenhum problema e grande demais no que diz respeito ao seu cuidado pelos que são seus.

Na Bíblia encontramos essa palavra “pastor” em seu significado:

▪ Natural: Mt 9.36; 25.32; Mc 6.34; Lc 2.8,15,18,20; Jo 10.2,12

▪ Metafórico, referindo à Jesus: Mt 26.31; Mc 14.27; Jo 10.11,14,16; Hb 13.20; 1Pe 2.25

▪ Como “Pastores” cristãos que conduzem o rebanho de Deus, que é a sua igreja: Ef 4.11;

Hb 13.7.

Pastores compõem o círculo da liderança madura e servidora, que é imprescindível ao desenvolvimento da igreja local. Para pensar nas ações do Pastor lemos em Jr 3.15: E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência. Os princípios fundamentais que orientam a prática pastoral são:

1) Pastores são constituídos segundo o coração de Deus e são forjados pelo grande Pastor para apascentar o rebanho. É Deus quem dá pastores para a sua igreja;

2) Esses pastores divinamente comissionados são revestidos de poder espiritual para apascentar o rebanho de Deus, a sua igreja com conhecimento e discernimento (ciência e inteligência).

3) Plenos do Espírito Santo os pastores vão apascentar e pastorear principalmente através do exemplo. 1Pe 5.2,3.

Os patriarcas de Israel foram forjados em meio a uma civilização pastoril (Gn 4.2), a metáfora do pastor que conduz seu rebanho mostra-nos, sobretudo o princípio divino da autoridade exercida sobre as pessoas. O pastor, segundo a Bíblia, é ao mesmo tempo um líder e um companheiro. Deverá ser uma pessoa forte, capaz de defender seu rebanho contra as feras (1Sm 17.34-37; Mt 10.16; At 20.29); é também delicado com suas ovelhas, conhecendo seu estado (Pv 27.23), adaptando-se a sua situação (Gn 33.13), levando-as em seus braços (Is 40.11), acariciando esta ou aquela “como sua filha” (2Sm 12.3).

O Senhor confia a seus servos as ovelhas que ele mesmo apascenta (Sl 100.3; 79.13; 74.1; Mq 7.14). No caso dos reis de Israel essa função lhes era atribuída (1Rs 22.17; Jr 23.1-2; Ez 34.1-10). Tal título foi reservado, com prioridade a Davi e sua descendência, até que dEle brotasse aquele que é a esperança de Israel. Jesus apresentou-se a Si mesmo como o bom pastor, Jo 10.11. Os verdadeiros pastores devem imitar o Sumo Pastor, Jesus. Nele não há jamais exploração alguma nem descuido do rebanho, e isso deve servir de exemplo a todos aqueles que desejam ministrar à igreja do Senhor. Já no início da igreja a instrução àqueles que deveriam executar esse nobre ministério no poder do Espírito Santo era: Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho que o Espírito Santo entregou aos

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seus cuidados, como pastores da Igreja de Deus, que ele comprou por meio do sangue do seu próprio Filho. (NTLH), At 20.28.

É na instrumentalidade do Espírito Santo que os pastores, divinamente, ordenados, atendendo à sua vocação, vão fazer tudo o que puderem para intervir na vida das ovelhas com a ministração plena das Sagradas Escrituras e condução em uma dinâmica de vida plenamente condizente com os ideais do Reino de Deus, sempre prontos a atender, cuidar e zelar para que nada falte ao rebanho.

Deus chama, capacita e usa pastores fiéis, cujas principais características não são a esperteza, o intelecto ou o carisma, mas a convicção divina do dever de cuidar das almas como quem haverá de prestar contas delas (Hb 13.17).

MESTRES (DOUTORES)

Rm 12.6,7 - De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino.

1Tm 4.13 - Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá.

O ministério do ensino da Palavra é primordial, tanto para a para a igreja crescer espiritualmente, quanto para exercer o discernimento quanto ao tempo em que vive. É uma tarefa importante, indispensável e que exige muito de quem a desempenha. Deverá ser exercido por pessoas alcançadas por esse dom, e que possuem uma visão alargada do reino de Deus, não querendo nada mais além de gastar e se deixar gastar pelas almas a fim de transmitir a Palavra de Deus com sabedoria. Ninguém deveria querer ensinar sem aprender, ainda mais quando o assunto é tão precioso quanto a verdade divina.

Há uma visão secular muito estereotipada quanto ao uso dessa palavra “doutor”. Segundo escreveu Gilberto Scarton, de tempos em tempos, volta a dúvida, a discussão: quem é Doutor/doutor?

Devo/posso chamar meu médico de "doutor"? E um advogado pode assim se denominar? E os cirurgiões-dentistas, os engenheiros, os enfermeiros, os fisioterapeutas? "Doutor" não é apenas quem defende tese em Curso de Doutorado? Afinal, "doutor" é título ou forma de tratamento? Quem é doutor? Essa estranheza persiste e confunde, mas, sinceramente, não deve causar maior preocupação de nossa parte quando se trata de refletir sobre o ministério.

Nossa questão é com o uso bíblico da palavra. Etimologicamente, o vocábulo doctor procede do verbo latino docere (ensinar). Significa, pois, "mestre", "preceptor", "o que ensina". Da mesma família é a palavra "douto" que significa "instruído", "sábio". Sábio. Por esse viés todos são doutores em maior ou em menor grau.

Biblicamente, o Espírito Santo distribui na sua igreja os dons ilimitados do seu poder, como Ele quer e a uns Ele dá a sua igreja para doutores, ou mestres que é a mesma designação. A visão bíblica de doutorado, em sentido bem amplo, é a de fazer com excelência, e com conhecimento acima da média, o trabalho que foi colocado em suas mãos, ensinando a outros como trabalhar para Jesus e como ser produtivo no Reino de Deus. Em sentido estrito é a capacitação de alguns, através do aprofundamento no conhecimento e muito estudo, para estarem preparados a responderem as questões que surgem cotidianamente, com inteligência espiritual e sabedoria extraordinária concedida pelo Espírito Santo.

Observe um exemplo interessante da presença de doutores na igreja preparando-a para o enfrentamento de situações e para se tornar uma base missionária. Atos 13 inicia-se com a descrição de alguns profetas e doutores presentes na Igreja de Antioquia. É citado os nomes de Barnabé, Simeão (Niger), Lúcio (cireneu), Manaém (criado com Herodes Antipas) e Saulo. Durante um ano inteiro eles

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se reuniram com a igreja para estudar, orar, jejuar, buscar direção do alto e capacitação espiritual para os ministérios que haveriam de se desenvolver naquele lugar. A junção de “profetas e doutores” aqui é muito significativo. Uma igreja precisa tanto de um quanto do outro. Vimos sobre o ministério profético e sua importância para a igreja. O ministério de doutor fará com que a Palavra seja conhecida em profundidade, tornando simples o que é complexo, ao mesmo tempo que aprofunda naquilo que é simples e permite, então, que a igreja tenha sua visão ampliada pela sadia instrução das Escrituras.

Esse dom é uma capacitação sobrenatural do Espírito. Para o ministério de ensino ser eficaz na igreja local é preciso haver pessoas vocacionadas. Para isso Deus concedeu mestres [doutores] à sua igreja. Mas como foi dito, trata-se de uma capacitação sobrenatural, é dom de Cristo. O preparo do obreiro ou da obreira do Senhor para este ministério é obtido no santo retiro da presença de Deus.

Primeiro se aprende com Deus para depois ensinar. Quanto tempo leva para isto acontecer é assunto de Deus, não nosso. Só Deus pode chamar e preparar um (a) verdadeiro (a) obreiro (a), e se Ele leva muito tempo para educar tal pessoa é porque assim julga necessário. Ele pode realizar esta obra num instante, se quiser, mas a prática bíblica nos mostra que Deus tem tido todos os Seus servos e servas muito tempo a sós Consigo, tanto antes como depois da sua entrada no ministério público; ninguém poderá dispensar este treino, e sem esta disciplina, sem este exercício privativo, nunca seremos mais que teóricos superficiais e inúteis, isto porque as escolas deste mundo não preparam ninguém para o serviço divino, uma vez que “Ninguém é verdadeiramente educado senão aquele a quem Deus educa.

Não está dentro das possibilidades do homem preparar um instrumento para serviço do Senhor17. Muitas vezes, por absoluta falta de preparo bíblico/espiritual predomina a superficialidade bíblica, a infantilidade “espiritual” e o aumento do engano promovido pelas astúcias dos falsos mestres 2Pe 2.1. Esse dom ministerial de mestre/doutor é para dotar à igreja condições de amadurecimento em todas as dimensões da vida cristã, ao mesmo tempo em que contribui para desmascarar os falsos ensinos, Ef 4.14; Os 4.6.

3. A RAZÃO E O OBJETIVO DOS DONS MINISTERIAIS

Este tópico começa com a seguinte descrição: “Existe uma razão pela qual Cristo nos deu dons e nos capacitou espiritualmente. Ele dotou aqueles que são chamadas para que edifiquem Seu corpo, a Igreja”.

Ef 4.14-16 - Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.

1Co 14.12 - Assim também vós, como desejais dons espirituais, procurai abundar neles, para edificação da igreja.

Tanto os dons espirituais, 1Co 12, quanto os dons ministeriais, Ef 4 e os dons de serviço, Rm 12, servem a um propósito supremo: a edificação do corpo de Cristo. A dificuldade em lidar com os recursos que Deus deixou para sua igreja [suas ferramentas] é evidente em nosso meio. Apenas o exercício correto e a apropriação de cada um como Deus quer irá garantir a edificação, a unidade e o fortalecimento da igreja, tanto no sentido universal como no local18. Sempre que não forem bem

17 MACKINTOSH, C. H. op. cit., p. 30-31.

18 RENOVATO, Elinaldo. op. cit., p. 22.

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compreendidos e exercitados haverá a manifestação estranha de comportamentos inadequados de espiritualidade.

A realidade da Igreja de Corinto é muito impactante. Não havia nenhuma igreja que fosse mais espiritual, a possuir todos os dons, mas, mesmo manifestando esses dons Paulo afirma que eles não eram tão espirituais quanto pareciam ser. Não poderia haver uma igreja mais espiritual do que aquela, mas, infelizmente, não poderia haver crentes mais carnais que aqueles19.

1Co 3.1 - E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.

Segundo escreveu Myer Pearlman "a manifestação do Espírito", é dada aos crentes em Jesus para proveito de todos. O propósito principal dos dons do Espírito Santo é que eles são capacidades espirituais concedidas com o propósito de edificar a igreja de Deus, por meio da instrução dos crentes e para ganhar novos convertidos, Ef 4.7-1320. A partir deles os crentes haverão de ser aperfeiçoados, edificados e crescerão com maturidade.

3.1. O aperfeiçoamento dos santos

Ef 4.12 - Querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo.

O aperfeiçoamento dos santos requer que todos sejam colocados em condições adequadas para liderar, conduzir, cuidar e instruir o Corpo de Cristo. A palavra usada por Paulo em Ef 4.12 é diakonia, trazendo a ideia de serviço prático. Outros textos onde esta palavra é utilizada com o mesmo sentido:

At 6.3 - Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais constituamos sobre este importante negócio.

1Tm 3.13 - Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus.

A palavra diácono, conforme é utilizada no Novo Testamento, carrega o sentido geral de servo ou agente do reino de Deus (Mt 22.13; Rm 13.4; 1Tm 4.6). É neste sentido que Paulo fala de si próprio, como de um diácono ou “ministro” do Evangelho (Cl 1.23), e da igreja (Cl 1.25). O substantivo diácono procede da palavra grega diakonós. Esta palavra ocorre 29 vezes no Novo Testamento, podendo significar: a) Servo - Mt 20.26; 22.13; Mc 9.35; b) Garçom - Jo 2.5,9; c) Ministro - Rm 13.4; d) Auxiliar - 2Co 6.4; Ef 6.21; Cl 1.23,25; 1Tm 4.6; e) Oficial - Fp 1.1; 1Tm 3.8,12.

Quanto à sua origem, encontramos a narrativa histórica da origem do diaconato em At 6.1- 6. Alguns estudiosos, entretanto, negam que esta passagem se refira à origem do ofício, alegando o fato de não haver menção da palavra “diácono” no texto, onde o cargo é descrito, o título, porém, não é mencionado. Todavia, podemos crer que esta passagem seja, realmente, a narrativa da instituição do diaconato, Segundo escreveu Claudionor de Andrade, em termos gerais a Diaconia não é outra coisa senão a prestação de um serviço incondicional e amoroso a Deus e à igreja, a qual se pertence.

O diácono ou a diaconisa que não vive para servir a igreja do Senhor não está atendendo as exigências bíblicas em relação ao seu ministério/ofício, portanto, não serve para viver como ministro de Cristo.

Na diaconia, em sentido amplo, enquadram-se todos os que, voluntariamente, se dedicam à obra do Senhor, desde o que ocupa os mais altos cargos eclesiásticos, até aquele que não é portador

19 Idem, p. 23

20 PEARLMAN, Myer. Conhecendo as doutrinas da Bíblia.

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de nenhum cargo ordenado, pois diaconia é, em essência, doação, serviço e sacrifício. Servir aos santos deveria ser uma prática originariamente observada por todos os membros da igreja, uma conduta normal de todos os que se dizem discípulo de Jesus. O serviço divino executado sob o nome de diaconato não pode ser considerado apenas como uma função eclesiástica, mas precisa ser também entendido como um estilo de vida, que foi ensinado e exemplificado por Jesus Cristo. O exemplo supremo foi deixado por Ele, e enquanto estivermos no mundo nossa pretensão deveria ser a de seguir suas pisadas, 1Pe 2.21.

O Senhor Jesus foi um diácono perfeito. Na declaração que Ele próprio fez em Mt 20.28 e repetida em Mc 10.45, fica claro que Ele era o Senhor, mas era também quem servia a todos. Era o Rei prometido, mas se dizia servo dos servos de Deus. Deveria estar a mesa, mas o encontramos a lavar os pés dos discípulos. Embora o apocalipse mostre-o na plenitude de sua glória, o vemos em Isaias, como o Servo sofredor, Is 50 e 53. A fim de assumir a sua diaconia, despojou-se de suas prerrogativas, assumiu a nossa forma e pôs-se a servir indistintamente a todos, Fp 2.5-8.

As atitudes cotidianas que definem o serviço diaconal do Senhor Jesus podem ser observadas nos seus ensinos e práticas, tais como: alimentar os famintos, acolher o próximo e visitar os doentes e encarcerados (Mt 25.31-40), fazer o bem a todos em todo tempo. Em tudo podemos observar seu coração amoroso e misericordioso, cheio de compaixão por aqueles que se aproximavam dEle debaixo do pesado fardo das suas necessidades físicas, emocionais, materiais e espirituais. O mesmo Espírito que ungiu a Jesus de Nazaré repousa sobre os seus filhos hoje, dando-lhes, igualmente, as condições necessárias para fazer o bem a todos, levando até eles a libertação que somente o Senhor pode dar.

O diaconato é tanto um ofício quanto um ministério. Um ofício porque sua função é claramente limitada: o cuidado material da igreja, servir ao outro dentro da sua esfera de atuação;

suprir as necessidades dos santos; servir à mesa (assistência social); zelar pela ordem e manter o bom andamento da obra de Deus. É também um ministério, pois é uma função eclesiástica exercida por aqueles biblicamente ordenados. E os apresentaram perante os apóstolos e estes orando, lhes impuseram as mãos, At 6.6. É na unção do Espírito Santo que estaremos à disposição do Senhor para servi-lo, incondicionalmente, e atuando no corpo de Cristo como um(a) prestador(a) de serviços de grande valor, que contribui para sua edificação. Assim vamos sendo aperfeiçoados até o Dia de Jesus Cristo.

3.2. A edificação do corpo

3.3. O crescimento com maturidade

Estes dois itens avaliam o conteúdo dos versículos 14 a 16 de Ef 4. Por isto o interesse em pensar neles conjuntamente.

Ef 4.15,16 - Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.

A ideia de um corpo de Cristo bem edificado, como um todo, e crentes maduros, nos fala de fundamento, estrutura e ferramentas adequadas que são construídas e utilizadas para a sustentação das verdades de Deus. Somos levados pensar, com o Pastor Elinaldo Renovato, que os dons são úteis tanto a edificação da igreja como à edificação do crente, individualmente. É através de pessoas bem edificadas espiritualmente que a edificação da igreja como um todo acontecerá, pois, esta possui

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a sã doutrina como sua base, onde dons espirituais, ministeriais e de serviço permitirá que o edifício cresça, amadureça no sentido de se firmar, e se sustente.

Desde a primeira lição deste trimestre e por várias vezes temos citado esta verdade espiritual da igreja como edifício. Paulo apresenta Cristo como a pedra principal de esquina nesta construção, o que denota a ideia de Cristo como a centralidade no alicerce. Tudo precisa ser construído nEle. É o que podemos conferir em:

Ef 2.19-22 - Assim já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo e a principal pedra de esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor; no qual também vos juntamente sois edificados para morada de Deus no Espirito.

A solidez da igreja, templo do Espírito, edifício espiritual, é tal que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Nela tudo deve ser de conformidade com o caráter divino: o nome de Deus é conhecido, honrado, louvado, e Deus vela para que a maneira de viver dos que dela fazem parte seja em conformidade com a santidade do Seu nome. Ela, a igreja, está no mundo, mas não é do mundo.

É o lugar onde Deus, habita, fala e se revela, é também o edifício, casa, templo, morada do Espírito Santo, corpo do Senhor Jesus Cristo. É esta a igreja triunfante e vitoriosa que está no mundo, mas não é do mundo. É o lugar onde Deus habita, se revela e comunica seu plano divino de redenção.

Atentemos para a afirmativa do comentarista: “A principal função pela qual esses dons foram dados à igreja é para que a fé cristã possa ser desenvolvida na vida de cada membro, para que seja esclarecido, não apenas sobre a pessoa de Cristo, mas também sobre sua obra”. Edificar, segundo a definição original da palavra grega oikodomeo, significa fortalecer e promover a vida espiritual, a maturidade e o caráter santo dos crentes. Esta edificação é obra do Espírito Santo pela qual os crentes são transformados de glória em glória. Uma vez que a busca da própria glória não é glória, conforme afirma Pv 25.27, e que não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva, conforme ratifica Paulo em 2Co 10.18, resta-nos esvaziarmo-nos de nós mesmos, como fez Cristo, Fp 2.7, e trabalhar em prol da glória dEle, do louvor a Ele, da adoração perfeita que é devida a Ele, santificando-O em tudo, para que caminhemos em direção à nossa própria glorificação nEle.

Apenas quando somos devidamente esclarecidos a respeito da pessoa de Cristo e da Sua obra entendemos isto.

2Co 3.18 - Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.

Lembrando que a competência pela edificação da igreja é acima de tudo do supremo edificador que é o Senhor Jesus Cristo, seu dono e Senhor. Quando Ele nos edifica pessoalmente está edificando o próprio corpo. Mas a hora de crescer e amadurecer chega.

1Co 3.2 - Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis.

Hb 5.12 - Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento.

Hb 6.1 - Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus.

A maturidade espiritual é a capacitação do cristão para cumprir os desígnios de Deus com uma vida de fé e atitudes. Ao seguir a verdade em amor, crescemos, Ef 3.15, e este crescimento se faz a partir do próprio cabeça, que é Cristo. Cada instrução bíblica e cada lição aprendida, pela fé e pelas experiências, deve levar o cristão a uma reflexão sobre suas atitudes e a alterar a conduta, quando

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