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Teoremas do Ponto Fixo

Adson Melo

e Teles Fernandes

Universidade Federal do Paran´

a, Brasil

Maio 23, 2015

Resumo

Dado um conjunto X e uma fun¸c˜ao f : X −→ X dizemos que x0 ∈ X ´e

um ponto fixo de f se f (x0) = x0. Quais condi¸c˜oes sobre X e f garantem

existˆencia de ponto fixo? Neste trabalho, veremos que algumas condi¸c˜oes em X e f garantem existˆencia de ponto fixo. Essas condi¸c˜oes estabelecem os seguintes teoremas: teorema do ponto fixo de Banach, teorema do ponto fixo de Brouwer, teorema do ponto fixo de Caristi, teorema do ponto fixo de Tychonoff e o teorema do ponto fixo de Schauder, tais teoremas s˜ao os objetos de estudos desse artigo.

1

Introdu¸

ao

Iniciaremos esse trabalho com a se¸c˜ao Teoremas do Ponto Fixo onde demostraremos

o teorema do ponto fixo de Banach que ´e uma importante ferramenta na teoria

de espa¸cos m´etricos devido as suas aplica¸c˜oes, por exemplo, na prova do teorema

de existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais, tamb´em demonstrado

nesse artigo. Veremos que, diferentemente de outros teorema do ponto fixo, o teorema

do ponto fixo de Banach al´em de mostrar a existˆencia de ponto fixo garante unicidade

e constr´oi esse ponto fixo. Enunciaremos o teorema do ponto fixo de Brouwer o qual

´

e o ponto de partida para a demonstra¸c˜ao do teorema do ponto fixo de Schauder.

Al´em disso, aplicaremos o teorema de Brouwer para provar o teorema fundamental

da ´Algebra. Ainda nessa se¸c˜ao, vamos provar o teorema do ponto fixo de Caristi,

como poder´a ser visto, esse teorema segue diretamente do princ´ıpio variacional de

Ekeland, que tamb´em ser´a demonstrado. Enunciaremos o teorema do ponto fixo de

Tychonoff que ´e uma generaliza¸c˜ao do teorema do ponto do ponto fixo de Brouwer

Doutorando em Matem´aticaDoutorando em Matem´atica

(2)

e de Schauder j´a que o espa¸co euclidiano n dimensional e os espa¸cos de Banach s˜ao

espa¸cos vetoriais topologicamente convexos. Para finalizar a se¸c˜ao Teoremas do Ponto

Fixo, iremos demonstrar o teorema do ponto fixo de Schauder usando uma sequˆencia

de pontos fixos garantida pelo teorema do ponto fixo de Brouwer. Seguiremos com

a se¸c˜ao conclus˜ao onde faremos alguns coment´arios gerais sobre nosso ponto de vista

na escrita desse artigo.

2

Teoremas do Ponto Fixo

Com o objetivo de motivarmos a id´eia de ponto fixo, segue um exemplo:

Seja f : [a, b] −→ [a, b] cont´ınua queremos mostrar que existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = c.

De fato, defina φ : [a, b] −→ R tal que φ(x) = x − f (x). Note que φ ter uma ra´ız

equivale ao fato de f ter um ponto fixo. ´E f´acil ver que φ(a) ≤ 0 ≤ φ(b). Logo pelo

teorema do valor intermedi´ario, existe c ∈ [a, b] tal que φ(c) = 0, ou seja, f (c) = c.

A intesec¸c˜ao do gr´afico de f com a reta y = x determina um ponto fixo de f .

Agora provaremos que ponto fixo ´e uma propriedade topol´ogica. Formalmente,

queremos dizer que:

Proposi¸c˜ao 2.1. Seja X e Y espa¸cos topol´ogicos homeomorfos e f : X → X uma

fun¸c˜ao cont´ınua que possui ponto fixo, ent˜ao existe uma fun¸c˜ao g : Y −→ Y cont´ınua

que possui ponto fixo.

Demonstra¸c˜ao. Considere

g : Y −→ Y dada por

g = h ◦ f ◦ h−1,

(3)

Note que g ´e cont´ınua pois ´e composta de fun¸c˜oes cont´ınuas. Seja x0 ∈ X um

ponto fixo de f . Escolha y0 = h(x0) e veja que,

g(y0) = h ◦ f ◦ h−1(y0)

= h ◦ f (x0)

= h(x0)

= y0

O que mostra que y0 ´e ponto fixo de g.

2.1

Teorema do Ponto Fixo de Banach

Nesta se¸c˜ao veremos o teorema do ponto fixo de Banach o qual estabelece que uma

contra¸c˜ao definida num espa¸co m´etrico completo possui um ´unico ponto fixo.

Defini¸c˜ao 1. Seja X um conjunto n˜ao vazio. Uma m´etrica em X ´e uma aplica¸c˜ao

d : X × X −→ [0, ∞) tal que para todo x, y e z ∈ X: (i) d(x, y) ≥ 0,

(ii) d(x, y) = 0 se, e somente se, x = y, (iii) d(x, y) = d(y, x),

(iv) d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z).

Um espa¸co m´etrico ´e um conjunto X munido de uma m´etrica d. Escrevemos (X, d)

para denotar que X ´e um espa¸co m´etrico munido da m´etrica d.

Defini¸c˜ao 2. Um espa¸co m´etrico (X, d) ´e completo se para toda sequˆencia de Cauchy

(X, d) existe x ∈ X tal que d(xn, x) → 0 quando n → ∞.

Os espa¸cos vetoriais normados s˜ao exemplos de espa¸cos m´etricos, pois toda norma

define uma m´etrica, ou seja, se X ´e um espa¸co normado n˜ao vazio, a fun¸c˜ao d :

X × X −→ [0, ∞) dada por d(x, y) =k x − y k ´e uma m´etrica em X. Em especial os

espa¸cos de Banach que ´e definido como um espa¸co vetorial normado completo ´e um

espa¸co m´etrico.

Em seguida provaremos o teorema do ponto fixo de Banach, para isso definimos contra¸c˜ao:

Defini¸c˜ao 3. Seja (X, d) um espa¸co m´etrico. Diz-se que uma aplica¸c˜ao f : X −→ X

´

e uma contra¸c˜ao se existe λ ∈ [0, 1) tal que

(4)

Teorema 2.2. (Ponto Fixo de Banach) Seja (X, d) um espa¸co m´etrico completo e f : X −→ X uma contra¸c˜ao, ent˜ao f tem ´unico ponto fixo.

Demonstra¸c˜ao. Seja x0 ∈ X. Defina x1 = f (x0) e xn+1 = f (xn). Provaremos que

{xn}n∈N ´e uma sequˆencia de Cauchy. Para tal, primeiro mostremos por indu¸c˜ao que

existe λ ∈ [0, 1) tal que

d(xn+1, xn) ≤ λnd(x1, x0), ∀n ∈ N.

De fato, como f ´e uma contra¸c˜ao, existe 0 ≤ λ < 1 tal que:

d(xn+1, xn) = d(f (xn), f (xn−1))

≤ λd(xn, xn−1),

o que j´a implica a f´ormula de indu¸c˜ao para n = 1. Supondo a f´ormula para n = k,

da ´ultima desigualdade, temos:

d(xk+2, xk+1) ≤ λd(xk+1, xk)

≤ λλkd(x1, x0)

= λk+1d(x1, x0),

o que prova a f´ormula desejada.

Dados m ≥ n, temos portanto:

d(xm, xn) ≤ (λn+ ... + λm−1)d(x1, x0) ≤ ( +∞ X i=n λi)d(x1, x0) = λ n 1 − λd(f (x0), x0).

J´a que λ ∈ [0, 1) temos que λ

n

1 − λ → 0 quando n → ∞. Isto prova que xn ´e uma

sequˆencia de Cauchy, sendo X completo tal sequˆencia converge, digamos para p ∈ X.

Afirmamos que p ´e um ponto fixo de f. Realmente,

f (p) = f ( lim n→∞xn) = lim n→∞f (xn) = lim n→∞xn+1 = p.

(5)

Note que a segunda igualdade acima se d´a porque toda contra¸c˜ao ´e cont´ınua.

Agora resta verificar que p ´e o ´unico ponto fixo de f . Isso segue-se pois, se p, q ∈ X

s˜ao pontos fixos de f, temos:

d(p, q) = d(f (p), f (q)) ≤ λd(p, q)

Isto implica que (1−λ)d(p, q) ≤ 0, ou seja, d(p, q) = 0 e, portanto, p = q, findando a prova.

A seguir daremos algumas importantes aplica¸c˜oes desse teorema. A primeira

delas verifica a n˜ao singularidade de uma matriz e a segunda ´e a demonstra¸c˜ao do

teorema de Picard para existˆencia e unicidade de solu¸c˜oes de equa¸c˜oes diferenciais.

Al´em disso, o teorema do ponto fixo de Banach permite a constru¸c˜ao da solu¸c˜ao da

equa¸c˜ao diferencial.

Agora, suponhamos que se pretenda resolver a equa¸c˜ao diferencial

x0(t) = f (t, x(t)),

com condi¸c˜ao inicial

x(0) = x0.

Em alguns casos podemos garantir existˆencia e unicidade de solu¸c˜ao de uma

equa¸c˜ao diferencial. Por´em, muitas vezes n˜ao ´e poss´ıvel determinar a solu¸c˜ao. A

seguir, veremos que o teorema do ponto fixo de Banach pode ser aplicado para

ga-rantir existˆencia, unicidade e a constru¸c˜ao da solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial.

Note que resolver a equa¸c˜ao acima, com a condi¸c˜ao inicial dada, equivale a resolver

a seguinte equa¸c˜ao integral

x(t) = x0+

Z t

0

f (s, x(s))ds.

Logo, o problema inicial ser´a resolvido se a fun¸c˜ao F (x)(t) = x0+

Rt

0 f (s, x(s))ds

pos-suir ponto fixo. Dessa forma, naturalmente voltamos nossas aten¸c˜oes para o teorema

do ponto fixo de Banach. Para tanto, devemos criar condi¸c˜oes sobre F para garantir

que F possua ponto fixo.

Defini¸c˜ao 4. Sejam (X, dX) e (Y, dY) dois espa¸cos m´etricos, f : U ⊂ R × X −→ Y e

k ∈ R+. Dizemos que a fun¸ao f ´e lipschitiz com rela¸ao `a segunda vari´avel se,

(6)

Teorema 2.3. (Picard) Sejam X um espa¸co de Banach e f : [t0 − a, t0 + a] ×

B(x0, r) ⊂ R × X −→ X uma fun¸c˜ao cont´ınua, limitada e lipschitiz em rela¸c˜ao `a

segunda vari´avel. Ent˜ao existe ´unica solu¸c˜ao para a equa¸c˜ao x0(t) = f (t, x(t)), com

condi¸c˜ao inicial x(t0) = x0definida no intervalo [t0−α, t0+α], onde α = M in

n a, r M o e M = supnkf (t, x)k ; (t, x) ∈ [t0− a, t0+ a] × B(x0, r) o .

Demonstra¸c˜ao. Considere o espa¸co vetorial C0 = {ψ : [t

0− α, t0+ α] −→ X; ψ ´e cont´ınua}

dotado da norma uniforme (kψk = sup {kψ(x)k ; x ∈ [t0− α, t0 + α]}). ´E fato bem

conhecido da an´alise que C0 ´e um espa¸co de Banach (isto ´e, normado completo). Seja

C = nψ : [t0− α, t0+ α] −→ B(x0, r); ψ(t0) = x0

o

⊂ C0. Note que C ´e subespa¸co

fechado de C0.

C ´e claramente subespa¸co logo resta mostrar que C ´e fechado. Para demonstrar

isso, vamos mostrar que C0 − C ´e aberto. Seja ψ0 ∈ C0 − C ent˜ao ψ0(t0) 6= x0,

definindo d = k ψ0(t0) − x0 k

2 6= 0 temos que ψ0 ∈ U = {ψ ∈ C; k ψ(t) − ψ0(t) k<

d, ∀[t0− α, t0+ α]} pois k ψ0(t) − ψ0(t) k= 0 < d. Como U ´e uma bola aberta em C0

(logo ´e um aberto), para mostrar a afirma¸c˜ao basta mostrar que U ⊂ C0− C. Seja

φ ∈ U ent˜ao k φ(t) − ψ0(t) k< d para todo t ∈ [t0− α, t0+ α]. Caso φ ∈ C teremos

φ(t0) = x0 em particular para t = t0 teremos,

k φ(t0) − ψ0(t0) k< d =

k φ(t0) − ψ0(t0) k

2

Absurdo, logo φ /∈ C.

J´a que C ´e um fechado em C0 que ´e um espa¸co de Banach temos que C ´e um

espa¸co m´etrico completo. Definamos portanto a aplica¸c˜ao F : C −→ C dada por

F (ψ)(t) := x0+

Z t

t0

f (s, ψ(s))ds. Temos portanto:

(i) F est´a bem definida. De fato, F (ψ) ´e uma aplica¸c˜ao cont´ınua se ψ o ´e. Al´em

disso, se ψ ∈ C, kF (ψ)(t) − x0k = Rt t0f (s, ψ(s))ds ≤ M |t − t0| ≤ b, o que

quer dizer que a imagem da aplica¸c˜ao F (ψ) est´a contida em B(x0, r), se ψ ∈ C.

Logo, leva aplica¸c˜oes em C em aplica¸c˜oes em C.

(ii) Existe n0 ∈ N tal que Fm ´e uma contra¸c˜ao, para todo m > n0. De fato, seja

(7)

provaremos que para todo m ∈ N, kFm 1)(t) − Fm(φ2)(t)k ≤ km m! kt − t0k m d(φ1, φ2), ∀φ1, φ2 ∈ C.

Realmente, para m=1, temos:

kF (φ1)(t) − F (φ2)(t)k ≤ Z t t0 kf (s, φ1(s)) − f (s, φ2(s))k ds ≤ Z t t0 kd(φ1, φ2)ds ≤ k kt − t0k d(φ1, φ2).

Assumindo a hip´otese de indu¸c˜ao v´alida para um certo m ∈ N, temos:

Fm+1(φ1)(t) − Fm+1(φ2)(t) = kF (Fm(φ1)(t)) − F (Fm(φ2)(t))k ≤ Z t t0 kF (s, Fm 1(s))) − F (s, Fm(φ2(s)))k ds ≤ Z t t0 k kFm(φ1(s)) − Fm(φ2(s))k ds ≤ k Z t t0 km m! ks − t0k m d(φ1, φ2)ds ≤ k m+1 m! Z t to ks − t0k m d(φ1, φ2)ds ≤ k m+1 m! kt − t0k m+1 m + 1 d(φ1, φ2) ≤ k m+1 (m + 1)! kt − t0k m+1 d(φ1, φ2),

o que conclui a indu¸c˜ao.

Visto que kt − t0k ≤ α, temos que

d(Fm+1(φ1), Fm+1(φ1)) ≤

kmαm

m! d(φ1, φ2).

Como o fatorial domina qualquer exponencial, temos que fixado 0 < η < 1, existe

n0 tal que

kmαm

m! < η, para todo m ≥ n0. Portanto, m ≥ n0, F

m ´e uma contra¸c˜ao,

(8)

Como C ´e espa¸co m´etrico completo e F ´e uma fun¸c˜ao de C em C, segue-se pelo

teorema 2.2que Fm possui ´uni co ponto fixo. Como p ´e ponto fixo de Fm, ele tamb´em

´

e o ´unico ponto fixo de F , pois

Fm(p) = p ⇒ F (Fm(p)) = F (p) ⇔ Fm(F (p)) = F (p).

Portanto F (p) tamb´em ´e ponto de Fm e como este ´e ´unico temos F (p) = p. J´a

que todo ponto fixo de F ´e tamb´em de Fm, segue-se que F s´o possui este ponto fixo.

Como visto no ´ınicio da demonstra¸c˜ao isto equivale a existˆencia de uma ´unica solu¸c˜ao

para equa¸c˜ao diferencial x0(t) = f (t, x(t)), com condi¸c˜ao inicial x(0) = x0.

Agora vamos construir a solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial x0(t) = f (t, x(t)),

com condi¸c˜ao inicial x(0) = x0 usando o teorema do ponto fixo de Banach.

Considere a sequˆencia de fun¸c˜oes (xn(t))n∈N, chamada de sequˆencia de iterados

de Picard: x1(t) = x0; x2(t) = x0+ Z t 0 f (s, x1(s))ds; x3(t) = x0+ Z t 0 f (s, x2(s))ds; ... xn(t) = x0+ Z t 0 f (s, xn−1(s))ds.

Ent˜ao, pelo que foi visto no teorema de Picard, temos xn(t) → x(t) quando

n → ∞.

Exemplo 1. Considere a equa¸c˜ao diferencial x0(t) = x, tal que x(0) = 1.

Os itereados de Picard s˜ao:

x1(t) = x0 = 1; x2(t) = 1 + Z t 0 1ds = 1 + t = 1 X k=0 tk k!; x3(t) = 1 + Z t 0 (1 + s)ds = 1 + t +t 2 2 = 2 X k=0 tk k!; x4(t) = 1 + Z t 0 (1 + s + s 2 2)ds = 1 + t + t2 2 + t3 3 = 3 X k=0 tk k!.

(9)

Pode-se provar por indu¸c˜ao que xn(t) = n−1 X k=0 tk k! e, portanto, x(t) = lim n→∞xn(t); = lim n→∞ n−1 X k=0 tk k!; = et. ´

e a solu¸c˜ao de x0(t) = x com condi¸c˜ao inicial x(0) = 1.

Portanto, o teorema do ponto fixo de Banach n˜ao s´o nos fornece condi¸c˜oes

sufi-cientes para garantir a existˆencia e unicidade local da solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao

dife-rencial, assim como oferece um algoritmo para encontrar a solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao

diferencial.

2.2

Teorema do Ponto Fixo de Brouwer

O teorema do ponto fixo de Brouwer tem uma fundamental aplica¸c˜ao na ´Algebra, a

saber: Teorema Fundamental da ´Algebra. Al´em dessa aplica¸c˜ao tamb´em podemos

citar o teorema de Perron que prova a existˆencia de um autovalor positivo de uma

matriz A caso a mesma tenha apenas entradas posisitivas.

Teorema 2.4. (Ponto Fixo de Brouwer) Seja X ⊂ Rn n˜ao vazio, compacto e

convexo e f : X −→ X cont´ınua, ent˜ao f tem ponto fixo.

Demonstra¸c˜ao. Esta demontra¸c˜ao pode ser encontrada em [7].

Teorema 2.5. (Fundamental da ´Algebra) Seja p(z) = anzn+ an−1zn−1 + ... +

a1z + a0 um polinˆomio com coeficientes em C de grau maior ou igual a unidade, ent˜ao

existe z0 ∈ C tal que p(z0) = 0.

Demonstra¸c˜ao. Primeiramente, lembremos que C e R2 s˜ao isomorfos, desta forma

usaremos essa identifica¸c˜ao, sem maiores detalhes no decorrer da demonstra¸c˜ao.

Po-demos supor, sem perda de generalidade, que an= 1. Seja r = 2 + |a0| + |a1| + ... +

|an−1| . Defina g : C −→ C, g(z) =      z − p(z) r e i(1−n)θ, |z| ≤ 1, z −p(z) r z (1−n), |z| > 1

Agora note que g ter ponto fixo equivale ao polinˆomio p ter uma ra´ız pois r e ei(1−n)θ

s˜ao n˜ao nulos. Considere X = {z ∈ C; |z| ≤ r}, X ´e claramente um subconjunto

(10)

(i) Se |z| ≤ 1, ent˜ao |g(z)| = z − p(z) r e i(1−n)θ ≤ |z| + p(z) r ≤ 1 + 1 + |a0| + |a1| + ... + |an−1| r ≤ 1 + r r ≤ 2 ≤ r. (ii) Se 1 ≤ |z| ≤ r, ent˜ao |g(z)| = z − p(z) rzn−1 = z − z r − a0 + a1z + ... + an−1zn−1 rzn−1 ≤ |z| + z r + a0+ a1z + ... + an−1zn−1 rzn−1 ≤ r − 1 + |a0| + |a1| + ... + |an−1| r ≤ r − 1 + r − 2 r ≤ r.

Note que g ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em X pois se |z| < 1 ou |z| > 1, g ´e claramente

cont´ınua. Para |z| = 1 ´e f´acil ver que, se pormos z = ρeiθ temos

lim |z|→1+g(z) = lim|z|→1−g(z) = g(z) = e iθ p(e iθ) r e iθ(1−n).

Pelo teorema 2.4 existe z0 ∈ C tal que g(z0) = z0 e, portanto, z0 ´e uma ra´ız de

p.

Teorema 2.6. (Perron) Seja A ∈ Rn×n uma matriz tal que aij > 0, ∀i, j = 1, ..., n.

Ent˜ao existe um autovalor de A positivo associado a um autovetor com coordenadas

(11)

Demonstra¸c˜ao. Seja X = {(x1, ..., xn) ∈ Rn; xi > 0 ∀i = 1, ..., n e

Pn

i=1x 2

i = 1}, ´e f´acil

ver que X ´e compacto e convexo. Defina f : X → X de modo que f (x) = kAxkAx . Note

que f est´a bem definida pois se x = (x1, ..., xn) ∈ X temos xj 6= 0 para algum j e

aij > 0 para todo i, j portanto Ax 6= 0 para todo x ∈ X. Aplicando o teorema 2.4, f

tem um ponto fixo x0. Dessa forma, f (x0) =

Ax0

kAx0k

= x0, ou seja, Ax0 = kAx0k x0 e,

portanto, x0 ´e um autovetor de A com coordenadas positivas e kAx0k ´e um autovalor

de A positivo associado a x0.

2.3

Teorema do Ponto Fixo de Caristi

O teorema do ponto fixo de Caristi segue do princ´ıpio variacional de Ekeland que provaremos a seguir. Para provar o princ´ıpio variacional de Ekeland precisamos da

defini¸c˜ao e do lema que seguem:

Defini¸c˜ao 5. Seja (X, d) um espa¸co m´etrico e Y ⊂ X definimos o diam(Y) =

sup{d(x, y); x, y ∈ Y}

Lema 2.7. Seja (X, d) espa¸co m´etrico completo e Fn uma sequˆencia de subconjuntos

fechados n˜ao vazios de X tais que:

Fn+1 ⊂ Fn e diam(Fn) → 0 quando n → ∞.

Ent˜ao, existe um ´unico x ∈ X tal que

+∞

\

n=1

Fn = {x} .

Demonstra¸c˜ao. Para cada n ∈ N, escolha um ponto xn ∈ Fn. Mostraremos que a

sequˆencia {xn}n∈N assim definida ´e uma sequˆencia de Cauchy em X. Com efeito,

j´a que diam(Fn) → 0 quando n → ∞, dado  > 0, existe n0 ∈ N suficientemente

grande, tal que diamFn0 < . Se n ≥ n0 e m ≥ n0, como Fn ⊂ Fn0 e Fm ⊂ Fn0, segue

que xn∈ Fn0 e xm ∈ Fn0, portanto

d(xn, xm) ≤ diamFn0 < 

Logo, a sequˆencia {xn}n∈N ´e de Cauchy e como X ´e completo existe x ∈ X tal que

xn→ x quando n → ∞. Agora, como Fn+1⊂ Fnpara todo n ent˜ao Fn cont´em todos

os pontos da sequˆencia, exceto um n´umero finito deles e, sendo Fnfechado, segue que

x ∈ Fn para todo n, portanto x ∈

+∞

\

n=1

Fn. Resta verificar que x ´e ´unico.

Com efeito, suponha que y ∈

+∞

\

n=1

Fn, ent˜ao x, y ∈ Fn, para todo n. Assim,

(12)

A no¸c˜ao de semicontinuidade inferior de uma fun¸c˜ao e de rela¸c˜ao de ordem parcial

de um conjunto s˜ao necess´arias para provar o pr´oximo teorema.

Defini¸c˜ao 6. Uma rela¸c˜ao em um conjunto A ´e um subconjunto do produto cartesiano

A × A. Quando (x, y) ´e um elemento de uma rela¸c˜ao R, escrevemos xRy. Dizemos

que ≤ ´e uma rela¸c˜ao de ordem parcial em A quando:

(i) (Reflexiva) Para todo x ∈ A, temos x ≤ x.

(ii) (Antissimetria) Para todo x, y ∈ A, se x ≤ y e y ≤ x, ent˜ao x = y. (iii) (Transitividade) Para todo x, y, z ∈ A, se x ≤ y e y ≤ z, ent˜ao x ≤ z.

Defini¸c˜ao 7. Seja X um espa¸co topol´ogico. Diz-se que uma fun¸c˜ao f : X → R ´e

semicont´ınua inferiormente em x ∈ X se f (x) ≤ lim

n→∞inf {f (xn)} para toda sequˆencia

{xn}n∈N ⊂ X tal que xn → x. Caso f seja semicont´ınua inferiormente em todos os

pontos de X, dizemos que f ´e semicont´ınua inferiormente. ´

E f´acil ver que, se f ´e cont´ınua ent˜ao f ´e semicont´ınua inferiormente. Segue um

exemplo de fun¸c˜ao semicont´nua inferiormente que n˜ao ´e cont´ınia.

Exemplo 2.

f (x) = 

x2 se x ∈ (−∞; 1],

−(x − 2)2+ 4 se x ∈ (1; +∞).

Seja {xn}n∈N ⊂ R tal que xn → x0 = 1. Caso xn > x0 para todo n ∈ N teremos

f (xn) = −(xn− 2)2+ 4 → 3 > 1 = f (x0). Se xn < x0, f (xn) = x2n → x20 = 1 ≥ 1 =

f (x0). Finalmente, para toda subsequˆencia de xn0 teremos xn0 → x0 e f (xn0) → 3 >

1 = f (x0) ou f (xn0) → 1 ≥ 1 = f (x0). Portanto 1 = f (x0) ≤ lim

n→∞inf {f (xn)}. Logo

f ´e semicont´ınua inferiormente em x0 mas n˜ao ´e cont´ınua em x0.

Teorema 2.8. (Princ´ıpio Variacional Ekeland)

Sejam (X, d) um espa¸co m´etrico completo e f : X → [0, +∞) uma fun¸c˜ao

semi-cont´ınua inferiormente. Se  > 0 e x0 ∈ X ´e tal que f(x0) < inf {f (x); x ∈ X} + 2

ent˜ao, para todo λ > 0 existe xλ ∈ X satisfazendo:

(13)

(ii) d(xλ, x0) ≤ λ,

(iii) f (xλ) < f (x) +



λd(xλ, x), para todo x 6= xλ.

Demonstra¸c˜ao. Sejam x, y ∈ X. Para λ > 0 e  > 0 considere dλ(x, y) =

d(x, y)

λ e

defina a rela¸c˜ao em X, como a seguir:

x ≤ y ⇔ f (x) ≤ f (y) − dλ(x, y)

Provaremos inicialmente que esta ´e uma rela¸c˜ao de ordem parcial. De fato,

• Reflexiva: Para x ∈ X, tem-se

f (x) ≤ f (x) ⇔ f (x) ≤ f (x) − dλ(x, x)

⇔ x ≤ x.

• Antissim´etrica: Se x ≤ y e y ≤ x, ent˜ao

f (x) ≤ f (y) − dλ(x, y) e f (y) ≤ f (x) − dλ(y, x)

Portanto,

f (x) + f (y) ≤ f (x) + f (y) − 2dλ(x, y)

⇔ 2dλ(x, y) ≤ 0.

Logo, dλ(x, y) = 0, de onde segue que x = y.

• Transitiva: Se x ≤ y e y ≤ z, ent˜ao

f (x) ≤ f (y) − dλ(x, y) e f (y) ≤ f (z) − dλ(y, z).

Portanto,

f (x) ≤ f (z) − (dλ(x, y) + dλ(y, z))

≤ f (z) − dλ(x, z).

(14)

Agora vamos mostrar que existe uma sequˆencia de subconjuntos {Sn} ⊂ X que

cumpre as hip´oteses do lema 2.7.

Com o mesmo  dado acima, da defini¸c˜ao de ´ınfimo, existe x0 ∈ X tal que

f (x0) < inf {f (x); x ∈ X} +



2. Assim, tome u1 = x0 e defina S1 = {u ∈ X; u ≤ u1}.

Observe que S1´e n˜ao vazio j´a que a rela¸c˜ao de ordem parcial ´e reflexiva, logo, u1 ∈ S1.

Tome u2 ∈ S1tal que f (u2) ≤ inf {f (x); x ∈ S1}+



22 e defina S2 = {u ∈ X; u ≤ u2}.

Analogamente, tem-se S2 n˜ao vazio. Admitindo-se que Sn esteja definido, tomemos

un+1 ∈ Sn tal que

f (un+1) ≤ inf {f (x); x ∈ Sn} +



2n+1

e defina Sn+1= {u ∈ X; u ≤ un+1} de modo an´alogo.

Afirmamos os seguintes fatos:

• Sn ´e fechado para todo n.

Suponha (yk)k∈N ⊂ Sn com yk→ y logo f (yk) ≤ f (un) − dλ(yk, un). Se y /∈ Sn,

ou seja, f (y) > f (un) − dλ(y, un) e f (yk) ≤ f (un) − dλ(yk, un). Dessas duas

desigualdaes temos,

f (y) > f (yk) + (dλ(yk, un) − dλ(y, un)).

Agora tomando o limite inferior nessa ´ultima desigualdade, temos:

f (y) > lim

k→∞inf {f (yk) + (dλ(yk, un) − dλ(y, un))}

= lim

k→∞inf {f (yk)} .

Um absurdo, pois f ´e uma fun¸c˜ao semicont´ınua inferiormente, assim y ∈ Sn

portanto Sn ´e fechado.

• Sn+1⊂ Sn.

Seja x ∈ Sn+1 ent˜ao x ≤ un+1 ∈ Sn logo un+1 ≤ un. Por transitividadade da

rela¸c˜ao de ordem parcial, x ≤ un logo x ∈ Sn.

• lim

n→∞diam(Sn) = 0. Com efeito, se u ∈ Sn ⊂ Sn−1, u ≤ un, temos:

f (u) ≤ f (un) − dλ(u, un) e f (un) ≤ inf {f (x); x ∈ Sn−1} +

 2n.

(15)

dλ(u, un) ≤ f (un) − f (u)  ≤ f (un) − inf {f (x); x ∈ Sn−1}  ≤ 1 2n. Isto ´e, d(u, un) ≤ λ 2n e para u, v ∈ Sn,temos: d(u, v) ≤ d(u, un) + d(v, un) ≤ λ 2n + λ 2n ≤ λ 2n−1. Como, lim

n→∞diam(Sn) = n→∞lim sup {d(u, v), ∀u, v ∈ Sn}

≤ lim n→∞ λ 2n−1 = 0. Portanto, lim n→∞diam(Sn) = 0.

Como (X, d) ´e um espa¸co m´etrico completo e as afirma¸c˜aoes verificam as hip´oteses

do Lema 2.7, ent˜ao existe um xλ tal que

+∞

\

n=1

Sn= {xλ}. Agora resta verificar que xλ

´

e o elemento procurado. (i) f (xλ) ≤ f (x0)

Como xλ ∈ S1, ent˜ao f (xλ) ≤ f (x0) − dλ(xλ, x0), ou seja, f (xλ) ≤ f (x0).

(ii) d(xλ, x0) ≤ λ

Primeiramente, observe que para u, v ∈ Sn temos, d(u, v) < 2n−1λ , ∀n ∈ N. Em

particular, para xλ, un∈ Sn temos:

d(un, xλ) <

λ

2n−1 ⇒ n→∞lim d(un, xλ) ≤ limn→∞

λ 2n−1 ⇒ lim n→∞d(un, xλ) = 0 ⇔ lim n→∞un = xλ.

(16)

Por outro lado, ui+1∈ Si+1⊂ Si, logo ui, ui+1 ∈ Si. Al´em disso, d(x0, un) ≤ d(u1, u2) + d(u2, un) ≤ d(u1, u2) + ... + d(un−1, un) ≤ n−1 X i=1 d(ui, ui+1) = n−1 X i=1 λ 2i. Ou seja, d(x0, un) ≤ n−1 X i=1 λ

2i e tomando o limite dessa igualdade, temos:

d(x0, xλ) = lim n→∞d(x0, un) ≤ lim n→∞ n−1 X i=1 λ 2i = λ. (iii) f (xλ) < f (x) +  λd(xλ, x)

Seja x ∈ X com x 6= xλ. Afirmamos que x  xλ, porque se x ≤ xλ e como

xλ ≤ un, ter´ıamos x ≤ un e x ∈ Sn, ∀n. Ent˜ao, x ∈

+∞

\

n=1

Sn = {xλ} e x seria

igual a xλ, um absurdo.

Por outro lado, x  xλ implica que

f (x) > f (xλ) − dλ(x, xλ) > f (xλ) −  λd(x, xλ). Ou seja, f (xλ) < f (x) +  λd(x, xλ).

(17)

Teorema 2.9. (Ponto fixo de Caristi) Sejam (X, d) um espa¸co m´etrico

com-pleto e uma fun¸c˜ao f : X → X. Se g : X → [0, +∞) ´e uma fun¸c˜ao semi-cont´ınua

inferiormente e d(x, f (x)) ≤ g(x) − g(f (x)) para todo x ∈ X ent˜ao, f tem ponto fixo.

Demonstra¸c˜ao. Seja g : X → [0, +∞) uma fun¸c˜ao semi-cont´ınua inferior. Para  =

λ = 1 o Princ´ıpio de Ekeland estabelece que existe x1 ∈ X tal que g(x1) < g(x) +

d(x1, x), para todo x 6= x1. Provaremos que x1 = f (x1). De fato, suponha que

todo y = f (x1) seja diferente de x1, logo pela hip´otese do teorema g(x1) ≥ g(y) +

d(x1, y). Essa ´ultima desigualdade contradiz a desigualdade do Princ´ıpio Variacional

de Ekeland. Portanto, x1 ´e um ponto fixo de f .

2.4

Teorema do Ponto fixo de Tychonoff

O teorema do ponto fixo de Tychonoff estabelece que uma fun¸c˜ao cont´ınua definida

num subconjunto compacto e convexo de um espa¸co vetorial topol´ogico localmente

convexo possui ponto fixo.

Defini¸c˜ao 8. Sejam V um espa¸co vetorial sobre um corpo K e τ uma topogia em V

tal que para todo x ∈ V, {x} ´e fechado ou seja {x}C ∈ τ e as opera¸c˜oes de soma,

(+), e produto por escalar, (·), em V s˜ao cont´ınuas com respeito a τ . Dizemos que (V, τ ) ´e um espa¸co vetorial topol´ogico.

No caso em que a topologia τ em V possua uma base onde cada elemento dessa

base ´e um conjunto convexo, dizemos que V ´e um espa¸co vetorial topol´ogico

local-mente convexo.

Exemplo 3. Todo espa¸co vetorial normado possui uma estrutura topol´ogica natural

pois a norma induz a m´etrica e a m´etrica induz a topologia. Portanto todo espa¸co

vetorial normado ´e um espa¸co vetorial topol´ogico.

Exemplo 4. O espa¸co euclidiano Rn´e um espa¸co vetorial topol´ogico pois ´e um espa¸co

normado. Al´em disso, os elementos da base da topologia usual de Rn ao bolas e

portanto convexas, logo o Rn ´e um espa¸co vetorial topol´ogico localmente convexo.

Agora vamos enunciar o teorema do ponto fixo de Tychonoff. Note que esse

teorema ´e uma extens˜ao do teorema do ponto fixo de Brouwer j´a que o Rn ´e um

espa¸co vetorial topol´ogico localmente convexo.

Teorema 2.10. (Ponto fixo de Tychonoff ) Seja X um espa¸co vetorial topol´ogico localmente convexo, K compacto e convexo e f : K −→ K cont´ınua, ent˜ao f possui ponto fixo.

(18)

2.5

Teorema do ponto fixo de Schauder

O teorema do ponto fixo de Schauder, assim como o teorema do ponto fixo de Brouwer ´

e um caso particular do teorema do ponto fixo de Tychonoff pois todo espa¸co de Banach (X, k · k) ´e um espa¸co normado, logo pelo exemplo 3 todo espa¸co de Banach ´

e um espa¸co vetorial topol´ogico. Al´em disso, a norma induz a m´etrica, que induz

a topologia, portanto as bolas abertas no espa¸co de Banach definida por B(a, ) = {x ∈ X; k x − a k< } s˜ao convexas e tamb´em os elementos da base da topologia na

qual os abertos s˜ao as bolas abertas.

Para demonstrar o teorema de Schauder vamos precisar do conceito de envolt´oria

convexa:

Defini¸c˜ao 9. Seja V um espa¸co vetorial normado sobre o corpo R e {x1, ..., xn} ⊂ V,

definimos a envolt´oria convexa de {x1, ..., xn} por:

conv{x1, ..., xn} = {α1x1+ ... + αnxn∈ V : α1, ..., αn∈ R+e n

X

i=1

αi = 1}.

Dado um conjunto S, o convS ´e o menor (no sentido de inclus˜ao) conjunto convexo

que cont´em S. No caso em que S ´e convexo teremos convS ⊂ S.

Proposi¸c˜ao 2.11. Sejam V um espa¸co vetorial e {x1, ..., xn} ⊂ V. O conv{x1, ..., xn}

´

e homeomorfo a um subconjunto compacto e convexo do Rn.

Demonstra¸c˜ao. Seja K = {x = (α1, ..., αn) ∈ Rn : α1, ..., αn ∈ R+, e

n

X

i=1

αi = 1}.

Note que K ´e claramente limitado pois, usando a norma da soma, dado x ∈ K, temos

que k x kS= n X i=1 |αi| = n X i=1 αi = 1.

K tamb´em ´e fechado. De fato, se {xk}k∈N ⊂ K ´e uma sequˆencia tal que xk → x

ent˜ao x ∈ K pois:

k xk− x k→ 0 quando k → ∞

ou seja,

k (αk1 − α1, ..., αkn− αn) k→ 0 quando k → ∞

donde temos que,

αki → αiquando k → ∞

Como αk

(19)

n X i=1 αi = n X i=1 lim k→∞α k i = lim k→∞ n X i=1 αki = lim k→∞1 = 1

Temos K ⊂ Rn´e limitado e fechado portanto K ´e compacto. Note tamb´em que K

´

e convexo pois, se x = (α1, ..., αn) e y = (β1, ..., βn) s˜ao elementos de K ent˜ao, para

todo t ∈ [0, 1] temos

(1 − t)x + ty = (1 − t)[(α1, ..., αn) + t(β1, ..., βn)]

= [(1 − t)α1+ tβ1, ..., (1 − t)αn− tβn]

Como t ∈ [0, 1] e αi, βi > 0 para todo i seque que (1 − t)αi + tβi > 0 para todo

i. Al´em disso, j´a que

n X i αi = n X i βi = 1 temos n X i [(1 − t)αi+ tβi] = (1 − t) n X i αi+ t n X i βi = 1 − t + t = 1

Agora, resta mostrar que conv{x1, ..., xn} ´e homeomorfo a K.

Definamos h : conv{x1, ..., xn} −→ K dada por

h(x) = h(α1x1 + ... + αnxn) = (α1, ..., αn).

Sua inversa ´e dada por

h−1(x) = α1x1+ ... + αnxn

Usando continuidade sequencial e que qualquer norma ´e equivalente em espa¸cos

de dimens˜ao finita, ´e f´acil ver que h e sua inversa h−1 s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas.

Teorema 2.12. (Ponto fixo de Schauder) Seja X um espa¸co de Banach, S ⊂ X compacto e convexo e f : S −→ S cont´ınua, ent˜ao f possui ponto fixo.

(20)

Demonstra¸c˜ao. Dado  > 0 temos que [

x∈X

B(x) ´e uma cobertura por abertos de S.

Da compacidade de S existe n ∈ N tal que S ⊂

n [ i=1 B(xi). Definimos g : S → S por: g(x) = n X i=1 mi(x)xi n X i=1 mi(x) onde, mi(x) =   − |x − xi|, se k x − xi k< , 0 se k x − xi k≥ .

Temos que g est´a bem definida, isto ´e,

n

X

i=1

mi(x) 6= 0 para todo x ∈ S. De fato, se

Pn

i=1mi(x) = 0 para algum x∗ ∈ S, o fato de mi(x) ≥ 0 nos leva a mi(x∗) = 0 para

todo i. Da defini¸c˜ao de mi temos k x∗− xi k≥  para todo i e portanto x∗ ∈ B/ (xi)

para todo i ou seja x∗ ∈/

n

[

i=1

B(xi) ⊃ S o que ´e um absurdo pois x∗ ∈ S.

Vejamos que g ´e cont´ınua. Para isso basta mostrar que mi ´e cont´ınua para todo

i pois g ´e soma e produto das mi.

Seja a ∈ S, mi ´e cont´ınua em a. De fato, dado  > 0

(1) Caso k a − xi k≥ :

mi(a) = 0 logo, existe δ > 0 (na verdade para todo δ > 0) tal que, se k x−a k< δ

temos

|mi(x) − mi(a)| = |mi(x)| < ,

onde essa ´ultima desigualdade segue da pr´opria defini¸c˜ao de mi.

(2) Caso k a − xi k< :

Tome δ <  logo, se k x − a k< δ temos

|mi(x) − mi(a)| =

 |− k x − xi k −(− k a − xi k)| se k x − xi k< ,

(21)

=  | k a − xi k − k x − xi k | se k x − xi k< , 0 se k x − xi k≥ . ≤  k a − xi− (x − xi) k se k x − xi k< , 0 se k x − xi k≥ . ≤ k x − a k se k x − xi k< , 0 se k x − xi k≥ . < δ se k x − xi k< , 0 se k x − xi k≥ . <   se k x − xi k< , 0 se k x − xi k≥ .

Portanto, |mi(x) − mi(a)| <  o que conclui a prova da continuidade de mi.

Note tamb´em que, para todo x ∈ S,

|g(x) − x| = n X i=1 mi(x)xi n X i=1 mi(x) − x (1) = n X i=1 mi(x)(xi− x) n X i=1 mi(x) (2) ≤  (3)

(22)

Considere Sn = conv{x1, ..., xn}, definimos para cada n ∈ N,

g ◦ f : Sn−→ Sn.

Vamos mostrar que g ◦f possui ponto fixo. Pela proposi¸c˜ao 2.11, Sn´e homeomorfo

a K ⊂ Rn. Seja h esse homeomorfismo e defina a fun¸c˜ao F : K −→ K por F =

h−1◦ (g ◦ f ) ◦ h.

Como F ´e composta de fun¸c˜oes cont´ınuas ent˜ao F ´e cont´ınua, pelo teorema 2.4

(ponto fixo de Brouwer), F possui ponto fixo, digamos x∗. Agora, veja que h(x∗) ´e

ponto fixo de g ◦ f :

Da defini¸c˜ao de F , obtemos que g ◦ f = h ◦ F ◦ h−1 portanto,

(g ◦ f )(h(x∗)) = h ◦ F ◦ h−1(h(x∗))

= h ◦ F (x∗)

= h(x∗)

onde a ´ultima igualdade segue do fato de x∗ ser ponto fixo de F . Portanto, para

cada n ∈ N, g ◦ f : Sn −→ Sn possui ponto fixo, digamos pn0.

Considere a sequˆencia de pontos fixos {pn

0}n∈N de g ◦ f , como {pn0}n∈N⊂ S que ´e

compacto, existe subsequˆencia {pn0

0 }n0∈N0 tal que pn

0

0 −→ p0 ∈ S quando n

0

→ ∞.

Al´em disso, para todo n0 ∈ N0 temos

k pn0 0 − f (p n0 0 ) k = k p n0 0 − g ◦ f (p n0 0 ) + g ◦ f (p n0 0 ) − f (p n0 0 ) k ≤ k pn0 0 − g ◦ f (p n0 0 ) k + k g ◦ f (p n0 0 ) − f (p n0 0 ) k ≤ k pn0 0 − p n0 0 k + k g ◦ f (p n0 0 ) − f (p n0 0 ) k ≤ k g ◦ f (pn0 0 ) − f (pn 0 0 ) k ≤ 

onde a ´ultima desigualdade foi obtida de (3).

Portanto, lim n0→∞k p n0 0 − f (pn 0 0 ) k≤ . Da convergˆencia de {pn 0 0 }n0∈N0 e da

continui-dade de f temos k p0− f (p0) k≤  para todo  > 0, donde temos que f (p0) = p0.

3

Conclus˜

ao

Neste trabalho, percebemos que a existˆencia de ponto fixo de uma fun¸c˜ao f depende

(23)

possuem vantagem e desvantagem, por exemplo, o teorema do ponto fixo de Banach

exige mais do que continuidade da fun¸c˜ao f por´em este teorema garante a existˆencia

e unicidade do ponto fixo e mostra como constru´ı-lo. Este ´ultimo fato ´e de grande

valia em aplica¸c˜ao desse teorema, a saber: teorema de Picard. Os demais teoremas

de ponto fixo apresentados nesse trabalho exigem apenas continuidade por´em n˜ao

garante unicidade do ponto fixo, t˜ao pouco determina uma forma de encontr´a-los.

Observamos tamb´em que investigar a existˆencia de ponto fixo de uma determinada

fun¸c˜ao, ´e interessante do ponto de vista da existˆencia de tal ponto assim como pelo

fato de ser poss´ıvel obter importantes aplica¸c˜oes na Matem´atica.

Referˆ

encias

[1] Lins Neto, Alcides.: Fun¸c˜oes de uma Vari´avel Complexa. Rio de Janeiro: IMPA,

2005.

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[11] Pata, Vitorino.: Fixed Point Theorem and Applications.

(24)

[12] Castro Junior, Armando.: Curso de Equa¸c˜oes Diferenciais Ordin´arias. Livro em

Referências

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