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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC. Simone Cândida Hito

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Academic year: 2021

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Simone Cândida Hito

CONDIÇÕES DE TRABALHO E ABSENTEÍSMO ODONTOLÓGICO

EM UMA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA NO BRASIL: UMA

CONTRIBUIÇÃO À GESTÃO DA SAÚDE OCUPACIONAL

São Paulo

2007

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SIMONE CÂNDIDA HITO

CONDIÇÕES DE TRABALHO E ABSENTEÍSMO ODONTOLÓGICO

EM UMA INDÚSTRIA FRIGORÍFICA NO BRASIL: UMA

CONTRIBUIÇÃO À GESTÃO DA SAÚDE OCUPACIONAL

Dissertação de mestrado apresentada ao Centro Universitário Senac como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

Orientadora: Prof. Dra. Emilia Satoshi Miyamaru Seo

São Paulo

2007

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Catalogação na fonte

H675c Hito, Simone Cândida

Condições de trabalho e absenteísmo odontológico em uma indústria frigorífica no Brasil: uma contribuição à gestão da saúde ocupacional / Hito, Simone Cândida - São Paulo, 2007.

129f.

Orientadora: Prof. Dra. Emilia Satoshi Miyamaru Seo

Dissertação (Mestre em Gestão Integrada e Saúde do Trabalho e Meio Ambiente) – Centro Universitário Senac, Campus Santo Amaro, São Paulo, 2007.

1. Absenteísmo 2. Atestado médico 3. Atestado odontológico 4. Indústria frigorífica I. Emilia Satoshi Miyamaru Seo (orient.) III. Título.

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FOLHA DE APROVAÇÃO

Simone Cândida Hito

Título: Condições de trabalho e agravos à saúde odontológica em uma indústria frigorífica no Brasil: subsídios à gestão da saúde e segurança no trabalho

A Banca Examinadora de Dissertação de Mestrado, em seção pública realizada em ___/____/_____, considerou o candidato:

( ) aprovado ( ) reprovado 1) Examinador: ______________________________________________________ 2) Examinador: ______________________________________________________ 3) Examinador: ______________________________________________________

(6)

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pela grande dádiva da vida. Aos meus pais, Fidetino e Heloísa, pela compreensão e pelo estímulo constante. Ao meu marido Sebastião, pelo esforço compartilhado, pelo apoio total e, principalmente, por suas palavras de fé e estímulo, sempre, mesmo quando tudo parecia tão incerto. Ao meu filho Gabriel, pela sua paciência, mesmo que ainda tão pequeno. Ele, a razão maior da minha vida!

(7)

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Celso, grande professor, grande orientador inicial. À Prof.ª Emília, pela impecável orientação final. À Célia, pelo excelente trabalho de revisão. À Paula, secretária da pós-graduação, pela sua dedicação e presteza. Ao Gustavo, pelo excelente trabalho estatístico.

(8)

Se você nunca se assusta,

se confunde ou se magoa,

é sinal de que nunca

se arrisca.

(9)

RESUMO

O absenteísmo é o estudo de todas as ausências ao trabalho. Essas ausências criam diversos problemas, de ordem econômica e social. O presente estudo tem por finalidade avaliar o absenteísmo odontológico e médico por intermédio de um estudo descritivo feito a partir de um levantamento de dados dos atestados odontológicos e médicos emitidos no ano de 2005, em uma empresa do ramo frigorífico do Estado do Paraná. Foram avaliados 8.728 atestados de origem médica e odontológica, que continham data de emissão do atestado, número de dias de afastamento, CID, nome do médico ou cirurgião dentista, número de inscrição nos respectivos conselhos de classe, posto de trabalho e matrícula do trabalhador. A idade, o sexo e outras informações necessárias foram obtidos nas respectivas fichas clínicas do trabalhador. Os principais resultados encontrados foram: 97,64% de atestados médicos e 1,51% de atestados odontológicos. Apesar dos casos médicos dominarem o cenário dos atestados na indústria frigorífica, as patologias de origem bucal têm importante participação no afastamento do trabalho no setor. Recomenda-se, com base nos levantamentos realizados, a criação de um serviço de odontologia ocupacional, ou melhor, a inserção da odontologia ocupacional na equipe multidisciplinar de saúde e segurança das empresas, pois, se a finalidade desse serviço é a promoção da saúde do trabalhador, a saúde bucal não pode ficar à parte.

Palavras-chave: absenteísmo, atestados médicos e odontológicos, indústria frigorífica.

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ABSTRACT

Absenteeism is the study of all the absences to work. These absences create several problems of economic and social order.The present study is made to evaluated medical and odontogical absenteeism from a describe study made of odontological and medical certification from the year 2005 in a company from Parana State. 8728 people were evaluated from medical and odontological certification number and the days off that were granted, CID, name of the doctor or dentist, inscription number type of work and identification number. The age, sex and other from the clinical files from the worker.Despite medical cases dominate the certificates scenery in the industry packing house, the pathologies of buccal origin have important participation in work dismissal in the sector. It recommends, with base in the accomplished surveys, the creation of a service of occupational odontology, I mean, the insert of the occupational odontology in the team multiple discipline of companies health and safety, because, if the purpose of this service is the worker health promotion, the oral health cannot stay apart.

Key words: absenteeism, medical and odontological certification, Industry packing house.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

GRÁFICO 1 Participação percentual de casos médicos,

odontológicos e sem especificação, por sexo... 50 GRÁFICO 2 Participação percentual das demissões por sexo, por

registro médico/odontológico/sem

especificação... 50 GRÁFICO 3 Participação percentual por sexo nos atestados

médicos/ odontológicos registrados... 53 GRÁFICO 4 Evolução específica e participação percentual total

dos sexos nos atestados odontológicos

registrados... 53 GRÁFICO 5 Evolução específica e participação percentual total

dos sexos nos atestados odontológicos

registrados... 54 GRÁFICO 6 Evolução específica e participação percentual total

dos sexos nos atestados odontológicos

registrados... 54 GRÁFICO 7 Participação total percentual e pareto por faixa

etária percentual do sexo masculino nos

registros levantados... 55 GRÁFICO 8 Participação total percentual e pareto por faixa

etária percentual do sexo feminino nos

registros levantados... 56 GRÁFICO 9 Participação dos sexos nos atestados odontológicos

por CID... 61 GRÁFICO 10 Tempo de afastamento por sexo e por registro

(12)

GRÁFICO 11 Participação dos sexos nos atestados sem

especificação por CID... 67 GRÁFICO 12 Tempo de afastamento por sexo por registro sem

especificação por CID... 68 GRÁFICO 13 Registros de atestados médicos por sexo e por

participação percentual por CID... 70 GRÁFICO 14 Participação dos sexos nos atestados médicos

por CID específico – CID tipagem F... 71 GRÁFICO 15 Participação dos sexos nos atestados médicos

por CID específico – CID tipagem G... 72 GRÁFICO 16 Participação dos sexos nos atestados médicos por

CID específico – CID tipagem I... 73 GRÁFICO 17 Participação dos sexos nos atestados médicos por

CID específico – CID tipagem J... 74 GRÁFICO 18 Participação dos sexos nos atestados médicos por

CID específico – CID tipagem K... 75 GRÁFICO 19 Participação dos sexos nos atestados médicos por

CID específico – CID tipagem M... 76 GRÁFICO 20 Participação dos sexos nos atestados médicos por

CID específico – CID tipagem S... 77 GRÁFICO 21 Participação dos sexos nos atestados médicos por

CID específico – CID tipagem T... 78 GRÁFICO 22 Área de Frangos – Percentual por sexo e grupo

de CID sobre os totais da área fabril

(sob totais de 2.005)... 128 GRÁFICO 23 Área de Perus – Percentual por sexo e grupo

de CID sobre os totais da área fabril

(13)

GRÁFICO 24 Área de Suínos – Percentual por sexo e grupo de CID sobre os totais da área fabril

(sob totais de 2005)... 129 QUADRO 1 Principais CID da tipagem K correlacionados

com os atestados odontológicos registrados... 60 QUADRO 2 Principais CID de tipagens O e M correlacionados

com os atestados sem especificação registrados... 66 QUADRO 3 Principais CID das diversas tipagens

correlacionados com os atestados médicos

(14)

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 Disposição das fontes consultadas, palavras- chaves, número de artigos recuperados e

relevantes... 44 TABELA 2 Estatísticas descritivas das características

sexo e posto de trabalho... 51 TABELA 3 Distribuição dos atestados médicos, odontológicos

e sem especificação por origem, sexo e

mês de registro... 52 TABELA 4 Paridade na participação dos sexos nas faixas

etárias propostas... 56 TABELA 5 Participação dos funcionários não demitidos por

setor, idade, sexo e atestado... 57 TABELA 6 Participação dos funcionários por CID e por sexo

nos atestados médicos... 59 TABELA 7 Tempo de afastamento por sexo por

registro odontológico por CID... 63 TABELA 8 Demissões por sexo e por CID –

atestados odontológicos... 64 TABELA 9 Registros de atestados odontológicos por sexo

e por faixa etária de acordo com o CID... 65 TABELA 10 Registros de atestados sem especificação por

sexo e por faixa etária de acordo com o CID... 98 TABELA 11 Registros de atestados médicos por sexo

e por participação percentual por CID... 69 TABELA 12 Paridade da participação percentual crescente

dos CID nos atestados médicos registrados

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TABELA 13 Participação dos sexos nos atestados médicos

por CID específico... 108 TABELA 14 Participação dos sexos nos atestados médicos

por grupo de CID... 79 TABELA 15 Registro de atestados médicos por sexo, por

tempo de afastamento e por CID... 80 TABELA 16 Demissões por sexo e por grupos de CID – atestados

médicos... 81 TABELA 17 Registros de atestados médicos por sexo e por faixa

etária de acordo com o grupo de CID... 115 TABELA 18 Registro de atestados médicos por setor e por

fábrica... 116 TABELA 19 Registros de atestados médicos por setor,

fábrica e mês... 117 TABELA 20 Participação percentual e quantitativa, por sexo

e por área dos totais gerais das áreas

(sob dados de totais de 2005)... 122 TABELA 21 Participação quantitativa e percentual, por sexo,

por área fabril e por grupo de CID sob os totais

gerais dos sexos (sob totais de 2005)... 123 TABELA 22 Participação quantitativa por sexo, por área e

por grupo de CID sob os totais gerais das

áreas (sob totais de 2005)... 124 TABELA 23 Participação quantitativa e percentual, por sexo,

por área fabril e por grupo de CID sob os totais

gerais das áreas fabris (sob totais de 2005)... 125 TABELA 24 Participação quantitativa e percentual, por sexo,

por área fabril e por grupo de CID sob os totais

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TABELA 25 Participação quantitativa e percentual, por sexo, por área fabril e por grupo de CID sob os totais

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

% Porcentagem

< Menor

> Maior

BBO Biblioteca Brasileira de Odontologia CAT/SUB Comunicação de Acidente de Trabalho Cc Coeficiente de correlação

CIPA Comissão Interna de Prevenção de Acidentes COCHRANE Biblioteca Cochrane

INSS Instituto Nacional de Seguridade Social

HISA História da Saúde Pública na América Latina e Caribe IC Intervalo de Confiança

LILACS Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde MEDLINE Literatura Internacional em Ciências da Saúde

M-H Ponderação mulher e homem

N Número de indivíduos

OIT Organização Internacional do Trabalho

OR Razão de chances

P Valor de p

PCMSO Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PPRA Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

PUBMED National Library of Medicine SCIELO Scientific Electronic Library Online Sig Significância

SESI Serviço Social da Indústria SST Saúde e Segurança no Trabalho SUS Sistema Único de Saúde

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(19)

1 1 INTRODUÇÃO... 19 1.1 Origem do trabalho... 22 1.2 Relevância do estudo... 23 1.3 Questões de pesquisa... 24 1.4 Hipóteses... 25 1.4.1 Hipótese geral... 25 1.4.2 Hipótese específica... 25 1.5 Objetivos... 25 1.5.1 Objetivo geral... 25 1.5.2 Objetivos específicos... 25 1.6 Limitações da pesquisa... 26

1.7 Descrição e organização dos capítulos... 26

2 A SAÚDE DO TRABALHO E O ABSENTEÍSMO... 28

2.1 O absenteísmo odontológico... 33

3 A ODONTOLOGIA OCUPACIONAL... 40

3.1 Origem... 40

3.2 A necessidade da especialidade de odontologia do trabalho... 41

4 MÉTODOLOGIA... 43

4.1 Fonte e coleta dos dados... 45

4.1.2 Caracterização da empresa 45

4.1.3 Principal fonte de informações 46

4.1.4 Coleta de dados 46

(20)

4.1.6 Análise dos dados 48

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS... 49

5.1 Consolidação do banco de dados... 49

5.2 Distribuição dos registros de atestados médicos e odontológicos por sexo/por idade/mês de ocorrência... 51

5.3 Distribuição dos registros de atestados médicos e odontológicos por fábrica/idade/sexo... 57

5.4 Distribuição dos registros de atestados médicos por CID... 58

5.5 Distribuição dos registros de atestados odontológicos por CID/sexo/idade... 60

5.6 Distribuição dos registros de atestados sem especificação por CID/idade/sexo... 65

5.7 Distribuição dos registros de atestados médicos por CID/idade/sexo... 69

5.8 Distribuição dos registros de atestados médicos por setor/mês/fábrica/CID... 81

5.9 Distribuição dos registros de atestados odontológicos por setor/mês/por fábrica/CID... 82

6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS... 83

7 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES... 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 90

(21)

1. INTRODUÇÃO

Etimologicamente, absenteísmo significa o ato de não comparecer ao trabalho, hoje entendido, em sentido lato, como o estudo de todas as ausências ao trabalho, as quais criam problemas diversos de ordem econômica e social.

O trabalho, geralmente realizado em equipe, é afetado quando se ausenta um de seus elementos, pois acarreta sobrecarga para os companheiros, o que, por sua vez, diminui a produção e aumenta o custo operacional, tornando necessária, muitas vezes, a convocação de um substituto para executar o trabalho ou, então, recorrer à improvisação.

Quick e Lapertosa (1982) dividem o absenteísmo em cinco classes:

a) absenteísmo voluntário: é a ausência voluntária ao trabalho por razões particulares. Portanto, trata-se de ausência ao trabalho não justificada por doença, sem amparo legal;

b) absenteísmo por doença: inclui todas as ausências por doença ou procedimento médico. Excetuam-se nessa classe os infortúnios profissionais;

c) absenteísmo por patologia profissional: compreende as ausências por acidente de trabalho ou doença profissional;

d) absenteísmo legal: as faltas ao serviço amparadas na lei – em situações tais como: gestação, gala, doação de sangue, serviço militar, etc;

e) absenteísmo compulsório: é o impedimento ao trabalho, ainda que o trabalhador não o deseje, por suspensão imposta pelo patrão, por prisão ou outro impedimento que não lhe permita chegar ao local do trabalho. O mundo do trabalho foi submetido a várias mudanças em seus modos de execução a partir do advento da modernização das máquinas e da microeletrônica, assim como da nova organização do trabalho daí originada. O homem passa a ser exigido de um outro modo de atuação. A nova forma de

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atuação no trabalho passa a se voltar para a destreza e a atenção associadas com a aceleração do ritmo do trabalho e o aumento da produtividade (RIBEIRO, 1984).

Um aspecto importante a ser considerado é que as causas do absenteísmo nem sempre estão no trabalhador, mas na empresa, enquanto organização e supervisão deficientes, através da repetitividade das tarefas, da desmotivação e do desestímulo, das condições desfavoráveis do ambiente e do trabalho, da precária integração entre os empregados e a organização e dos impactos psicológicos de uma direção deficiente, que não visa uma política prevencionista e humanista (ALEXANDRE, 1987; COUTO, 1987; CHIAVENATO, 1994; ALVES, 1996).

Eventualmente, as faltas ao trabalho estão associadas a movimentos grevistas de categorias essenciais, que dificultam ou mesmo impedem o deslocamento até o local de trabalho. Ainda no campo do absenteísmo, pode-se observar a falta ao trabalho motivada por vários fatores, inclusive de ordem legal, como participar de processos eleitorais.

Diversas patologias, nas mais variadas áreas da Medicina, vêm sendo identificadas como responsáveis pela composição dos índices de absenteísmo, principalmente aquelas associadas ao segmentos ósseo e mental. Há de se lembrar que, na grande maioria das vezes, o absenteísmo pode estar relacionado às condições de trabalho. Dentro desse universo de enfermidades possíveis de afetar o desempenho dos trabalhadores, os problemas odontológicos vêm sendo investigados como um dos fatores que concorrem para o absenteísmo (ROSSI, 2003).

No entanto, os estudos concernentes a esse aspecto são poucos, e os resultados controversos quanto à magnitude dos problemas odontológicos na composição desse evento. Mesmo assim, algumas investigações vêm sugerindo que a facilitação do acesso dos trabalhadores ao tratamento odontológico poderia diminuir o impacto causado pelos problemas dentários (ROSSI, 2003).

As desigualdades sociais no campo do trabalho, caracterizadas pelo empobrecimento de muitos em benefício de poucos e associadas a um enorme

(23)

processo de exclusão social, têm grande impacto sobre a saúde da classe trabalhadora no Brasil. Marmot (1997) relata que, qualquer que seja o indicador de posição socioeconômica usado, o resultado será que países com nível socioeconômico mais baixo apresentarão maiores problemas de saúde. A saúde do trabalhador não foge a essa regra, e dentro dela a saúde bucal é o expoente maior das condições socioeconômicas de desenvolvimento.

Além das iniqüidades socioeconômicas verificadas na saúde do trabalhador, existem fortes evidências de que tal situação se estende à saúde bucal (WATT, 1999).

Os trabalhadores de baixa renda tendem a apresentar mais problemas de saúde bucal e usam menos os serviços públicos odontológicos (III CNSB,2004), seja por falta crônica de vagas, seja por falta de horário compatível de atendimento da classe trabalhadora, em detrimento dos trabalhadores de maior renda, que dispõem de maiores condições de acesso a tratamentos particulares e ainda conseguem, muitas vezes, lugar no serviço público através do tráfico de influência, resultando disso uma relação desproporcional de doenças bucais não tratadas e de tipos de tratamento recebido. Um dos maiores objetivos do serviço público odontológico é reduzir os efeitos das desigualdades sociais em relação à saúde bucal (III CNSB, 2004).

A saúde bucal do trabalhador não pode estar dissociada da saúde do trabalho como um todo, mas, sim, intimamente relacionada com todos os setores participantes da saúde do trabalho.

Para estimar a condição de saúde bucal dos trabalhadores dos diferentes ramos da indústria, é necessário realizar levantamentos epidemiológicos, os quais favorecerão o conhecimento indispensável à proposição de ações adequadas às suas necessidades e riscos. As informações fornecidas por esses levantamentos possibilitam, além de comparações no tempo e no espaço, avaliações do impacto diferencial de fatores de risco e proteção, bem como, em certa medida, dos programas de saúde relativos aos agravos e às condições de trabalho considerados.

(24)

Com base nessa premissa, mister se faz realizar um levantamento epidemiológico de saúde bucal entre os trabalhadores brasileiros, notadamente e em especial, dos trabalhadores da indústria frigorífica, em função da exposição ao frio por longos períodos. Esse levantamento fornecerá a base de informações sobre a qual as incursões analíticas procurarão identificar fatores e condições associados aos principais agravos à saúde bucal dos trabalhadores da indústria frigorífica e, com isso, inter-relacioná-los com o absenteísmo médico-odontológico. Os dados produzidos por esta pesquisa contemplarão a distribuição do absenteísmo odontológico e testarão diferentes hipóteses explicativas, principalmente a distribuição de lesões bucais e acidentes de trabalho, com a finalidade de fornecer parâmetros para análises comparativas com o absenteísmo médico e instruir os gestores de saúde do trabalho na tomada de decisões e no planejamento de serviços específicos.

Este trabalho tem por objetivo analisar o absenteísmo odontológico e médico, comparando os respectivos atestados emitidos no ano de 2005, numa empresa frigorífica do Estado do Paraná, com vistas a contribuir para o melhor conhecimento dos fatores e das implicações do absenteísmo-doença.

1.1. Origem do trabalho

Frente às demandas sociais e à recente conclusão do levantamento epidemiológico no Brasil, que aponta para uma grande dívida social na área de saúde bucal – estima-se em mais de 30 milhões o número de desdentados no país (III CNSB, 2004) – deflagrou-se um processo ascendente de discussão, com articulações intersetoriais nas esferas do governo e ações integradas da sociedade civil e de movimentos populares, tendo como indicador da qualidade de vida a saúde bucal da população (III CNSB, 2004). Os trabalhadores, aí incluídos, necessitam de políticas próprias, voltadas principalmente para a área preventiva e que respondam aos anseios da classe com relação à saúde bucal. Mister se faz a participação de toda a sociedade civil constituída nas discussões acerca do tema, para que os projetos sejam realizados e mantenham a sustentabilidade da saúde bucal do trabalhador brasileiro.

(25)

Na área da saúde, a construção do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1988) é um exemplo dessa condição. No dia-a-dia do trabalho, muitas imagens expressam o quanto as iniqüidades sociais humilham, degradam e fazem sofrer milhões de trabalhadores. Essas imagens, via de regra, são de trabalhadores desdentados, que assim sorriem sem nenhuma qualidade de saúde bucal, a demonstrar uma hipotética satisfação com o primeiro emprego; porém, o sorriso sem dentes é um dos fatores explícitos das desigualdades sociais do mundo do trabalho.

Consoante considerações anteriores, este trabalho foi desencadeado pela constatação da enorme importância social e econômica da saúde bucal dos trabalhadores, uma vez que estudos estatísticos têm demonstrado a gravidade do problema, seja pela incidência de lesões bucais relacionadas ao trabalho ou não. A gravidade desse problema social pode ser medida através da incapacidade temporária ou permanente produzida, geradora dos benefícios previdenciários correspondentes, além de outros graves problemas sociais e econômicos decorrentes dessa condição, para os quais não há parâmetros de medição. Exatamente por isso, pressupõe-se que a avaliação da problemática por meio do estudo epidemiológico – através de atestados médicos, sobre como e por que adoece o trabalhador da indústria frigorífica – trará importantes informações para a prevenção do absenteísmo no setor, assim como alimentará informações importantes para a melhoria das estratégias de gestão da saúde do trabalho. 1.2 Relevância do estudo

As condições de saúde bucal e o estado dos dentes são, sem dúvida, um dos mais significativos sinais de exclusão social (III CNSB, 2004), tanto devidos a problemas de saúde localizados na boca – dentre eles os relacionados com o ambiente e as condições de trabalho – quanto pelas dificuldades encontradas para conseguir acesso aos serviços públicos assistenciais ou privados, e mesmo pela falta de condições financeiras para tratamento. A escolaridade deficiente, a baixa renda, a falta de trabalho e a má qualidade de vida produzem efeitos devastadores sobre as gengivas, os dentes e outras estruturas da boca, levando ainda ao absenteísmo na indústria e à perda de produtividade.

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O absenteísmo tem sua ocorrência em duas vertentes intimamente dependentes, de acordo com Alves (1996): alteração das condições sociais e das condições do ambiente de trabalho. Para Wisner (1994), as taxas altas de absenteísmo estão relacionadas, principalmente, a alterações psicológicas resultantes do processo de trabalho.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) define a falta ao trabalho por licença médica como sendo o período de baixa laboral atribuído à incapacidade temporária do indivíduo para a execução da tarefa a ele atribuída (OIT, 1985).

Porém, o absenteísmo não é apenas um indicador de adoecimento do trabalhador; em muitos casos pode representar insatisfação do trabalhador com a empresa ou com o trabalho (DANATRO ,1997).

O absenteísmo, no atual contexto econômico de competitividade, faz com que cada vez mais empresas procurem meios para diminuir sua ocorrência e, com isso, aumentar sua rentabilidade e sustentabilidade. Dessa forma, as empresas procuram atuar no ponto final do processo, ou seja, no absenteísmo, e não nas causas que levam ao absenteísmo.

1.3 Questões de pesquisa

Em vista da contextualização descrita, esta dissertação procurou aprofundar o estudo das seguintes questões de pesquisa:

• Quais são as características do absenteísmo em geral e seu peso na indústria frigorífica, em particular?

• É possível contribuir com subsídios para ações preventivas mais efetivas a partir da análise objetiva dos elementos desencadeadores do absenteísmo no universo pesquisado?

• É possível contribuir com subsídios para ações mais efetivas a partir da análise objetiva do absenteísmo e, dessa forma, propor um programa de odontologia ocupacional que torne mais efetivas as ações pró-ativas no intuito de minimizar o absenteísmo na indústria frigorífica?

(27)

• Há condições de minimizar o absenteísmo de origem médica e odontológica na indústria frigorífica?

1.4 Hipóteses

1.4.1 Hipótese geral

Na indústria frigorífica, o absenteísmo constitui, devido à falta de conhecimento e de informações sobre as características e especificidades do setor, um óbice à melhoria dos mecanismos de gestão da saúde ocupacional e, por conseguinte, à proposição de um sistema de gestão da saúde ocupacional afeito às suas peculiaridades.

1.4.2 Hipótese específica

A análise do absenteísmo odontológico, na indústria frigorífica, gera subsídios fundamentais para a criação e a implementação de um programa de odontologia ocupacional.

1.5 Objetivos

1.5.1 Objetivo geral

Avaliar o absenteísmo odontológico e médico através de um estudo descritivo baseado em um levantamento de dados dos atestados odontológicos e médicos emitidos no ano de 2005, em uma empresa frigorífica.

1.5.2 Objetivos específicos

• Identificar os fatores ambientais que possam constituir risco à saúde bucal no local de trabalho, em qualquer das etapas do processo de produção.

• Identificar as patologias bucais com maior prevalência na indústria frigorífica.

• Dimensionar o peso relativo do absenteísmo de origem médica e odontológica na indústria frigorífica.

(28)

• Propor, com base nos resultados obtidos, mecanismos que possam diminuir o absenteísmo de origem odontológica na indústria frigorífica. • Gerar subsídios às recomendações de ações pontuais preventivas de

patologias bucais, consoante as condições organizacionais do trabalho na indústria frigorífica.

1.6 Limitações da pesquisa

A pesquisa limita-se a uma unidade de indústria frigorífica de grande porte, localizada em um município do Estado do Paraná. Por conseguinte, não analisará comparativamente as informações do ramo frigorífico com outros conglomerados industriais. Além disso, como se trata de uma pesquisa que envolve levantamento de informações de arquivos e o seu tratamento em termos quantitativos, um aprofundamento da mesma seria possível apenas com ulteriores estudos de natureza mais qualitativa – quiçá, preferencialmente em nível comparativo, pela ampliação do universo aqui selecionado –, como, por exemplo, através de um estudo de campo, quando então se poderia aprofundar em particularidades da problemática através de recortes analíticos mais específicos, porém relevantes, tais como: causas dos afastamentos de origem odontológica específicos, análise das patologias bucais preexistentes, etc. De qualquer forma, isso seria possível apenas a partir de conhecimentos prévios sistemáticos. E é isso o que aqui se propõe.

1.7 Descrição e organização dos capítulos

O primeiro capítulo, ou introdução, tem a finalidade de elucidar o assunto a ser desenvolvido, delimitando-o, justificando sua importância e explicitando as questões da pesquisa e os objetivos perseguidos.

O segundo capítulo contém uma análise da saúde do trabalho no Brasil, privilegiando a saúde bucal dos trabalhadores e traçando um paralelo com o programa nacional de saúde e segurança do trabalhador. Contextualizam-se, aqui, também o absenteísmo geral e o absenteísmo de origem odontológica.

O capítulo terceiro descreverá, amiúde, a metodologia utilizada à consecução dos resultados requeridos e que constituem a matéria-prima para a

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consolidação do quarto capítulo, onde se busca descrever e analisar, do ponto de vista estatístico e epidemiológico, os resultados obtidos.

Na seqüência, o quinto capítulo procederá à interpretação e à discussão do capítulo anterior, onde serão explicitadas a posição e a contribuição da autora.

Por fim, o sexto capítulo apresentará a conclusão do trabalho e as recomendações para melhorias no sistema de gestão de saúde do trabalho e meio ambiente na indústria frigorífica, além de sugestões para trabalhos futuros.

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2. A SAÚDE DO TRABALHO E O ABSENTEÍSMO

A distância antes existente entre a prática clínica e o instrumental epidemiológico de origem ocupacional vem gradativamente diminuindo em função de novas ferramentas e da legislação pertinente (BRASIL, 1978), que relata a importância da abordagem clínico-epidemiológica da saúde do trabalhador. Para tanto, faz-se necessária a utilização de informações gerenciais sobre a saúde do trabalho nas organizações para que futuras ações preventivas sejam tomadas na busca de um ambiente de trabalho saudável.

A qualidade das informações e a forma como elas devem ser colhidas, processadas, avaliadas e utilizadas devem seguir critérios técnicos eficazes, através de métodos capazes de enxergar o trabalhador como um todo, estendendo essa percepção para situações de além-muro (WALDVOGEL, 2002), no sentido de conduzir as avaliações de saúde do trabalho de uma maneira holística.

A saúde do trabalho, em nível mundial, é considerada um pilar fundamental para o desenvolvimento de um país e para suas ações dirigidas à promoção e à proteção dos trabalhadores. À medida que a sociedade avança econômica, social e tecnologicamente, aumenta a necessidade de ações efetivas com relação à saúde do trabalhador e, dentro dessas ações, aquelas direcionadas à saúde odontológica. A classe trabalhadora desempenha importante papel na economia, independentemente das condições socioeconômicas encontradas, pois dela depende a parcela produtiva da indústria. Desta feita, a saúde do trabalhador deve ser considerada como um dos componentes mais importantes da relação capital e trabalho. A falta ao trabalho por motivo de doença ou absenteísmo-doença acarreta o rompimento ou o deslocamento do equilíbrio formado entre a saúde do trabalhador e a produtividade (DIACOV e LIMA, 1988).

De acordo com Alves (1996), o absenteísmo pode ser ocasionado por alterações sociais ou no ambiente de trabalho, o que demonstra uma dificuldade de inserção de trabalhadores no mercado de trabalho.

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Para Wisner (1994), o absenteísmo está relacionado com alterações psicológicas em função do processo de trabalho, notadamente em atividades que acarretam desgaste pessoal por excesso de responsabilidades. Rohr (2001) relata que o absenteísmo é a falta de comparecimento assíduo ao trabalho.

O absenteísmo no trabalho é um dos mais antigos problemas enfrentados pelas organizações, que precisam conviver com as alterações de comportamento dos trabalhadores diariamente e com os altos custos operacionais resultantes da perda de tempo (SOUTO, 1980).

Dejours (1992) relata que as faltas ao trabalho estão relacionadas com o limite de tolerância do trabalhador frente às condições de trabalho. Sendo assim, as organizações têm que melhorar muito suas condições ambientais de trabalho, além de seus processos e de sua organização do trabalho para que haja uma melhora no absenteísmo. É importante que o trabalhador sinta prazer ao se dirigir para o seu ambiente de trabalho, pois ali passará a maior parte do seu dia e de sua vida. A observação de fatores como condição de trabalho, estilo de liderança e relacionamentos interpessoais ajuda a entender o impacto do absenteísmo nas organizações. Além desses fatores psicossociais causadores de absenteísmo, têm-se também como causas de absenteísmo as doenças e as dores, principalmente a dor de dente.

Nogueira e Azevedo (1982), em uma indústria têxtil de São Paulo, compararam o absenteísmo entre trabalhadores de ambos os gêneros por meio de três estudos seguidos, respectivamente durante um, quatro e cinco anos. No final, verificaram que os trabalhadores do gênero masculino apresentaram valores de absenteísmo inferiores ao do gênero feminino. As mulheres apresentaram 15 vezes mais doenças geniturinárias, 6,3 vezes mais doenças osteomusculares, 1,75 vezes mais doenças digestivas e 1,37 vezes mais doenças respiratórias. A explicação para o maior absenteísmo entre as mulheres estaria na sobrecarga imposta à trabalhadora, que, além de suas funções laborativas na empresa, ainda tem a seu cargo o trabalho doméstico.

Quick e Lapertosa (1982) abordaram o absenteísmo médico a partir de dados comparados de anos anteriores, obtidos de uma população de cerca de

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10.000 empregados da Mannesmann S/A – Usina Siderúrgica e Metalúrgica do Barreiro, em Belo Horizonte. Os autores utilizaram como variáveis: gênero, categoria profissional (horista ou mensalista) e tempo de serviço na empresa. Os dados apontaram para a prevalência de transtornos mentais, de doenças do aparelho respiratório, de acidentes, de envenenamentos e eventos decorrentes da violência. As ausências por doença, em 1980, geraram 28.759 dias perdidos – que representaram quatro vezes mais os dias perdidos por acidente de trabalho (6.748) – com maior prevalência entre empregados horistas, portanto, menos categorizados, do gênero feminino e com menor tempo de serviço (um a três anos). Os autores acreditam que os empregados jovens, por serem em sua maioria oriundos do interior e solteiros, ainda não estão adaptados ao trabalho industrial, estão em desajuste social, pois não possuem uma vida familiar adequada.

Fischer (1984), em um estudo descritivo, analisou os acidentes de trabalho como uma das causas do absenteísmo em um setor de prensas pesadas de uma indústria automobilística da grande São Paulo. Foram avaliadas todas as ausências e todos os acidentes de trabalho ocorridos entre 1.354 trabalhadores, e ficou evidenciado que a relação acidente e absenteísmo é maior em trabalhadores com menos tempo de serviço na empresa, talvez pela inexperiência com o trabalho.

Gomes (1986), em uma análise sobre a mulher, apresentou como justificativa para o maior índice de absenteísmo nas mulheres a jornada dupla de trabalho que elas enfrentam, ou seja, mulheres que trabalham fora do lar chegam ao serviço cansadas em razão da fadiga residual e pelo que já fizeram antes de sair para o trabalho. O autor diz que é comum a mulher, durante o turno de trabalho, estar preocupada com os problemas que aconteceram ou podem estar acontecendo no seu lar; e, quando em casa, ela não consegue tirar de sua mente os problemas profissionais que a esperam no outro dia. Em relação à produtividade, o autor deixa claro que, com as transformações tecnológicas, a mulher se equipara pouco a pouco ao homem perante a máquina, compensando, com a sua maior atenção, destreza e precisão, a sua capacidade muscular inferior.

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Segundo Smith (1966), há várias causas para o absenteísmo, dentre elas: as jornadas prolongadas de trabalho, as condições insalubres e a tensão emocional.

Couto (1987) diz haver uma relação direta entre o tipo de trabalho e as causas de afastamento entre os trabalhadores, com maior perda no absenteísmo de média duração (03 a 15 dias de afastamento) e o maior número de ocorrências no absenteísmo de curta duração (01 a 02 dias de afastamento), associando o afastamento do trabalho a fatores sociais, culturais e do trabalho.

Segundo Danatro (1997), o absenteísmo representa mais de 10% de todas as despesas, de todos os salários e de todas as horas extras pagos ao trabalhador.

Gillies (1994), tomando como base suas investigações, relata como causas mais freqüentes de absenteísmo por doença as afecções respiratórias, os transtornos digestivos, os problemas circulatórios, os transtornos ginecológicos e as neuroses patológicas.

Danatro (1997) desenvolveu, em Montevideo, um estudo descritivo numa instituição pública do Uruguai, baseado num levantamento de dados dos atestados médicos emitidos entre 1º de julho de 1994 a 30 de junho de 1995. Para tanto, utilizou como variáveis: idade, gênero, contrato, turno, dias de ausência, dia de início, mês, período estacional (estação do ano) e patologia. O serviço contava com 1.474 funcionários, dentre os quais 594 eram do setor administrativo. Ao todo, foram analisados 1.644 atestados: 1.604 de causa médica e 40 de causa não médica. O gênero feminino obteve o maior número de atestados médicos (1.091). A faixa etária de maior absenteísmo foi a de 35 a 44 anos, tanto para o gênero feminino como para o masculino. O setor administrativo apresentou maior absenteísmo (43%) – considere-se, no entanto, que o setor contava com maior número de funcionários que os demais setores da empresa. Os 1.604 atestados de causa médica geraram 10.085 dias de ausência, e a maioria dos atestados foi de 1 dia. As enfermidades mais representativas do estudo foram, em primeiro lugar, as causas respiratórias; depois, os distúrbios

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osteomusculares e do tecido conjuntivo, a presença de fatores de risco, o contato com os serviços de saúde e as enfermidades digestivas.

Os índices de absenteísmo são variáveis em todo o mundo. No oeste da Europa, por exemplo, os índices são duas vezes mais altos do que no Japão e nos Estados Unidos (BRINER, 1996), enquanto no Brasil mostram uma variação de acordo com o tipo de atividade desenvolvida e a administração da empresa. Bourguignon (1999) relata que os trabalhadores brasileiros estão cada vez mais temerosos de perder seus empregos em função das altas taxas de desemprego e subemprego.

Porém, as causas do absenteísmo podem decorrer também da organização do trabalho, da supervisão deficiente, de tarefas sem muito estímulo, da falta de motivação da equipe e do estilo de gerenciar da empresa (CHIAVENATO, 1999).

Alves e Godoy (2001) desenvolveram, em um hospital universitário de Minas Gerais, um estudo descritivo sobre o absenteísmo, no qual analisaram as licenças médicas emitidas de janeiro a dezembro de 1999. Para isso, utilizaram como variáveis: gênero e motivo da doença. Os autores concluíram que a maioria dos atestados era do gênero feminino, talvez por serem as mulheres em maior número. Tanto homens como mulheres sofriam principalmente de doenças do aparelho respiratório, de doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo.

O absenteísmo causa na indústria um aumento direto dos custos, através da diminuição da produtividade e da eficiência; maior desperdício; aumento dos problemas administrativos em função de sucessivas substituições dos faltosos, para que não ocorra estagnação do setor produtivo, e um aumento indireto dos custos através das concessões de auxílio-doença pela Previdência Social. Além disso, a terceirização de trabalhos perigosos constitui-se cada vez mais num motivo de absenteísmo na indústria em função dos acidentes de trabalho (FILHO, 2006).

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2.1 O absenteísmo odontológico

No campo especifico da Odontologia, muito pouco é encontrado em documentos. Porém, a Lei 5.051, de 24 de agosto de 1966, do Conselho Federal de Odontologia, que regula o exercício profissional, prevê em seu artigo 6, parágrafo III, competência ao cirurgião-dentista para atestar, no setor de sua atividade profissional, estados mórbidos e outros, inclusive para justificação de faltas no emprego. No entanto, como se trata de matéria um tanto quanto recente, pouco se tem escrito sobre o assunto. Em vista disso, o fato de não se guardarem documentos relacionados ao absenteísmo odontológico acarreta grande dificuldade para a aferição de valores palpáveis, assim como dificulta ainda mais a mensuração do ônus econômico que tais faltas podem ocasionar à indústria.

O estudo do absenteísmo odontológico no Brasil é extremamente dificultoso por não haver uniformidade de documentos e não se guardarem documentos referentes ao assunto, em detrimento dos estudos estatísticos. Existem informações, mas dispersas, o que dificulta a avaliação do número de dias perdidos de trabalho por absenteísmo odontológico em nível nacional, estadual e municipal. Existe, portanto, pouca informação tanto a respeito do ônus econômico que tais faltas possam acarretar quanto ao nível de insatisfação do trabalhador pela quebra do binômio saúde-trabalho. A dificuldade de obtenção de dados a respeito do absenteísmo odontológico implica, sem dúvida alguma, em nada ou quase nada se saber do comportamento do trabalhador nesse sentido.

Em um estudo descritivo, Amaral e Róscoe (1970) analisaram o absenteísmo por meio de um levantamento de dados feito com base em atestados odontológicos emitidos no serviço público da Previdência. O número de atestados foi avaliado em decorrência do número de afecções dentárias atendidas no período de três meses em serviços dentários da Previdência, do número de clientes atendidos e do conseqüente fornecimento de atestados, constatando-se o seguinte:

• Abril – 91 pacientes atendidos e 12 atestados fornecidos. • Maio – 116 pacientes atendidos e 18 atestados fornecidos. • Junho – 83 clientes atendidos e 12 atestados fornecidos.

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Devido à importância do fenômeno, os autores sugerem medidas que facilitem a análise do problema, dentre outras: “manter e analisar as fichas dentárias a fim de se saber como, quando e onde ocorrem as perdas de jornada de trabalho por motivos odontológicos”.

Num estudo realizado por Gerson (1972) – que utilizou uma amostra aleatória de 113 indivíduos nos Estados Unidos, distribuídos de acordo com duas classes sociais distintas – foi respondido um questionário sobre a média de ausências esperada para o desempenho no trabalho e nas tarefas domésticas durante os estágios agudos e de convalescença de problemas médicos e odontológicos. Os resultados demonstraram que o impacto foi significativamente mais baixo para os problemas odontológicos em comparação com os problemas médicos, independentemente do nível social.

Rocha (1981) desenvolveu um estudo em uma indústria metalúrgica de Canoas, no Rio Grande do Sul, cujo objetivo era determinar, mediante a análise dos dados do serviço médico e de questionários aplicados aos trabalhadores:

a) o nível de absenteísmo ao trabalho por razões médicas em relação às variáveis: idade, sexo, função exercida pelo empregado na empresa (administrativa, produção) e tempo de serviço;

b) o nível de absenteísmo por acidente de trabalho em relação às variáveis: idade, sexo, função exercida pelo empregado na empresa (administrativa, produção) e tempo de serviço;

c) o grau de influência das causas de ordem odontológica no absenteísmo em relação às variáveis: idade, sexo, função exercida pelo empregado na empresa (administrativa, produção) e tempo de serviço;

d) o nível de percepção dos trabalhadores com relação à saúde bucal e ao serviço odontológico da indústria. Após uma avaliação detalhada, concluiu-se que a falta por motivos odontológicos era a que menos contribuía para o absenteísmo, superada, em termos de duração média e de total dos afastamentos, tanto pelos acidentes de trabalho quanto pelas causas médicas – estas as mais comuns.

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De acordo com Ballit (1982, apud REISINE, 1984), os problemas odontológicos também se enquadram nos relatos da literatura científica que consideram o controle sobre o local de trabalho um importante predicativo para o absenteísmo.

Cartaxo (1982), ao analisar o absenteísmo em empresas de pequeno, médio e grande porte de Campina Grande, na Paraíba, em uma de suas conclusões verificou que os problemas odontológicos são os que menos contribuem para o absenteísmo, a maioria é de causa médica. Um menor número de faltas era cometida pelo gênero feminino entre as solteiras, geralmente isentas de atividades dentro do lar e de preocupações com a família. A maioria das faltas também ocorreu entre trabalhadores menos qualificados, que recebiam baixos salários. Acredita-se que trabalhadores que ganham um salário maior faltam menos porque estão satisfeitos com o seu salário ou se nutrem melhor, adoecendo menos.

Reisine (1984), numa entrevista com 2600 trabalhadores nos Estados Unidos, selecionados aleatoriamente, indagou sobre as ausências no trabalho decorrentes de visitas ao dentista e do tratamento de problemas odontológicos, utilizando como método de mensuração as horas perdidas. Os resultados demonstraram que 25% da amostra reportaram um episódio de absenteísmo odontológico, enquanto, para a amostra total, foi encontrada uma média de 1:7 horas perdidas por trabalhador ao ano. Mais da metade desses trabalhadores com perda de trabalho reportou menos de 3 horas de absenteísmo por ano, 12,7% reportaram 8 horas ou mais e 7,3% reportaram mais de 2 dias de absenteísmo. Trabalhadores com renda e cargo superiores, com plano de assistência à saúde e visitas regulares ao dentista, demonstraram menos horas de trabalho perdidas. Os que não visitavam assiduamente o dentista perderam duas vezes mais horas do que aqueles que o visitavam com freqüência. Aqueles cuja saúde oral estava deteriorada perderam três vezes mais horas de trabalho do que os que apresentavam excelente saúde oral. Contudo, Reisine (1984) considera que a condição dentária e os correspondentes tratamentos não resultam em incapacidade para o trabalho, e sugere que a incapacidade não é um indicador sensível para avaliar o impacto das doenças – devido às suas várias

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limitações – e que provavelmente subestima outras dimensões, como a redução da produtividade durante o trabalho. Há muitos inconvenientes em se restringir a apuração da incapacidade em um dia todo ou mesmo por meio dia, pois limitações funcionais com duração inferior a esse período não são aferidas. Devido à natureza das condições dentárias e seus respectivos tratamentos, a disfunção pode não durar o dia todo e, assim, uma grande quantidade de eventos dentários pode ser subestimada.

Reisine e Miller (1985), num estudo longitudinal, empreenderam o acompanhamento de 1992 trabalhadores nos Estados Unidos através de entrevistas trimestrais durante um ano, considerando problemas dentários e visitas ao dentista como eventos de perda de trabalho. Do total da amostra, 26,4% relataram um episódio de absenteísmo por motivos dentários, com uma média de 1:26 horas perdidas por trabalhador ao ano. Para os que relataram absenteísmo odontológico, a média foi de 4,8 horas por pessoa. Os que visitavam com freqüência o dentista eram mais propensos a apresentar menos absenteísmo, e os indivíduos de baixa renda tinham mais tempo de trabalho perdido justamente por terem dificuldade de acesso ao tratamento, menos autonomia em seus trabalhos e, conseqüentemente, piores condições de saúde bucal. O estudo ressalta que o índice de absenteísmo diário como um instrumento de mensuração pode ser intuitivamente considerado como de fácil quantificação, e que o trabalho perdido é geralmente encarado como uma conseqüência séria. Os autores consideram que os dias de incapacidade representam um indicador padronizado comparável através das condições, mas que, no entanto, o absenteísmo diário não pode ser sensível para pequenas diferenças dos efeitos decorrentes de problemas dentários dentro da sociedade. Por isso, muitas investigações têm percebido que a magnitude do tempo de trabalho perdido por problemas dentários é mínima, especialmente quando comparados a doenças crônicas limitantes, como a artrite e as desordens cardiovasculares. Finalmente, os autores sugerem que os funcionários com menos autonomia em seus locais de trabalho tendem a postergar o tratamento odontológico, e que existem fortes evidências de que uma grande parcela da população, incluindo funcionários adultos capazes de pagar por seus tratamentos, não recebe assistência dentária quando necessita – o que poderia justificar incentivos para a expansão das horas

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de tratamento durante o tempo fora do horário de trabalho, a reestruturação dos seguros de saúde para a adoção de ações preventivas ou a instalação de clínicas para serviços preventivos nos locais de trabalho.

Martins (2002), para comparar o absenteísmo odontológico e médico no serviço público e privado, utilizou como principais variáveis: categoria da empresa, regime empregatício, gênero, idade, função, tipo de atestado, causas do absenteísmo, duração em dias e data em que se verificou a falta. E reuniu todos os atestados médicos e odontológicos emitidos no período de janeiro a junho de 2002 que deram entrada no Departamento de Pessoal da Prefeitura de Araçatuba e da Indústria Color Visão – Indústria Acrílica. Foram analisados 1.642 atestados odontológicos e médicos, sendo 1.311 da Prefeitura de Araçatuba e 331 da Indústria Color Visão. Os resultados demonstraram maior absenteísmo na empresa. Houve predominância do gênero feminino, tanto na prefeitura como na empresa privada. Os atestados odontológicos tiveram pouco peso sobre o total dos atestados; entretanto, os atestados odontológicos no serviço privado foram em maior número para as mulheres, o contrário do que aconteceu no serviço público. A faixa etária que mais apresentou absenteísmo foi a de 20 a 29 anos na empresa e de 30 a 39 anos no serviço público. Quanto à função, os mais faltosos do setor privado foram os operadores de injetora de plástico; no setor público, os auxiliares de serviços gerais. A função que mais se ausentou por motivos odontológicos, no serviço privado, foi a de auxiliar geral e, no serviço público, a de agente de serviços gerais.

Rossi (2003), em um estudo transversal, comparou algumas empresas que ofereciam assistência odontológica e outras que não, utilizando para isso duas unidades de uma empresa metalúrgica do Estado de São Paulo. Na unidade de Mogi Mirim era oferecida aos funcionários assistência odontológica; na unidade de Cotia, não. Para controlar as variáveis gênero, idade e nível socioeconômico, foram selecionados apenas homens entre 25 e 39 anos, que trabalhavam, no ano de 2002, apenas como operadores de máquinas simples e semicomplexas nas linhas de produção, escolhidos em função de sua menor renda e menor autonomia, bem como pela tendência a postergar o tratamento odontológico. Foram encontrados 88 atestados no grupo teste e 107 atestados que eram do

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controle. Dos 88 atestados apresentados, 73 eram atestados médicos, enquanto 3 eram de origem odontológica, causados por exodontias que envolviam 1 dia de atestado, perfazendo 3 dias de absenteísmo por motivo odontológico. Nos 107 atestados do controle foram apresentados 90 atestados médicos e 6 odontológicos, perfazendo 6 dias de absenteísmo por motivo odontológico. As enfermidades mais freqüentes foram as osteomusculares (35,07%) = 821 dias; outros (39,41%) = 922 dias (exames laboratoriais, doação de sangue, procedimentos de diagnóstico); respiratórios (7,13%) = 167 dias; cardiovasculares (5,51%) = 129 dias; aparelho urinário (3,67%) = 86 dias; aparelho digestivo (2,95%) = 69 dias; gestação (1,75%) = 41 dias, e odontológicos (1,70%) = 40 dias.

Mazzilli (2004), em um estudo descritivo feito a partir de um levantamento de dados secundários, relacionou as perícias odontológicas segundo a etiologia de seus afastamentos, para o que utilizou as variáveis gênero e faixa etária. Como resultado, concluiu que a maior prevalência de absenteísmo odontológico se deu entre as mulheres, na faixa etária mais baixa, de 20 a 29 anos. Em relação às causas mais freqüentes, encontrou a exodontia por via alveolar (24,94%), as doenças da polpa e dos tecidos periapicais (17,81%), as doenças periodontais (10,75%), os transtornos da articulação temporo-mandibular (7,68%) e as exodontias de inclusos ou impactados (6,88%).

Salto Filho (2005) avaliou o absenteísmo odontológico e médico por intermédio de um estudo ecológico feito com base num levantamento de dados dos atestados odontológicos e médicos emitidos no ano de 2003, em uma empresa do ramo alimentício do Estado de São Paulo. As referências para o estudo proposto foram baseadas em três principais variáveis: gênero, faixa etária e tipo de função (administrativa ou operacional). De um total de 390 funcionários, 166 indivíduos, constituídos de homens e mulheres que trabalhavam nos setores administrativo e de produção, apresentaram atestados odontológicos e médicos no ano de 2003. Esses indivíduos foram divididos em duas faixas etárias: entre 18 e 28 anos e acima de 28 anos. A conclusão foi a de que as mulheres entre 18 e 28 anos faltavam mais ao trabalho quando comparadas aos homens, em relação ao absenteísmo médico; em relação ao absenteísmo odontológico, o trabalho

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operacional apresentava maior absenteísmo quando comparado ao trabalho administrativo.

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3. A ODONTOLOGIA OCUPACIONAL

3.1. Origem

Coube a Ramazzini, em 1700, em seu livro De Morbis Artificum Diatriba, o estudo mais antigo de que se tem conhecimento, segundo a literatura, sobre as manifestações de doenças na cavidade oral do trabalhador, que seriam problemas odontológicos causados por doenças profissionais. Os cuidados com a saúde oral dos trabalhadores foram citados em vários momentos da literatura, no século XIX, na Inglaterra (1887) e no Canadá (1890); e no século XX, nos Estados Unidos (1915) e na Itália (1936).

Walls e Bethlehen (1942, apud PIZZATO, 2002) destacaram a importância do exame periódico como parte do serviço odontológico e das ações educativas em saúde oral para os empregados nas empresas dos Estados Unidos.

Morvay (1948, apud PIZZATO, 2002) disse que a responsabilidade do

cirurgião-dentista que trabalha na indústria é dupla, pois a saúde do trabalhador é o mais importante, além da satisfação do empregador, e afirmou que os exames orais periódicos poderiam reduzir a incidência de problemas orais.

Medeiros (1965, apud Mello et al., 2006) alertou para a importância da

realização de exames periódicos pré-admissionais, complementares aos exames de saúde realizados pela área médica. O autor destacou ainda que as patologias orais podem influenciar no processo produtivo de uma empresa e citou, como exemplo, a cárie dentária, que, “pelo seu processo evolutivo, poderia causar odontalgias, abcessos, absenteísmos, incapacidade para o trabalho, etc.”.

Medeiros (1966) avaliou a Odontologia do Trabalho como: “o setor da Odontologia que tem por finalidade a melhoria da saúde oral, seus efeitos e influência sobre a produtividade no trabalho e o diagnóstico precoce das manifestações orais das doenças ocupacionais”.

Guimarães e Rocha (1979) sugeriram um roteiro a ser seguido na elaboração e realização de exames odontológicos pré-admissionais, caso se

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pretenda dar uma assistência integral à saúde do trabalhador, assim como o incremento da produtividade da empresa.

Garrafa (1986), utilizando-se da expressão “odontologia do trabalho”, apontou os objetivos dessa área como a solução dos problemas orais dos trabalhadores, visando o “processo de produção e consumo de bens se incluindo aos próprios trabalhadores do setor de saúde”. O autor quis enfatizar a importância do trabalhador para as empresas como um patrimônio que para elas gera lucro e crescimento.

Portanto, a especialidade de Odontologia do Trabalho está definida pelo Conselho Federal de Odontologia, na Resolução CFO-22/2001, em seu artigo 30: “Odontologia do Trabalho é a especialidade que tem como objetivo a busca permanente da compatibilidade laboral e a preservação da saúde bucal do trabalhador”.

Devem-se ter como meta da especialidade a prevenção, a reabilitação e a preservação da saúde oral dos trabalhadores. Seguindo-se essa linha, atingir-se-á esse escopo por meio da anatingir-se-álise, da organização, do planejamento, da execução, da avaliação dos serviços, dos programas e projetos para a saúde oral, da avaliação técnica e da auditoria (MELLO et al., 2006).

3.2. A necessidade da especialidade de odontologia do trabalho

Juntamente com a inspeção oral em complemento ao exame admissional, a Odontologia do Trabalho tem função importante no ingresso do trabalhador, pois se pode exigir uma condição mínima oral desse indivíduo, segundo Medeiros e Bijella (1971, apud MELLO et al., 2006). A exigência de exame odontológico na admissão tem como finalidade eliminar os fatores causais de emergências e contribuir para a produtividade (MEDEIROS e BIJELLA, 1971, apud MELLO et al., 2006).

Passos e Vilela (1983, apud MELLO et al., 2006) citaram, pela experiência que tinham como membros de uma equipe de saúde ocupacional, que o primeiro objetivo, quando da instalação de um serviço ocupacional, seria a realização de exames pré-admissionais, pois um trabalhador em perfeitas condições de saúde

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oral produziria muito mais, visto que a cavidade oral é via de acesso para a instalação de várias doenças.

Waissmann (2002 apud MELLO et al., 2006) disse ser importante o estudo

de situações especiais como a dos trabalhadores, além da população em geral. Ainda não se têm dados epidemiológicos quanto a acidentes de trabalho na região oral. O único trabalho confiável na área da Odontologia, realizado pelo Ministério da Saúde em 1999, teve como foco a epidemiologia das doenças orais. Os índices de dentes cariados e de doenças periodontais são altíssimos. O que se pretende mostrar é que esses problemas podem e devem ser prevenidos, segundo Midorikawa (2000), para o qual a diminuição do absenteísmo seria também a principal vantagem para as empresas, pois haveria maior produtividade individual e diminuição dos problemas médicos, e as empresas poderiam abater as despesas no imposto de renda, colocando-as como custo interno. Para Mello

et al., (2006), a imagem da empresa melhoraria aos olhos do trabalhador e,

certamente, serviria de exemplo para outras empresas. Os resultados desses investimentos seriam vistos em médio prazo, e haveria uma diminuição na demanda de serviços odontológicos mantidos pelo setor público.

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4. METODOLOGIA

Os conjuntos formados por indivíduos (particularizados um a um ou agregados de algum modo) constituem a matéria-prima da investigação epidemiológica. Os agregados de que trata a pesquisa epidemiológica sempre são referidos em uma base geográfica e temporal, constituindo populações em um sentido estrito (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 1999, p. 149).

A temporalidade do desenho do estudo, para o que interessa a esta pesquisa na investigação epidemiológica, pode ser desdobrada em duas categorias: (i) instantânea e (ii) serial. O caráter instantâneo de um estudo se define quando a produção do dado é realizada em um único momento (singular) no tempo, como se fora um corte transversal do processo em observação (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 1999).

Os estudos agregados observacionais podem ser transversais ou longitudinais, de acordo com a temporalidade do processo de produção de dados (ROUQUAYROL e ALMEIDA FILHO, 1999, p. 150).

A metodologia representa "o caminho e o instrumental próprios de abordagem da realidade", incluindo as concepções teóricas, o conjunto de técnicas que possibilitam a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador (MINAYO, 2004).

Esta pesquisa poderia ser classificada como descritiva. As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou então o estabelecimento de relações entre variáveis. Todavia, como ela vai além da simples análise das relações entre variáveis, buscando determinar a natureza dessas relações, tem-se aqui um caso particular, no qual a pesquisa descritiva se aproxima da explicativa, ou seja, na medida em que busca identificar os “fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos” (GIL, 1999, p. 42). Ademais, bifurca-se em duas dimensões: uma teórica, outra prática (VERGARA, 2000). De dimensão teórica porque considera as nuances na compreensão dos determinantes do absenteísmo na indústria frigorífica. De dimensão aplicada porque busca gerar

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subsídios à melhoria dos sistemas de gestão em saúde ocupacional que resultem em ações preventivas mais efetivas em termos de eficiência e eficácia, concretamente direcionadas ao absenteísmo no setor frigorífico do país.

A estratégia de busca em banco de dados desta pesquisa usou as seguintes palavras-chaves: absenteísmo, saúde, absenteeism, working e environment. Foram consultados os seguintes bancos de dados: BBO, COCHRANE, LILACS, MEDLINE, PUBMED e SCIELO, sem limites de datas. As fontes de referências bibliográficas (Tabela 1) consultadas estão a seguir.

Tabela 1

Disposição das fontes consultadas, palavras-chaves, número de artigos recuperados e relevantes

FONTES PALAVRAS-CHAVES RECUPERADOS RELEVANTES

BBO Absenteísmo 4 2 BDENF Absenteísmo 35 9 COCHRANE Absenteeism 492 10 HISA Absenteísmo 1 1 LILACS Absenteísmo 149 6 MEDLINE Absenteísmo/Saúde 871 2

PUBMED Absenteism/Working Environment 119 0

SCIELO Absenteísmo 32 1

TOTAL 1703 31

Esta pesquisa trata-se de um estudo de campo voltado para o setor frigorífico. Nela se utilizou, como principal fonte de informação, a base de dados de uma indústria frigorífica, todavia, dados referentes ao ano de 2005, ou seja, aqueles disponibilizados pela indústria. Ademais, o ineditismo deste trabalho mostra a dificuldade de obtenção de dados, seja de forma bibliográfica, seja de forma direta na indústria.

Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana (GIL 1999).

Em si, a pesquisa que envolve a busca ativa tem ainda a característica de pesquisa documental, na qual a coleta de dados é feita através da transcrição padronizada de informações de arquivos para um formulário específico. Por outro

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lado, na abordagem como estudo de campo, será realizada uma pesquisa empírica de caráter qualitativo sobre o absenteísmo na indústria frigorífica e o seu contexto real – procedimentos que, na busca da explicação do fenômeno absenteísmo via análise de um conjunto de variáveis, possibilitam, por outro lado, avançar na análise do perfil, das tendências e das variações no absenteísmo em diferentes contextos do ramo de atividade selecionado.

O universo de estudo, a abrangência geográfica e o período de referência é constituído por todos os registros de atestados médicos apresentados por uma empresa frigorífica no Estado do Paraná, no ano de 2005, para afastamento ou não do trabalho.

Enfim, esta pesquisa pressupõe a busca ativa de informações como forma de apreensão dos fatos e das variáveis investigadas, exatamente onde, quando e como ocorreram. Os dados foram coletados de forma sistematizada, padronizada, e organizados em um banco de dados construído para esse fim. O tipo de técnica de coleta de dados utilizado poderia ser igualmente caracterizado como de observação direta extensiva, realizada por meio do preenchimento de formulários, o que pressupõe trabalhar com o universo total da população de trabalhadores na indústria frigorífica de acordo com os critérios amostrais selecionados. Com isso, foi possível a obtenção direta do material sem intermediários.

4.1 Fonte e coleta dos dados

4.1.2 Caracterização da empresa

A empresa, objeto desta pesquisa, iniciou suas atividades em 1934, fundada por descendentes das famílias Ponzoni e Brandalise. Em 1939 iniciou suas atividades industriais no Estado de Santa Catarina. Em 1954 mudou sua razão social para Ponzoni Brandalise S/A e iniciou o sistema de produção de aves e suínos. Em 1956, reestruturada, alterou sua razão social para Perdigão S/A Comércio e Indústria. Em 1975 fechou seu primeiro contrato de exportação de frangos, cujo destino era o Oriente Médio. Dessa época até 1989 fez aquisições importantes no setor de frangos, absorvendo concorrentes menores e estabelecendo cada vez mais sua posição no mercado nacional. Em 1994, o controle acionário da empresa foi adquirido por um pool de fundos de pensão,

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implantando-se uma gestão profissional que deu origem a uma única empresa de capital aberto – a Perdigão S/A – e a uma única empresa operacional, a Perdigão Agroindustrial S/A. A empresa possui unidades industriais em Santa Catarina (7), Paraná (1), Rio Grande do Sul (4) e Goiás (1), além de centros de distribuição no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Pernambuco, Ceará e Amazonas. O comércio exterior é feito através de escritórios na Holanda, Dubai, Inglaterra, Japão e Cingapura.

Em dezembro de 2005, a Perdigão contava com 35.556 empregos diretos no grupo e outro tanto ou mais de empregos indiretos (integrados e transportadores), envolvidos na produção diária de produtos acabados de aves e suínos. Mais de 100.000 pessoas vivem em todo o país, direta e indiretamente, ligadas à Perdigão.

A unidade fabril de Carambeí, em 2005, contava com 3842 funcionários, assim constituídos: 562 na área administrativa e 3.280 na área de produção. Desse total, 2.755 são do sexo masculino e 948 do sexo feminino, distribuídos por três unidades de produção: a) unidade produtora de frangos – 1934 funcionários: 1310 homens e 624 mulheres, nos três turnos de produção; b) unidade produtora de perus – 456 funcionários: 371 homens e 85 mulheres, distribuídos em três turnos; c) unidade de produção suína – 890 funcionários: 686 homens e 204 mulheres, distribuídos em dois turnos.

4.1.3 Principal fonte de informações

A principal fonte de informações para a realização deste projeto foi a base de dados sobre atestados médicos que contém registros de todos os atestados médicos e/ou odontológicos recebidos pelos funcionários da empresa em questão, entregues no departamento de saúde ocupacional para validação no ano de 2005.

4.1.4 Coleta de dados

Diante da dificuldade de obtenção de informações mais detalhadas sobre o absenteísmo via publicações oficiais, especificamente relacionados à população

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trabalhadora na indústria frigorífica, foi realizado um levantamento do absenteísmo em todas as fábricas do complexo industrial em questão, onde foram entregues os atestados médicos/odontológicos objeto deste estudo, no período entre 01/01/2005 a 31/12/2005, os quais foram transcritos para um formulário previamente elaborado (APÊNDICE A).

Além dos dados existentes nos atestados médico/odontológicos, foi analisada e transcrita para formulários próprios toda a documentação que pudesse ser anexada aos respectivos atestados para servir de fonte de informação. A intenção era coletar o máximo de informações que pudessem fazer parte dos atestados médico/odontológicos, e que não estavam registradas nos respectivos atestados.

A transcrição de dados do atestado médico/odontológico foi realizada de forma manual por esta pesquisadora e por um ajudante previamente selecionado e capacitado para esse fim. A seleção do coletor firmou-se em suas experiências profissionais e na formação escolar, com prioridade para: conhecimento na área de pesquisa; noções de arquivo e organização de documentos; caligrafia boa, legível e clara, pois não havia a intenção de perder informações na transcrição dos atestados; seriedade e postura ética; disponibilidade de deslocamento ate à empresa, no Estado do Paraná; disponibilidade para treinamento; fácil relacionamento social, etc.

Posteriormente, o coletor selecionado participou de um treinamento específico de capacitação, que compreendeu noções básicas sobre os atestados médicos e as formas de preenchimento do relatório de acidentes/incidentes. 4.1.5 Configuração do banco de dados

A busca ativa de cada atestado médico/odontológico foi efetivada através do departamento de recursos humanos da empresa.

Registre-se, aliás, que a pesquisadora participou de todas as fases do processo de pesquisa, desde o treinamento até a coleta de dados, quando coordenou o coletor.

Referências

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