• Nenhum resultado encontrado

– PósGraduação em Letras Neolatinas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "– PósGraduação em Letras Neolatinas"

Copied!
190
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

MARIANNA FERNANDES DE VASCONCELLOS

CAMPOLITERÁRIOECAMPOJORNALÍSTICO:ESPAÇOSDEVISIBILIDADENA

TRAJETÓRIADEGUYDEMAUPASSANT

1 volume

(2)

MARIANNA FERNANDES DE VASCONCELLOS

CAMPOLITERÁRIOECAMPOJORNALÍSTICO:ESPAÇOSDEVISIBILIDADENA

TRAJETÓRIADEGUYDEMAUPASSANT

1 volume

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Neolatinas.

Orientador: Professor Doutor Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina.

(3)

CAMPOLITERÁRIOECAMPOJORNALÍSTICO:ESPAÇOSDEVISIBILIDADENA

TRAJETÓRIADEGUYDEMAUPASSANT

Marianna Fernandes de Vasconcellos

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Neolatinas, área de concentração Estudos literários neolatinos, opção Literaturas de língua francesa.

Rio de Janeiro, 13 de abril de 2016.

Examinada por:

___________________________________________________

Presidente, Prof. Doutor Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina – UFRJ ___________________________________________________

Profa. Doutora Celina Maria Moreira de Mello – UFRJ

___________________________________________________ Prof. Doutor Roberto Ferreira da Rocha - UFRJ

___________________________________________________ Profa. Doutora Maria Cristina Batalha - UERJ

___________________________________________________ Prof. Doutor Leonardo Pinto Mendes - UERJ

___________________________________________________ Profa. Doutora Marília Santanna Villar - UFRJ, Suplente

___________________________________________________

Profa. Doutora Stela Maria Sardinha Chagas de Moraes – UERJ, Suplente

(4)

Vasconcellos, Marianna Fernandes de.

Campo literário e campo jornalístico: espaços de visibilidade na trajetória de Guy de Maupassant / Marianna Fernandes de Vasconcellos. – Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016.

xii, 178f.; il.; 31 cm.

Orientador: Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina

Tese (doutorado) – UFRJ/ FL / Programa de Pós-graduação em Letras Neolatinas, 2016. Referências bibliográficas: f. 169-178.

(5)

A meus pais, Ariel e Fernanda, ao meu irmão Leonardo, ao meu

marido João Paulo pelo incentivo constante e pelo amor

incondicional e ao meu bebê que me deu forças para chegar até o

(6)

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor doutor Pedro Paulo Catharina, pela confiança em meu

trabalho, por ter me apresentado o universo da pesquisa, por ter me incentivado de maneira

incansável e constante, pelas leituras sempre atentas dos meus textos e, sobretudo, pelo

exemplo de profissional. Guardarei comigo toda dedicação e cumplicidade das quais sou

testemunha e beneficiária há mais de dez anos.

À Professora Celina Maria Moreira de Mello que, desde a graduação, contribui com

minha carreira. Agradeço pela riqueza de conhecimentos, pelas indicações de leitura sempre

pontuais e preciosas, por se mostrar sempre solícita e, principalmente, pelas inúmeras palavras

de encorajamento nos momentos mais difíceis.

Ao supervisor de meu estágio doutoral na França, professor Jean-Yves Mollier, que

gentilmente me acolheu na Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines (UVSQ), e me

ofereceu um espaço privilegiado para discussão teórica, acompanhado de profícuas sugestões.

Aos meus pais, Ariel e Fernanda e ao meu irmão Leonardo, pela dedicação e apoio

constantes nos momentos mais difíceis e pela confiança que depositaram em mim, dando-me

forças para seguir em frente.

Ao meu marido João Paulo que, desde o início, me incentivou a iniciar o curso de

Doutorado e apoiou a minha ida para a França para a continuação da pesquisa. Agradeço por

ter suportado e me ajudado a suportar a distância, por, enfim, ser meu companheiro sempre.

Aos amigos de pesquisa Edmar, Fernanda e Luiz Paulo e Sabrina, por se mostrarem

sempre dispostos a ajudar, ouvir e discutir questões referentes à minha pesquisa. Agradeço

pela amizade e pela troca de material nestes últimos anos. E também aos amigos Ricardo

Cabral, Viviane Japiassú, Pricila Loretti, Danielle Sanches, Juliana Castro e Helicarla, que

assim como Edmar, me proporcionaram momentos de muita alegria durante a minha estadia

em Paris.

À Noëlle Benhamou, doutora em Letras, professora na Universidade de Picardia,

França, responsável pelo sítio da revista eletrônica francesa Maupassantiana, por ter sido meu

contato junto à comunidade de especialistas da obra de Maupassant, desde abril de 2006,

facilitando o desenvolvimento da minha pesquisa.

À CAPES, pela bolsa sanduíche que me permitiu além do acesso a artigos, periódicos

e livros inexistentes no Brasil, o contato com os especialistas Yvan Leclerc, Henri Mitterand,

Marlo Johnston e Marie-Françoise Melmoux-Montaubin, contribuindo para o bom andamento

(7)

« Le réaliste, s’il est un artiste, cherchera, non pas à nous montrer la photographie banale de la vie, mais à nous en donner la vision plus complète, plus saisissante, plus probante que la

réalité même»

(8)

RESUMO

Vasconcellos, Marianna Fernandes de. Campo literário e campo jornalístico: espaços de visibilidade na trajetória de Guy de Maupassant. Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Neolatinas, área de concentração Estudos literários neolatinos, opção Literaturas de língua francesa. Rio de Janeiro, 2016. 179 fls.

(9)

Vasconcellos, Marianna Fernandes de. Campo literário e campo jornalístico: espaços de visibilidade na trajetória de Guy de Maupassant. Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Neolatinas, área de concentração Estudos literários neolatinos, opção Literaturas de língua francesa. Rio de Janeiro, 2016. 179 fls.

RÉSUMÉ

(10)

Vasconcellos, Marianna Fernandes de. Campo literário e campo jornalístico: espaços de visibilidade na trajetória de Guy de Maupassant. Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Doutor em Letras Neolatinas, área de concentração Estudos literários neolatinos, opção Literaturas de língua francesa. Rio de Janeiro, 2016. 179 fls.

ABSTRACT

(11)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

ILUSTRAÇÃO 1...18

ILUSTRAÇÃO 2 ...33

ILUSTRAÇÃO 3 ...35

ILUSTRAÇÃO 4 ...37

ILUSTRAÇÃO 5 ...42

ILUSTRAÇÃO 6 ...45

ILUSTRAÇÃO 7 ...53

ILUSTRAÇÃO 8 ...54

ILUSTRAÇÃO 9 ...55

ILUSTRAÇÃO 10 ...68

ILUSTRAÇÃO 11 ...86

ILUSTRAÇÃO 12...87

ILUSTRAÇÃO 13...91

(12)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 1

2. GUY DE MAUPASSANT NO CAMPO LITERÁRIO FRANCÊS DO FINAL DO SÉCULO XIX... 9

2.1 Infância e juventude: primeiros escritos literários... 10

2.2A prática jornalística na produção literária de Guy de Maupassant ... 19

2.2.1 O conceito de campo jornalístico...24

2.2.2 A crônica e o jornal...28

2.2.3 Maupassant, Le Gaulois e Gil Blas: uma tríade bem-sucedida...34

2.3 Maupassant, romancista: um escritor em formação ... 49

2.4 Um escritor, seus editores e suas relações no campo sob a Terceira República frances...76

3. BEL-AMI, UM ROMANCE DE COSTUMES E DE APRENDIZAGEM ... 86

3.1 Georges Duroy e as personagens femininas: posições e deslocamentos ... 98

3.2 Os adjuvantes masculinos no processo de ascensão de Duroy ... 110

4. RECEPÇÕES SOCIAIS, PODER E POLÍTICA NO CAMPO JORNALÍSTICO FRANCÊS DA TERCEIRA REPÚBLICA: POR UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DE BEL-AMI ... 127

4.1 « À M.B hommage de Bel-Ami lui-même Guy de Maupassant»: Georges Duroy e Guy de Maupassant, trajetórias em homologia ... 128

4.2 Nas linhas de Bel-Ami,a representação do campo jornalístico francês do fim do século XIX...140

5.CONCLUSÃO...149

6. ANEXOS ... 155

(13)

1. INTRODUÇÃO

Guy de Maupassant é, ainda hoje, um dos escritores franceses mais lidos. Através de

leituras constantes sobre o autor e sua obra para o desenvolvimento desta tese, foi possível

observar que, a partir de 1950, houve um maior interesse da crítica universitária, tanto

francesa quanto estrangeira, principalmente por seus contos e novelas e seus primeiros

romances: UneVie e Bel-Ami. Até então, o alvo de interesse da crítica se concentrava na vida

do escritor, como explica a especialista Noëlle Benhamou:

Após um purgatório de cinquenta anos devido à intelligentsia francesa e um esquecimento por parte das universidades, a obra de Maupassant que, paradoxalmente, sempre conservou um fiel leitorado, foi “reabilitada” nos anos 1950. Ela começa, desdeentão, a interessar à crítica universitária que se concentra essencialmente nos contos e novelas e nos seus dois primeiros romances: Une vie, rotulado de flaubertiano, e Bel-Ami, dito balzaquiano. Até então, apenas a vida do escritor tinha sido tema de artigos e estudos, a biografia parecendo ofuscar a obra.1

Dentre os inúmeros estudos críticos sobre o escritor e suas produções, destacam-se,

sobretudo, o de André Vial, intitulado Guy de Maupassant et l’art du roman, publicado em

1954 pela editora Nizet, o de Pierre Cogny, Maupassant l’homme sans Dieu, publicado em

1968 pela editora La Renaissance du Livre e, mais tarde, em 1976, o da também especialista

Marie-Claire Bancquart, Maupassant conteur fantastique, publicado pela Minard. Ainda nos

anos de 1970, os contos e novelas escritos por Maupassant passaram a integrar a prestigiada

coleção da Pléiade e, mais tarde, em 1987, foi a vez dos romances. Todos os volumes foram

editados pelo especialista Louis Forestier.

Com o centenário da morte de Maupassant, em 1993, alguns colóquios importantes

foram organizados para celebrar o escritor normando, como o realizado em Fécamp,

Maupassant et l'écriture, de 21 a 23 de maio, e Maupassant multiple, que aconteceu na cidade

de Toulouse, entre os dias 13 e 15 de dezembro, revelando o interesse por suas produções.

Fato é que, a partir de então, diversas releituras críticas ou artísticas de sua obra foram feitas

através de adaptações teatrais e cinematográficas, em histórias em quadrinhos e traduções,

indicando sua contínua repercussão também fora da França.

1« Après un purgatoire de cinquante ans dû à l’

intelligentsia française et un oubli de l’université, l’œuvre de

Maupassant qui, paradoxalement, a toujours conservé un fidèle lectorat, a été ‘réhabilitée’ dans les années 1950.

Elle commence alors à intéresser la critique universitaire qui s’attache essentiellement aux contes et nouvelles et à ses deux premiers romans : Une vie, étiqueté flaubertien, et Bel-Ami, dit balzacien. Jusque là, seule la vie de

l’écrivain avait fait l’objet d’articles et d’études, la biographie semblant éclipser l’œuvre. » BENHAMOU,

(14)

Na dissertação de Mestrado intitulada Maupassant entre Jornalismo e Literatura,

buscamos apresentar, a partir do conceito de bio/grafia2 de Dominique Maingueneau, como se

deu a relação entre a vida e a obra de Maupassant, evidenciando como seus hábitos e relações

formaram importantes elementos de sua história pessoal, ao mesmo tempo que constituíram

intrinsecamente cenários e temas de suas produções. Sem ter tido a pretensão de definir cada

um dos gêneros literários, procuramos abordar, através de um panorama geral, aqueles aos

quais Maupassant mais se dedicou. Essa seção do estudo foi, sobretudo, um panorama geral

da obra de Maupassant, mas nos permitiu notar que seus textos eram sempre primeiramente

publicados nos periódicos – como era o hábito editorial à época – para só então serem publicados em forma de livro. Em suma, tentamos mostrar ao longo da dissertação de

Mestrado que o jornalismo, assim como a literatura, marcou intensamente a trajetória de

Maupassant.

Através desse estudo, portanto, pareceu-nos essencial aprofundar a relação de

Maupassant com o jornalismo do final do século XIX, na França, e também a sua posição no

campo literário da época. Assim, o principal objetivo desta tese é dar continuidade à pesquisa

realizada durante o curso de Mestrado e aprofundar, sobretudo, a questão do cruzamento do

campo literário e do campo jornalístico na França, no final do século XIX.

Partindo do levantamento acerca das publicações de Maupassant nos periódicos entre

1875 (ano da sua primeira publicação) e 1891 (ano da sua última publicação), foi possível

observar que o período de sua maior contribuição se deu entre 1880 e 1884, com crônicas,

contos e novelas, como se pode notar a partir da leitura do gráfico a seguir. Dessa maneira,

propomos nesta tese um recorte temporal para a realização deste estudo.

2

(15)

Sendo a crônica, o conto e a novela prática corrente do escritor nos domínios do

jornal, seu estudo teve um relevante papel na pesquisa sobre a inserção de Maupassant no

campo literário da época. Constatada a fecunda contribuição de Guy de Maupassant com os

diversos periódicos, sobretudo durante o período acima citado, consideramos a hipótese de

que durante a trajetória do escritor, o cruzamento dos campos literário e jornalístico foi o

elemento-chave capaz de lhe propiciar o devido espaço para exercer suas práticas artísticas e

o consagrar como detentor de um significativo capital simbólico.

Aventou-se ainda a hipótese de que ao escrever seu segundo romance, Bel-Ami, em

1885, Maupassant, que já havia se consagrado no campo literário como escritor de narrativas

curtas com a publicação de sua novela Boule de Suif, em 1880, lançaria mão de sua posição

no campo para, na verdade, reconstituir literariamente a relação dos campos literário e

jornalístico na França do final do século XIX. A escolha deste romance para um estudo mais

amplo na perspectiva escolhida se impôs, já que foi possível perceber que toda sua ação se

desenvolve na sociedade que se agita em torno dos jornais, das salas de redação, dos gabinetes

(16)

principais espaços percorridos pelo protagonista Georges Duroy nos remetem, de imediato,

aos espaços percorridos pelo próprio escritor. Outra observação importante é a de que o

protagonista, ao debater a questão colonial francesa na África, estaria reproduzindo o próprio

conhecimento que Maupassant adquirira em suas viagens, como cronista de jornal.

Através de uma leitura atenta da correspondência de Maupassant com amigos e

familiares, foi possível notar que, embora muitas vezes o escritor tenha se recusado a discutir

questões referentes à arte e à literatura – discussões comuns tanto nos salões literários mais concorridos quanto nos jornais –, Maupassant deixava entrever em sua correspondência uma concepção bem definida da arte, sobretudo, da literatura. Assim, ao lançar mão da

correspondência com editores e críticos como meio de refletir sobre a literatura, Maupassant

estaria discutindo acerca de sua prática literária e buscando uma consolidação da sua função

social. Sua correspondência surgiria, então, como um espaço de reflexão sobre o próprio fazer

literário.

Como se poderá observar ao longo da tese, a delimitação do corpus de análise se

encontra vinculada ao recorte metodológico pretendido. Optamos por pesquisar a trajetória

do escritor francês Guy de Maupassant pela problematização do lugar do escritor no campo

literário francês em processo de autonomia. Pretendemos investigar o funcionamento do

campo jornalístico e propor seu cruzamento com o campo literário, a fim de compreender as

condições sociais particulares de produção e circulação da obra do escritor, selecionando de

sua obra as principais produções capazes de fomentar tal discussão.

No que diz respeito à estruturação do quadro teórico e tendo em vista que o principal

objetivo deste trabalho consiste em estabelecer relações entre a posição de Maupassant no

campo literário e no campo jornalístico, avaliando-se os termos de inserção do escritor no

contexto social de produção, o aparato teórico para a presente tese consiste em uma

abordagem sociodiscursiva, fundamentada na teoria sociológica desenvolvida por Pierre

Bourdieu e na Análise de Discurso de linha francesa de Dominique Maingueneau. Importante

ressaltar que priorizamos, sobretudo, a realização de uma análise capaz de considerar uma

obra em seu contexto histórico, neutralizando a existência de uma divisão entre o texto e o

contexto e seus produtores, evitando assim a concepção de que o texto é um produto de

determinado meio social.

Assim, no capítulo 2, Guy de Maupassant no campo literário francês do final do

século XIX ,visando um conhecimento mais amplo da trajetória de Maupassant nos campos

literário e jornalístico da França sob a Terceira República, e também de seus posicionamentos

(17)

Maingueneau propostos em Discurso Literário (2006), apropriamo-nos, sobretudo, dos

conceitos de campo, capital, habitus e trajetória de Bourdieu, presentes, por exemplo, nas

obras As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário (1996b), Razões práticas:

Sobre a teoria da ação (1996a) e Questões de sociologia (1983).

Visando a uma compreensão mais ampla das posições ocupadas por Maupassant em

diferentes espaços e ainda das suas relações com seus editores, importantes agentes do campo

literário, optamos por dividir o capítulo em quatro seções: na primeira, intitulada Infância e

juventude: primeiros escritos literá rios, trataremos da infância e da juventude de Maupassant,

a partir de algumas informações importantes de sua biografia, como sua formação educacional

e sua rede de relações nesse período de sua trajetória, que contribuíram, como veremos, para o

início de sua atividade literária. Já na segunda seção, A prática jornalística na produçã o

literária de Guy de Maupassant, trataremos do conceito de campo jornalístico segundo os

próprios estudos do sociólogo e também o artigo de Gilles Bastin, “Un objet qui résiste: le journalisme dans la sociologie bourdieusienne. Quelques remarques sur le ‘champ du journalisme’” (2003). Trata-se de dois conceitos importantes necessários à análise das relações entre Maupassant e as condições sociais particulares de suas produções. Serão

apresentadas reflexões acerca da prática jornalística de Maupassant em sua carreira literária,

destacando-se, sobretudo, sua fecunda produção de crônicas para os periódicos Le Gaulois e

Gil Blas, dois importantes veículos de informação com os quais Maupassant mais contribuiu

no período compreendido entre 1880 e 1885, recorte temporal acima justificado para a

pesquisa. Destacamos ainda que, neste trabalho, será realizado um recorte sincrônico da noção

de crônica, a fim de se tentar estudar o gênero de acordo com suas manifestações mais

relevantes e frequentes na França, no final do século XIX. No que concerne à história da

imprensa, recorreremos aos estudos de Marie-Ève Thérenty, Dominique Kalifa e Allain

Vaillant apresentados, sobretudo, nas obras La littérature au quotidien; poétiques

journalistiques au XIXe siècle e La Civilisation du journal. Histoire culturelle et littéraire de

la presse française au XIXe siècle. Na terceira seção, Maupassant, romancista: um escritor em

formação, evidenciaremos que mesmo que o conto tenha se revelado, quantitativamente, o

gênero mais praticado pelo escritor, chegando a consagrá-lo no campo literário, ele

representava para Maupassant um gênero menor. Conforme será visto adiante, já cansado das

narrativas curtas, Maupassant demonstrou certa preferência pela produção de romances.

Finalmente, na quarta seção, intitulada Um escritor, seus editores e sua s relações no campo

sob a Terceira República francesa, abordaremos, através das trocas epistolares de

(18)

Lançaremos mão da biografia Guy de Maupa ssant (2012), contendo algumas cartas e

documentos inéditos, escrita pela especialista Marlo Johnston, e também do site Maupassant

par les textes Site de l’Association des amis de Guy de Maupassant

(http://maupassant.free.fr) que nos possibilitou o acesso a uma grande parte da

correspondência do autor.

Quanto ao capítulo 3, Bel-Ami, um romance de costumes e de aprendizagem, optamos

por dividi-lo em 2 seções: Georges Duroy e as personagens femininas: posições e

deslocamentos e Os adjuvantes masculinos no processo de ascensão de Duroy. Após um

rápido panorama dos principais acontecimentos que marcam a trama do segundo romance de

Maupassant, de 1885, trataremos respectivamente, do papel fundamental das personagens

femininas durante todo o processo de ascensão do protagonista Georges Duroy e também da

sua formação mental e intelectual, e, em seguida, dos principais adjuvantes masculinos nesse

processo de formação de Duroy, evidenciando a relevância das relações interpessoais no jogo

de interesses dos agentes do campo. Destacamos ainda que a edição do romance consultada é

a da Pléiade, de 1987, na qual Louis Forestier, além de reunir todos os romances do autor,

apresenta prefácio e notas enriquecedores para a análise do romance.

Já no quarto capítulo, intitulado Recepções sociais, poder e política no campo

jornalístico francês da Terceira República: por uma análise sociológica de Bel-Ami,

procuramos analisar como Maupassant recria a sociedade e a imprensa parisienses da Terceira

República e desvela o jogo de interesses sociais presente nos salões e aqueles entre política e

imprensa, naquele final de século. Orientados pelos pressupostos teóricos de Pierre Bourdieu,

realizaremos uma abordagem sociológica do romance baseada na análise de L’Éducation

Sentimentale (1869), de Gustave Flaubert, feita pelo sociólogo e apresentada no livro As

Regras da Arte, segundo quatro conceitos-chave: campo, capital, habitus e illusio. Apenas a

título explicativo, gostaríamos de ressaltar que, no que concerne à reconstituição do campo

jornalístico na França do final do século XIX, pareceu-nos imprescindível a escolha de

Bel-Ami, através do qual acreditamos que Maupassant deixa entrever suas considerações e

posições acerca do jornalismo, nos espaços sociais percorridos pelo protagonista Georges

Duroy ao longo de todo romance. Optamos por dividir o capítulo, igualmente, em duas

seções: na primeira, « À M.B hommage de Bel-Ami lui-même Guy de Maupassant»: Georges

Duroy e Guy de Maupassant, trajetórias em homologia, partindo de uma constatação feita

pelo próprio Maupassant de que ele seria o Bel-Ami, trataremos das trajetórias de Maupassant

e do protagonista Georges Duroy evidenciando a relação de homologia existente entre elas.

(19)

salões tanto na trajetória de Maupassant, quanto na de Duroy e a consequente mudança de

comportamento social experimentada po este, no romance, ao percorrer os espaços sociais

analisados. Por fim, na última seção, Nas linhas de Bel-Ami, a representação do campo

jornalístico francês do fim do século XIX, realizaremos uma análise conclusiva evidenciando

que as questões de dinheiro, arrivismo, poder e corrupção trazidas à tona por Maupassant, em

seu romance, inscrevem-se na própria situação da França que, enriquecida pelo

desenvolvimento industrial e pelas conquistas das colônias, vivenciava o surgimento de novas

fortunas, rapidamente construídas.

Para a realização das análises propostas, revelaram-se essenciais a biografia Guy de

Maupassant (2012) escrita pela especialista inglesa Marlo Johnston, com cartas e documentos

inéditos, o “Quid de Guy de Maupassant” dirigido por Dominique Frémy, com a colaboração de Brigitte Monglond e Bernard Benech, na edição de Contes et Nouvelles (1988), contendo

uma rica pesquisa bibliográfica sobre o escritor normando, além de um vasto dicionário de

relações, de estudos críticos sobre Maupassant e diversos depoimentos de contemporâneos do

escritor.

Nesta tese, foram traduzidos para o português os textos teóricos e críticos, fontes a

partir das quais trabalhamos, mantendo os originais em notas de rodapé. As passagens dos

textos de Maupassant mantiveram-se em francês. No que diz respeito à sua correspondência,

apenas as cartas escritas pelos destinatários de Maupassant foram traduzidas.

Quanto às edições dos contos e novelas escolhidas para citação nesta tese, optamos

pelas publicadas pela editora Robert Laffont S. A. Já no que concerne às crônicas, escolhemos

a antologia proposta por Henri Mitterand, de 2008, publicada pela Librairie générale

française. Optamos por essas edições por serem de referência e por nos possibilitarem

encontrar todos os textos necessários para compreendermos as sucessivas tomadas de posição

de Maupassant em diferentes momentos de sua trajetória no campo literário.

No final deste trabalho, encontra-se um anexo constituído por um quadro referente às

crônicas escritas por Maupassant entre 1876 e 1891, importante para a quantificação do

número de textos desse gênero e, portanto, na elaboração do gráfico contendo a cronologia

das produções de Maupassant, acima apresentado.

Conhecendo-se boa parte dos estudos já desenvolvidos acerca da biografia de Guy de

Maupassant e de sua obra, é possível notar uma determinada recorrência temática no que diz

respeito às abordagens estabelecidas. Isto é, não raro os temas desses trabalhos constituem

(20)

fantástico, entre outros – em um gênero bem definido ao qual o escritor tenha se dedicado, seja ele o romance, o conto ou a novela.

Assim sendo, a proposta do presente trabalho em desenvolver uma pesquisa em torno

das posições de Maupassant nos campos jornalístico e literário da França no século XIX, a

partir de uma abordagem sociodiscursiva, constituiria um novo olhar no atual panorama de

(21)

2. GUY DE MAUPASSANT NO CAMPO LITERÁRIO FRANCÊS DO FINAL DO SÉCULO XIX

Visando a uma compreensão mais ampla da trajetória de Maupassant no campo

literário francês do final do século XIX e a uma neutralização de uma ruptura entre texto e

contexto durante o processo de análise da obra ficcional e jornalística de Maupassant,

propomos, no presente capítulo, uma relação complementar entre os estudos sociológicos

desenvolvidos por Pierre Bourdieu e os trabalhos da Análise de Discurso de linha francesa, de

Dominique Maingueneau.

Inicialmente, trataremos do início da prática literária de Maupassant, ainda jovem, na

região da Normandia, onde nascera, e em seguida das suas contribuições com os periódicos da

época, evidenciando a importância do jornalismo na sua carreira literária. Na sequência,

elucidaremos a importância do investimento genérico de Maupassant nos contos e nas

crônicas para a formação do romancista. E, finalmente, abordaremos, a partir de sua

correspondência, a sua relação com seus editores, no campo.

Por volta de 1960, o sociólogo Pierre Bourdieu desenvolveu a teoria dos campos e

anos mais tarde, em 1983, os definiu como:

[...] espaços estruturados de posições (ou de postos) cujas propriedades dependem das posições nestes espaços, podendo ser analisadas independentemente das características de seus ocupantes [...]. Há leis gerais dos campos: campos tão diferentes como o campo da política, o campo da filosofia, o campo da religião possuem leis de funcionamento invariantes. 3

Em 1992, em seu livro As regras da arte, Bourdieu consolidou os princípios teóricos

relativos à sociologia do campo literário, distanciando-se da análise estrutural das obras

literárias. Segundo o sociólogo, todo campo possui certa autonomia, e se organiza e se

hierarquiza socialmente, de acordo com suas próprias regras. Trata-se de um espaço social de

forças capaz de determinar as ações e decisões dos agentes que nele se inserem e que dele

participam. Esses agentes agiriam, portanto, conforme a sua posição social nesse espaço.

Entretanto, ainda que sujeito às leis do campo, o indivíduo pode criar novos valores,

possibilitando, assim, que o campo seja constantemente redimensionado. 4

No que diz respeito ao campo literário francês, espaço em questão no presente estudo,

Bourdieu esclarece que o seu grau de autonomia se intensificou de maneira progressiva,

atingindo seu auge na segunda metade do século XIX:

3

BOURDIEU, Pierre. Questões de Sociologia. Trad. Jeni Vaitsman. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983, p. 89. 4

(22)

Na segunda metade do século XIX, momento em que o campo literário chega a um grau de autonomia que jamais ultrapassou depois, tem-se, assim, uma primeira hierarquia segundo o grau de dependência real ou suposta com relação ao público, ao sucesso, à economia. 5

Como veremos adiante, Maupassant se consagrou no campo literário em 1880, com a

publicação de sua novela Boule de Suif, no volume Les Soirées de Médan, portanto, em um

espaço social significativamente autônomo, informação relevante para compreendermos suas

sucessivas tomadas de posição e estratégias para se manter no campo. Antes de sua

consagração, porém, Maupassant se dedicou à escrita poética, não assinando seus textos com

seu verdadeiro nome, mas com pseudônimos, como veremos a seguir, o que revela certa

insegurança por parte do jovem escritor que iniciava sua produção literária.

2.1 Infância e juventude: primeiros escritos literários

Henri-René-Albert-Guy de Maupassant nasceu no castelo de Miromesnil, na região da

Alta-Normandia, em 5 de agosto de 1850, onde passou boa parte de sua infância e juventude

sob os cuidados e orientações de sua mãe, Laure de Maupassant, sobretudo, a partir de 1858,

após o fim do casamento de Laure com Gustave de Maupassant. Assim sendo, não raro a

Normandia constitui o espaço enunciativo de muitos de seus textos, bem como as pessoas

locais e seus costumes, como nos romances Une Vie (1883) e Pierre et Jean (1888) e nos

volumes de contos La Maison Tellier (1881), Mademoiselle Fifi (1882), Les Contes de la

Bécasse (1883), Clair de lune (1883) e Les Sœurs Rondoli (1884), por exemplo, o que revela

um importante aspecto do seu realismo.

Tendo escrito oito romances – dentre os quais dois inacabados –, mais de cento e cinquenta crônicas,6 três narrativas de viagens, cerca de trezentos contos e um volume de

versos, todos publicados, inicialmente, em colunas de jornais ou revistas e em seguida, em

livro, Maupassant não passou despercebido no campo literário francês do final do século XIX,

sobretudo, entre 1880, com a publicação de Boule de Suif e 1890, quando a sífilis se agravou,

levando-o a uma diminuição de sua produção e à morte, três anos depois. Apesar de ter se

consagrado no campo literário como escritor de contos e novelas, Maupassant se dedicou,

inicialmente, ainda jovem, à escrita de poesias, como veremos a seguir.

5Ibidem

, p. 247. 6

(23)

Em outubro de 1863, aos treze anos, Maupassant começou seus estudos na Instituição

eclesiástica de Yvetot, reconhecida pelos estudos clássicos, por um regimento quase militar e

onde seu primo Germer, três anos mais jovem, já estudava havia um ano.7 De acordo com

informações apresentadas pela biógrafa inglesa Marlo Johnston, naquele ano, a escola

apresentava duzentos e cinquenta e sete alunos e um corpo docente contendo dezoito padres,

dois diáconos e um clérigo tonsurado.8 Segundo a pesquisadora, em 1845, um visitante teria

anotado os horários – que pouco se modificaram em 1863 – das atividades no seminário, evidenciando a intensa carga horária diária dos internos: 9

5h Levantar-se. Meia hora para se preparar.

5h30 - 6h15 Capela, a missa e orações.

6h15- 8h Estudo em silêncio, na sala de estudo.

8h – 8h15 Café da manhã, leitura da Vida dos Santos

8h15- 8h30 Recreio

8h30 – 10h30 Aula. Leitura viva voce.

10h30 – 12h Estudo.

12h – 12h30 Almoço com leitura.

12h30 – 13h30 Recreio

13h30 – 15h Estudo.

15h – 16h30 Aula.

16h30 – 17h Recreio

17h – 19h15 Estudo.

19h15 – 19h45 Leitura espiritual e preces. Momento em que

o Superior fala, dá conselhos, etc.

19h45 – 20h15 Jantar.

20h15 – 20h45 Recreio seguido de alguns minutos de

orações na Capela, em seguida, deita-se.

Acostumado com a liberdade e os exercícios ao ar livre, o cronograma das atividades

dentro do seminário parecia um tanto quanto rígido para uma criança, como revela o próprio

Maupassant em sua crônica Les enfants, publicada em 23 de junho de 1885 no Gil Blas, ao se

referir à criança, em geral:

7

Cf.JOHNSTON, Marlo. Guy de Maupassant. Paris : Fayard, 2012, p. 58. 8Idem.

9

(24)

J'ai signalé dans une récente chronique les dangers de l'odieux système d'éducation suivi en France dans tous les établissements où l'on enferme la jeunesse. […]

Cet enfant a deux heures de liberté par jour, de liberté captive dans une cour entourée de murs, au milieu d'une ville, alors qu'il devrait jouer à son gré, à son aise, suivant le désir de la nature qui a mis en lui le besoin impérieux du jeu. Il devrait courir dans les bois, nager dans les fleuves, grimper des côtes, faire des armes, monter à cheval. Car tous les mouvements, tous les exercices sont nécessaires pour la formation complète de tous les membres, pour la solidification de tous les os, et aussi pour la fortification du courage viril. 10

Fato é que em Yvetot, enquanto se sentia preso, Maupassant começou a compor seus

versos, dos treze aos dezessete anos. Assim, em 1863, escreveu os poemas “Au momento où Phébus...” e “ La Vie”, que parecem não despertar tanto interesse da crítica, mas que revelam o início de sua prática literária. Em 1868, cinco anos mais tarde, foi expulso do seminário por

mau comportamento, já que ridicularizou a religião diante de alguns colegas, afirmando que

não acreditava na presença real da eucaristia, como consta na notificação a seguir feita pelo secretário da Instituição: “Nos últimos dias do mês [de maio] soube-se que um aluno de Retórica [Maupassant] emitira palavras não religiosas e que ele ousara mesmo dizer diante de

vários de seus colegas que não acreditava na presença real”.11 Mais tarde, Maupassant contaria para Flaubert, seu padrinho literário, o ocorrido:

Un certain M. Champsaur, rédacteur au Figaro m'a demandé des détails biographiques sur moi - Il veut faire l'entourage de Zola. Je lui ai écrit qu'à six ans je faisais le désespoir de ma bonne par mon obscénité, qu'à 17 j'étais renvoyé d'une maison ecclésiastique pour irréligion et scandales divers ; et qu'aujourd'hui mon amie Suzanne Lagier, dont l'opinion fait loi en matière de mœurs, trouve que j'en manque absolument. 12

Expulso do seminário, portanto, Maupassant foi admitido no Colégio Imperial de

Rouen, tradicional na família Le Poittevin (por parte de Laure): seu tio e amigo de Flaubert,

Alfred, estudara lá e o primo Louis Le Poittevin, três anos mais velho, já se encontrava no

colégio quando Maupassant nele ingressou.13 A partir de então, o adolescente de quinze anos

teve a oportunidade de encontrar com mais frequência mestres e amigos como Gustave

Flaubert e Louis Bouilhet, que representaram para ele a presença masculina que lhe faltava

10

MAUPASSANT, Guy de. Chroniques. Anthologie éd. par Henri Mitterand. Paris : L.G.F., 2008, p. 125. 11

« Dans les derniers jours du mois [de mai] on sut qu’un élève de Rhétorique [Maupassant] avait tenu des

propos très irréligieux, et qu’il avait même osé dire devant plusieurs de ses camarades qu’il ne croyait pas à la

présence réelle ». Citado por JOHNSTON, op.cit, p. 69. 12

MAUPASSANT, Guy de. Disponível em [http://maupassant.free.fr/corresp/150.html] Acesso em 16 de setembro de 2015

13

Cf. MONGLOND, Brigitte. Notices et notes. In: MAUPASSANT, Guy de. Contes et nouvelles, 1875-1884, et

(25)

desde a separação de seus pais. Em sua crônica Louis Bouilhet, publicada no Gaulois, em 21

de agosto de 1882, Maupassant prestaria uma homenagem ao amigo, lembrando-se da

primeira vez em que viu o poeta e autor dramático:

Un jour, comme nous nous dirigions vers le collège, après une promenade, le pion, un piocheur qu'on estimait, chose rare, eut un geste brusque comme pour nous arrêter ; puis il salua, d'une façon respectueuse et humble, ainsi qu'on devait jadis saluer les princes, un gros monsieur décoré a longues moustaches tombantes qui marchait, le ventre en avant, la tête en arrière, l'œil voilé d'un pince-nez.

Puis quand le promeneur fut loin, notre maitre d'études qui l'avait longtemps suivi du regard nous dit : " C'est Louis Bouilhet. " Et immédiatement il se mit à déclamer les vers de Melænis, des vers charmants, sonores, amoureux, caressant l'oreille et la pensée comme font tous les beaux vers.

Le soir même j'achetais Festons et Astragales. Et pendant un mois je restai grisé de cette vibrante et fine poésie. 14

Em outubro de 1868, Maupassant terminou o poema “Premier éclair”, que trata de sua separação com uma menina de quinze anos e, por volta da mesma época, o longo poema “Dernière soirée passée avec ma maîtresse”, que também trata de uma separação, ambos submetidos à apreciação de Bouilhet, que Maupassant visitou toda semana, durante seis

meses:

Pendant six mois, je le vis chaque semaine, tantôt chez lui, tantôt chez Flaubert. Timide en public, il était, dans l'intimité, débordant d'une verve incomparable, d'une verve nourrie, de grande allure classique, pleine de souffle épique et de finesse en même temps. 15

Bouilhet, assim como Flaubert, lia os textos de Maupassant, dava conselhos e não

hesitava em fazer críticas, quando necessário: “Teus alexandrinos são confusos, mas já li piores”.16 A escrita de poesias por parte de Maupassant recebeu incentivos de Bouilhet até meados de 1869, quando o poeta faleceu. No mesmo ano, em outubro, Maupassant iniciou

seus estudos de Direito, em Paris, e se instalou na casa do seu pai, na rua Moncey, número

2.17 No entanto, como veremos a seguir, a guerra franco-prussiana interromperia seus estudos.

No mesmo ano, em meio às poesias, Maupassant escreveu três páginas em prosa, com

negligência de pontuação, como se seguisse um fluxo de consciência. Neste texto,

Maupassant já revelava indícios de sua personalidade independente e da sua maneira singular

de escrever, não desejando agradar a uma ou outra pessoa ou escola:

Je plains du fond du cœur le malheureux qui parle ainsi – Pourquoi ne pas rester tranquille – vraiment. Mais dites-moi, quand vous avez une bouteille

14

MAUPASSANT, Chroniques, 2008, p. 1135. 15

Citado por JOHNSTON, op.cit, p. 82. 16

« Tes alexandrins sont filandreux mais j’en ai lu de plus mauvais » in : KELLNER, Sven. Maupassant, un météore dans le ciel littéraire de l'époque. Paris : Éditions Publibook, 2012, p. 30.

17

(26)

de gros cidre que faites vous D’abord, si votre bouteille est de verre vous en prenez une en grès puis vous le bouchez avec le plus grand soin et vous attachez solidement le bouchon avec des cordes du fil de fer etc. Mais si le cidre est bon, quand il se met à fermenter, Crac ! la bouteille éclate, et il jaillit de tous côtés. Or le cidre c’est l’imagination la bouteille c’est ma tête, pauvre bouteille, elle est de verre et bien fragile encore : Quand l’imagination fermente et c’est environ de 16 à 20 ans il y a de grandes chances pour qu’elle fasse sauter la bouteille. […] Voila pourquoi j’écris et j’ajoute qu’il y a de grands avantages à n’écrire que pour soi d’abord, on craint peu la censure, quand un condamné est seul à plaider sa cause et à la juger tout est à parier que vu les circonstances atténuantes il sera acquitté…à l’unanimité. C’est ce qui arrive à l’écrivain qui est en même temps auteur imprimeur libraire public et critique. Et puis on dit ce que l’on veut, tout ce qui passe par la tête, science, fantaisies, caprices, folies et choses sérieuses, sans plan, sans phrases, sans craindre de blesser personne. 18

A imagem da garrafa que estoura apareceria, novamente, no poema “Poète la pensée est une fièvre ardente”, do mesmo ano:

Le doute pour Byron et l’enfer pour le Dante, Elle commande et dit : « Travaille, je le veux. » C’est cette fièvre-là qui vous prend aux cheveux Quand vous rêvez, le soir, au souffle de la brise. Il faut se décharger de ce pesant fardeau Car elle jaillirait malgré vous, comme l’eau S’échappe en bouillonnant du vase qu’elle brise.19

E a metáfora do transbordamento – de emoção, desta vez –, apareceria no “Premier éclair”:

La mer en mugissant bondissait sur la plage, Mais ses lourds grondements et les bruits de l’orage Retentissaient moins haut que les voix de mon cœur Rien ne peut contenir cet immense bonheur, Car le ciel est trop bas, l’horizon trop étroit Et l’univers entier est trop petit pour moi !!! 20

Em 15 de agosto de 1870, ano da guerra franco-prussiana, Maupassant, então com

vinte anos, foi incorporado ao exército como voluntário por sete anos, como soldado de

segunda classe, sem participar diretamente dos combates:21

Je me suis sauvé avec notre armée en déroute ; j'ai failli être pris. J'ai passé de l'avant-garde à l'arrière-garde pour porter un ordre de l'intendant au

18

Citado por JOHNSTON, op.cit, p. 83-84. Trata-se de um manuscrito da coleção Artininan publicado por Marlo Johnston, « Un écrit de jeunesse inédit » na revista Histoires Littéraires, no 16, 2003, p. 53-57. A pontuação do fragmento é a que o próprio Maupassant utilizou.

19

MAUPASSANT, Guy de. « Des vers » et autres poèmes : œuvres poétiques complètes de Guy de Maupassant, textes établis, présentés et annotés par Emmanuel Vincent. Rouen : Publications de l'Université de Rouen, 2001, p. 190.

20 Ibidem,

p. 173-174. 21

(27)

général. J'ai fait quinze lieues à pied. Après avoir marché et couru toute la nuit précédente pour des 2 j'étais pris. Je vais très bien. 22

Em 2 de setembro do mesmo ano, Napoleão III se rendeu, em Sedan, e dois dias mais

tarde, foi proclamada a terceira República, em Paris. No fim do ano, de volta à Étretat, Maupassant compôs “Les Nuits de Musset”, uma imitação do poeta romântico.23 No início do ano seguinte, em 1871, de volta à Rouen, Maupassant serviu na Intendência até setembro. Nesse período, compôs “L’amour et les oiseaux”, uma primeira versão do poema “ L’oiseleur”, que apareceria no volume de estreia do autor, Des vers, em 1880, dedicado a Gustave Flaubert. Escreveu ainda “Lorsque le grand Colomb” e “Légende de la Chambre des Demoiselles à Étretat”. Em 1º de janeiro de 1872, Maupassant foi oficialmente liberado do exército, após ter pagado para um substituto ocupar o seu lugar. Durante esse ano,

Maupassant, que geralmente escrevia seus versos “fortemente inspirados por Alfred Musset”,24 começou a produzir textos mais realistas, como “Chose vue hier soir dans la rue”, “ La jeunesse n’est plus”, revelando um jovem leitor de Baudelaire, repleto de dúvidas e desilusões e “Le Soleil du mandarin”, inspirado na maneira de escrever poemas do mestre Bouilhet. As experiências vividas durante a guerra foram temas caros à Maupassant,

aparecendo em narrativas como Deux Amis (1883), em que os amigos M. Morissot e M.

Sauvage, amantes da pesca, decidem ir pescar durante a guerra e, ao serem confundidos com

espiões, são parados e fuzilados pelos prussianos; e L’Horrible (1884), em que o general G.

invoca duas experiências: a primeira trata da morte de um homem que serviu na Infantaria,

durante a guerra em 1870, e que foi considerado um espião pelos soldados, mas que era, na

verdade, uma mulher, provavelmente uma mãe em busca do seus filho; e a segunda, trata da

experiência de soldados famintos que, durante a guerra, no deserto, se devoram. A guerra

também foi tema da célebre novela Boule de Suif (1880), em que Maupassant trata do

episódio da invasão prussiana na Normandia e também de “Poésie. Pensée d’un philosophe”, na qual se revela o estado da alma do jovem homem desiludido:

[…] Mais je suis las d'aller, d'aller depuis l'aurore, Vers ce but inconnu qui fuit à l'horizon,

L'étendue est sans ombre et la soif me dévore, L'espoir comme un mirage a trompé ma raison. Voilà que dans mon cœur j'ai vu grandir le doute, Crouler ma confiance et mes illusions

22

Idem. 23

Cf. EMMANUEL, Vincent. In : MAUPASSANT, « Des vers » et autres poèmes œuvres poétiques complètes de Guy de Maupassant ; textes établis, présentés et annotés par Emmanuel Vincent. Rouen : Publications de l'Université de Rouen, 2001, p. 21.

24

(28)

Je me couche épuisé sur le bord de la route. 25

Após a guerra, de volta a Paris e sem recursos suficientes para se manter, já que seu

pai não tinha mais como sustentá-lo,26 Maupassant decidiu abandonar seus estudos de Direito

e começar a trabalhar no Ministério da Marinha e das Colônias. Assim, em 7 de janeiro de

1872, Maupassant faz um primeiro pedido ao Ministério:

Monsieur le Ministre,

J’ai l’honneur de solliciter de Votre Excellence une faveur qui serait pour moi d’un grand prix ; celle d’être rattachéeau ministère de la Marine. […] La grâce que je viens demander à Votre Excellence me serait d’autant plus précieuse qu’elle me permettrait de continuer à Paris mes études de droit, brusquement interrompues par la guerre, ce qui ne saurait m’empêcher de remplir avec zèle et exactitude la tâche qui me serait confiée. J’ai l’honneur d’être, avec un profond respect, Monsieur le Ministre, de Votre Excellence, le très humble et obéissant serviteur, GUY DE MAUPASSANT. 27

Contudo, alguns dias depois, o ministério respondeu afirmando que não havia vaga

para contratações.28 Em 20 de fevereiro, Maupassant escreveu outra carta, maior e mais

obsequiosa e decidiu entregá-la a seu pai que tinha conhecidos na Marinha; um mês depois

chegou a resposta afirmativa para a solicitação feita.29 Contudo, como havia um excedente de

pessoal, Maupassant deveria esperar para ser nomeado definitivamente como supranumerário,

o que ocorreu em 17 de outubro de 1872.30 De abril a outubro, enquanto esperava a vaga,

Maupassant trabalhou como adido na biblioteca.

Quanto à questão literária, pode-se dizer que, a partir de 1872, Flaubert passou a ser o “maître” do jovem Maupassant:

Pendant sept ans je fis des vers, je fis des contes, je fis des nouvelles, je fis même un drame détestable. Il n'en est rien resté. Le maître lisait tout, puis le dimanche suivant, en déjeunant, développait ses critiques et enfonçait en moi, peu à peu, deux ou trois principes qui sont le résumé de ses longs et patients enseignements. 31

Flaubert não apenas lia seus versos, como lhe sugeria leituras e o incentivava a

dedicar-se à prosa, como evidenciam algumas trocas epistolares entre eles e também entre

25

MAUPASSANT, Guy de. Poésie. Pensée d’un philosophe. Disponível em [gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k295997g/texteBrut] Acesso em 10 de outubro de 2015.

26

Cf. KELLNER, op.cit., 2012, p. 37. 27

MAUPASSANT, Guy de apud THUILLIER, Guy. « Maupassant, commis au Ministère de la Marine ». In. : Bureaucratie et Bureaucrates en France au XIXe siècle. Genève : Droz, 1980, p. 6.

28

Cf. JOHNSTON, op.cit, p. 109. 29

Cf. Ibidem, p. 113. 30

Cf. MONGLOND, op. cit., p. 24. 31

(29)

Flaubert e a amiga Laure, mãe de Maupassant, como na carta abaixo escrita por Flaubert, em

23 de fevereiro de 1873:

[...] faz um mês que eu queria te escrever para fazer uma declaração de carinho para o teu filho. Você não acreditaria em como eu o acho encantador, inteligente, boa criança, sensato e espirituoso, enfim (para usar uma palavra da moda) simpático! Apesar da diferença de nossas idades, eu o olho como “um amigo” [...] é preciso encorajar teu filho no gosto que ele tem pelos versos porque é uma paixão nobre, porque as letras consolam de muitos infortúnios e porque pode ser que ele tenha talento: quem sabe? Até agora ele não produziu bastante para que eu me permita fazer seu horóscopo poético [...] Eu gostaria de vê-lo começar uma obra maior…32

Ainda na mesma carta, Flaubert sugeriu à Laure que, com o passar do tempo, ele ganharia “originalidade, uma maneira individual de ver e de sentir”33, sugestão aceita por Maupassant que, em 1877, já tinha alguns textos escritos, mas sem publicações, como os

poemas acima mencionados, geralmente assinados com os pseudônimos Guy de Valmont,

Maufrigneuse ou Joseph Prunier. De todos, Guy de Valmont foi o mais usado pelo escritor.

Mais tarde, em junho de 1873, Flaubert sugeriu a seu discípulo a leitura de um texto de Tourgueneff: “Leia, no último volume de Tourgueneff, Histoires étranges, a que tem o título: L’Abandonnée. É uma rara obra-prima”.34

Até por volta de vinte e quatro anos, Maupassant dedicou-se à poesia, gênero que seria

abandonado, sobretudo a partir de 1880, quando começou a publicar seus contos com maior

frequência.

Sem ter a pretensão de analisar a produção poética de Maupassant, procuramos

evidenciar que ainda que ele não tenha sido reconhecido pelas suas poesias, trata-se de uma

parte importante de sua obra, já que alguns temas, como os mencionados acima, seriam

retrabalhados por ele em seus textos narrativos, e também porque foi a partir das suas

reflexões sobre a poesia que provieram alguns dos seus princípios estéticos, como a defesa

dos princípios poéticos simbolistas e a presença de uma situação de reviravolta, comuns nos

32

« […] depuis un mois je voulais t'écrire pour te faire une déclaration de tendresse à l'endroit de ton fils. Tu ne saurais croire comme je le trouve charmant, intelligent, bon enfant, sensé et spirituel, bref (pour employer un mot à la mode) sympathique ! Malgré la différence de nos âges, je le regarde comme "un ami" […] il faut encourager ton fils dans le goût qu'il a pour les vers, parce que c'est une noble passion, parce que les lettres consolent de bien des infortunes et parce qu'il aura peut-être du talent : qui sait ? Il n'a pas jusqu'à présent assez produit pour que je me permette de tirer son horoscope poétique […]. Je voudrais lui voir entreprendre une oeuvre de longue haleine, fût-elle détestable. » FLAUBERT, Gustave. Carta à Mme Gustave de Maupassant. 23 fev. 1873, carta 1363. Disponível em [http://flaubert.univ-rouen.fr/correspondance/conard/lettres/73a.html] Acesso em 10 de outubro de 2015.

33

« Avec le temps, il gagnera de l'originalité, une manière individuelle de voir et de sentir (car tout est là). »

Idem. 34

(30)

seus contos. No que se refere à temática destas poesias, nota-se, sobretudo, o interesse do

jovem pelo fantástico, pela natureza, sempre presente, e pela sedução.

Ao levarmos em consideração os estudos de Pierre Bourdieu que nos convidam a

tratar da trajetória de um escritor situando-a dentro do espaço em que se encontra em sua

relação com outros agentes constituintes do campo, constatamos que Maupassant, ainda

jovem, mesmo sem participar ativamente do campo literário, procurou se relacionar com

escritores já consagrados como Flaubert e Bouilhet, detentores do que Bourdieu denomina

capital simbólico, ou seja, reconhecimento artístico frente aos outros escritores e à sociedade.

Ao submeter seus textos aos cuidados dos dois escritores, Maupassant tentava

adquirir, aos poucos, a legitimação necessária para se lançar no campo literário. Enquanto

ainda não tinha uma posição definida, o jovem escritor optou por assinar seus textos com

pseudônimos, revelando certa insegurança. Fato é que, orientado por Flaubert e Bouilhet,

Maupassant teve a oportunidade de reunir ensinamentos literários que contribuíram para a sua

formação enquanto escritor e também na construção de seus princípios estéticos, que

apareceriam, mais tarde, tanto nas suas crônicas como nos contos, novelas e romances, como

veremos adiante. Segundo sua mãe, em entrevista dada ao Journal des débats, em 10 de

dezembro de 1903: “Se Bouilhet estivesse vivo, ele teria feito de Maupassant um poeta. Foi Flaubert que quis fazer dele um romancista”.

Ilustração 1

Fragmento do artigo Mme Maupassant retirado da seção Au jour le jour, da primeira página do Journal des débats, de 10 de dezembro de 1903. 35

35

(31)

2.2A prática jornalística na produção literária de Guy de Maupassant

Através de consultas ao site da Biblioteca Nacional da França, foi possível realizar

uma pesquisa das publicações de Maupassant no período entre 1876, ano de sua primeira

crônica, até 1891, ano da última crônica publicada, como registrado na seção Anexos desta

tese. Através dessa pesquisa, constatamos que até 1880 Maupassant havia publicado apenas

três crônicas, todas no periódico La Nation. A partir de 1880, com o sucesso de Boule de Suif

no volume de contos naturalistas Les Soirées de Médan, editado por Georges Charpentier,

Maupassant iniciou uma constante contribuição com os principais periódicos da época, dentre

os quais destacamos Le Gaulois e Gil Blas, que veicularam a maioria das crônicas do escritor.

Antes, porém, de tratarmos das contribuições de Maupassant para com os dois periódicos,

gostaríamos de voltar à época em que ele ainda trabalhava como funcionário público, a fim de

compreender como e por que Maupassant começou a escrever em jornais.

Como visto anteriormente, Maupassant havia entrado para o ministério da Marinha em

março de 1872, sem remuneração, até ser definitivamente nomeado, em outubro. Na época,

por um trabalho nos escritórios do setor de Aprovisionamentos e, mais tarde, nos de

Equipamentos, Maupassant recebia um salário de 125 francos por mês, acrescido de uma

gratificação anual de 150 francos.36 A título de comparação, em 1862, quando Zola começou

a publicar na Hachette, ele recebia 100 francos por mês, quantia rapidamente dobrada.37

Nos anos em que trabalhou no ministério, a situação financeira de Maupassant não

apresentou melhoras significativas. No fim de 1878, ele ganhava 2000 francos por ano – menos de 170 francos mensais.38 Lendo sua crônica Les employés, que seria publicada em 4

de janeiro de 1882, é possível notar o quanto a rotina do trabalho administrativo o entediou:

Sur la porte des Ministères, on devrait écrire en lettres noires la célèbre phrase de Dante : « Laissez toute espérance, vous qui entrez ».

On pénètre là vers vingt-deux ans.39 On y reste jusqu'à soixante. Et pendant cette longue période, rien ne se passe. L'existence tout entière s'écoule dans le petit bureau sombre, toujours le même, tapissé de cartons verts. On y entre jeune, à l'heure des espoirs vigoureux. On en sort vieux, près de mourir. Toute cette moisson de souvenirs que nous faisons dans une vie, les événements imprévus, les amours douces ou tragiques, les voyages aventureux, tous les hasards d'une existence libre, sont inconnus à ces forçats.

36

Cf. MONGLOND, op.cit., p. 24. 37

Cf. MITTERAND, Henri. In: MAUPASSANT, Guy. Chroniques. Anthologie éd. par Henri Mitterand. Paris : L.G.F., 2008, p. 7.

38

Cf. Idem. 39

(32)

Tous les jours, les semaines, les mois, les saisons, les années se ressemblent. A la même heure on arrive ; à la même heure, on déjeune ; à la même heure, on s'en va ; et cela de vingt-deux à soixante ans. 40

Em 5 de julho de 1878, Maupassant fez duras queixas a Flaubert, demonstrando

claramente sinais de descontentamento com o trabalho:

Ajoutez à cela que mon ministère m'énerve, que je ne puis travailler, que j'ai l'esprit stérile et fatigué par des additions que je fais du matin au soir, et qu'il me vient par moments des perceptions si nettes de l'inutilité de tout, de la méchanceté inconsciente de la création, du vide de l'avenir (quel qu'il soit), que je me sens venir une indifférence triste pour toutes choses et que je voudrais seulement rester tranquille, tranquille dans un coin, sans espoirs et sans embêtements.

Je vis tout à fait seul parce que les autres m'ennuient ; et je m'ennuie moi-même parce que je ne puis travailler. Je trouve mes pensées médiocres et monotones, et je suis si courbaturé d'esprit que je ne puis même les exprimer. Je fais moins d'erreurs dans mes additions, ce qui prouve que je suis bien bête.41

Em 1879, graças às insistentes recomendações de Flaubert, Maupassant começou a

trabalhar no gabinete do ministro de Instrução Pública, melhorando pouco sua situação

financeira, já que passou a receber 200 francos por mês.42 Assim sendo, pensando em um

ganho suplementar que não envolvesse o entediante trabalho administrativo, Maupassant, com

quase trinta anos, já considerava há algum tempo a possibilidade de ganhar dinheiro com a

publicação de seus textos; buscava, portanto, a acumulação do que Bourdieu denomina

capital econômico, fundamental naquele momento de sua trajetória, já que não recebia mais

ajuda financeira do pai e precisava se manter sozinho. As relações sociais e intelectuais

também eram importantes para esse fim, e sua participação no grupo de Médan será

fundamental para sua carreira de escritor.

Para melhor compreendermos o início de Maupassant no jornalismo, então, é

fundamental que voltemos alguns anos para tratar do início de sua relação com Émile Zola.

Enquanto ainda estava no ministério da Marinha, por volta de 1875,43 Flaubert havia

apresentado Maupassant a Émile Zola que, mais tarde, em 1877, comprou uma casa de campo

em Médan, na região da Île-de-France, onde passaria a receber durante algum tempo amigos e

escritores para discussões literárias e conversas triviais. Os escritores Paul Alexis, Léon

Hennique, Henry Céard, Joris-Karl Huysmans e o próprio Maupassant foram convidados a

40

MAUPASSANT,Chroniques, 2008, p. 69. 41

MAUPASSANT, Guy de. Disponível em [http://maupassant.free.fr/corresp/cadre.php?ord=c&num=96] Acesso em 9 de junho de 2014.

42

Cf. MITTERAND in MAUPASSANT, 2008, p. 8. 43

(33)

participar dessas reuniões, formando assim o que se convencionou chamar de o grupo de

Médan.

Segundo nos revela Mitterand, em 1876, Maupassant já pensava em começar a ganhar

dinheiro com seus textos, desejando colaborar com o jornal político republicano L’Opinion

nationale.44 Como explica Maupassant em uma carta de marco de 1876 a Robert Pinchon, ele

tinha escrito um conto intitulado L’aventure du petit Pierre que deveria aparecer no jornal,

mas como respondeu afirmativamente ao ser perguntado se tinha a intenção de ser

remunerado e o jornal não pensou nessa possibilidade, a publicação não aconteceu como ele

previa:

[…] L'Aventure du Petit Pierre [paraît] vraisemblablement à L'Opinion Nationale. Voici pourquoi je dis vraisemblablement. Ce journal a reçu ma nouvelle, m'a promis de la publier, puis au dernier moment, par un scrupule de conscience bien naturel, il m'a fait demander si j'avais l'intention d'être payé. J'ai répondu que je l'avais indubitablement. Alors le rédacteur m'a dit qu'ils n'avaient pas précisément celle de me payer. J'ai annoncé alors que moi j'aurais celle-là de retirer ma nouvelle pour la porter autre part. Alors il m'a prié d'attendre pour leur laisser le temps de décider quelle intention ils finiraient par avoir : de sorte qu'en ce moment L'Opinion me laisse sans elle-même [opinion]... 45

Mas, em 23 de outubro do mesmo ano, La République des lettres publicou o primeiro

artigo de Maupassant intitulado Gustave Flaubert.46 Percebendo o interesse de seu discípulo

em publicar seus textos, Flaubert, então, o recomendou ao amigo e deputado bonapartista

Raoul-Duval, diretor do La Nation. Desta vez, a contribuição de Maupassant foi aceita, ainda

que de maneira tímida, já que ele publicou apenas dois textos: Balzac d'après ses

lettres (assinado Guy de Valmont), sobre a correspondência de Balzac, em 22 de novembro de

1876, e o segundo, Les Poètes français du XVIe siècle (assinado Guy de Valmont), em 17 de

janeiro de 1877, ambos por ocasião de obras publicadas naquele momento, como revela esta

carta de Maupassant à Flaubert:

Aussitôt en possession de votre lettre, j'ai été me présenter chez M. Raoul Duval, qui m'a reçu avec une bienveillance extrême et m'a dit ceci : - « Nous n'avons point encore de chroniqueur littéraire, faites-moi tout de suite un article d'actualité sur un livre nouveau ; je le ferai passer. Vous m'en donnerez un second quinze jours après environ, je le ferai insérer également ; puis je demanderai au conseil d'administration de compléter la rédaction du journal en vous prenant comme critique littéraire. Vous pouvez être certain que je ferai pour cela tout ce que je pourrai parce que vous m'êtes

44

Cf. Ibidem, p. 9. 45

MAUPASSANT, Guy de. Disponível em [http://maupassant.free.fr/corresp/cadre.php?ord=c&num=48] Acesso em 10 de maio de 2015.

46

(34)

chaleureusement recommandé par mes meilleurs amis, G. Flaubert et les Lapierre. »

Là-dessus, je m'en vais enchanté, j'achète la correspondance de Balzac et je prépare mon article, puisqu'il ne fallait qu'une actualité. 47

Contudo, mesmo publicando esses dois textos, Maupassant não conseguiria uma vaga

de titular na redação do jornal que, segundo ele, em carta enviada à Flaubert, era “une feuille radicalement imbécile”:48

Mais j'apprends, au bout de quelques jours, que La Nation publie des feuilletons littéraires signés par M. Filon, l'ex-précepteur du Prince impérial. Et un de ses amis m'affirme qu'il doit garder la critique des livres.

Je termine néanmoins mon article et je l'ai porté hier chez M. Raoul Duval, que j'ai été voir ce matin. Il a été toujours aussi aimable, m'a fait beaucoup de compliments sur mon étude qui va passer immédiatement. Mais j'ai compris que je ne serais pas titulaire de la critique littéraire. La place a été prise probablement par M. Filon. Je crois que je vais remplacer un chroniqueur léger qu'on trouve trop bete [...] 49

Em novembro de 1877, a revista ilustrada semanal La Mosaïque, publicou o conto Le

donneur d’eau bénite, também assinado Guy de Valmont.

Nesse período de indefinição de sua trajetória no jornalismo, entre vinte e cinco e

trinta anos, Maupassant se dividiu entre dois grupos distintos: o da fantasiosa sociedade

L’Union, criado em 1874,50 cujos participantes eram os seus melhores amigos da época do liceu em Rouen – Robert Pinchon e Léon Fontaine, o ilustrador Maurice Leloir, o amigo de juventude e também funcionário público, Albert de Joinville e seu primo Louis Le Poittevin – e o grupo criado em 1877 dos jovens escritores admiradores de Flaubert e Zola, formado por

Alexis, Céard, Hennique, Huysmans e Mirbeau, dotados de certa ambição e desejosos de

ocupar um lugar no campo literário.51 Assim, desde novembro de 1876, Maupassant

frequentava as reuniões de sexta-feira, na casa de Zola. Interessante notar que no grupo mais

boêmio, o dos amantes da canoagem, Maupassant era chamado de Joseph Prunier, um dos

seus pseudônimos, e não pelo nome verdadeiro; enquanto no grupo dos escritores, de quem

47

MAUPASSANT, Guy de. Disponível em [http://maupassant.free.fr/corresp/cadre.php?ord=c&num=54] Acesso em 10 de maio de 2015.

48

Cf. MAUPASSANT, Guy de. Disponível em [http://maupassant.free.fr/corresp/cadre.php?ord=c&num=59] Acesso em 10 de maio de 2015

49

Cf. MAUPASSANT, Guy de. Disponível em [http://maupassant.free.fr/corresp/cadre.php?ord=c&num=96] Acesso em 10 de maio de 2015

50

Esta informação está disponivel no site http://www.maupassantiana.fr/Biographie/Chronologie.html. Acesso em 23 de setembro de 2015

51

Referências

Documentos relacionados

sustainable tourist experiences in rural areas and thus to consolidate the idea that sensory elements can be used as a starting point for responsibly marketing

O artigo tem como objeto a realização, em 2013, do Congresso Internacional Justiça de Transição nos 25 anos da Constituição de 1988 na Faculdade de Direito da UFMG, retratando

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

§4º Havendo parecer do(a) orientador(a) ou seu(ua) substituto(a) não recomendando a defesa do trabalho final, o(a) aluno(a) poderá requerer ao colegiado pleno o exame de

Durante 16 meses foi realizado 19 excursões para obter dados sobre padrão de atividade, uso de substratos, dieta e efeito da chuva diurna sobre a atividade noturna da aranha

Diante das potencialidades de cada sistema, foi dimensionado o sistema misto com o aproveitamento de água pluvial para suprir as demandas de descargas sanitárias e mictórios, e

das ciências e a história das ciências”.. como tal, impediu-o de articulá-los. A teoria e as práticas vigentes, classificadas por Morin como disjuntivas e redutoras, incentivaram a

Em caso de infração a Comissão Organizadora da “Taça YAMAHA YXZ 1000R” reserva-se o direito de aplicar sanções, após prévia ratificação pela FMP, que poderão ir da