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Georges Duroy e as personagens femininas: posições e deslocamentos

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 110-122)

3. BEL-AMI, UM ROMANCE DE COSTUMES E DE APRENDIZAGEM

3.1 Georges Duroy e as personagens femininas: posições e deslocamentos

Quando Georges Duroy é revelado ao leitor ainda nos primeiros parágrafos como um suboficial do exército que se encontra recentemente de volta à vida civil, ele é, sobretudo, destacado pelos seus atributos físicos:

[...] grand, bien fait, d’un blond châtain vaguement roussi, avec une

moustache retroussée, qui semblait mousser sur sa lèvre, des yeux bleus,

clairs, troués d’une pupille toute petite, des cheveux frisés naturellement,

séparés par une raie au milieu du crâne, il ressemblait bien au mauvais sujet des romans populaires.261

Empregado de uma empresa ferroviária e sem grandes recursos materiais, o único capital que possui relaciona-se com o seu potencial de beleza e de sedução, o “capital herdado”,262

nas palavras de Bourdieu. Desprovido de significativos recursos materiais, circula por bares simples e lugares pouco conhecidos de Paris, onde pouco pode gastar devido ao restrito orçamento, como nos é revelado:

On était au 28 juin, et il lui restait juste en poche trois francs quarante pour finir le mois. Cela représentait deux dîners sans déjeuners, ou deux déjeuners sans dîners, au choix. Il réfléchit que les repas du matin étant de vingt-deux sous, au lieu de trente que coûtaient ceux du soir, il lui resterait, en se contentant des déjeuners, un franc vingt centimes de boni, ce qui représentait encore deux collations au pain et au saucisson, plus deux bocks sur le boulevard. C'était là sa grande dépense et son grand plaisir des nuits ; et il se mit à descendre la rue Notre-Dame-de-Lorette. 263

Sua vida gira em torno de um trabalho pouco satisfatório, de idas a bares e bistrôs pouco prestigiados, em Paris, e da sua predileção pelas prostitutas:

Il aimait cependant les lieux où grouillent les filles publiques, leurs bals, leurs cafés, leurs rues ; il aimait les coudoyer, leur parler, les tutoyer, flairer leurs parfums violents, se sentir près d'elles. C'étaient des femmes enfin, des femmes d'amour. Il ne les méprisait point du mépris inné des hommes de famille.264 261 MAUPASSANT, 1987, p.198. 262 Cf. BOURDIEU, 1996b, p.29. 263 MAUPASSANT, 1987, p. 197. 264Ibidem, p.198-199.

Ainda no primeiro capítulo, Duroy se encontra com a prostituta Rachel, que nada tem a lhe oferecer além de prazer. Tal encontro no início do romance revela o gosto pouco apurado do jovem provincial. Acompanhando Forestier no cabaré Folies Bergères, Duroy se sente atraído pela prostituta que tem “quelque chose de bestial, d’ardent, d’outré”.265

O primeiro contato entre eles ocorre na noite em que Duroy encontra Forestier, mas apenas trocam alguns olhares e poucas palavras. Duroy é, portanto, apenas um funcionário e “[q]uoique habillé d'un complet de soixante francs, il gardait une certaine élégance tapageuse, un peu commune, réelle cependant”.266

Apenas para se ter uma ideia, de acordo com o que nos revela o crítico Forestier,

[...] a confecção se propaga no século XIX, nas classes médias de condição modesta. Por 49 francos, a célebre loja La Redingote grise oferecia um traje completo de cerimônia [...] Em 1885, nesta mesma loja e na sua concorrente

(«Au Pont Neuf») o preço inicial de uma ‘roupa completa’ comum é de 35

francos.267

Maupassant, ao nos revelar o preço da roupa de Duroy nos indica sua condição material, apresentando ao leitor, a partir de uma concessiva, que seu protagonista deseja, na verdade, esconder sua falta de recursos financeiros, de capital econômico, na abordagem de Bourdieu. Outro indício do desejo de Duroy em esconder sua real condição é o fato, por exemplo, de ele estar em um bulevar quando encontra Forestier, já que, como afirma o especialista Forestier, para um parisiense do século XIX,

[...] a palavra bulevar designa o bulevar dos Italiens, onde se concentra, então, a vida teatral (Opéra, Opéra-Comique), econômica (ali se encontra a sede do Crédit lyonnais), social (jornalistas e mondains frequentam os cafés mais renomados da região). [...] o preço de um copo de cerveja é duas vezes mais alto ali do que no bairro das Batignolles, onde mora Duroy.268

Já empregado em La Vie Française e após receber o salário, Duroy, então com “ses deux cents francs, plus vingt-huit francs pour son article de la veille, qui, joints à ce qui lui restait de son traitement du chemin de fer, lui faisaient trois cent quarante francs en poche”269, decide retornar ao Folies Bergère e logo encontra Rachel, sentindo-se vaidoso com a atenção que ela lhe oferece. Ele mente para ela sobre o valor da soma em dinheiro que possui no momento:

Il entra, et presque aussitôt, il rencontra Rachel, la femme emmenée le premier soir.

Elle vint à lui: 265 Ibidem. p. 208. 266 MAUPASSANT, 1987, p. 198. 267

Cf. nota 2 referente à p. 198, de Louis Forestier in MAUPASSANT, 1987, p. 1348.

268

Cf. nota 3 referente à p. 197, de Louis Forestier in ibidem, p. 1347.

269

"Bonjour, mon chat. Tu vas bien? Très bien, et toi?

- Moi, pas mal. Tu ne sais pas, j'ai rêvé deux fois de toi depuis l'autre jour." Duroy sourit, flatté:

"Ah! ah! et qu'est-ce que ça prouve?

- Ça prouve que tu m'as plu, gros serin, et que nous recommencerons quand ça te dira.

- Aujourd'hui si tu veux. - Oui, je veux bien.

- Bon, mais écoute..." Il hésitait, un peu confus de ce qu'il allait faire; " C'est que, cette fois, je n'ai pas le sou: je viens du cercle, où j'ai tout claqué." Elle le regardait au fond des yeux, flairant le mensonge avec son instinct et sa pratique de fille habituée aux roueries et aux marchandages des hommes. Elle dit:

"Blagueur! Tu sais, ça n'est pas gentil avec moi cette manière-là." Il eut un sourire embarrassé:

"Si tu veux dix francs, c'est tout ce qui me reste."

Elle murmura avec un désintéressement de courtisane qui se paie un caprice: "Ce qui te plaira, mon chéri: je ne veux que toi."270

A partir desse diálogo e dos conceitos já analisados de Bourdieu, podemos constatar que essa mentira de Duroy faz parte da illusio. Existe, portanto, um jogo e nele, cada um dos jogadores, aceitando as regras impostas e pensando em seus interesses, adota sua estratégia. Para Duroy, sua estratégia é a mentira, pois, na verdade, Forestier lhe empresta uma boa quantia para que ele possa comprar um bom terno para o jantar a que foi convidado na casa do amigo. Assim, desejando dormir com Rachel e consciente da importância de estar bem arrumado no jantar do dia seguinte e das possibilidades que poderia obter ao estar presente em um espaço social como o da casa dos Forestier, Duroy prefere arriscar sua noite a não comparecer ao jantar. E para Rachel, a estratégia para conseguir o que quer é o fingimento.

Em uma terceira ocasião, quando volta ao cabaré, desta vez acompanhado por Clotilde de Marelle, sua segunda conquista feminina, Duroy provoca a ira de Rachel ao fingir não a conhecer; outra estratégia, mas dessa vez, para não colocar em risco sua reputação, já que nesse momento do romance, Duroy já frequenta alguns salões e jantares importantes, como veremos mais adiante.

Quanto à burguesa Clotilde de Marelle, ou Mme de Marelle, “c'était une petite brune, de celles qu'on appelle des brunettes”,271 casada com M. de Marelle,constantemente ausente e com quem tem uma filha de 10 anos, Laurine, que atribui à Duroy o apelido de Bel-Ami. O primeiro contato entre Duroy e Clotilde, acontece durante o jantar na casa dos Forestier:

Il regardait parfois sa voisine, dont la gorge ronde le séduisait. Un diamant tenu par un fil d'or pendait au bas de l'oreille, comme une goutte d'eau qui aurait glissé sur la chair. De temps en temps, elle faisait une remarque qui

270

MAUPASSANT, 1987, p. 247-248.

271Ibidem

éveillait toujours un sourire sur les lèvres. Elle avait un esprit drôle, gentil, inattendu, un esprit de gamine expérimentée qui voit les choses avec insouciance et les juge avec un scepticisme léger et bienveillant.272

Dias depois, Duroy, lembrando-se do convite de Clotilde, decide ir até a sua casa para lhe fazer uma visita de trinta minutos, marcada por uma conversa simples, mas através da qual os dois percebem a existência de afinidades. Em poucos dias, Duroy faz-lhe outra visita e dessa vez, Clotilde lhe faz um convite:

Comme je dîne toutes les semaines chez les Forestier, je leur rends ça, de temps en temps, dans un restaurant. Moi, je n'aime pas à avoir du monde chez moi, je ne suis pas organisée pour ça, et, d'ailleurs, je n'entends rien aux choses de la maison, rien à la cuisine, rien à rien. J'aime vivre à la diable. Donc je les reçois de temps en temps au restaurant, mais ça n'est pas gai quand nous ne sommes que nous trois, et mes connaissances à moi ne vont guère avec eux. Je vous dis ça pour vous expliquer une invitation peu régulière. Vous comprenez, n'est-ce pas, que je vous demande d'être des nôtres samedi, au café Riche, sept heures et demie.273

Após o convite, Duroy vai embora com a mesma sensação da última visita, “la sensation de sa présence continuée dans une sorte d’hallucination de ses sens”274 e espera ansioso pelo dia do jantar, momento importante porque marca o início da relação adúltera:

Il en tenait une, enfin, une femme mariée ! Une femme du monde! Du vrai monde! Du monde parisien! Comme ça avait été facile et inattendu! Il s'était imaginé jusque-là que pour aborder et conquérir une de ces créatures tant désirées, il fallait des soins infinis, des attentes interminables, un siège habile fait de galanteries, de paroles d'amour, de soupirs et de cadeaux. Et voilà que tout d'un coup, à la moindre attaque, la première qu'il rencontrait s'abandonnait à lui, si vite qu'il en demeurait stupéfait.275

Através da passagem acima, Maupassant evidencia mais uma vitória de Duroy em seu projeto de ascensão. Além de alugar um apartamento para os encontros com Duroy, Clotilde ainda lhe garante dinheiro para o dia a dia. Ele, por sua vez, revelando mais uma vez não ter escrúpulos, aceita o que lhe é oferecido e ainda usa o apartamento para outras aventuras amorosas. Relacionando-se com uma mulher do monde parisien, Duroy aceita um dos possíveis que lhe é oferecido, investindo, portanto, na possibilidade de aumentar, sobretudo seu capital social. Ainda que seja uma relação estrategicamente pensada, por parte de Duroy, Maupassant insiste em mostrar, ao longo do romance, e apesar de algumas rupturas devido ao ciúme por parte de Clotilde, a existência de certa cumplicidade: “Leurs deux natures avaient des crochets pareils; ils étaient bien, l'un et l'autre, de la race aventureuse des vagabonds de la

272 Ibidem, p. 215. 273 Ibidem, p. 254. 274Ibidem , p. 255. 275Ibidem, p. 261.

vie, de ces vagabonds mondains qui ressemblent fort, sans s'en douter, aux bohèmes des grandes routes”.276

Mesmo Duroy se casando duas vezes, Clotilde permanece sendo sua amante, reforçando, por um lado, seu papel de dominada e por outro, a ideia de que é a única mulher realmente amada por Duroy.

Seguindo os degraus femininos da ascensão de Duroy, temos Madeleine Forestier, a esposa de Forestier. Segundo um jornalista do La Vie F rançaise, Mme Forestier é “une rouée, une fine mouche”.277 Clotilde de Marelle, amiga e parente distante de Madeleine, parece partilhar da mesma opinião: “[..] elle est fine, adroite et intrigante comme aucune, celle-là. En voilà un trésor, pour un homme qui veut parvenir”.278

Madeleine representa, retomando os conceitos de Bourdieu, mais um significativo capital para Duroy na sua busca pela ascensão social. Inicialmente, ao perceber a dificuldade do jovem protagonista em escrever o seu primeiro artigo, Madeleine, decide ajudá-lo, como faz com seu marido, quando foi necessário. Como se pode observar ao longo do romance, Madeleine, que prefere a política à vida familiar, sabe se adaptar às diversas situações para desenvolver seus talentos de jornalista e escolher suas relações de acordo com o que melhor lhe convém. Assim, serve-se de seu marido para obter fonte de renda; do amigo de família e amante Vaudrec, para receber sua herença, e através de Laroche Mathieu, entra no mundo da política. Mulher de personalidade forte, ela não se deixa dominar, nem pelo seu marido nem pelos seus amantes, reivindicando uma liberdade que pode ser legitimada pelo trabalho que exerce ao escrever artigos em nome de seu marido, de amigos e amantes. No entanto, ao pensarmos em sua situação, constatamos que ele se encontra, na verdade, em uma situação de liberdade parcial, uma vez que ela escreve para que os outros tenham o reconhecimento.

No que concerne a relação entre Madeleine e Duroy, notamos, mais uma vez, a prevalência de um jogo de interesses: para ela, Duroy representa mais uma oportunidade de revelar suas práticas jornalísticas e para ele, ela representa sua entrada no jornalismo. Com o avançar da trama e com a morte de Forestier, eles decidem se casar e os motivos para o enlace se originam, sobretudo, do desejo de aproveitarem um do outro, mais uma vez. Para Madeleine, o casamento representa uma associação entre duas pessoas que possuem interesses em comum, como ela mesma revela:

Comprenez-moi bien. Le mariage pour moi n'est pas une chaîne, mais une association. J'entends être libre, tout à fait libre de mes actes, de mes démarches, de mes sorties, toujours. Je ne pourrais tolérer ni contrôle, ni jalousie, ni discussion sur ma conduite. Je m'engagerais, bien entendu, à ne 276 Ibidem, p. 412. 277Ibidem, p. 243. 278Ibidem, p. 306.

jamais compromettre le nom de l'homme que j'aurais épousé, à ne jamais le rendre odieux ou ridicule. Mais il faudrait aussi que cet homme s'engageât à voir en moi une égale, une alliée, et non pas une inférieure ni une épouse obéissante et soumise. Mes idées, je le sais, ne sont pas celles de tout le monde, mais je n'en changerai point. Voilà.279

Duroy, que deseja progredir em sua carreira de jornalista e ganhar dinheiro, vê no casamento um bom meio para atingir seu objetivo, já que vê em Madeleine uma colaboradora em potencial:

Alors il songea à tous les mystères cachés dans les existences. Il se rappela ce qu'on chuchotait du comte de Vaudrec qui l'avait dotée et mariée, disait- on.

Qu'allait-elle faire maintenant ? Qui épouserait-elle ? Un député, comme le pensait Mme de Marelle, ou quelque gaillard d'avenir, un Forestier supérieur ? Avait-elle des projets, des plans, des idées arrêtées ? Comme il eût désiré savoir cela ! Mais pourquoi ce souci de ce qu'elle ferait ? Il se le demanda, et s'aperçut que son inquiétude venait d'une de ces arrière-pensées confuses, secrètes, qu'on se cache à soi-même et qu'on ne découvre qu'en allant fouiller au fond de soi.

Oui, pourquoi n'essaierait-il pas lui-même cette conquête ? Comme il serait fort avec elle, et redoutable ! Comme il pourrait aller vite et loin, et sûrement !280

Pensando nos romances de Maupassant, como se pode observar, amor e casamento parecem imcompatíveis. Graças à Madeleine, Duroy recebe, como parece prever, quinhentos mil francos da herança que Vaudrec deixara para ela. Recebendo a herança, Duroy herda, portanto, capital econômico que contribui, por exemplo, para a compra do título de barão, uma possibilidade que o campo lhe destina. Temos, portanto, que Duroy adquire não só capital econômico, mas o capital social, igualmente. Um falso título também se revela um aspecto da illusio, uma vez que constitui um trunfo capaz de comandar a maneira de jogar de Duroy e o seu sucesso no jogo. Nouveau riche e aristocratizado, Duroy se divorcia de Madeleine ao descobrir seu relacionamento extraconjugal com o ministro de relações exteriores Laroche-Mathieu, como já visto.

Madeleine se revela uma das personagens mais intrigantes do romance: é suspeita de ser amante de um conde que, ao morrer, deixa-lhe uma herança e mantém uma relação extraconjugal com o ministro das relações exteriores, Laroche-Mathieu. Mas, no seu casamento com Duroy, ela exige uma relação discreta. Apresentando uma relação mais de parceria do que de homem e mulher, o par Duroy, ou mais especificadamente, Du Roy de

279Ibidem,

p. 340.

280Ibidem,

Cantel-Forestier estimula a formação do “premier salon politique de Paris”.281 Madeleine possui grande número de contatos no mundo da política e se serve do seu poder de sedução para assegurar o próprio futuro e o do seu segundo marido; as pessoas são apenas instrumentos do qual o casal se serve para atingir suas ambições pessoais. No entanto, se Madeleine representou, no início, uma boa oportunidade para o jornalista em busca de renome, no fim do romance, a filha de Walter, sem história, jovem e virgem, pode ser considerada o prêmio ideal, evidenciando que, finalmente, Duroy havia alcançado a posição de destaque ambicionada, como veremos. Antes, porém, de se casar com a filha de Walter, Duroy seduz a sua esposa.

Virginie Walter ou Madame Walter, esposa do banqueiro judeu e diretor do La Vie Française, Walter, é descrita no início do romance como uma mulher

[…] un peu trop grasse, belle encore, à l'âge dangereux où la débâcle est

proche. Elle se maintenait à force de soins, de précautions, d'hygiène et de pâtes pour la peau. Elle semblait sage en tout, modérée et raisonnable, une de ces femmes dont l'esprit est aligné comme un jardin français.282

Católica, filha de um banqueiro e mãe de Rose e Suzanne, Virginie, antes de conhecer Duroy, era uma mulher honesta, de quem não se tinha nada a falar negativamente, como revela Madeleine:

Oh ! Mme Walter est une de celles dont on n'a jamais rien murmuré, mais tu sais, là, jamais, jamais. Elle est inattaquable sous tous les rapports. Son mari, tu le connais comme moi. Mais elle, c'est autre chose. Elle a d'ailleurs assez souffert d'avoir épousé un juif, mais elle lui est restée fidèle. C'est une honnête femme.283

Assim como ocorre com as outras mulheres mencionadas acima, à excessão de Rachel, o primeiro contato entre Duroy e Virgine acontece na casa de Forestier. Durante o jantar, quando tratavam do assunto da colonização francesa na Argélia, Duroy, ao contar sobre os vinte e oito meses que passou lá, com riqueza de detalhes, chama a atenção:

Mais la causerie qui allait sans cesse, accrochant les idées les unes aux autres, sautant d'un sujet à l'autre sur un mot, un rien, après avoir fait le tour des événements du jour et avoir effleuré, en passant, mille questions, revint à la grande interpellation de M. Morel sur la colonisation de l'Algérie.

[…] M. Walter demanda :

"Vous connaissez l'Algérie, monsieur ?" Il répondit :

"Oui, monsieur, j'y suis resté vingt-huit mois, et j'ai séjourné dans les trois provinces."

Et brusquement, oubliant la question Morel, Norbert de Varenne l'interrogea sur un détail de moeurs qu'il tenait d'un officier. Il s'agissait du Mzab, cette 281 Ibidem, p. 303. 282Ibidem, p. 287. 283Ibidem, p. 377.

étrange petite république arabe née au milieu du Sahara, dans la partie la plus desséchée de cette région brûlante.

Duroy avait visité deux fois le Mzab, et il raconta les moeurs de ce singulier pays, où les gouttes d'eau ont la valeur de l'or, où chaque habitant est tenu à tous les services publics, où la probité commerciale est poussée plus loin que chez les peuples civilisés.

Il parla avec une certaine verve hâbleuse, excité par le vin et par le désir de plaire; il raconta des anecdotes de régiment, des traits de la vie arabe, des aventures de guerre. Il trouva même quelques mots colorés pour exprimer ces contrées jaunes et nues, interminablement désolées sous la flamme dévorante du soleil.284

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 110-122)

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