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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS GRADUADOS EM PSICOLOGIA CLÍNICA NÚCLEO DE ESTUDOS JUNGUIANOS LARA CALDAS MEDEIROS DE SÁ

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS GRADUADOS EM PSICOLOGIA

CLÍNICA

NÚCLEO DE ESTUDOS JUNGUIANOS

LARA CALDAS MEDEIROS DE SÁ

O SIMBOLISMO DA MORTE NA MITOLOGIA INDÍGENA BRASILEIRA: UMA ABORDAGEM JUNGUIANA

Mestrado em Psicologia Clínica

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LARA CALDAS MEDEIROS DE SÁ

O SIMBOLISMO DA MORTE NA MITOLOGIA INDÍGENA

BRASILEIRA: UMA ABORDAGEM JUNGUIANA

Mestrado em Psicologia Clínica

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Clínica – Núcleo de Estudos Junguianos, sob a orientação da Prof.(a) Doutor(a) Liliana Liviano Wahba.

(3)

Banca Examinadora

__________________________________

__________________________________

(4)

AGRADECIMENTOS

Meu maior agradecimento é dirigido aos meus pais, pelo o apoio contínuo em

todos estes anos, ensinando-me, principalmente, a importância da construção

e coerência de meus próprios valores.

Ao Alexandre, meu companheiro nesta trajetória. Soube compreender, como

ninguém, a fase pela qual eu estava passando, e sempre entendeu minhas

dificuldades e ausências.

Aos meus avôs, irmãs, primos e sobrinho pelo carinho.

À Liliana Liviano Wahba, que com dedicação e paciência me auxiliou e orientou

nessa jornada heróica. A todos os professores do Núcleo de Estudos

Junguianos, pelas aulas enriquecedoras.

Ao Prof. Dr. Marcelo Sodelli e à Prof. Dr. Yolanda Cintrão Forghieri, pelas

sugestões e disponibilidade no exame de qualificação.

Aos queridos colegas de curso com os quais em diversos momentos partilhei

dúvidas e angústias.

Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico,

(5)

RESUMO

SÁ, L. C. M. O simbolismo da morte na mitologia indígena brasileira: uma abordagem junguiana. São Paulo, 2011.

O objetivo deste estudo é explorar o simbolismo da morte a partir da mitologia indígena brasileira, sob a perspectiva analítica de C. G. Jung. A natureza da pesquisa é documental com análise de conteúdo a partir da revisão bibliográfica, que tem como foco a análise dos mitos indígenas selecionados. São apresentadas considerações sobre os símbolos relacionados à morte. Uma hipótese aventada consiste em compreender tais símbolos relativos ao processo civilizatório do ser humano e a conscientização do significado de criação, transformação, sacrifício e morte nesse processo.

Palavras chave:

analítica, mitologia indígena, morte, símbolo, psicologia.

(6)

ABSTRACT

SÁ, L. C. M.The symbolism of death in Brazilian Indian mythology: a Jungian approach. São Paulo, 2011.

The objective of this study is to explore the death symbolism from Brazilian Indian mythology, based on the analytical perspective of C. G. Jung. The nature of the research is to analyze documents from bibliography review, which focuses on the analysis of selected indigenous myths. Considerations are given to the symbols related to death. One hypothesis consists on understanding the related symbols to human being civilizing process and awareness of creation meaning, transformation, sacrifice and death in this process.

(7)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 7

1.1 Justificativa... 9

1.2 Objetivo... 10

2 MÉTODO... 11

Procedimento de Análise ... 12

3 PANORAMA DA CULTURA INDÍGENA NO BRASIL... 15

3.1Revisão Bibliográfica... 16

4 PSICOLOGIA ANALÍTICA E MITOS... 23

4.1 Mitos... 23

4.2 Inconsciente coletivo... 26

4.3 Transformação de energia... 29

4.4 Símbolo... 30

5 MORTE E SEU SIMBOLISMO... 34

5.1 Símbolos mitológicos... 39

6 ANÁLISE DOS MITOS... 41

Quadros referentes às categorias analisadas... 43

6.1Categoria castigo/vingança... 64

6.2 Categoria espíritos... 66

6.3 Categoria caçada... 68

6.4 Categoria disputa/guerra... 69

6.5 Categoria transformação... 70

7 DISCUSSÃO... 73

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 80

REFERÊNCIAS... 82

(8)

1 INTRODUÇÃO

Para a razão o fato de “mitologizar” (mythologein) é uma especulação estéril, enquanto que para o coração e a sensibilidade esta atividade é vital e salutar: confere à existência um brilho ao qual não se queria renunciar. (JUNG, 1978, par.261)

O presente trabalho tem como objetivo analisar simbolicamente mitos

da cultura indígena brasileira cujo tema relaciona-se à morte, sob a perspectiva

analítica de C. G. Jung.

A motivação em estudar mitos indígenas surgiu pela proximidade e

ligação de nossa cultura com a cultura indígena, pela qual fomos,

intrinsecamente, influenciados. No entanto, constatei na revisão bibliográfica

uma escassez de pesquisas relacionadas à área da psicologia.

Em relação ao tema da morte o interesse originou-se da experiência

de trabalho em hospital, quando me deparei com a dificuldade de poder falar e

lidar com esse tema no dia a dia. Observei que os pacientes, familiares e

profissionais tratavam o tema como tabu, e tal fato chamou-me a atenção, pois

parecia que havia sido estabelecida uma maneira social compartilhada pela

maioria: a de não se falar sobre a morte.

Pude perceber esse mesmo comportamento vivenciado no hospital

em outras instituições e ambientes, e transpus o problema para a sociedade

em geral.

Estudar mitos possibilita o acesso ao inconsciente coletivo e

desperta a possibilidade de se apreender a psique de maneira simbólica. Os

mitos são fenômenos que expressam a própria natureza da psique.

Segundo Von Franz (2003) quando se estudam as implicações

psicológicas dos mitos, percebe-se a expressão do caráter nacional da

(9)

Segundo Boechat (2007, p.21), “os mitos são estórias simbólicas que

se desdobram em imagens significativas, que tratam das verdades dos homens

de todos os tempos”. Portanto, ao nos reportar à mitologia indígena brasileira

podemos entrar em contato com as origens de nossa cultura.

Resgatar a origem ajuda a resgatar o sentido de viver, no qual a

morte está inserida.

Jung (1984) questiona por que não há uma preparação para morte, já

que o jovem durante seus primeiros vinte anos é preparado para sua expansão

de vida. O autor considera “a morte como a realização plena de sentido da vida

e sua verdadeira meta, em vez de uma mera cessão sem sentido, que

corresponde melhor à psique coletiva da humanidade (par.807)”.

Por ser esse um tema esquecido e negado, é importante acessarmos,

por meio dos mitos, o inconsciente coletivo, o que ajudará, de alguma maneira,

a entender e a trazer esse tema à consciência.

A morte, por ser um tema arquetípico, aparece de forma recorrente

em mitos e sonhos, sendo o arquétipo constitui uma forma de matriz, uma raiz

comum de toda a humanidade da qual emerge a consciência.

A morte se apresenta como um tema arquetípico, ou seja, como

possibilidades herdadas da imaginação humana capazes de formar ideias

mitológicas, pois se apresenta em diferentes culturas, raças, tempos e lugares.

Optei por pesquisar o simbolismo da morte, com o objetivo de

compreender o modo como o povo indígena entende o tema e quais são as

(10)

Os capítulos teóricos abordam os seguintes temas: um panorama

sobre os povos indígenas brasileiros, a teoria analítica, o inconsciente coletivo,

os mitos e a morte e o simbolismo destes.

1.1 Justificativa

Este estudo visa resgatar e explorar como a representação simbólica

da morte se dá, em especial, na mitologia indígena brasileira. A cultura

indígena e seus símbolos merecem abordagem mais ampla na psicologia.

Trata-se de compreender nossos mitos de origem e de elucidar um tema

(11)

1.2 Objetivo

Explorar o simbolismo da morte a partir da mitologia indígena brasileira,

(12)

2 MÉTODO

O método utilizado está fundamentado em uma pesquisa documental

com análise de conteúdo a partir da revisão bibliográfica, que tem como foco a

análise de mitos indígenas.

Segundo Cozby (2003), uma pesquisa de análise de conteúdo explicita

um problema a partir de informação que se consulta em distintas fontes.

Necessita de uma observação sistemática e requer sistemas de categorização

que possam ser usados por avaliadores para se classificarem as informações.

A pesquisa de análise de conteúdo tem como enfoque o método

qualitativo, método que “se dispõe a interpretar, a ler nas entrelinhas o que foi

falado, mas não encontra significados aos olhos dos menos preparados”

(CAMPOS, 2007, p.266). Analisar o conteúdo exigirá que o pesquisador esteja

aberto para a compreensão das palavras, este terá que observar no conteúdo

apresentado o que de fato o fenômeno apresenta, tornando visível o oculto

(CAMPOS, 2007).

Para a realização da análise utilizou-se o conceito de amplificação

simbólica de C. G. Jung. Segundo o autor, a maioria de dados contidos em

contos, mitos e sonhos requer amplificação, “tal aplicação consiste na

abordagem do material como se este tivesse um significado interno coerente”

(JUNG, 2008, par.436).

Segundo Penna (2009), a amplificação simbólica ou hermenêutica

junguiana pode ser considerada como um procedimento metodológico. A

(13)

conexões entre arte, mitologia e antropologia. Amplia-se assim a possibilidade

de compreensão do fenômeno.

Seu caráter amplificatório estabelece uma rede de associações em torno do tema nuclear do fenômeno, visando amplificar seus significados em vários níveis de interpretação. A rede de associações por analogias e comparações entre diversas áreas do conhecimento favorece a articulação entre o nível arquetípico (coletivo) e o particular (individual) do fenômeno, simultaneamente sintetiza as perspectivas objetiva e subjetiva e, assim, restabelece o vinculo entre individuo e cultura(PENNA, 2009, p.184).

Foram pesquisadas bases de dados nacionais como SCIELO,

BIREME, LILACS, além das internacionais como PUBMED e MEDLINE.

Ao se pesquisarem essas bases de dados foram selecionados 11

(onze) artigos científicos, cujo tema principal era a cultura brasileira indígena,

retratada, em sua maioria, por profissionais da área de antropologia. As

palavras-chave de busca foram as seguintes: mitologia indígena, população

indígena, cultura indígena e morte.

Na pesquisa sobre mitologia indígena brasileira, buscaram-se mitos

em livros relacionados à área de antropologia e de artes. Após a leitura de 93

(noventa e três), foram encontrados 51 (cinquenta e um) mitos que relatavam o

tema da morte, provenientes de aldeias indígenas e de regiões diferentes.

2.1 Procedimento de análise

Os mitos encontrados na literatura foram escolhidos pelo critério de

fidedignidade do material disponível em função dos autores selecionados.

Foram copilados e apresentados por ordem de autores.

(14)

Eles foram categorizados por temas relacionados com a morte, de

acordo com a narração. No primeiro momento, realizou-se uma leitura livre dos

mitos e destacaram-se, para a pesquisadora, alguns temas relacionados, como

guerras/ disputa, castigos/vinganças, caçadas, espíritos e transformação. A

partir dessas categorias foram elaboradas subcategorias conforme a

necessidade.

Bardin (1991) propõe um método de categorias, que consiste em

classificar os diferentes elementos segundo critérios suscetíveis de fazer surgir

um sentido capaz de introduzir uma ordem. Os critérios de classificação

dependerão daquilo que o pesquisador procura ou espera encontrar, ou seja de

seu objetivo.

A análise de categorias leva em consideração “a totalidade de um

texto, passando-o pelo crivo da classificação e do recenseamento, segundo a

frequência de presença (ou ausência) de itens de sentido” (BARDIN, 1991,

p.39).

A análise dos mitos foi embasada na proposta de Marie Louise Von Franz,

que tem como proposta um método de análise para contos de fada e mitos.

O método de interpretação psicológica é muitas vezes questionado, alguns

pesquisadores afirmam que “o mito fala por si só, tem-se somente que

desvendar o que ele diz e que não é necessária a interpretação psicológica do

mito, com todos os seus detalhes e amplificações, ele é bastante claro por si

mesmo” (VON FRANZ, 2003, p.46).

Em parte esse questionamento é procedente, pois “a interpretação é

um escurecimento da luz original que brilha no próprio mito”(p.46). No entanto,

(15)

conscientes, não alcançando o rico material inconsciente, indispensável para

sua compreensão amplificada. Para autora, a interpretação é uma arte e

poderá ser apreendida pela prática e experiência. É necessário tomarmos um

símbolo e ampliá-lo, em seguida compará-lo a possíveis temas paralelos, ou

seja, “amplificar significa alargar um tema através da junção de numerosas

análogas”(VON FRANZ, 2003, p.53).

Para realizar a análise proposta divide-se a história em vários

aspectos: em primeiro a exposição dessa história, a localização do tempo, do

lugar e a quantidade de personagens. No decorrer da exposição deve-se

localizar o início do problema, define-lo psicologicamente e procurar também

entender sua natureza. Em seguida deve-se identificar a peripetéia, que são os

altos e baixos da história, e por último, identificar se esta apresenta lysis, ou

seja uma conclusão. O método segundo a autora consiste em observar a

estrutura do material, a fim de se obter uma ordenação.

A seguir, constrói-se o texto estabelecendo-se uma conexão entre as

imagens e símbolos encontrados; parte-se, então, para a interpretação

propriamente dita, ou seja, a tradução da história amplificada para a linguagem

psicológica.

(16)

3 PANORAMA DA CULTURA INDÍGENA NO BRASIL

 

   Segundo a Fundação Nacional do Índio (2010), no Brasil, vivem cerca

de 460 mil índios, distribuídos entre 225 sociedades indígenas, que perfazem

aproximadamente 0,25% da população brasileira. Esse dado populacional

considera tão somente aqueles indígenas que vivem em aldeias, e há

estimativas de que, além destes, existam de 100 e 190 mil vivendo fora das

terras indígenas, inclusive em áreas urbanas.

O Brasil apresenta uma marcante diversidade étnica e linguística,

entre as maiores do mundo. São 215 sociedades indígenas registradas, além

de 55 grupos de índios isolados, sobre os quais ainda não há informações

objetivas. São faladas, aproximadamente, 180 línguas pelos membros dessas

sociedades, as quais pertencem a 30 ou mais famílias linguísticas diferentes.

A mesma sociedade indígena pode ser conhecida por vários nomes e

eles nem sempre são escritos da mesma forma. Isso depende da convenção

estabelecida pelos não-índios, uma vez que os falantes originais das línguas

indígenas eram ágrafos, isto é, não conheciam a escrita.

Segundo a Fundação Nacional do Índio (2010), os índios não só

sobrevivem biologicamente como também no que diz respeito as tradições

culturais. Estudos recentes demonstram que a população indígena vem

aumentando rapidamente nas últimas décadas: os índios vivem em diversos

pontos do território brasileiro e representam um pequeno percentual da

população de habitantes do Brasil. Mais da metade da população indígena está

localizada nas regiões Norte e Centro-Oeste do país, principalmente na área da

(17)

Bacia Amazônica, os quais, consequentemente, incluem em seu território

trechos da Floresta Amazônica. Com base em análises estruturais e

conjunturais, o governo brasileiro, reuniu regiões de idênticos problemas

econômicos, políticos e sociais, com o intuito de melhor planejar o

desenvolvimento social e econômico da região amazônica. No entanto há

índios que vivem em todas as regiões brasileiras, em maior ou menor número,

com exceção dos estados do Piauí e Rio Grande do Norte.

Essa diversidade presente na cultura indígena vem sendo estudada e

retratada por pesquisadores da área de antropologia.

3.1 Revisão bibliográfica

Vitale e Grubits (2009) em sua pesquisa de revisão procuraram

apresentar um quadro geral, expondo e analisando as produções científicas na

área de psicologia, relacionadas à temática indígena em geral, e realizando

uma busca por produções essencialmente acadêmicas. A pesquisa possibilitou

uma visão preliminar sobre as principais características da produção em

psicologia, ao se abordar a temática indígena.

As psicólogas constataram que há pouca inserção da ciência

psicológica no que diz respeito à temática, e a questão indígena ficou

completamente de fora das preocupações e do olhar dos psicólogos até quase

os dias atuais. No entanto é preciso ressaltar que, apesar da pouca produção,

as análises realizadas nos abrem uma perspectiva positiva em relação ao que

já foi produzido até agora e mesmo em relação ao que está por vir. Nota-se um

crescente esforço de debate e interlocução entre psicólogos que trabalham

(18)

O artigo sobre a Amazônia indígena de Hegon, Loebens e Carvalho

(2005), aponta as dificuldades encontradas pelos povos indígenas na região

amazônica do Brasil, sendo a relação com os setores de interesse econômico e

militar é um dos principais problemas enfrentados.

Segundo dossiê sobre os povos indígenas do Brasil, Pagliaro (2009)

afirma que houve um avanço significativo nas últimas décadas em relação a

estudos associados à cultura indígena. Aponta que os temas mais abordados

nessas pesquisas são os seguintes: fecundidade, sexualidade e saúde

reprodutiva, direitos das minorias e reconhecimento étnico e territorial,

avaliação de fontes de dados demográficos e diagnósticos sociodemográficos.

Plagliaro e Junqueira (2004), em seu estudo sobre a recuperação

populacional e fecundidade dos Kamaiurá, concluem que houve um aumento

da sua fecundidade, fato favorecido pela melhoria das condições de saúde

decorrente da queda da mortalidade. No entanto, a ocorrência se deu sem que

se abandonassem as práticas tradicionais de controle da natalidade, o que

permitiu aos Kamaiurá um crescimento populacional de forma racional e

equilibrada.

Mindlin (2002), em sua pesquisa sobre o significado do fogo e das

chamas na mitologia indígena, relata uma preciosidade de histórias e

significados. Afirma que na maior parte dos povos indígenas brasileiros a

mitologia ainda é viva, transmitida oralmente de uma geração à outra;

especialmente no povo Suruí os mitos têm um caráter histórico, e para os

povos em geral a mitologia é a verdadeira história do mundo.

A antropóloga aponta a importância de se estudarem os mitos e cita

(19)

autora expõe diversos mitos sobre o fogo em diferentes tribos e regiões no

Brasil, e consegue destacar temas e símbolos frequentes entre eles e entre

mitologias de outros povos, como a mitologia grega. Expõe a complexidade de

se lidar com esse universo simbólico, pois há múltiplas versões sobre o tema

do fogo, e sobre temas relacionados ao cosmos.

Freitas, Azevedo e Vilhena (2000), em seu trabalho com grupos

terapêuticos em conjunto com a mitologia indígena brasileira, têm como

interesse resgatar aspectos de nossas origens. Afirmam que os mitos estão

presentes em nosso cotidiano e fazem parte de nossa forma pessoal de

compreender o mundo. O mito especificamente trabalhado por elas foi “A

cabeça voraz”, e alguns simbolismos que se destacaram nesse mito foram: o

desejo feminino, o corpo, a voracidade, entre outros.

As autoras defendem a mitologia indígena como expressões culturais

importantes, que possibilitam a recontextualização e ressignificação do mito em

nossas vidas.

Cohn (2001), a partir da experiência com um grupo indígena, realizou

uma reflexão sobre a tribo com a qual manteve contato em comparação com

outras da literatura. Analisando os povos que mantiveram suas tradições e os

que se deixaram influenciar por nossa cultura, concluiu que há “perdas e

ganhos” tanto nos povos que se influenciaram com nossos costumes como nos

que mantiveram suas tradições sem contato com a civilização. Segundo a

FUNAI, com o crescimento da população indígena, sua cultura e tradição

podem se perpetuar sem o preconceito e o estereótipo de uma cultura não

civilizada.

(20)

sociedade brasileira, tratando-o, como importante, no passado, para a constituição da singularidade nacional; o foco está, assim, no índio como nosso antepassado, nas heranças que deles recebemos, seja genética, seja cultural, seja na importância que ele teve para a adaptação do colonizador europeu no novo meio (COHN, 2001,p.2).

No entanto devemos tomar cuidado com o fato de os índios serem

tratados como fontes históricas, estruturais em nossa civilização. Pois ao

tratá-los como fontes documentais - como se fossem vistos apenas como

antepassados – acabamos desconsiderando o ser humano vivo e atuante de

hoje.

Junqueira e Pagliaro (2009), em seu estudo sobre os Kamaiurá,

descrevem os cuidados que estes dedicam ao corpo e as regras culturais e

espirituais relativas às diversas etapas do ciclo vital. Esse povo indígena,

habitante da região norte do estado de Mato Grosso, tem uma grande

preocupação com a saúde e desenvolveu vários procedimentos visando à

prevenção e à cura de doenças, e esse saber se constitui a partir da

observação, da experimentação e da mitologia.

Segundo as autoras para esse povo a vida deve prolongar-se do

nascimento à velhice, e a doença é sempre fruto de uma ação externa ao

corpo, por isso a importância de não descuidar das práticas preventivas. A

morte se dá de duas maneiras através de feitiços ou da atuação de espíritos,

por isso os Kamaiurá seguem a rigor seus rituais de passagem, e em suas

cerimônias, contemplam seus mitos. Para eles, ensinar a manter a saúde e

preservar a vida cerimonial é fundamental.

Junqueira (2001, p.10), em seu artigo “Doença do espírito” afirma que

os Kamaiurá acreditam:

(21)

manifestação da vida, e cada qual, com exceção talvez dos deuses, trilham um mesmo caminho e têm destino similar que chega a termo na experiência da Morte. Deixam então sua forma física, material, para ingressar na esfera destinada às almas.

A questão da morte será profundamente explorada no terceiro capítulo.

A noção de saúde desse povo vincula-se estreitamente à qualidade

de poder se movimentar, estar vivo é estar com saúde. Os Kamaiurá não

acreditam na ideia do acaso, aprenderam a explicar as dores e adoecimentos e

a lidar com eles relacionando-os aos saberes e cuidados do pajé. Para

Junqueira (2001), mesmo com inserção de serviço médico, as práticas médicas

apenas ampliaram o saber desse povo, que mantêm intacta a crença numa

realidade povoada de poderes e entidades superiores.

Junqueira e Mindlin (2003) relatam suas vivências com as mulheres

indígenas, especialmente nos povos Kamaiurá e os Cinta Larga, com foco no

sexo e na desigualdade. Descrevem a dificuldade de se entrar em contato com

essas mulheres pois, quando um antropólogo chegava a uma aldeia, procurava

saber quem era o chefe ou o pajé; elas não falavam nem entendiam o

português. A partir da década de 1970, com o feminismo, houve uma crítica

sobre o olhar masculino dos antropólogos, e assim teve início uma

aproximação da mulher índia.

As autoras afirmam que as índias são donas de seus corpos, cabe a

elas a decisão de terem ou não o filho, tomar anticoncepcional ou de praticar o

infanticídio, e há crença de que a mulher indígena tem uma liberdade amorosa

maior que as mulheres não-índias. Elas observaram um grande respeito no que

(22)

relação sexual ocorra. No entanto relatam casos de agressões físicas cometida

pelos homens contra as mulheres.

As pesquisadoras também observaram uma separação nítida entre o

masculino e o feminino, mas hoje, com a influência dos não- índios, isso já

mudou.

Penna (2007), em seu estudo sobre os símbolos de uma urna funerária

do povo indígena Marajoara, aponta a riqueza e importância dos símbolos

dessa cultura, pertencentes a um conjunto de experiências numinosas com a

natureza circundante e que dão significado ao passado e ao futuro. Esses

símbolos se referem à passagem dos mortos nos caminhos do além, com o

intuito de alertar as pessoas para o que as aguarda no final da vida.

A psicóloga analisa os símbolos que frequentemente aparecem nas

urnas: a coruja, nessa cultura sugere que a morte e a regeneração são

experiências inseparáveis; a serpente, por sua vez, está associada ao universo

da águas, à origem da vida e aos movimentos sísmicos. Penna (2007), afirma

que os rituais funerários satisfazem o anseio de superar a morte: o homem não

aceita a finitude, e talvez o símbolo de regeneração funcione como força para

sustentar a ideia de continuidade. A autora valoriza as imagens indígenas e

acredita que essa cultura pode influenciar a sensibilidade de novas gerações.

Penna (2010) em seu estudo sobre mitos indígenas da Amazônia

seleciona três mitos, de acordo com sua importância na conceituação de

significado de vida e com a maneira como esse povo apreende o mundo.

Afirma que “os mitos indígenas dão acesso a uma forma de saber que

interpreta o sentido da vida de maneira original, criando uma cosmogonia do

(23)

devemos difundir a mitologia em nossa cultura, principalmente entre as

crianças e jovens; para ela, os mitos podem auxiliar na superação de

problemas que nossa sociedade enfrenta, principalmente em relação a

questões ambientais.

Em síntese, pode-se afirmar que, na maioria dos estudos, há um

grande interesse por conhecer os hábitos e costumes da população indígena,

principalmente no aspecto da saúde, trazendo dados relevantes à pesquisa

proposta. Por outro lado, mesmo sendo minoria, os trabalhos com enfoque

psicológico apresentam maior profundidade e significância para esta pesquisa,

uma vez que validam e reafirmam a importância de se trabalhar com a

mitologia indígena, como uma possibilidade de conexão com a natureza e

consequentemente com a vida.

Após a apresentação do universo indígena, neste capítulo, serão

(24)

4 A PSICOLOGIA ANALÍTICA E OS MITOS

Para a compressão simbólica da mitologia indígena na visão da

psicologia analítica, é imprescindível que se defina o que entendemos por mito,

e pelos conceitos de inconsciente coletivo, arquétipos, transformação de

energia e símbolo desenvolvidos por Jung.

4.1 Mitos

Segundo Eliade (2000, p.11), “o mito é uma realidade cultural

extremamente complexa, que pode ser abordada e interpretada através de

perspectivas múltiplas e complementares”. Para o autor, esta é a melhor

definição de mito:

O mito conta uma história sagrada; ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo fabuloso do princípio. Em outros termos, o mito narra como, graças às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. É sempre, portanto, a narrativa de uma “criação”; ele relata de que modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente (ELIADE, 2000, p.11).

Eliade (2000) considera a importância de se tratar o mito como uma

história verdadeira e extremamente preciosa por seu caráter sagrado, exemplar

e significativo. Ele deve ser considerado como uma história sagrada, porque

sempre se refere à realidade de diferentes povos. Ao relatar a proeza dos

Entes Sobrenaturais e a manifestação de seus poderes sagrados, o mito

torna-se o modelo exemplar de todas as atividades humanas significativas. “Sua

(25)

atividades humanas significativas: tanto a alimentação ou o casamento, quanto

o trabalho, a educação, a arte ou a sabedoria” (ELIADE, 2000,p. 13).

Os mitos revelam a origem do Mundo e todos os acontecimentos

primordiais em consequência dos quais o homem se converteu em um ser

mortal, sexuado, organizado em sociedade. “O mito lhe ensina as “histórias”

primordiais que o constituíram existencialmente, e tudo que se relaciona com

sua existência” (ELIADE, 2000, p.16).

De modo que explorar os mitos é aprender o segredo da origem e da

existência das coisas. Conhecer a origem é refletir sobre as memórias que

constituem a humanidade, e de modo mais particular, refletir sobre a existência

e experiência de cada um de nós diante de um todo maior cultural, simbólico,

identitário. Em resumo, o conhecimento dos mitos fornece elementos para

refletirmos sobre encruzilhadas morais, emocionais, sobre desafios das mais

diversas ordens que todos enfrentamos em nossa jornada humana. Por isso,

os mitos são sempre atuais e vivos.

Para Campbell (2004) os mitos são pistas para as possibilidades

espirituais da vida humana, ensinam o indivíduo a voltar-se para si mesmo e

assim a captar suas mensagens simbólicas.

Eliade (2000) aponta para a importância de se viverem os mitos, o que

implica uma experiência religiosa distinta da experiência da vida cotidiana. Eles

são um ingrediente vital da civilização humana, desempenham funções

fundamentais, como a de garantir a eficácia do ritual e oferecer regras práticas

para a orientação do homem. A vivência do sagrado proporcionada pelo

acesso aos mitos pode servir de ligação entre o homem e o transcendente,

(26)

maior à existência. Em relação às experiências de morte, esse aspecto

transcendental dos mitos tem grande importância, uma vez que a dimensão do

morrer traz reflexões profundas sobre as possíveis conexões entre a

humanidade e o mundo sobrenatural. A ideia de continuidade do ser em outra

forma física é algo bastante presente nos mitos de morte, que trazem, em sua

maioria, a espiritualidade como tema central.

Campbell (2004, p.4) defende a importância dos mitos ainda nos dias

atuais, pois os temas relatados por eles dão sustentação à vida humana:

“construíram civilizações e religiões através dos séculos, têm a ver com os

profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos

limiares da travessia humana”. No momento mais sombrio desponta a luz, a

mensagem de transformação surge, fazendo com que do fundo do abismo,

desponte a voz da salvação. Os mitos relacionados à morte aproximam o

indivíduo a um tema sombrio e doloroso, no entanto contribuem com seu

desenvolvimento respondendo de maneira simbólica a uma questão

fundamental da alma.

Jung (2008), afirma que muitos teóricos de sua época contemplavam

a mitologia em seus estudos, no entanto nenhum deles se preocupava em

observá-los como manifestações da psique, de modo que ele acrescentou uma

dimensão intrapsiquica a esses estudos.

De acordo com Jung (2008, par.7), o homem de culturas nativas:

não se interessa pelas explicações objetivas do óbvio, mas, por outro lado, tem uma necessidade imperativa, ou melhor, a sua alma inconsciente é impelida irresistivelmente a assimilar toda experiência externa sensorial a acontecimentos anímicos.

(27)

não basta ver o Sol nascer e declinar; esta observação exterior deve corresponder -para ele- a um acontecimento anímico, isto é o Sol deve representar em sua trajetória o destino de um deus ou herói que, no fundo, habita unicamente a alma do homem. Todos os acontecimentos mitologizados da natureza, tais como o verão e o inverno, as fases da lua, as estações chuvosas, etc., não são de modo algum alegorias destas, experiências objetivas, mas sim, expressões simbólicas do drama interno e inconsciente da alma, que a consciência humana consegue apreender através de projeção – isto é, espelhadas nos fenômenos da natureza(JUNG, 2008, par. 7).

Assim como Eliade (2000), Jung (2008) vê nos mitos o relato de um

mundo anterior originário, com pressupostos e condições espirituais que

podem ser observados em alguns povos ainda hoje. Trata-se de formações

tradicionais de idades incalculáveis, por isso são encontradas em lugares

diversos e distantes. Esses são fenômenos que revelam a natureza da pisque.

Os mitos condensam experiências típicas, pelas quais os humanos

passaram durante milênios. Por isso temas idênticos são encontrados nos

lugares mais distantes e diversos (SILVEIRA, 1974).

A psicologia junguiana se interessa por mitos, sonhos e contos de

fada, pois estes contribuem para a compreensão da psique universal. “Nos

mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais elaborado obtêm-se

as estruturas básicas da psique humana através da grande quantidade de

material cultural” (VON FRANZ, 2003, p.25).

A mitologia do ponto de vista da psicologia analítica é parte

indispensável do trabalho do psicoterapeuta e pesquisador junguiano.

4.2 Inconsciente coletivo e arquétipo

O conceito de inconsciente para Jung amplia-se para o inconsciente

(28)

conteúdos pessoais e coletivos. Os primeiros se referem a conteúdos da

história pessoal – que incluem aspectos familiares, experiências de vida, fases

do desenvolvimento, entre outros acontecimentos específicos a cada sujeito. Já

o inconsciente coletivo se refere a conteúdos arquetípicos, cargas de energia

psíquica comuns a toda a humanidade.

Os conteúdos inconscientes podem ser reprimidos, negados,

desconhecidos ou apenas adormecidos em nós.

Arquétipo significa um “Typos” (impressão, marca-impressão), um

agrupamento definido de caracteres arcaicos, que, em forma e significado,

encerra motivos mitológicos, os quais surgem em forma pura nos contos de

fada, nos mitos, nas lendas e no folclore (JUNG, 2003, par. 80).

O arquétipo tornou-se assim o criador do reino ilimitado dos mitos,

contos, fábulas, epopéias, baladas, dramas e romances, vemos sua atuação

impressionante em todas as grandes obras atemporais da arte, que ligam o

inesgotável passado arcaico ao futuro longínquo. (JACOBI, 1995, p. 74).

Jung (2008) define inconsciente coletivo como inato, como um estado

profundo da psique, e opta pelo termo coletivo, pois afirma que o inconsciente

é de natureza universal. “Em outras palavras, são idênticos em todos os seres

humanos, constituindo, portanto um substrato psíquico comum de natureza

psíquica suprapessoal que existe em cada indivíduo”(JUNG, 2008, par.3). O

inconsciente coletivo pode se diferenciar do pessoal pelo fato de não existir

através da experiência pessoal, os conteúdos do inconsciente coletivo nunca

estiveram na consciência, mas devem sua existência apenas à estrutura da

(29)

Podemos apenas inferir a existência do inconsciente coletivo, a partir

de imagens e símbolos que surgem nos mitos, contos de fadas e sonhos.

Segundo Jung (1999, p.XXII):

Além das origens pessoais evidentes, a fantasia criadora dispõe do espírito primitivo esquecido e há muito soterrado, com suas imagens peculiares que se revelam nas mitologias de todos os tempos e de todos os povos. O conjunto destas imagens forma o inconsciente coletivo que todo indivíduo traz em potencial, por hereditariedade. É o correlato psíquico da diferenciação do cérebro humano. Isto explica porque as imagens mitológicas podem reaparecer sempre, espontaneamente e concordantes entre si, não só em todos os recantos deste vasto mundo, mas também em todos os tempos. Por isso também é natural que possamos relacionar, sem dificuldade, mesmo os mitologemas temporal e etnicamente mais distanciados com um sistema fantasioso individual. Pois a base criadora é sempre a mesma psique humana e o mesmo cérebro humano que, com variações relativamente pequenas, funcionam em todo lugar do mesmo modo.

Para Jung (2008, par.89), o conceito de arquétipo “constitui um

correlato indispensável da ideia do inconsciente coletivo, indica a existência de

determinadas formas na psique, que estão presentes em todo tempo e em todo

lugar”; todavia, alerta que os arquétipos “são determinados apenas quanto à

forma e não quanto ao conteúdo”(par.155). Isso quer dizer que um arquétipo

traz um tema comum, mas sua expressão é atualizada pelas ações, escolhas e

história de cada indivíduo. A forma é comum a todos, mas seus conteúdos são

pessoais.

O arquétipo é definido como uma forma universal presente e

hereditária, que compõe a estrutura do inconsciente em sua totalidade. A

imagem arquetípica ao tornar-se consciente a partir da experiência do sujeito

só poderá ser determinada quanto a seu conteúdo. Jung compara arquétipo ao

sistema axial de um cristal, pois este possui uma pré-forma, apesar de não

(30)

O arquétipo se apresenta como princípio de uma experiência,

canaliza o instinto puro para formas mentais, fazendo a conexão entre natureza

e espírito. É constituído por um agrupamento de caracteres arcaicos, que se

apresentam nos contos de fadas, mitos e lendas. As imagens oníricas e

metafóricas produzidas pelo inconsciente permitem que a psique fale de si

mesma e que os arquétipos se revelem “em sua combinação natural, como

formação, transformação, eterna recriação do sentido eterno”(JUNG, 2008

par.400).

Ao contemplar os mitos relacionados à morte e os arquétipos neles

presentes, pode-se compreender o ciclo de princípio e fim de tudo e as

metáforas para as perdas e as mudanças de fases da vida.

Por isso é importante que se valorizem os arquétipos, pois constituem

um bem inalienável de toda a psique, o tesouro no campo dos pensamentos

obscuros. O arquétipo e o símbolo estão intimamente relacionados: quando a

imagem arquetípica pode ser percebida pelo consciente, torna-se um símbolo.

Para entendermos o conceito de símbolo faz-se necessário explorarmos o

conceito de transformação de energia.

4.3 Transformação de energia

A definição do conceito de energia psíquica de Jung foi influenciada

pela concepção de vontade de Schopenhauer. Jung contrapõe-se o conceito

de libido de Freud, que a caracteriza como essencialmente restrita e

condicionada à energia sexual.

(31)

foi ditada pela situação da teoria da libido na época, cuja conceituação não me permitia explicar distúrbios funcionais que afetam outras áreas tanto quanto a sexualidade, através de uma teoria sexualista unilateral. Ao invés da teoria sexual das Drei Abhandlungen, pareceu-me mais adequado um conceito energético. Ele me tornou possível identificar a expressão “energia psíquica” com o termo “libido”. Este último indica um desejo ou impulso que não é refreado por qualquer instância moral ou outra. A libido é um appetitus em seu estado natural. Filogeneticamente são as necessidades físicas como fome, sede, sono, sexualidade e os estados emocionais, os afetos, que constituem a natureza da libido(JUNG, 1999,par.194).

A psique é descrita como um sistema fechado, em que a energia

psíquica está em fluxo constante, do consciente para o inconsciente, e

vice-versa. Essa metáfora pode ser utilizada para explicar psicologicamente a

maneira como a psique tenta manter seu equilíbrio: os conteúdos conscientes

se tornam inconscientes em decorrência da perda de energia, e, inversamente,

os processos inconscientes se tornam conscientes devido a um aumento de

energia. Essa energia não é somente o instinto sexual, mas indiferenciada, ela

leva à formação de diferentes símbolos de grande importância para a psique.

Jacobi (1995) descreve a transformação da libido como resultante

do contínuo unir e separar de dois elementos opostos, que se manifesta como

síntese de tese e antítese e, por isso, pode ser denominada “bipolar”.

Portanto o símbolo, de síntese em síntese, é capaz de transformar a

libido.

4.4 Símbolo

Jung (1964) compreende o símbolo como uma imagem familiar na

vida diária do sujeito, no entanto, essa imagem necessariamente deve

(32)

convencional. O autor define o símbolo como “a imagem de um conteúdo em

sua maior parte transcendental ao consciente. É necessário descobrir que tais

conteúdos são reais, são agentes com os quais um entendimento não só é

possível, mas necessário” (JUNG, 1999, par. 114).

Uma palavra ou imagem é simbólica quando implica alguma coisa

além do seu significado manifesto imediato, que, no entanto, nunca é

precisamente definido. Quando nossa mente explora um símbolo, ela é

conduzida a ideias que estão fora do alcance da razão, não podendo defini-lo

ou explicá-lo.

Kast (1997) define o símbolo como algo composto, isto é, apenas

quando combinado é um símbolo. Pode-se observar esse símbolo em dois

níveis: algo externo pode-se revelar algo interno, em algo visível algo invisível.

Constata que nesse processo, o símbolo caracteriza um excedente de

significado, o qual nunca poderemos esgotar.

Jung (1999), assim como Jacobi (1995) salienta a importância em

diferenciar o símbolo de signos e alegorias: se algo é ou não símbolo, isso

depende do ponto de vista do consciente que o contempla. É possível que um

mesmo fato ou objeto seja um símbolo para um homem e apenas um signo

para outro. A definição mais completa da palavra símbolo é traduzida do termo

em alemão. Significa imagem com dois sentidos:

o sentido como o elemento integrante do consciente reconhecedor e formativo e a imagem como matéria-prima substancial do criador seio primário do inconsciente coletivo que, pela união com o primeiro, recebe o seu significado e forma (JACOBI, 1995, p.88-89).

Para Jacobi (1995) o símbolo tem duas capacidades: a de levar à

dissolução de tensões, por ser a manifestação visível de cargas energéticas de

(33)

atingir um novo nível pela impressão nova que seu sentido causa no evento

psíquico, evocando assim aglomerações energéticas novas. O símbolo é

considerado um transformador psíquico de energia, que conduz a libido. A

qualidade mediadora do símbolo pode ser considerada um dos equipamentos

mais engenhosos e importantes da ‘administração’ psíquica. Os arquétipos são

elementos estruturais da psique e possuem certa autonomia e energia

específica, podendo atrair os conteúdos do inconsciente a eles adequados.

Jung (1999, par.344) afirma que “a psique cria símbolos cuja base é o

arquétipo inconsciente e cuja imagem aparente provém das ideias que o

consciente adquiriu”. O símbolo do ponto de vista psicológico é verdadeiro, no

entanto não pode ser considerado uma verdade concreta. Este foi e continua

sendo a ponte para as maiores conquistas da humanidade, sua vivência é tão

impressionante quanto comovente.

Os símbolos são expressões pictóricas cativantes. São retratos

indistintos, metafóricos e enigmáticos da realidade psíquica, uma invenção

inconsciente em resposta a uma problemática consciente.

Para Kast (1997), entramos em contato com os símbolos através das

imagens oníricas. Os símbolos se mantêm durante a vida, em alguns

momentos são mais importantes, em outros passam para segundo plano, e a

história de vida pode ser modificada e reconstruída através dos símbolos.

Boechat (2007, p. 21) considera que a imagem é linguagem

fundamental da alma e que os símbolos são a chave para a compreensão das

imagens.

Jacobi (1995) salienta que reconhecemos o símbolo quando o

(34)

percebido pelo consciente, “poderíamos dizer que o “arquétipo em si” é,

essencialmente, energia psíquica aglomerada, mas o símbolo é agregado pelo

modo como a energia aparece e se torna justamente constatável”( p.73).

Os antagonismos são anulados através dos símbolos, a união

mantém a vida psíquica em constante fluxo. Portanto o símbolo tem a

capacidade de atrair nossa atenção para uma nova posição que, se

apropriadamente compreendida, amplia a personalidade existente, além de

solucionar o conflito.

A amplificação e elucidação dos símbolos emergentes nos mitos

apresentados permitirá uma leitura compreensiva do tema focado,no tocante à

(35)

5 MORTE E SEU SIMBOLISMO

A morte vem de longe Do fundo dos céus Vem para os meus olhos Virá para os teus Desce das estrelas Das brancas estrelas As loucas estrelas Trânsfugas de Deus Chega impressentida Nunca inesperada Ela que é na vida A grande esperada! A desesperada Do amor fratricida Dos homens, ai! dos homens Que matam a morte Por medo da vida.

(A Morte Vinícius de Moraes)

Segundo Jung (1984) a vida é um processo energético, como

qualquer outro, mas, como todo processo energético é irreversível e, por isto, é

orientado univocamente para o estado de repouso. Todo processo energético

se assemelha a um esportista que se empenha para alcançar sua meta, sem

poupar esforços. Estabelece um paralelo entre as dificuldades encontradas

pelo jovem em busca da conquista da vida, e pelas pessoas idosas quando se

atinge o amadurecimento biológico. Nesses diferentes momentos, esses

indivíduos podem apresentar resistências neuróticas, depressões e fobias, ou

seja, medo da vida. A vivência e a expectativa psicológica muitas vezes não

correspondem ao corpo biológico.

(36)

medo que antigamente nos paralisava diante da vida, agora nos paralisa diante da morte (JUNG, 1984, par. 799).

Ao negarmos o envelhecimento e a morte nossa consciência paira no

ar, enquanto a parábola da vida desce cada vez mais rapidamente. Muitas

pessoas se petrificam na idade madura, não conseguem se desvencilhar do

passado e carregam um medo secreto da morte no coração. Esta não pode ser

considerada sem sentido ou vazia, ela é a realização de uma vida.

A recusa em aceitar a plenitude da vida equivale a não aceitar o seu fim. Tanto uma coisa como a outra significam não querer viver, e não querer viver é sinônimo de não querer morrer. A ascensão e o declínio formam uma só curva (JUNG,1984, par. 800).

Kovács (1992, p.28) afirma que “o homem é determinado pela

consciência objetiva de sua mortalidade e por uma subjetividade que busca a

imortalidade”. A autora afirma que a morte faz parte de todo desenvolvimento

humano, está presente em toda a existência e terá sempre um significado

marcante em cada trajetória de vida. O homem entra em contato com a morte

desde a mais tenra idade, que é caracterizada como ausência, perda,

separação e desamparo. No entanto, busca a vida eterna, a juventude e beleza

negando a velhice e as perdas.

Ao afastar a morte da consciência o homem está retrocedendo: a

experiência da morte é tida como limite e auxilia no crescimento e

desenvolvimento humano. Ela está diretamente relacionada à vida e o homem

terá que ser responsável tanto por uma quanto pela outra. O ser humano terá

(37)

A partir do século XX a morte se torna motivo de vergonha: os

valores se invertem, e a sociedade faz um grande esforço para que a morte

não seja percebida. O local da morte é transferido do lar para o hospital, e cada

vez menos as pessoas entram em contato com ela. O homem sendo o único

ser consciente de sua mortalidade e finitude, não está preparado para lidar com

sua própria morte. “A sociedade ocidental com sua tecnologia está tornando o

homem inconsciente e privado de sua própria morte” (KOVÁCS, 1992).

Kovács (1996) afirma que o homem busca a imortalidade, desafia e

tenta vencer a morte desde a antiguidade. Nos mitos essa busca é simbolizada

pela morte do dragão ou dos monstros, façanha conseguida pelos heróis, mas

os mortais não, que não buscam a vida eterna e sim a juventude eterna, a força

e a beleza. Durante nosso processo vital, enfrentaremos a morte diversas

vezes, como em fases do desenvolvimento, de separações, de doenças; como

humanos, sabemos que ela existe e que nos dá significado de vida. Mas, por

não sermos divinos, não sabemos quando nem como ela ocorrerá.

Segundo Penna (2007) os indígenas acreditam que há uma

transformação da alma após a morte e é preciso lutar para escapar dos perigos

infernais que aguardam quem deixa esse mundo. Os truques, as fórmulas

mágicas e as rezas para atravessá-lo se aprendem em vida. O medo do

aniquilamento é tão fundamental que gera criações de mitos, rituais, preces e

treinamentos que propõem a continuidade da consciência além da morte.

Para Freitas (1992, p.112) o tema da morte é importante, “pois coloca

limites à nossa razão, consciência e capacidade de apreensão e percepção, ou

seja, à nossa perspectiva de vida”. Na perspectiva da psicologia analítica o

(38)

dolorosa, expresso pela alquimia por meio de símbolos da morte, mutilação ou

envenenamento. À medida que o ego admite a morte, constela-se a vida nas

profundezas. As vivências de nascimento e morte, presentes em cada

experiência de transformação durante a vida, não são sinônimos de começo e

fim, mas do conteúdo do potencial de desenvolvimento. É necessário um

sacrifício a cada avanço, e este é vivenciado como morte.

Byington (2008) salienta que a função sacrificial é de grande

importância na elaboração simbólica: o sacrifício intermedeia a relação dos

humanos com os deuses em praticamente todas as culturas e representa a

relação de reverência do ego em face dos arquétipos.

Ao abrir mão de algo que esteja sob controle do ego em troca de uma

dádiva que beneficie o self, a oferenda se torna sagrada, por isso podemos

considerar o sacrifício como troca. Nesse contexto, sacrificar é sacralizar. O

sacrifício é sempre uma troca entre um poder menor e um maior, e ao ser

realizado, o objeto sacrificial é elevado à condição de intermediário entre dois

poderes e, por isso, sacralizado. O símbolo ofertado propicia a abertura da

consciência e do ego que, ao se desapegarem de valores já conquistados,

recebem novos conteúdos energéticos que contribuirão para seu

desenvolvimento.

Segundo Alvarenga (2005) a vida e a morte, o envelhecer e o morrer

são realidades humanas expressas pela mítica, constituindo-se em condições

arquetípicas cujas compreensões auxiliam para que indivíduo se conheça

melhor. Para a transformação da psique é imprescindível que o homem entre

em contato com a vivência simbólica da morte, a qual possibilitará o

(39)

pessoa a enfrentar a morte literal; há uma consciência de transformação do dia

a dia que se alia ao sentido de eternidade.

Os mitos nos fazem entender o viver e o morrer. O entendimento não é

lógico, mas traduz a forma de explicar a realidade do indivíduo de ser e de

estar no mundo. A morte é um fenômeno da vida:

A morte simbólica, como rito de passagem, propicia transformações traduzidas como flutuações do estado da consciência, que talvez se somem e, num determinado momento, essas flutuações tornam-se tão poderosas que impelem a psique a uma instabilidade que promove a instauração de uma dimensão nova de consciência. Podemos entender que a antevisão e a própria vivência de morte constitui-se como veículo de integração simbólica dos mais poderosos (ALVARENGA, 2005, p.104).

A autora explicita que a vivência simbólica de morte significa o

confronto com a sombra bem como com tudo que é desconhecido. No primeiro

momento o sujeito se assusta, mas no momento em se apropria de sua

vivência adquire autoconhecimento.

A consciência da morte precisa ocupar uma posição primordial na

existência do homem, já que o apego excessivo à vida e a negação da morte o

deixam solitário e desprotegido e cria uma falsa sensação de poder. Os mitos e

os ritos sobre mortes são incontáveis, eles foram criados e sobreviveram na

tentativa de auxiliar o homem a entrar em confronto com a morte.

O conceito de individuação de Jung (2007) nos auxilia na

compreensão do tema, no sentindo de ampliar o significado de vida e colaborar

com a preparação para a morte. Esse conceito foi definido como um caminho

de assimilações sucessivas que conduz a uma meta distante, ou seja, à plena

(40)

Jung (2007) assim como Jaffé (1995) explicita que se pode equiparar

a vida à individuação, pois toda vida imbuída de um sentido faz com que a

morte seja experienciada. Vivemos para alcançar o maior grau possível de

conscientização.

Ao explorar os símbolos sobre a morte representada na mitologia

indígena brasileira, entraremos em contato com o imaginário da morte, em

nossa cultura nativa, o que nos possibilita a ampliação de consciência via

imaginário coletivo.

5.1 Símbolos mitológicos

Von Franz (1995) afirma que alguns símbolos são recorrentes na

mitologia em geral e em sonhos que relatam a morte. Esses símbolos teriam a

função de auxiliar o indivíduo a compreender e a assimilar conteúdos

inconscientes pelo ego. Os símbolos como os da árvore, de vegetais, de

plantas, de flores e de estrelas aparecem com frequência e estão relacionados

com o mistério psíquico da morte e da ressurreição. A flor simboliza a

totalidade à qual a alma se recolhe após a morte, a estrela o caráter único e

eterno do morto.

Outros símbolos importantes apontados pela autora são os do fogo e

da água. O simbolismo do fogo está relacionado ao forte estado de excitação

emocional na hora da morte, e isso refletiria a luta entre a energia psíquica e a

vida psíquica que está prestes a se desprender do corpo. A água representaria

(41)

Um tema de muita importância é o do sacrifício, que representa a

transformação. A morte é reconhecida como o sacrifício do corpo, o que

significa abdicar de algo em favor de um bem maior. A deificação - divinização

que se caracteriza como se tornar um deus ou se juntar aos deuses – é uma

característica comum apresentada pelos personagens em mitos e sonhos

relacionados ao tema do sacrifício.

Segundo Penna (2007) o símbolo da coruja, o urubu e outras aves

análogas sugerem que a morte e a regeneração são experiências inseparáveis.

Essas divindades representariam parte do processo de transmutação no eterno

ciclo de vida-morte-vida. As aves simbolizam aspectos psicológicos como

iniciadores, protetores e mediadores com o sobrenatural: O mutum, por

exemplo, ave que marca o ritmo da vida cantando de tempos em tempos, era o

responsável por conduzir os guerreiros ao céu dos ancestrais.

Os símbolos acima mencionados estão presentes em alguns mitos

copilados nesta pesquisa e serão apresentados na análise. Temas recorrentes

que foram encontrados - com símbolos que se referem à morte - retratam

guerra e disputa, castigo e vingança, caçadas, espíritos e transformação. É

importante esclarecer que o universo indígena não é único, pois existem

diferentes povos, que, apesar de inseridos num grande grupo indígena

preservam suas distinções culturais e simbólicas; importa, portanto, salientar

que pode haver temas e símbolos diferentes dos encontrados. A segunda

observação a se fazer é que a transformação dos personagens apresentada

nos mitos foi considerada como morte quando o ser se torna em algo diferente

(42)

6 ANÁLISE DOS MITOS

Os mitos selecionados para análise se destacaram por apresentarem

temas relacionados à morte.

Esses temas foram decupados em cinco categorias: 1 castigo/vingança,

2 espíritos, 3 caçada, 4 disputa/guerra e 5 transformação. A partir dessas

categorias foram elaboradas subcategorias de acordo com o tema

apresentado, e tanto umas como outras são apresentadas nos quadros

construídos.

Cada categoria foi analisada em dois quadros diferentes: um

descrevendo as características gerais do mito e o outro as características

específicas do herói.

A primeira categoria analisada é “castigo/ vingança”, com as

seguintes subcategorias: divindades, comida, sexualidade, destruição,

transgressão e desfecho. Na categoria “espíritos” as subcategorias são estas:

identificação dos espíritos, divindades, comida, sexualidade, doença e

desfecho. A terceira categoria apresentada é “caçada”, e as subcategorias são

divindades, objetos mágicos, comida, sexualidade, doença e desfecho. Na

categoria “disputa/guerra” as subcategorias são as seguintes: divindades,

objetos mágicos, comida, sexualidade e desfecho. Por último a categoria

“transformação”: divindades, objetos mágicos, comida, sexualidade,

transformação, criação, castigo, sacrifício e desfecho.

O segundo quadro apresenta características do herói nas seguintes

subcategorias para os cinco temas: identificação do herói, relações, ação/

(43)

Os mitos foram identificados numericamente com finalidade didática

(44)

Quadro A - Castigo e vingança

Mitos Divindades (deuses e semi-deuses) Comida Sexualidade Destruição Transgressão Desfecho

1 O Velho - criador do céu,dos homens e

alimentos - -

A divindade destrói

tudo na terra Os índios deixam de cultuar a divindade

O Velho se transforma na primeira constelação que

apareceu no céu

4 Sumé (1) Canibalismo rivalidade Incesto e - Incesto

O homem vinga-se do irmão de sua mulher, e o outro irmão vinga

a morte do outro irmão. O mito explica como surgiram os

canibais e as guerras

5 Maíra (2)

O herói leva as pessoas à terra -sem-mal, onde

havia abundância

O herói engravida uma

moça sem ter relação sexual, e

é rejeitado.

-

Os índios comem os alimentos sem a permissão do herói, e são

punidos.

Os índios que transgrediram as regras foram transformados em

animais

6 - Canibalismo A mãe dos gêmeos sofreu violência sexual

Os gêmeos destroem a

tribo onde a mãe foi morta

-

Todos morreram e foram transformados em animais carnívoros

7 - Época de fome - - -

Os homens que não acreditaram no herói e tentaram matá-lo,

morreram.

8 Maíra (2) - -

Homens são punidos por Maíra com transformações, e se

vingam

Os Homens não obedeciam os ensinamentos do Deus e

são transformados em animais

(45)

Mitos Divindades(deuses e semi-deuses) Comida Sexualidade Destruição Transgressão Desfecho

20 - - - - Os mensageiros são incumbidos de levar a noite dentro do coco

sem permissão para abrir

Os mensageiros abrem o coco e assim criação da noite

25 - - Traição - A mulher traiu o herói e seu amante tem seu ânus tampado Nunca mais ninguém procurou o herói com medo que ele

tampasse o ânus

29 Gavião animal mítico Canibalismo, gavião mata e come a avó dos heróis

- - -

Gavião mata a avó dos heróis, morre e de suas penas surgem todos os bicho de

asas

31 -

Índio canibal mata e tenta comer criança

da tribo. - - -

O índio canibal que morava na tribo mata criança, seus tios

vigam a criança

32 - - - O povo quer vingar a morte do índio canibal, e os heróis

matam muitos índios

33

Jabuti animal sagrado, que fala a

verdade,palavras sagradas

- - -

Índio que captura o jabuti é perseguido e morto, sua mulher

se casa com jovem que lhe ensina a falar a língua do jabuti,

transmitindo aos seus netos.

Animal mítico é encontrado e índios disputam o mesmo

34 Onça “pai” tinha fogo

Índio foi caçar ficou preso em uma arvore, este comia o

que defecava e bebia o que urinava

- -

A onça “pai” o levou para casa e ordenou a mãe que lhe desse comida, ela não o fez, o índio a

matou, e pegou o fogo.

Explicação porque comem comida cozida e as onças

(46)

Mitos Divindades(deuses e semi-deuses) Comida Sexualidade Destruição Transgressão Desfecho

36 - Mulher vai caçar com filho e trai o marido com a anta

Vingança por

traição -

O filho vê, conta ao pai, e o pai vinga-se matando a anta e a

mulher.

O homem mata a mulher por traição, e os irmãos o matam

por vingança.

37 - -

O índio é picado por

arraia e pratica relação sexual

- - praticar relação sexual quando Explica porque não se pode

é picado por arraia ou cobra

49 - Pesca - - -

A canoa encantada proporcionou fartura para o pescador, mas o matou por

vingança

50 - Disputa por comida - - - comida, eles sobrevivem e se Anta mata os meninos por

vingam.

1- Sumé, divindade que se transforma em onça e conversa com peixes sem precisar pescá-los. Inimigo de Maira, por terem se relacionado com a mesma mulher. Criou a farinha de mandioca, se decepcionou com os homens, foi para o céu e de lá manda chuva para que a mandioca cresça.

(47)

Quadro A.1 Herói na categoria Castigo e vingança

Mitos Herói (identificação) Relações Ação/ Atributos Desfecho

1

O pajé do mel, único que não deixou de

honrar O Velho, e sobreviveu ao castigo

Relação com todo

povo Não deixou de honrar o Velho

É o único que sobrevive

a destruição, e a divindade lhe envia uma mulher para povoar a terra novamente.

4 Ajuru e Suaçu Inimigos Um vinga o abuso da mulher e outro a morte do irmão que abusou da mulher inimigo, ele virou papagaio. Outro se transformou em Houve falha no ritual, e um deles comeu a carne do um veado, pois não recebeu um novo nome.

5 Poxi, feiticeiro não era querido por seu aspecto repugnante

Com a mulher, e todo o povo

Engravida moça da aldeia sem ter relações sexuais. Leva ela para a

terra-sem-mal, e ao convidar as outras pessoas advertindo para que elas não tocassem na comida antes de falarem com ele. Eles transgridem a regras e o

herói se vinga.

Poxi transformou-se no Sol

6 Jaci e Pirapanema Tinham poderes especiais

Mãe adotiva e povo

da tribo Vingaram a morte da mãe Jaci se transformou na Lua e Pirapanema é uma estrela

7 Sumé Todo o povo

Foi atacado pela tribo, pois acreditavam que ele queria envenená-los. No entanto ele ensinou o alimento para matar fome,

a farinha.

Desgostoso com a situação se transformou no Seixu, o Setestrelo

8 Maíra - transformado em homem Todo povo Vinga-se dos homens, explodindo sua cabeça Sua alma continua imortal

20 Mensageiros Com as serpentes Deveriam enviar a noite para a filha da serpente. Sem abrir a entrega

Foram transformados em macacos de boca preta

(48)

Mitos Herói (identificação) Relações Ação/ Atributos Desfecho

29

Kukrut-uíre Kukrut-kako

Irmãos guerreiros Com povo Vingaram a morte da avó Mataram o gavião e todos da tribo foram corta-lo.

31 Kukrut-kako Kukrut-uíre

Irmãos guerreiros Povo

Vingaram a morte do sobrinho morto por

índio canibal Os tios entregam a criança para mãe enterrar

32 Kukrut-kako Kukrut-uíre

Irmãos guerreiros Povo Entraram em guerra com a própria tribo

Cansados de passar pelo resguardo para aqueles que matam. Dão trégua a guerra

33 Índio Mulher Índio caçou o animal sagrado e morto por outros índios Foi perseguido

34 Menino - Menino matou por vingança o animal mítico Menino pegou o fogo da onça

36 Menino - Mata a mulher por traição Morre literalmente

37 TÊDJOARE - Foi picado por arraia, pratica relação sexual e fica louco. povo da aldeia É morto pelo

49 Igaranhã- canoa encantada -

Proporcionou fartura para seu dono, mas o castigou por não ter dado os primeiros

peixes para ela -

50 Meninos -

Meninos não alimentam a anta da maneira que ela gostaria, então ela os mata, eles

ressuscitam, se vingam.

(49)

Quadro B – Categoria espíritos

Mitos (identificação) Espíritos Divindades Comida Sexualidade Doença Desfecho

2

Diversos espíritos os anahanga- almas

dos primeiros mortos- eram os

mais temidos

O Velho-criador do céu e dos homens

Alimentavam-se como animais comiam ervas, raízes e carniça

Não tinham noção de

parentescos, os pais dormiam com as filhas, mães com

filhos...

-

Longe do herói fundador o povo vivia em condições

de grande sofrimento, o mito explica o mundo antes da chegada dos

grandes caraíbas

21 - Deus do bem Tupã - - -

Criança perde o pai e mãe em função de doenças, em seguida também adoece e morre

de tristeza

Mito explica crença em que almas viram

borboletas

26 Mekarõn (espírito) - - - -

A lua se zanga com uma mulher, e quando morre o

filho dessa mulher, então a lua faz com que o espírito de filho não volte

a viver

27 Mekarõn (espírito) - - - - Xamã tenta ressuscitar a filha, mas não consegue

43 Vários espíritos - - - Os espíritos tentam matá-lo, mas o irmão o salva

44

Santi - o pai do mato - aquele que tenta

matar homens e também o espírito que ajuda os pajés na cura e apoio aos

vivos

- -

O homem compara o rosto da coruja como órgão genital

feminino. E a ridiculariza

-

Os homens estavam se preparando para guerra,

alguns deles se desconcentraram para

(50)

 

Mitos (identificação) Espíritos Divindades Comida Sexualidade Doença Desfecho

46 Vários espíritos

Mavutsinim – Primeiro homem a

povoar a terra -

Sexualidade como impureza. Homem

que havia tido relação sexual aparece no final do

ritual

-

O herói fez um ritual seguido de festa para

tentar ressuscitar os mortos. O ritual falha, pois

um homem transgride a regra estabelecida

51 inseparável do herói Amigo homem - - - doente e morre Amigo fica

Os amigos fizeram um pacto, quem morresse primeiro iria procurar a alma do outro. E assim o

Referências

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