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A COMPREENSÃO DO QUE SÃO OS ESPAÇOS PÚBLICOS NO CIBERESPAÇO 1

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Academic year: 2021

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A COMPREENSÃO DO QUE SÃO OS ESPAÇOS PÚBLICOS NO CIBERESPAÇO

1

Flavio Salcedo Rodrigues Moreira

2

; Laiza Fernanda dos Santos Hofmann

3

A internet, com ajuda das redes sociais, desenvolveu um novo ambiente para interação social. Este ambiente possui suas próprias regras de interação e comportamento social similares as do espaço analógico mas em algumas ocasiões apresenta normas totalmente novas. O objetivo deste estudo é analisar qual a concepção dos usuários das redes sociais sobre o que é privado e o que é espaço público nas redes sociais. A principal questão a ser compreendida neste momento é se as personas entendem os murais de publicações das redes sociais como ciberespaços públicos e tudo que é postado ali como de domínio público. A ideia central deste estudo está voltada para a visão do usuário comum do ciberespaço, e suas práticas neste ambiente. Para tanto é feita uma análise de conteúdo através de dez entrevistas estruturadas sobre o que é público e o que são os espaços privados nas redes sociais.

Rheingold (1998) diz sobre a natureza do ciberespaço o seguinte: “Não existe uma única metáfora que transmite completamente a natureza do ciberespaço”. Esta é uma definição que acolhe bem a grandeza simbólica e de possibilidades que o ambiente virtual nos oferece. Lévy (2013, p. 5) diz que “As inovações técnicas abrem novos campos de possibilidades que os atores sociais negligenciam ou apreendem sem qualquer predeterminação mecânica. Um vasto campo político e cultural, quase virgem, abre-se para nós.” Desta afirmação podemos retirar duas proposições. A primeira é que este espaço criado pelas inovações técnicas é povoado por atores sociais. A segunda proposição é mesmo que não haja um órgão regulador do comportamento online, há um “contrato social”, regras de comportamento que guiam a conduta dos atores sociais. O ser humano sempre foi compreendido como um ser gregário e inclinado à interação entre indivíduos ou grupos destes. Sendo assim, já foram feitas várias tentativas de se estudar e definir de forma clara como se dão estas interações e como classifica-las. Na sociologia clássica o conceito de comunidade está ligado basicamente a sete conceitos. O sentimento de pertencimento;

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. Artigo apresentado ao Redes Sociais e Sociabilidade do IX Simpósio Nacional da ABCiber.

2

. Pesquisador e professor do Centro Universitário de São Paulo – Campus Hortolândia. Membro do grupo de pesquisa GECCOM. Mestrando em Comunicação. E-mail: flavio.salcedo@ucb.org.br

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. Pesquisadora e professora do Centro Universitário de São Paulo – Campus Hortolândia. Membro do grupo de

pesquisa GIPEM. Mestre em Mercado pela UEM. E-mail: laiza.hofmann@gmail.com

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territorialidade, permanência, ligação entre sentimento de comunidade, caráter cooperativo, a existência de formas próprias de comunicação e a tendência à institucionalização.”

(PALACIOS, 1995). Howard Rheingold (1996), utilizou o termo Comunidade Virtual pela primeira vez em 1987, ele foi um dos pioneiros nos estudos sobre o desenvolvimento da internet e da construção cultural que ela proporcionou.

Podemos perceber que as redes sociais são ambientes de sociabilidade entre indivíduos de uma comunidade virtual, ou de várias comunidades virtuais diferentes. Redes Sociais são uma coisa antiga. Pelo menos desde o princípio da internet. Licklider e Taylor (1968), já concebiam o ambiente virtual como um lugar povoado por “comunidades on-line interativas”.

Também apresentaram estas comunidades como sendo utilizadas por pessoas geograficamente distantes, mas agrupadas por seus interesses. Uma dessas plataformas de interação social é o facebook.com que surgiu em 2004 criado por Mark Zuckemberg. Ele tinha como projeto inicial desenvolver um anuário voltado apenas para alunos de Harvard, mas com o passar do tempo a possibilidade de acesso foi estendida para outras universidades da Ivy League e posteriormente para as demais universidades dos Estados Unidos. Em um mês o thefacebook.com, primeiro nome do site, conquistou 10 mil usuários ativos e hoje possui cerca de 1,11 bilhões de usuários ativos mensais. No início do site ele era extremamente simples, com o passar do tempo e através da observação do comportamento dos usuários, a equipe de desenvolvimento do Facebook foi adicionando funções ao site.

Em setembro de 2005 a equipe de desenvolvimento do site adicionou a ferramenta

conhecida como “mural”. Neste espaço qualquer um poderia escrever algo. Este foi um

grande salto em direção à interatividade. Em setembro de 2006 a equipe de desenvolvimento

do Facebook lançou uma das ferramentas mais controversas desde a criação da empresa,

chama-se Feed de notícias. Segundo Kirkpatrick: “O modelo conceitual para o Feed era o de

um jornal customizado e entregue a cada usuário. O software que calculava quais histórias

deveriam ir para cada pessoa era chamado de “o editor;” (p. 173, 2010). Ao invés de causar

contentamento, houve revolta entre os usuários do site. Eles se sentiam como invasores da

privacidade alheia, mas também sentiam a sua própria privacidade invadida. A revolta

causada pelo Feed fez com que os desenvolvedores do site desenvolvessem novos parâmetro

de compartilhamento e ferramentas de privacidade. Além disso surgiu uma nova discussão

sobre o que é público e privado dentro desta rede social. É interessante notar que essa e todas

as outras alterações desenvolvidas no Facebook foram baseadas em estudos do

comportamento dos usuários no site. Mas acabaram causando desconforto em seus usuários

por produzir um sentimento de invasão de privacidade. Assim, conforme Trivinho (2005), não

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há uma previsibilidade nas formas de comportamento e interação entre homem vs máquina e homem vs homem no ciberespaço. Nesta relação de estímulo e resposta, complexa e imprevisível, surgiu uma nova forma de compreensão e comportamento diante daquilo que muitas vezes causou atritos entre os usuários e o site.

Em relação à diferença entre um espaço público e um privado, os entrevistados foram unânimes em dizer que espaço público é aquele a que todos possuem acesso e privado é aquele que somente um determinado grupo de pessoas pode fazer parte. Quanto à existência de espaços públicos na internet quatro dos entrevistados consideram toda a internet como um grande espaço público. Outros três consideraram apenas as redes sociais como espaço público. Já dois entrevistados disseram que sites de todo tipo, onde não há a necessidade de login, podem ser considerados como públicos. Um dos entrevistados acredita que não há espaços públicos na internet. Esta opinião se baseia no fato de que para ele os espaços públicos físicos são assim considerados por sua função social ligada à captação de impostos para sua manutenção. Transpondo seu entendimento de espaço público real para o ambiente virtual.

Quanto à compreensão sobre o Facebook como um espaço público há uma certa confusão. Todos os entrevistados disseram que sim, consideravam o Facebook como um espaço público e como privado visto que, devido às configurações de privacidades, é possível torná-lo privado ou “público para determinadas pessoas”. Por exemplo os grupos do Facebook e as publicações individuais onde existem opções que restringem o acesso a apenas pessoas escolhidas pelos autores e participantes. Sendo assim, os espaços públicos no Facebook são aqueles em que as configurações assim o permitem. Com relação ao entendimento dos usuários do Facebook sobre as publicações feitas no site como sendo de caráter público ou privado, os entrevistados concordam que nem tudo que é publicado é do interesse de todos e nem tudo publicado no Facebook é, portanto de interesse público. Muitas coisas postadas no site são de caráter exclusivamente privado.

Em relação ao a prática observada de comentar a publicação de algum desconhecido, dois dos entrevistados disseram nunca ter comentado nenhuma publicação de desconhecidos.

Oito dos entrevistados dizem já ter comentado algo de desconhecidos. Os motivos que os

levou a isso foram a curiosidade, estranheza, ou ser algo do seu interesse. As causas que

levaram os entrevistados a tomar conhecimento destas publicações estão diretamente

relacionadas com os mecanismos que levaram a pessoa a efetuar esta ação. Os entrevistados

apresentaram três mecanismos: foram marcados na publicação, algo relacionado a amigos,

apareceu na sua timeline. Eles não conheciam o dono da postagem, mas foram marcados por

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alguém que os conhecia, sendo assim, eles se sentiram no direito de interagir com aquele conteúdo. Aqueles que comentaram algo relacionado a algum conhecido se sentiram no direito de interagir com o conteúdo só porque tinha a ver com esta pessoa. E aqueles que mencionaram o fato de ter aparecido na sua timeline, interagiram pelo fato de que isto apareceu no “seu facebook” sendo portanto algo público para eles.

Também foi proposta a situação inversa: qual a reação dos usuários do Facebook ao ter uma publicação sua comentada por um estranho? Podemos dizer que todos os entrevistados já tiveram alguma publicação sua comentada por um estranho, mas que as reações foram diversas. Alguns acharam normal e sem importância. Um entrevistado achou “legal, porque quanto mais visibilidade você tem no Facebook né, é legal”. Outros acharam algo estranho e desconfortável. Outros acharam engraçado ou ficaram surpresos. Para eles, o público e o privado estão diretamente relacionados às configurações de segurança oferecidas pelo site. E embora elas restrinjam o acesso apenas àqueles a quem interessar a informação sempre se torna pública para aqueles passam pelos filtros. Desta forma, tudo que aparecer em sua timeline faz parte do espaço público que eles configuraram. Com isto, há uma dissolução dessas fronteiras. Não há, portanto espaços públicos ou privados claramente determinados. É uma concepção totalmente construída pelo usuário. Esta nova compreensão, pode permear o mundo off-line e trazer ao espaço analógico novas regras de conduta e comportamento, e causar grande impacto nas discussões sobre democracia e liberdade. Cabe aqui concluir este trabalho com o pensamento de Corrêa (2009, p. 50), “As práticas ciberculturais num futuro próximo deverão ocorrer sob uma nova instância de auto regulação do público e do privado, condicionada às características da ubiquidade e dos protocolos computacionais. Iniciamos um novo ciclo de saberes/vivências”.

Palavras Chave: Ciberespaço; Espaço Público; Facebook.

Referências Bibliograficas

CÔRREA, Elizabeth Saad. A Cibercultura e Seu Espelho: Campo de conhecimento emergente e nova vivência humana na era da imersão interativa. São Paulo: ABCiber; Instituto Itaú Cultural, 2009.

KIRKPATRICK, David. O Efeito Facebook: Os Bastidores da Empresa que Conecta o Mundo.

Intrínseca: Rio de Janeiro, 2010.

LÉVY, Pierre. A Inteligência Coletiva - Por uma Antropologia do Ciberespaço. São Paulo: Loyola,

2013.

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LICKLIDER, J. C. R., TAYLOR, Robert W. The Computer as a Communication Device. Palo Alto:

Digital Systems Research Center, 1968. Online em: http://memex.org/licklider.pdf

PALACIOS, Marcos Silva. Cotidiano e sociabilidade no Cyberespaço: Apontamentos para Discussão. Originalmente apresentado no Encontro Nacional da COMPÓS 1995, no Rio de Janeiro.

RHEINGOLD, Howard A. A Comunidade Virtual. Lisboa: Gradiva, 1996.

TRIVINHO, Eugênio. Introdução a Dromocracia Cibercultural: contextualização sociodromológica da

violência invisível da técnica e da civilização mediática avançada. Revista Famecos: Porto Alegre,

2005.

Referências

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