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O leilão de linhas que não ocorreu (I)

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Academic year: 2022

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O leilão de linhas que não ocorreu (I)

Quando uma seca atinge um pequeno país, por exemplo, o Uruguai, decresce a produção de energia de usinas hidroelétricas. Em países de dimensão continental, como o Brasil, uma seca nunca atinge todo o território e, por essa razão, podemos nos dar ao luxo de depender tanto da hidroeletricidade. Trata- se de uma grande vantagem porque a energia gerada pelos rios é em geral mais barata e menos agressiva ao meio ambiente, principalmente se comparada com as usinas termoelétricas que queimam combustíveis fósseis e contribuem para o efeito estufa.

Para aproveitar essa vantagem, é preciso dispor de uma rede básica, que no Brasil é composta por cerca de 85 mil km de linhas de transmissão em alta tensão. Se fosse espalhada no mapa da Europa, se estenderia de Lisboa a Moscou. É por meio da rede básica que flui a energia produzida numa região com "chuva normal" para ser consumida numa outra, com "chuva insuficiente".

É o que os engenheiros chamam de "transposição virtual de água" pela rede de transmissão. Diminui-se assim o risco de racionamento pelo efeito de uma circunstância meteorológica desfavorável.

Os consumidores atualmente pagam às concessionárias de transmissão cerca de R$ 7,1 bilhões por ano pelo uso da rede básica. Cinco anos atrás, já fazendo a correção monetária para agosto de 2006, eram R$ 3,9 bilhões por ano. Esse notável aumento real de 82% (ou nominal de 233%) deve-se à construção de novas linhas que beneficiam o consumidor, sem que, em geral, ele se dê conta disso. Por exemplo, o atual abastecimento de energia para o Sul do Brasil sofre as conseqüências de duas contingências: a severa seca que atualmente castiga a região e a escassez de energia na Argentina.

Essa segunda contingência tem impedido que contratos de exportação de energia daquele país para o Brasil sejam respeitados, o que significa um decréscimo na oferta energética de cerca de 25% da demanda do Sul. A situação só não é mais aflitiva porque novas linhas - que explicam parte do incremento do custo da rede básica - estão abastecendo Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul com energia gerada no Sudeste. É curioso observar que até recentemente havia alguns opositores, felizmente pouco numerosos, à construção de novas usinas no Sul que, numa atitude pouco solidária, argumentavam ser essa região auto-suficiente em energia elétrica e que não deveria sacrificar o "seu" meio ambiente para ajudar o resto do país.

Hoje é o resto do país que ajuda o Sul.

A expansão da rede básica serve também para conectar eletricamente regiões do chamado Sistema Isolado, localizado na Amazônia, ao Sistema Interligado Nacional. Trata-se de grande vantagem, não apenas para as populações dessa região, mas também para os consumidores de todo o país. Isso porque, como a energia produzida nos sistemas isolados é muito cara, por ser quase totalmente gerada por usinas que queimam óleo, o preço que os consumidores da região amazônica pagam é bem abaixo do custo de produção. Entretanto,

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os consumidores de todo o Brasil pagam a diferença, que em 2006 será da ordem de R$ 4 bilhões. Poucos sabem desse subsídio, que fica embutido na

"conta de luz".

Nesse contexto, é de se festejar a decisão do Ministério de Minas e Energia que, com apoio da Empresa de Pesquisa Energética, decidiu incluir uma linha para conectar os estados de Rondônia e Acre ao Sistema Interligado no leilão de transmissão que deveria ter ocorrido no dia 18 de agosto. Quando essa linha estiver concluída, os consumidores de todo o país passarão a economizar cerca de R$ 80 milhões por mês. Deveria ter ocorrido? Não foi? Por quê?

Na parte 2 deste artigo será explicada a razão da suspensão do leilão de 14 linhas, totalizando mais de 2200 km, com investimento estimado em mais de R$ 1 bilhão.

KELMAN, J. O leilão de linhas que não ocorreu (I). Gazeta Mercantil, Debate, C2, 23/08/0

Referências

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