DEPARTAMENTO DE FÍSICA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇO EM FÍSICA
DIEGO RABELO DA COSTA
ANÉIS QUÂNTICOS SEMICONDUTORES IDEAIS
ANÉIS QUÂNTICOS SEMICONDUTORES
IDEAIS
Dissertação submetida à Coordenação do
Curso de Pós-Graduação em Físia da
Uni-versidade Federal do Ceará, omo requisito
parial para a obtenção do grau de Mestre
emFísia.
Orientador:
Prof. Dr. Gil de Aquino Farias
Co-orientador:
Dr. Andrey Chaves
Universidade Federal do Ceará
Centro de Ciênias e Tenologia
Departamento de Físia
Mestrado em Físia
Anéis quântios semiondutores ideais/ Diego Rabelo
da Costa. - Fortaleza: [s.n.℄, 2011.
180 f.:il.olor
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do
Ceará. Departamentode Físia.
Área de onentração: FísiadaMatéria Condensada.
Orientador: Prof. Dr. Gilde Aquino Farias.
Co-orientador: Dr. Andrey Chaves.
1. Semiondutores. 2. Heteroestruturas. 3. Anéis
quântios I. Título.
ANÉIS QUÂNTICOS SEMICONDUTORES IDEAIS
Dissertaçãosubmetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Físiada
Univer-sidade Federal do Ceará, omo requisito parial para a obtenção do grau de Mestre em
Físia.
Aprovada em: 08/08/2011.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Gilde Aquino Farias
Departamento de Físia UFC
Orientador
Dr. Andrey Chaves
Departamento de Físia UFC
Co - orientador
Prof. Dr. João Milton Pereira Júnior
Departamento de Físia UFC
Agradeimentos
Primeiramente,agradeço aDeuseàminhafamilia,emespeial aosmeuspais Manoel
Gonçalves da CostaNeto eMaria Vilaneide Rabelo da Costa, eaos meus irmãos Thiago
Rabelo e Thays Rabelo, aos quais devo o que sou hoje e por haverem me onedido a
oportunidadede estudar, por todoapoio eajuda queme deramdurante minha vida.
Gostaria de agradeer ao professor Gil de Aquino Farias pela dediação e onança
depositadas em minha pessoa ao longo da realização deste trabalho e nos ursos de
gra-duaçãoe mestrado.
Agradeço aomeu o-orientadorAndrey Chaves pelagrande olaboraçãoepornossas
disussões, que melevaram ainúmerosensinamentosesseniais à elaboraçãoda
disserta-ção.
SougratoaoprofessorRobson Ferreira,doLaboratoirePierreAigrain,EoleNormale
Superieure, Frane, por ter olaborado om esse trabalho, dando grandes ideias para a
realizaçãodo mesmo.
Aos membros da bana examinadora, os professores João Milton e Teldo Anderson,
pelaatenção, por ompareerem àdefesa e pordarem sugestões importantes para
onso-lidaçãoe aprimoramentodadissertação.
Tendoemvistaminhaformaçãoaadêmia,agradeçoasdisussõesetroas deideiasa
todososprofessoresdoDepartamentodeFísiadaUFC,emespeialJosuéMendes,Renan
Landim,Nilson Almeida, José Ramos, Ilde Guedes, André Auto, Murilo Pereira, Maros
Antnio,JeanlexSoares,EloneidFelipe,AntnioGomes,AlejandroAyala,EduardoBedê,
Carlos Alberto, Wandemberg Paiva e Raimundo Nogueira, porontribuirem diretamente
alunosdoursode graduaçãoepós-graduação,poissem oapoiodeles eu não teria
onse-guido,emespeial: AbraãoCefas,AdrianoPolegar,BrunoGondim,DanielGomes,Daniel
Marhesi, Davi Dantas, Davi Monteiro, Diego Luena, Diego Franklin UHUU, Diego
Ximenes, Felipe Moreira, Franiso Arthur, Franiso Leandro, Heitor Credidio, Hygor
Piaget,Hudson Paheo,Igor deBrito,JorgeRoberto, JosiasValentin, Júlio César,Kauã
Monteiro, Leandro Jader, Levi Leite, Rafael Alenar, Saulo Dantas, Saulo-Davi, Vagner
Bessa. Aos amigos do LSBD: Enedilton, Felipe Munarin, Franiso Florênio, Franiso
Neto, Franiso Wellery, Heitor Alves, Ítalo Pereira, João Cláudio, João Philipe, Jorge
André,Jorge Kapuan, Jorge Luiz, Jusiane da Costa, Lui Pinheiro, Marelo Montanha,
Thiago de Melo, Sílvia Helena.
A todos osfunionáriosdo Departamentode FísiadaUFC.
Ao CNPq eà CAPES pelo suporte naneiro.
Enm, agradeço a todos osque me ajudaram, diretaou indiretamente, para a
A iênia serve para nos dar uma ideia
Nos últimos anos, numerosos avanços alançados nas ténias de resimento de
ma-teriais deram origem à formação de várias heteroestruturas de semiondutores, onde se
podem onnar elétrons e buraos em uma ou mais direções, através de barreiras de
potenial. Muitos pesquisadores reentemente têm estudado estruturas de baixas
dimen-sionalidades, tais omo pontos e os quântios, devido à sua importânia em inúmeras
apliações tenológias em dispositivos opto-eletrnios omo, por exemplo, LASERS,
sensores biológios, diodos e transistores. Um exemplo interessante que é alvo de
es-tudonessetrabalhoéaestruturahamadaanel quântio,uma estruturade onnamento
tridimensionalobtidaapósumproessode annealing noresimentode pontosquântios.
No estudo das propriedades opto-eletrnios de anéis quântios, é de grande
impor-tânia alular os níveis de energia dos portadores de arga e as funções de onda a m
deanalisaros autoestadosdosistema. Desse modo,resolvemos aequaçãode Shrödinger
independente do tempo para elétrons onnados em um anel quântio semiondutor na
presença de um ampo magnétio, perpendiular ao plano do anel, utilizando a
aproxi-mação da massa efetiva. Sob algumas aproximações, onsideramos que o onnamento
dentro da região do anel é muito forte, tal que o problema é reduzido à variável
angu-lar, onde a largura e altura ontribuem somente om termos onstantes para a energia
total. Avaliamosnumériae analitiamenteo problema doanel naausênia de qualquer
força externa, obtendo o Efeito Aharonov-Bohm, no qual o espetro de energia osila
periodiamenteom a variaçãodo ampo magnétio.
Estudamos também os efeitos de poteniais perturbativos no espetro de energia de
anéisquântios. Primeiramente, onsideramosoaso de umpotenialgeradopela
aplia-çãode um ampoelétrionoplanodoanel. Enontramos soluçõesanalítiasenumérias
para o problema do anel om e sem um ampo magnétio axial. Mostramos que a
pre-sençadeampoelétrioergueadegeneresêniaangulardosestadosdeenergiadoelétron,
suprimindo asosilaçõesAharonov-Bohm para os níveismais baixos de energia.
Investi-gamos também as inuênias no espetro de energia devido à presença de uma ou mais
impurezaspositivasloalizadasde maneirasimétriaeassimetriamenteaolongodoanel.
Para
N
impurezasigualmenteespaçadas, observamos as osilaçõesAharonov-Bohm para osestadosde menorenergiae aformação de sub-bandasde energiaompostas porN
es-tados,enquanto parasistemasassimétrios oefeitonão foivistoeosestados queformamem sub-bandas, devido à simetria rotaional do anel quântio. Analisamos também o
omportamentodasminibandas,formadaspelosestadosligadosdasuperrede, om
rela-ção aoonnamentodopotenialeomparamoso espetrode energia oma variaçãodo
ampo magnétiopara um e mais poços quadrados. Porm, disutimos os efeitos no
es-petrodeenergiadoexitonnoanelquântio devidoàpresençadeumampoelétrioede
umaimpureza negativa. Mostramosqueos estadosde mais baixaenergia doexitonnão
osilam quando onsideramos o potenial oulombiano de interação elétron-burao, mas
a presença de uma impureza em ertas loalizaçõesergue as osilações Aharonov-Bohm,
que podem ser suprimidas pela adição do ampo elétrio no plano do anel. Expomos
assim o omportamento instável das osilações nas energias exitnias na presença de
Inreent years,the advanesinthematerialsgrowth tehniquesleadtotheformation
of several semiondutor heterostrutures, where eletrons and holes an be onned in
one or more diretions by potential barriers. Lately, many researhers have studied low
dimensionalstruturessuhasquantumdotsandquantumwires,duetotheirimportane
and untold tehnologialappliations in opto-eletroni devies suh as LASERS,
biolo-gial sensors, diode and transistors. An interesting example is the quantum ring, whih
is the subjet of study in this work. This is a three-dimensional onnement struture
obtained afteranannealing proess inquantum dots growth.
In the study of opto-eletroni properties of quantum rings it is quite important
to alulatethe harge arriers energy levelsand wave funtions in order to analyze the
eigenstatesof thesystem. Therefore, wesolvethetime-independentShrödingerequation
foreletrons onned insemiondutorquantum rings inthepresene of amagneti eld
perpendiulartotheplaneoftheringusingtheeetivemassapproximation. Undersome
approximations,we onsider that the onnement insidethe quantum ring region isvery
strong, so that the problemis redued to the angular variable, where the width and the
heightontributeonlywithonstanttermstothetotalenergy. Weinvestigatenumerially
and analytially the problem of a ring in the absene of any external fore, whih leads
to the Aharonov-Bohm eet, where the energy spetrum osillates periodially as the
magneti eld varies.
Wealsostudytheeetsofperturbativepotentialsontheenergyspetrumofquantum
rings. Firstly,weonsidertheaseofapotentialduetoaneletrieldintheplaneofthe
ring. Wendanalytialandnumerialsolutionstotheproblemwithandwithoutanaxial
magnetield. Weshowthat thepresene of aneletrield liftsthe angulardegeneray
of the eletron's energy state, suppressing the Aharonov-Bohm osillationsfor the lower
energylevels. Wealsoinvestigatetheinueneontheenergyspetrumduetothepresene
of one ormore positiveimpurities arranged symmetriallyand asymmetriallyalong the
ring. For
N
impurities equally spaed, we observe Aharonov-Bohm osillations for the lowerenergy statesaswellastheformationofsubbandsofenergy,omposed byN
states, while for asymmetri systems the eet was not observed and the states that form thesubbands no longer ross. Similarly to the ase with impurities, we observe that the
presene of superlatties of square potential wells groups the energy states in subbands
potential and we ompare the energy spetrum with the variation of the magneti eld
forone ormoresquarewells. Finallywedisusstheeetsintheexitonenergyspetrum
due to the presene of an eletrield and a negativeimpurity. We show that the lower
energy states of the exiton do not osillate when we onsider the Coulomb interation
potential between the eletron and the hole, but the presene of an impurity in ertain
positionslifts the Aharonov-Bohmosillations, whih an befurther suppressed whenan
eletriel is added. So, we expose the instability of the Aharonov-Bohm osillationsof
Sumário
1 INTRODUÇO p.25
1.1 Um pouo de história: dispositivossemiondutores . . . p.25
1.2 Estrutura de bandas . . . p.29
1.2.1 Análise qualitativa . . . p.29
1.2.2 O teoremade Bloh. . . p.32
1.2.3 Condições de ontorno de Born-VonKarman . . . p.34
1.2.4 Formação das bandas de energia: os números
n
do teorema deBloh . . . p.36
1.2.5 Esquema de zona reduzida: primeirazona de Brillouin . . . p.38
1.2.6 Modelo de Kronig-Penney . . . p.41
1.3 Condutores, isolantes esemiondutores . . . p.44
1.4 Massa efetiva . . . p.47
1.5 Heteroestruturas . . . p.51
1.6 Connamento quântio . . . p.54
1.7 Anéis quântios . . . p.56
1.8 Efeito Aharonov-Bohm . . . p.59
1.9 Exiton em nanoestruturas . . . p.64
2 ANÉIS QUÂNTICOS IDEAIS p.70
2.1 Modelo teório . . . p.70
2.1.1 Algumas aproximações . . . p.72
2.1.2 A invariânianaesolha dogauge . . . p.73
2.1.3 O Hamiltonianoefetivo doanel quântio ideal . . . p.78
2.2 Solução de um anel quântio ideal na ausênia de perturbação . . . p.80
2.3 Perturbação: Algumas onsiderações . . . p.83
2.3.1 Transformação de gauge . . . p.83
2.4 Método numério . . . p.87
2.4.1 Ténia de disretização: solução unidimensional . . . p.88
2.4.2 Numério versus analítio . . . p.93
3 EFEITOS DE IMPUREZAS E CAMPOS ELÉTRICOS SOBRE O
ESPECTRO DE ENERGIA DE ANÉIS QUÂNTICOS p.95
3.1 Efeitos devido aamposelétrios noplano . . . p.95
3.1.1 Campomagnétio igual a zero . . . p.96
3.1.2 Campomagnétio diferentede zero . . . p.99
3.2 Efeitos de impurezas . . . p.100
3.3 Resultados e disussões . . . p.103
4 POÇOQUÂNTICOSIMPLESESUPERREDESEMANÉIS
QUÂN-TICOS IDEAIS p.116
4.1 Modelo teório . . . p.116
4.2 Poços quântios simples . . . p.121
4.3 Superredes . . . p.122
4.3.1 Com profundidades iguais . . . p.122
4.4.1 Poços quântios simples . . . p.128
4.4.2 Superredes . . . p.132
4.4.2.1 Com profundidades iguais . . . p.132
4.4.2.2 Com profundidades aleatórias . . . p.138
5 EXCITONS EM ANÉIS QUÂNTICOS IDEAIS p.145
5.1 Modelo teório . . . p.145
5.2 Método numério . . . p.155
5.3 Anel rugoso . . . p.156
5.4 Resultados e disussões . . . p.159
6 CONCLUSÕES GERAIS E PERSPECTIVAS p.170
Lista de Figuras
1 (a) Fotograa do primeirotransistor bipolar, onheido omo transistor
de pontodeontato,riadoemdezembrode1947naBellLabs. (b)F
oto-graa dos inventores do transistor: John Bardeen (àesquerda), William
Shokley (ao entro) e Walter Brattain (àdireita)divulgada naapa da
revista Eletronis em setembro de 1948 om título Crystal Triode [5℄. . p.27
2 (a) Fotograa de Jak S. Kilby, da empresa Texas Instruments (à
es-querda),eRobertNoye,daempresaFairhildSemiondutor(àdireita)
[6℄. (b)Fotograadoprimeiroiruitointegradodahistóriadesenvolvido
por Jak S. Kilbyem 1958 [5℄. . . p.28
3 (a)Esquemadeníveisdeenergiaparadoisátomosisolados. (b)Esquema
de níveis de energiapara osmesmos dois átomos em uma moléula
dia-tmia. () Esquema de níveisde energiapara quatroátomos domesmo
tipoemumristalrudimentar unidimensional. Observequeonívelmais
baixonãoédesdobradoapreiavelmenteporque asautofunçõesatmias
para esse nível não sesuperpõem de formasigniativa[9℄. . . p.31
4 Formação de bandas de energia devido à aproximação para N átomos
de sódio, uja onguração eletrnia é
(1s
2
)(2s
2
)(2p
6
)(3s)
, mostrando
expliitamenteo gap entre elas [7℄. . . p.32
5 Potenialperiódioristalinorepresentadograamenteaolongodeuma
linha de íons e ao longo de uma linha nomeio de um plano de íons. Os
írulos fehados são os sítios de íons de equilíbrio; as urvas sólidas
forneem o potenial ao longo da linha de íons; as urvas pontilhadas,
6 Cristal nito em forma de paralelepípedo om 4 élulas na direção de
ada vetor que ompõea élula unitária. . . p.35
7 Energiaspermitidasemfunçãodovetor
k
,paraumaredeunidimensional de periodiidadea
. A linha traejada é a energia para o aso de um elétron livre. As bandas de energia permitidas e proibidas resultantesapareem à direita [9℄. . . p.37
8 Primeira zona de Brillouin para uma estrutura úbia de fae entrada
para ristais tipo Si, GaAs, AlAs, ZnSe e outros. Os pontos marados
são dadosna Tabela1. . . p.38
9 Estrutura de banda de GaAs[12℄. . . p.39
10 (a)Osníveisdeenergiamostradosemumesquemadezonareduzida. (b)
Repetição por todo o espaço
k
da primeirazona de Brillouin formandoo esquema de zona repetida [11℄.. . . p.40
11 (a)Ilustraçãododesloamentodas bandasnasegunda zonade Brillouin
de
±
2π/a
. (b)Esquemade bandasreduzidasàprimeirazona, resultantedesse desloamento [7℄. . . p.40
12 Representação esquemátia de (a) dois estados de energia ligados para
um elétronemum poçode potenialisolado,(b) duasbandasde energia
para um elétron em um onjunto de poços e barreiras periodiamente
espaçados [14℄. . . p.41
13 Representação esquemátia de um (a) ristal de parâmetro de rede
a
e(b) seu potenialreal eaproximado pelomodelo de Kronig-Penney [9℄. p.42
14 Representaçãoesquemátiadeumpotenialperiódioformadoporpoços
de barreiranita. . . p.43
15 (a) Gráo qualitativo mostrando o omportamento da quebra de
de-generesênia
E
omo função do parâmetro∆
. (b) Curva de dispersão16 Esquema das bandasde valênia ede ondução de materiais
semiondu-tores, isolantes e ondutores, onde as regiões em or inza representam
a oupação de elétrons para o estado fundamental,
T
= 0K
. Os mate-riais semiondutores possuem um gap de energiada ordem deKBT
, ao ontrário dos isolantes, que tipiamente têm um gap muito maior queKBT
. Jáos metaispossuema banda de ondução semi-preenhidas à0
K. p.4717 Representação esquemátia das bandas de ondução (BC) e de valênia
(BV). Para a banda de valênia, apresentam-se as bandas para buraos
pesados(HH, heavy hole) eleves(LH, lighthole) [17℄. . . p.50
18 Representação esquemátia de uma heterojunção entre dois
semiondu-tores om gaps diferentes, formandodegraus de potenial parao elétron
na bandade ondução epara o burao nabanda de valênia [19℄. . . . p.52
19 Representação esquemátia do potenialgerado por (a) uma
heterojun-ção dotipo A/B/A entre dois semiondutores diferentes e(b) uma
su-perrede de semiondutores A eB [19℄. . . p.52
20 Representaçãoesquemátiadoalinhamentodasbandasdeonduçãoede
valêniagerado poruma heteroestrutura (a)Tipo-I e(b) Tipo-II [19℄. . p.53
21 Representação esquemátia de uma heterojunção entre dois
semiondu-tores diferentes: (a) formando um potenial de onnamento em um
poço, (b) em um oquântio e () em um ponto quântio. . . p.53
22 Connamento das heteroestruturas em relação à dimensionalidade, de
um materialbulk-3D (a) até o pontoquântio-0D(d), passando porum
poço-1D(b) eum o quântio-2D().. . . p.56
23 Representaçãodomovimentode umportadornoplanodopoço,
apresen-tando um diagramaesquemátio das urvasde dispersão
(kx,y)
no planoxy
e estrutura das sub-bandas [19℄. . . p.5724 Imagem de um ponto quântio InAs/GaAs, obtida por Mirosopia de
Força Atmia[17℄. . . p.57
25 (a), (b), () Imagens de Mirosópio de Força Atmiailustrando a
evo-lução de um anel quântio de InGaN [32℄. . . p.58
27 Esquemadeumexperimentodeduplafendanapresençadeumsolenóide
longo (íruloinza), quegera um ampo magnétio
B
~
em seu interior. As linhas pontilhadas representam os aminhos pelos quais os elétronspassam, e as setas ao redor do solenóide representam a direção do
po-tenial vetor, devido o ampo magnétio estar na direçãoperpendiular
à folha,saíndo damesma. . . p.62
28 (a) Representação esquemátia de geração de exitons [19℄. (b) Níveis
de energia dos exitons em uma estrutura de bandas simples om gap
direto, mostrando que os níveis exitnios estão loalizados abaixo da
banda de ondução [13℄. . . p.64
29 (a) Absorção de fótons em semiondutores de gap direto, mostrando o
limiarde energianeessáriaparaqueaonteçaatransição. (b) Transição
eletrnia do topo da banda de valênia para dois mínimos da banda
de ondução em semiondutores de gap indireto. A transição indireta
envolve fnonsetem energia
Eg
. Atransição diretatem energiaEg
+
E
′
[7℄. . . p.65
30 (a)RepresentaçãoesquemátiamostrandoosexitonsdeFrenkele
Wannier-Mott emuma estrutura ristalina[17, 63℄. . . p.67
31 Representação de um anel quântio (a) bidimensional (plano
xy
) (b)tridimensionalom altura
Lz
, formado porGaAs
naregião doanel. . . p.7132 Representação esquemátia do potenialdo anel quântio nadireção de
ρ
. p.7133 Representação esquemátia da função de Heaviside, também hamada
de função degrau. Ela é uma função desontínua de valor zero para
argumento negativo, e
1
para argumentopositivo. . . p.72 34 Espetro de energia sob a inuênia do uxo magnétio, veriando oefeito Aharonov-Bohm. . . p.82
35 Variaçãounidimensionalaolongodoeixozompassohentredoispontos
adjaentes. . . p.89
36 Espetro de energia de um anel quântio ideal sob inuênia de um
ampomagnétioperpendiularaoplanodoanel,ondeseveriaoefeito
37 Representação da direção do ampo elétrio noplano do anel, ao longo
do eixo
x
. . . p.9638 Gráo mostrando aforma dopotenial elétrio. . . p.97
39 Representação daloalizaçãodaimpureza ionizada(a) vistadotopo do
anel, e (b) vista emperspetiva. . . p.100
40 Representaçãodaloalizaçãodasimpurezasespaçadasdemaneira
aleató-ria. Oparâmetro
w
éopesodaaleatoriedade,representadopeloaroemazul na gura. . . p.102
41 Asloalizaçõesdasinoimpurezasompesos
w
= 0, π/N,
2π/N
, respe-tivamente representadas pelos pontos pretos, vermelhose azuis. O aroemazuldelimitaointervalomáximopara oposiionamentodaimpureza
ao seonsiderar o peso máximo
2π/N
. . . p.103 42 Variaçãodoespetro de energiaomaintensidade doampoelétrio,naausênia de ampomagnétio externo. . . p.104
43 Módulo quadrado das funções de onda do elétron
(Ψ
∗
Ψ =
|
Ψ
|
2
)
omo
função da oordenada angular
θ
, para os ino primeiros estados, na ausênia de ampomagnétio externo e onsiderandoampoelétrio noplano doanel om diferentes intensidades. . . p.105
44 Variação do espetro de energia om as intensidades do ampo
magné-tio e do ampo elétrio em duas perspetivas diferentes para melhor
visualizaçãoda supressão doefeito Aharonov-Bohm. . . p.106
45 Espetrode energiaomofunção doampomagnétioemumanel
quân-tio napresença de (a)uma eduas impurezaspositivas(diametralmente
opostas), (b) três impurezas positivas loalizadas simétria e
assimetri-amente. . . p.107
46 Potenias para três impurezas loalizadas simetriamente (vermelho) e
assimetriamente (preto)aolongo do anel. . . p.107
47 Espetrode energiaomofunção doampomagnétioemumanel
quân-tio na presença de três, quatro e ino impurezas positivas igualmente
espaçadas, expliitando(a)aformaçãodassub-bandasompostaspor
N
48 Espetrode energiaomofunção doampomagnétioemumanel
quân-tio napresença de três, quatro e ino impurezas loalizadas
aleatoria-menteomumpesoxo,dadopor
w
=
π/N
,expliitando(a)aformaçãodas sub-bandasompostaspor
N
estadose(b)osN
+ 1
primeirosestados.p.110 49 Comportamento médio da inuênia do ampo magnétio sobre oes-petro de energia de um anel quântio na presença de três, quatro e
ino impurezas loalizadasaleatoriamenteom um peso xo, dado por
w
=
π/N
,obtidopelamédiade dezrealizaçõesdistintasinluindoo des-viopadrão,expliitando (a) aseparaçãodasub-bandaom ossuessivosníveisde energiae (b) os
N
+ 1
primeirosestados. . . p.112 50 Comportamento médio da inuênia do ampo magnétio sobre oes-petro de energia de um anel quântio na presença de três, quatro e
ino impurezas loalizadasaleatoriamenteom um peso xo, dado por
w
= 2π/N
, obtido pela média de dez realizações distintas inluindo o desvio padrão, expliitando (a) a separação dos níveis sem formação desub-bandas e (b) os
N
+ 1
primeirosestados. . . p.113 51 Espetro deenergiaomofunçãodoampomagnétioedopeso daalea-toriedade na loalização da impureza em um anel quântio na presença
de três, quatro e inoimpurezas. . . p.114
52 Módulo quadrado das funções de onda do elétron
(Ψ
∗
Ψ =
|
Ψ
|
2
)
omo
função da oordenada angular
θ
, para os dez primeirosestados, na pre-sençadetrês,quatroeinoimpurezaspositivasloalizadas(a)simétriae (b) assimetriamente, de maneiraaleatóriaom peso da aleatoriedade
w
= 2π/N
, aolongo doanel. . . p.11553 Poço de potenial de largura
θW
e profundidadeV
0
ao longo da direçãoangular doanel. . . p.121
54 (a) Esboço de duas superredes om
N
= 2
eN
= 3
poços de poten-iais quântios simples na direção angular do anel. (b) Poteniais dassuperredes om
N
= 2
eN
= 3
poços, para oaso em queV
0
= 100ER
. p.123 55 Os em primeiros números aleatórios gerados om as sementes inteiras-37, 0 e 23.. . . p.127
56 Superrede de poços de potenialom profundidadesaleatórias, formada
57 Variaçãodas autoenergiasomo função daprofundidade dopoçode
po-tenial quadradosimples. . . p.128
58 Variação das energias om a largura angular do poço sem ampo
mag-nétio om uma profundidade dopotenial xae de valor
V
0
= 10ER
. . p.130 59 Inuênia do ampo magnétio sobre o espetro de energia do poço noanel. . . p.131
60 Relaçãode dispersãopara(a)seise(b)novepoçossemampomagnétio
om
θW
=
θB
=
π/N
eV
0
= 35ER
. . . p.133 61 (a) Relação de dispersão para dez poços sem ampo magnétio noes-quema de zona reduzida om
θW
=
π/N
eV
0
= 35ER
; (b) Banda ligada darelação de dispersãomostrada separadamenteom osírulosverme-lhos representando apenas os valores inteiros de
k
. . . p.13362 Comportamentodos estadosligadosom relaçãoaoonnamentodo
po-tenial para (a) oito, (b) dez e () dezesseis poços om
θW
=
π/10
. A urvaentralomorvermelharepresentaasoluçãoparaumpoçoquân-tio simples om a mesmalargura angular
θW
=
π/10
. . . p.134 63 Comportamento dos estados de energia om relação à profundidade dopotenialpara dezesseis poços, sendo opontode referêniaparaas
ener-giastomadonofundo dos poços. A urvaentralemor azul representa
a solução para um poço quântio simples om a mesma largura angular
θW
=
π/10
. Alinhapontilhadaemorverderepresentaasoluçãopara o anel quântio idealE/ER
=
n
2
. A setaemor azul mostraadiminuição
da larguradaminibanda quando
V
0
→ ∞
para osN/2 + 1
estados. . . p.13664 Inuêniadoampomagnétiosobreoespetrodeenergiadeuma
super-rede formada om (a)três, (b) quatro e () ino poços om
θW
=
π/N
e
V
0
= 35ER
. . . p.137 65 Variação dos estados ligados da superrede om o aumento dasprofun-didades dos poços de poteniais para oito, dez e dezesseis poços, (a)
omprofundidadesiguaise(b)omprofundidadesaleatórias,semampo
66 Comportamento da média e do desvio padrão para dez realizações
fei-tas das variação dos níveis de energia da superrede om o aumento das
profundidades dos poços de poteniais para (a) oito e (b) dez poços
om profundidadesaleatóriasnaausênia de ampomagnétiotomando
θW
=
π/10
. . . p.14067 Esboço dos poteniais das superredes para (a)
N
= 3
, (b)N
= 4
e ()N
= 5
poçosomprofundidadesiguais(pontilhadoempreto)ealeatórias(pontilhado emvermelho). . . p.142
68 Inuênia do ampo magnétio sobre o espetro de energia para
super-redes formadas ompoços de poteniaispara três,quatro e ino poços,
(a) om profundidades iguais e (b) om profundidades aleatórias, om
θ
W
=
π/10
eV
0
=
−
10
meV. . . p.14369 Comportamentomédiodainuênia doampomagnétio sobreo
espe-tro de energia para superredes formadas om poços de poteniais para
três, quatroeino poços omprofundidadesaleatórias, om
θW
=
π/10
eV
0
=
−
10
meV, obtido pela média de dez realizações distintas in-luindo o desvio padrão, para (a)os2N
estados om as duas primeirassub-bandas e para apenas (b) os
N
primeirosestados. . . p.14470 Representaçãoesquemátia dosvetoresposiçãodoelétron
re
~
edoburao~
rh
noplano do anel.. . . p.14671 Esboço da matriz pentadiagonal em bloos proveniente do esquema de
diferenças nitas no modelo de massa efetiva em duas dimensões. A
matriz é toda nula, exeto nas diagonais representadas pelas linhas
só-lidas e traejadas, isto é, para as diagonais prinipais e suas diagonais
adjaentes dos bloos de matrizes que formam as diagonal prinipal da
matriztotal,paraoselementos
((j
−
1)Ne
+ 1, jNe)
e(jNe,
(j
−
1)Ne
+ 1)
dos bloos dadiagonalprinipal,para asdiagonaisprinipaisdos bloosde matrizes adjaentes aos bloos de matrizes que formam a diagonal
prinipal da matriz total e para a diagonal prinipal nas duas matrizes
inferior esquerda e superior direita. Cada bloo onsistede uma matriz
quadrada
(Ne
×
Ne)
, sendoNe
o número de pontosdisretizados na o-ordenadaθe
. Existem(Nh
×
Nh)
bloos namatriz deHef f
(
exc
)
,ondeNh
é o número de pontos disretizados na oordenadaθh
. Dessa forma, o72 Função de onda proveniente doesquema de diferençasnitas nomodelo
de massa efetiva em duas dimensões.
Ψ
é representada por uma matrizoluna omposta por
Nh
matrizes(1
×
Ne)
. . . p.158 73 Imagens de AFM 2D e 3D mostrando ambos pontos e anéis quântios.Temperatura de resimento igual a
680
0
C. Os diâmetros externos dos
anéis e pontos são de
550
−
580
e230
−
340
nm om alturas7
−
16
e3
−
10
nm, respetivamente [78℄. . . p.15874 Perlesquemátio das superfíiesinternaeexterna de um anel
bidimen-sional om rugosidade [31℄. . . p.159
75 Espetro de energia omo função do ampo magnétio para um elétron
noanelquântioomrugosidadeformadapelopotenialdesuperredeEq.
(5.55) om em, duzentas e quinhentas amadas, tomando-se a largura
angular onstante e de valor igual à
θ
W
= 2π/N
CAM
, para asprofundi-dades de (a) -10meV, (b) -20meVe () -30 meV. . . p.164
76 Pers do potenial rugoso om em, duzentas e quinhentas amadas,
formados tomando-seas largurasangulares de ada amadaomosendo
onstante e de valorigual à
θW
= 2π/NCAM
. . . p.165 77 Espetrode energiadoexitonnoanelquântionaausêniade potenialoulombianode interaçãoelétron-burao. . . p.165
78 Espetro de energia em função doampo magnétio napresença de
po-tenial oulombiano atrativo, dado pela Eq. (5.42), tomando
a
= 50
Åsem apresença de nenhum agente externo. . . p.166
79 Potenialde interaçãoexitnioem meVnapresença de uma impureza
loalizada no ângulo
π
(a) sem e (b) om a presença de rugosidade, om potenialrugosoVrugoso
dadopela Eq. (5.55) para aoordenada do elétron(θe)
e do burao(θh)
, formado por um potenial aleatório omento einquenta amadas eom valormáximo
V
0
de−
5
meV.. . . p.166 80 Energia doestado fundamental emmeV, eixoz
, omo função doampo81 Comportamento dos três primeiros estados do exiton omo função do
ampomagnétio para quatro valores de ampo elétriodistintos(a)na
ausêniae(b)napresençadeumaimpurezanegativaloalizadaem
θ
=
π
e
zimp
= 45
Å. . . p.168 82 Espetro de energia do exiton omo função do ampo magnétio omuma impureza loalizadaem
θ
=
π
ez
imp
= 45
Å variando (a)onúmero de amadas dopoteniale (b) aamplitude darugosidade,e naausêniaLista de Tabelas
1 Coordenadas dos pontosespeiais daprimeira zona de Brillouin. . . p.38
2 Partedatabelaperiódiaqueontemalgunselementosapazesdeformar
ompostos semiondutores. . . p.47
3 Sistemas de dimensionalidade reduzida e seus respetivos números de
graus de liberdade
Dl
e de direçõesde onnamentoDc
. . . p.554 Energia e natureza, direta(d) ou indireta(i),do gap de semiondutores
importantes (àtemperaturaambiente) [7℄. . . p.66
Capítulo 1
Introdução
Neste apítulofaremosuma breveintrodução,abordando demaneirabásiaoneitos
teórios fundamentais que serão de extrema importânia para o entendimento dos
apí-tulossubsequentes. Iniialmentedaremos umavisão doontexto histórioom ênfase na
importâniadananotenologiaesuas apliações. Emseguida,disutiremosoneitos
físi-osqueompõem aanálisedaspropriedadesdeanéisquântios,omoateoriadasbandas
de energia,ateoria damassa efetiva,asonsequênias daredução da dimensionalidadee
apresença de exitons eimpurezas em nanoestruturas.
1.1 Um pouo de história: dispositivos semiondutores
O mundo no séulo XX experimentou grandes transformações eonmias e soiais
devido prinipalmente ao advento da eletrnia e das tenologias relaionadas a ela. O
iníiodo séuloXX, notadamentedurante osanos 1920, foi fundamentalpara tais
trans-formações e desenvolvimento, pois houve um enorme progresso na físia teória om o
apareimento da meânia quântia, fundamentada por Bohr, de Broglie, Heisenberg,
Shrödinger e outros. Os subsequentes investimentos em pesquisa básia e apliada
ga-rantiramospresentes avançosnas áreasientíaetenológia,oqueulminounariação
doramo datenologia mais marante doséulo XX: a eletrnia.
Oiníiodahistóriadodesenvolvimentodosdispositivoseletrniosiniiou-seem1874,
quando Karl Ferdinand Braun (1850 - 1918) onstruiu um retiador om um ristal de
Galena, ou omo é omumente onheido, sulfeto de humbo (PbS), soldado om um
superfíie domaterial,talque airulação daorrenteatravésdoristal é menorem um
dossentidos. Destaformadesobriu-seum aráterassimétriodaonduçãoelétriaentre
metaise semiondutores [1℄.
Lee DeForest,nosEstadosUnidos,inventouem1906aválvulatriodo,umdispositivo
que tornou possível a ampliação de sinais elétrios através de três eletrodos ontidos
em umtuboà váuo: oatodo, queemiteelétronsquando aqueido;o anodo, que reebe
oselétrons; ea grade, situadaentre o atodo eo anodo, que serve para ontrolar ouxo
de elétrons e possibilitar a amplição dos sinais. Existe também o diodo, que possui
apenas dois eletrodos, assim omo o pentodo, que possui ino. O funionamento de
qualquer válvulaé baseado noontrole domovimentodos elétrons entre oseletrodos por
meio de um ampo elétrio atuante sobre sua arga. A ampliação dos sinais, dentre
outros aspetos importantes, possibilitou o surgimento do primeiro e muito importante
produtoda eletrnia: orádio. Nos Estados Unidos, foramanos de pesquisas, tentativas
eaprimoramentosatéLee DeForestinstalaraprimeiraestação-estúdio deradiodifusão,
emNovaIorque, noano de 1916,aonteendo entãoo primeiroprograma de rádiode que
setem notíia [2,3℄. Lee De Forest tambémfoi o primeiroa transmitirmúsia de ópera
pelo rádio e o primeiro a transmitir programas humorístios. Mas foi a Westinghouse
EletriCo. queteveahonrade promoveraprimeiradifusoraomerialdomundo,abem
onheida "K. D. K. A." de Pittsburgh. Elaomeçou a funionarregularmenteem 1920
eapartirdessepontonahistória,diaapósdia, vemaumentando adavezmais onúmero
de estações de rádio pelomundo [4℄.
Entretanto,aeletrniabaseadaemválvulasaváuopossuíaertaslimitações,omoo
elevadoaqueimento,avidaurta,fabriaçãodispendiosa,eramgrandesefrágeis,alémde
váriasoutrasdesvantagensténias. Estasdesvantagensinentivaramoiníiodepesquisas
paraodesenvolvimentodedispositivosbaseadosemristais. Foidessaformaque,apartir
de1940,oquímioRusselShoemakerOhl(1898-1987),trabalhandonaobtençãodesilíio
altamente puriado, onseguiu produzir bastões de silíioom dopagem tipo p e n nas
extremidadesopostas, que onstituio primeirodiodo de junção p-n.
Apesar dessesdiodos primitivosterem umagrandeimportâniapara posterior
deso-berta naeletrnia, aindaexistiam naépoaalguns problemas quesó foramontornados
em 23de dezembro de 1947nos LaboratóriosdaBell Telephone (Murray Hill, NJ,USA),
quando os físios John Bardeen, Walter Brattaun e WilliamShokley, enquanto
transistor,um transistor bipolarom omostrado naFigura1,um dispositivode três
ele-mentos que possibilitavao ontrole da orrente elétria nointerior do semiondutor, que
substituiriaaválvulatriodo. Taldesobertadeu aeles oprêmioNobelde Físiaem1956.
Figura 1: (a)Fotograa doprimeiro transistor bipolar, onheidoomo transistorde ponto de
ontato, riado emdezembro de 1947 na BellLabs. (b) Fotograa dosinventores dotransistor:
JohnBardeen(àesquerda),WilliamShokley(aoentro)eWalterBrattain(àdireita)divulgada
naapa da revistaEletronisemsetembro de1948 om títuloCrystalTriode [5 ℄.
As seguintes déadas mararam a eletrnia om advento dos iruitos integrados
(CI), ompostos porváriostransistores reunidos emum únio ristalde silíio,formando
um iruito eletrnio ompleto, e om sua miniaturização, em que os CI's passavam a
possuir elementos ada vez menores (
≈
10
−
6
m), o que deu origem à miroeletrnia. O
iruitointegradofoidesenvolvidodeformaindependentenaempresaTexasInstruments,
porJak Kilby, em 1958, e na empresa FairhildSemiondutors, por Jean Hoerni e
Ro-bertNoyeem1959(verFigura2). Nadéadade1960,ontinuou-sedemaneiraontínua
adiminuiçãodas dimensõesdos iruitos, tornando possível ariaçãodos
miroproessa-dores,om osquaisfoi possívelfabriar osmiroomputadoresque, omsua onsequente
evolução,modiaramoomportamentosoialeultural,tornando aeletrnia umadas
prinipaisausasdo desenvolvimento ientío etenológio doséulo XX.
Alémdosmenionadosaima,outrosdispositivosforamdesenvolvidos aolongodesses
anos, om apliações baseadas em propriedades óptias, magnétias, térmias, et, de
materiaissólidos. Adesoberta desses dispositivossófoipossívelgraçasaoonheimento
aumulado omas atividadesde pesquisa emFísia doEstadoSólido, área daFísiaque
Figura2: (a)FotograadeJakS.Kilby,daempresaTexasInstruments(àesquerda),eRobert
Noye, da empresa Fairhild Semiondutor (à direita) [6℄. (b) Fotograa do primeiro iruito
integradoda história desenvolvido por Jak S.Kilbyem1958 [5℄.
omplexos,omo vidros, polímerosorgânios, ligasamorfas e inlusivelíquidos, de modo
queesse ramo da Físiapassou a ser onheido omo Físiada Matéria Condensada.
A área de Físia da Matéria Condensada fez inúmeras desobertas, graças às vastas
linhas de pesquisa que surgiram e às grandes apliaçõesem vários segmentos daiênia,
onentrando mais de 40
%
dos físios em todo o mundo [7℄. A importânia dessa área nãosedeve apenas àsua apliabilidadetenológia, mastambém, àenormevariedadedefenmenos que deram origem a desobertas fundamentais e exitantes, razão pela qual
era de 50
%
dos ganhadoresdo prêmio Nobel nos últimos 30anos tenham sido dados a físiosquetrabalhamnesteampodoonheimento,omoporexemplo: J.Bardeen,L.N.Coopere J.R. Shrieer (1972- teoriade superondutividade), L.Esaki, I. Giaevere B.
Josephson(1973-efeitode tunelamentoemsólidos), P.Kaptisa(1978-estudoembaixas
temperaturas),N.Bloembergen,A.L.ShawloweK.M.Siegbahn(1981-espetrosopia
om lasers e de fotoelétrons), K. von Klitzing (1985 - efeito Hall quântio), G. Binning,
H. Rohrer e E. Ruska (1986 - invenção do mirosópio de tunelamentoe do mirosópio
eletrnio), B. N. Brokhouse e C. G. Shull (1994 - desenvolvimento de ténias de
es-palhamento de nêutrons para o estudo de materiais), R. B. Laughlin, H. L. Stormer e
D. C. Tsui(1998 - desoberta de uidoquântio om exitaçõesde argafraionária),Z.
I. Alferov eH. Kroemer (2000- desenvolvimentode heteroestruturas de semiondutores)
dostransistores(FET 1
,MOSFET 2
eCMOS 3
),diodos,LED's (diodosde emissãode Luz),
dos iruitos integrados e inúmeros outros dispositivos que revoluionaram a eletrnia,
sendo utilizados em omputadores, elulares, âmeras digitais, aparelhos de DVD, CD
players eoutros extensivamente usadosem muitas áreas daatividade humana [8℄.
Neste ontexto, oestudo das estruturasde baixadimensionalidade,omo poços, os,
pontoseanéisquântios,ujaproduçãotemsetornadopossívelgraçasaodesenvolvimento
das ténias de resimento de materiais, tem atraído bastante atenção da omunidade
ientía, já que grandeparte dos dispositivos opto-eletrnios atuaissão ompostos por
essasestruturasformadaspordiferentessemiondutores. Faremosaquiumestudodeuma
dessas estruturas, o anel quântio. O onheimento das propriedades eletrnias dessas
estruturas é importante no ponto de vista da iênia, pois apresentam araterístias
peuliaresque não são observadas emsistemas marosópios.
1.2 Estrutura de bandas
1.2.1 Análise qualitativa
Vamos primeiramente ompreender o efeito da presença de um grande número de
átomospróximos, omo emum sólido, sobre os estados eletrnios, fazendo em primeira
instâniauma simples expliação qualitativa. Esta análise onsisteem trazer um átomo
isoladoparapróximode outro,repetindo essefeitoaté termosum grandenúmero de
áto-mos para formar uma estrutura extensa 4
, analisando os níveis de energia e vendo omo
estessão perturbados. Consideremosprimeiramenteo problemadoátomode umelétron,
istoé,oproblema de átomos isolados,bastanteonheido naliteratura. Átomosisolados
possuem níveis de energia disretos (quantizados) para os estados eletrnios,
arateri-zados por orbitais atmios designados por 1s, 2s, 2p, 3s, 3p, 3d et. Já para o aso de
umátomodemuitoselétrons, oestadofundamentaléformadodistribuindo-seosparesde
elétrons de spins opostos nos níveis de menor energia possível, obedeendo ao Prinípio
de Exlusão de Pauli. Os elétrons que oupam as amadasmais externas são hamados
elétronsdevalênia,sendoestesdegrandeimportânia,poispartiipamdasligaçõesentre
átomos, além de serem fundamentais na determinação de muitas propriedades físias e
químiasdos sólidos.
1
DoinglêsField EetTransistor.
2
DoinglêsMetalOxide Semiondutor Field EetTransistor.
3
DoinglêsComplementary MOSFET.
No aso de dois átomos,quando estão iniialmentebemafastados, todos os níveisde
energiadessesistematêmumadupladegeneresêniadetroa,istoé,paraosistematotal,
aparteespaialdaautofunçãodos elétronspode onter umaombinaçãodasautofunções
espaiais individuais dos átomos que seja simétria na troa de pares de oordenadas
eletrnias ou que seja anti-simétria em uma troa desse tipo, obedeendo o fato de
que a autofunção total do sistema de elétrons seja anti-simétria. Porém, quando os
átomos são aproximados, a degeneresênia de troa é removida, tal que um dado nível
de energia do sistema é desdobrado em dois níveis distintos, devido à superposição das
autofunções dos átomos individuais. A separação entre esses níveis se dá à medida que
diminui a distânia entre os átomos. Se agora tomarmos três átomos isolados, teremos
uma tripla degeneresênia de troa dos níveis de energia, e ao oloarmos os átomos
juntos em uma rede linear uniforme, ada um dos níveis se desdobrará em três níveis
distintos. De maneiraanáloga,quandoonsiderarmosum sistemaformadoporNátomos
deum mesmotipo,adanívelde um dessesátomosdará origemaum níveldo sistemaN
vezes degenerado, quando osátomos estiveremseparados. Quando aseparação diminuir,
adaum desses níveissedesdobrará emum onjuntode N níveis. Podemosveriaresse
omportamento dodesdobramento dos níveis quando aproximamos os átomos naFigura
3.
Assim, noaso dosólido, que apresenta grande número de átomospróximos uns dos
outros (era de
10
22
/m
3
, ouequivalentemente
10
23
átomos/mol), tal que os elétrons de
ada átomo estão sujeitos às interações om os átomos vizinhos, veremos que os níveis
de ada onjunto em um sólido estão de tal forma próximos que podemos assumir que
onstituempratiamenteuma banda ontínuade energia, omopode ser vistonaFigura
3.
Vemos naFigura3 que,aoaproximarmosdois átomos,seus níveissão levemente
per-turbados, mas quando repetimos isto várias vezes até obtermos um grande número de
átomos, teremos um grande número de níveis próximos um dos outros, formando faixas
quase ontínuas de energia permitidas, isto é, as bandas de energia, que são separadas
por faixas de energias proibidas, hamadas de gaps, omo ilustrado na Figura 4. T
am-bém podemos observar que os níveis de energia mais baixos são menos atingidos pelo
desdobramento. A razão disso é que os elétrons dos níveis mais baixos são elétrons das
amadasmaisinternasdos átomos,queporsua vez são pouoinueniadospelapresença
dosátomos vizinhos. Poroutrolado, oselétronsde valêniasão totalmentedeloalizados
Figura 3: (a) Esquemade níveis de energia para dois átomosisolados. (b)Esquema de níveis
de energia paraos mesmos dois átomosem umamoléula diatmia. ()Esquema de níveis de
energia paraquatro átomosdo mesmo tipo em umristal rudimentar unidimensional. Observe
queo nívelmais baixo não é desdobrado apreiavelmente porque asautofunçõesatmias para
Distância
r
entre os átomos
A
Energia
banda 2s
banda 1s
banda 2p
banda 3s
2s (2N)
1s (2N)
2p (6N)
3s (N)
orbital (nº de elétrons)
Níveis
discretos
(2N)
estados
(2N)
estados
(6N)
estados
(2N)
estados
Figura 4: Formação de bandasde energia devido à aproximaçãoparaN átomosde sódio,uja
onguração eletrnia é
(1
s
2
)(2
s
2
)(2
p
6
)(3
s
)
,mostrando expliitamenteo gap entre elas[7℄.
Algumas observações importantes podem ser feitas arespeito da Figura4, omo por
exemplo: o desdobramento dos níveis de energia omeça quando a separação entre os
entros dos átomos a torna-se pequena, de tal maneira que as autofunções dos átomos
omeçam a se superpor; para uma distânia innita, os níveis de energia de estados
equivalentes oinidem e são iguais aos de um átomo isolado; os níveis desdobrados são
espalhados em torno dos estados de um átomo isolado; a diferença de energia entre os
níveis mais baixo e mais alto de um onjunto partiular depende da separação a, pois
essa separação espeia a intensidade dasuperposição que provoa o desdobramento, e
nãodependesigniativamentedonúmerode átomosdosistema,seformantidaamesma
distâniaa,talque,seaumentarmosonúmerodeátomosaosistema,aumentaráapenaso
númerodesubníveisontidonomesmoonjuntodesdobrado,obrindo omesmointervalo
deenergia;onúmerodesubníveisemummesmoonjuntodesdobradoéiguala
2(2l
+1)N
, sendol
onúmeroquântio orbital.1.2.2 O teorema de Bloh
Oálulodosestadoseletrniosedasenergiasemumsólidonãoétãotrivialquantoo
deumátomoisolado,porseremprinípioumproblemademuitoselétrons,quedeveriaser
soluionadoutilizando teoriasde muitos orpos [10℄, já que o Hamiltonianoompleto do
sólido ontém não apenas os poteniais devido às interações dos elétrons om os núleos
atmios, mas também poteniais de par das interações elétron-elétron. Devido a tal
posições onheidas na rede ristalina. Essa onsideração é hamada de aproximação
adiabátia. Outra aproximação onsiste em onsiderar que o problema envolve apenas
um só elétron (modelo de um elétron), e que todos os outros elétrons são onsiderados
parte integrante dos íons que riam um potenial periódio, omo ilustrado na Figura
5. Uma tereira onsideração onsiste em uma idealização de um ristal ideal tíio,
exigindo que a rede ristalina seja perfeitamente pura sem apresentar impurezas nem
deformações, e quequalquer efeitodas imperfeiçõesseja tratado omoperturbação. Tais
onsideraçõeslevama um potenial
V
(
r)
om aperiodiidadedarede ristalina,ouseja,V
(
r+
R) =
V
(
r),
(1.1)para todos os vetores R darede de Bravais 5
.
Figura 5: Potenial periódio ristalino representado graamente ao longo de uma linha de
íons e ao longo de uma linha no meio de um plano de íons. Os írulos fehados são ossítios
deíons deequilíbrio;asurvassólidasforneemo potenial aolongoda linha deíons;asurvas
pontilhadas, o potenial ao longo de uma linha entre planos de íons; e as urvas traejadas, o
potenial deíons individuais isolados[11 ℄.
Considerando o potenial periódio, omo mostrado na Figura 5, e as aproximações
quereduziramoproblemaaummodelode umelétron,somoslevadosaresolveraequação
de Shrödingerpara um únioelétron
H(
r)ψ(
r) =
−
~
2
2me
∇
2
+
V
(
r
)
ψ(
r) =
Eψ(
r),
(1.2)5
UmarededeBravaiséumonjuntoinnitodepontosdisretosomarranjoeorientaçãoquepareem
exatamente osmesmos, de qualquer um dos pontos de onde o arranjo seja visualizado. Uma rede de
BravaistridimensionaléonstituídaportodosospontosomvetoresdeposiçãoRquepodemseresritos
obedeendo arelação de periodiidade darede dada pelaEq. (1.1).
Os elétrons independentes que obedeem individualmente à equação de Shrödinger
om potenial periódio são hamados de elétrons de Bloh, sendo os autoestados da
equação de Shrödinger onheidos omo estados de Bloh. Estes estados possuem uma
propriedademuitoimportantedadapeloTeorema de Bloh,quedizqueosautoestados
ψ
do Hamiltonianode um elétron na Eq. (1.2), para um potenial periódio omo o daEq. (1.1), podem ser esritos naforma de uma onda plana multipliadapor uma função
om aperiodiidadeda rede:
ψn
k(
r) =
e
i
k·
run
k(
r
),
(1.3)onde
un
k(
r
)
é talqueu
n
k(
r
+
R) =
u
n
k(
r
).
(1.4)Podemos observar queas Eqs. (1.3) e(1.4) impliamque
ψnk(
r+
R) =
e
i
k·
Rψnk(
r)
. (1.5)Expressando o Teorema de Bloh em uma forma alternativa, podemos substituir as
Eqs. (1.3) e (1.4), pela Eq. (1.5), em que os autoestados do Hamiltoniano podem ser
esolhidos de modoque, assoiado a ada
ψ
,esteja um vetor de onda kde talformaqueψ(
r+
R) =
e
i
k·
Rψ(
r)
. (1.6)Este épreisamenteoTeoremadeBloh. Aprovadesse teoremapode ser enontrada
napágina144 dareferênia [11℄.
1.2.3 Condições de ontorno de Born-Von Karman
Impondo ondiçõesde ontorno apropriadas sobre os estados de Bloh, podemos
de-monstrar que o vetor k deve ser real e assumir apenas valores restritos. Como estamos
onsiderando que a estrutura é grande em relação ao parâmetro de rede, isto é, que as
dimensõesdomaterialbulk sãobemmaioresqueoparâmetrode rededoristal,suas
pro-priedades não devem depender das ondições de ontorno esolhidas, o que nos permite
esolhê-las damaneiramais onveniente possível.
Optamos por asonheidas ondiçõesde ontorno de Born-VonKarman,que exigem
ouseja,
ψ(
r+
Ni
ai) =
ψ(
r),
parai
= 1,
2
e3,
(1.7)onde a
1
, a2
e a3
são osvetores que geramuma élula primitivadoristal e asdimensõesN
1
|
a1
|
,N
2
|
a2
|
eN
3
|
a3
|
,ondeN
1
,N
2
eN
3
são inteirospositivos,representamonúmerodeélulas
Ni
queo ristal possui nadireção ai
, omo ilustradona Figura 6para um ristal paralelepípedo [11℄.Figura 6: Cristalnito emforma deparalelepípedo om4élulasnadireção deada vetorque
ompõea élulaunitária.
Com a ondição de ontorno de Born-Von Karman, vemos que o problema torna-se
o de um ristal innito, em que podemos utilizar o teorema de Bloh para soluioná-lo.
Apliando as ondições de ontorno (1.7) aos estados de Bloh e utilizando a Eq. (1.5)
temosque:
ψnk(
r+
Ni
ai) =
e
iN
i
k·
ai
ψnk
(
r) =
ψnk
(
r),
parai
= 1,
2
e3,
(1.8)querequer que
e
iN
i
k·
ai
= 1,
parai
= 1,
2
e3
. (1.9)Esrevendo o vetor k omo k
=
k
1
b1
+
k
2
b2
+
k
3
b3
, onde osvetores bi
onstituem a élula unitária do espaço reíproo que satisfazem as relações ai
·
bj
= 2πδij
, para todoi
= 1,
2
e3
, obtemosquee
2
πiN
i
k
i
= 1,
para
i
= 1,
2
e3
. (1.10)Consequentemente,
k
i
=
mi
Ni
, ondem
i
é um inteiro. (1.11)Portanto, aformageral para os vetores de ondak permitidosnos estadosde Blohé
k
=
3
X
i
=1
m
i
tal que o número de vetores de onda permitidos k em uma élula unitária do espaço
reíproo, omo
mi
= 0,
1,
2, ..., Ni
−
1
, é igual ao número total de élulas do ristal,isto é, igual aN
=
N
1
N
2
N
3
. Da Eq. (1.12) vemos que os vetores k são reais e disretos. O vetor k é hamado de momento ristalino e interpretado omo um número quântioaraterístioassoiado àsimetria translaionaldisreta de um potenial periódio [11℄.
1.2.4 Formação das bandas de energia: os números
n
do teoremade Bloh
Até agora não zemos nenhum omentário a respeito do índie
n
que aparee no teoremadeBloh,apenasdonúmeroquântio k,omodissemosanteriormente,assoiadoàsimetriade translaçãodisretadoHamiltoniano. Oíndie
n
estárelaionado aosvários estados possíveis para um dado k, soluções da equação de Shrödinger. Analisemosissomais laramente, prourando por todas assoluções daequação de Shrödinger (1.2) que
têm a forma de Bloh
ψ(
r) =
e
i
k·
ru(
r)
, onde k é xo eu
tem a periodiidade da rede de Bravais, omo na Eq. (1.4). Substituindo esta solução na equação de autovalor doHamiltoniano,
He
i
k·
ru
k(
r
) =
Ee
i
k·
ru
k(
r
),
(1.13)emanuseando analitiamentea equação,obtemosque:
−
~
2
2
m
e
∇
2
+
V
(
r
)
e
i
k·
ru
k(
r
) =
Ee
i
k·
ru
k(
r)
e
i
k·
r~
2
2
m
e
1
i
∇
+
k2
+
V
(
r)
u
k(
r
) =
e
i
k·
rEu
k(
r)
~
2
2
m
e
1
i
∇
+
k2
+
V
(
r)
u
k(
r
) =
Eu
k(
r
)
H
ku
k(
r
) =
Eu
k(
r
)
, (1.14)om ondição de ontorno
u
k(
r) =
u
k
(
r
+
R)
. (1.15)A Eq. (1.14) pode ser onsiderada, para um dado k, omo uma nova equação de
autovalor, restrita a uma únia élula primitiva do ristal, om uma família de innitas
soluções om autovalores disretamente espaçados, rotulados pelo índie
n
da banda de energia, sendoEn(
k)
o n-ésimo autovalordessa equação eun
k
(
r
)
o autovetor orrespon-dente. Vimos pela Eq. (1.12), om a utilizaçãodas ondições de ontorno de Born-VonKarman,queapenaserto valoresde ksãopossíveis. Poréméfrequentementeútilbusar
rede reíproa 6
, temos queo onjuntode todas asfunções de onda e de níveisde energia
deveser igual. Atribuímosassimosíndies
n
aos níveisde energia,talque,paraum dadon
, osautoestados eautovalores são funções periódias de k darede reíproa:ψn,
k+
K(
r
) =
ψn,
k(
r
)
En(
k+
K) =
En(
k).
(1.16)As funçõesaima dão origemà estrutura de bandas dosólido,em que,para um dado
n
, o onjunto dos níveisde energia é determinado pelafunçãoEn(
k)
, queé hamadada n-ésimabandade energia. NaFigura7,mostramosaestrutura de bandasunidimensionalparao problema de um elétronsubmetido aum potenialperiódio,ilustrando asurvas
de energiapermitidas(linhasólida) emfunçãodovetor kpara asseis primeiraszonasde
Brillouin,ondeadazonadeBrillouinéumaélulaprimitivadaredereíproa;asenergias
paraumelétronlivre(alinhatraejada); easfaixasde energiaspermitidas(regiõesinza)
separadas pelos gaps 7
(regiõesbrana)do lado direitoda gura.
-5 /a
π
-4 /a
π
-3 /a
π
-2 /a
π
- /a
π
0
π/a
2 /a
π
3 /a
π
4 /a
π
5 /a
π
6
5
4
3
2
1
2
3
4
5
6
1,0
2,0
ξ
/V
0
k
Bandas de energia
Número da
zona de Brillouin
Figura 7: Energias permitidas em função do vetor
k
, parauma redeunidimensional deperio-diidade
a
. A linhatraejada é a energia para oasode umelétronlivre. Asbandas deenergiapermitidas eproibidas resultantes apareemà direita[9℄.
6
DadoporK
=
P
i
n
i
bi
,onden
i
éuminteiroparatodoi. 71.2.5 Esquema de zona reduzida: primeira zona de Brillouin
Como vimos, a energia é função do vetor de onda k, dependendo não apenas doseu
módulo, mas também de sua direção no ristal. Por isso, as bandas de energia devem
ser representadas para asváriasdireçõesde kno ristal,oque éhamado de esquemade
zonaestendida. Masomo kpodeassumir qualquerdireção, entãoostuma-se utilizaros
pontos emque k possui as direções de maior simetria, omo mostrado na Figura 8 e na
Tabela1.
Figura 8: Primeira zona deBrillouin para umaestrutura úbia defaeentrada pararistais
tipoSi, GaAs,AlAs, ZnSee outros. Os pontosmarados sãodadosna Tabela 1.
Tabela 1: Coordenadas dospontosespeiaisda primeira zona deBrillouin.
Γ
(0,
0,
0)
Λ
π
2a
(1,
1,
1)
L
π
a
(1,
1,
1)
∆
π
a
(1,
0,
0)
X
2π
a
(1,
0,
0)
Σ
3π
4a
(0,
1,
1)
K
3π
2a
(0,
1,
1)
Figura 9: Estrutura debanda de GaAs[12 ℄.
O vetor de onda k e todos os autoestados podem sempre ser representados mesmo
serestringimos kà primeirazona de Brillouin 8
(ou a qualquer outra élula primitivado
espaço reíproo). Isso porque qualquer k
0
que não esteja na primeira zona de Brillouinpode sempre ser esrito omo
k
0
=
k+
K, (1.17)ondekperteneàprimeirazonadeBrillouineKéumvetorqueperteneàredereíproa.
Como
e
i
K·
R= 1
,então podemos esrevero estado de Blohψn
k0
omo
ψn
k0
(
r) =
e
i
k·
run
k0
(
r
)
. (1.18)Assim onluímos que
H
k0
=
H
k+
K=
H
k. (1.19)
Como as ondiçõesde ontorno são asmesmas, osautovalores e os autoestados
tam-bémserão os mesmos. Portanto,das Eqs. (1.16) e (1.17)temos que:
ψn,
k0
(
r
) =
ψn,
k+
K(
r
) =
ψn
k(
r
)
E
n
(
k0
) =
E
n
(
k+
K) =
E
n
(
k),
(1.20)mostrando que podemos limitar os valores de k à primeirazona de Brillouin,sendo essa
8
A primeirazona de Brillouin é aélula primitiva darede reíproa, ou seja, oonjunto de pontos
representação hamadade esquema de zona reduzida. Demonstramos essa representação
na Figura 10(a), em que ilustramos todos os níveis om vetores de onda k na primeira
zonade Brillouinaotransladarmostodos ospedaçosda Figura7 pormeio de vetores da
rede reíproa, para dentro da primeira zona. Um exemplo disso é mostrado na Figura
11,paraum elétronomvetorde ondanasegunda zonade Brillouin,
−
2π/a < k <
−
π/a
eπ/a < k <
2π/a
, transladada para a primeira zona,−
π/a < k < π/a
, fazendo isso através de uma subtração no vetor de onda porum vetor om módulo2π/a
, ondea
é o parâmetrode rede.Figura10: (a)Osníveisdeenergiamostradosemumesquemadezonareduzida. (b)Repetição
por todoo espaço
k
da primeira zona deBrillouin formando oesquema de zona repetida[11℄.Figura 11: (a)IlustraçãododesloamentodasbandasnasegundazonadeBrillouin de
±
2
π/a
. (b)Esquemade bandasreduzidas àprimeira zona, resultantedesse desloamento [7℄.zonareduzidadaprimeirazonade Brillouin,aFigura10(a),portodooespaço
k
,obtendo assim arepresentação noesquema de zona repetida, mostrada na Figura10(b).1.2.6 Modelo de Kronig-Penney
Na determinação das energias permitidas dos elétrons em um sólido abordada nas
Seções anteriores, onsideramos o efeito de se aproximar os átomos para a formação do
ristal. Vimosque, aoonsiderarmos a rede ristalinaomo um problema de um elétron
submetidoaumpotenialperiódio,afunçãodeBloh,dadapelaEq. (1.6),éautoestado
do Hamiltoniano desse sistema. Uma abordagem matematiamente mais simples, que
apresenta todos os aspetos importantes para o problema, é onheida omo modelo de
Kronig-Penney [9,13,14℄, emqueseaproximaopotenialdoristalporuma suessãode
poçosebarreirasdepotenialretangularesdeperiodiidadeidêntiaàdarede,sendoada
poço uma representação aproximada do potenial produzido por um íon. Analisaremos
agoraeste modelo.
Temosque,parapoçosprofundosebemespaçados,oelétrondeenergianãomuitoalta
permanee pratiamente ligado dentrode um dos poços, de modo que os autovalores de
maisbaixaenergiasãoosdeumúniopoçoisolado. Jáparaoasodospoçosestaremmais
próximos entre si, as autofunções podem tunelar nas barreiras de potenial, resultando
emumalargamentodoníveldeenergiaúniooriginalemumabandade níveisdeenergia.
Àmedidaquereduzimosa separaçãoentre ospoços,abanda torna-semais larga,talque
nolimite da largura das barreirasser nula, obtemos um únio poço muito largo em que
todas asenergiassão permitidas,istoé,obtemoso modelode um elétronlivre. Podemos
observaraformação das bandasde energiaom aaproximaçãodos poços omparando-as
om asenergias de um poçosimples naFigura12.
Figura 12: Representação esquemátia de (a) dois estadosde energia ligadospara umelétron
emumpoço de potenial isolado, (b)duasbandas de energia paraumelétron emumonjunto
depoços ebarreiras periodiamente espaçados[14 ℄.
Utilizando o modelo de Kronig-Penney veriaremos sob algumas aproximações a
todos os outros níveis de energia [7℄. Iniialmente onsideremos o potenial periódio
omosendo formado pordiversos poços de potenialinnito unidimensionaisigualmente
espaçados. Sabemos que o estado fundamental desse sistema representa uma partíula
ompletamenteloalizadaemum dospoços. Assumiremosqueapartíulaestáloalizada
no n-ésimo poço, denotando o estado por
|
n
i
.|
n
i
é um autoestado de energia om autovalorE
0
, tal queH
|
n
i
=
E
0
|
n
i
. Como todos os poços de poteniais são idêntios e não interagementre si, todos eles têm os mesmos valores de energia, portantoE
0
terá innitosestadosn
degenerados.Figura 13: Representação esquemátia de um (a) ristal de parâmetro de rede
a
e (b) seupotenial reale aproximadopelomodelode Kronig-Penney [9℄.
Como o potenial da rede ristalina é periódio, onsiderando omo periodiidade o
parâmetro de rede
a
, mostrado na Figura 13, então o autoestado do sistema deve ser autoestado dooperador translaçãoτ(a)
[15℄, denido omoτ
(a) = exp
i
~
pa
ˆ
.
(1.21)Como o operador de translação leva qualquer função espaial de um ponto da rede
paraoutro somando oparâmetro
a
,τ(a)f
(x) =
f
(x
+
a)
, então vemos que osestados|
n
i
nãosãoautoestadosdeτ
,poisτ(a)
|
n
i
=
|
n
+ 1
i
,massão,omojávimos,deH
. Devemos entãoprourarautoestadossimultâneosdeτ
(a)
eH
,umavezqueeles devemexistir,pois[τ
(a), H
] = 0
. Esrevemos osnovos estadosomo ombinaçãolinear dos estados|
n
i
:|
θ
i
=
+
∞
X
n
=
−∞
e
inθ
|
n
i
,
(1.22)onde