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A propriedade e os seus sujeitos: colonização interna e colónias agrícolas  durante o Estado Novo Maria Elisa Oliveira da Silva Lopes da Silva

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i

 

 

 

A  propriedade  e  os  seus  sujeitos:  

 colonização  interna  e  colónias  agrícolas  

 durante  o  Estado  Novo  

 

Maria  Elisa  Oliveira  da  Silva  Lopes  da  Silva  

 

Novembro,  2011  

 

 

Dissertação  de  Mestrado  

 em  

 História  Contemporânea  

(2)

i Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do

grau de Mestre em História Contemporânea realizada sob a orientação científica do

(3)

ii

AGRADECIMENTOS

Esta tese teve duas vidas, ao longo das quais foi acumulando dívidas que é de

justiça mencionar após a sua escrita.

Em primeiro lugar, tenho a agradecer ao Professor Fernando Rosas, que há cerca

de dez anos me incentivou na escolha do objecto de estudo, que lhe era caro, e que me

deu toda a liberdade para prosseguir as perspectivas que fui escolhendo para abordar a

colonização interna durante o Estado Novo. Quando estava ainda a definir o objecto,

beneficiei das conversas com as investigadoras Dulce Freire, Inês Fonseca e Paula

Godinho, que estavam então a conduzir um importantíssimo estudo sobre as formas de

resistência e conflito no mundo rural português. A recolha documental realizada na

Direcção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural não teria sido possível sem a

disponibilidade e o auxílio das bibliotecárias que iniciavam nessa altura o tratamento

arquivístico da extensa biblioteca da Junta de Colonização Interna, integradas hoje

numa base de dados acessível online. Durante este processo, foram muitos os amigos

que me foram acompanhando os passos e sem os quais o caminho da investigação

histórica não teria sido trilhado: a Raquel Henriques Pereira, a Joana Estorninho, o José

Filipe Costa, a Marta Castelo Branco, o Tiago Pires Marques, o Nuno Senos. Sem o

entusiasmo, os conselhos e, sobretudo, o exemplo do Luís Trindade, a atenção ao

detalhe e o rigor historiográfico do Tiago Baptista e os horizontes e os arrebatamentos

teóricos do Bruno Peixe Dias esta tese seria seguramente outra, e menos rica.

Há cerca de um ano, José Neves desafiou-me para organizar notas antigas e

transformá-las num texto, que aqui se apresenta, no âmbito do projecto “A Formação do

poder de Estado em Portugal: processos de Institucionalização de 1890 a 1986”. A

minha dívida científica e pessoal estende-se a Frederico Ágoas, com quem dialoguei

amiúde sobre os saberes socio-agrários. Entretanto, a Mariana Pinto dos Santos e a

Bárbara Direito, companheiras no ofício de escrever teses, foram acompanhando as

vicissitudes da escrita.

Neste longo processo, o incentivo e a compreensão da família foram o pano de

fundo constante. O Miguel Cardoso leu uma versão anterior deste texto e as suas

sugestões foram preciosas para a sua redacção final. A ele agradeço-lhe esta e todas as

outras vidas. Tive ainda a sorte das primeiras palavras do Xavier terem acompanhado as

(4)

iii

RESUMO

A propriedade e os seus sujeitos:

colonização interna e colónias agrícolas

durante o Estado Novo

Elisa Lopes da Silva

Esta dissertação procurou pensar a política de colonização interna do Estado

Novo como parte de um projecto mais lato de racionalização do território em relação à

sua população, fundado num saber técnico-científico, através da promoção estatal de

uma reestruturação fundiária, uma intensificação cultural e uma engenharia social que

possibilitaria, simultaneamente, uma optimização dos recursos naturais e das

populações. A política de colonização interna parece ter correspondido, por um lado, a

um desejado aumento da produção e da produtividade agrícolas, inserindo-as dentro de

um projecto de modernização da agricultura, e, por outro, à promoção das condições de

vida e da pacificação política das populações rurais (especialmente, do Sul do país).

Através do confronto entre o discurso político-jurídico e o discurso

técnico-científico e as práticas institucionais da Junta de Colonização Interna pretendeu-se

estudar, por um lado, a colonização interna enquanto proposta social para o “problema

populacional” do mundo rural e, por outro, estudar o modelo social dos projectos

colonizadores. Entre o projecto social civilizador estabelecido para os baldios do Norte

do país, e o projecto social desproletarizador/ recampesinador proposto para as grandes

propriedades do Sul do país, a política de colonização interna estado-novista tentou,

através das colónias agrícolas, produzir proprietários cujas condições de vida e “apego

à terra” funcionassem como sustentáculo de uma nova ordem social em consonância

com o regime político.

PALAVRAS-CHAVE: Estado Novo, Sociedade Rural, Política Agrária,

(5)

iv

ABSTRACT

Property and its Subjects:

Internal Colonization and Agricultural Colonies

during the New State

Elisa Lopes da Silva

This thesis frames the internal colonization policy of Estado Novo [New State] as part

of a wider project of rationalization of the relationship between territory and population.

Grounded on techno-scientific knowledge, the State aimed to promote a land reform,

cultural intensification and social engineering, geared towards the optimization of both

natural resources and populations. The internal colonization policy was driven, on the

one hand, by an impetus towards an increase in agricultural product and productivity, as

part and parcel of a project of agricultural modernization and, on the other, by the desire

to raise standards of living and thus promote the political pacification of rural

populations (especially in the South of Portugal).

By confronting juridico-political discourses with the cluster of techno-scientific

discourses and institutional practices of the Junta de Colonização Interna [Commission

for Internal Colonization], the thesis examines internal colonization policy as a social

response to the “population problem” of the rural world, and surveys the social model of

the colonization projects. Through agricultural colonies, developed according to a

civilizing social project, devised for the common land in the North of the country, and to

a deproletarization/repeasantification social project for the large estates in the South,

the New State’s internal colonization policy aimed to produce landowners whose

standards of living and “attachment to the land” could operate as touchstones for a new

social order, one that would more fully embody the regime.

KEYWORDS: New State, Rural Society, Agrarian Policy, Land Reform,

(6)

v

Índice

INTRODUÇÃO ... 1

ESTADO DA ARTE ... 1

OBJECTO E PLANO DE TRABALHO DA DISSERTAÇÃO ... 9

I - O PROBLEMA DA POPULAÇÃO ... 12

O DESEMPREGO RURAL TEMPORÁRIO ... 12

O DESEQUILÍBRIO POPULACIONAL E A TRANSLADAÇÃO ... 18

O“EXCESSO” POPULACIONAL E A DESPROLETARIZAÇÃO ... 26

UMA POLÍTICA SOCIAL? ... 33

II - A PROPRIEDADE NA COLONIZAÇÃO ... 43

COMO COLONIZAR? ... 43

Os casais agrícolas e as glebas ... 46

ONDE COLONIZAR? ... 54

Os terrenos baldios ... 54

Barroso ... 59

AS PROPRIEDADES PRIVADAS ... 62

As terras de regadio ... 62

As terras de sequeiro ... 72

III - O SUJEITO DA PROPRIEDADE ... 88

PRODUZIR O PROPRIETÁRIO ... 89

PRODUZIR A FAMÍLIA ... 96

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 101

ANEXO DOCUMENTAL ... 106

BIBLIOGRAFIA ... 108

FONTES: ... 111

(7)

1 INTRODUÇÃO

A história do mundo rural português durante o século XX, em particular no

Alentejo, é uma história de tensão e conflito social que contrasta com a imagem de

imobilidade produzida pelo conservadorismo rural salazarista que perdurou além do fim

do regime. As transformações económicas e sociais que o mundo rural conheceu foram

acompanhadas de projectos políticos de reforma que as procuraram enquadrar. Com a

chegada do Estado Novo nos anos trinta, as ideias do reformismo agrário que vinham

sendo formuladas e propagandeadas desde os finais do século XIX conquistam um lugar

institucional na nova ordem política. Na sua essência, o projecto reformista traduzia-se

numa correcção das estruturas fundiárias do país, considerada excessivamente

fragmentada em pequenas parcelas no Norte verde e populoso, e de grandes extensões

no árido Sul. Concentrar os minifúndios do Norte, dividir os latifúndios do Sul em

pequenas propriedades exploradas pelas famílias que, vindas do Norte, colonizariam a

planície alentejana, eis o núcleo do projecto do reformismo agrário que perdura como

proposta política relevante desde Oliveira Martins até aos anos sessenta do século XX.

Interrogar o projecto de colonização do Sul durante o Estado Novo a partir do processo

de institucionalização do pensamento do reformismo agrário iniciado com a criação da

Junta de Colonização Interna em 1936 é o ponto de partida desta tese.

Estado da Arte

Na historiografia, os projectos de colonização interna durante o Estado Novo

têm sido primordialmente estudados a partir do discurso legislativo e político. O

enfoque na produção legislativa fez com que o tema tendesse a ser problematizado a

partir da história das políticas económicas e agrárias e, em particular, a partir das lutas

de influência entre os vários grupos sociais dentro do aparelho de Estado do regime na

(8)

2

Durante a década de noventa, Fernando Rosas1 aborda a política colonizadora do

Estado Novo como parte de uma política de reestruturação fundiária e, de uma forma

mais lata, de um programa de “modernização qualitativa da agricultura” – a

colonização, a irrigação e a florestação – que Rafael Duque traz para o governo aquando

da sua nomeação para Ministro da Agricultura em 1934. No essencial, argumenta o

autor, o programa de modernização económica da agricultura fundada num aumento da

produtividade e na intensificação cultural trazido pela reestruturação fundiária, quando

conjugada com os efeitos da hidráulica agrícola, retomava o plano que o engenheiro

Ezequiel de Campos tinha anos antes formulado e mesmo proposto durante o governo

«canhoto» de José Domingos dos Santos em 1925. Mais, esse projecto era parte

integrante de um programa de desenvolvimento global para o país que tinha como

matriz o «Projecto de Fomento Rural» apresentado por Oliveira Martins e que, com

variações importantes, vinha sendo publicitado por reformistas agrários, de entre os

quais se destaca o supra-citado Ezequiel de Campos, Basílio Teles, Alberto Sampaio e

António Lino Neto, a quem de resto Fernando Rosas toma emprestada a designação de

«neofisiocracia» para agrupar este conjunto de ideias em torno do “retorno

modernizador à terra”.

A longa permanência da proposta colonizadora no discurso público desde o

século XIX até meados do século XX foi primeiramente sugerida por Manuel

Villaverde Cabral, no ensaio pioneiro que introduz a colectânea de textos intitulada

Materiais para a História da Questão Agrária em Portugal – séc. XIX e XX2, publicada

em 1974. Aqui, este autor situa o tema da colonização interna no contexto político e

económico do proteccionismo cerealífero da segunda metade do século XIX,

inserindo-o na narrativa sinserindo-obre a penetraçãinserindo-o dinserindo-o capitalisminserindo-o ninserindo-os campinserindo-os pinserindo-ortugueses. Mais

concretamente, o autor argumenta que a ideia de colonização do Sul com pequenas

propriedades familiares junto às extremas dos latifúndios deve ser entendido no quadro

                                                                                                                         

1 Cf. ROSAS, Fernando, «As ideias sobre desenvolvimento económico nos anos 30: Quirino de Jesus e Ezequiel de Campos», in Contribuição Para a História do Pensamento Económico em Portugal, Publ. Dom Quixote, 1988, pp. 187-208; ROSAS, Fernando, «Rafael Duque e a política agrária do Estado Novo (1934-44)», Análise Social, vol. XXVI (112-113), 1991, pp. 771-790; ROSAS, Fernando, «O pensamento reformista agrário no século XX em Portugal: elementos para o seu estudo», em CARDOSO, José Luís e ALMODOVAR, António (orgs.), Actas do Encontro Ibérico sobre História do Pensamento Económico, CISEP, Lisboa, 1992, pp. 357-372. Estes artigos foram mais tarde reunidos em ROSAS, Fernando,

Salazarismo e fomento económico. O primado do político na história económica do Estado Novo, col. Biblioteca de História, Notícias Editorial, Lisboa, 2000.

(9)

3 da interdependência entre a pequena e a grande propriedade necessária ao modo de

produção da cerealicultura, ou seja, deve ser entendido como forma de fixação da força

de trabalho destinada à criação de um exército de reserva de mão-de-obra que estivesse

disponível tanto para o trabalho das arroteias dos terrenos ainda incultos como para as

grandes fainas sazonais que a cultura de cereais de sequeiro impunha. Numa explicação

funcionalista de cariz marxista, a colonização interna é aqui concebida como uma

proposta política necessária à produção e reprodução da mão-de-obra necessária ao

desenvolvimento das relações capitalistas no mundo rural.

A formação de um semi-proletariado agrícola como objectivo genérico da

colonização interna pelos reformistas agrários, interpretação genericamente aceite pela

historiografia posterior, conhece uma evolução durante o período do Estado Novo,

assinalada por Fernando Oliveira Baptista e, mais tarde, por Fernando Rosas. Na

ditadura, a “colonização semi-proletária” seria agora secundária à lógica de “criação de

uma nova realidade social e económica, base indispensável de uma «agricultura nova» e

até de uma «vida nova»”3. Mas, as “lógicas económicas e sociais da colonização

interna”, como lhes chama Rosas, são agora interpretadas como parte de uma grande

narrativa sobre a reforma das estruturas agrária aqui considerada primordialmente como

política de desenvolvimento económico, centrado na intensificação e na reconversão

cultural da agricultura. Esquematicamente, pode dizer-se que para Cabral as ideias de

colonização interna, consideradas como a promoção da pequena propriedade,

destinavam-se, no século XIX, à produção da mão-de-obra necessária ao

desenvolvimento do capitalismo, enquanto, para Rosas, a «neo-fisiocracia» e, em

particular, a colonização interna de Ezequiel de Campos, bem como, mais tarde, a sua

execução política com o Rafael Duque, é considerada enquanto peça de um plano geral

de modernização económica da agricultura legislado durante o Estado Novo. Assim, a

colonização interna é considerada como proposta instrumental em relação ora ao

capitalismo nos campos, com Cabral, ora à modernização da agricultura, com Rosas,

contextualizando ambos os autores as ideias colonizadoras em relação à história das

ideias e políticas económicas.

No mesmo sentido, e seguindo de perto a perspectiva de Rosas sobre as lutas

internas, entre reformistas agrários e conservadores rurais, pela hegemonia dentro do

                                                                                                                         

(10)

4

Estado Novo, Luciano Amaral4 considera a colonização interna como parte de um

projecto de reforma agrária destinado à modernização agrícola do Estado Novo,

obstruído pelo “conservantismo rural” que, no pós II Guerra Mundial, alcançou uma

«aliança objectiva» com o grupo dos industrialistas, desinteressados da agricultura, o

que explicaria o ocaso daquela proposta reformista em finais dos anos cinquenta.

Nestas interpretações em torno da política macro-económica do Estado Novo, o

Estado parece ser concebido como uma entidade refém dos interesses dos grupos sociais

de apoio ao salazarismo, ou seja, um actor político sem racionalidade própria aquém ou

além do governo ou da esfera legislativa. As próprias interpretações parecem por vezes

não distinguir o plano da decisão política (nível governativo e legislativo) do plano

administrativo, pelo que, em última análise, Governo e Estado surgem como actores

políticos virtualmente idênticos. Mais concretamente, o Estado, enquanto aparelho

burocrático centralizado da modernidade política, e Estado Novo, enquanto regime

político, parecem a tempos confundir-se. Como resultado desta visão historiográfica (e

opção metodológica), é o próprio aparelho de Estado, no seu nível administrativo, que

está omisso das interpretações sobre a colonização, lacuna tanto mais grave quando as

políticas colonizadoras originaram a criação de uma instituição, a Junta de Colonização

Interna que, embora encerrando no seu seio actividades muito diferenciadas, durou de

1936 até 1974.

Nesta história centrada no poder político governamental, a questão da

intervenção estatal nas relações de propriedade – em particular, a possibilidade de

expropriação da propriedade privada – organiza toda a narrativa interpretativa sobre as

condicionantes da hesitação legislativa acerca da colonização interna, as obstruções à

mesma por parte dos grandes agrários e, finalmente, a sua aplicação praticamente nula.

Nos confrontos políticos entre reformistas agrários e “latifundiários rentistas e

absentistas” esgrimem-se argumentos em torno da “função social” versus o “direito

natural” da propriedade. Uma luta política no plano legislativo que se prolonga de 1937,

data da lei de Hidráulica Agrícola, até 1962, quando se publica a última revisão da lei de

colonização, esboçada nos seus aspectos fundamentais por Fernando Oliveira Baptista e

                                                                                                                         

4 Cf. AMARAL, Luciano, “Portugal e o passado: política agrária, grupos de pressão e evolução da agricultura portuguesa durante o Estado Novo (1950 – 1973)”, Análise Social, vol. XXIX (128) – 4º, 1994, pp. 889-906; AMARAL, Luciano Manuel Santos Moura Henriques do, O País dos Caminhos Que Se Bifurcam, PolíticaAgrária e Evolução da Agricultura Portuguesa durante o Estado Novo, 1930-1954,

(11)

5 que mais tarde Rosas coloca em relação com os debates sobre as políticas de “fomento

económico” do salazarismo.

Cabral, como foi dito, esboçou as linhas interpretativas essenciais da ideologia

do reformismo agrário e sublinhou a sua longevidade política até ao Estado Novo,

linhas essas posteriormente seguidas, detalhadas, e conceptualizadas por Rosas.

Contudo, é a análise da política colonizadora do Estado Novo de Fernando Oliveira

Baptista que permanece como o estudo de referência sobre o tema, sob o título Dos

projectos de colonização interna ao capitalismo agrário5, de 1978. Primeiro capítulo de

uma longa tese de doutoramento, publicada em 1993 com o título A Política Agrária do

Estado Novo, nele o autor estabelece dois momentos diferentes da política de

colonização interna, que corresponderiam a projectos de colonização com objectivos

distintos. O primeiro, de origem marcadamente ideológica, é formulado no contexto das

lutas dos trabalhadores agrícolas nos campos do Sul durante a I República, e seguindo o

exemplo da Itália fascista, destinar-se-ia a “construir uma paz social pela conversão dos

trabalhadores agrícolas em pequenos proprietários, retalhando para o efeito baldios,

terras do Estado e privadas.”6 O segundo projecto, que atinge o auge no final dos anos

cinquenta, denota já uma concepção económica industrialista da colonização interna,

agora apostada sobretudo em fazer da população rural um mercado interno para os

produtos industriais. Este artigo, embora use as fontes produzidas pelo poder legislativo

e executivo, a par dos estudos emanados da própria Junta de Colonização Interna,

também não distingue totalmente as diversas esferas – e eventualmente os princípios de

actuação e objectivos declarados – do aparelho estatal. É, em grande parte, em diálogo

com estas linhas interpretativas fundamentais sobre a política colonizadora no Estado

Novo aqui apresentadas que esta tese se constrói.

Com uma interpretação diametralmente oposta sobre o significado ideológico da

proposta de colonização interna que emerge ainda no século XIX, Rui Ramos acentua,

igualmente, o seu carácter fundamentalmente político. Enquanto Baptista promove uma

concepção contra-revolucionária da política de colonização interna esboçada nos anos

trinta – o combate às ideias bolshevistas dos trabalhadores assalariados dos campos dos

                                                                                                                         

5

Cf. BAPTISTA, Fernando Oliveira, Dos projectos de colonização interna ao capitalismo agrário (Anos trinta – 1974), Separata do número especial do Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra - «Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor José Joaquim Teixeira Ribeiro», Coimbra, 1978.

(12)

6 Sul – Ramos, que centrou a sua análise nas propostas colonizadoras de Oliveira Martins,

desenvolve uma interpretação estritamente filiada – e circunscrita – na história das

ideias políticas. Num conjunto de estudos publicados durante a década de noventa,

Ramos7 opõe-se a uma leitura “economicista” do projecto de Fomento Rural de Oliveira

Martins que secundarize os princípios de “ética republicana” que o enformam. Na sua

leitura, aquele expressava, antes de mais, um “projecto político, o de criar em Portugal

uma comunidade democrática fundada numa massa de lavradores proprietários”, que se

insere na cultura republicana, ou do “patriotismo cívico”. A Republica é aqui entendida

não no sentido de um regime oposto à monarquia, mas antes enquanto comunidade de

homens livres, os “lavradores-soldados”, com os meios necessários para levar uma vida

independente e que tivessem interesse na manutenção da ordem. A ela preside a ideia de

uma “nação de proprietários rurais”, como já antes tinha sido imaginada por Alexandre

Herculano, e que se prolongaria em Ezequiel de Campos nos seus planos de descoberta

e conquista interna do Alentejo.

A tentativa de Ramos de promover uma leitura política da proposta colonizadora

martiniana, bem como de todas as suas releituras e reconfigurações durante o século

XX, que a excisa de toda e qualquer fundamentação económica, assenta numa

metodologia historiográfica que estuda o mundo das ideias exclusivamente pelas suas

referências textuais, descontextualizado das dinâmicas sociais de que é contemporâneo.

Reduzir as ideias de colonização metropolitana a um ideário político filiado na

Antiguidade Clássica ou na Revolução Americana, ou assente numa leitura da história

de Portugal, e descurar a sua relação com a conjuntura histórica em que é produzido

(nomeadamente, a história das colonizações espontâneas, como tinha já sugerido Cabral

e Baptista) parece um exercício de história das ideias explicitamente idealista. Além

disso, e seguindo agora a argumentação de Ramos, a correspondência entre liberdade e

propriedade – apenas os proprietários, economicamente independentes, estão em

condições de exercer livremente a escolha política – pode ser posta em causa pela

proposta concreta de Martins de criação de proprietários em regime de enfiteuse ou

parceria, por um lado, e, mais importante, sem terra suficiente para se autosustentarem.

São pois proprietários cuja liberdade está restringida, seguindo a lógica argumentativa

                                                                                                                         

77

(13)

7 do autor, pela situação de dependência salarial em que se encontram (ou seja, pela

condição de semi-proletariado). Não obstante estas críticas, a interpretação de Ramos

permite pensar nos fundamentos políticos das ideias de colonização interna quando

chegam ao Estado Novo, em especial no que toca à relação que os reformistas agrários

estabelecem entre propriedade, independência individual e cidadania. Mais

concretamente, permite perceber como é que as ideias colonizadoras se assumem como

uma proposta reactiva ao regime salarial do capitalismo, considerado não apenas

enquanto regime económico da modernidade, mas enquanto regime incompatível com

um sistema político liberal fundado na liberdade de escolha do cidadão (um cidadão que

se quer materialmente interessado na escolha da ordem).

A recensão dos textos de Cabral, Rosas, Baptista e Ramos permite sintetizar

criticamente as grandes interpretações sobre a história das ideias de colonização interna

em Portugal. Resta ainda referir alguns outros textos com objectos mais restritos mas

fundamentais para o estudo da colonização interna durante o Estado Novo que aqui se

ensaia.

Em primeiro lugar, há que referir os estudos que se centraram nas colónias

agrícolas. Ainda na década de oitenta, João Castro Caldas, com base na consulta dos

processos individuais, analisou o perfil dos colonos admitidos (idade, número de filhos,

naturalidade, profissão, etc.), e comparou-os com os critérios de selecção e preferência

estabelecidos legalmente para a admissão nas colónias8. De maior fôlego interpretativo,

o mesmo autor empreendeu ainda um outro estudo9 dedicado às técnicas colonizadoras

da Junta de Colonização Interna, em particular aos critérios de ordenamento do espaço e

às opções arquitectónicas dos núcleos de colonização. Mais recentemente, foram ainda

produzidas duas monografias, enquanto teses de mestrado, dedicadas uma ao colonato

dos Pegões10 e outra ao colonato de Milagres11, ambas fundadas na recolha de

                                                                                                                         

8 Cf. CALDAS, João Lemos de Castro, Política de Colonização Interna (1936-1974). Análise do Perfil do “Colono-Tipo”, [texto policopiado], INIC, Centro de Economia Agrária e Sociologia Rural, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, 1982.

9

Cf. CALDAS, João Lemos de Castro, Política de Colonização Interna. A implantação das colónias agrícolas da Junta de Colonização Interna, [texto policopiado], Lisboa, 1988. Mais recentemente, escreveu CALDAS, João Castro, “Colonato de Pegões”, in BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coords.), Dicionário de História de Portugal, SuplementoVII, Livraria Figueirinhas, Porto, 1999, pp. 351

10 Cf. PEREIRA, Sara Alexandra M. P. C., A Colonização Interna durante o Estado Novo. O exemplo da colónia agrícola de Pegões, Tese de Mestrado em História Local e Regional, Lisboa, 2004.

(14)

8 testemunhos orais dos colonos. Na intersecção das tradições disciplinares da

Antropologia e da História, Inês Fonseca estudou os discursos e as práticas estatais de

modernização do mundo rural, como as colónias agrícolas, e as formas de resistências

comunitárias a esses processos de mudança impostos pelo Estado12.

Para completar este estado da arte, é ainda necessário abordar dois outros

trabalhos centrados no conhecimento tecnológico e científico que suporta as ideias

colonizadoras. Tiago Saraiva estuda os projectos e as práticas de racionalização do

território13 – como a hidráulica agrícola, a colonização e a florestação – em Portugal e

no Ultramar, seguindo as figuras dos engenheiros Ezequiel de Campos e Trigo de

Morais. No seu estudo, Saraiva estabelece uma relação estreita entre os processos

colonizadores metropolitanos (colónias do Barroso) e ultramarinos (Plano do Cunene,

em Angola, e colonato do Limpopo, em Moçambique), ambos apostados em construir

“comunidades virtuosas de portugueses”. Saraiva argumenta que os planos estatais de

base tecnológica foram essenciais à “materialização da utopia conservadora de Salazar”,

ou seja, que a tecnologia esteve ao serviço de uma concepção conservadora de

sociedade. Sublinhe-se que a interrelação estabelecida entre os dois processos

colonizadoras situa-se mais ao nível do projecto ideológico do que da prática

institucional – uma esfera que Saraiva exclui da sua análise das relações entre as

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     

investigação realizada para esta tese, foram publicadas dois textos: LOPES, Sara, “Um olhar sobre a Colónia Agrícola dos Milagres, Leiria: políticas estatais, mudança social e (re)construção identitária”, Centro de Investigação Identidades e Diversidades (CIID), Instituto Politécnico de Leiria, disponível em

http://www.ram2009.unsam.edu.ar/GT/GT%2030%20%E2%80%93%20Procesos%20de%20Movilizaci %C3%B3n%20Social,%20Pol%C3%ADticas%20Estatales%20y%20Vida%20Cotidiana.%20Perspectiva

s%20Etnogr%C3%A1fi/GT30-Ponencia(Lopes).pdf ; e “Resistência e Movimentos Colectivos na

Colónia Agrícola dos Milagres, Leiria (1926-1974), IV Colóquio sobre a História de Leiria e da sua Região – História Contemporânea. Actas. 9 e 10 de Novembro de 2001, ed. Câmara Municipal de Leiria, Leiria, 2005, pp. 357-367, disponível em

http://ciid.ipleiria.pt/wp-content/uploads/2009/12/sl-col-agric_milagres.pdf .

12 FONSECA, Inês, “A bem da Nação! Modernização e resistência em meio rural durante o Estado Novo”, Mundo Rural – Transformação e Resistência na Península Ibérica (século XX), Ed. Colibri, Lisboa, 2004, pp. 71-85. Este artigo, bem como o colóquio e o livro onde está publicado, foram elaborados no âmbito do projecto «Resistência e Agitação no Contexto Rural Português (1926-1974)», Proj. nº: PRAXIS / PCSH / ANT / 191 / 96, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, levado a cabo conjuntamente com as investigadoras Dulce Freire e Paula Godinho, projecto do qual foi produzido um relatório final: FONSECA, Inês, FREIRE, Dulce, e GODINHO, Paula, Resistência e Conflito no Contexto Rural Português, [dactilografado], Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Novembro de 1999. Ver ainda FONSECA, Inês, FREIRE, Dulce, e GODINHO, Paula,”Soluções do Estado Novo. Educar o Barrosão no cultivo racional das suas terras”, in

História, n.º6, Setembro de 1998. 13

Cf. SARAIVA, Tiago, “Paisagens Tecnológicas. O domínio das Águas e a colonização de Portugal e do Ultramar”, ‘Gestão e Planeamento da Água, 5º Congresso Ibérico da água (4-8 Dez. 2006),

(15)

9 instituições e os engenheiros respectivos que levaram a cabo a colonização

metropolitana.

Para melhor entender a relação entre a história da ciência e tecnologia e

os projectos de colonização interna é ainda necessário recensear os trabalhos de

Frederico Ágoas14 realizados no âmbito de uma genealogia da sociologia em Portugal.

Ágoas estudou a história da investigação agrária em Portugal na primeira metade do

século XX detendo-se, por um lado, nas relações entre a produção de saberes

científico-sociais e o processo de modernização da burocracia estatal e, por outro, nos problemas

sociais identificados pelo Estado e o seu papel na emergência de novos domínios

científicos. O seu estudo é particularmente relevante para a presente tese na medida em

que permite perceber como é que os trabalhos de investigação económico-sociais

realizados no âmbito da colaboração estreita entre a Junta de Colonização Interna e o

Instituto Superior de Agronomia levaram ao desenvolvimento de um conhecimento

científico e técnico de intervenção social no mundo rural que legitimou cientificamente

a tentativa de remodelação tecnológica da economia e sociedade rurais concebida pela

política colonizadora estado-novista.

Objecto e plano de trabalho da dissertação

Esta tese visa abordar a história das políticas de colonização interna durante o

Estado Novo, cujas balizas cronológicas se situam grosso modo entre 1936, data da

criação da Junta de Colonização Interna, e 1962, data da aprovação do último regime

jurídico de colonização interna. Mas concretamente, o presente trabalho propõe

interpretar a política colonizadora estado-novista como resposta estatal dirigida a

transformar radicalmente as baixas condições de vida, originadas pela abrangência do

desemprego rural temporário nos campos do Sul, e aniquilar os fundamentos do

crescente protesto político protagonizado pelo proletariado rural. Em suma, pode

dizer-se que, para contrapor o salariado, e a sua fragilidade social face ao desenvolvimento

                                                                                                                         

(16)

10

do capitalismo, se propôs o proprietariado, cujas condições de vida e “apego à terra”

funcionassem como sustentáculo de uma nova ordem social em consonância com o

regime político vigente. A noção de melhoramento social, associado a uma dimensão

profiláctica de diminuição do risco social e perigosidade política, está presente na

formação da política de colonização interna que se assumiu programaticamente, como

uma política social para o mundo rural, na ausência de políticas de protecção social

estatais que mitigassem os efeitos negativos, nomeadamente o desemprego, impostos

pelo desenvolvimento do capitalismo nos campos do Sul. Assim, a política de

colonização interna do Estado Novo, enquanto medida de transformação das relações

das forças produtivas, parece assumir que o governo económico do país deve ser feito

do ponto de vista social15. Na verdade, pode dizer-se que se trata de tentar integrar o

antagonismo inerente da classe trabalhadora no desenho das políticas estatais de

fomento económico do novo regime16. Do seu fracasso resulta que a forma estrutural de

política rural salazarista fosse providenciada pelo uso recorrente de mecanismos

coercivos de combate à conflitualidade social.

O primeiro capítulo desta dissertação pretende colocar historicamente a

formação do “problema da população” e a sua articulação com as soluções de

colonização interna defendidas e legisladas pelo Estado Novo, “problema populacional”

formulado com o reformismo agrário e que, com o novo regime, se cristaliza em torno

do desemprego rural temporário.

                                                                                                                         

15 Embora num sentido diferente, porque relacionada com a criação de medidas centralizadas de protecção social, como o Welfare State, utilizamos a expressão “governo a partir de um ponto de vista social” de MILLER, Peter, ROSE, Nikolas, Governing the Present. Administering Economic, Social and Personal Life, Polity Press, Cambridge, 2008, p. 131.

16 Esta pista interpretativa é-nos sugerida por Antonio Negri, no seu ensaio “Keynes and the capitalist theory of the State post 1929” numa passagem que vale a pena citar longamente: “What was new, and what marks this moment as decisive [1929], was the recognition of the emergence of the working class and of the ineliminable antagonism it represented within the system as a necessary feature of the system which state power would have to accommodate. Too often (and not just in Italy with the limited perspective that Fascism allowed the novelty of the new state that emerged from the great crisis has been defined in terms of a transition from a "liberal" to a "totalitarian" form of state power. This is a distorted view: it mistakes the immediate and local recourse to fascist and corporatist solutions, the form of régime, for the central overriding feature that distinguishes the new historical form of the capitalist state: the reconstruction of a state based on the discovery of the inherent antagonism of the working class. To be sure, this reconstruction has possible totalitarian implications: but only in the sense that it involved an awareness of intrinsic antagonism and struggle at all levels of the state.” [itálicos meus] NEGRI,

Antonio, ‘Keynes and the Capitalist Theories of the State Post-1929’, Revolution Retrieved: selected

(17)

11 O segundo capítulo pretende articular o problema do “excesso populacional”,

historicamente definido no capítulo precedente, com os projectos de colonização

desenvolvidos durante o Estado Novo pelo confronto entre o discurso político-jurídico,

(legislação, debates na Assembleia Nacional e Pareceres da Câmara Corporativa) e o

discurso técnico-científico e as práticas institucionais da Junta de Colonização Interna

(relatórios). Num primeiro momento, irá caracterizar-se as formas de colonização pela

análise das racionalidades presentes no tipo de propriedade que a política de

colonização interna visava constituir – os casais agrícolas e as glebas – tendo em vista o

modelo social preconizado. Num segundo momento, irá acompanhar-se os projectos de

colonização, e os diferentes projectos sociais que os enformavam, formulados para o

tipo de propriedade intervencionada: o projecto social civilizador para os baldios do

Norte, e o projecto desproletarizador/ recampesinador para o Sul do país, quer através

de uma reforma das estruturas agrárias economicamente viabilizada pela rega, e

expropriação, das grandes explorações, quer através da colonização em terrenos de

sequeiro com obras menores de hidráulica agrícola.

Finalmente, no breve terceiro capítulo que encerra esta dissertação irá

estudar-se a assistência técnica nas colónias agrícolas enquanto tecnologia de poder

(18)

12 I - O PROBLEMA DA POPULAÇÃO

O desemprego rural temporário

É comum dizer-se que, depois de um período de intensas lutas sociais durante a I

República, a conflitualidade social no mundo rural abrandou durante os anos trinta do

século XX17. A Campanha do Trigo (1929-1933)18, inspirada na bataglia del grano da

Itália fascista, tinha acentuado o movimento de desbravamento e cultivo de muitas

terras até aí ao abandono ou pobremente cultivadas, levado a cabo sobretudo por

seareiros19 que arrendavam pequenas parcelas de terras nas extremas das grandes

propriedades, complementando assim o seu salário. O emprego de braços na agricultura

incentivado pela Campanha, desbravando ou cultivando os pequenos e últimos tractos

de terra disponível teria mesmo contribuído para “uma quase desaparição dos conflitos

sociais”20 nos campos do Alentejo. Mas não é apenas pela melhoria, mesmo que

temporária, das condições de vida que se tem vindo a explicar o abrandamento das lutas

sociais: estes foram também os anos de “desmantelamento” da organização sindical e da

                                                                                                                         

17 Entre outros, ver PEREIRA, José Pacheco, Conflitos sociais nos campos do Sul de Portugal, Publicações Europa-América, Mem-Martins, s./d., p. 119.

18 José Machado Pais secundariza mesmo os objectivos económicos do proteccionismo cerealífero publicitados no lançamento da Campanha do Trigo (“O trigo da nossa terra é a bandeira que melhor nos defende”) em favor dos objectivos políticos que a “complexa «aliança de classes» envolvendo agrários e industriais, grandes e pequenos agricultores e ainda rurais sem terra” permitiu construir. Apesar de terem sido os grandes produtores os mais favorecidos no mundo rural, os pequenos e médios produtores viram também beneficiadas as suas condições económicas e sociais com a Campanha. O autor sugere ainda que a Campanha cumpriu uma função social com a absorção do dito «excedente» demográfico de população rural através do movimento de arroteamento de incultos Cf. PAIS, José Machado, “Campanha do trigo”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal,

Suplemento VII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 227-228; PAIS, José Machado et al, “O fascismo nos campos em Portugal: a campanha do trigo (1ª parte), Análise Social, vol. XII, n.º 46, 1976, pp. 400-474. PAIS, José Machado et al, “O fascismo nos campos em Portugal: a campanha do trigo (2ª parte),

Análise Social, vol. XIV, n.º 54, 1978, pp. 321-389. Sobre o lançamento da Campanha do Trigo como forma de combate ao desemprego rural ver ainda BAPTISTA, Fernando Oliveira, A Política Agrária do Estado Novo, Afrontamento, Porto, 1993, p. 172-173.

19 Ainda sobre a melhoria das condições de vida dos seareiros com a Campanha do Trigo, sublinhe-se que o aumento das suas receitas foi sobretudo sazonal. Fernando Oliveira Baptista parece céptico quanto aos largos efeitos da Campanha do Trigo na diminuição do desemprego rural uma vez que “o ciclo anual do trigo, era, de há muito, o ciclo da ocupação da força-de-trabalho.” BAPTISTA, Fernando Oliveira,

ibidem, p. 173. 20

(19)

13

“tentativa de asfixia de todos os movimentos reivindicativos”21, ou seja, um período de

desenvolvimento do aparelho repressivo do regime do Estado Novo no mundo rural.

Todavia, se houve um abrandamento dos movimentos reivindicativos

organizados, cresciam as tensões sociais geradas por um fenómeno que, não sendo

novo, vinha tomando dimensões preocupantes: o desemprego rural22. Henrique de

Barros, em 1934, no Inquérito Económico-Agrícola23, alerta, a propósito da freguesia de

Cuba, que “ainda que, até à data, nenhuma revolta ou conflito sério se tinha produzido,

a verdade é que os Presidente da Câmara e as pessoas gradas da terra já algumas vezes

se têm visto embaraçados com reclamações e manifestações de protesto do operariado

rural.”24 O “desemprego na classe rural”, embora retratado como um “mal antigo” e

“uma ameaça permanente”, vinha-se agravando nos últimos anos25. O desemprego rural

era sobretudo agrícola e caracterizava-se pela sua sazonalidade, oscilando com os ciclos

das ceifas, mondas e debulhas ou da apanha da azeitona, e tinha por isso uma forte

incidência entre os jornaleiros do Alentejo e no Ribatejo, que, como diz Henrique de

Barros a propósito dos assalariados temporários em Cuba, não tinham “garantidos mais

do que seis meses de trabalho.”26 Dada a predominância do trigo entre as culturas na

região do Alentejo, o ciclo de produção correspondia largamente ao ciclo de emprego (e

desemprego) agrícola. Todavia, em inícios dos anos trinta, o desemprego rural parece

adquirir uma amplitude inédita, estendendo-se a grande parte do ano27.

                                                                                                                         

21 Cf. BAPTISTA, Fernando Oliveira, op. cit., p. 4.

22 Não existem dados quantitativos fidedignos para o fenómeno do desemprego rural nos anos trinta. As estatísticas de desemprego agrícola compiladas pelo recém-criado Comissariado do Desemprego não só apresentavam “deficiências notórias” na sua organização como tinham ainda um significado muito variável ao longo do ano. Ainda assim, e como amostra, vale a pena citar os dados de Henrique de Barros com base nos dados fornecidos pela Câmara Municipal, para Cuba, Alentejo, em Janeiro de 1932: dos 1300 desempregados, 1200 eram trabalhadores agrícolas, o que correspondia à quase totalidade de jornaleiros existentes no concelho. Cf. BARROS, Henrique, Inquérito à Freguesia de Cuba, vol. 1,

Inquérito Económico-Agrícola, Lisboa, 1934, p. 115. 23

Publicado em vários volumes durante a década de trinta, Inquérito Económico-Agrícola foi o mais importante trabalho de investigação económico-social realizado até então. Sobre a importância destes estudos na história da investigação social agrária ver capítulo intitulado Inquérito Económico-Agrícola (1934-1936) em ÁGOAS, Frederico, Saber e Poder. Estado e Investigação Social Agrária nos Primórdios da Sociologia em Portugal, tese de doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2011, pp.171-195.

24 Cf. BARROS, Henrique, op.cit., p. 115. 25 Ibidem.

26 Ibidem. 27

(20)

14 O problema do desemprego temporário nos meios rurais é mesmo discutido na

Assembleia Nacional a propósito de um aviso prévio sobre desemprego em 194028,

mesmo antes de se sentirem todos os efeitos sociais da economia de guerra29. Barradas

as saídas para a emigração desde o princípio da década de trinta30, o desemprego rural

recrudesceu, sobretudo no contexto da II Guerra Mundial, altura em que ganham

visibilidade as greves rurais31 que alastravam nas zonas do latifúndio do Alentejo e do

Ribatejo. É justamente com o ciclo de lutas rurais dos anos quarenta que a chamada

“questão social” ligada ao mundo rural reemerge enquanto problema de ordem pública.

Em 1945, alertava-se na mais importante síntese sobre a agricultura na primeira

metade do século XX, escrita pelos agrónomos Mário de Azevedo Gomes, Henrique de

Barros e Eugénio Castro Caldas, para a enorme diminuição dos «horizontes de

trabalho», “sem dúvida vastos e prometedores”, anos antes abertos com o arroteamento

e cultivo de terras incentivadas pela legislação proteccionista do trigo, o que se traduzira

numa «elevação do nível de vida», e agora comprometidos pela “eclosão do fenómeno

pura e simplesmente demográfico.”32 O “sobrepovoamento rural” de que nos falam os

autores do estudo é formulado a partir da descrição do problema do “desemprego”: “a

agricultura, que até então pedia braços para arrotear a terra, passou a ouvir o

desesperado apelo de quem precisa de terra para valorizar os braços”. Generalizou-se

                                                                                                                         

28 A apresentação do aviso prévio sobre desemprego pelo deputado Belford Cerqueira em Diário das Sessões, n.º 75, 15 de Fevereiro de 1940, p. 293. Através desta discussão se entende que neste período a questão do desemprego é quase sinónima de desemprego rural.

29 A redução ou paralisação das actividades motivadas pela eclosão da guerra foi ainda ocasional neste ano pelo que a discussão política do tema do desemprego na Assembleia Nacional não deve ser pensada em relação às consequências da II Guerra Mundial no agravamento das condições de vida nos campos. Segundo Fernando Rosas, em 1940 o “desemprego e a miséria poderiam considerar [-se] «normais» : sazonalmente agravados ao sabor dos ciclos das actividades agrícolas ou piscatórias (…) ou pelos imponderáveis do clima ou forças da natureza.” ROSAS, Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra. Estudo do impacte da II Guerra Mundial na economia e na sociedade portuguesas.1939-1945, col. Imprensa Universitária n.º 83, ed. Estampa, Lisboa, 1990, p. 169.

30

Durante as décadas de trinta e quarenta verificou-se uma retracção da emigração portuguesa devido, sobretudo, a factores externos, em particular as políticas anti-imigratórias genericamente seguidas nos Estados Unidos e nos países europeus depois da crise de 1929. Na década de trinta a média anual de saída foi de aproximadamente de 11 mil por ano, na década seguinte a média cai para 9 mil por ano, números que são “substancialmente inferiores” às médias anuais de saídas registadas em qualquer década entre 1870 e 1930. Cf. BAGANHA, Maria Ionnanis, “Emigração”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal, Suplemento VIII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 615-618.

31

Sobre a conflitualidade social de 1943-1945 na região do latifúndio ver ROSAS, Fernando, op.cit., pp. 400-406, e ainda PEREIRA, José Pacheco, op. cit., pp. 125-129.

(21)

15

então a “«fome de terra», sintoma evidente e grave de sobrepovoamento rural.”33 Este

«sobrepovoamento rural» continha – como já continha no Inquérito Económico

Agrícola de Henrique de Barros – uma ameaça social (e política) óbvia, pois que “só é

possível (…) manter o justo equilíbrio social se à população se dedicar particular

cuidado”.34 É muito clara a relação de causalidade que estes autores estabelecem entre a

pressão demográfica nos campos (nas condições de exploração do latifúndio,

sublinhe-se) e as origens das tensões e conflitos sociais rurais. A percepção de um “desacordo

quantitativo” entre “a terra disponível e a gente que a povoa” parece pois oferecer a

explicação para a “marcha lenta mas segura, no sentido da multiplicação das causas de

conflito que se avoluma”35 e que, como se verá adiante, urgia resolver. Na verdade,

desde os anos trinta, mas sobretudo ao longo dos anos quarenta, o “desemprego rural”

parece tornar-se num tópico recorrente não só entre os agrónomos mas também nos

discursos políticos sobre o mundo rural, tópico esse que na viragem para os anos

cinquenta foi sendo cada vez pensado e debatido sobre a designação de «excesso

populacional»36.

O desemprego rural era particularmente gravoso nas zonas de grande

propriedade de cultura extensiva do Alentejo e do Ribatejo, onde os assalariados

agrícolas temporários constituíam quase 90 % da população activa agrícola (apenas

cerca de 10% eram trabalhadores permanentes)37. Na verdade, entre 1940 e 1950 a

população agrícola cresce 26 % no Alentejo, o que, no contexto do modo de produção

cerealífero, redundou numa acentuação do processo de proletarização agrícola38,

                                                                                                                         

33 Cf. Idem, ibidem, p. 33. 34

Cf. Idem, ibidem.

35 Cf. Idem, ibidem, pp. 33 e 198.

36 Mais tarde, já na década de 50 o excesso populacional no mundo rural é o problema que o I Plano de Fomento tenta resolver para a agricultura. Cf. AMARAL, Luciano, “Agricultura nos Planos de Fomento”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal,

Suplemento VII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 79.

37 CALDAS, João Castro, “Emprego Rural”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal, Suplemento VII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 609; CALDAS, João Castro, “Desemprego Rural”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal, Suplemento VII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 509. 38

(22)

16

aprofundando assim a polarização social39 que caracterizava a ordem social rural nos

campos do Sul. Apesar do aumento da quantidade de seareiros, e correlativo reforço da

agricultura familiar, que complexificam as leituras sobre composição social na região do

latifúndio, a interdependência entre a expansão da cultura do trigo, proporcionada por

políticasproteccionistas, e os níveis de proletarização agrícola é inequívoca.

Para lidar com o problema do desemprego rural, e de modo a minorar os efeitos

sociais e políticos que dele resultavam, o regime do Estado Novo tinha iniciado uma

política de obras públicas ainda durante os anos trinta. Este mesmo objectivo presidiu à

criação do Comissariado do Desemprego, em 1932, que executava ou comparticipava

na execução de obras públicas que criassem postos de trabalho40, ou, para usar os

termos do decreto fundador, que facultasse a todos “o direito a um salário, em vez de

criar por lei, para homens válidos, o direito a um óbulo.”41 Nas décadas seguintes, o

desemprego rural tem cada vez mais peso na consideração da totalidade do fenómeno,

uma vez que o desemprego diminui drasticamente nas restantes actividades

económicas42. Forma de temporariamente minorar o desemprego rural e a

conflitualidade social que lhe estava associada, a política de obras públicas avançada

pelo regime (e que fora, de resto, uma medida recorrente por parte dos poderes públicos

anteriores), foi considerada uma resposta de emergência, e de cariz pontual, bastante

onerosa para as contas públicas – facto que, do ponto de vista de alguns grupos dentro

do aparelho de Estado, se torna particularmente relevante com a economia de guerra,

como se verá.

A organização corporativa do Estado Novo, enquanto estrutura reguladora das

relações de trabalho, não parecia também providenciar soluções mais estruturais para o

problema do desemprego rural. O Estatuto do Trabalho Nacional43 (1933) apenas se

refere genericamente à expressão “crises de trabalho”, estabelecendo a possibilidade de

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                     

estrutura social portuguesa no mundo rural dos anos 30 que aponta para a variedade e complexidade dos diferentes grupos sociais, nomeadamente dentro do proletáriado rural do Sul. Cf. ROSAS, Fernando, O Estado Novo, vol. VII de MATTOSO, José (org.), História de Portugal, Círculo de Leitores, Lisboa,1994, p. 48-53.

39

Cf. FREITAS, Eduardo de, “Sobre a polarização das relações sociais em Portugal. 1930-1970”, Análise Social, vol. X, n.º 39, Lisboa, 1973, pp. 494-507.

40 Cf. BAPTISTA, Fernando Oliveira, A Política Agrária do Estado Novo, Afrontamento, Porto, 1993, p. 173.

41 Cf. Decreto n.º 21 699, de 19 de Setembro de 1932.

42 Cf. Ministério das Obras Públicas. Comissariado do Desemprego, Quinze Anos de Obras Públicas – 1932-1947, Lisboa, 1948, pp. 3-5, citado em PEREIRA, José Pacheco, op. cit., p. 119.

43

(23)

17

medidas excepcionais para dar conta do fenómeno do desemprego44. E, dentro da

orgânica corporativa, as Casas do Povo, idealmente um mecanismo de regulação

corporativa do trabalho agrícola “interclassista”45, eram claramente inoperantes. Embora

com uma fraca rede nacional, criaram-se mais Casas do Povo no Ribatejo e no Alentejo

do que em qualquer outros distritos do país (até porque estas foram concebidas a pensar

sobretudo no Sul). Em 1942, nestas duas províncias, as Casas do Povo tinham perto de

150 mil associados, (mais de metade do total); em 1959, as Casas do Povo tinham perto

de 200 mil, num total nacional que não chegava aos 430 mil (mas estava muito baixo do

1 milhão e 400 mil pessoas da população activa agrícola)46. A partir de 1938 as Casas

do Povo tiveram por função “a negociação, com os grémios da lavoura, de convenções

colectivas de trabalho rural” no entanto a inscrição dos assalariados rurais foi facultativa

até 1941, altura em que se “acrescentou a representação dos assalariados rurais para

efeitos de contratação colectiva.”47 Em 1946 estavam em vigor apenas 125 convenções

colectivas de trabalho, mas, significativamente, 96 delas diziam respeito a distritos

alentejanos. Também as imposições de contratação obrigatória impostas pelo Governo

às grandes explorações em 194348, em resposta directa ao problema do desemprego e da

agitação social que grassava em partes do Alentejo e Ribatejo, e que contaram com forte

oposição dos grandes proprietários, foram ineficazes.

Se o «desemprego rural» se agravou na década de 30, estando na origem de

tensões sociais visíveis na diminuição do “nível de vida” nos campos, na década

seguinte, com os efeitos da economia de guerra, as greves rurais na zona do latifúndio

do Alentejo e do Ribatejo multiplicam-se com o ciclo de lutas iniciado em 1943, pelo

que parecia urgente a alguns sectores dentro do regime, como se verá, encontrar uma

solução de carácter mais permanente para a «questão social».

                                                                                                                         

44

Cf. Artº 17 e Artº 48, Estatuto do Trabalho Nacional, Decreto-lei n.º 23.048, de 23 de Setembro de 1933 citado em GONZALEZ, Maria do Pilar, “Desemprego”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal, Suplemento VIII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 508.

45

Cf. Artº 2 do Decreto-Lei n.º 30719, de 29 de Agosto de 1940 citado em LUCENA, Manuel de, “Casas do Povo”, BARRETO, António e MÓNICA, Maria Filomena (coord.), Dicionário da História de Portugal, Suplemento VIII, Livraria Figueirinhas, Porto, 2000, p. 247.

46 Cf. Idem, ibidem. 47

As Casas do Povo tinham também funções de previdência e assistência, instrução e educação, cooperação em «progressos locais», pequeno crédito e fomento cooperativo. Cf. Idem, ibidem.

(24)

18 É neste contexto dos anos trinta, mas sobretudo dos anos quarenta, que as ideias

de colonização interna emergem dentro do aparelho de Estado, através sobretudo da

Junta de Colonização Interna, como uma alternativa política estruturalmente adequada

ao combate às tais “crises de trabalho” rurais e aos efeitos sociais que daí advinham – a

deterioração das condições de vida dos trabalhadores assalariados –, bem como aos seus

efeitos mais eminentemente políticos – como a perturbação da ordem pública – face ao

carácter circunstancial da política de obras públicas e à inoperacionalidade dos

mecanismos de regulação corporativa do trabalho agrícola. A proposta colonizadora

estado-novista apresentou-se assim com uma racionalidade social própria politicamente

viabilizada através de um coerente projecto económico-produtivista, já de resto

estudado pela bibliografia49. Fracassada a política de colonização interna, como se verá,

o aparelho repressivo50, e em particular o uso sistemático da Guarda Nacional

Republicana51, constituiu talvez o instrumento central do Estado Novo para lidar com a

“questão social” nos campos do Sul de Portugal.

O desequilíbrio populacional e a transladação

Em 1936, as ideias da colonização interna institucionalizam-se no aparelho de

Estado através da criação da Junta de Colonização Interna. O seu propósito declarado é

a criação de soluções para “o problema que o aumento da população vai pondo em

evidência” e que “compete ao Governo resolver.”52 O levantamento de questões

relativas ao aumento populacional e a correlativa apresentação da sua solução através da

ideia de colonização interna tinham já sido configuradas pela tradição do reformismo

agrário, que desde o século XIX vinha a pensar o “problema rural” de Portugal a partir

do “problema da população”. Sublinhe-se por agora que o momento de criação da JCI

marca assim o culminar de um longo processo mais lato em que se reclama do poder

estatal a tarefa de equacionar os habitantes de um território em relação aos seus recursos

                                                                                                                         

49

Sobre as ideias de colonização interna enquanto projecto de modernização económica ver os artigos citados na nota 1 reunidos em ROSAS, Fernando, Salazarismo e fomento económico. O primado do político na história económica do Estado Novo, col. Biblioteca de História, Notícias Editorial, Lisboa, 2000.

50

Cf. BAPTISTA, Fernando Oliveira, op.cit, p. 10.

51 Cf. FONSECA, Inês, FREIRE, Dulce, GODINHO, Paula, “O Dilema do Estado Novo: «a criação de uma verdadeira política rural, ou o aumento da GNR de forma a poder substituí-la”, in Arquivos da Memória, n.º 3, Outono-Inverno de 1997, pp. 35-50.

52

Referências

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