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Projeto de investigação

O relacionamento entre os sistemas de medição de

performance contemporâneos e a capacidade de

inovação: um estudo de caso.

Autor:

Rúben Alexandre da Silva Barros Orientação:

Profª. Doutora Ana Maria Simões, Profª. Auxiliar, ISCTE - IUL, Departamento de Contabilidade

Novembro, 2015

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Índice

1. Apresentação do tema e objetivo geral ... 3

2. Breve Revisão de literatura ... 3

2.1.Sistemas de Medição de Performance Contemporâneos ... 3

2.2. Inovação e capacidade de inovação ... 5

2.3. Inovação, capacidade de inovação e PMS contemporâneos... 6

3. Estrutura conceptual e questões de investigação ... 8

4. Metodologia e métodos de investigação ... 9

4.1. Paradigmas de investigação em contabilidade ... 9

4.2. Metodologia, métodos e fontes de evidência... 11

4.2.1. Seleção do estudo de caso ... 13

4.3. Resource-Based View ... 13

5. Organização da tese ... 15

Referências ... 15

O autor agradece o apoio financeiro da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia com a Bolsa de Doutoramento SFRH/BD/104181/2014

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1. Apresentação do tema e objetivo geral

Vários estudos sobre os sistemas de medição de performance (SMP) têm chegado à conclusão que estes sistemas são profícuos na melhoria da performance organizacional (Micheli e Manzoni, 2010). De facto, as empresas estão sob uma grande pressão para criarem valor para os seus stakeholders e os SMP são vistos como ferramentas que podem ajudar nesta tarefa (Franco-Santos et al., 2012).

Por outro lado, para agregarem valor e, por diversos motivos, as empresas necessitam de se manter competitivas num ambiente cada vez mais turbulento (Dadfar et al., 2013). Razão pela qual, cada vez mais empresas reconhecem na inovação uma forma de ganharem vantagens competitivas sustentáveis. Ou seja, as empresas precisam de se envolver num ciclo contínuo de inovação que proporcione, de forma constante, novas oportunidades para agregar valor os seus negócios (Samson e Gloet, 2014).

Neste sentido, e tal como Grafton et al. (2010) reconhecem, é crítico desenvolver o nosso conhecimento sobre como os SMP ajudam ou prejudicam à exploração de capacidades estratégicas. E, apesar de já ter sido bastante estudado o relacionamento dos SMP com um grande número de capacidades organizacionais estratégicas, a verdade é que o relacionamento destes sistemas com a inovação nas empresas é um tema ainda algo controverso.

Face a este cenário, o objetivo geral deste projeto passa por estender o nosso atual conhecimento acerca da dinâmica entre SMP contemporâneos e a capacidade de inovação nas organizações. Para alcançar este propósito, a investigação será metodologicamente suportado numa abordagem qualitativa e interpretativa, com o uso de um estudo de caso numa empresa portuguesa.

2. Breve Revisão de literatura

2.1. Sistemas de Medição de Performance Contemporâneos

A necessidade de estabelecer ligações entre planeamento, decisões, ação individual e resultados têm provocado um interesse considerável da parte de profissionais e académicos na medição da performance organizacional (Micheli e Mari, 2014). De facto, a partir dos anos 90, os SMP registaram avanços bastante significativos (Silvi et

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4 al., 2015). Os problemas dos sistemas baseados nos princípios contabilísticos tradicionais há muito que foram debatidos, e nos dias de hoje, a literatura advoga o uso dos sistemas de medição de performance contemporâneos (Franco-Santos et al., 2012; Giovannoni e Maraghini, 2013; Silvi et al., 2015). Contudo, a literatura neste âmbito não apresenta uma definição ou denominação comuns de SMP contemporâneos (Grafton et al., 2010; Franco-Santos et al., 2012; Silvi et al., 2015). Por exemplo, Giovannoni e Maraghini (2013) definem SMP contemporâneos como:

“coexistence (...) of different types of measures related to various dimensions of the value creation process and to different organizational functions (operation, finance,

marketing, commercial, R&D, etc.) or stakeholder perspectives” (p. 980).

De forma semelhante, Grafton et al. (2010) afirmam que os SMP contemporâneos devem compreender medidas de performance financeiras e não financeiras que reflitam as principais atividades agregadoras de valor no seio da organização. Sendo mais simplistas, Franco-Santos et al. (2012) preferem focar a sua definição apenas nas condições que consideram ser suficientes e necessárias. Para os autores, um SMP contemporâneo existe se medidas de performance financeiras e não financeiras forem usadas para operacionalizar os objetivos estratégicos da organização (Franco-Santos et al., 2012).

Assim, das definições enunciadas e como apontou Hall (2008), os SMP contemporâneos devem incluir as seguintes características: (i) Um leque de medidas que cobram as áreas mais importantes da organização; (ii) a integração das medidas com a estratégia e com os outcomes; (iii) a integração das medidas através das fronteiras funcionais e da cadeia de valor. Ao reunir todas estas características, os SMP contemporâneos conseguem direcionar a atenção dos gestores para as consequências de longo termo das suas ações, encorajando-os a implementar a estratégia organizacional de forma eficiente (Grafton et al., 2010). Não é, portanto, surpresa que estes sistemas sejam recomendados para facilitar a implementação da estratégia e o aumento da performance organizacional (Franco-Santos et al., 2012), representando um importante valor estratégico nas organizações (Silvi et al., 2015).

Contudo, o debate na literatura sobre os SMP contemporâneos é bastante mais extenso. Especialmente nos últimos anos, assistiu-se a uma proliferação na literatura de estudos neste campo, que examinam um vasto de leque de assuntos como o design, o processo

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5 de implementação e os seus usos (Giovannoni e Maraghini, 2013; Micheli e Mari, 2014; Silvi et al., 2015).

No entanto, a literatura tem também investigado o impacto dos SMP contemporâneos em diversas capacidades estratégicas (Franco-Santos et al., 2012). A ideia por detrás destes estudos é que, os SMP contemporâneos influenciam as capacidades organizacionais pelas rotinas que promovem (Franco-Santos et al., 2012). Uma vertente desta literatura tem-se dedicado à investigação do relacionamento destes sistemas com a inovação ou com a capacidade de inovação (e.g. Bisbe e Otley, 2004; Henri, 2006; Saunila e Ukko, 2013; Saunila et al., 2014). Atenda-se, de seguida, as diferenças entre estes dois conceitos.

2.2. Inovação e capacidade de inovação

No ambiente hipercompetitivo de hoje, inovação é fundamental não só para a sobrevivência das empresas mas também para o desenvolvimento de vantagens competitivas sustentáveis (Henri, 2006; Dadfar et al., 2013; Samson e Gloet, 2014). Desta forma, inovação é um elo fundamental na competitividade e um conceito multidimensional e complexo (Samson e Gloet, 2014). Por esta razão, as definições de inovação são abundantes na literatura (Samson e Gloet, 2014). Dadfar et al. (2013) definem inovação como a adoção de um novo comportamento ou ideia, podendo a inovação aparecer na forma de um novo produto ou serviço, uma nova tecnologia ou uma nova prática administrativa. Similarmente, Yang et al. (2015) definem inovação como o mecanismo, através do qual, as organizações desenvolvem novos produtos, processos ou sistemas. Assim, inovação é em tudo uma mudança, por vezes radical mas a maior parte das vezes incremental (Samson e Gloet, 2014).

Profundamente enraizado neste conceito de inovação está o conceito de capacidade de inovação (Dadfar et al., 2013). Capacidade de inovação é o potencial de uma organização para adotar um conjunto de características não físicas que produzem outputs inovadores (Saunila e Ukko, 2014). Por outras palavras, capacidade de inovação é o motor da inovação (Saunila e Ukko, 2014). Ideia essa, também sugerida por Lawson e Samson (2001), que definem capacidade de inovação como a habilidade para continuamente transformar conhecimento e ideias em novos produtos, processos ou sistemas para o benefício da empresa e dos seus stakeholders. Por seu turno, Yang et al.

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6 (2015) definem capacidade de inovação como as dimensões de influência que afetam a capacidade de uma organização para gerir inovação. O estudo de Samson e Gloet (2014) olha para a capacidade de inovação como um conjunto de fatores que facilitam uma cultura e clima inovadores na organização e, por consequência, originam uma maior performance de inovação e negócios. Consequentemente, e de acordo com estas definições, inovação apenas surge se a organização for detentora de capacidade de inovação (Dadfar et al., 2013). Além disso, é certo que empresas que tenham uma maior capacidade de inovação conseguem desenvolver mais vantagens competitivas, alcançar maiores níveis de performance organizacional e de renovação empresarial (Henri, 2006). Desenvolver capacidade de inovação deve pois, ser uma prioridade para qualquer organização (Yang et al., 2015).

Em suma, a capacidade de inovação pode ser vista como um ativo intangível que tem o potencial de criar inovação e que se traduz na criação de valor para as empresas (Saunila e Ukko, 2014; Yang et al., 2015). Ou, em poucas palavras, capacidade de inovação, é uma forma de alcançar outputs inovadores.

2.3. Inovação, capacidade de inovação e PMS contemporâneos.

Nos últimos anos, alguns estudos, tem relacionado SMP com o conceito de inovação e capacidade de inovação. Na verdade, estudar a relação entre SMP contemporâneos e a capacidade de inovação é semelhante a estudar a relação entre SMP contemporâneos e inovação. Isto porque, quando se consegue estabelecer um relacionamento positivo (negativo) entre PMS e capacidade de inovação, haverá certamente um relacionamento no mesmo sentido entre PMS e inovação.

Por exemplo, Marginson (2002), enquanto estudava a relação entre os Sistemas de Controlo de Gestão (SCG) e o processo estratégico, indica que os SMP contemporâneos favorecem o desenvolvimento de novas ideias e iniciativas nas empresas e, consequentemente, melhoram a inovação. Indo um pouco mais longe, Bisbe e Otley (2004), recolhendo dados por questionário em empresas de média dimensão espanholas e, focando-se em inovação em termos de produto, concluem que o uso interativo dos SCG pode promover a inovação em empresas de baixo cariz inovador. Por outro lado, em empresas altamente inovadoras, o relacionamento é precisamente o contrário. Mais tarde, Henri (2006), usando questionários a empresas canadianas, conclui que o SMP,

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7 quando usado de forma interativa, contribui positivamente para o desenvolvimento da capacidade de inovação. Contudo, o uso diagnóstico já contribui negativamente para o seu desenvolvimento.

Mais recentemente, relacionando a capacidade de inovação com os SMP, dois estudos foram conduzidos com base na mesma amostra de questionários enviados a pequenas e médias empresas finlandesas. Por um lado, Saunila e Ukko (2013) mostram que existe um relacionamento positivo entre capacidade de inovação e medição de performance. Por outro lado, Saunila et al. (2014) concluem que a medição de performance pode ser usada como uma ferramenta para aumentar a performance de pequenas e médias empresas através da capacidade de inovação. Para isto acontecer, os autores afirmam que as empresas que medem os determinantes da capacidade de inovação conseguem alcançar maiores níveis desta, especialmente se houver uma exploração ativa do determinante de conhecimento externo (Saunila et al., 2014). De certa forma, o que os autores provam é que a medição de performance tem um efeito moderador na relação entre os determinantes da capacidade de inovação e da performance organizacional (Saunila et al., 2014). De qualquer forma, estes dois estudos partilham a mesma amostra, por isso seria expectável que os resultados apontassem na mesma direção. Por último, Bedford (2015) vem reforçar as conclusões de Bisbe e Otley, concluindo que o controlo interativo está relacionado com a performance em empresas voltadas para a inovação exploratória, enquanto para empresas que procurem refinar competências de primeira ordem, o foco no uso diagnóstico e no sistema de limites tende a ser mais benéfico (Bedford, 2015). No caso de empresas que procurem alcançar os dois tipos de inovação, diz-nos o autor, que é a tensão dinâmica criada pelo uso diagnóstico e interativo que se revela importante para alcançar maior performance. Estes resultados são alcançados analisando questionários enviados a empresas australianas (Bedford, 2015).

Dado este estado-de-arte, fica claro que existem poucos estudos neste âmbito e, os poucos que existem, demonstram alguma contradição quanto aos impactos do uso de SMP. Assim, mais investigação é necessária para complementar esta situação, tal como já havia sido reconhecido por Franco-Santos et al. (2012). Contudo, a maioria dos estudos parece indicar um relacionamento de cariz positivo.

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8 Existe, também, falta de estudos que abordem os tipos de medidas de performance necessárias para estimular a capacidade de inovação (Saunila e Ukko, 2013; Saunila et al., 2014). A maioria dos estudos aqui apontados usam metodologias quantitativas que não permitem identificar os tipos de medidas necessárias para estimular a capacidade de inovação.

3. Estrutura conceptual e questões de investigação

Como ficou implícito anteriormente, perceber o relacionamento entre os SMP contemporâneos e a capacidade de inovação está a tornar-se essencial, uma vez que tal conhecimento irá ajudar as organizações a desenvolver os SMP para que estes promovam a capacidade de inovação e assegurem o surgimento contínuo de inovações. Essa interação entre SMP contemporâneos, capacidade de inovação e inovação é mostrada na Figura 1, que define o quadro conceptual para este trabalho.

Desta forma, o problema principal desta investigação é:

“Como é que os SMP afetam a capacidade de inovação nas organizações?” A partir desta questão global, é possível formular outras três questões secundárias:

A. Terão os SMP um relacionamento com a capacidade de inovação?

B. Quais as características particulares dos SMP contemporâneos que fazem com que esses sistemas encorajem ou inibam a capacidade de inovação?

SMP Contemporâneos

Capacidade de

inovação Inovação

Figura 1: Relação geral entre PMS contemporâneos e inovação

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9 C. Como é que os mecanismos de performance podem ser usados para alcançar

maior capacidade de inovação empresarial?

Numa fase posterior do trabalho de investigação deverão ser definidas algumas questões teóricas. Estas questões deverão surgir após a realização de uma análise extensiva sobre a teoria que melhor ajudar a explicar os resultados obtidos no estudo de caso.

Ao responder a estas questões, este trabalho irá procurar contribuir para a literatura principalmente através de dois prismas. Primeiro, apresentar evidência empírica complementar que poderá refinar o atual debate na literatura sobre o relacionamento dos SMP com a capacidade de inovação. Haverá, também, um contributo na extensão deste debate, identificando para isso a tipologia de medidas de performance que podem ou não determinar um relacionamento positivo (negativo) na capacidade de inovação. Segundo, apresentar um estudo de caso baseado num contexto organizacional português, dado que, a maior parte dos estudos existentes sobre esta temática são quantitativos e centram-se noutros países, como Espanha (Bisbe e Otley, 2004), Canadá (Henri, 2006), Finlândia (Saunila e Ukko, 2013; Saunila et al., 2014) e Austrália (Bedford, 2015).

De um ponto de vista mais prático, este estudo, ao aumentar o nosso conhecimento acerca dos SMP, poderá melhorar a exploração desta ferramenta tão importante para o dia-a-dia das empresas. Especialmente, se se conseguir aferir o expectável relacionamento positivo entre o SMP e a inovação, criar-se-ão bases que permitiram às empresas explorar, também, a tão importante capacidade estratégica que é a capacidade de inovação.

4. Metodologia e métodos de investigação

4.1. Paradigmas de investigação em contabilidade

Tal como referem Kakkuri-Knuuttila et al. (2008) existe uma tendência na literatura organizacional e de contabilidade para enfatizar as diferentes abordagens filosóficas naquilo que se chamam paradigmas. Paradigma é o termo utilizado nas ciências socias para designar a forma de interpretar um fenómeno social (Saunders et al., 2009). Neste aspeto, revela-se de especial importância o trabalho de Burrell e Morgan, que vem

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10 clarificar e sintetizar as epistemologias e as ontologias aqui abordadas, criando uma categorização para a investigação organizacional (Burrell e Morgan, 1979; Ryan et al., 2002; Saunders et al., 2009). Os autores utilizam duas dimensões independentes para proceder a tal categorização: a natureza das ciências sociais e a abordagem à sociedade (Burrell e Morgan, 1979).

A natureza das ciências sociais consiste em quatro elementos distintos, mas relacionados: os pressupostos ontológicos, epistemológicos, a natureza humana e a metodologia (Hopper e Powell, 1985; Ryan et al., 2002; Saunders et al., 2009). De acordo com as características comuns dos quatro aspetos, Burrell e Morgan criaram duas dimensões conceptuais, o subjetivismo e objetivismo (Burrell e Morgan, 1979; Kakkuri-Knuuttila et al., 2008). No subjetivismo a epistemologia é interpretativa, a realidade é um produto da consciência individual, a natureza humana pautada pelo livre arbítrio e pela autonomia e a metodologia ligada a métodos em que o entendimento da realidade social é enfatizado (Burrell e Morgan, 1979; Hopper e Powell, 1985; Ryan et al., 2002). Por outro lado, no objetivismo entende-se que o conhecimento advém da observação, a realidade é concreta, as ações humanas determinadas pelo meio ambiente e a metodologia deverá seguir o método científico (Burrell e Morgan, 1979; Hopper e Powell, 1985; Ryan et al., 2002).

A abordagem à sociedade define duas alternativas e “subcategorias” diferentes: uma está preocupada com a regulação, ordem e estabilidade, que Burrell e Morgan apelidam somente de regulação, e a segunda está relacionada à divisão de interesses, conflitos e desigualdades de poder que propiciam a apelidada mudança radical (Hopper e Powell, 1985).

Aglutinando estas quatro conceptualizações, os autores criam quatro paradigmas mutuamente exclusivos: o humanismo radical, o estruturalismo radical, o interpretativismo e o funcionalismo (Burrel e Morgan, 1979; Hopper e Powell, 1985; Ryan et al., 2002; Saunders et al., 2009). No entanto, alguns anos mais tarde e, com base neste trabalho, Hopper e Powell (1985) propõem a redução destes quatro paradigmas, em três paradigmas de investigação em contabilidade: positivista, interpretativa e crítico.

O paradigma positivista, ou mainstream, é em todo muito semelhante ao quadrante que Burrell e Morgan apelidam de funcionalismo (Ryan et al., 2002). Os investigadores

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11 positivistas caracterizam-se pela procura de uma visão objetiva da sociedade e de racionalização da utilidade (Ryan et al., 2002). Quer isto dizer, que, os positivistas encaram as organizações como entidades racionais, nas quais explicações racionais oferecem soluções para os problemas em estudo (Saunders et al., 2009). Este tipo de investigação dá preferência a métodos quantitativos de recolha de dados, altamente estruturados e de amostras amplas, de modo a permitir futuras generalizações (Moll et al., 2006; Saunders et al., 2009).

No paradigma interpretativo, também identificado por Burrell e Morgan, o investigador enfatiza, essencialmente, a natureza subjetiva do mundo social e tenta compreendê-la através do quadro de referência dos indivíduos alvo do estudo (Hopper e Powell, 1985; Ryan et al., 2002). Ou seja, a perspetiva interpretativista propõe que o foco do estudo penda para as perceções e para os significados que os habitantes do meio social vão atribuindo ao fenómeno estudado (Moll et al., 2006). Mediante as bases filosóficas do interpretativismo, também não se revela coerente dar prevalência a metodologias quantitativas que tratam o mundo social como objetivo e mensurável (Hopper e Powell, 1985). Os métodos qualitativos são mais adequados, num processo interativo que envolve na maioria das vezes, estudos de caso ou observações participantes (Hopper e Powell, 1985; Vieira, 2009).

Por último, Hopper e Powell (1985) demonstraram alguma relutância em categorizar investigação em humanismo radical e estruturalismo radical, preferindo antes a categorização em teorias radicais. Com o tempo esta categoria adquiriu a denominação de investigação crítica (Ryan et al., 2002). Neste paradigma, os investigadores veem a sociedade como uma composição de elementos contraditórios e de sistemas de poder, que levam a desigualdades (Hopper e Powell, 1985). O investigador está, portanto, preocupado com o desenvolvimento de uma compreensão do mundo social, criticando-o em simultâneo (Hopper e Powell, 1985). Particularmente, os investigadores críticos sondam e amplificam as circunstâncias da vida social (Ryan et al., 2002), procurando criar condições para auxiliar a própria mudança (Moll et al., 2006).

4.2. Metodologia, métodos e fontes de evidência

Voltando à investigação em concreto, do ponto de vista metodológico, e tendo em conta a natureza da investigação pretendida, adotar-se-á uma abordagem qualitativa e

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12 interpretativa. Por um lado, a investigação qualitativa é apropriada em situações em que o cuidado do investigador reside na obtenção de descrições e explicações ricas de um dado fenómeno (Moll et al., 2006). Por outro, tal como analisado anteriormente, uma investigação interpretativa parte da crença que a contabilidade de gestão não é um fenómeno natural mas, uma construção social (Ryan et al., 2002). Uma vez que o foco da investigação penderá para a perceção do relacionamento entre SMP e inovação e para o detalhe e complexidade do tipo de medidas de performance necessárias para determinar esse relacionamento, está-se perante a escolha mais adequada para o desenvolvimento deste projeto.

Particularmente, será adotado o método do estudo de caso, uma escolha recomendada na área de contabilidade de gestão (Ryan et al., 2002). Tal como refere Yin (2009), o estudo de caso é o método mais apropriado quando as questões de investigação que se procuram responder se podem configurar em “como” e “porquê”. Além do mais, o estudo de caso é exposto por Berry e Otley (2009) como um método hábil para dar resposta à tarefa de compreensão do conteúdo, dos processos e do contexto das práticas contabilísticas.

Tal como Ryan et al. (2002) reportam, os estudos de caso podem ser usados de variadíssimas maneiras na investigação em contabilidade e, as tipologias enunciadas na literatura nem sempre são rígidas. Por essa razão, o estudo de caso a realizar será um misto entre o estudo de caso descritivo e exploratório. Descritivo, porque, a ideia geral do estudo é a de descrever as práticas de medição de performance dos sistemas contemporâneos que promovem, ou não, a capacidade de inovação nas empresas. Exploratório, porque, sendo esta uma área tão pouco abordada serão levantadas questões que poderão ser exploradas em estudos futuros.

Como mencionado por Yin (2009), num estudo de caso as evidências podem surgir de inúmeras fontes. Neste caso em particular, planeia-se utilizar um misto de entrevistas semiestruturadas, observações diretas e documentação histórica e corrente da empresa e do sector. Claro está que, as entrevistas assumirão o papel de fontes de dados principais (Yin, 2009).

Para analisar as entrevistas transcritas, pretende-se utilizar os procedimentos aconselhados por Gioia et al. (2013), de forma a assegurar o que os autores chamam de

“rigor qualitativo”.

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13 4.2.1. Seleção do estudo de caso

No que toca a seleção do estudo de caso, basicamente, a estratégia inerente à escolha passou por selecionar um caso relevante ou “extremo” (Yin, 2009). Ou seja, a ideia passa por escolher uma empresa que efetivamente tenha implementado um SMP (tal como definido na revisão de literatura) e seja reconhecidamente inovadora.

Uma vez que, o uso recorrente de práticas de medição de performance, apenas poderá ser aferido no decorrer do estudo de caso piloto optou-se por no processo de seleção atuar sobre a área de inovação. Assim, o processo de seleção da organização, teve início com a elaboração de uma listagem de empresas alvo, retiradas do site da COTEC Portugal – Associação empresarial para a inovação. Neste site, foram analisadas notícias sobre empresas inovadoras e empresas certificadas com a norma de inovação NP4457. Das empresas retiradas, foram selecionadas as que tivessem processo produtivo, eliminando as empresas de consultadoria, independentemente da sua área de prestação de serviços. A razão de ser deste critério está relacionado com o facto de se pretender abordar inovação, tanto numa lógica incremental, como radical. No final, obteve-se uma listagem de 49 empresas. Todas elas foram contactadas por e-mail, para averiguar a sua disponibilidade e interesse. Neste momento, já se chegou a contacto com duas destas empresas, sendo que numa delas já se encontra a decorrer o estudo de caso piloto. Trata- se de uma empresa do sector corticeiro, com uma vasta e conhecida atividade de inovação. Com a realização deste estudo de caso piloto espera-se ser possível clarificar e detalhar mais as questões de investigação, bem como definir mais claramente que dados recolher e como os recolher.

Nesta fase, a ideia passa por realizar um estudo de caso único bastante aprofundado, que permita obter descrições, detalhes e explicações ricas. No entanto, a ideia do estudo de caso múltiplo não se encontra excluída. Esta abordagem dependerá sempre da disponibilidade e viabilidade das empresas contactadas, bem como, dos constrangimentos temporais associados aos prazos de realização do doutoramento.

4.3. Resource-Based View

Por fim, é importante reconhecer que esta investigação adotará a teoria baseada nos recursos, ou em inglês resource-based view theory (RBV). Esta teoria tem sido adotada por vários estudos para explicar o relacionamento dos SMP contemporâneos com

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14 diversas capacidades organizacionais (Franco-Santos et al., 2012). Esses estudos sugerem que os SMP indiretamente influenciam a performance organizacional através do impacto em capacidades organizacionais estratégicas (Grafton et al., 2010).

A RBV tem os seus primórdios na área da estratégia com os trabalhos de Wernerfelt (1984) e Barney (1991). O trabalho de Wernerfelt (1984) é considerado como a primeira contribuição para esta teoria, onde o autor olha para a organização pelo lado dos recursos ou invés de a olhar pelo lado dos produtos. Contudo, é Barney (1991) quem desenvolve mais a teoria ao identificar as principais características dos recursos que formam as bases das vantagens competitivas.

Em traços largos, a RBV assenta em dois importantes pressupostos sobre os recursos organizacionais: a heterogeneidade e a imobilidade. O primeiro pressuposto afirma que os recursos são distribuídos de forma heterogénea entre as organizações dentro de um dado sector (Barney, 1991; Kozlenkoza et al., 2014). Por essa razão, algumas organizações estão mais aptas a realizar certas atividades graças ao conjunto único de recursos e capacidades que possuem (Kozlenkoza et al., 2014). O segundo pressuposto refere que esses recursos não podem ser transferidos de organização para organização sem custos e, por isso, a heterogeneidade pode persistir ao longo do tempo (Barney, 1991).

Baseado nestes pressupostos, a lógica por detrás da RBV é de que as organizações adquirem vantagens competitivas se tiverem recursos valiosos que poucas outras tenham e, que esses recursos são caros e difíceis de imitar (Kozlenkoza et al., 2014). Contudo, estas condições não são suficientes para que um recurso ou capacidade se qualifique como vantagem competitiva sustentável. Para ter o potencial de se tornar numa vantagem competitiva sustentável um recurso deve possuir quatro atributos simultaneamente: ser valioso, raro, inimitável e ser controlado pela organização (Barney, 1991; Henri, 2006; Grafton et al., 2010; Kozlenkoza et al., 2014). Um recurso é valioso quando permite à organização levar a cabo ou implementar estratégias que aumentem a sua eficácia ou eficiência (Barney, 1991). No entanto, um recurso que seja valioso, mas não raro, de pouco serve à organização. E, um recurso é raro quando apenas é controlado por um pequeno grupo de organizações (Barney, 1991; Kozlenkoza et al., 2014). Por outro lado, um recurso valioso e raro só se pode tornar numa vantagem competitiva sustentável se as organizações que não o possuem forem incapazes de o

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15 obter (Barney, 1991). Por último, as organizações também devem possuir os processos, procedimentos e políticas que lhes permita explorar todo o potencial de um recurso ou capacidade que seja valioso, raro e inimitável (Kozlenkoza et al., 2014).

Assim, sumariando estas ideias, a RBV conceptualiza a organização como sendo composta por um conjunto de recursos e, a forma de alcançar vantagens competitivas sustentáveis é a de encontrar os recursos que são raros, inimitáveis, não substituíveis e valiosos (Wernerfelt, 1984; Barney, 1991; Henri, 2006; Grafton et al., 2010).

5. Organização da tese

A tese deverá ser organizada através do método de compilação de artigos. Neste sentido, deverão ser elaborados três artigos científicos. No primeiro artigo tenciona-se realizar uma análise da literatura relevante, publicada nas melhores publicações científicas da área da contabilidade e da inovação.

Nos outros dois artigos, a ideia passa por desenvolver e sistematizar os resultados do estudo de caso principal, respondendo às questões de investigação já trabalhadas e pormenorizadas no decorrer do estudo de caso piloto. Claro está, que, a base dessas questões serão sempre as apresentadas no capítulo 3. Repare-se, no entanto, que estamos ainda numa fase muito inicial da investigação e as ideias a apresentar nos últimos artigos precisam de ser discutidas e desenvolvidas. Processo esse, que deverá ocorrer naturalmente no decurso do estudo de caso. Tal como afirmam Berry e Otley (2004) a própria natureza da investigação por estudo de caso requer abertura para a possibilidade de descoberta.

Referências

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Referências

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