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LETÍCIA BARBOSA DA SILVA CAVALCANTE

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DEPARTAMENTO DE LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ESTUDOS DE LINGUAGENS LETÍCIA BARBOSA DA SILVA CAVALCANTE

LÉXICO TOPONÍMICO URBANO NA CIDADE DE CAMPO GRANDE/MS:

REGIÃO DO IMBIRUSSU

Campo Grande – MS

Novembro, 2016

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LETÍCIA BARBOSA DA SILVA CAVALCANTE

LÉXICO TOPONÍMICO URBANO NA CIDADE DE CAMPO GRANDE/MS:

REGIÃO DO IMBIRUSSU

Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação – Mestrado em Estudos de Linguagens –, Área de concentração: Linguística e Semiótica, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profa. Dra. Aparecida Negri Isquerdo

Campo Grande – MS

Novembro, 2016

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LETÍCIA BARBOSA DA SILVA CAVALCANTE

CAVALCANTE, Letícia Barbosa da Silva. Léxico toponímico urbano na cidade de Campo Grande/MS: região do Imbirussu . 2016. 272 fl . Dissertação (Mestrado em

Estudos de Linguagens). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2016.

BANCA EXAMINADORA:

Profa. Dra. Aparecida Negri Isquerdo

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul − UFMS Orientadora

Profa. Dra. Maria Célia Dias de Castro

Universidade Estadual do Maranhão − UEMA Membro

Profa. Dra. Elizabete Aparecida Marques

Universidade Federal do Mato Grosso do Sul − UFMS Membro

Campo Grande, MS, 14 de dezembro de 2016.

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Língua portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura:

Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.

Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela,

E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo!

Amo-te, ó rude e doloroso idioma, em que da voz materna ouvi: "meu filho!", E em que Camões chorou, no exílio amargo,

O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

BILAC, Olavo. Poesias, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1964, p. 262.

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Isabela, meu presente divino!

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida, pelo cuidado e amor incondicional.

À minha orientadora, professora Dra. Aparecida Negri Isquerdo, por todo incentivo e ajuda, pela paciência e pela disponibilidade em compartilhar o que sabe.

Ao Professor Dr. Auri Claudinei de Matos Frübel, pela confiança em mim depositada no início do Mestrado.

Às Professora Dra. Elizabete Aparecida Marques e Professora Dra. Marilze Tavares, pelas significativas sugestões apresentadas por ocasião do Exame de Qualificação.

Às professoras da banca, Dra. Elizabete Aparecida Marques e Professora Dra. Maria Célia Dias de Castro, por tão prontamente terem aceitado o convite.

Aos mestres do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos de Linguagens, pela condução intelectual e saberes compartilhados.

Às negretes, pela amizade, apoio, ajuda nos momentos difíceis e troca de experiências durante as reuniões do grupo de pesquisa do Projeto ATEMS.

Aos colegas de turma pela troca de materiais, apoio e palavras de incentivo, em especial à também negrete, Juliany, cuja amizade foi essencial durante essa caminhada acadêmica.

A CAPES, pelo apoio financeiro propiciado por meio da Bolsa de Mestrado.

Às minhas melhores amigas, Rosemar, Adriana, Lorene e Ana Andrea, que para mim são irmãs, pela amizade, torcida e palavras de incentivo.

Aos colegas do IFMS, Campus Ponta Porã, pela acolhida e apoio na reta final desta dissertação.

À minha querida Cleonice, mãe amorosa sempre presente, pelo exemplo de mulher de fibra e fé.

À minha família: meu pai Adroaldo, Suzi, irmãos de sangue e laço, Denise e Áureo, Dudu e Veridiana, Sandro e princesinha Aline, por fazerem parte das minhas conquistas, pelo amor e orações.

Ao meu querido esposo, pelo amor, paciência e por compartilhar comigo sonhos e aventuras.

À minha pequena Isabela, pelo carinho e compreensão nos momentos de ausência da mamãe.

A todos aqueles que direta ou indiretamente me apoiaram nesta caminhada.

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RESUMO

A nomeação de lugares reflete aspectos importantes dos valores sociais, políticos e culturais da memória coletiva, os topônimos, nomes de lugares, mais do que designar locativos, servem de suporte linguístico em que se vê refletida a história de um povo. Tomando como referência a interrelação léxico, cultura e sociedade e visando a relacionar o topônimo a fatores históricos e socioculturais, este trabalho tem como objeto de investigação os nomes de aglomerados urbanos (bairros e parcelamentos) e logradouros (ruas, avenidas, travessas e praças) da região urbana do Imbirussu, Campo Grande/Mato Grosso do Sul. Objetiva-se contribuir para o conhecimento da realidade linguístico-cultural da capital sul-mato-grossense, à medida que se buscou identificar, catalogar, analisar e organizar um acervo com os topônimos registrados em mapas vetoriais da cidade. O estudo orienta-se pelos princípios teórico-metodológicos da Lexicologia e da Toponímia, em especial o modelo teórico concebido por Dick (1990a; 1990b; 1996a, 1996b; 1999; 2002-2003;

2004;), também utilizados pelo projeto Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul (ATEMS), a que este estudo está vinculado. Como fonte de dados, foram utilizados os Arquivos Vetoriais sobre o planejamento urbano da cidade de Campo Grande/MS, disponibilizados pelo Grupo de Informática e Geoprocessamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano (SEMADUR), da Prefeitura Municipal. Os dados foram analisados segundo as dimensões quantitativa e qualitativa. A análise quantitativa considerou o tratamento estatístico dos dados, expressos por meio de tabelas e gráficos, tomando como referência os vários aspectos considerados na análise qualitativa (língua de origem, taxionomia, estrutura morfológica etc.). Por sua vez, na análise qualitativa considerou-se a motivação semântica dos designativos e a relação entre as camadas toponímicas e a história social da cidade de Campo Grande. Ao final da pesquisa, constatou-se que a microtoponímia dos 07 nomes de bairros, 99 de parcelamentos e 821 de logradouros evidencia que a motivação toponímica foi, predominantemente, a antropocultural e não a física e que a nomeação dos aglomerados e logradouros urbanos decorre de fatores de natureza diversa: históricos, socioculturais, econômicos, políticos e habitacionais.

Palavras-chave: léxico; toponímia urbana; história; cultura; Campo Grande;

Imbirussu.

(8)

ABSTRACT

The naming of places reflects important aspects of the social, political and cultural values of collective memory, toponym, place names, rather than designating locals, serve as a linguistic support in which the history of a people is reflected. Taking as a reference the lexicon, culture and society interrelationship and aiming to relate toponymy to historical and sociocultural factors, this work has as object of investigation the names of urban agglomerations (districts and allotments) and plublic roads (streets, avenues, alleyways and squares) of the urban region of Imbirussu, Campo Grande/ Mato Grosso do Sul. It aims to contribute to the knowledge of the linguistic-cultural reality of the capital of Mato Grosso do Sul, as it was sought to identify, catalog, analyze and organize a collection with toponyms recorded on oficial city maps. The study is guided by the theoretical-methodological principles of Lexicology and Toponymy, especially the theoretical model conceived by Dick (1990a; 1990b; 1996a, 1996b; 1999; 2002-2003; 2004), also used by the Project of Toponymic Atlas of Mato Grosso do Sul State (ATEMS), to which this study is associated with. As source of data, we used the Vector Files on the urban planning of the city of Campo Grande/MS, made available by the Computer and Geoprocessing Group of the Municipal Secretariat for Environment and Urban Development (SEMADUR), of the City Hall. The data were analyzed according to the quantitative and the qualitative dimensions. The quantitative analysis considered the statistical treatment of the data, expressed through tables and graphs, taking as reference the various aspects considered in the qualitative analysis (language of origin, taxonomy, morphological structure etc.). In turn, in the qualitative analysis it was considered the semantic motivation of the designative and the relation between the toponymic layers and the social history of Campo Grande city. At the end of the research, it was verified that the microtoponymy (07 names of districts, 99 of allotments and 821 plublic roads) shows that the toponymic motivation was predominantly anthropocultural and not physical, and that the naming of agglomerates and urban sites derives from factors of diverse nature: historical, sociocultural, economic, political and housing policy.

Keywords: lexicon; urban toponymy; history; culture; Campo Grande; Imbirussu.

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 − Sintagma toponímico: estrutura do topônimo bairro Santo Amaro... 35 Figura 2 − Planta do projeto de aprovação do parcelamento Portal do Panamá,

bairro Panamá − 1999 ... 47 Figura 3 − Sede da Fazenda Bandeira, de Joaquim Antônio, filho de José Antônio

Pereira... 53 Figura 4 − Moradores pioneiros ... 53 Figura 5 − Propriedades Rurais no município de Campo Grande com mais de 10.000 hectares em 1919 ... 54 Figura 6 − Sede da Fazenda Serradinho ... 56 Figura 7 − Estação Ferroviária de Campo Grande – Década 1910. ... 59 Figura 8 − Quartel General da 9ª Região Militar (à esquerda) e quartel do 18º

Batalhão dos Caçadores (à direita). ... 62 Figura 9 − Plano de obras do Escritório Saturnino de Brito, Campo Grande/MS −

1938 ... 63 Figura 10 − Base Aérea de Campo Grande (à esquerda) e Aeroporto Internacional

de Campo Grande (à direita) ... 64 Figura 11 − Frigorífico Matogrossense S.A. e vila de operários ao fundo ... 66 Figura 12 − Mapa da evolução dos parcelamentos aprovados até 2013 − Região

Urbana Imbirussu ... 70 Figura 13 − Busca no site da Câmara de Vereadores de Campo Grande/MS... 74 Figura 14 − Consulta a processo legislativo no site da Câmara de Vereadores de

Campo Grande/MS ... 75 Figura 15− Visualizador do Sistema Municipal de Geoprocessamento − SIMGEO .. 77 Figura 16 − Mapoteca da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano da cidade de Campo Grande/MS ... 77 Figura 17 − Modelo da Ficha Lexicografico-toponímica (DICK, 2004) ... 80 Figura 18 − Busca na base de dados geográfica GeoNames ... 84 Figura 19 − Mapa da localização do município de Campo Grande no Estado de

Mato Grosso do Sul ... 85 Figura 20 − Mapa da divisão da sede urbana de Campo Grande/MS ... 86 Figura 21 − Espécie Pseudobombax grandiflorum ... 87 Figura 22− Nova área urbana em processo de parcelamento no bairro Santo

Antônio, Campo Grande/MS... 223 Figura 23 − Residência da família Baís, depois transformada em Pensão Pimentel

em registro fotográfico de Roberto Higa 1990 ... 237 Figura 24 − Planta do projeto de aprovação do parcelamento vila Espanhola, bairro

Sobrinho – 1964. ... 239 Figura 25 − Possível motivação toponímica do designativo Angatuba ... 240 Figura 26 − Consulta da localização da rua Angatuba no SIMGEO (2015) ... 241 Figura 27 − Área toponímica do parcelamento Coophatrabalho, bairro Santo Amaro

− temática flora ... 244 Figura 28 − Tendências temáticas da região urbana do Imbirussu, Campo

Grande/MS ... 246

Figura 29 − Áreas toponímicas da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 250

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ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 − Distribuição dos parcelamentos da região do Imbirussu por bairros ... 86 Gráfico 2 − Ocorrências dos Genéricos Compostos nos topônimos dos

parcelamentos da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 213 Gráfico 3 − Natureza da motivação semântica da toponímia dos parcelamentos da

região do Imbirussu, Campo Grande/MS, de acordo Dick (1990b). ... 214 Gráfico 4 − Taxes de natureza antropocultural na toponímia dos parcelamentos da

região do Imbirussu, Campo Grande/MS. ... 215 Gráfico 5 − Taxes de natureza física na toponímia dos parcelamentos da região do

Imbirussu, Campo Grande/MS. ... 216 Gráfico 6 − Estrutura morfológica dos topônimos de parcelamentos da região do

Imbirussu, Campo Grande/MS ... 217 Gráfico 7 − Base linguística dos topônimos de parcelamentos da região do

Imbirussu, Campo Grande/MS. ... 217 Gráfico 8 − Tipos de logradouros identificados na região do Imbirussu, Campo

Grande/MS ... 224 Gráfico 9 − Distribuição dos topônimos de logradouros da região do Imbirussu,

Campo Grande/MS, de acordo com a natureza da motivação semântica (DICK, 1990b) ... 225 Gráfico 10 − Distribuição quantitativa das taxes toponímicas mais produtivas nos

nomes de logradouros da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 227 Gráfico 11 − Taxes de natureza antropocultural mais produtivas na toponímia dos

logradouros da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 228

Gráfico 12 − Taxes de natureza física mais produtivas na toponímia dos logradouros

da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 229

Gráfico 13- Língua de origem dos topônimos de logradouros da região do Imbirussu,

Campo Grande/MS. ... 231

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1 − Taxionomias de Natureza Física (DICK, 1990b, p. 31-32) ... 38

Quadro 2 − Taxionomias de Natureza Antropocultural (DICK, 1990b, p.32-34) ... 39

Quadro 3 − Formação administrativa do município de Campo Grande/MS ... 50

Quadro 4− Bairros da região do Imbirussu e parcelamentos constituintes ... 89

Quadro 5 − Topônimos que nomeiam os bairros da região do Imbirussu, conforme Lei Complementar n. 74, de 6 de setembro de 2005 e suas alterações .. 95

Quadro 6 − Topônimos que nomeiam os parcelamentos da região do Imbirussu, conforme Lei Complementar n. 74, de 6 de setembro de 2005 e suas alterações ... 97

Quadro 7 − Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Nova Campo Grande, região do Imbirussu ... 118

Quadro 8 − Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Núcleo Industrial, região do Imbirussu ... 128

Quadro 9 − Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Panamá, região do Imbirussu ... 137

Quadro 10− Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Popular, região do Imbirussu ... 152

Quadro 11 − Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Santo Amaro, região do Imbirussu ... 171

Quadro 12 − Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Santo Antônio, região do Imbirussu ... 188

Quadro 13 − Topônimos que nomeiam logradouros do bairro Sobrinho, região do Imbirussu ... 198

Quadro 14 − Topônimos que nomeiam vias arteriais da região do Imbirussu ... 210

Quadro 15 − Topônimos sem classificação por ausência de referências - região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 226

Quadro 16 − Referenciais antropotoponímicos ligados ao universo social ... 232

Quadro 17 − Referenciais antropotoponímicos ligados ao universo histórico ... 234

Quadro 18 − Áreas toponímicas da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 247

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1− Perfil demográfico da Região Urbana do Imbirussu − 2010 ... 88 Tabela 2− Total de topônimos e quantidade de topônimos por acidente geográfico

nos bairros da região do Imbirussu... 93 Tabela 3 − Distribuição quantitativa das taxes toponímicas identificadas nos nomes

de logradouros da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 226

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LISTA DE ABREVIATURAS

ARCA – Arquivo Histórico de Campo Grande ATB – Atlas Toponímico Brasileiro

ATEMIG – Atlas Toponímico de Minas Gerais

ATEMS – Atlas Toponímico do Estado de Mato Grosso do Sul ATEPAR – Atlas Toponímico do Paraná

ATESP – Atlas do Estado de São Paulo

ATITO – Atlas Toponímico de Origem Indígena do Estado do Tocantins CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LAl – Língua Alemã LAr – Língua Árabe LEs – Língua Espanhola LF – Língua Francesa LHb – Língua Hebraica LI - Língua Indígena LIn – Língua Inglesa LIt – Língua Italiana LJ – Língua Japonesa LL– Língua Latina

LP – Língua Portuguesa MS – Mato Grosso do Sul MT – Mato Grosso

NBO – Noroeste do Brasil (estrada de ferro) NI – Língua Não identificada

PLANURB – Unidade de Planejamento Urbano

SEMADUR – Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano SIMGEO – Sistema Municipal de Geoprocessamento

UFMS – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

CAPÍTULO I − FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 19

1.1 Processo de nomeação como atividade humana ... 19

1.2 Lexicologia, Onomástica e Toponímia ... 23

1.3. Percurso dos estudos toponímicos... 27

1.4 Teorização sobre a Toponímia urbana no Brasil ... 31

1.5 O signo toponímico ... 33

1.6 A estrutura do sintagma toponímico ... 34

1.7 As taxionomias toponímicas ... 37

1.8 A perspectiva urbana da Toponímia ... 41

CAPÍTULO II − CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA REGIÃO URBANA DO IMBIRUSSU, CAMPO GRANDE/MS ... 46

2.1 Aspectos antropoculturais e econômicos do município de Campo Grande ... 47

2.1.1 Fundação da cidade de Campo Grande ... 49

2.1.2 Os pioneiros e as primeiras fazendas ... 52

2.1.3 A Estrada de Ferro Noroeste do Brasil ... 57

2.1.4 Os quartéis ... 61

2.1.5 A Base Aérea de Campo Grande ... 62

2.1.6 Distrito Industrial ... 65

2.1.7 Histórico do planejamento urbano em Campo Grande ... 67

CAPÍTULO III – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ... 72

3.1 Objetivo Geral ... 72

3.1.1 Objetivos Específicos ... 72

3.2 Métodos e Procedimentos ... 73

3.3 Sistematização da análise dos dados ... 79

3.4 Delimitação da área de pesquisa ... 84

3.4.1 Região urbana do Imbirussu − breve caracterização ... 87

3.4.2 Bairros e seus parcelamentos ... 89

(15)

CAPÍTULO IV − APRESENTAÇÃO DOS DADOS ... 93

CAPÍTULO V − ANÁLISE DOS DADOS ... 212

5.1 Análise quantitativa dos designativos dos bairros e parcelamentos da região do Imbirussu, Campo Grande/MS. ... 212

5.2 Análise qualitativa dos designativos dos bairros e parcelamentos da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 218

5.3 Análise quantitativa dos designativos dos logradouros públicos da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 224

5.4 Análise qualitativa dos designativos dos logradouros públicos da região do Imbirussu, Campo Grande/MS. ... 231

5.4.1 Antropotoponímia ... 232

5.4.3 Numerotoponímia ... 241

5.4.4 Fitotoponímia ... 242

5.5 Identificação de áreas toponímicas da região do Imbirussu, Campo Grande/MS ... 243

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 251

REFERÊNCIAS ... 256

ANEXO A − PLANTA DA VILA DE CAMPO GRANDE ELABORADA POR THEMÍSTOCLES PAES DE SOUZA BRASIL − 1910 ... 265

ANEXO B − LOCALIZAÇÃO DOS PARCELAMENTOS DA REGIÃO IMBIRUSSU

POR BAIRRO ... 266

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INTRODUÇÃO

Os membros de uma comunidade valem-se do sistema linguístico para representar a realidade e expressar os valores culturais partilhados socialmente.

Graças ao caráter coletivo e à dimensão social da linguagem, crenças, valores e conhecimento adquiridos ao longo do tempo são transmitidos de uma geração para outra. Sapir (1961, p. 44), por exemplo, enfatiza a importância dessa correlação para os estudos da linguagem e destaca o léxico como o nível da língua que mais revela o ambiente físico ( aspectos geográficos, clima e regime de chuvas, a fauna, a flora e os recursos minerais do solo etc.) e social (as várias forças da sociedade que modelam a vida e o pensamento de cada indivíduo − a religião, os padrões éticos, a forma de organização política, a arte etc.) dos falantes de uma comunidade linguística.

Por meio da língua, o ser humano manifesta a sua relação com o meio ambiente em torno de si. A língua é, também, indicador cultural, uma vez que o modo como o sistema linguístico retrata a visão de mundo de um povo evidencia a inter-relação que se estabelece entre língua, cultura e sociedade. Segundo Biderman (2001, p.12), o léxico das línguas naturais é "[...] um sistema aberto com permanente possibilidade de ampliação, à medida que avança o conhecimento, quer se considere o ângulo individual do falante da língua, quer se considere o ângulo coletivo da comunidade linguística".

Sob essa perspectiva, o léxico completo de uma língua pode ser considerado como o complexo inventário de todas as ideias, interesses e ocupações da comunidade, razão pela qual qualquer sistema léxico é ―a somatória de toda a experiência acumulada de uma sociedade e do acervo da sua cultura por meio das idades‖ (BIDERMAN, 2001, p.179).

Com a expansão e domínio territoriais, o homem sentiu a necessidade de

identificar e de delimitar espaços, passando, pois, a nomeá-los. Esse ato reflete a

vivência do homem em sua individualidade à medida que registra suas percepções

e/ou seus sentimentos no ato nomeativo e, enquanto membro do grupo do qual faz

parte, reconhece "o papel por ela [língua] desenvolvido no ordenamento dos fatos

(17)

cognitivos" (DICK, 1990a, p. 19) e, consequentemente, no arranjamento do espaço e relações sociais.

Ao longo de sua existência, o homem tem se valido do acervo vocabular da língua para nomear seres e lugares. Interessa à Onomástica, um dos ramos da Linguística, o estudo de duas categorias de nomes próprios, os nomes de pessoas, que são estudados pela Antroponímia, e os nomes de lugares, objeto de estudo da Toponímia. Conforme Dick (1996a, p. 12), a Toponímia

[...] é a disciplina que caminha ao lado da história, servindo-se de seus dados para dar legitimidade a topônimos de um determinado contexto regional, inteirando-se de sua origem para estabelecer as causas motivadoras, num espaço e tempo preciso, procurando relacionar um nome a outro, de modo que, da distribuição conjunta, se infira um modelo onomástico dominante ou vários modelos simultâneos.

O léxico toponímico, mais do que designar locativos, serve de suporte linguístico em que se vê refletida a história de um povo, é, pois, veículo que transmite informação e ideologia. Isquerdo (2008, p. 36) ratifica que a história das palavras caminha muito próxima à história de vida do grupo que dela faz uso e observa nos topônimos a confirmação desta tese, uma vez que "a ação de atribuir um nome a um lugar corporifica uma soma de diversificados fatores – linguísticos, étnicos, socioculturais, históricos, ideológicos – do grupo que habita o espaço geográfico tomado como objeto de investigação".

A Toponímia é também meio de conservação linguística, à medida que elementos formadores da língua de registro e até formas linguísticas de línguas de povos que habitaram a região em tempos remotos são cristalizados nos topônimos.

A Toponímia, embora se configure como uma disciplina línguística antiga, século XIX, nem sempre teve o devido reconhecimento no Brasil, tendo figurado em plano secundário entre as matérias das Ciências Sociais, como a História e a Geografia e contado, inicialmente, com esforços isolados para fixação dos seus princípios, teorias e métodos de trabalho.

Dentre os estudos toponímicos, destacamos as diretrizes traçadas por Albert

Dauzat para a toponímia francesa e as contribuições de pesquisadores americanos

e canadenses, que buscaram, a priori, estabelecer maior rigor metodológico na

(18)

análise e classificação dos fatos onomásticos (DICK 1990a, p.20). No Brasil, os trabalhos da professora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick sobre a motivação do topônimo e o ordenamento sistemático dos motivos toponímicos em categorias classificatórias vinculadas, de modo genérico, aos campos físico e antropocultural, representam um significativo avanço no âmbito da ciência onomástica.

Embora se busquem formas de padronização de nomes geográficos, há que se atentar para individualidades e particularidades regionais. Drumond (1965), por exemplo, destaca o valor patrimonial do topônimo:

[...] a história das transformações dos nomes de lugares, a evolução fonética, as alterações de diversas ordens, o seu desaparecimento, a sua relação com as migrações, a colonização, os estabelecimentos humanos e o aproveitamento do solo, os nomes inspirados por crenças mitológicas visando algumas vezes assegurar proteção dos santos ou de Deus (DRUMOND, 1965 apud DICK, 1990a, p. 21).

Os topônimos representam, pois, "importantes fatores de comunicação", são

"referência da entidade por eles designada, verdadeiros testemunhos históricos", que transcendem ao próprio ato de nomear (DICK, 1990a, p.22).

O topônimo revela seu caráter dinâmico, por perdurar ao longo dos tempos, e ser iconimamente simbólico, à medida que reconstitui a mentalidade do homem em um determinado espaço e tempo. Valendo-se da riqueza da motivação toponímica e com vistas a investigar os motivos ou fontes geradoras dos nomes de lugares, este estudo analisa a microtoponímia dos aglomerados urbanos (bairros e parcelamentos) e logradouros (ruas, avenidas, travessas e praças) da região urbana Imbirussu da cidade de Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul (MS).

A pesquisa vincula-se ao Projeto Atlas Toponímico do Estado de Mato

Grosso do Sul – Projeto ATEMS, em desenvolvimento na Universidade Federal de

Mato Grosso do Sul (UFMS) em parceria com mais duas Instituições de Ensino

Superior de Mato Grosso do Sul. Somente na UFMS, ligadas a esse projeto, já

foram produzidas doze dissertações de Mestrado – Schneider (2002), Dargel (2003),

Tavares (2004), Gonsalves (2004), Tavares (2005), Souza (2006), Castiglioni (2008),

Cazarotto (2009), Pereira (2009), Oliveira (2014), Bittencourt (2015) e Ribeiro

(2015). A de Scheneider (2002) versa sobre a toponímia dos acidentes físicos do

(19)

Pantalnal sul-mato-grossense; a de Dargel (2003), de Tavares (2004), de Gonsalves (2004), de Tavares (2005) apresentam, respectivamente, um estudo sobre a toponímia do bolsão sul-mato-grossense; das microrregiões de Dourados, de Iguatemi e de Nova Andradina; da porção sudoeste do Estado de Mato Grosso do Sul e da região Centro-Norte de Mato Grosso do Sul. Souza (2006), por sua vez, centra-se no estudo dos topônimos rurais e urbanos de Bela Vista, de Jardim, de Guia Lopes da Laguna e de Nioaque, municípios sul-mato-grossenses que fizeram parte do percurso da Retirada da Laguna (1867). Castiglioni (2008) e Cazarotto (2009) propuseram, respectivamente, o Glossário de topônimos do bolsão sul-mato- grossense e o Glossário de fitotopônimos sul-mato-grossenses. Em sua dissertação, Pereira (2009) discorreu acerca dos nomes de lugares de municípios do Sul goiano. Em seu traballho, Bittencourt (2015) analisou os topônimos urbanos da área urbana da cidade de Três Lagoas, MS, enquanto as pesquisas de Oliveira (2014) e de Ribeiro (2015) versam sobre a toponímia urbana da capital sul-mato- grossense. O produto desta pesquisa representa mais uma contribuição para os estudos toponímicos sul-mato-grossenses, principalmente para consolidação do mapeamento toponímico da cidade de Campo Grande.

O estudo da toponímia urbana é relativamente recente no Brasil. Este trabalho toma como referência o estudo de Dick (1996b), que versa sobre a dinâmica dos nomes de ruas da cidade de São Paulo e que, além das questões linguísticas que afetam os nomes próprios de lugares, considerou questões da história social da capital paulistana; bem como outros estudos de áreas urbanas, tais como Antunes (2007), Tizio (2009), Filgueiras (2011), Baretta (2012), Cioatto (2012), Misturini (2014), Oliveira (2014), Bittercourt (2015), Moreira (2015) e Ribeiro (2015).

O método utilizado na pesquisa foi o dedutivo-indutivo, à medida que

investiga topônimos a partir dos registros nos mapas vetoriais do município de

Campo Grande/MS, disponibilizados pelo Grupo de Informática e

Geoprocessamento da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento

Urbano (SEMADUR), da Prefeitura Municipal. Para obtenção de dados sobre a

nomeação dos designativos dos espaços urbanos em estudo foram consultadas

Atas da Câmara Municipal de Campo Grande e, eventualmente, outros registros

suplementares, como fonte subsidiária. Propõe-se uma análise sincrônica dos

(20)

topônimos, valendo-nos da interpretação linguística de seus elementos formadores para atingir o alcance do significado do topônimo, seguindo, para tanto, a taxionomia proposta por Dick (1990a, 1990b).

Em oposição ao modelo sugerido pelo toponomista americano, membro fundador da American Name Society, George Stewart, em que a história do denominativo que determina o enquadramento do topônimo em um dos itens propostos pelo autor, na taxionomia proposta por Dick (1990a, 1990b), o conteúdo semântico perceptível nos topônimos figura em primeiro plano. Isso não quer dizer que fatos relacionados à história do topônimo sejam deixados à parte (DICK, 1990a).

Em sua tese de doutoramento, publicada em 1990 com o título A Motivação Toponímica: Princípios Teóricos e modelos taxionômicos, Dick apresenta um estudo exaustivo sobre a toponímia brasileira, propondo um modelo teórico para a classificação dos topônimos na perspectiva da motivação. Esse modelo foi ampliado e, na sua versão atual (DICK, 1990b, p. 31-34), contempla 27 taxes distribuídas em dois grupos, conforme a natureza motivacional (semântica): taxionomias de natureza física e taxionomias de natureza antropocultural.

Desse modo, apoiando-se em pressupostos da inter-relação léxico, cultura e sociedade e, por extensão, visando a relacionar o topônimo a fatores históricos e socioculturais, este trabalho propôs um estudo linguístico-cultural dos nomes de bairros, parcelamentos e logradouros da região urbana do Imbirussu, Campo Grande/MS. Pretendeu-se contribuir, por meio do estudo toponímico da relação entre as camadas toponímicas e a história social da cidade, para a recuperação de dados históricos acerca da ocupação da região oeste da capital sul-mato-grossense, à medida que buscou identificar, catalogar e analisar, do ponto de vista linguístico, etnodialetológico, taxionômico e histórico, os designativos dos aglomerados e dos logradouros dos bairros que compõem a região urbana em estudo, registrados em mapas oficiais da cidade.

Ao escolher a região urbana do Imbirussu como objeto de estudo, levou-se

em consideração dois aspectos: o histórico de expansão da cidade para o oeste,

motivado, sobretudo, pela instalação dos quartéis e a construção da estrada de

ferro, e o vínculo afetivo da autora com a região, pois seu avô paterno, funcionário

aposentado da estrada de ferro Noroeste do Brasil, e, consequentemente, filhos e

(21)

netos se fixaram na região há mais de 45 anos. "Na época em que tudo ali era um brejo só, sem asfalto, iluminação e poucas casas" − como costumava dizer o vô Cido (Cacildo Fernandes Barbosa − in memorian).

Tendo em vista os objetivos delineados para a pesquisa, a estrutura deste trabalho reúne cinco capítulos. Na Introdução, destacou-se a relevância científica e social da pesquisa: Léxico toponímico urbano da cidade de Campo Grande/MS:

região do Imbirussu.

O primeiro capítulo, Fundamentação Teórica, trata do processo de nomeação como atividade humana, da Onomástica e Toponímia, o percurso dos estudos toponímicos, o signo toponímico, o método de investigação da toponímia, as taxionomias toponímicas e a perspectiva urbana da toponímia.

No segundo capítulo, Contextualização Histórica da Região Urbana do Imbirussu, Campo Grande/MS, registram-se aspectos antropoculturais e econômicos do município, com destaque para a região urbana do Imbirussu, seus bairros e parcelamentos, enfim, aspectos geográficos, históricos e ocupacionais da área em estudo.

O terceiro capítulo, Procedimentos Metodológicos, por sua vez, traz a descrição das etapas seguidas para a execução da pesquisa: seleção e catalogação dos dados; investigação dos prováveis fatores motivacionais inerentes aos sintagmas toponímicos; distribuição quantitativa dos topônimos conforme a natureza toponímica (física ou antropocultural); distribuição quantitativa dos topônimos de acordo com a categoria taxionômica; estudo linguístico dos sintagmas toponímicos (etimologia, estrutura morfológica etc.); levantamento dos fatos sócio-históricos relacionados à nomeação; identificação dos estratos linguísticos (portugueses indígenas, africanos etc.) presentes na toponímia da região investigada; mudanças possíveis de nomeação dos acidentes e as causas que levaram à substituição de um nome por outro e estabelecimento das possíveis áreas toponímicas na área investigada.

No quarto capítulo, apresentam-se os resultados da pesquisa com base na

análise classificatória dos sintagmas toponímicos (etimologia, estrutura morfológica,

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taxionomia etc.). São apresentados os quadros lexicográfico-toponímicos que, por seu turno, contêm o conjunto dos designativos dos 7 bairros, 99 parcelamentos e 821 logradouros públicos, enfim, dos 928 topônimos investigados.

O quinto e último capítulo foi destinado à análise dos 928 topônimos estudados no trabalho, numa perspectiva quantitativa com foco na taxionomia dos topônimos, na língua de origem e na estrutura morfológica dos designativos; e uma análise qualitativa, que procurou discutir tendências gerais da toponímia estudada, pautando-se, para tanto, nos temas mais recorrentes, relacionados a questões históricas, sociais e econômicas.

Por fim, as considerações finais a respeito do corpus estudado trazem um

panorama geral da pesquisa e dos resultados alcançados, seguido das referências

que embasaram o estudo.

(23)

CAPÍTULO I − FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo discute as bases teóricas que orientam a pesquisa. Trata do processo de nomeação como atividade humana, da Onomástica e da Toponímia.

Também são discutidos aspectos do percurso dos estudos toponímicos, o signo toponímico, o método de investigação da toponímia, as taxionomias toponímicas e a perspectiva urbana dos estudos onomástico-toponímicos.

1.1 Processo de nomeação como atividade humana

O homem sempre procurou dominar o mundo em que vive. Ao procurar explicar tudo o que existe, faz uso da linguagem que, por sua vez, é uma maneira de perceber os elementos ao seu redor. A língua é uma forma de categorizar o mundo, de interpretá-lo, o que significa que as palavras criam conceitos e estes ordenam a realidade. O signo "estabeleceu-se sempre em dois planos, significante e significado", é também "um fato humano, é no homem, o ponto de interação da vida mental e da vida cultural e ao mesmo tempo o instrumento dessa interação"

(BENVENISTE, 1976, p. 17). Essa perspectiva teórica remete ao trinômio língua, cultura, personalidade. Uma identidade social se estabelece por meio da linguagem.

A imagem do falante, seu estilo, é produto de traços linguísticos da expressão e do conteúdo. Além de traçar uma identidade para o falante, a linguagem é também uma forma de o homem operar no mundo, pois há determinados atos que se realizam quando se emite um certo enunciado. Além dos atos que se realizam ao dizer, há os atos produzidos em consequência do dizer (AUSTIN, 1965).

A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala do que nunca existiu,

cria novas realidades, dá ao homem o poder considerado divino de criar novos

mundos. Essa é também uma grande função da linguagem, mostrar que outras

maneiras de ser são possíveis, que outros universos podem existir. "A linguagem

reproduz a realidade. [...] a realidade é produzida novamente por intermédio da

linguagem. Aquele que fala faz renascer pelo seu discurso o acontecimento e a sua

experiência do acontecimento" (BENVENISTE, 1976, p.26).

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Já que a linguagem está presente em todas as atividades humanas e é constitutiva do estar do homem no mundo, conhecê-la é também uma forma de conhecer o homem. Mitos de diferentes culturas narram a origem da linguagem de maneiras muito próximas: a linguagem é um atributo da divindade, que é concedido ao homem para que ele, denominando cada uma das coisas criadas, apreenda o Universo, pois uma coisa existe à medida que tem um nome e este passa a ser usado com mais praticidade nas interações.

Com a reflexão linguística feita pelos filósofos gregos, começa a delinear-se o problema da significação. Platão, no Crátilo, por exemplo, estuda o estatuto do nome (onoma), algo que não é a própria coisa, surgindo o problema de adequação entre a linguagem e a realidade, discurso (lógos da relação entre as coisas). No Sofismo, a adequação não é buscada nos termos, mas em sua articulação, que é um reflexo do acordo existente entre as espécies e, por conseguinte, universal (FIORIN, 2013).

No período helenístico, as condições históricas intensificam o zelo de preservação do grego, a língua considerada mais pura e elevada. O ensino de padrões linguísticos implica o estabelecimento dos quadros da gramática, ou seja, a exposição das analogias no âmbito das formas linguísticas baseadas em autores clássicos. Assim, está inaugurada a disciplina gramatical, que tem por objetivo a sistematização dos fatos da língua (FIORIN, 2013).

Durante toda a Antiguidade, a Idade Média e parte da Idade Moderna, a gramática foi o modelo de reflexão linguística e a filosofia lhe fornecia as bases teóricas. Depois surge a filologia, preocupada em fixar, interpretar, comentar os textos; esse estudo ocupa-se, além da língua, da história literária, dos costumes, das instituições etc. (SAUSSURE, 2009

1

). Mais modernamente, como ciência da linguagem, constitui-se a Linguística, cujo caráter descritivo e explicativo se ocupa principalmente da língua oral (FIORIN, 2013).

Em grande parte das tradições culturais da humanidade é atribuído à palavra o poder criador. No mito da criação do mundo narrado no livro de Gênesis, pela palavra de Deus tudo se fez. O mundo perceptível é categorizado, por meio da

1 Consulta a edição brasileira de 2009. A primeira edição da obra data de 1916.

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denominação e identificação em palavras, resultando "numa única resposta a uma determinada categoria de estímulos do meio ambiente" (BIDERMAN,1998, p. 88).

Biderman (1998, p. 88), valendo-se da teoria de E. Lenneberg em Biological foundations of language sobre o fenômeno de categorização linguística e consequente nomeação do universo, esclarece que

A atividade de nomear, isto é, a utilização de palavras para designar os referentes extra-lingüísticos é específica da espécie humana. A nomeação resulta do processo de categorização. Entende-se por categorização a classificação de objetos feita por um sujeito humano, resultando numa única resposta a uma determinada categoria de estímulos do meio ambiente. A categorização supõe também a capacidade de discriminação de traços distintivos entre os referentes percebidos ou apreendidos pelo aparato sensitivo e cognitivo do indivíduo.

O conhecimento humano é organizado por meio desse complexo processo de categorização em que categorias originais podem ser subdivididas, suprimidas, reorganizadas e reformuladas, o que dá origem a outras categorias gerais ou específicas. "As palavras podem ser consideradas como etiquetas para o processo de categorização‖, no entanto, estas não são ―meros rótulos de objetos específicos existentes no mundo real", designando "campos de conceitos em vez de coisas físicas" (BIDERMAN, 1998, p.88). O processo de categorização e designação por meio das palavras fundamenta-se em algo muito abstrato, uma vez que os critérios de classificação são muito diferenciados e variados, possuindo até mesmo extensões metafóricas, o que revela quão criativo e dinâmico é o processo de organização cognitiva:

Pode-se considerar a formação de conceitos como o processo cognitivo primário e a nomeação (designação) como o processo cognitivo secundário.

Os conceitos são modos de ordenar ou de tratar os dados sensoriais. Assim sendo, a conceptualização vem a ser o próprio processo cognitivo (BIDERMAN, 1998,p. 90).

Faz-se necessário distinguir o processo individual de formação de conceitos por parte de um sujeito, do acervo de palavras transmitidas de geração em geração, guardadas por uma dada cultura. Na dimensão individual, o léxico é um conjunto de

"objetos mentais que se consubstanciam nas palavras que esse indivíduo domina e

das quais ele se serve" (BIDERMAN, 1998, p.90). Essa dualidade entre o social e o

individual deve ser bem entendida a fim de evitar ambiguidades.

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Retomando Saussure (2009), encontra-se a diferenciação ente langue (língua) e a parole (fala). Esta é o momento individual, no sentido da realidade psicofisiológica do ato linguístico particular; aquela, a parte social da linguagem, externa ao indivíduo, que não pode nem criá-la nem modificá-la.

Segundo o mesmo linguista (SAUSSURE, 2009, p.18), ―a língua é conhecida como um sistema de signos‖ que faz a ligação entre o significante (imagem acústica) e um significado (conceito), cuja relação arbitrária se define em termos paradigmáticos (imagens de outros elementos na memória) ou sintagmáticos (todos elementos da língua se relacionam com outro, formando cadeias de enunciados).

Graças à natureza dinâmica do processo de categorização, os referentes das palavras podem mudar muito. Cada indivíduo pode conceitualizar de um modo muito particular e em suas relações comunicativas, os seus interlocutores, por sua vez, podem ressignificar a semântica do enunciado, designando-lhe novas conceptualizações.

O processo de conceitualização "revela-se como consequência de um complexo biopsíquico, integrado por estímulos ou excitações neurais" (DICK, 1990a, p.31) em que o real, ou pelo menos suas "qualidades" são representadas por meio das estruturas simbólicas de uma língua.

Ainda, segundo Biderman (1998, p. 12),

O léxico de uma língua natural pode ser identificado com o patrimônio vocabular de uma dada comunidade lingüística ao longo de sua história.

Para as línguas de civilização, esse patrimônio constitui um tesouro cultural abstrato, ou seja, uma herança de signos lexicais herdados e de uma série de modelos categoriais para gerar novas palavras. Os modelos formais dos signos lingüísticos preexistem, portanto, ao indivíduo. No seu processo individual de cognição da realidade, o falante incorpora o vocabulário nomeador das realidades cognoscentes juntamente com os modelos formais que configuram o sistema lexical.

―A nomeação da realidade pode ser considerada como a etapa primeira no

percurso científico do espírito humano, uma vez que o léxico de uma língua constitui

uma forma de registrar o conhecimento do universo‖ (BIDERMAN, 1998, p.91). Ao

identificar semelhanças e/ou traços distintivos que individualizam os referentes em

entidades ímpares, o homem foi estruturando o conhecimento do mundo que o

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cerca, dando nomes (palavras e termos) a essas entidades discriminadas. É esse processo de nomeação que gerou e gera o léxico das línguas naturais.

As áreas da Linguística que estudam o léxico das línguas naturais são a Lexicologia e a Lexicografia, para o léxico da língua comum, e a Terminologia, especificamente para as línguas de especialidade. No tópico seguinte, perpassam- se conceitos da Lexicologia, da Onomástica e, por fim, da Toponímia, objeto de estudo mais específico deste trabalho.

1.2 Lexicologia, Onomástica e Toponímia

A palavra, unidade básica do léxico de uma língua, é objeto de estudo da Lexicologia, da Lexicografia, da Terminologia e da Fraseologia. A Lexicologia tem como objetivos básicos de estudo ―a análise da palavra, a categorização lexical e a estruturação do léxico‖ (BIDERMAN, 2001, p. 16). Dedica-se, portanto, ao estudo dos itens lexicais de uma língua nos seus variados aspectos - etimológicos, fonéticos, fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, etc. (FERREIRA, 2010).

Já a Lexicografia, ciência dos dicionários, é uma atividade antiga e tradicional, contudo, o fazer lexicográfico e a análise da significação das palavras, fundamentados numa teoria lexical e com critérios científicos, deu-se mais recentemente nos tempos modernos (BIDERMAN, 1984). A Terminologia se ocupa de um subconjunto lexical de uma língua, de cada área específica do conhecimento humano – as línguas de especialidade. Ao efetuar uma seleção pertinente dos elementos em função de seus objetivos, a Terminologia toma emprestado termos e conceitos da Morfologia, da Lexicologia e da Semântica, vale-se também das ciências cognitivas e das distintas especialidades (CABRÉ, 1999, p.83). Já a Faseologia, segundo Montoro del Arco (2006, p. 73), tem por objeto de estudo as unidades fraseológicas ou fraseologismos, uma combinação de palavras institucionalizada, que possui estabilidade, apresenta algumas particularidades semânticas ou sintáticas e é passível de modificações nos elementos que as integram (CORPAS PASTOR, 1996).

A Toponímia pode ser considerada uma disciplina de especialidade que tem

exigido dos pesquisadores a formulação de modelos específicos de taxionomia para

o estudo do topônimo; consideram-se, portanto, as taxionomias como termos da

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Toponímia. Esta vale-se também de termos de especialidade de outras ciências como a História, a Geografia, a Linguística, a Antropologia, a Filosofia, a Cartografia, a Zoologia, a Botânica, a Arqueologia e até mesmo a Psicologia Social, cabendo ao pesquisador a responsabilidade de intermediar os conhecimentos.

Relacionada à Lexicologia, situa-se a Onomástica, o estudo dos nomes próprios de pessoas e lugares. A Onomástica se divide em dois campos de investigação: Antroponímia, o ramo que se ocupa do estudo dos nomes próprios de pessoas, e Toponímia, que se dedica ao estudo dos nomes próprios de lugares.

No uso onomástico, um item lexical, ao deixar o seu uso pleno na língua comum, reveste-se de caráter denominativo e passa a ser referencializado como topônimo ou antropônimo, seguindo direções opostas e complementares a partir das relações entre nomeador e nomeado e representação externa:

[...] o nomeador (sujeito, emissor ou enunciador), o objeto nomeado (o espaço e suas subdivisões conceptuais, que incorpora a função referencial, sobre o que recairá a ação de nomear), o receptor (ou o enunciatário, que recebe os efeitos da nomeação, na qualidade de sujeito passivo) (DICK, 1999, p.145).

Ao transitar do sistema lexical comum para o onomástico, a palavra incorpora o conceito da designação que se integra à significação, cristalizando o nome e, assim, a sua transmissão às gerações seguintes se torna possível.

Dick (2007, p. 143) propõe que "o topônimo, uma vez instalado na região, nos moldes da gramática da língua falada, segundo esquemas morfolexicossintáticos, não mais fosse substituído‖, isso em virtude de o designativo adquirir força identitária

"porque situa o objeto nomeado no quadro das significações, retirando-o do anonimato e dispensando-o até do recurso das descrições referencializadas‖.

A Antroponímia – do grego ánthopos (homem) e o sufixo onoma (nome) − é o ramo que se ocupa do estudo dos nomes próprios de pessoas (FERREIRA, 2010).

Carvalhinhos (2007, p. 2) esclarece que o termo Antroponímia, em língua

portuguesa, data de 1887 e é do filólogo português Leite de Vasconcelos. Dick

(1990a), por sua vez, esclarece que a Antroponímia é composta por um inventário

lexical mais ou menos fechado, em oposição à Toponímia, que é um inventário

lexical aberto. Em um dado momento da sociedade, o nome perderia sua função

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conativa, passando a ser um identificador vazio de sentido, assim, é possível que, no eixo paradigmático da linguagem, novos signos não sejam escolhidos para denominar pessoas, o que não ocorreria com a toponímia.

No âmbito da Antroponímia, é preciso que se estabeleça a diferença entre os conceitos de nome, apelido de família, sobrenome e prenome. Dick (2000) assim esclarece essa nomenclatura:

Transmitido de geração a geração, o nome ou o apelido de família carrega em si todas as marcas da descendência gentílica, não sendo por isso de livre escolha dos cidadãos. A imposição obrigatória do que se convencionou chamar, atualmente, de sobrenome, é o seu traço distintivo, em oposição ao prenome, fruto de um ato volitivo dos pais. [...] Desse momento em diante, representado pela doação do nome, a criança será levada a familiarizar-se mais intensamente com essa expressão sonora identificada como o seu

―representamen‖ simbólico. Do mesmo modo, esse apelativo será a forma lingüística mais constantemente repetida, em todas as situações em que venha a ser o foco da atenção. O nome doado e conhecido coloca o receptor no centro de convergências positivas e negativas, ou de vetores de forças que definirão personalidades e comportamentos, condutas e estilos de vida, tornando nome e indivíduo uma só entidade (DICK, 2000, p.208).

Em tempos remotos, o nome próprio cumpria uma função significativa permeado por influências históricas, políticas e religiosas; circunstâncias, lugar e tempo de nascimento; particularidades físicas ou qualidades morais; relativos a profissões etc. Com o passar do tempo e dada a dinamicidade da língua, "o nome é rapidamente esvaziado de seu real sentido etimológico restando apenas um invólucro, uma forma opaca que oculta o verdadeiro significado original do nome‖

(CARVALINHOS, 2007, p.13).

Já a Toponímia, vocábulo de origem grega formado pelo radical topos (lugar) e o sufixo onoma (nome), ocupa-se dos nomes próprios de lugar (FERREIRA, 2010).

O filólogo português José Leite de Vasconcelos, na sua obra Opúsculos – Vol.III:

Onomatologia (1931, p.03) concebe a Toponímia como ―estudo dos nomes de sítios, povoações, nações, [...] rios, montes, vales, etc.‖.

Conforme Dick (1990a, p.5), ―a nomeação dos lugares sempre foi atividade exercida pelo homem, desde os primeiros tempos alcançados pela memória. Obras antigas da história e da civilização mundiais colocam essa prática como costumeira‖.

O léxico toponímico pode, portanto, ser definido

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[...] como o universo de topônimos de uma língua que, por sua vez, estão circunscritos a diferentes espaços geográficos do território coberto por esse sistema linguístico. Nesse sentido, definimos o léxico toponímico como as unidades lexicais investidas da função de nome próprio de lugar que podem reunir formas do vocabulário comum, alçadas à categoria de topônimos;

nomes próprios de pessoas, de lugares, de crenças, de entidades sobrenaturais que são ressemantizadas com o fim precípuo de nomear um lugar (ISQUERDO, 2012, p. 116).

A Toponímia analisa os designativos geográficos em sua bipartição física e humana, uma vez que tanto os nomes das pequenas vilas e dos pequenos cursos d‘

água, quanto os das grandes metrópoles e correntes hídricas de grandes dimensões trazem consigo uma carga histórico-cultural muito vasta.

Para Dick (1990a, p. 36), a Toponímia é ―um imenso complexo línguo- cultural, em que dados das demais ciências se interseccionam necessariamente e não exclusivamente‖. Logo, a Toponímia é um campo de estudos multidisciplinar que extrapola o campo linguístico, fazendo articulações entre linguagem, história, sociedade, cultura e identidade.

A abrangência dos estudos toponímicos é destacada por Isquerdo (2008, p.

36), ao apontar aspectos que são considerados nesse tipo de pesquisa: linguísticos (etimologia, base linguística dos elementos formativos do nome, estrutura formal do sintagma toponímico, classificação taxionômica) e extralinguísticos (causas denominativas que impulsionaram o denominador no ato da nomeação). A potencialidade dos topônimos, por sua vez, é um dos aspectos evidenciados por Dick (1990a, p.21):

Exercendo na Toponímia a função de distinguir os acidentes geográficos na medida em que delimitam uma área da superfície terrestre e lhes conferem características específicas, os topônimos se apresentam, da mesma maneira que os antropônimos, como importantes fatores de comunicação, permitindo, de modo plausível, a referência da entidade por eles designada.

Verdadeiros ―testemunhos históricos‖ de fatos e ocorrências registrados nos mais diversos momentos da vida de uma população, encerram, em si, um valor que transcende ao próprio ato da nomeação: se a Toponímia situa-se como a crônica de um povo, gravando o presente para o conhecimento das gerações futuras, o topônimo é o instrumento dessa projeção temporal.

Como uma crônica, a toponímia possibilita o resgate histórico e cultural de

povos, apresentando-se como campo fecundo de pesquisa de grande notabilidade,

principalmente, a partir da segunda metade do século passado.

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1.3. Percurso dos estudos toponímicos

O aparecimento da Toponímia como disciplina sistematizada ocorreu por volta de 1878 na École Pratique dês Hautes Études e no Collège de France quando Auguste Longnon iniciou suas pesquisas. Os estudos foram organizados e publicados postumamente por seus alunos, após 1912, dando origem à clássica obra Les Noms de lieux de la France que versa sobre a nomenclatura dos lugares habitados da França (CARDOSO, 1961, p. 310-11).

Retomando os estudos de Longnon, em 1922, Albert Dauzat realizou uma pesquisa pormenorizada a respeito da formação dos nomes de lugares da França, dividindo-os em categorias de nomes de acordo com causas históricas. Tratou, também, do esvaziamento semântico e da fossilização do topônimo

2

. Publicou as obras Chronique de Toponymie (1922) e Les Noms de Lieux (1929), além disso, organizou, em 1939, o I Congresso Internacional de Toponímia e Antroponímia, com o intuito de estimular a criação de departamentos oficiais para a elaboração de glossários de nomenclatura geográfica (DICK, 1990b, p. 1-2).

Segundo Tizio (2009, p.22), dentre os estudos toponímicos realizados por pesquisadores de outros países, podemos destacar: na Inglaterra, Zachirison, Allen Mawer e Patrik Weston Joyce, especialmente a obra The Origin and History of Irish Names of Places, de 1869; na Itália, Di alcune forme de nomini della´Itália superiore, de Flechi, 1871; na Bélgica, Carnoy, Haust, Van de Wijer e Auguste Vincent, autor do trabalho Noms de lieux de la Belgique, de 1927.

Em Portugal, tem notoriedade o trabalho de José Leite de Vasconcelos, responsável pela divisão dos estudos toponímicos em ―três secções maiores: nomes de lugar, classificados por línguas; modos de formação toponímica; categorias de nomes, segundo as causas que lhes deram origem" (VASCONCELOS, 1931, p.139).

Os estudos em toponímia são desenvolvidos por estudiosos da área toponomástica, de outras áreas (historiadores, geógrafos) e por órgãos especializados, comissões e centros organizadores de norma. Existem, por

2 Entendido como o momento em que, embora a língua oral mude, e o meio ambiente se transforme, o nome conserva-se.

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exemplo, Comissões Toponímicas na Dinamarca e na Holanda, na Alemanha e na Suécia; um centro organizador de normas para toponímia na França; nos Estados Unidos, o Board on Geographic Names (BGN), encarregado da uniformização da nomenclatura geográfica em mapas e em textos em geral desde 1890 (TIZIO, 2009).

Destaca-se, também, a American Name Society, fundada em 1951 com a finalidade do promover os estudos onomásticos nos Estados Unidos e exterior e investigar aspectos culturais, contextos históricos e características linguísticas reveladas nos nomes próprios. Dentre suas publicações incluem-se os periódicos:

The Ehrensperger Report e Names: A Journal of Onomastics com contribuições de George R. Stewart, A. Ross Eckler, Jr., Fritz L. Kramer (TIZIO, 2009).

No Brasil, em virtude do perfil dos topônimos brasileiros, os estudos toponímicos são inicialmente voltados à reconstituição de etimologias de palavras de língua indígena. Destacam-se nomes como Theodoro Sampaio (1902), Armando Levy Cardoso (1961) e Carlos Drumond (1965).

A obra de Theodoro Sampaio, O Tupi na Geografia Nacional, de 1902 foi

―uma aberta, uma picada, uma clareira, apenas, no imenso cipoal da contribuição das línguas americanas‖ (CARDOSO, 1961, p.17). Centra-se no domínio da língua tupi no continente americano, apresentando um rico vocabulário geográfico herdado desse substrato pela variante brasileira do português. Sobre a obra, Cardoso (1961, p.323) esclarece:

[...] aquela que se tornou, incontestavelmente, a pioneira destes estudos, entre nós, pela criteriosa análise a que foram submetidos todos os vocábulos, pela profundeza dos conhecimentos tupis, pela seriedade de suas investigações, para cujo resultado não faltaram nem as leituras das crônicas antigas e das antigas relações de viagens, nem a consulta ao elemento histórico, a fim de descobrir a verdadeira grafia primitiva dos vocábulos, para perfeita elucidação de seu sentido e a rigorosa determinação de sua etimologia.

Já Cardoso, em sua obra Toponímia Brasílica (1961), volta-se para a

lexicologia indígena, trazendo um estudo sobre os topônimos brasílicos da

Amazônia. Na obra, destacam-se o mapeamento de localidades e o estudo da

influência das línguas Karib e Arawak na toponímia da Amazônia. O pesquisador

salienta que, por meio do estudo da toponímia de uma região, podem-se elucidar

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questões étnicas e linguísticas como migrações indígenas e procedência das diversas famílias de línguas que habitaram determinado lugar:

A toponímia brasílica de origem não tupi, que é a minha contribuição aos estudiosos de assuntos brasileiros, além de ter, possivelmente, uma importância nitidamente lingüística, apresenta, também, assim acredito, certa importância ântropo-geográfica [...] sobressai, exatamente, a interpretação das sobreposições lingüisticas, que apresentam uma verdadeira estratificação indicativa, conseqüentemente, da existência, em épocas diferentes, das diversas famílias lingüísticas. Na Amazônia, sobretudo, o problema das migrações indígenas e da precedência das diversas famílias lingüisticas poderá ser grandemente auxiliado pelo estudo de sua toponímia, ainda incipiente, mas que poderá trazer, se devidamente explorado, uma valiosa contribuição para o desenvolvimento dos estudos etnológicos brasílicos. (CARDOSO, 1961, p.19-20)3

A obra de Drumond, Contribuição do Bororo à Toponímia Brasílica (1965), foi a primeira tese universitária integralmente dedicada ao estudo da Onomástica brasileira (MAGALHÃES,1967, p. 124). Este autor, em resenha crítica à obra de Drumond, esclarece que,

Para o levantamento dos topônimos, o Autor utilizou-se de fontes cartográficas (carta de Mato Grosso de 1952 e a fôlha de Corumbá da carta do Brasil do milionésimo) e de trabalhos do insigne sertanista Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, dos salesianos César Albisetti e Antônio Colbachini e do historiador Basílio Magalhães. E seguindo o delineamento dos estudos científicos da moderna onomástica, procurou, "in loco", dirimir as dúvidas porventura existentes e buscar maiores esclarecimentos para uma série de designações geográficas, o que foi feito por meio de viagem realizada à aldeia Bororo denominada Meruri pelos indígenas, ou Sagrado coração pelos religiosos (MAGALHÃES, 1967, p.123).

Além de apresentar um estudo sobre a toponímia de base bororo, a pesquisa de Drumond destaca a posição das pesquisas toponímicas no Brasil, apontando lacunas então existentes nessa área de investigação, em termos metodológicos (DICK, 1990b, p. 3-4).

No Brasil os estudos toponímicos começam a ganhar maior visibilidade a partir da década de 1980. Expoente da área, a professora Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, docente da Universidade de São Paulo, contribuiu para modificar a feição primordialmente indígena dos estudos toponímicos brasileiros até então vigente. Em sua tese de doutorado, defendida em 1980, propôs princípios teóricos e

3 Neste trabalho, optou-se pela integridade absoluta do textos citados, mantendo a redação original mesmo que haja divergência com base na nova orientação ortográfica da língua portuguesa.

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modelos taxionômicos que aproximaram a Toponímia de outras ciências linguísticas, como a Lexicologia e a Terminologia.

Os estudos dessa toponomista visam a uma sistematização metodológica para a orientação de pesquisas toponímicas com base em princípios teóricos de investigação em dois planos, o diacrônico e o sincrônico. Na perspectiva do segundo plano, o modelo teórico permite ―o exame das séries motivadoras, que conduziram à elaboração das taxes toponímicas, vinculadas, de modo genérico, aos campos físico e antropo-cultural‖. Para tanto, formula uma terminologia técnica devidamente embasada com os principais motivos que comandam a organização da nomenclatura geográfica (DICK, 1990a, p 367).

A autora tem contribuído significativamente com projetos sobre o assunto, como o do Atlas Toponímico do Brasil (ATB) e o do Atlas toponímico do Estado de São Paulo (ATESP). Sobre o projeto ATESP, Dick (1996a, p. 2990) ressalta o seguinte:

No atlas toponímico, buscou-se a utilização dos vocábulos da língua e ou dos padrões dialetais ou falares brasílicos reconhecidos e incorporados à toponímia brasileira, tendo como fonte primária os mapas em escala 1:l00.000 e 1:50.000; mas as situações geográficas ou ambientais, históricas e sociológicas que conformam as regiões administrativas são também parte integrante do estudo lingüístico porque podem explicar, até com detalhes, as escolhas feitas pelos denominadores, havendo, portanto, nesse item, uma coincidência de propósitos com os atlas das línguas, conforme se depreende da citação transcrita.

Os Atlas registram a toponímia oficial de uma localidade (município, estado, região, país) extraída de folhas topográficas e mapas oficiais, e seu objetivo é demonstrar em que localidades há maior ou/e menor influência do ambiente físico ou social nos designativos ou topônimos, as camadas dialetais formadoras dos nomes, a motivação toponímica, a etimologia, dentre outros aspectos.

Vários projetos de atlas toponímicos vêm sendo realizados no Brasil,

originalmente como variantes regionais do Atlas Toponímico do Brasil (ATB), dentre

outros, o Atlas Toponímico do Estado de São Paulo (ATESP), o Atlas Toponímico do

Paraná - Pelos caminhos do Paraná: esboço de um Atlas toponímico (ATEPAR), o

Referências

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