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A EUTANÁSIA INTRODUÇÃO

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Academic year: 2021

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A EUTANÁSIA INTRODUÇÃO

1. Este tema da Eutanásia, até agora praticamente considerado como “tabu” para a sociedade portuguesa, assumiu, recentemente, um enorme interesse cívico, mercê da sua inclusão na agenda do nosso parlamento com vista à sua eventual despenalização se fôr caso disso.

2. Paralelamente ao tema da Eutanásia, anda, normalmente, ligado o problema do chamado “suicídio assistido” figura que não tendo propriamente a mesma natureza, se assemelha pela identidade do fim que ambos pretendem alcançar: a morte do interessado / paciente.

3. O movimento sócio-politico em prol da despenalização da Eutanásia, permite, desde logo, concluir estarmos, hoje em dia, perante um crime à face da nossa lei. De facto, a eutanásia é actualmente considerada um crime de homicídio privilegiado contra a vida das pessoas, nos termos do Código Penal Português. Com a sua despenalização o que se pretende, é transformar o actual crime de eutanásia num acto lícito, quando praticado sob alguns condicionalismos.

4. Se A pede, ao médico B, que o mate, só porque ele não quer viver, é evidente que, se tal acontece, o médico pratica, nos termos da Lei, um crime de homicídio e é passível de uma pena. Todos estão de acordo, neste caso.

5. Mas se A sofre de uma doença incurável, ou está na fase terminal da sua existência, com um sofrimento, ou dores insuportáveis e pede encarecidamente ao médico que lhe tire a vida e com ela, o seu sofrimento, se o médico lhe satisfaz a vontade, deverá isso continuar a ser um acto criminoso e, como tal, merecedor de uma pena, ou, pelo contrário, esta morte, considerada, por muitos, como “morte piedosa”, deverá ser isenta de pena, passando a acto lícito, embora “sub conditiones” ?

6. No fundo do que se trata é apurar se teremos ou não, direito a escolher quando queremos morrer, ou, mais concretamente, se poderemos, licitamente, limitar o período natural da nossa vida, exercendo, contra nós, o chamado direito de morrer dignamente, como querem os seus defensores.

7. É este, em última análise, o tema que vamos abordar à luz da ética e da moral cristãs, esquecendo os aspectos Jurídicos que envolvem, o problema, porque fora do âmbito da nossa catequese.

Para bem compreendermos todo o alcance da questão, e antes de apresentarmos as diversas soluções que ela tem merecido dos estudiosos, importa, desde já, saber o que é a eutanásia, defini-la em termos rigorosos, e distingui-la de figuras que lhe são paralelas e que muitas vezes entram na discussão do problema.

8. Etimologicamente a palavra Eutanásia significava, no passado morte doce. Isto é, morte sem sofrimentos atrozes. Actualmente, porém, o que mais preocupa os estudiosos não é tanto o sentido etimológico da palavra, mas a intervenção médica direccionada

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para atenuar o sofrimento e as dores da agonia, embora se preveja o risco de essa intervenção poder antecipar o termo natural da vida de quem está a sofrer.

9. Como se sabe o médico é, normalmente, chamado com o fim de eliminar ou, ao menos atenuar, o sofrimento do doente incurável ou terminal, mas, muitas vezes também para evitar problemas das famílias, provocados por situações anómalas (como o aparecimento de crianças mal conformada à nascença) que certamente irão trazer graves problemas à sociedade e ou aos familiares, para além de encontrar o remédio para evitar uma vida de infelicidade para quem a vive ou vai viver com sofrimento e, por vezes, com despesas incomportáveis.

Importa, por isso, definir com precisão, o que deve entender-se por eutanásia como meio de eliminar estes problemas, para depois, procedermos ao ajuizamento, em termos catequéticos, que pretendemos fazer.

10. Por eutanásia, entende-se o acto ou a omissão médica, solicitado ou não, que, pela sua natureza e pela sua intenção, causam a morte de uma pessoa com o fim de lhe eliminar o sofrimento.

Em face desta definição verifica-se que são elementos integrantes ou estruturais do conceito de Eutanásia ser ela:

a) Um acto médico, isto é realizado ou omitido por um médico, ou sob o seu controlo;

b) Capaz, ou adequado a causar a morte de alguém;

c) Praticado com intenção de causar a morte,

d) Com o fim de evitar o estado de sofrimento insuportável do enfermo

11. Esta figura, assim definida, é diferente da distanásia que, ao contrário, significa o prolongamento da vida por meio de terapias ou de acções inúteis e que não alteram e muitas vezes agravam a ansiedade e o sofrimento ou o estado de saúde do doente.

12. Também não se confunde com a chamada ortotanásia que constitui uma sua alternativa, ou seja, a forma de morte que combina a realidade da mesma morte, com o princípio do prazer implícito na eutanásia (morte doce). No fundo uma morte, segundo a sua realidade própria, sem sofrimento, através do controlo e gradual limitação da terapia deixando a doença seguir o seu curso normal.

13. A eutanásia apresenta-se de várias formas, a saber:

Pode ser positiva directa quando o médico a pedido ou não, do paciente, e para lhe atenuar o sofrimento, que lhe provoca a morte, ou positiva indirecta quando a morte do paciente resulta como consequência advinda de terapia administrada com o intuito, não de lhe causar a morte, mas de lhe minorar o sofrimento.

14. A diferença que há entre estas duas formas de eutanásia reside na intenção com que se ministram as drogas ao paciente. No primeiro caso, a droga é ministrada para causar directamente a morte, e com ela lhe eliminar ou de atenuar o sofrimento; no segundo caso, a droga é dada para atenuar ou eliminar o sofrimento do doente, mas, ao mesmo tempo, e como consequência indesejável, embora previsível acaba por lhe encurtar a vida não como efeito pretendido.

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15. A par da eutanásia positiva há também a eutanásia negativa que ocorre quando o clínico decide, normalmente depois de ouvida a sua equipa médica e também os familiares do doente, interromper os tratamentos ou os meios extraordinários de reanimação que o mantinham vivo, nomeadamente, quando comprova a sua inutilidade, ou a vida mantida não passa de vegetativa.

16. Expostas as formas ou modos mais salientes como se apresentam a eutanásia e a distanásia, vejamos agora os motivos mais comuns pelos quais elas se praticam para depois comentarmos as diversas soluções que se têm apresentado para solucionar o problema.

17. A grande razão ou motivo para prática da eutanásia positiva directa tem sido o pôr termo ao sofrimento de quem a pede, mas muitas vezes, ela é usada também para eliminar pessoas indesejáveis, tais como anormais, velhos inúteis ou por motivos eugénicos, em casos de más conformações de fetos ou de crianças com doenças incuráveis à partida, sem esquecer a colheita de órgãos para transplantes e para fins de cosmética.

18. Alguns destes casos têm sido motivos de aplicação de eutanásia activa directa ou indirecta, e também de eutanásia negativa. Esta, porém, mais procurada quando a manutenção das terapias se torna economicamente incomportável ou se transforma um grande sacrifico para o paciente, ou esta receia constituir um pesado encargo para os seus familiares por se tornar dependente deles. É o caso de doentes da doença de Alzheimer ou de outro tipo de demência neurológica, ou esclerose lateral amiotrófica.

19. Convém advertir que apesar de ainda raros os pedidos de eutanásia directa activa, tais pedidos têm aumentado inclusivé por pessoas que entendem ficar com a dignidade pessoal atingida gravemente se tiverem de usar fraldas ou de dependerem de outras pessoas para tarefas de grande simplicidade, como é ocaso da sua higiene pessoal.

Chegados aqui cabe perguntar: Que dizer da Eutanásia?

E já agora do seu “irmão gémeo”, o suicídio assistido?

Pois bem:

20. Pretendendo solucionar este problema, aparecem-nos de um lado, aqueles que defendem que temos direito sobre a nossa vida, sobre o modo de a viver e sobre a forma como pode ou deve terminar; do outro lado juntam-se aqueles que defendem que a vida não nos pertence invocando, para isso, razões religiosas, ou éticas, ou políticas.

21.É claro que os primeiros surgem como paladinos da eutanásia ou do “suicídio assistido” ou da respectiva despenalização, ao passo que os segundos lutam contra a eutanásia, contra “o suicídio assistido” e a sua despenalização.

22. Os principais argumentos destes últimos, assentam essencialmente em razões éticas e religiosas, salientando que não sendo donos da nossa vida nenhum direito temos sobre ela. A vida pertence ao Criador, ou se assim não fôr, à “mãe natureza”.

23. Aos olhos deste grupo a Eutanásia, corresponde a uma “usurpação do direito à vida”.

Daí que os médicos estejam vinculados a respeitar e a defender este direito, não

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podendo violá-lo, quer amputando-o, quer alargando-o inutilmente, isto é quando não existe esperança de recuperação de situações graves e incapacitantes, que naturalmente afectam os limites naturais da vida. Daí que a distanásia ou obstinação terapêutica, sem qualquer sucesso na saúde do enfermo, seja condenável.

24.A vida humana é inviolável pela sua natureza, por ser um bem em si mesma, dotada de toda a dignidade, pois é nela que assentam todos os direitos existentes. Qualquer ingerência contra ela, no seu decurso, relativamente aos respectivos limites, é antinatural e, consequentemente, ilícita.

25. A vida humana possui por isso uma dignidade natural que se mantém inalterável desde o seu início até ao seu fim natural.

26. Por isso mesmo, a vida humana é indisponível exactamente, porque é manifestação e consequência da dignidade da pessoa humana.

27. A Constituição Portuguesa estatui categoricamente que a Vida humana é inviolável sendo o pressuposto e a base de todos os direitos, (art. 24 n°. 1)

28. Por sua vez a Igreja Católica ensina que a vida é um dom de DEUS, não podendo o Homem dispôr dela em caso algum, porque não lhe pertence.

29. O Homem não sendo proprietário da sua Vida apenas pode geri-la, como um administrador, ou usufrutuário, de cuja administração ou usufruto terá de prestar contas.

30. Tendo condenado abertamente a Eutanásia positiva directa considerando-a mesmo, como um assassínio, a Igreja tem sido mais tolerante com os casos de eutanásia indirecta negativa.

31. Estes casos ocorrem quando a terapia é ministrada com intenção de atenuar ou eliminar o sofrimento, mas, como efeito secundário, dela surge, ou pode surgir, o encurtamento da vida.

32. Nestes casos, a morte não é pretendida nem buscada directamente apenas se procura mitigar as dores e o sofrimento de uma maneira eficaz usando para o efeito analgésicos à disposição da medicina.

33. Também nos casos de eutanásia negativa a Igreja tem defendido que é lícito e até mesmo um dever, suspender terapêuticas inúteis para o restabelecimento de saúde de certos doentes, antes servem apenas para lhe manter uma vida praticamente vegetativa e, às vezes, com sofrimento do paciente.

34. Nestes casos donde não se espera qualquer recuperação é aconselhável deixar o paciente à mercê do curso natural da sua vida, deixando-o morrer em paz e serenidade não esquecendo o dever de lhe mitigar o sofrimento e de o reconfortar e acompanhar nos últimos instantes da vida.

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Foi assim exposto, embora sucintamente, a posição da Igreja sobre o problema da eutanásia e do suicídio assistido, deixando-se bem saliente que é importantíssimo proteger a dignidade da pessoa humana no momento da sua morte respeitando o seu direito a morrer naturalmente com toda a serenidade e dignidade humana e cristã.

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