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Tópico 3. Estudo de Erros em Medidas

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Academic year: 2021

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Tópico 3. Estudo de Erros em Medidas

A medida de uma grandeza é obtida, em geral, através de uma experiência, na qual o grau de complexidade do processo de medir está relacionado com a grandeza em questão e também com o processo de medição. Por isso, este tópico visa introduzir conceitos importantes sobre erros de medidas.

3.1. Erros de uma Medida

Algumas grandezas possuem seus valores reais conhecidos e outras não. Quando conhecemos o valor real de uma grandeza e experimentalmente encontramos um resultado diferente, dizemos que o valor obtido está afetado de um erro.

ERRO é a diferença entre um valor obtido ao se medir uma grandeza e o valor real ou correto da mesma.

Matematicamente: erro = valor medido valor real

A determinação do erro de medida não é simples, pois há na maioria dos casos uma combinação de inúmeros fatores que influem, de forma decisiva, no resultado da medição. Portanto, o erro “verdadeiro” de uma medida é sempre impossível de ser conhecido, sendo possível apenas uma estimativa do erro máximo aceitável. Nesta seção irar-se-á dar uma pequena introdução sobre tipos de erros e o cálculo do erro aleatório provável, dado pelo cálculo do desvio padrão.

Existem diversas classificações de erros na literatura especializada, entretanto, há três principais que são:

1. Erro de escala: é o erro associado ao limite de resolução da escala do instrumento de

medida.

2. Erro sistemático: é o erro em que o medidor sofre, de maneira constante, em todo o

processo de medição. No momento da descoberta da sua origem, o erro sistemático é possível de ser minimizado ou até mesmo sanado;

3. Erro aleatório: é o erro que decorre de perturbações estatísticas impossíveis de

serem previstas, sendo assim, difícil de evitá-los.

O erro aleatório pode ser calculado utilizando-se os postulados de Gauss, que por motivo de brevidade não será citado aqui, entretanto, aos estudantes interessados neste assunto consulte o livro Introdução ao Laboratório de Física.

3.1.1 Valor mais provável de uma grandeza

Sejam x1, x2, x3,..., xn as n medidas realizadas de uma mesma grandeza física X. O valor médio desta grandeza denotado por

x

é definido pela média aritmética dos

valores medidos, ou seja,

(2)

Deste modo,

x

representa o valor mais provável da grandeza medida. Ao se

realizar várias medidas, os valores obtidos tendem a estarem mais próximos deste valor. O valor médio é o que melhor representa o “valor real” da grandeza.

3.1.2 Desvio das medidas

No entanto, não se pode afirmar que o valor mais provável seja o valor real da grandeza. Assim, representando-se uma medida qualquer da grandeza X por Xi, não se pode dizer que a diferença (Xi - X = δX) seja o erro da medida Xi. Neste caso quando

se conhece o valor mais provável, não se fala em “erro”, mas sim em Desvio ou Discrepância da medida (ou Incerteza).

Desvio de uma medida, 𝛅X, é a diferença entre um valor medido e o valor adotado

que mais se aproxima do valor real (em geral o valor médio).

É interessante saber de quanto as medidas individuais Xi se afastam do valor médio, ou seja, de que maneira as medidas Xi se distribuem em torno do valor médio. A esse fato denominamos “dispersão”. Para medir a dispersão são utilizadas algumas propriedades da série de medidas, tais como a Variância e o Desvio Padrão:

Variância (s2

): A variância é definida como a soma dos quadrados dos desvios de

todos os valores da grandeza dividida pelo número de medidas menos uma. A variância é representada por s2, sendo calculada pela fórmula:

𝑠

2

=

x1−x 2+ x2−x 2+⋯+(xn−x )2 𝑛−1

=

xi−x 2 𝑛 𝑖=1 𝑛 −1 (2)

O denominador “n – 1” da variância é determinado pelos graus de liberdade. O principio dos graus de liberdade é constantemente utilizado na estatística. Considerando um conjunto de “n” observações (dados) e fixando uma média para esse grupo, existe a liberdade de escolher os valores numéricos de n – 1 observações, o valor da última observação estará fixado para atender ao requisito de ser a soma dos desvios da média igual a zero. No caso especifico do cálculo da variância, diz-se que os “n” graus de liberdade originalmente disponíveis no conjunto sofreram a redução de uma unidade porque numa estatística, a média já foi calculada dos dados do grupo e aplicada na determinação da variância.

Desvio padrão (

𝜎

x): O desvio padrão é simplesmente a raiz quadrada da variância e,

portanto, expresso na mesma unidade da grandeza medida (kg, cm, atm, etc.):

𝜎

x

=

x1−x 2+ x2−x 2+⋯+(xn−x )2 𝑛−1

=

xi−x 2 𝑛 𝑖=1 𝑛 −1 (3)

(3)

3.1.2 Desvio padrão final

Até agora, ainda não informamos como deve ser relatado o valor de uma grandeza submetida a medições. Já sabemos, a princípio, que a grandeza pode ser representada, de modo satisfatório pelo seu valor médio. Porém, quando efetuamos um conjunto de medições devemos ser capazes de informar com qual qualidade a média pode ser uma estimativa do valor verdadeiro. Ou seja, devemos sempre informar uma incerteza associada à média encontrada.

Poderíamos pensar, num primeiro nível, que a incerteza possa ser estimada pelo desvio padrão da média. Porém, devemos atentar que o cálculo do desvio padrão da média leva em conta somente as contribuições dos erros aleatórios, e não considera os erros sistemáticos. Existe, pois, uma incerteza residual que ainda não foi considerada.

Essa incerteza residual (𝜎𝑟), no caso de instrumentos de medida, costuma vir indicada pelo fabricante. Quando não é indicada, podemos adotar, pelo bom senso, que se trata da metade da menor divisão da escala.

Assim, o resultado de um conjunto de medições é:

𝑥 = 𝑥 ± 𝜎

𝑓

em que 𝜎𝑓

é o desvio (ou incerteza) padrão final e pode ser calculada por:

𝜎

𝑓

= 𝜎

𝑓2

+ 𝜎

𝑟2

Como exemplo da teoria acima proposta, dada a seguinte tabela abaixo, com valores de medidas de comprimento de um corpo de prova qualquer, iremos calcular o seu valor mais provável (média) e o seu desvio padrão.

Tabela 3.1. Valores de medidas de comprimento de um corpo de prova qualquer. Note que aqui não é necessário usar o desvio residual pois não foi fornecido.

Medida Comprimento (m) 1 1,42 2 1,40 3 1,38 4 1,41 5 1,43 6 1,42 7 1,39 8 1,40

Assim, o valor mais provável da medida, X , é dado por:

X =1 8 1,42 + 1,40 + 1,38 + 1,41 + 1,43 + 1,42 + 1,39 + 1,40 = 11,25 8 = 1,40 625𝑚 X = 1,41 𝑚

(4)

𝜎X= (1,42 − 1,41)2+ 1,40 − 1,41 2+ 1,38 − 1,41 2+ 1,41 − 1,41 2+ 1,43 − 1,41 2+ 1,42 − 1,41 2+ 1,39 − 1,41 2+ (1,40 − 1,41)2 8 − 1 𝜎X = 0,0001 + 0,0001 + 0,0009 + 0 + 0,0004 + 0,0001 + 0,0004 + 0,0001 7 𝜎X = 0,01 732𝑚 → 𝜎X = 0,02𝑚

Portanto, o modo correto de representar o valor mais provável do corpo de prova e o seu respectivo erro é o seguinte:

1,41±0,02 𝑚

Note que o número de casas após a vírgula para ambos os valores têm que ser compatíveis.

3.2. Propagação de Incertezas

Este assunto é de grande relevância em todas as áreas de atividade onde são realizadas medidas experimentais. O objetivo deste assunto é justamente estudar a propagação de incertezas associadas a cada medida em particular.

Imagine que queiramos fazer a soma de duas grandezas x1 e x2, para obter uma grandeza y. Sabemos que para expressar corretamente o resultado de nossa operação devemos relatar um valor médio e uma incerteza associada a este valor. De maneira geral, um resultado y deve ser expresso como:

𝑦 = 𝑦 ± 𝜎𝑦 (4) Se y é uma função de outras variáveis f(x1, x2), então:

𝑦 = 𝑓(𝑥 1, 𝑥 2) (5) No caso da soma, por exemplo, y = x1 + x2, então:

𝑦 = 𝑥 1 + 𝑥 2 (6) Já o cálculo de 𝜎𝑦 é mais complicado. O processo rigoroso para o cálculo das incertezas envolve uma equação com derivadas parciais, também conhecida como “lei de propagação de incertezas” o qual é apresentada a seguir.

 Lei de Propagação de Incertezas

Suponha que um certo experimento necessite de vários instrumentos para ser realizado. E que cada um destes instrumentos têm uma variabilidade diferente em suas medições. Os resultados de cada instrumento são dados como: x1, x2, x3, ... . O resultado final desejado é y, de modo que y é dependente de x1, x2, x3, ... . Então, pode-se escrever que y é uma função dessas variáveis:

(5)

Uma vez que cada medida tem uma incerteza sobre sua média, pode-se escrever que a incerteza de dyi da i-ésima medição de x depende da incerteza das i-ésimas medições de x1, x2, x3, ... :

𝑑𝑦

𝑖

= 𝑓(𝑑𝑥

1𝑖

, 𝑑𝑥

2𝑖

, 𝑑𝑥

3𝑖

… ) (8)

O desvio total de y é então obtido da derivada parcial de y com respeito a cada uma das variáveis:

𝑑𝑦 =

𝜕𝑦 𝜕𝑥1

𝑑𝑥

1

,

𝜕𝑦 𝜕𝑥2

𝑑𝑥

2

,

𝜕𝑦 𝜕𝑥3

𝑑𝑥

3

(9) A relação entre os desvios padrão de y e x1, x2, x3, ... é dada em duas etapas: i) pela quadratura da equação 9, e ii), tomando a soma total de i = 1 para i = n, onde n é o número total de medições. Logo:

𝑑𝑦

𝑖 2

=

𝜕𝑦 𝜕𝑥1 2

𝑑𝑥

1𝑖 2

+

𝜕𝑦 𝜕𝑥2 2

𝑑𝑥

2𝑖 2

+ ⋯

(10)

Dividindo ambos os lados por n-1: 𝑑𝑦𝑖 2 𝑛−1

=

𝜕𝑦 𝜕𝑥1 2 𝑑𝑥 1𝑖 2 𝑛−1

+

𝜕𝑦 𝜕𝑥2 2 𝑑𝑥 2𝑖 2 𝑛−1

+ ⋯

(11)

Da equação 3 tem-se que: 𝜎𝑦2 = 𝑑𝑦𝑖 2

𝑛−1

=

𝑦𝑖−𝑦 2

𝑛−1 , logo a equação onde pode ser reescrita como:

𝜎

𝑦2

=

𝜕𝑥𝜕𝑦 1 2

𝜎

𝑥12

+

𝜕𝑥𝜕𝑦 2 2

𝜎

𝑥22

+ ⋯

(12) Assim, tendo a equação que expressa y em função de suas componentes x1, x2, ... , deve-se, primeiramente, obter as expressões das derivadas parciais da função y em relação a cada uma das componentes. Obtidas essas expressões, substituem-se os valores apropriados e calcula-se o valor de cada derivada parcial em questão. A seguir, deve-se multiplicar cada valor obtido pela incerteza da respectiva componente. Por fim, procede-se a soma de todas as parcelas, sendo cada parcela relativa a uma determinada componente da função.

Exemplo: Calcule o volume de um cilindro de comprimento L = (4,0±0,1)mm e

diâmetro D = (2,0±0,2)mm. Resolução:

O volume do cilindro é dado por:

𝑉 =

𝜋𝐷2𝐿

4

=

𝜋×(2,0)2×4,0

4

= 12,566 𝑚𝑚

(6)

Agora iremos utilizar as incertezas das medidas de comprimento e diâmetro do cilindro, para calcular a incerteza propagada para V:

𝑉 = 𝑓 𝐷, 𝐿 → 𝜎𝑉2 = 𝜕𝑉 𝜕𝐷 2 𝜎𝐷2 + 𝜕𝑉 𝜕𝐿 2 𝜎𝐿2 → 𝜎𝑉2 = 𝜋 𝐷𝐿 2 2 𝜎𝐷2+ 𝜋 𝐷 2 4 2 𝜎𝐿2 → 𝜎𝑉2

=

𝜋×2,0×4,02 2

×

0,2

2

+

𝜋× (2,0) 2 4 2

×

0,1

2 =

6,3164 + 0,0314 = 6,3478 mm

6 𝜎𝑉

=

6,3478

𝜎𝑉

= 2.5 𝑚𝑚

3

O resultado final deve ser expresso da seguinte maneira:

V = (12.6±2.5) mm

3

3.3 Propagação de Incertezas nas Operações Básicas

Abaixo estão listadas as equações da incerteza propagada para as operações mais utilizadas. 1. Adição ou Subtração: y = x1 + x2 ou y = x1 - x2

𝜎

𝑦

= 𝜎

𝑥12

+ 𝜎

𝑥22 2. Multiplicação ou Divisão: y = x1.x2 ou y = x1/x2

𝜎

𝑦

𝑦

=

𝜎

𝑥1

𝑥

1

2

+

𝜎

𝑥2

𝑥

2

2 3. Potenciação: y = x1a

𝜎

𝑦

𝑦

= 𝑎

𝜎

𝑥1

𝑥

1

No caso da função do tipo y = x1a . x2b , tem-se:

(7)

4. Logaritmo: y = log(x1)

𝜎

𝑦

= 0,434.

𝜎

𝑥1

𝑥

1

EXERCÍCIOS PROPOSTOS

1) Mediram-se, experimentalmente, o período e o comprimento de um pêndulo simples, obtendo-se os seguintes resultados: L = (59,90 ± 0,05) cm e T = (1,555 ± 0,001) s . Utilizando a equação do pêndulo simples T = 2π 𝐿

𝑔 , calcule o valor da aceleração da

gravidade (g).

2) Em uma mola de constante elástica k = (2,256 ± 0,003).104 dyn/cm colocou-se a oscilar uma massa m = (249,86 ± 0,01)g . Calcule o período do oscilador para os valores dados acima, sabendo que ele está relacionado com a massa e a constante elástica através da equação T = 2π 𝑚

Referências

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