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MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA SÃO PAULO 2010

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Wagner Francisco da Silva

Ética Ambiental

Uma Abordagem pela Teoria

Sistêmica da Comunicação

MESTRADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Wagner Francisco da Silva

Ética Ambiental

Uma Abordagem pela Teoria Sistêmica

da Comunicação

Dissertação apresentada à comissão examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Comunicação e Semiótica, sob a orientação do Prof.º Dr.º Jorge de Albuquerque Vieira.

(3)

BANCA EXAMINADORA

_____________________________

_____________________________

(4)

 

À Leninha, 

Pelo amor, pela paciência ...  

e por tudo. 

E aos meus filhos, 

Filipi pela alegria. 

(5)

AGRADECIMENTOS

Ao professor Jorge de Albuquerque Vieira, orientador dedicado, por ter

mostrado e percorrido comigo, caminhos que levam a um universo de possibilidades.

Aos professores Rogério da Costa e Gerson Tenório dos Santos, pelas

palavras e conselhos em diversas situações na Banca de Qualificação.

Aos professores do Programa de Comunicação e Semiótica: Amálio Pinheiro,

Lucrécia D’aléssio Ferrara, Ivo Assad Ibri, Lucia Santaella, e Christine Greiner.

À Cida da secretaria do COS, pela imensa ajuda nas horas em que precisei.

A todos que encontrei no Programa de Comunicação e Semiótica, por dividirem

(6)

RESUMO

Este trabalho investiga a emergência da Ética Ambiental no sistema ambiental e psicossocial utilizando o método do sistemismo. Tem como abordagem a dimensão comunicativa do pensamento ecológico e sistêmico. A proposta da pesquisa conduziu a uma análise da Ética Ambiental através da metafísica peirceana (Ibri,1992) nos conceitos de acaso e continuidade, encontrando suporte no mecanismo de ação da empatia (Damásio,1999 e 2004). Ressaltamos que o nosso interesse, neste trabalho, rege-se por questões ontológicas. Abordar algumas teorias como: (a Ontologia Sistêmica de Mario Bunge e aquela de C. S. Peirce, a teoria do Umwelt de Jakob Von Uexküll e uma decorrente teoria Sistêmica da Comunicação) para sustentar a emergência da Ética Ambiental foi o caminho escolhido, já que elas têm como propósito inquirir sobre a natureza da realidade sistêmica e complexa da espécie humana. Assim tais teorias nos orientam a pensar níveis de conhecimento, evidenciando que tipo de conhecimento a Ética Ambiental exige. Foi possível enxergar que os desafios propostos pelo objeto Ética Ambiental têm implicações significativas quanto ao papel (e poder) dos meios de comunicação na implantação de tal ética.

(7)

ABSTRACT

This piece investigates the emergence of Environmental Ethics in environmental and psychosocial system using the method of the system. Its approach to the communicative dimension of ecological thinking and systemic. The research proposal has led to an analysis by the Environmental Ethics of metaphysics Peirceana (Ibri, 1992) the concepts of chance and continuity, finding support in the mechanism of action of empathy (Damásio, 1999 and 2004). We emphasize that our interest in this work is governed by ontological issues. Addressing some theories such as (the ontology of Mario Bunge Systemic and that of C. S. Peirce, the theory of Umwelt Jakob von Uexküll and caused a systemic theory of communication) to support the emergence of Environmental Ethics is the path chosen, as they have purpose is to investigate the nature of the systemic and complex reality of the human species. So these theories guide us to think about levels of knowledge, showing that kind of knowledge requires the Environmental Ethics. It was possible to see that the challenges posed by the object - Environmental Ethics - have significant implications on the role (and power) of the media in the implementation of such ethics.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

Abreviações da Obras de C. S. Peirce ... 12

CAPÍTULO I –COMUNICAÇÃO E SEMIOSE ... 13

1 -COMUNICAÇÃO E SEMIOSE ... 14

1.1 - A Comunicação ... 14

1.2 - A Comunicação Ambiental ... 16

1.2.1 - Ambiente Auto-poiético ... 17

1.2.2 - Ambiente e Ecologia ... 18

1.3 - A Semiose ... 20

1.3.1 - O Interpretante ... 21

1.3.2 - Modelos Gráficos de Semiose ... 26

1.3.2.1 - Diversos modelos da semiose ... 27

1. 4 - O Universo em Semiose ... 31

CAPÍTULO II – O PARADIGMA SISTÊMICO E COMPLEXO ... 36

2 - O PARADIGMA SISTÊMICO E COMPLEXO ... 37

2.1 - O Novo Paradigma Científico... 37

2.1.1 - A Gênese do Termo Paradigma ... 37

2.2 - O Termo Paradigma em Thomas Kuhn ... 38

2.2.1 - Ciência normal e Ciência extraordinária ... 38

2.3 - A Revolução Científica ... 40

2.4 - O Paradigma Dominante ... 41

2.4.1 - Uma Nova Racionalidade ... 43

2.5 - A Crise do Paradigma Dominante ... 45

2.5.1 - Fragmentação e totalidade ... 47

2.6 - O Paradigma Emergente ... 48

2.7 – UMA ONTOLOGIA SISTÊMICA ... 52

2.7.1 - A Teoria Sistêmica ... 53

2.7.1.1 - Definindo Sistema ... 55

2.7.1.2 - Parâmetros sistêmicos ... 57

2.7.1.2.1 - Parâmetros Básicos ou Fundamentais ... 57

(9)

2.7.2 - Évolon – Organização e evolução ... 68

CAPÍTULO III – ÉTICA AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM PELA TEORIA SISTÊMICA DA COMUNICAÇÃO ... 69

3 - ÉTICA AMBIENTAL: UMA ABORDAGEM PELA TEORIA SISTÊMICA DA COMUNICAÇÃO ... 70

3.1 - A Ética ... 71

3.1.1 - A Crise da Ética ... 73

3.2 - A crise Ambiental ... 74

3.3 - Umwelt : A Interface Semiósica para a permanência ... 76

3.4 - O Conceito de Alteridade ... 79

3.5 - Empatia: A Compreensão dos Contextos ... 80

3.5.1 - Neurônios Espelho ... 81

3.6 - Signo, Semiose e Ética Ambiental ... 83

3.7 - Metafísica: A Ciência do Real ... 84

3.7.1 - Realismo: Determinismo e Tiquismo ... 85

3.7.2 - Indeterminismo Ontológico: Evolucionismo e Falibilismo ... 90

3.7.3 - Idealismo Objetivo: Sinequismo ... 92

3.8 - A EMERGÊNCIA DA ÉTICA AMBIENTAL ... 96

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 103

(10)

INTRODUÇÃO

O Sistema humano é aberto, logo possui ambiente. O ambiente é um sistema aberto que troca matéria, energia e informação com outros. É no sistema ambiente que encontramos todo o necessário para trocas entre sistemas. À medida que essas trocas se realizam, há uma internalização dos conhecimentos adquiridos, bem como uma espécie de estoque deles, e assim é gerada a autonomia do sistema. Para criar autonomia, acumulam-se estoques ao longo do tempo, que são necessários à permanência ou a sobrevivência do sistema. Segundo Bunge (1979:5) um sistema é definido por S= < M,A,R >, onde M refere-se à composição, A é o ambiente (sistema envoltório) e R é relação (interna à M e na fronteira de M com A).

Quando analisamos um sistema humano complexo, vemos que os processos de comunicação e semiose permitem transferências de formas fundamentais e complexas de autonomia. A comunicação em seu sentido básico é o mecanismo fundamental de conectividade no domínio da vida. É por seu intermédio que sistemas interagem, ganham coesão, desenvolvem uma coerência coletiva e geram novos sistemas. Chamamos de comunicação ao fluxo de informação que ocorre a partir de R. Admitimos que tais relações sejam também ações ( quando a história de um sistema pode alterar ou ser alterada por outro sistema).

“A comunicação é uma necessidade evolutiva e adaptativa em busca da permanência. Como vimos ela não é restrita ao domínio dos sistemas vivos. Como estes dependem do seu ambiente, a comunicação necessita ser também ambiental”.1

Nesse sentido, o conceito de sistema em ontologia parece ser uma boa proposta dentro dos princípios complexos da comunicação ambiental. Assim somos levados a crer que temos que repensar a ética. Ética esta, que não pode evitar os problemas da complexidade. “Temos que repensar a ética para podermos repensar a complexidade humana” (Morin, 2007: 76).

1 Citação em sala de aula elaborada pelo Prof. Dr. Jorge de Albuquerque Vieira em setembro de 2008

(11)

Neste trabalho tentamos responder ao seguinte problema: Qual é a natureza da Ética Ambiental?

Nosso estudo do problema aponta para a seguinte hipótese: A ética Ambiental é um sistema hipercomplexo de ações conectando o Sistema Humano, o Sistema Ambiente e o Sistema Geral da Natureza. A conectividade entre tais sistemas envolve, portanto, uma Comunicação Ambiental, no contexto da Ecologia, o que é baseado no conceito perceano de Sinequismo.

Partindo desse pressuposto, vemos que a ética parte da nossa crise contemporânea: O modelo de homem ocidental é uma ameaça para a ética do planeta. Assim, o homem passou a ser o questionador, o questionado e a própria questão. Essa discussão que evidencia a atual conduta humana e sua intervenção tecnológica na natureza e na cultura levanta questionamentos à ética atual, a saber, em que medida o homem pode colocar em alto risco o futuro de toda a humanidade ao ignorar a Ética Ambiental?

No entanto, ao admitir uma hipótese ontológica da realidade, a busca de soluções para as questões da Ética Ambiental impõe uma conectividade interdisciplinar desses campos do conhecimento, sem olhar para os obstáculos paradigmáticos e os interesses disciplinares que resistem e impedem tal via de completude.

Procedeu-se, por conseguinte, a um exame das várias teorias à luz das quais a Ética Ambiental poderia ser enfocada, no intuito de verificar a sua adequação aos objetivos visados.

Embora todas elas apresentem, fora de qualquer dúvida, aspectos extremamente interessantes, optou-se pelo sistemismo e pela metafísica perceana, que traz em seu corpo vários conceitos, entretanto o que mais se aproximou do objeto foi realmente o conceito de continuidade ou sinequismo, que foi utilizado como linha teórica fundamental para esta pesquisa.

(12)

inexplicável são cuidadosamente examinados e afastados como entrave à pesquisa pelo método científico ou experimental” (Popper, 2002: 47).

Para tanto, a dissertação divide-se em três Capítulos:

I. Comunicação e Semiose: Apresentam-se os conceitos de Comunicação, enfatizando o ambiente comunicacional, o ambiente auto-poiético, a ciência da Ecologia e a semiose, evidenciando o movimento dos signos interpretantes.

II. O Paradigma Sistêmico e Complexo: Apresentam-se as idéias que representaram os modelos de paradigmas, do paradigma dominante até a sua crise, chegando à emergência de um novo paradigma. O paradigma emergente é sistêmico e complexo, para tanto, utilizou-se a ontologia sistêmica para melhor compreensão de tal paradigma.

III. Ética Ambiental: Uma Abordagem pela Teoria Sistêmica da Comunicação: Analisa-se, neste terceiro capítulo da dissertação o estudo da ética e sua crise, e também o estudo da crise ambiental para partir para a discussão da Ética Ambiental. Esta discussão envolveu conceitos bastante significativos à reflexão desta ética objetivada e natural. Conceitos como: Umwelt, empatia, alteridade, semiose e a metafísica perceana, com os também conceitos de acaso e continuidade principalmente.

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As obras de Peirce são citadas obedecendo as abreviações geralmente

aceitas entre os pesquisadores:

CP - Collected Papers.

EP - The Essential Peirce – Selected Philosophical Writings.

MS - Manuscritos da Houghton Library – Havard University.

N - Charles Sanders Peirce: Contribuitions to The Nation.

NEM - The New Elements of Mathematics.

SS - Semiotics and Significs.

(14)

CAPÍTULO I

(15)

1- COMUNICAÇÃO E SEMIOSE

“O caminho real da descoberta não está na procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos.”

Marcel Proust

1.1 – A Comunicação

Sabe-se que o termo comunicação tem sido discutido em vários âmbitos, desde a lingüística dos tempos de Saussure, até os modernos teóricos da comunicação.

Saussure foi um dos grandes inovadores da lingüística quando explica o papel fundamental da língua como instrumento de comunicação, dando corpo a sistemas de línguas como sistemas de signos na função comunicativa das representações da expressão humana.

Chomsky, Jakobson os chamados funcionalistas, vieram após Saussure e são assim conhecidos por considerarem o estudo de uma língua como parte integrante de sua funcionalidade comunicativa baseada em elementos significantes.

Peirce vê uma relação básica entre objeto signo e interpretante, que foi derivada da idéia de um emissor, um enunciado e um interprete, através de um método analítico que ele caracterizava como uma busca pelos ingredientes essenciais desses três elementos presentes em todo diálogo. (Ransdell, 1977:172

apud Santaella 2004: 164).

Quer dizer que, a famosa tríade da semiose é uma extração, em nível de abstração máxima, dos três elementos fundamentais de todo o processo da comunicação.

(16)

significa “tornar comum”, “partilhar”, “repartir”, “associar”, “trocar opiniões”, “conferenciar”.

Nesse sentido, Santaella (2001:22) conceitua comunicação como:

a transmissão de qualquer influência de uma parte de um sistema vivo ou maquinal para uma outra parte, de modo a produzir mudança.”

Dentre todas as ciências ou campos do conhecimento, aquele que mais está perto da semiótica é sem dúvida a comunicação. Não pode haver comunicação sem ação dos signos e vice versa. As relações entre a comunicação e a semiótica são bastante íntimas, apesar disso, ambas se distinguem, sem deixarem de se cruzar em alguns pontos.

Dada a natureza de ambas, elas são tratadas em suas constituições como campos de conhecimento. É evidente a dificuldade da comunicação de reconhecer-se como campo científico autônomo, ela reconhecer-se vê obrigada a dividir ou a partilhar reconhecer-seu objeto de estudos com outras ciências. A possibilidade de uma elaboração epistemológica da comunicação exige a partilha do seu domínio com outras áreas e procura-se configurá-la através de uma inter, multi e transdisciplinaridade.

“A comunicação como campo científico se obriga a rever a cada produção científica, seu acordo de opiniões. Um campo científico que se auto-organiza, à medida que reorganiza seu movente objeto; seu poder é frágil e sem a defesa de paradigmas institucionalizados mas, talvez exatamente por isso, propício a uma real transdisciplinaridade que se faz, não pela justaposição entre paradigmas interdisciplinares de campos vizinhos, mas se processa através da revolução daquela hierarquia disciplinar e, sobretudo, pela implosão dos seus paradigmas. Nesse confronto entre fragilidades, se escreve a epistemologia da comunicação,” (Ferrara, 2008:182)

(17)

para a exploração da realidade sígnica e proto-sígnica tanto no universo dos organismos vivos, quanto no mundo puramente físico.

1.2 - A Comunicação Ambiental

“A comunicação é uma necessidade evolutiva e adaptativa em busca da permanência. Como vimos, ela não é restrita ao domínio dos sistemas vivos. Como estes dependem do seu ambiente, a comunicação necessita ser também ambiental”.2

O Big-Bang

Naturalmente, compreendendo a importância da comunicação e da semiótica no contexto da dissertação, temos que incluir o ambiente, que não pode ser visto exclusivamente como entorno. O ambiente se coloca como ambiente comunicacional epistemológico, deixando de ser dominado pelo ato de ver e pelas significações determinadas pelo senso comum. O que se ressalta é a composição da dinâmica ambiental alargando as possibilidades semiótico comunicacionais na produção de signos a serem interpretados.

O ambiente comunicacional é um campo fluído que troca informação e interage com outros ambientes estabelecendo uma comunicação intensamente dinâmica. Essa troca sígnica é co-adaptativa na medida em que o ambiente fornece informações ao sistema e ele ao ambiente. O ambiente é também a representação,

em sistemas mais complexos, de determinada forma de pensar e conhecer,

2 Ementa da disciplina Sistemas Psicossociais e mídias vinculada a área de concentração: Signo e

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apresentando conectividade com os processos comunicativos. Além disso, se o ambiente como signo é capaz de evidenciar uma dimensão comunicativa do ambiente, a complexidade dessa comunicação ambiental entre o ser e o meio ambiente elabora sistemas de signos complexos pelo intercruzar das linguagens e pela semiose de um signo ao outro, encontrando soluções novas, gerando possibilidades comunicacionais e ambientais.

1.2.1 - Ambiente Auto-poiético

No contexto desse ambiente comunicacional, pesquisadores da escola de Chicago iniciaram estudos que se referem à relação entre o sujeito e seu entorno na formação de um ambiente comunicacional, oferecendo uma visão mais coerente de como as interações afetam o meio ambiente. Nesse sentido, a comunicação se expandiu muito além dos limites das ações individuais, alterando significativamente a relação do homem com seu ambiente.

Quero frisar que dentro do sistema comunicacional, observamos que difundiram-se os estudos propostos pelos biólogos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana de sistema auto-poiético, que literalmente significa um sistema que se auto-cria ou se auto-produz. A questão auto-poiética remete-nos a uma visão auto-organizativa do ambiente, o ambiente é auto-poiético. Esse sistema enxerga as redes e as possibilidades de auto-organização ambientais traduzidas entre natureza e cultura. Para Luhman (1990) a visão auto-poiética confere à dimensão comunicativa da dinâmica ambiental uma abordagem que não separa o natural e cultural do ambiente.

O ambiente, não pode ser apreendido como se fosse algo estático e durável no tempo. O ambiente é móvel e dinâmico porque se encontra na intersecção entre os sistemas de linguagem. O ambiente deixa de ser suporte físico e material para ser a intersecção entre o mundo físico-natural e o mundo das idéias, entre a natureza e a cultura.

(19)

entendê-la é necessário compreender como os seres vivos conhecem o meio ambiente. Como vivemos num ambiente com outros seres vivos, desenvolvemos nossa vida num processo contínuo de interação com outros seres vivos e com o ambiente. Nosso comportamento é influenciado por esta interação assim como pelo que vemos e sentimos.

Se tal abordagem abre portas para uma provável explicação entre natureza e cultura fazendo com que enxerguemos a dimensão comunicativa do ambiente auto-poiético, oferece-nos também uma compreensão do viés comunicativo do pensamento ecológico.

1.2.2 – Ambiente e Ecologia

Fazendo uma ponte entre ambiente e ecologia, vemos que o desenvolvimento da ecologia trouxe vários questionamentos para outras áreas de conhecimento, dentre elas, a comunicação, o que no contexto faz emergir uma comunicação ambiental.

A ecologia, sem dúvida, é a disciplina que se sobressaiu nesse contexto, dela emerge a idéia de ecossistema, que se apresenta como um sistema aberto de organismos vivos e de um meio, proporcionando um ambiente fundamental de entrada e de saída para troca de matéria e energia. Ela aborda problemas nos sistemas complexos adaptativos procurando uma maior compreensão desses sistemas para evitar a visão restrita das disciplinas individuais.

Morin (2005, b) explica que a natureza das relações ecológicas indica que o comportamento de um sistema influencia e é influenciado pelo comportamento do outro. Indica também que estamos interconectados por uma rede invisível da qual cada um de nós é apenas um de seus elos. Assim o organismo humano está sempre submetido a interações físicas e essas ajudam o sujeito a se auto construir. Para entender a dinâmica de qualquer organização é preciso também conhecer as interconexões e os seus padrões interativos.

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sistema constituído por inter-relações entre as suas partes. A ecologia, enquanto projeto epistemológico, procura superar o dualismo entre homem e natureza (Kull, 2002).

Outro questionamento bastante importante e menos estudado refere-se a ecologização do pensamento (Morin, 1999 e 2002), que nos mostra como enxergar as correlações sistêmicas a partir de um juízo analítico muito mais abrangente que o juízo do sujeito, e nos faz notar que o conhecimento objetivo do fenômeno, por meio de uma visão ecológica, requer uma capacidade de observação livre de preconceitos para permitir que o próprio objeto seja representado como lhe convier. Através da ecologia o próprio sujeito do conhecimento permite que seja afetado pela dinâmica ambiental. A ecologização do pensamento é, portanto muito mais abrangente do que a ecologia enquanto ciência natural.

A estratégia do texto até aqui, permitiu a coordenação, de fragmentos de um mosaico complexo no interior da dissertação. Essa montagem inter e intra sígnica,

pela justaposição de vários pontos de vista é usada como argumento para dar conectividade ao trabalho. Analogicamente, justapus e relacionei teorias de diversos sistemas sígnicos, para sondar suas possíveis relações. Assim, a comunicação e a semiótica se conectam com ambiente e ecologia.

É possível sugerir que o objetivo da ecologia nesse trabalho é fazer com que a comunicação “sinta” o meio ambiente antes e durante a ação sígnica e que se olhe para a natureza de forma ecológica oferecendo possibilidades de visões transdisciplinares, tornando assim a comunicação, uma comunicação ambiental, onde o diálogo transdisciplinar é capaz de reconfigurar as formas de pensar a ciência e as relações entre homem e natureza. A comunicação passa a ser eco-ambiental, com a possibilidade de estimular a conexão entre as disciplinas pertinentes ao ambiente comunicacional com ações sígnicas inter e transdisciplinares fertilizando essas áreas de conhecimento.

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uma conexão entre esses conceitos e que conforme a pesquisa evoluía os processos semiósicos aconteciam ao mesmo tempo comigo. Nesse veio brotou e se desenvolveu a idéia de optar por esse caminho. Todas essas questões ambientais são questões puramente comunicacionais e semióticas, que só podem ser produzidas por uma mente interpretadora que atua na continuidade dos processos ambientais comunicativos e semióticos.

Também foi possível notar que o ambiente em suas diversas manifestações apresenta fenômenos híbridos que dificilmente podem ser compreendidos se não a partir de uma lógica relacional e processual na qual existe necessariamente, uma maneira de se pensar simultaneamente a trama de relações sígnicas e ecológicas. De forma curiosa, passamos a enxergar a dimensão comunicativa dos ambientes, que nos revela que a comunicação necessita ser ambiental, já que evolui e se adapta ao tempo de semiose.

1.3 – A Semiose

“Acreditamos, cada vez mais firmemente, que o papel da ciência é elaborar e dilatar o “Umwelt” de nossa espécie e que o caminho que divisamos, por enquanto tão restrito a um pequeno grupo de semioticistas, é fértil o suficiente para gerar uma intensa linha de pesquisa: este é um século de inovações, muitas delas antevistas pela semiótica peirceana.

Seria terrível e deprimente perder a oportunidade de participar de tão maravilhosa semiose”

Jorge de Albuquerque Vieira

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“A esse respeito Peirce afirma que a ação do signo geralmente ocorre entre duas partes, o emissor e o intérprete. Emissor e receptor alternam-se, pois o que importa, no caso, é o fluxo dos signos. Por isso mesmo, emissores e receptores, não são simplesmente emissores e receptores, uma vez que o fluxo de signos está sempre prenhe de vozes, ecos de discursos de outros.” (SANTAELLA e Nöth, 2004: 162)

“Semiose, na definição de Morris (1938:13), é “o processo pelo qual algo funciona como signo”. Existe uma generalidade na definição de signo de Peirce, por exemplo: “signo é qualquer coisa que é de tal modo determinada por uma outra coisa que é capaz de determinar um efeito sobre uma pessoa, efeito esse que chamo de seu interpretante, este último sendo, por conseqüência, mediatamente determinado pelo primeiro” (NEM 3: 886 apud Santaella e Nöth, 2004:162).

1.3.1 – O Interpretante

O conceito de interpretante necessita ser melhor explicitado para podermos entender sua tipologia e seu papel dentro da cadeia semiótica. Esse conceito é fundamental para se compreender o processo de semiose.

Retomando os aspectos históricos, sabemos que o interpretante nasceu nos estudos peirceanos, por volta de 1867, e, tornou-se mais definido a partir de 1903. Peirce, baseado nas categorias divide os interpretantes em interpretante imediato (primeiridade), interpretante dinâmico (secundidade) e interpretante final (terceiridade) e a partir de 1906 localiza o interpretante dentro de um processo de comunicação.

Nesta última divisão Peirce aponta:

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Para compreendermos melhor, devemos buscar nas palavras do próprio autor algumas características da divisão dos graus de interpretantes imediato, dinâmico e final. Podemos ressaltar alguns aspectos desses graus.

Imediato: “Meu interpretante imediato esta implicado no fato de que cada signo deve ter sua interpretabilidade peculiar, antes que ele alcance qualquer intérprete.” (SS,111)

“O interpretante imediato consiste na qualidade da impressão que um signo está apto a produzir, não diz respeito a qualquer reação de fato” (CP 8.315)

“A informação que o signo é capaz de transmitir aos seus intérpretes, e que ele coletou dos signos anteriores que ele interpreta. É essa significância, produzida pela simples apresentação do signo que é o interpretante imediato” (Savan, 1976: 40)

Dinâmico: “Meu interpretante dinâmico é aquilo que é experienciado em cada ato de interpretação e em cada um é diferente de qualquer outro (...) O interpretante dinâmico é um evento real e singular “ (SS,111)

“é qualquer interpretação que qualquer mente realmente faz do signo “ (CP 8.315)

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Final : “O interpretante final não consiste no modo pelo qual qualquer mente realmente age, mas no modo pelo qual toda mente agiria. Isto é, ele consiste numa verdade que poderia ser expressa numa proposição condicional” (CP 8.315)

“... o interpretante normal, ou efeito que seria produzido na mente pelo signo, depois do desenvolvimento suficiente do pensamento “ (CP 8.343)

“todavia, cumpre observar também que existe um terceiro tipo de interpretante, que denomino interpretante final porque é aquilo que finalmente se decidiria ser a interpretação verdadeira se considerasse o assunto de modo tão profundo que se pudesse chegar a uma opinião definitiva” (SS:184)

Podemos fazer, neste momento, uma pequena conclusão destes aspectos, utilizando as palavras de J. Ransdell (1983: 43 – 44), que retoma as de Peirce:

(25)

O diagrama dos interpretantes3

INTEPRETANTE MODOS TIPOS Aptos e produzir

Imediato

“interpretabilidade” Apresentação

Hipotético >

Categórico >

Relativo >

qualidades gerais > hipótese

ocorrências > reação categórica, sem hesitação ou relativismos

classes universais > leis ou regras.

Dinâmico

“efeito efetivamente produzido”

Ser

Emocional > ou simpatético

Energético > ou percussivo

Lógico > usual

faz surgir por semelhança uma resposta emocional

comando; pergunta ou súplica

Regra interpretativa.

Apelo

Sugestivo > ou ejaculativo

Imperativo > ou categórico

Significativo> ou Indicativo

Alto poder de sugestão

comando, envolve esforço;

modo cognitivo

Final

“direcionalidade”

Natureza ou propósito

Gratificante >

Prático > ou pragmático

Crítico >

Ideal estético – Admirável;

Ideal ético – ações guiadas com um propósito ético;

Ideal lógico – hábito controlado, auto crítica deliberada;

Influência

Rema >

Dicente >

Argumento >

Um possível;

oferece informações sobre um existente; referencial;

signo de lei;

Um signo, por ser uma relação entre alguma coisa e uma atualização da mente, no caso se faz signo quando ele afeta a mente humana.

O movimento dos signos-interpretantes pode ser desordenado e pode gerar o caos. Assim a mente humana pode ser tomada por qualidades ou crises, onde pode haver provável ausência de gramaticalidade, de lei. Qualidades de sentimentos

3 O diagrama foi construído pela Prof. Lucia Santaella em aula ministrada em 03/10/2008 no curso de

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emergem e continuam a produzir interpretantes na mente, tanto do emissor, quanto de receptor, e esse processo sígnico altera o ambiente e o próprio ambiente alterado interage e se relaciona com signos interpretantes a procura de se auto- organizar enquanto sistema sígnico.

O processo de desvelar interpretantes se inicia com o interpretante imediato e pode continuar com interpretantes dinâmicos, que tendem ao interpretante final. O movimento desses interpretantes se dá de acordo com o efeito do signo no intérprete e, segundo Santaella:

“Esta divisão não corresponde, de modo algum, a três interpretantes vistos como coisas separadas, mas, ao contrário, são graus ou estágios na geração do interpretante.”(1995:91)

O interpretante imediato é uma possibilidade inerente ao signo que lhe dá o potencial para significar e o dinâmico está vinculado a resultados factuais para entendimento do signo.

O interpretante dinâmico é, portanto, a interpretação concreta do signo produzida pelo interpretante na mente humana. Está vinculado à checagem com o real, à vivência de experiências, o que realimenta a ação do signo. Nessas checagens há conflitos, choques e, desta maneira, novas qualidades de sentimentos podem permear o processo, o que lhe dará maior efervescência.

Os interpretantes dinâmicos tendem, no transcorrer do tempo, para o interpretante final de um signo, um interpretante in abstracto.

(27)

Lembremos: A semiose acontece num modelo comunicativo. Assim, reitera-se que a ação do signo – semiose – é a de gerar interpretantes, que serão interpretados em outros signos. Através de sua capacidade auto gerativa, dão continuidade ao processo de formação de outros signos ad infinitum. Em suma, a

semiose não para de acontecer enquanto fonte fomentadora de sistemas sígnicos e enquanto essa rede for alimentada por alguma força.

Assim, pensar com signos é um procedimento que ultrapassa os domínios da mente humana. Reconhecê-los, decifrá-los e criá-los é uma ação que comporta uma configuração distinta da que nós usualmente reconhecemos como mental. Parece mesmo que necessita somente de uma fonte de energia para que os signos aconteçam.

1.3.2 – Modelos Gráficos de Semiose

Muitos autores propuseram diferentes esquemas gráficos para representar a semiose. Esta questão é abordada por Ransdell (manuscrito s.d., p.16) nos seguintes termos: “podemos argumentar que a descrição verbal do processo da semiose sempre apela, para sua inteligibilidade, a uma esquematização gráfica”.

O produto do belo trabalho Semiose Segundo C. S. Peirce de João Queiroz, representa uma diversidade de modelos de semioses cujo interesse é revelar que esses modelos estão tratando de diferentes fenômenos com representações alternativas que descrevem aspectos complementares de um fenômeno para diversos propósitos.

“ Toda modelização envolve idealização, simplificação, abstração e sistematização de um fenômeno.

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1.3.2.1 – Diversos modelos da semiose

Um triângulo é uma relação de pares de termos, e nenhuma combinação de seus vértices (S-O, I-O, S-I) deve produzir uma relação triádica genuína (S-O-I).

Figura 1 – Triângulo de Ogden-Richards

Peirce afirma que o objeto e o interpretante são meramente os dois correlatos do signo, um sendo o antecedente e o outro o conseqüente do signo (MS 318, 82).

Deve haver três tipos complementares de mediação a serem considerados: (I) o signo faz a mediação entre O e I; (II) o objeto faz a mediação entre S e I; (III) o interpretante faz a mediação entre S e O.

(29)

As relações reunidas no item anterior sugerem o seguinte modelo:

Figura 3 – Reunião de tipos complementares de mediação

Savan (1987-1988, p.6) define que o objeto de um signo “como aquele item específico, dentro de seu contexto, para o qual todo interpretante do signo está relacionado colateralmente”, propõe a seguinte construção:

(30)

Baseado na sistematização de interpretantes proposta por Santaella, Queiroz Incorpora e subdivide em modelo gráfico :

Figura 5 – As setas indicam a “ordem de determinação entre os termos da relação, constituída por: “objeto dinâmico” (do), “objeto imediato” (io), signo (s), “interpretante imediato” (ii), “interpretante dinâmico” (di), “interpretante final” (fi).

A esta altura, essas considerações permitem-me fechar o círculo e recolocar as questões em que me coloquei inicialmente, para se chegar à idéia de semiose.

O certo é que a semiose emergiu em termos evolutivos. Para Peirce, segundo (Silveira: 1993).

“Em todos os momentos de sua obra, o conhecimento deve ser considerado semiose, e todo pensamento a que nos é possível ter acesso, compartilha dessa mesma natureza. Essencialmente mediado por signos, conclui-se que todo pensamento é de natureza interpretativa, sequer o auto-conhecimento ou a consciência de si far-se-ão no imediato da intuição.”

(31)

não são entidades ou substâncias discretas e inertes, mas estruturas dinâmicas relacionais.

É apenas porque nossa única experiência do que é mental está confinada à nossa própria mente, ou, mais amplamente, à mente social na qual participamos, que é difícil para nós, imaginar que poderia haver um processo do tipo mental que não tem lugar dentro de uma mente, como a concebemos.

Aquilo que experimentamos como mente (seja social ou não) não é o que é porque se serve de signos, mas porque é feito de signos. Ser mental é ser totalmente permeado de signos. (Santaella,1995)

Sendo a semiose a ação de determinar um interpretante, uma ação ininterrupta e potencialmente infinita, têm-se acesso apenas a um momentum deste continuum, pois como disse Santaella (1995): “a continuidade está no cerne da

natureza mesma da semiose, é inseparável da indeterminação, incerteza e imprecisão.”

(32)

1. 4 – O Universo em Semiose

“O universo é uma grande obra de arte, um grande poema.”

Peirce

O universo compõe-se de fenômenos de semelhanças e diversidades que resultam numa organização ontológica, cuja expressão está na natureza. Essa organização pode ser considerada como um processo semiósico, que propicia relações diretas e indiretas e configuraram o sistema universo num processo contínuo e irreversível. O universo surge em estado de pura possibilidade singular, expandindo em complexidade, autonomia e auto-organização. Sua diversidade material de informação foi a solução encontrada na emergência dessa singularidade que troca informação, dissipa energia e configura a existência de um fluxo entrópico.

(33)

“ ... processos semiósicos e traduções intersemióticas vêm ocorrendo na natureza desde tempos imemoriais, antes do surgimento do ser humano e mesmo de sistemas vivos primitivos. Ou seja, a semiose não é restrita ao domínio da biologia, sendo parte fundamental da emergência da própria realidade, em um universo preponderantemente sígnico.” (Vieira,2008:100).

Processos semiósicos na natureza já foram discutidos com bastante relevância pela biossemiotica. A partir daí, pensar a ação do signo ou a comunicação do ponto de vista cosmológico é bastante interessante.

Em seu trabalho “Semiose e Natureza” (2008: 94), Vieira destaca alguns pontos sobre cosmologia e semiose:

• Semiose como ação sígnica está associada ao conceito de ação inteligente.

• Semiose está também associada ao conceito de tempo irreversível.

• Semiose faz parte da constituição sistêmica da realidade, na medida em que sistemas imersos no universo mantém contato com este último e elaboram a sua energia colaborando com uma termodinâmica universal, como proposto por Mende e Peschel (1981:199)

A conexão de idéias, produz idéias mais gerais, num processo ampliativo. podemos fazer uma conexão dessas proposições com o evolucionismo peirceano, que, sendo um eixo basilar de seu pensamento afina-se nesse ponto em particular tanto com a biologia como com outros sistemas sígnicos.

(34)

O extraordinário crescimento da diversidade a partir dessa provável expansão pode sugerir que os processos semiósicos que hoje alguns consideram como uma característica de sistemas vivos, estão associados ao surgimento e evolução do universo como um todo. Evidentemente, devemos entender essa lei da expansão à luz dos conceitos de continuidade e crescimento, embora o modo de crescimento e continuidade que entretece as idéias na mente humana e no universo como um todo seja a mesma sob uma tendência evolucionária que permeia o mundo interior e exterior.

“Na cosmogênese peirceana, o inicio do universo se dá com um “caos de sentimentos despersonalizados” oriundo da unidade de um continuum de

possibilidades ilimitadas, da natureza de uma quase consciência.” (Ibri, 1992: 86)

Como vemos, estamos discutindo a possibilidade da semiose durante a expansão do universo, e se a semiose existe hoje, certamente deve ter surgido em algum momento após o big bang. Torna-se bastante razoável, considerando o grau de organização e desorganização desse sistema, pensar a emergência de uma protossemiose e uma conseqüente semiose dos sistemas não vivos. Logo, percebemos que o sistema está buscando estratégias de sobrevivência numa tentativa de permanecer, podendo ocorrer mudanças em suas propriedades, em sua estrutura e novos ganhos de conexões proporcionando um aumento de complexidade.

“A semiose é um processo dinâmico no qual o signo, afetado por seu objeto, desenvolve seu efeito no interpretante. O signo não serve como mero instrumento do pensamento, ele tem uma dinâmica própria que é independente de uma mente individual. Além do mais a semiose não está restrita à produção e interpretação de signos em humanos” (Nöth, 2007: 162)

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vivos de uma maneira geral. É uma semiose universal, que emerge da própria realidade, em um universo permeado de signos.

Nesse contexto, parece surgir a comunicação. Se considerarmos a comunicação como um sistema auto-poiético, significando literalmente um sistema que se “cria” ou se “produz”, associado à idéia de evolucionismo e auto-organização, podemos supor que o universo se originou num continuum de

possibilidades ilimitadas num processo semiósico de expansão e comunicação.

Pressupõe-se, dada a exigência termodinâmica universal que a comunicação já estava ocorrendo neste instante pós-colapso, se adaptando e evoluindo conforme a evolução do universo como um todo. Isso, evidentemente, se considerarmos uma protossemiose e o desempenho de uma conseqüente semiose de sistemas não vivos.

“O desenvolvimento humano das tecnologias parece ser meramente a recorrência a uma memória evolutiva ancestral, em nós internalizada, quando recuperamos todas as elaborações sistêmicas desenvolvidas pela natureza em sua evolução, quando então esta nos produziu em sua memória. O que pode parecer um produto acima de tudo humano é, na verdade, um aspecto localizado da semiose universal, no crescimento de complexidade da realidade evolutiva” (Vieira, 2008: 100)

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O PARADIGMA SISTÊMICO E COMPLEXO

CAPÍTULO II

Peirce Newton Descartes Einstein

Bertalanffy Bunge Vieira Prigogine

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2 – O PARADIGMA SISTÊMICO E COMPLEXO.

“Quanto mais estudamos os principais problemas da nossa época, mais somos levados a perceber que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes”

Fritjof Capra

2.1 - O Novo Paradigma Científico

2.1.1 - A Gênese do Termo Paradigma

O termo grego paradeigma surge na história da filosofia de forma mais

elaborada com Platão (428-437 a.C). Na filosofia platônica (Sofista 265b) as artes produtivas são divididas em artes divinas e humanas. E há além disso, outro tipo de produtividade, partilhado tanto por Deus como pelo homem, que não produz os “originais” mas apenas cópias (eikones). O artista (demiourgos) humano ou divino

produz em dois níveis: “originais” ou objetos reais (eidos/idéia), e imitações ou imagens, que só podem aproximar-se mais ou menos dos seus modelos eternos (paradeigma).

Platão usou o termo paradigma para indicar que as idéias representam o “modelo” permanente de cada coisa (como cada coisa deve ser). A explicação, ou melhor, uma das imagens oferecidas por Platão para exprimir a relação das idéias com os elementos que compõem o mundo sensível, é chamada de mimesis, em que

o demiourgos toma como modelo (pardeigma) a criatura inteligível (zoön noeton) que

abrange todas as formas, e assim cria o cosmos.

(39)

de que o mundo inteligível (Kosmos noetos) é o paradigma para o mundo sensível que permanece corrente no platonismo posterior, com Plotino (205-270) e outros.

2.2 - O Termo Paradigma em Thomas Kuhn

Em 1962, Thomas S. Kuhn publicou sua obra as estruturas das revoluções científicas, entrando para a história da ciência de forma decisiva. A partir de então, Kuhn tornou-se um dos destacados filósofos da ciência. Como esse livro “está sendo muito lido, e cada vez mais apreciado, pelos verdadeiros pesquisadores científicos de modo que deve ser (até certo ponto) cientificamente bem expresso” (Masterman, 1976: 73), merecem ser analisados alguns elementos centrais que estão servindo de referência para muitos pesquisadores.

Kuhn entra para a história com o objetivo de compreender a natureza da ciência e as razões de seu desenvolvimento incomum, e instalar uma mudança na percepção e avaliação de dados familiares em torno delas. Esse parece ser o problema motivador de seu trabalho.

2.2.1 - Ciência normal e Ciência extraordinária

Constituem ciência normal as atividades de pesquisa realizadas pelos cientistas no seu campo, durante a maioria do seu tempo. Essa pesquisa está baseada em uma ou mais realizações científicas passadas.

Tais realizações são reconhecidas durante algum tempo por alguma comunidade científica específica, proporcionando os fundamentos para sua prática posterior. Embora raramente na sua forma original, hoje em dia essas realizações são relatadas pelos manuais científicos elementares e avançados.

(40)

Esse novo paradigma na ciência normal, ou paradigmas em atividade, passa a orientar a pesquisa dessa ciência. A passagem de um paradigma a outro acontece porque surgem aspectos na natureza, ou fenômenos que não são respondidos pelos paradigmas vigentes, ou seja, estes se tornam incapazes de dar conta de tais fenômenos. Essa constatação é feita durante a pesquisa, porque os paradigmas raramente são reproduzidos, mas anteriormente foram uma promessa de sucesso, e essa promessa se efetivou. Agora, diante de uma situação-problema ou enigma surgido pela própria natureza, deve-se buscar um novo paradigma que responda às novas exigências.

O fato de os paradigmas não serem reproduzidos, leva-os a serem mais articulados para responder aos novos fatores que surgem na natureza ou nos fenômenos. Esses novos fatores levam o paradigma atual a uma crise por não responder às novas necessidades. O que revela tal incapacidade e coloca que o problema a ser resolvido é o próprio paradigma. Essa situação de crise constitui o problema a ser enfrentado na pesquisa e deveria forçar os cientistas à pesquisa. Porém a ciência normal não tem como objetivo de pesquisa esses fenômenos. Ela está preocupada em dar conta da articulação daqueles fenômenos e teorias já fornecidas pelo paradigma até então aceito. A preocupação da ciência normal é ajustar a natureza ou fenômenos aos paradigmas vigentes. Isso não quer dizer que na ciência normal não existe pesquisa, mas que as pesquisas são certamente minúsculas. Quem responderá a essas situações de crise na ciência?

A ciência que vem em complemento indispensável à ciência normal, Kuhn chama de ciência extraordinária. E a passagem da ciência normal para a ciência extraordinária acontece quando os problemas passam a ser vistos como crises e não como quebra-cabeças da ciência normal. Diante disso, um número cada vez maior de cientistas dessa área passa a dedicar maior tempo para resolver tais crises. Se as crises não são resolvidas, então os cientistas passam a analisar o problema como objeto de estudo. Os cientistas passam a proceder de forma diferente, porque os procedimentos anteriores não tiveram sucesso.

(41)

um novo paradigma. É nesse período “...que os cientistas se voltam para a análise filosófica como meio para resolver as charadas de sua área de estudo” (Kuhn, 1994: 119)4

A pesquisa extraordinária tem outros efeitos e manifestações que não conhecemos de forma precisa, mas que fazem parte do desenvolvimento científico. Kuhn cita como exemplo o que Einstein tinha percebido antes de dispor de qualquer substituto para a Mecânica Clássica:

“... podia perceber a inter-relação existente entre as conhecidas anomalias da radiação de um corpo negro, do efeito fotoelétrico e dos calores específicos” (1994:121).

Outro aspecto é o aparecimento de um novo paradigma ou a indicação de um, durante a crise, de forma repentina e inesperada, na mente do cientista, ou seja, a intuição científica não escolhe a hora nem o lugar para emergir.

2.3 - A Revolução Científica

Quando um novo paradigma emerge respondendo às questões apresentadas pela crise e ele é reconhecido por um grupo de pesquisadores daquela área, esse momento de transição de um paradigma para um novo paradigma é chamado de revolução científica.

“... Consideramos revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior” (Kuhn,1994: 125).

Toda vez que acontece uma revolução científica e, em conseqüência, um novo paradigma é aceito, há uma redefinição da ciência à qual ele pertence. Alguns problemas presentes podem ser declarados não-científicos ou podem ser transferidos para outra ciência, assim como questões até então consideradas não relevantes, podem assumir um papel preponderante na articulação do novo

4 Kuhn cita como exemplo: a Física newtoniana, a Teoria da Relatividade e a Mecânica Quântica

(42)

paradigma. Os problemas mudam e com isso os padrões que permitem também se modificam. A revolução científica transforma uma ciência porque muda os padrões científicos que governam os problemas.

A confiança de que o paradigma vigente resolverá os problemas não solucionados, faz com que haja bastante resistência à mudança de paradigma. A resistência à mudança é própria do movimento da comunidade científica em suas pesquisas. Os argumentos decisivos de um paradigma só são elaborados depois de sua aceitação, desenvolvimento e exploração por parte das comunidades científicas. Esses argumentos fazem parte da revolução e não da ciência normal.

2.4 - O Paradigma Dominante

Muito se tem falado ultimamente, em certos meios das ciências, em mudança de paradigma; estaríamos em plena revolução científica e epistemológica; esta revolução seria justamente caracterizada pela emergência, no cenário do conhecimento humano, de um novo paradigma.

A nova mentalidade e a nova percepção do Cosmo forneceram à civilização ocidental alguns aspectos que são característicos da era moderna, aspectos que se tornaram a base do paradigma que dominou a nossa cultura nos últimos séculos e que atualmente começa a ceder o lugar a um novo paradigma.

Este processo não é algo inédito dentro da ciência, pois a história mostra que declínios e surgimentos de paradigmas são inerentes ao próprio progresso da ciência. A mudança mais eloqüente de paradigma que se tem conhecimento até o presente momento é, sem dúvida a já mencionada Revolução Científica.

(43)

Esta visão de mundo orientada pela ciência sob a hegemonia política e cultural da igreja foi radicalmente mudada nos séculos XVI e XVII. A noção de um universo orgânico, vivo e espiritual foi substituída pela noção de mundo concebido como uma máquina e a “máquina do mundo” se converteu na metáfora dominante da era moderna.

A nova visão de mundo foi ocasionada por mudanças revolucionárias na física e na astronomia, culminando nas realizações de Copérnico, Galileu e principalmente Newton.

Capra descreve estas mudanças revolucionárias fazendo uso das palavras de Einstein, que considera este o maior avanço do pensamento:

“Todos os eventos físicos são reduzidos, na mecânica newtoniana, ao movimento de pontos materiais no espaço,causado por sua atração mútua, isto é, pela força da gravidade.

Para que pudesse equacionar o efeito dessa força sobre um ponto dotado de massa em termos de uma forma matemática precisa, Newton teve de inventar conceitos e técnicas matemáticas inteiramente novas, ou seja, aqueles do cálculo diferencial. Tratava-se de uma tremenda realização intelectual, estimada por Einstein como sendo talvez o maior avanço no pensamento que um único indivíduo teve o privilégio de fazer” (Capra, 1990: 49).

A ciência do século XVI e XVII mudou definitivamente a maneira de interpretar o mundo. Ganhou força a idéia de ordem e de estabilidade do universo. Segundo a mecânica newtoniana, o mundo da matéria é uma máquina cujas operações se determinam por leis físicas e matemáticas, um mundo estático e eterno a flutuar num espaço vazio.

Em tal mundo, o racionalismo cartesiano tornou cognoscível por via da sua decomposição nos elementos que o constituem. Esta idéia de “mundo máquina” foi tão poderosa que se transformou na grande hipótese universal da época moderna: o mecanicismo.

(44)

O determinismo mecanicista é um dos principais alvos entre as muitas críticas que se tece ao paradigma dominante. Com o forte estabelecimento da visão mecanicista do mundo no século XVIII, a física tornou-se a base de praticamente todas as ciências. Se o mundo é uma máquina, a melhor maneira de descobrir como funciona é recorrendo a mecânica newtoniana. Assim, foi uma conseqüência inevitável da visão de mundo cartesiana que as ciências dos séculos XVIII e XIX tomassem como seu modelo a física newtoniana. Somente em meados do século XX é que o paradigma newtoniano-cartesiano começa a declinar em alguns de seus aspectos.

2.4.1 - Uma Nova Racionalidade

O desenvolvimento da ciência ocidental, nos séculos XVI e XVII, constitui uma procura de racionalidade, por oposição às explicações mitológicas e as revelações religiosas.

A nova racionalidade que ditou as normas da ciência moderna foi tão abrangente e convincente que até os dias de hoje mantém viva a sua influência.

“Desde o século XVII, a física tem sido o exemplo brilhante de uma ciência exata, servindo como modelo para todas as outras ciências. Durante dois séculos e meio, os físicos se utilizaram de uma visão mecanicista do mundo para desenvolver e refinar a estrutura conceitual do que é conhecido como física clássica. Basearam suas idéias na teoria matemática de Isaac Newton, na filosofia de René Descartes e na metodologia científica defendida por Francis Bacon, e desenvolveram-nas de acordo com a concepção de realidade predominante nos séculos XVII, XVIII e XIX”

“Acreditava-se que os fenômenos complexos podiam ser sempre entendidos desde que se os reduzisse a seus componentes básicos e se investigasse os mecanismos através dos quais esses componentes interagem.

Essa atitude conhecida como reducionismo ficou tão profundamente arraigada em nossa cultura, que tem sido freqüentemente identificada como método científico” (Capra, 1990: 44 e 45).

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A revolução científica transformou as relações do homem consigo mesmo, com o mundo e com Deus. Com efeito, ela introduziu uma mudança radical no conteúdo intelectual do conceito de natureza.

No início a natureza ainda era concebida como a obra de um Deus criador. Contudo na medida em que os sábios começaram a isolar da globalidade dos fenômenos certos processos naturais para observá-los, descrevê-los matematicamente e desmontar seus mecanismos, eles foram perdendo o sentido tradicional da globalidade da natureza e adquiriram uma percepção cada vez mais clara das relações no seu interior. O conceito de natureza perdeu sua significação de totalidade viva, diretamente perceptível.

Os paradigmas mudam e trazem consigo a transformação no modo de conceber o mundo. Os períodos de transição são marcados por certa insegurança. Este tipo de situação já ocorreu na história da ciência, e a época da revolução científica exemplifica esse estado de insegurança que o novo paradigma proporciona.

O paradigma não resulta das observações, mas está no princípio da construção das teorias, é o núcleo obscuro que orienta os discursos teóricos. Segundo Kuhn, existem paradigmas que dominam o conhecimento científico numa certa época e as grandes mudanças de uma revolução científica acontecem quando um paradigma cede seu lugar a um novo paradigma, isto é, há uma ruptura das concepções do mundo de uma teoria para outra.

Os avanços da certeza científica trazem o avanço da incerteza. Assim, se conhece cada vez mais a natureza e a composição física do universo, o modo de formação de suas estrelas e seus átomos e nossa condição no universo. Por outro lado, aumenta ainda mais a incerteza sobre a sua origem, o seu destino, o nosso destino.

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2.5 - A Crise do Paradigma Dominante

Representação de um sistema em crise.

Segundo Fritjof Capra, são evidentes os sinais de que o modelo de racionalidade científica dominante atravessa por uma profunda crise. Já no final do século XIX, a mecânica newtoniana tinha perdido o seu papel de teoria fundamental dos fenômenos naturais. Os conceitos da eletrodinâmica de Maxwell e da teoria da evolução de Darwin superavam o modelo newtoniano e indicavam que o universo era muitíssimo mais complexo do que Descartes e Newton haviam imaginado.

Não obstante, ainda se acreditava que as idéias básicas subjacentes à física newtoniana, embora insuficientes para explicar todos os fenômenos naturais, eram corretas.

“No início do século XX, descobertas no campo da física, culminando na teoria da relatividade e na teoria quântica, pulverizaram os principais conceitos da visão de mundo cartesiana e da mecânica newtoniana. A noção de espaço e de tempo absolutos, as partículas sólidas elementares, a natureza estritamente causal dos fenômenos físicos e a descrição objetiva da natureza.” (Capra, 1990: 69)

(47)

Nos últimos séculos o que se tem dito é que um novo paradigma científico vem gradualmente tomando corpo numa dessas “revoluções científicas” de que nos fala Thomas Kuhn. Ao se caracterizar a mudança, uma gradativa imagem emergente do Cosmo abre espaço, diferentemente do universo newtoniano, para o acaso, o tempo e analogias entre o ser, o mundo dos signos e a natureza.

Newton enquadrou todas as coisas num espaço absolutamente restrito. A diversidade da natureza foi reprimida. Segundo Capra, as leis da natureza tornaram-se “leis divinas”.

“Da metade do século XVII até o fim do século XIX, o modelo mecanicista newtoniano do universo dominou todo o pensamento científico. Esse modelo caminhava paralelamente com a imagem de um Deus monárquico que, das alturas governava o mundo, impondo-lhe a lei divina.

As leis fundamentais da natureza, objeto da pesquisa científica, eram então encaradas como as leis de Deus, ou seja, invariáveis e eternas, às quais o mundo se achava submetido” (Capra, 1993: 25).

A concepção newtoniana da matéria como entidade auto-suficiente declinou, o uso do adjetivo “atômico” como sinônimo de “separação” é ultrapassado. Os átomos que compõe a tudo não estão isolados. Eles se agregam aos campos de todos os outros átomos e se constituem internamente graças a esse relacionamento.

A exploração do mundo atômico e subatômico colocou os cientistas em contato com uma estranha e inesperada novidade que pulverizou os alicerces da sua visão de mundo e os forçou a pensar de um modo inteiramente novo.

A partir das mudanças revolucionárias em certos conceitos ocasionadas pela física moderna, uma nova e consciente visão de mundo começa a surgir. Essa visão não é compartilhada por toda a comunidade científica, mas está sendo discutida e elaborada por muitos físicos cujo interesse na ciência supera os aspectos de suas pesquisas. Esses cientistas se mostram interessados nas implicações filosóficas da física moderna, e estão tentando aperfeiçoar a compreensão da natureza da realidade. Para eles o universo deixa de ser visto como uma máquina, composta de uma infinidade de objetos, para ser descrito como um todo dinâmico, indivisível, cujas partes estão inter- relacionadas.

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e não apenas uma transição. O quadro determinista do universo estava intimamente relacionado com a imagem da natureza como um mecanismo de relógio. Na física atômica, o quadro determinista do universo deixou de ser possível.

“Na física atômica, tal quadro mecânico e determinista deixou de ser possível. A teoria quântica mostrou-nos que o mundo não pode ser analisado a partir de elementos isolados, independentes”. (Capra,1990: 80)

2.5.1 - Fragmentação e totalidade

A visão fragmentada de mundo é uma herança da ciência moderna. Com freqüência, esta visão entra em choque com a necessidade de cultivar uma visão voltada à totalidade.

A ciência, a arte, a tecnologia e quase tudo são divididos em especialidades, e cada uma delas são consideradas separadas umas das outras. Não satisfeitos com esse tipo de coisas, foram propostos assuntos interdisciplinares adicionais, com a intenção de unir essas especialidades. Mas esses novos temas, em última análise, serviram para acrescentar outros fragmentos separados.

Portanto, a sociedade como todo tem se desenvolvido de forma tal que se encontra fracionada. O próprio ambiente natural tem sido visto como um agregado de partes existentes separadamente, a serem exploradas por diferentes grupos de pessoas. Da mesma forma, cada ser humano foi fragmentado conforme seus desejos, metas, ambições, características etc.

Conceber o mundo com uma visão fragmentária ou de totalidade depende de uma enorme gama de informações que vão se acumulando com o passar do tempo. São estas informações que impulsionam o ver realidade desta ou daquela maneira.

A crença de que todos esses fragmentos – em nós mesmos, em nosso ambiente e em nossa sociedade – são efetivamente isolados, pode ser encarada como uma razão para a atual série de crises sociais e culturais.

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tentativa de dividir aquilo que é indivisível. Tal tentativa conduz à tentativa de unir o que na realidade não pode ser unido.

“O modo fragmentário de pensar, olhar e agir, tem implicações em muitos aspectos da nossa vida. Isto é, a fragmentação parece ser a única coisa universal na vida que funciona através do todo, sem fronteiras ou limites. Isto ocorre porque as raízes da fragmentação são muito profundas e difundidas.” (Bohm, 1998: 26)

2.6 - O Paradigma Emergente5

“O verdadeiro investigador científico perde completamente de vista a utilidade daquilo que procura”. Peirce

Concepção de espaço tempo einsteniano.

Com o intuito de delinear os contornos de um novo paradigma, a presente pesquisa propõe a partir desse momento explorar a relação entre a Semiótica e as

5 Por sugestão do prof. Dr. Gerson Tenório, competente comentador e membro da banca de

(50)

idéias básicas existentes na Teoria Geral de Sistemas à percepção de um paradigma emergente.

O paralelo entre as duas visões não serve para fazer um estudo comparativo no sentido de apontar semelhanças e diferenças. A aproximação em questão serve para tirar conclusões a respeito do surgimento de um novo paradigma

A configuração do paradigma que se anuncia no horizonte só é possível obter-se por via especulativa. Uma especulação fundada nos sinais que a crise do paradigma atual emite.

“O conhecimento do paradigma emergente tende a ser um conhecimento que se funda na superação das distinções que até a pouco eram consideradas insubstituíveis, tais como natureza-cultura, natural-artificial, vivo-inanimado, mente-matéria, observador-observado, objetivo-subjetivo” 6

Este relativo colapso das distinções dicotômicas repercute nas disciplinas científicas. Isto impulsiona a uma reavaliação da questão do conhecimento em tais disciplinas.

Duvida-se do passado para imaginar o futuro, mas vive-se demasiadamente o presente para poder realizar nele o futuro. Sabemos que estamos a caminho, mas não exatamente onde estamos na jornada. Essa incerteza ao invés de abalar, deve servir de instrumento para aumentar ainda mais a percepção de que as inovações científicas do século XX que inauguraram o novo paradigma, não são o ponto de partida, de abertura a novas possibilidades.

Nem a Relatividade nem a Mecânica Quântica podem ser consideradas como produtos acabados que originaram o novo paradigma. Elas são, sim o ponto de partida da nova ciência.

A relatividade introduz novas noções concernentes à ordem e medida do tempo. Essas noções não são mais absolutas, como era o caso da teoria newtoniana. Em vez disso, agora elas são relativas à velocidade de um sistema. Essa relatividade do tempo é uma das características radicalmente novas da teoria de Einstein. Na teoria relativista a velocidade da luz é considerada não como uma possível velocidade de um objeto, mas, como a velocidade máxima de propagação de um sinal.

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Segundo uma inferência da teoria quântica, eventos separados no espaço e sem possibilidade de conexão por meio de interações estão correlacionados de um modo tal que se pode mostrar ser impossível uma explicação casual detalhada, mediante a propagação de efeitos a velocidades não maiores que a da luz. Assim, a teoria quântica é compatível com a abordagem básica de Einstein quanto à relatividade, onde é essencial que tais correlações sejam explicáveis por sinais propagados a velocidades não maiores que a da luz.

Embora a teoria quântica seja diferente da relatividade, num sentido profundo elas têm em comum essa implicação de totalidade. Não obstante, a despeito dessa profunda semelhança, ainda não se provou ser possível unir a relatividade e a teoria quântica de uma maneira coerente.

A emergência de paradigma terá que incluir uma profunda mudança de valores. A permanência do ser humano pode depender da efetivação ou não dessa transformação. O novo paradigma que está progressivamente caminhando na direção do novo fundamento procurado por Einstein, trata-se de uma visão sistêmica e dinâmica que se aplica a uma extensa gama de fenômenos e de campos científicos. Portanto, não é somente na física que se observa a chamada revolução do pensamento científico, iniciada com as descobertas da ciência do século XX.

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“Um aspecto a ser ressaltado é que a formulação sistêmica adotada inclui os últimos desenvolvimentos e descobertas sobre sistemas, principalmente a partir de meados do século XX. Isto significa que estamos tentando superar os limites que foram atribuídos à primeira versão da teoria quanto à linearidade, determinismo, ordenação, mecanicismo, positivismo, etc. assim, buscamos trabalhar, por exemplo, temas como caos determinista ou não, não linearidade e flutuações ruidosas, estruturas dissipativas e processos criativos. Esta é a proposta, afinal, na busca da compreensão e significação de uma realidade complexa.” (Vieira, 2008: 11)

Nosso interesse é utilizar as contribuições e desenvolvimentos mais recentes na área de sistemas, seguindo a proposta de de Mario Bunge (1979) com sua Teoria Geral de Sistemas, a qual poderíamos chamá-la de ontologia sistêmica à elaboração de signos complexos que serão discutidos no contexto da teoria geral dos signos de Charles Sanders Peirce, no sentido de percebemos que sempre enxergamos o mundo por meio de nossos paradigmas. A pretensão aqui não é construir um novo paradigma, mas sim, observar que estamos em meio à emergência paradigmática e possivelmente tentaremos demonstrar que o atual paradigma é sistêmico e complexo. Esse paradigma não é estático, ele se renova muito rapidamente, funciona como filtros que selecionam o que percebemos e reconhecemos.

Além de influir sobre nossas percepções esse paradigma sistêmico e complexo também influencia nossas ações. E é aí que começamos a perceber que a realidade é feita de laços e interações e que o nosso conhecimento é incapaz de perceber o complexus – o tecido que junta o todo.

(53)

2.7 - UMA ONTOLOGIA SISTÊMICA7

Originada do grego (grego ontos+logo = conhecimento do ser) Ontologia é o

segmento da filosofia que objetiva tratar a natureza do ser enquanto ser. É o conjunto de conhecimentos tendo como ponto de partida o pensamento.

Segundo a filosofia clássica de acordo com Vita (1965:24), a definição de Ontologia nos remete a “outro nome da metafísica”, onde o ser é estudado enquanto ser, com suas particularidades respeitadas.

Ontologia (ou metafísica) é vista como sendo uma cosmologia geral, ou seja, como ‘a ciência concernente à totalidade da realidade – o que não é o mesmo que a realidade como um todo’. Nesse sentido, segundo Bunge, a ontologia/metafísica estuda os traços genéricos de todo modo de ser e vir-a-ser, assim como as características peculiares da maior parte dos existentes. (Santaella; Vieira, 2008: 26).

A partir dos conceitos ontológicos, é pertinente a afirmação de Bunge (1976), relativa às hipóteses de natureza filosóficas. Para ele, a pesquisa científica está cheia de um certo número de idéias filosóficas. Atualmente as hipóteses filosóficas são utilizadas para dar sentido e embasar não apenas a uma forma de conhecimento, mas a vários campos do conhecimento. Bunge (1976, apud Vieira, 2008: 27) relaciona as seguintes hipóteses filosóficas:

• Realismo: o mundo externo ao observador é real.

• Pluralismo: a realidade tem uma estrutura de vários níveis.

• Determinismo ontológico: a realidade é legaliforme.

• Não há um determinismo epistemológico estrito e sim uma cognoscibilidade limitada

• Formalismo: há autonomia da lógica e da matemática, na medida em que evoluem internamente e sem o esforço de adaptar-se à realidade.

7 Vários grifos que aparecerão em Uma Ontologia Sistêmica foram

reproduzidos literalmente das

idéias do Prof. Dr. Jorge de Albuquerque Vieira, com o qual tive contato através de livros, artigos publicados, aulas apresentadas, encontros pessoais de orientação e de sua Tese de Doutoramento. Observa-se que, como o próprio Vieira cita em aula ministrada em 15 de setembro de 2007: “A

Imagem

Figura 1 – Triângulo de Ogden-Richards
Figura 4 – modelo das relações de transformação S-I relativamente ao mesmo objeto, ad  infinitum
Figura 5 –  As setas indicam a “ordem de determinação entre os termos da relação,  constituída por: “objeto dinâmico” (do), “objeto imediato” (io), signo (s),

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