1º Promotoria de Justiça de Piraju
1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE PIRAJU – SP
URGENTE
IC 051/2014
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, na defesa dos direitos dos idosos, com fulcro nos artigos 127, 129 e 196 da Constituição Federal; nos dispositivos da Lei 7.347/85; no artigo 74, I da Lei nº 10.741/03; nos dispositivos da Lei n. 15.179/13, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, com pedido de LIMINAR, em face de "VIAÇÃO PIRAJU LTDA”, pessoa jurídica, inscrita no CNPJ sob nº 59.125.146/0001-06, com sede na Rua Dionísio Fernandes, n. 100, Centro, nesta cidade, pelas seguintes razões:
I – DOS FATOS
A ré mantém as linhas de transporte coletivo CIDADE PONTE DE CERQUEIRA CESAR E VICE-VERSA, denominada LINHA 1 no contrato de concessão de serviço público n. 01/2005, celebrado com o Município de Piraju em 25 de janeiro de 2006 (fls. 36/41) e prorrogado até 18/06/2021, conforme aditamento de fls. 43.
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2 Todavia, como se vê do termo de declarações de Sebastião Leide (fls. 04), bem como do boletim de ocorrência de fls. 05/06, corroborado ainda pelas declarações da própria empresa ré (fls. 31/32), a ré não realiza o transporte gratuito de pessoas maiores de 60 anos de idade na referida Linha 01.
Alega a ré que o transporte efetuado na referida linha 1 (CIDADE PONTE DE CERQUEIRA CESAR E VICE-VERSA), seria considerado um serviço fretado e, por tal razão, não estaria sujeito a gratuidade do idoso ao transporte público.
No entanto, tal alegação vai de encontro com o contrato de concessão de serviço público de exploração de transporte coletivo, celebrado com o Município de Piraju (contrato n. 01/2005), que prevê transporte público com cobrança individual de passagem, com caráter de serviço aberto ao público (fls. 37), o que não se coaduna com o transporte de passageiros sob o regime de fretamento (artigo 53, do decreto 90.958/85).
II – DO DIREITO
A Constituição da República, quanto aos transportes coletivos urbanos, de competência dos Municípios, prevê que:
“Art. 230 - A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua
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3 dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
§1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares.
§2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos.” (grifei)
O Estatuto do Idoso (Lei n.º 10.741/03) regulamenta o dispositivo constitucional nos seguintes moldes:
“Art. 39. Aos maiores de 65 (sessenta e cinco) anos fica assegurada a gratuidade dos transportes coletivos públicos urbanos e semi-urbanos, exceto nos serviços seletivos e especiais, quando prestados paralelamente aos serviços regulares. § 1º Para ter acesso à gratuidade, basta que o idoso apresente qualquer documento pessoal que faça prova de sua idade.
§ 2º Nos veículos de transporte coletivo de que trata este artigo, serão reservados 10% (dez por cento) dos assentos para os idosos, devidamente identificados com a placa de reservado preferencialmente para idosos.
§ 3º No caso das pessoas compreendidas na faixa etária entre 60 (sessenta) e 65 (sessenta e cinco) anos, ficará a critério da legislação local dispor sobre as condições para exercício da gratuidade nos meios de transporte previstos no caput deste artigo.”
No âmbito do Estado de São Paulo, a gratuidade encontra-se disciplinada em razão da recente edição da Lei
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4 Estadual nº 15.179/2013, regulamentada que foi em 22 de janeiro de 2014, que dispõe:
Art. 1º Fica garantida às pessoas idosas, maiores de 60 (sessenta) anos, a gratuidade no serviço intermunicipal de transporte coletivo de passageiros de característica rodoviária convencional, até o limite de 2 (dois) assentos por veículo
E, por fim, "a política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade" (art. 1° da 8.842/94).
Nota-se que o ordenamento jurídico não poupou esforços no sentido de proteger os tradicionalmente negligenciados pela sociedade moderna. É lei suprema, lei federal, lei estadual, lei municipal, decretos, resoluções, enfim, o direito à gratuidade das tarifas nos transportes coletivos suburbanos e intermunicipal é norma vigente, imperativa e, portanto, deve ser cumprida.
No mesmo sentido aqui defendido, destaco a jurisprudência do Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo:
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA Transporte gratuito para idoso Intermunicipal - Direito garantido na Constituição Federal Direito assegurado ao idoso Legislação estadual que regulamentou a questão e deve prevalecer - Sentença de procedência Reexame necessário e
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5 recurso voluntário improvidos, com observação. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 0002911-59.2012.8.26.0294 Relator(a): Maria Laura Tavares Comarca: Jacupiranga Órgão julgador: 5ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 01/09/2014 Data de registro: 04/09/2014 - grifei)
AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO CIVIL PÚBLICA Fornecimento de Transporte Coletivo Intermunicipal a idoso Pessoas maiores de 65 anos - Exegese do artigo 230, § 2º, da Constituição Federal e artigos 39 e 40 do Estatuto do Idoso – Tutela antecipada deferida Presença dos requisitos autorizadores da medida Interpretação da lei que deve ser feita em benefício deste. Decisão mantida. Recurso não provido. (AGRAVO DE INSTRUMENTO:0002168-24.2013.8.26.0000 Relator(a): Leonel Costa Comarca: Jacupiranga Órgão julgador: 5ª Câmara de Direito Público Data do julgamento: 29/09/2014 Data de registro: 01/10/2014 – grifei)
III – DO DANO MORAL DIFUSO
A Lei de Ação Civil Pública prevê a responsabilização dos danos morais e patrimoniais aos bens por ela tutelados, abarcando, assim, todos os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.
São "direitos básicos do consumidor: a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos" (art. 6°, VI, da Lei 8.078/90).
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6 A recusa ao atendimento gratuito ao idoso caracterizou dano moral difuso, porquanto os princípios do equilíbrio e da boa fé objetiva, aos quais se subordinam as partes a um padrão ético de confiança e de lealdade, foram maculados.
A conduta ilícita atingiu moralmente interesse e direito difuso, transindividual, de natureza indivisível, cujos titulares não podem determinados com exatidão, pois, correspondem a todo mercado consumidor, conspirando contra a dignidade dos consumidores.
Isso traz risco ao interesse público por traz das relações de consumo, provoca insegurança no consumidor e atinge a coletividade em seu patrimônio ideal.
João Batista de Almeida esclarece que "todo o aparato legal visa a prevenir a ocorrência de danos ao consumidor, quer estipulando obrigações ao fornecedor, quer responsabilizando o por danos e defeitos, quer restringindo a autonomia das vontade nos contratos, quer criminalizando condutas, mas isso não impede que tais danos venha a ocorrer. Por isso, é assegurado como direito do consumidor o ressarcimento do prejuízo sofrido, seja patrimonial ou moral, individual, coletivo ou difuso, pois do contrário, não haverá efetividade na tutela (art. 6°, VI)" (A proteção jurídica do consumidor, Saraiva, 2ª edição, 2000, p. 50/51).
Clayton Reis ensina que "a reparação, nesse caso, atende a uma exigência de ordem social, posto que o prejuízo decorrente de ato indevido do agente acarreta,
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7 como consequência, um desequilíbrio na harmonia social" (Avaliação do Dano Moral, Forense, 3ª ed., p. 60).
Por oportuno, destaco acórdãos do Eg. Tribunal de Justiça de São Paulo, assim ementados:
“Ação Civil Pública - Gratuidade do transporte público para idosos - Impossibilidade de limitação do número de idosos em cada ônibus - Redução da indenização por danos morais difusos - Recurso provido em parte.” (Apelação Cível nº 0355695.51.2009.8.26.0000 11ª Câmara de Direito Público Rel. Des. Aliende Ribeiro j. 06.02.2012 - grifei).
“Transporte Coletivo - Idoso - Ação Civil Pública - Aplicação dos artigos 39 e 40 do Estatuto do Idoso e 230, § 2º, da CF - Procedência para condenar a ré a efetuar o transporte gratuito em suas linhas de pessoas maiores de 65 anos, sob pena de multa - Condenação, inclusive, a indenização por danos morais difusos - Recurso improvido.” (Apelação Cível nº 0004911.78.2009.8.26.0539 12ª Câmara de Direito Público Rel. Des. Burza Neto j. 25.05.2011 -grifei).
O valor da indenização pelo dano moral não pode ser irrisória, para não estimular a prática abusiva, até porque sua fixação tem função punitiva e pedagógica, dissuadindo a ré de repetir a conduta ilícita, razão pela deve ser fixada em valor apto a tanto, sendo R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a quantia adequada.
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8 IV – DO PEDIDO
a) Com fulcro no art. 12 da Lei nº 7.347/85, requeiro a concessão de LIMINAR, sem a oitiva da parte contrária - lembrando que se trata de questão de direito apenas, pois a empresa confessou a fls. 31/32, para determinar a ré o transporte gratuito na Linha 1 (CIDADE PONTE DE CERQUEIRA CESAR E VICE-VERSA), de todas as pessoas maiores de 65 anos que procurarem o serviço de transporte coletivo, na forma da lei, sob pena de multa de R$ 1.000,00, com juros e correção monetária, por pessoa de tal idade a quem o transporte gratuito for negado.
b) Requeiro a citação da ré e a procedência da ação para condená-la ao cumprimento de obrigação de fazer, consistente em efetuar o transporte gratuito na Linha 1 (CIDADE PONTE DE CERQUEIRA CESAR E VICE-VERSA) de todas as pessoas maiores de 65 anos que procurarem o serviço de transporte coletivo, na forma da lei, sob pena de multa de R$ 1.000,00, com juros e correção monetária, por pessoa de tal idade a quem o transporte gratuito for negado.
c) Requeiro, ainda, a procedência da ação para condenar a ré ao pagamento de indenização por danos morais difusos, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), em favor do Fundo Estadual de Reparação de Interesses Difusos Lesados, acrescidos de juros e correção monetária desde a citação, ao pagamento de custas processuais, honorários e demais verbas legais.
Requeiro, por derradeiro, os benefícios do art. 172, § 2°, do CPC, a produção de prova documental,
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9 testemunhal e pericial, dando se à causa o valor de R$ 20.000,00 (cinquenta mil reais).
Termos em que, pede deferimento,
Piraju, 03 de outubro de 2014.
JANINE RODRIGUES DE SOUSA BALDOMERO Promotora de Justiça