Part e in tegr an te do jornal O E st ado de S. P aul o. N ão pode s er v endida s epar adamen te
São Paulo, 4 de outubro de 2020
IVETE
SANGALO
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CV_AF_Cidade Jardim_ANUNCIO REVISTA MODA_40x26,5.indd 1
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O arquiteto Marcio Kogan fala sobre sua relação com o ofício desde a infância
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Reflexões
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Serviço
SUMÁRIO
Diretor-Presidente: Francisco Mesquita Neto
Diretor de Jornalismo: João Fábio Caminoto Diretor Executivo Comercial:
Paulo Pessoa Diretor Financeiro:
Marcos Bueno Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio
Diretor de Tecnologia: Nelson Garzeri
Outubro 2020 | Número 6 moda@estadao.com
Endereço: Av. Eng. Caetano Álvares, 55, São Paulo-SP – CEP 02598-900
Oscar Quiroga comenta a influência dos astros nas próximas semanas
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Astrologia
Um olhar sobre o mundo e a moda, por Alice Ferraz
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Carta da diretora
Um dos maiores ícones da cultura brasileira, Ivete Sangalo conta como a pandemia transformou sua rotina e a forma de ver a vida
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Voz ativa
Doris Bicudo elege as peças mais desejadas do momento
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F hits love
Marcas trazem suas apostas para facilitar as rotinas de beleza e melhorar a performance de seus lançamentos
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Muito além do
Designers falam do reaproveitamento e da importância de saber a origem da madeira24
Reflorestamento
Com leveza e conforto, nasce uma nova forma de enxergar, interagir e espelhar nossa própria imagem no mundo
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Recomeço
O rabino e escritor Nilton Bonder comenta a evolução do vestuário na espécie humana
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Análise
Diretora de Conteúdo: Alice Ferraz Redatora-Chefe: Ana Carolina Ralston
MTB 67.586 Editora Executiva: Marilene Ramos Edição: Eduardo Geraque e Tatiana Babadobulos Diagramação: Isac Barrios, Gabriela Cavallari
e Leonardo Albertino Colaboradores: Antônio Müller, Beta Bermano, Doris Bicudo, Fabiano Pedrollo,
Hugo Toni, Jo Portalupi, Marco Gurgel, Markito Costa, Rafa Mattei e Renata Brosina
Revisão: Francisco Marçal Part e in tegr an te do jornal O E stado de S. P aul o. N ão pode s er vendida s epar adamen te
São Paulo, 4 de outubro de 2020
IVETE
SANGALO
A FORÇA E A LUZ DE Ivete Sangalo
veste camisa Koia Brand; saia Tig; brincos Ana Rocha e
Appo-linario; colares Marisa Clermann; pulseiras de bambu Silvia Fur-manovich; pulsei-ras brancas Lool
e lingerie Plié
Ana Bela Santos usa vestido Ida e brincos e anéis Caleidoscópio
creminho
dentro de casa
A arquiteta Diana Radomysler e a empresária Isabella Fiorentino contam sobre a escolha de trazer a natureza para dentro de suas casas
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Nossa casa,
nosso templo
Foto Hugo T
oni
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EDITORIAL
Um outubro atípico que mais parece começo de ano, re-começo de vida. Na nossa Moda, o mês surge com o frescor que só os nascimentos possuem. Por isso, a capa traz Ivete, de branco e cheia de leveza, pronta para ser preenchida por um novo mundo, aquele que desejamos para a vida pós-pandemia. Outubro também simboliza o início da primavera no hemis-fério sul, hora de acordar e renascer do inverno. Novamente, Ivete simboliza esse período, com sua força vital que emana uma energia feminina e colorida através de sua voz e música. Em nossas pesquisas, parecia não existir outro caminho, outra mulher que personificasse tudo que gostaríamos de transmitir nesta edição. Ivete, obrigada e bem-vinda!
Aqui abordamos também o reencontro entre a natureza e a cidade. Onde e como morar em São Paulo depois da tomada de consciência de que precisamos estar em contato com a natureza? Assim, convidamos Marcio Kogan, arquiteto e mes-tre em transformar espaços urbanos em oásis, para escrever uma coluna. Marcio também foi responsável por nos indicar, para nosso editorial de moda, um espaço-inspiração aonde a mulher que vive em grandes centros urbanos pode habitar em harmonia com o verde e materiais orgânicos.
Essa mulher idealizada se veste em harmonia com seu tem-po e traz para suas roupas as cores claras que o sol da pri-mavera pede.
Que essa nossa #RevistaModa traga a esperança da nova
estação. Afinal, “É Primavera”, como diria Tim Maia. Beijo com carinho
CARTA DA DIRETORA
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D
DORIS
BICUDO
F HITS LOVE
POR
Em tempos de transição, o conforto é a maior expressão do luxo. As peças atemporais, que nunca saem de cena, ganham status de primeira grandeza e surgem em novas proporções. Os tons terrosos, as fibras naturais e a preocupação com o nosso planeta também prometem chegar para ficar no universo fashion. E são muitobem-vindos por nós! Jeans Casasola, R$ 645 Camisa Paula Raia, R$ 980 Calça Isabela Capeto, R$ 729 Sapato A Mafalda, R$ 560 Brincos Raphael Falci, R$ 620
Uma peça, várias funções. A opção inteligente é pontuada pelas boas escolhas. Aquelas que se transformam em muitos looks. Afinal, uma das funções da moda é refletir nossa personalidade. Que tal trazer mais luz e cor para a nova estação? Uma pitada de extravagância, aliada a uma mistura que foge do tradicional, faz desta receita algo irresistível. Vale provar.
ASTRAL
ASTRAL
Macacão
Augustana, R$ 598
Casaco
Nove, R$ 799 Camisas Cooka, caramelo, R$ 545 e off-white, R$ 565 Bolsa Renner, R$ 150 Pigmento Simple Organic, R$ 55
TRILHA
TRILHA
anarochaeappolinario.com.br
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CAPA
VOZ
É
tempo de reinventar-se. Em meio ao momento delicado que vivemos, Ivete Sangalo, um dos maiores nomes da cultura con-temporânea brasileira, reforça que ela mesma também passou por um momento de transformação. Em uma conversa inti-mista e sem as luzes do palco, Ivete diz ser caseira e introspectiva, mas nem por isso menos forte e enérgica. Da sua relação com a família à fi-lantropia, passando pela moda, ela mantém a clareza de quem conhece e reconhece seu espaço e relevância, usando sua voz não apenas para nos alegrar com sua música, mas também para alertar sobre situações prementes da nossa sociedade. Talvez por isso seja aclamada como Rainha do Brasil, mas, ainda assim, chama de majestade a natureza. MODA: Nossa entrevista coincide com os seis meses de isolamento social, um momento sem precedente na nossa história recente. Nós, brasileiros, passamos pelo processo de busca da natureza, como numa espécie de êxodo, e agora, percebemos que precisamos da cidade e da natureza unidas. Como está sua conexão com a natureza?Ivete Sangalo: A minha conexão com a natureza sempre foi o viés mais importante do meu dia a dia, ainda mais porque eu sempre encontrei nela um refúgio pra minha vida estressante de
ativa
Um dos maiores ícones da cultura brasileira,
Um dos maiores ícones da cultura brasileira,
Ivete Sangalo conta como a pandemia transformou
Ivete Sangalo conta como a pandemia transformou
sua rotina e a forma de ver a vida
sua rotina e a forma de ver a vida
Por Alice Ferraz
Fotos Rafa Mattei
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shows e viagens. Foi ela a minha maior par-ceria, do ponto de vista emocional e mental, o lugar onde consigo reconstruir a minha ideia de como viver bem, pós estresses. Estresses não necessariamente negativos, mas que não deixam de ser estresses, os deslocamentos, a distância de casa. Embora demonstre muita energia no meu trabalho, sou extremamente caseira e introspec-tiva. Na pandemia, tive a sorte e o privilégio de poder passar esse tempo na minha casa, onde estamos inseridos completamente num ambiente onde a natureza é a majestade sempre.
Você, que é pioneira nos “feats”, surpreendeu com a recente colaboração com Vitão, em “Na Janela”. Nesse isolamento, o que conseguiu ver pela sua janela?
Tem uma ideia que perpassa pela ansiedade que nos acomete hoje. É natural do ser humano ter uma tendência a ser ansioso pelas expectativas, mas com a tecnologia e com o advento das redes sociais, isso se tornou uma necessidade vital. Es-tar presente, esEs-tar em todos os lugares, gerou na gente uma ansiedade imperceptível, que acome-teu a toda sociedade. Nessa pandemia as pessoas não tiveram outra alternativa, senão se conectar consigo e com as coisas que de fato são relevan-tes na vida delas. Pessoas a quem de fato elas devem manter relacionamentos, pessoas que aju-dam você a construir e a reavaliar suas sensações. Da minha janela, dessa permanência em casa por conta da pandemia, percebo que a gente conse-guiu reavaliar uma serie de comportamentos.
A moda, como símbolo de um tempo, é uma forma de comunicar quem somos. Como você enxerga a moda na sua vida?
A moda é uma revelação do que você é. Me visto partindo das coisas que acredito, especial-mente do conforto. A moda é o que se veste e quando seu comportamento é colocado ao expor sensações e ideias a partir de algo que você veste. Independente dela ter um objetivo ou não de se expressar. Não necessariamente toda vez que você veste uma roupa você queira expres-sar algo, mas naturalmente isso já está coloca-do como expressão. Muitas vezes vesti coisas que não se adequavam a minha tranquilidade e alegria. No meu caso, quando você passa a priorizar as suas ideias de como se vestir, isso é uma expressão de moda, mesmo que não haja intenção. É também uma forma de arte. É tão bom quando você se identifica com algo, até mesmo quando você nunca imaginou, e aquilo fazer parte do seu raciocínio.
Desde 2013 você é Embaixadora da Onu e usa a sua voz contra o Tráfico de Pessoas e a favor de mulheres. Pode nos contar um pouco sobre sua atuação nessa causa?
Embora não se falasse muito a respeito do tráfi-co de pessoas, ele existe e, nesse exato momento, coisas terríveis estão acontecendo, pessoas estão enclausuradas, fazendo trabalho escravo e trafi-cando órgãos. Isso foi um chamado do Ministério Público do Trabalho e da ONU a mim, que sou uma pessoa pública, para que eu, por meio da minha voz, consiga alertar e conscientizar o pú-blico dessa realidade subterrânea. Embora seja doloroso falar sobre isso, existem muitas famílias que passam pela angustia de não saber onde estão seus entes. No momento que eu tomei consciência disso, de que a informação traz a luz, consciência e mobilização, tivemos muitas conquistas.
CAPA
Ivete veste camisa Koia Brand;saia Tig; brincos Ana Rocha e Appolonario; colares Marisa Clermann; pulseiras de bambu Silvia Furmanovich, pulseiras brancas Lool, lingerie Plié
Edição de Moda: Marco Gurgel Beleza: Markito Costa
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Ivete Sangalo veste Body Base 60431
Aponte a câmera do seu celular para ver e ouvir Ivete Sangalo usando Makeup Skin
@plielingerie
recordes de horas se es-forçando para que os pla-nos se concretizem.
Nada esperem cair de presente do céu, se posicionem no lugar de quem precisa dar tudo de si para arrancar da vida os resultados que todas as contrariedades, adversidades e contratempos parecem negar, sem contar, é claro, que a péssima go-vernança política não ape-nas deixa de ajudar, como também atrapalha bastante.
Tudo parece contra a sa-tisfação do melhor de nossos destinos, mas a história confirma, o melhor de nossa humanidade sempre surge dos momentos de maior enfraquecimento, nos quais tudo parece indicar o fim, o decaimento.
Nossa capacidade humana de regeneração tem a mesma, ou maior ainda, força que as contrariedades que nos castigam e atormentam.
Este é o momento de provarmos a nós mes-mos o quanto valemes-mos, colocar em prática nossa fibra, não nos deixando vencer por picuinhas, mesmo que essas pareçam dragões ferozes sol-tando fogo pelas narinas.
Agora é quando o heroísmo ressurge do fundo da alma humana para devolver o beijo a Marte e demonstrar que juntos somos mais.
E
nquanto emju-nho passado Vê-nus deu um beijo na Terra, pela sua
aproximação, agora em outubro, especi-ficamente no dia 13, será a vez de Marte dar um beijo na Terra e, como vocês podem muito bem imaginar, esse não será tão gostoso.
A irritação crescente, a falta de paciência, a into-lerância, todas as formas de distanciamento social, não provocadas pela higiene e prevenção das doenças, mas pelo sectarismo, essas são expres-sões de Marte se aproximando para nos dar seu beijo.
Em escala global, vimos também os fogos de-vastadores consumindo florestas centenárias e a tristeza profunda que isso nos causa na alma, testemunhando o extermínio de fauna e flora.
Marte, porém, não é todo negativo, porque é nossa adrenalina, a energia que nos faz sair da inércia e tomar iniciativas que, mesmo atrapa-lhadas, significam avanço e dinâmica.
Do fundo do meu coração, exorto todos vo-cês a trabalhar incansavelmente em prol das suas pretensões e interesses, estabelecendo uma competição consigo mesmos, de modo a quebrar
ASTROLOGIA
OSCAR
QUIROGA
POR
O BEIJO
DE MARTE
Ilustração: Leonardo Albertino
Oscar Quiroga é um astrólogo argentino naturalizado brasileiro. Uma das sumidades no assunto, ele ocupa hoje a Cadeira de Letras Astrológicas da
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RE
CO
ME
ÇO
Com leveza e conforto,
nasce uma nova forma
de enxergar, interagir e
espelhar nossa própria
imagem no mundo
MODA
Ana Bela Santos usa corset astel,Artemisi, R$ 179; calça de seda pura, Gilda m Midani, R$ 1.798; brincos banhados a ouro com cristais feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108 e colares banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 959
Fotos Hugo Toni
Direção Fhits
Styling Antônio Muller
outubro 2020 | | 17 16 | | outubro 2020 Casaco, R$ 800, e bermuda, R$ 990, ambos Alcaçuz, e brincos banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108
MODA
Andrea Bogosian, Top de tricô,R$ 433; camisa manga curta de linho, Handred, R$ 480; short de linho, Handred, R$ 390; brincos banhados a ouro com cristais azul-claros feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108; colar banhado a ouro com cristais transparentes feito à mão, Caleidoscópio, R$ 1.083 e colar banhado a ouro com cristais rosa-claros feito à mão, Caleidoscópio, R$ 725
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MODA
Blazer, R$ 159, e calça, R$ 139, ambos Renner; papete de couro, Paula Torres, R$ 720; brincos banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108, e colares banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 959 Camisa, R$ 630, e hot pants de linho, R$ 250, ambas Koia; brincos banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108outubro 2020 | | 21 20 | | outubro 2020
MODA
Camisas de linho, R$ 499 (cada), e calça, R$ 629, ambas Souq; papete de couro, Paula Torres, R$ 720; brincos banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108, e colares banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 959 Blusa manga longa de algodão e seda, Intimissimi, R$ 169; calça jeans, Andrea Bogosian, R$ 1.364; brincos banhados a ouro com cristais transparentes feitos à mão, Caleidoscópio, R$ 108, e anel banhado a ouro com cristais transparentes feito à mão, Caleidoscópio, R$ 156Produção de moda: Nathara Imbá Assistente de moda: Júlia Viana Beleza: Jo Portalupi Assistentes de foto:
Herique Lambiazi e Leandro Balbino
Modelo: Ana Bela Santos (Way) Agradecimentos: Studio MK27
Marcio Kogan
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BELEZA
Seguindo a tendência dos
produtos multitasking, marcas
trazem suas apostas para
facilitar as rotinas de beleza
e melhorar a performance de
seus lançamentos
Por Renata Brosina
Campanha Santapele, linha de Alta Performance por Marcos Lopes
F
oi-se o tempo em que umabase era apenas uma cobertu-ra pacobertu-ra disfarçar imperfeições e o produto de skincare deixou de ter uma textura qualquer – e fragrân-cia que não agrada nem a gregos, nem a troianos. O fato é que, atualmente, as exigências dos consumidores vêm, cada vez mais, desafiando as marcas no desenvolvimento de fórmulas que abracem rótulos multitasking – e tirem, completamente, sua única função da zona de conforto.
Em 2014, as prateleiras das lojas de cosméticos receberam um boom de novidades que traziam multifun-ções – do tratamento à cobertura per-feita. Entre os queridinhos da época, o Dreamskin, da Dior, que não era classificado como sérum ou creme. Ele era um combo para a pele dos sonhos: um híbrido para quem bus-cava praticidade.
No ano seguinte, o backstage da Giorgio Armani, durante a semana de moda italiana, apresentou o Crema Nuda, um creme com tonalidade que elevou a combinação entre maquia-gem e skincare a outro nível de luxo – e acabou com aquela ideia fixa de que make ups podem ser agressivas à pele. A nova exigência dos consumi-dores? Fórmulas com performance, que ultrapassam os limites do básico e acompanhem as necessidades do dia a dia. A norte-americana Clinique foi uma das pioneiras a apresentar itens hipoalergênicos na sua cartela de produtos e, consequentemente,
muito
além do
creminho
pior, porque a maquiagem fez mal para aquela inflamação”, explica o executivo que é pioneiro no conceito de Smart Beauty no Brasil. “Em ma-quiagem ou skincare, vamos contra a tendência da longa beauty routine coreana. O nosso mantra é simplificar a relação com a beleza”, diz Priante.
Nesta mesma filosofia, Carolina Filgueiras, CEO da Santapele, diz que a praticidade é palavra-chave e grande aliada da alta performan-ce no lançamento de fórmulas para os shampoos, condicionadores, shower gel e loções hidratantes de cuidados diários. “Procuro criar produtos diferenciados para o dia a dia. A facilidade disso está em não precisar ir a grandes especialistas a todo momento, como um salão de cabeleireiro, para fazer uma hidra-tação”, explica ela. “Penso em uma manutenção diária da saúde dos fios e da pele, além da busca para de-senvolver cosméticos veganos que enriquecem a proteção natural do couro cabeludo e a fotoproteção da pele”, diz Carolina, que trabalha de forma intuitiva para lançar itens de beleza com foco no bem-estar.
Com tantas ferramentas tecnoló-gicas e conhecimento de ingredien-tes que podem ser o grande elo entre várias funções, os novos caminhos passam por apresentar ideias que fa-çam a diferença na rotina de beauté. Afinal, hoje, esse é o propósito que faz sentido no mundo dos frascos de shampoo e paletas de blush.
inspirou outras marcas a seguir o caminho de conscientização sobre o que faz bem para a pele.
Em solo brasileiro, esse foi o de-safio aceito por Guilherme Priante, CEO e fundador da Beyoung. “Se você olhar hoje para o mercado de beleza, a maquiagem ainda é com-posta por marcas que só se preocu-pam com cor, acabamento, efeito e durabilidade, mas, muitas vezes, elas têm matérias-primas que fazem mal para a pele”, afirma. “Por exemplo, algumas mulheres precisam usar base para esconder a acne. Mas, quando elas removem o produto, a pele está
Bases multifuncionais com efeito segunda pele, da Beyoung
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DESIGN
Hugo França e Rodrigo Silveira
D
e acordo com o InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já fo-ram registradas 56.425 queimadas na região amazônica em 2020 – maior número dos últimos 10 anos. Enquanto isso, o Pantanal sofre a maior devastação de sua his-tória. Segundo o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), cerca de 15% dele foi consumido, uma área equi-valente a 2,2 milhões de hectares (ou o território de Israel).
Não é de hoje que o Brasil vai na contramão do resto do mundo, permitindo crimes ambientais irre-versíveis cuja conta será paga por todo o planeta. Não é de hoje, tam-bém, que alguns designers alertam para esse problema. O primeiro passo nesse combate é entender de
Em meio à maior crise de desmatamento do
País, designers falam sobre o reaproveitamento
e a importância de saber a origem da madeira
Por Beta Germano
a aprender técnicas de construção genuinamente brasileiras com o povo indígena mehinako, no Xin-gu. “É feito um inventário para calcular a idade das árvores e, com isso, selecionar quais podem ser retiradas. Também é importante ter cuidado para não derrubar nada em volta. Numa extra-ção normal, não existe essa preocupaextra-ção e o dano causado em outras árvores pode ser irreversível”, explica o artista.
Por que tanta preocupação com a origem da madeira? Apesar de existirem selos que garantem a procedência de florestas manejadas – os mais comuns são os do Ibama e o selo FSC –, o processo pode fugir do controle até chegar à mão do mar-ceneiro. O primeiro designer a se preocupar com o tema, ainda nos anos 1980, foi Carlos Motta. “Ele nunca participava de eventos de decoração, pois usava só madeira de demolição e as pes-soas diziam que não queriam móvel velho”,
brinca o filho Diego Motta, idealizador da marca ATTOM junto com o pai, onde vende somente roupas e objetos sustentáveis.
Outro artista famoso por levantar a ban-deira do reaproveitamento é Hugo França. Desde o fim da década de 1980, cria mó-veis feitos de troncos e raízes mortas do pequi-vinagreiro, típico do norte do Espí-rito Santo e sul da Bahia. Ele usa árvores que morreram naturalmente, mas também aquelas associadas à destruição do bioma. “As queimadas são feitas propositalmente para tirar os resíduos da floresta e transfor-mar a terra em pasto ou desenvolver planta-ções”, explica o artista.
Para França, o bioma mais ameaçado por causa da onda de queimadas é o amazônico, pois é a floresta mais rica do planeta, mas tam-bém muito frágil. “A recuperação é quase im-possível, pois debaixo dela há um deserto. As pessoas precisam entender que recuperar um bioma não é só sair plantando árvore. A natureza é um sistema muito rico e complexo. Melhor é deixá-la em paz porque sabe o que faz.”
Em sentido horário, a partir da esquerda: cemitério de pequi, no ateliê de Hugo França, na Bahia; poltrona assinada pelo designer; e cadeira desenhada por Rodrigo Silveira
dentro de casa
R E F L O
R E S TA
MENTO
onde vem a cadeira da sua sala de jantar: de uma árvore. Ela foi reti-rada ilegalmente? Foi extraída de forma legal, mas derrubou outras espécies? Você contribui para um desequilíbrio na região?
Para instigar esse questionamento, o designer Rodrigo Silveira usou, em 2015, uma árvore condenada do Par-que do Ibirapuera para fazer uma ca-deira statement com 5 metros de altura. A ideia, além de deixar visível que “os móveis são feitos de árvore”, era parti-cipar de todos os processos de confec-ção para ganhar e promover consciên-cia, desde a extração da árvore até o acabamento final. Em 2020 ele conse-guiu levantar o financiamento
para fazer o mesmo processo na Amazônia.
No projeto Do Que é Fei-ta a Madeira, ele se propõe
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LIFESTYLE
Nossa ideia sempre foi morar em São Paulo, que é o lugar que a gente trabalha e ama, sem abrir mão da natureza. Procuramos um terreno que tivesse árvores nativas. Cresci em uma família onde uma par-te importanpar-te da convivência estava atrelada à natureza.
Somos em seis e meu pai levava todos os filhos em um trailer para respirar ar puro. A ideia de termos um lago em casa, assinado por Renata Tilli, e não uma piscina com cloro é exatamente por causa des-sa pegada mais rústica. Água dele é ozonizada e os próprios peixes, ao se alimentarem, fa-zem a limpeza do local. A ideia principal do projeto foi fazer com que a copa das árvores ficasse exatamente na área so-cial, para quando recebermos nossos convidados pudésse-mos ficar todos na altura das árvores. Diferentemente da maioria das casas de dois an-dares, nossa parte intima é no térreo, perto do jardim.
Em uma união harmoniosa entre natureza e a vida nas grandes cidades,
duas mulheres inspiradoras, a arquiteta Diana Radomysler e a empresária
e apresentadora de TV Isabella Fiorentino, contam sobre a escolha de
unificar esses dois elementos à arquitetura assinada por Marcio Kogan
NOSSA CASA, NOSSO TEMPLO
Minha casa é minha caverna. É meu lugar de proteção e acon-chego, que abriga um pouco de tudo o que gosto; e a natureza faz parte disso. Acordo de ma-nhã e vejo através do muxara-bi do meu quarto a sombra de uma pitangueira que se mexe com o vento. A copa da árvore se debruça sobre a janela bal-cão, na qual faço home office. O terreno onde está minha casa hoje era o dobro do tamanho atual. Fizemos um primeiro projeto com um jardim central ligando os dois volumes, mas logo decidimos que um espaço mais aconchegante e menor se-ria mais a nossa cara. A nature-za pode estar presente em resi-dências de todos os tamanhos. Assim, usamos o recuo frontal e dos fundos para abrigar nos-sas duas pitangueiras e alguns vasos que foram se unindo a nós ao longo dos anos.
Diana Radomysler
Isabella Fiorentino
28 | | outubro 2020
Ilustração: Leonardo Albertino
ANÁLISE
NILTON
BONDER
POR
U
m dos grandesso-nhos da humanida-de é encontrar vida inteligente em outro planeta. De alguma forma, já
vivemos essa experiência no passado. Nossa espécie, os sapiens, foi contemporânea de ou-tro grupo inteligente de hominídeos, os nean-dertais. As espécies conviveram e até
acasalaram deixando possíveis primevos “Romeus e Julietas”, responsáveis por 2% dos genes dos “primos” em nós.
Seu desaparecimento é um mistério. Uma teoria especula que a extinção teria ocorrido num período glacial há 30 mil anos. Residentes na fria Eurá-sia, apesar de mais robustos e com dieta calórica superior, não teriam desenvolvido vestimentas
so-fisticadas. Nossos ancestrais, ao contrário, por evidências de agulhas e outros apetrechos, apri-moraram tecnologias na área do vestuário e da moda. Coser peles e adaptá-las ao corpo teria permitido que sobrevivessem ao desafio climáti-co. E a moda teria salvado os sapiens!
O impacto adaptativo de uma peça de roupa
é algo que podemos apreciar em nossos dias. Falo da más-cara, desse acessório que não só é roupa em sua função de proteger e cobrir, mas é moda: diz algo sobre nós! Não há como negar a sensa-ção de que andamos nas ruas como se houvesse duas espécies distintas convivendo, mascaradas por seus valores e civilização. Diria que os de máscaras se assemelham a
sa-piens aceitando intercorrências e buscando soluções. Os sem
más-cara enmás-caram com sua “robus-tez” o desafio. E apostaria que aqueles da espécie sem máscara coincidem com os que passam ao largo de questões do clima e das adaptações necessárias, tal como os “primos” fizeram.
Conviver com outras espécies “inteligentes” não é fácil. Talvez de-vamos gozar de nossa solidão cósmica em vez de sonharmos com encontros de “terceiro grau”. Para a sociedade, a “moda-que-não-pegou” ex-pôs a difícil arte de tolerar. Para a evolução que não é tolerante, mas implacável na seleção “do que sabe”, o sapiens, a coisa é diferente. Quem sapiens faz a hora, não espera acontecer!
MODA
SAPIENS
Nilton Bonder é rabino, autor de 23 livros traduzidos em 18 idiomas, dois deles adaptados ao teatro e cinema.
Fundador do Centro Cultural Midrash no RJ, dramaturgo de Cura, próximo trabalho da Cia. de Dança Deborah Colker, e da peça Eros, com direção de Marcio Abreu.
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REFLEXÕES
MARCIO
KOGAN
painéis, transformando a hermética fachada em algo radicalmente aberto. Luz e ar ao máximo! Eram mais que simples janelas. Os espectadores, de boca aberta, quase aplaudiram a transformação. Propi-ciar essa experiência tanto para mim quanto para os outros foi incrível e, por isso, decidi seguir a carreira de arquiteto-mágico.Com o tempo, surgiram os cobogós e muxara-bis. Eles criavam efeitos de luz que, com o
transcorrer do dia, produziam emo-cionantes animações gráficas.
Dessa forma, era possível ver o tempo modificar o espaço. Depois, começaram a surgir janelas de vidro que
desa-pareciam dentro das pa-redes criando uma radical integração com a natureza. A transição entre o espaço interior e exterior estava diluí-da. Não sabíamos se a abelhinha estaria dentro ou fora de casa. Abra-cadabra! Atualmente em algumas obras estamos experimentando a levitação. Será que desta vez dará certo?
D
esde pequeno, euodiava mágica. Nas festas tudo me enlouquecia, pombas que saíam de uma bengala, que saía de uma
cartola, de dentro de um simples lenço, que virava uma moeda. Já na adolescência, passei a acreditar que toda essa magia, que antes me deixava inco-modado, era verdadeira, o que me fez sentir bem mais confortável com esse assunto. Acreditava em fenômenos psíquicos e mentais que decifra-vam os pensamentos, a futurologia, a telepatia e a levitação.
Há 20 anos, no entanto, fiz um projeto de uma casa num condomínio no litoral do Rio de Janeiro que mudou ainda mais minha percep-ção sobre magia. Um dia visitando a obra, já quase pronta, recebi uma comissão de moradores que veio recla-mar da arquitetura sem janelas que, naquele elegante condomínio, seria inaceitável. Do lado de fora, olhei para um arquiteto da minha equipe (que telepati-camente me compreendeu) e comecei a articular
POR
QUANDO
VIREI
MÁGICO
Ilustração: Leonardo Albertino
Marcio Kogan é arquiteto e fundador do Studio MK27. Nasceu em São Paulo e se formou em 1976 pela FAU-Mackenzie. É professor convidado do
Politecnico di Milano e da Escola da Cidade, onde concluiu o mestrado Educação, Sociedade e Cultura. Também é membro honorário do American Institute of Architects e do conselho do Mube e do MASP.
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BELEZA
AVEDA
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