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O centro profissional Dom Bosco (CPDB): do Ensino

Profissionalizante para o Ensino Técnico de Nível Médio

Rodrigo Tarcha Amaral de Souza Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação – Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. Mestre pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL, unidade de Americana, SP. Professor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo - UNISAL, unidade São José/Campinas, SP. E-mail: ir.tarcharo@hotmail.com

Resumo

Este artigo é fruto de uma dissertação de mestrado em educação desenvolvida em 2013 que investigou a incidência dos princípios salesianos na prática dos educadores docentes no Centro Profissional Dom Bosco (CPDB) Campinas – SP. O objetivo deste trabalho é apresentar o processo de passagem do ensino profissionalizante para o ensino técnico de nível médio, permitindo inquirir sobre a Educação Salesiana em seus aspectos pedagógicos e profissionais.

Palavras-chave

João Bosco; Educação Salesiana; Ensino Profissionalizante; Ensino Técnico.

Abstract

This article is the result of a master's thesis in education developed in 2013 that investigated the incidence of Salesian principles in practice of teacher’s educators in the Professional Center Don Bosco (CPDB) Campinas - SP. The objective of this paper is to present the process of transition from vocational education to mid-level technical education, allowing inquire about the Salesian Education in teaching and professional aspects.

Keywords

João Bosco; Salesian Education; Vocational Education; Technical Education.

Introdução

Este artigo investiga como são entendidos e desenvolvidos os princípios educacionais salesianos elaborados por João Bosco e que servem de referencial para os gestores e educadores docentes do Centro Profissional Dom Bosco (CPDB) da Escola Salesiana São José de Campinas, SP.

O escopo deste artigo é o de apresentar elementos da passagem pedagógica e jurídica funcional do ensino profissionalizante para o ensino técnico de nível médio no Centro Profissional Dom Bosco – Campinas – SP, apoiando-se em bibliografia atualizada, entrevistas semiestruturadas com colaboradores e professores, e observação participante no CPDB. Além de uma análise dos currículos dos cursos do CPDB, procurando verificar, se são coerentes com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e com o Projeto Educativo Salesiano.

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O tempo das fundações

A gênese da educação salesiana está ancorada na história do trabalho profissional de João Bosco com os jovens do século XIX no norte da Itália, então em processo de industrialização. O ponto central de sua práxis educativa é a abordagem integral do jovem nas suas potencialidades e dimensões humanas e, os salesianos, ao se expandirem pelo mundo, o fizeram nessa óptica.

Estabelecidos e consolidados como Congregação na Itália, os salesianos partem para expedições missionárias. A expansão salesiana na Europa e continente sul-americano aconteceu com Bosco ainda vivo. O êxito do trabalho salesiano na educação de jovens tornara-se cada vez mais visível e bem sucedido, crescendo os pedidos de autoridades civis e eclesiásticas a Bosco para que enviasse salesianos para trabalharem com os jovens. Em alguns casos, tratava-se de assumir pedagógica e administrativamente estabelecimentos educacionais. Consolida-se a presença salesiana no Brasil com a implantação dos colégios Santa Rosa no Rio de Janeiro, o Liceu de Artes e Ofícios em São Paulo e o São Joaquim em Lorena (CUNHA, 2000). Na cidade de Campinas, os salesianos chegaram em 1897, fundando sucessivamente três obras educativas: Liceu Nossa Senhora Auxiliadora, Escola Agrícola, hoje Escola Salesiana São José e Externato São João, atual Obra Social São João Bosco.

Na Escola Agrícola eram realizadas as oficinas de Arte e Ofício dirigidas aos jovens pobres da cidade. Passadas algumas décadas, diante da expansão da cidade e o perigo de invasões dos campos da escola, os salesianos elaboraram um projeto de venda dos terrenos.

O espaço pegava da rua Carolina Florença, a rua Barão de Itapura e dava volta atrás do Liceu, descia para o bairro Taquaral e subia aqui, outra vez. Depois começou a lotear. A inspetoria começou, mas como não é do ramo, passou para a prefeitura. Loteamento não era nosso ramo e estava indo para trás. A prefeitura assumiu1, loteou, trouxe os serviços de luz, esgoto, toda a

infraestrutura de praças e jardins. A inspetoria não estava preparada para isso. Então, a prefeitura assumiu no mandato político do prefeito Joaquim de Castro Tibiriçá. [Pergunto em que ano foi isso. E ele:] 1945 e 1946. Por isso puseram o nome de jardim Nossa Senhora Auxiliadora, pelos salesianos. Este loteamento aqui em baixo, muitos compraram. (TESTONI, 29/08/2012).

Com a renda da venda das terras da antiga Escola Agrícola, orçada em 5 milhões de cruzeiros, somada à doação da prefeitura municipal de Campinas de quinhentos títulos da dívida pública, chegou-se ao montante de 12 milhões de cruzeiros, o suficiente para a construção de um novo edifício para ensino agrícola profissional, hoje, a Escola Salesiana São

1 “Um ofício do então Prefeito de Campinas, Dr. Joaquim de Castro Tibiriça, passava às mãos do Diretor do

Liceu N. S. Auxiliadora o processo protocolado de nº 5879, de 7 de junho de 1945, sobre a construção de um parque municipal, solicitando a manifestação positiva sobre esse plano e cessão da área para o parque. Em resposta adenda ao referido Ofício, à mão, dizia-se que os Salesianos não se opunham, contanto que houvesse indenização justa, em benefício da Escola Agrícola, uma vez que se tratava de patrimônio beneficente dessa Escola. Em carta ao padre José Joaquim Santana, o Provincial salesiano, padre Orlando Chaves, manifestava a opinião de não ceder a título gratuito os terrenos da Escola Agrícola, porque não pertencia aos Salesianos, e sim a essa instituição, que os Salesianos deviam ‘defender e desenvolver em benefício dos pobres’, mas autorizava a cessão dos terrenos se as compensações fossem as melhores possíveis, exigindo indenização da cocheira uma vez que a construção de outra seria bastante elevada. O cumprimento da cláusula imposta pela Resolução 1.141/1946 começava assim a realizar-se com a construção da Escola São José” (SANTOS; CASTILHO, 2003, p. 49-50).

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José, inaugurada em 1953. (VIEIRA, 2002). Sua origem remonta à “Associação Agrícola de Educação e Assistência com o objetivo de ministrar cursos profissionais na modalidade de internato” (MIRANDA, 2002, p. 139).

No ano de inauguração da Escola eram 214 internos nas oficinas de mecânica, carpintaria, sapataria, alfaiataria, tipografia e nas suas plantações. Do total de alunos internos, 68 procediam do serviço social de menores da Capital Paulista, sendo que muitos destes jovens traziam uma carga de maus costumes difíceis de erradicar, causando dificuldades à manutenção de uma disciplina tranquila (CASTRO, 2002).

A Educação Profissional no Centro Profissional Dom Bosco (CPDB)

Sendo hoje o braço social da Escola Salesiana São José, o Centro Profissional Dom Bosco - CPDB esteve sujeito às leis do Estado, desde seu início com a antiga Associação de Educação e Assistência Beneficente e depois, como Escola Agrícola. A lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 1961 foi um marco na história da Educação no Brasil, trazendo avanços, principalmente quantitativos. Universalizou-se o ensino fundamental e foram atraídos mais alunos para as escolas em todos os níveis e modalidades, ainda que a qualidade do ensino não tenha sido preservada com a expansão quantitativa de alunos, caracterizando um divórcio entre o ideal pedagógico e a instituição escolar (BUFFA, 1979).

Novas leis surgiram nas décadas seguintes, como a LDB 5.692 de 1971 que estabelece o ensino profissionalizante obrigatório para todos os alunos do 2º grau (atual ensino médio), mas que fracassou na pretensão de capacitar profissionais necessários para atender à demanda de trabalho (PACHECO, 2012). Em 1996, a LDB 9.394 permite que o curso profissional técnico de nível médio possa ser realizado concomitantemente com o ensino médio.

Com aprovação do Congresso Nacional, em 1996, a LDB, no que corresponde à educação profissional, segundo Pacheco (idem, p. 19):

[…] se encontra estruturada em dois níveis – educação básica e educação superior -, por não localizar a educação profissional em nenhum deles, o texto explicita e assume uma concepção dual em que a educação profissional é posta fora da estrutura da educação regular brasileira, considerada algo que vem em paralelo ou como um apêndice2.

Niskier (1996, p. 92 – 93) traz, em forma de estudo comparativo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no que diz respeito à educação profissional:

Tabela 1 – Educação Profissional

ANTIGA LEGISLAÇÃO A NOVA LEI Nº 9394/96

CAPÍTULO IV

Dos Serviços Nacionais de

CAPÍTULO III

Da Educação Profissional

2 A Lei 11.741/08, ao alterar a LDB, localiza a educação profissional técnica de nível médio no Capítulo I – Da

Educação Básica, explicitando que essa oferta educacional é integrante desse nível de ensino (PACHECO, 2012).

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12 Aprendizagem

Art. 159. (Dec.-Lei 4.936, art. 2º O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) deverá organizar e administrar escolas de aprendizagem não somente para trabalhadores industriários, mas também para trabalhadores dos transportes, das comunicações e da pesca.

Art. 39. A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva.

Parágrafo único. Todas as

escolas de aprendizagem ministrarão

ensino de continuação e de

aperfeiçoamento e especialização.

Parágrafo único. O aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, jovem ou adulto, contará com a possibilidade de acesso à educação profissional.

Art. 160. (Dec.-Lei 4.048/42, art. 3º e Dec.-Lei 4.936/42, art. 1º) O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial será organizado e dirigido pela Confederação Nacional da Indústria.

Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho.

Art. 161. (Dec.-Lei 8.621/46, art. 1º) Fica atribuído à Confederação Nacional do Comércio o encargo de organizar e administrar, no território nacional, escolas de aprendizagem comercial.

Art. 41. O conhecimento

adquirido na educação profissional, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, ao reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos.

Parágrafo único. As escolas de

aprendizagem comercial manterão

também cursos de continuação ou práticos e de especialização para os empregados adultos do comércio, não sujeitos à aprendizagem.

Parágrafo único. Os diplomas

de cursos de educação profissional de nível médio, quando registrados, terão validade nacional.

Art. 162. (Dec.-Lei 8.621/46, art. 2º) A Confederação Nacional do Comércio, para o fim de que trata o artigo anterior, criará e organizará o Serviço Nacional de aprendizagem Comercial (SENAC).

Art. 42. As pessoas técnicas e profissionais, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada a

matrícula à capacidade de

aproveitamento e não necessariamente ao nível de escolaridade.

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retrocessos das leis sancionadas em vários períodos, percebe-se o enquadramento do Centro Profissional Dom Bosco a essas leis, enquanto marco regulatório que tem guiado a condução do ensino e trabalho técnico, metodológico e pedagógico do CPDB.

Castro (2002, p. 12) a respeito do Centro Profissional Dom Bosco afirma:

Todas as diretrizes pedagógicas são de responsabilidade do coordenador pedagógico dos cursos, que faz um acompanhamento dos programas que está sendo desenvolvido. Este acompanhamento acontece através de reuniões

pedagógicas mensais, observações diárias, acompanhamento do

planejamento de cada professor, entrevistas individuais com os professores, com pessoal administrativo, orientação educacional e serviço social.

O Centro Profissional Dom Bosco elaborou seu quadro curricular dos cursos profissionais, considerando a prática de oficina, desenho técnico, tecnologia aplicada, cálculo técnico, associados a conteúdos salesianos como o ensino religioso escolar e a educação física. Esta estrutura era dimensionada e aplicada aos alunos dos cursos de mecânica industrial, eletricidade, marcenaria e desenho de máquinas, tendo como referência os procedimentos metodológicos desenvolvidos pelo SENAI. Foram ofertados no formato de ensino profissionalizante até o ano de 2009, quando, por motivos de legislação, passaram a ser de nível técnico.

O programa do curso de mecânica industrial consistia em formar o aluno para desenvolver atividades nas áreas industriais de usinagem convencional e assistida por computador. Foi um dos cursos mais procurados, chegando a ter cinco candidatos disputando uma vaga (MENÃO, 2003).

No curso de eletricidade, o aluno era formado para desenvolver atividades nas áreas industriais de manutenção e instalações elétricas, como também comandos elétricos e automação industrial (CASTRO, 2002). No curso de marcenaria, o aluno era formado para desenvolver atividades nas áreas industriais de fabricação e montagem de móveis. Já no curso de costura industrial, o aluno era formado para desenvolver atividades nas áreas industriais de confecção de vestimentas. No curso de máquinas, o aluno desenvolvia atividades nas áreas industriais de projeto e desenho de componentes de máquinas, assistido por computador.

No âmbito pedagógico, de acordo com os conteúdos programáticos dos cursos profissionalizantes, os docentes, até então com a nomenclatura de instrutores3, tinham uma carga horária de disciplinas que favorecia um maior tempo de contato com os alunos de cada curso. Com competência e profissionalismo ministravam as aulas práticas e teóricas referentes a sua área de curso. Neste sentido, do ponto de vista pedagógico, havia o benefício de exercer influência moral nos alunos.

Ainda que o CPDB esteja integrado numa escola de ensino regular, sua estrutura interna e operacionalização dos cursos profissionais e proposta pedagógica se enquadrava até 20084, na educação não formal.

Referendado por Trilla (apud Fernandes; Park, 2007, p. 132):

[…] A educação não formal é definida como aquela que não tem uma legislação nacional que regula e que incide sobre ela; portanto seu foco é na

3 Os docentes do CPDB, no formato de ensino profissionalizante, eram registrados como instrutores. No formato

de ensino técnico de nível médio, por força de lei, foram, em 2008, registrados como professores. Ambas as categorias na Escola Salesiana São José passaram a ter a mesma faixa salarial.

4 Ano que o CPDB teve seus programas curriculares legislados pelo MEC. Anterior a essa data, a coordenação

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parte legislativa que, ao ser adotada de forma generalizada, conforma as possibilidades do fazer educativo e pedagógico.

Na modalidade de educação não formal, compreendemos que, segundo Gohn (2008, p. 128):

[...] esta ocorre em ambientes e situações interativas construídas coletivamente, segundo diretrizes de dados grupos – usualmente a participação dos indivíduos é optativa, mas ela também poderá ocorrer por forças de certas circunstâncias da vivência histórica de cada um.

Se ampliarmos a discussão sobre a educação não formal, perceberemos que esta modalidade, em sua ampla compreensão, tem proporcionado certa integração entre casa/família e escola/educador/educando. Considerem-se, para isso, projetos extracurriculares no período de férias ou mesmo projetos sociais que integrem a família, educadores e educandos, favorecendo uma maior interação social e cultural de âmbito comunitário (SOUZA, 2012).

Observamos que: “O espaço educativo ocupado pela práxis comunitária não é o da educação formal, mas preponderantemente o da denominada não formal [...]” (MARTINS, 2007, p. 23). Modalidade não formal que, segundo nos orienta Lima; Dias (2008, p. 05), “[...] propicia a reflexão sobre as desigualdades sociais e possíveis encaminhamentos para sua superação [...]”.

A descrição da modalidade não formal, compreendida também como formação complementar e cultura geral, tem potencial para aplicação no campo laboral. Desta forma, salientamos que a parte educativa profissional, com suas devidas competências e habilidades, está em total correlação com valores e princípios humanos e salesianos, podendo assim, no CPDB, ser desenvolvida a educação profissional com os procedimentos educativos salesianos que são permeados pelas dimensões sociocultural e comunitária, visando não somente a preparação dos jovens para o mundo do trabalho, mas também sua formação integral (VILLANUEVA, 2012).

Conforme Fernandes (2007, p. 125):

Uma educação integral visa desenvolver todas as facetas humanas, facilitando e descobrindo habilidades. Uma educação em tempo integral visa promover novas e ousadas formas de se ensinar, aprender e construir o conhecimento, em diferentes espaços e temporalidades, valendo-se da contribuição de variados sujeitos com seus repertórios geracionais, sociais, históricos e culturais, ou seja, do intercâmbio entre contextos sociais e culturais e da mistura da idade, gênero, etnia etc.

Neste sentido, o CPDB, setor genuíno do trabalho e educação salesiana, faz jus ao termo sociocomunitário, uma vez que a perspectiva comunitária de cunho social tem suas raízes na sua história e forma de intervenção educativa de Bosco. Conforme Gomes (2008, p. 52 – 53):

[...] a proposta da investigação em educação sociocomunitária surgiu do estudo da identidade histórica de uma prática educativa, a educação salesiana. Em suas origens históricas, ela se fundava na articulação de uma comunidade civil de religiosos e cidadãos comuns – em torno de um projeto educacional, que participou e promoveu transformações sociais em seu tempo e lugar histórico.

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A educação sociocomunitária salesiana é o pano de fundo do programa educativo do CPDB que procura favorecer e garantir a centralidade da pessoa em relação à economia, haja vista que é um setor de preparação para a inserção ao mundo do trabalho. Procura também salvaguardar a dimensão da gratuidade contra o poder incontestável do lucro, e “[…] a promoção de modelos mais justos de desenvolvimento, impedindo o alargamento da disparidade das desigualdades presentes no sistema” (VILLANUEVA, 2012, p. 10). Que outra educação se pode fazer para o trabalho que não deva ser uma educação para a esperança e para o sonho? “Que outra forma existe de o ser humano se realizar que não através do trabalho, na amplitude das suas formulações possíveis?” (AZEVEDO, 2012, p. 86).

Com uma estrutura de curso de dois anos, o CPDB pretende apresentar uma prática pedagógica que busque harmonizar e integrar valores humanos e salesianos com a dimensão do trabalho e da profissionalização. Um elemento da prática pedagógica salesiana é o denominado ‘bom dia’ ou ‘boa tarde’. É uma mensagem de cunho humanístico e motivacional dirigida aos alunos no início de cada período de aula com duração média de cinco minutos. Esta mensagem é transmitida pelos docentes5, por meio de escala organizada pela

coordenação pedagógica.

Eu observei nesses dois anos, dando aulas no CPDB, uma coisa muito linda. Eu nunca tinha participado antes porque sempre trabalhei no UNISAL e lá não há a dinâmica de bom dia, boa tarde e boa noite. Aliás, acho que bons dias, boas tardes e boas noites são imprescindíveis e obrigatórios em todos os lugares. Já fiz e faço bom dia e boa tarde no CPDB quando sou convidada. Antes na escola tinha o dia certo. Então, há oportunidade para todos. Acho isso fantástico. (MARLI, E 10/10/2012).

[Pergunto o que poderia ser potencializado e fortalecido no CPDB. E ele:] olha, a vivência dentro da escola, já faz toda uma diferença. O que a gente não pode perder é o princípio, deixar as coisas caírem no esquecimento, embora sempre trabalhemos com as palestras que envolvam a questão da salesianidade, com os vídeos, com os bons dias e boas tardes. São muito importantes, pois, sempre se passa uma mensagem. Não necessariamente você precisa colocar o nome de João Bosco no meio das coisas. O sistema preventivo é independente de João Bosco. Acho que quando você trabalha com o jovem, mostra para ele o caminho certo, como as coisas devem ser. Quando ele está ali, prestando atenção no que você faz, já estamos aplicando o que João Bosco fez. Você não precisa levar o nome dele, embora sempre o façamos de alguma forma (JORGE, E 19/10/2012).

A estratégia e a dinâmica de ‘bom dia’ e ‘boa tarde’ foram mantidas na ocasião da adaptação da estrutura do CPDB às leis Nº 12.101/2009 da transferência da responsabilidade da concessão e renovação dos certificados de Entidade Beneficente de Assistência Social para os Ministérios do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, da Saúde e da Educação. Adequação de estrutura também feita ao Parecer CNE/CEB Nº 11/2008 da homologação da Proposta de Instituição do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio.

Pacheco (2012, p. 29) referenda:

Ao alterar a LDB, a Lei 11.741/08 localiza a educação profissional técnica de nível médio como seção IV – A do Capítulo II Da Educação Básica. Essa disposição no texto legal procura ressaltar a concepção de que esses cursos

5 Os depoentes membros do corpo docente tiveram suas identidades preservadas e serão identificados por nomes

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são da Educação Básica e encontram-se, portanto, no âmbito das políticas educacionais.

Ainda que comparações entre o antigo ensino profissionalizante e o novo ensino técnico de nível médio fossem inevitáveis, para além da esfera pedagógica e da gestão, Castro (E 06/12/2012) ressalta que, no CPDB, o procedimento educativo extracurricular, denominado ‘bom dia e boa tarde’, não sofreu alteração:

Há essa preocupação de realizarmos o bom dia e o boa tarde e não se perder a característica de passar sempre os princípios salesianos de Dom Bosco. Trazer os jovens aqui para que sintam que é uma escola de preventividade. Penso que o bom dia e a boa tarde não os perdemos. É uma característica bem forte no CPDB e não deixamos de realizá-lo.

Embora esta estratégia didática, ‘bom dia e boa tarde’, aconteça, efetivamente, no CPDB, percebia-se, por meio de observação participante que, tanto no ano de 2012 como no primeiro semestre de 2013, havia certa desconformidade entre o ideal dos princípios e referenciais salesianos e a prática do bom dia e boa tarde. Consiste em que o docente, entendido como educador, devia, por meio de escala elaborada pela coordenação pedagógica, transmitir a mensagem humanista cristã de cunho motivacional ao aluno. Por motivos diversos, esta estratégia pedagógica apresentava inconstâncias.

Em suma, o CPDB, ao longo de sua história de trabalho social e educacional como ensino profissionalizante, hoje ensino técnico de nível médio, tem fortalecido a malha industrial da cidade de Campinas e região, atendendo às demandas industriais e tecnológicas.

O CPDB, como obra salesiana, preocupa-se com a formação humana, profissional e religiosa de seus destinatários. Elementos fundamentais para que os objetivos institucionais salesianos sejam alcançados, que seu corpo docente e colaboradores técnico administrativo estejam afinados e comprometidos com a Educação Salesiana. O CPDB é herdeiro da tradição educacional e pedagógica que legou o educador Bosco, especialmente, voltada à educação dos jovens de baixo poder aquisitivo.

A estrutura salesiana, em obras, recursos humanos e financeiros pauta-se na convicção e fidelidade criativa, por parte de seus seguidores, aos princípios educacionais salesianos, originários de Bosco. Seu entendimento, aplicação e vivência são requisitos basilares a todos os educadores salesianos para a eficácia da educação salesiana.

Considerações finais

O propósito deste trabalho foi apresentar o Centro Profissional Dom Bosco num processo de passagem do ensino profissionalizante para o ensino técnico de nível médio, verificando, se a educação profissional técnica de nível médio preservou os procedimentos educativos salesianos, mediante a adequação das leis vigentes em cada tempo.

Constatamos que no processo de mudança do ensino profissionalizante para o ensino técnico de nível médio foram preservados espaços e estratégias pedagógicas que favorecem o desenvolvimento dos princípios e referenciais salesianos no CPDB. Não obstante, havendo pouco tempo de existência nessa nova configuração de cursos e currículos, faz-se necessária uma análise mais completa do CPDB como estrutura de educação profissional de nível médio.

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muitos colaboradores, docentes, alunos e ex-alunos. Confiantes na máxima salesiana ‘Com Dom Bosco e com os tempos’, o CPDB, hoje, como ensino técnico de nível médio, uma vez consolidado, terá sua história narrada pelas vivências que nele surgirem. Uma outra história está por vir.

Referências

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Referências

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