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Viabilidade de contratos de integração na cadeia produtiva do leite na região celeiro

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Academic year: 2021

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO DESENVOLVIMENTO LOCAL E GESTÃO DO AGRONEGÓCIO

TIAGO REGINALDO ZAGONEL

VIABILIDADE DE CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NA REGIÃO CELEIRO

IJUÍ/RS 2016

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TIAGO REGINALDO ZAGONEL

VIABILIDADE DE CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NA REGIÃO CELEIRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na linha de pesquisa Desenvolvimento Local e Gestão do Agronegócio, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientador: Prof. Dr. Dilson Trennepohl

IJUÍ/RS 2016

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Z18v Zagonel, Tiago Reginaldo.

Viabilidade de contratos de integração na cadeia produtiva do leite na Região Celeiro / Tiago Reginaldo Zagonel. – Ijuí, 2016. –

105 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Dílson Trennepohl”.

1. Cadeia produtiva do leite. 2. Contratos de integração. 3. Agronegócio. I. Trennepohl, Dílson. II. Título.

CDU: 332.1(816.5) 338.1 Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

VIABILIDADE DE CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NA REGIÃO CELEIRO

elaborada por

TIAGO REGINALDO ZAGONEL

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): ___________________________________________

Prof. Dr. Pedro Selvino Neumann (UFSM): ________________________________________

Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ): ________________________________________________

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AGRADECIMENTOS

A Deus... A minha família, primeiramente aos meus pais Diles e Nelso, aos meus irmãos Magna, Dagoberto e Jordano, também aos meus tios Milton (in memorian) e Alceu, e ainda ao amigo Luciano Scheer e sua mãe dona Leci, por todo o apoio dado nessa minha caminhada de vida.

Aos meus professores do mestrado em desenvolvimento e também dos mestrados em Direitos Humanos e em Educação, nos quais transitei em disciplinas que contribuíram para o meu crescimento pessoal e profissional.

Ao meu orientador Dilson Trennepohl, pelo incentivo inicial a temática do estudo e o desafio de discutir a cadeia produtiva do leite, pelas orientações sempre pontuais e produtivas, e também pela parceria e apoio nas diversas publicações.

Aos meus colegas de mestrado pela amizade e parceria que se perpetuarão no decorrer da vida. Também a secretária do PPGDES-UNIJUÍ Elisa Eickhoff Ledermann e aos amigos professores, Daniel Baggio, David Basso, Argemiro Luis Brum, Martinho Luís Kelm, Sandra Beatriz Vicenci Fernandes, Nelson Thesing, Sérgio Allebrandt, Dieter Rugard Siedenberg, Denize Grzybovski, Gerd Wassenberg, Fernando Guilherme Tenório, Daniel Cenci, Dinarte Belato, Enio Waldir da Silva, Nadia Scariot, Martin Ledermann e Sandra Regina Albarello.

A todos os entrevistados que disponibilizaram o seu precioso tempo e contribuíram de alguma forma com informações valiosas para o êxito desta dissertação.

A Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - (UNIJUÍ), pela bolsa Taxa de 50% que me foi disponibilizada.

O meu muito obrigado a todos, nominados ou não,

que ajudaram de alguma forma para o êxito desta

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Qualquer coisa que você faça será

insignificante, mas é muito importante que você

o faça. Pois ninguém o fará por você.

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RESUMO

A cadeia produtiva do leite vive um momento de reestruturação e profissionalização dos diferentes elos que a compõe, visto que além de representar uma renda mensal aos produtores rurais, exerce uma função social e econômica, empregando e mantendo o homem no campo. Contudo, a sua informalidade a torna vulnerável num ambiente de mercado globalizado e traz riscos aos elos, favorecendo o oportunismo e as fraudes. Dito isso, o objetivo do estudo é analisar a viabilidade de contratos de integração na cadeia produtiva do leite na Região Celeiro entre produtores e indústrias, como forma de fortalecer a idoneidade do segmento lácteo e o seu desenvolvimento. Através de uma revisão bibliográfica e entrevistas com atores que interagem com a cadeia na região de estudo durante o segundo semestre de 2016, foi possível empiricamente observar através da análise dos discursos coletivos que a informalidade da cadeia produtiva não interessa a nenhuma das partes, por representar uma insegurança e elevar os custos de transação, diminuindo assim a lucratividade e atenuando a evolução do setor. A contratualização em outras cadeias produtivas se deu num processo de profissionalização exigida pelo mercado com o aumento populacional, necessidade de escala de produção, produto de qualidade com padrões para importação e exportação, o que se visualiza como uma tendência natural também na cadeia láctea. Há, contudo, um desalinhamento de interesses entre os produtores, empresas e o poder público, que fragilizam as políticas voltadas ao setor leiteiro e resaltam a desorganização desta cadeia produtiva, a qual necessita de parâmetros eficientes de mercado como os preços de referência. Finalmente, os contratos de integração se apresentam como uma alternativa viável na cadeia produtiva do leite, por representar uma segurança para as partes, formalizando as demandas acordadas na negociação e trazendo a confiança que os elos envolvidos no processo precisam para melhor se desenvolverem, estando de acordo com as leis vigentes do setor lácteo e do país.

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ABSTRACT

The milk production chain experiences a moment of restructuring and professionalization of different links that compose it, as besides representing a monthly income to rural producers, exerts a social and economic function, employing and keeping people in the countryside. However, its informality makes it vulnerable in a globalized market environment and brings risks to links, favoring opportunism and frauds. That said, the goal of the study is to analyze the feasibility of integration agreements in the milk production chain in the “Regiao Celeiro” between producers and industries as a way to strengthen the integrity of the dairy sector and its development. Through a literature review and interviews with actors interacting with the chain in the study area during the second half of 2016, it was possible to observe empirically through analysis of collective discourses that informality of the production chain does not interest to either side, because it represents insecurity and raising transaction costs, reducing the profitability and mitigating the evolution of the sector. The contractualization in other productive chains occurred in a professionalization process required by the market with the population increase, the need for scale production, product quality with patterns for import and export, which is viewed as a natural tendency also in the dairy chain. However, there is a misalignment of interests between producers, companies and the government, which weaken policies directed to dairy industry and emphasize the disorganization of this productive chain, which needs efficient parameters market such as reference prices. Finally, contracts integration are presented as a viable alternative in the milk production chain, because it represents a certainty for the litigants, formalizing the demands agreed in negotiations and bringing confidence that the links involved in the process need to better develop, being in agreement to the laws of the dairy sector and of the country.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Esquema da indução das formas de governança ... 23 FIGURA 2 – Estrutura do ambiente institucional e organizacional das cadeias produtivas .. 24 FIGURA 3 – Mapa do leite no Rio Grande do Sul... 46 FIGURA 4 – Ciclo simplificado do leite ... 50 FIGURA 5 – A relação entre os elos da Cadeia Produtiva do Leite (CPL) ... 83

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural

BNDS – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BPF – Boas Práticas na Fazenda

BRF – Brasil Foods

CBP – Contagem de Bactérias Psicrotróficas CBT – Contagem Bacteriana Total

CCCL – Central de Cooperativas Celeiro Ltda CCGL – Cooperativa Central Gaúcha de Leite CCS – Contagem de Células Somáticas

CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CI – Contratos de Integração

CISPOA – Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal CONSELEITE – Conselho Estadual do Leite

COOPERALFA – Cooperativa Agroindustrial Alfa

COPÉRDIA – Cooperativa de Produção e Consumo Concórdia Ltda CORLAC – Companhia Rio-Grandense de Laticínios e Correlatos COTRICAMPO – Cooperativa Tritícola Mista Campo Novo Ltda COTRIMAIO – Cooperativa Agropecuária Alto Uruguai Ltda CPL – Cadeia Produtiva do Leite

CS – Cadeia de Suprimentos CT – Custos de Transação

CTB – Contagem Total de Bactérias

DEAL – Departamento Estadual de Abastecimento de Leite DSC – Discurso do Sujeito Coletivo

ECT – Economia dos Custos de Transação

EMATER-RS – Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural

FEE – Fundação de Economia e Estatística GDT – Global Dairy Trade

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IE – Inscrição Estadual

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IGL – Instituto Gaúcho do Leite IN – Instrução Normativa

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Mercosul – Mercado Comum do Sul

MP – Ministério Público

NEI – Nova Economia Institucional

Nirf – Número do imóvel na Receita Federal PL – Projeto de Lei

PLS – Programa Leite Saudável PR – Paraná

PTL – Pesquisa Trimestral do Leite

RS – Rio Grande do Sul

SABEL – Sociedade Anônima Beneficiadora de Leite SC – Santa Catarina

SIF – Serviço Inspeção Federal SIM – Serviço de Inspeção Municipal STR – Sindicatos dos Trabalhadores Rurais UE – União Europeia

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SUMÁRIO

RESUMO ... 7

INTRODUÇÃO ... 14

1. ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DE CADEIAS PRODUTIVAS ... 20

1.1 SISTEMAINTEGRADOEOAGRIBUSINESS... 20

1.2 CUSTOSDETRANSAÇÃOEANOVAECONOMIAINSTITUCIONAL ... 21

1.3 ACADEIADEPRODUÇÃOECOMERCIALIZAÇÃOAGROINDUSTRIAL ... 24

1.4 COORDENAÇÃODASRELAÇÕESVERTICAISNASCADEIAS PRODUTIVAS.... ... 25

1.5 ALEGISLAÇÃONASCADEIASPRODUTIVAS–LEIDOINTEGRADO ... 27

1.6 ACADEIAPRODUTIVADOLEITEESUADINÂMICA ... 29

1.7 CONTRATOSDEINTEGRAÇÃO ... 33

1.8 ALGUNSESTUDOSSOBREINTEGRAÇÃOECADEIASPRODUTIVASNA REGIÃONOROESTEDOESTADODORIOGRANDEDOSUL ... 34

2. A CADEIA PRODUTIVA DO LEITE NA REGIÃO CELEIRO ... 43

3. OS CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO ... 51

3.1 AORIGEMDOSCONTRATOS ... 52

3.2 CONTRATOSDEINTEGRAÇÃONASUINOCULTURA ... 53

3.3 CONTRATOSDEINTEGRAÇÃONAAVICULTURA ... 56

3.4 CONTRATOSDEINTEGRAÇÃONAFUMICULTURA ... 57

3.5 CONTRATOSDEINTEGRAÇÃONABOVINOCULTURADELEITE ... 59

3.6 CONSIDERAÇÕESSOBREOSCONTRATOSDEINTEGRAÇÃONAS DIFERENTESCADEIASPRODUTIVAS ... 61

3.7 ANÁLISEDOSCONTRATOSESUASPECULIARIDADES ... 63

4. A RELAÇÃO ENTRE OS ELOS DA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE ... 66

4.1 APERCEPÇÃODAINDÚSTRIALÁCTEANAUTILIZAÇÃODOS CONTRATO... ... 66

4.1.1 Posicionamento da empresa “W” no que se refere aos contratos ... 66

4.1.2 Posicionamento da empresa “Y” no que se refere aos contratos ... 68

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4.2 AAVALIAÇÃODOSPRODUTORESDELEITEPARAADESÃOOUNÃOAOS

CONTRATOS ... 71

4.2.1 Produtores com contratos na atividade leiteira ... 72

4.2.1 Produtores sem contratos na atividade leiteira ... 74

4.3 UMAAVALIAÇÃODEDIFERENTESAGENTESENVOLVIDOSCOMOS PRODUTORESSOBREACADEIAPRODUTIVADOLEITEEOS CONTRATOS.... ... 77

4.4 SINTESEDOSDISCURSOSCOLETIVOSNARELAÇÃOENTREOSELOS ... 79

5. A VIABILIDADE DO USO DE CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE ... 84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 87

REFERÊNCIAS ... 91

APÊNDICE A ... 99

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INTRODUÇÃO

As questões relativas à cadeia produtiva do leite estão em constante debate, indo de escala local a global, devido ao processo dinâmico de coordenação dessa cadeia, sendo influenciada por diferentes fatores que interagem no mercado. Os principais elos dessa cadeia são a indústria a montante fornecedora de insumos, o produtor rural, que desenvolve o processo produtivo e a indústria a jusante que compra e industrializa a produção.

Na cadeia da suinocultura, avicultura e fumicultura existe um sistema de integração que estabelece regras ao processo produtivo em que o produtor tem direitos e deveres a cumprir, assim como a indústria integradora, que acompanha o processo a montante e a jusante do produto final. Os ganhos neste sistema são para os diferentes elos envolvidos, pois o produtor é acompanhado em todas as etapas para obter um produto de qualidade, o que lhe proporciona uma agregação de valor e, consequentemente, maior rentabilidade financeira. Já a indústria, entre outras benesses, tem uma matéria-prima conforme os padrões que lhe convém para obter um excelente desempenho no mercado.

No setor lácteo não se desenvolveu essa integração como em outras cadeias, tendo em vista o seu grau de complexidade e a ausência de interesse dos elos da cadeia leiteira por diferentes motivos. Em dado momento, essa informalidade beneficia um dos elos1 que, apoiado por mecanismos do mercado, passa a ter um grau mais confortável na dinâmica da cadeia, gerando um “campo fértil” ao oportunismo entre esses elos.

É nesse campo fértil que se buscou algumas respostas que pautam a estruturação do setor lácteo na Região Celeiro analisando como se dá a relação entre os elos da cadeia e os efeitos de sua informalidade, principalmente no que tange a comercialização do leite in

natura, assim como também as mazelas dos diferentes elos envolvidos na gestão da mesma,

visando uma melhor qualidade ao final do processo.

Devido a experiências já existentes em outros setores, a possibilidade de contratos de integração no setor de lácteos é pertinente e se faz necessário analisar os diferentes sistemas produtivos e a viabilidade de sustentação da cadeia produtiva do leite num processo de integração, através da normatização da cadeia leiteira, tendo a intenção de profissionalizar o segmento, qualificando os diferentes atores do processo para assim ter um produto de qualidade no mercado ao consumo humano.

1 No caso em análise, os elos que se mostraram mais oportunistas foram o do transporte de leite e o da pré-indústria (postos de resfriamento).

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A discussão a cerca da problemática situação enfrentada pela cadeia leiteira na atualidade é algo notório, devido à descoberta de adulteração do leite desencadeada pelo Ministério Público no RS, através das operações “Leite Compensado”, que teve a sua primeira fase em maio de 2013, onde algumas pessoas foram presas. Nas diversas etapas desencadeadas, constatou-se que os transportadores de leite (freteiros), postos de resfriamento e indústrias estariam envolvidos nas fraudes.

Visando uma maior segurança na qualidade do leite disponível para o consumo humano, buscam-se alternativas para impor barreiras aos fraudadores e renovar a confiança aos produtos lácteos. É neste contexto que os contratos entram e, corroborando com a temática, tramita atualmente na Câmera Federal, um Projeto de Lei (PL nº 6.459/2013), também conhecido como “Lei dos Integrados”, que dispõe sobre os contratos de integração, estabelece condições, obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre produtores integrados e integradores e dá outras providências. Também tramita no Estado do Rio Grande do Sul um Projeto de Lei (PL) 414/2015 que regulamenta a produção, transporte e comercialização de leite no RS. A “Lei do Leite” institui um programa de qualidade e garante a responsabilização em caso de irregularidades. Com a nova legislação, é obrigatório que as atividades de coleta e transporte de leite sejam realizadas por transportadores treinados, devidamente cadastrados e vinculados às indústrias ou postos de refrigeração.

Há uma mudança significativa ocorrendo na cadeia produtiva do leite desde as fraudes descobertas em 2013 e ações estão sendo desenvolvidas com vistas a profissionalizar o setor e inibir tais práticas fraudulentas, pois esse segmento, além de gerar renda na atividade rural, tem um papel social a cumprir junto às famílias que se dispõe a permanecer no meio rural. Essa profissionalização perpassa pela assistência técnica e para isso o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através do decreto nº 8.533, de 30 de setembro de 2015, estabelece procedimentos a serem adotados por agroindústrias de leite que tenham interesse em utilizar créditos presumidos do PIS/Cofins, previsto no Programa Leite Saudável (PLS), e concedido aos laticínios que apresentarem projetos de assistência técnica e melhoria da qualidade de produtos lácteos, com vistas a auxiliar os produtores de leite no desenvolvimento da qualidade e da produtividade em sua atividade no meio rural.

A cadeia do leite não está suficientemente normatizada quanto a sua comercialização, sendo que as empresas compram e produtores vendem ainda com uma baixa formalização, assim se mantém um acerto verbal das partes. O produtor sabe quanto recebeu pelo litro de leite vendido 45 dias após as primeiras entregas, dificultando o seu planejamento financeiro e, por vezes, correndo-se o risco de não receber o valor pela matéria-prima fornecida devido a

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calotes, sendo que o mesmo não tem nenhuma comprovação formal para buscar seus direitos via judicial. A migração dos produtores de uma empresa para outra é uma estratégia desgastante a ambos, pois, em geral, nos primeiros meses o produtor irá receber mais que a concorrência e depois reduz o valor como vinha sendo pago pela anterior. Para a empresa não há uma garantia, estabilidade de recebimento e qualidade do produto devido à ausência de fidelização dos produtores, logo, não há interesse em investir em assistência técnica aos produtores que visam somente preço e não inovam os processos melhorando a qualidade para aumentar o seu lucro.

Diante do contexto, este estudo da cadeia produtiva do leite não tem a pretensão de solucionar os entraves que a mesma proporciona em seus diferentes elos, ademais, o que se busca é analisar a relação informal que existe entre os produtores rurais e as indústrias processadoras de forma qualitativa, e se há viabilidade de utilização de contratos de integração para regular essas relações. Daí pressupõe-se que a possibilidade de contratualização para sair da informalidade pode ser um fator decisivo à continuidade da pecuária leiteira, pois os contratos trazem consigo a missão de perenizar a idoneidade no processo da produção, transporte, industrialização e comercialização do leite produzido pelos produtores rurais.

Aos procedimentos metodológicos utilizados, faz-se necessário a utilização de métodos apropriados para a realização de estudos científicos, conforme preceitua Pereira (2010, p. 24) “para fazer ciência é essencial à utilização de métodos rigorosos, pois é dessa forma que se atinge um conhecimento sistemático, preciso e objetivo.” Destaca ainda que “[...] é um percurso para atingir um objetivo, é o caminho realizado pelo cientista quando focado na produção de conhecimento”.

A pesquisa classifica-se como exploratória descritiva, de natureza qualitativa, sendo que, nos estudos de Gil (2002, p. 41), “pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições”.

A pesquisa descritiva tem por preocupação central a descrição das “[...] características de determinada população. Podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis” (GIL, 2010, p. 27).

Para Zamberlan (2014, p. 96), “a pesquisa descritiva visa a identificar, expor e descrever os fatos ou fenômenos de determinada realidade em estudo, características de um grupo, comunidade, população ou contexto social”.

Para Triviños (1987), a pesquisa descritiva estabelece uma série de exigências, por parte do pesquisador, em obter informações sobre o que se pretende pesquisar, já que a

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característica essencial deste tipo de pesquisa está na pretensão de “descrever com exatidão os fatos e fenômenos de determinada realidade” (TRIVIÑOS, 1987, p. 110).

A abordagem qualitativa foi utilizada considerando Martins e Theóphilo (2007, p. 136) que “uma das principais características da pesquisa qualitativa é a predominância da descrição. [...] e tem como preocupação central descrições, compreensões e interpretações dos fatos, ao invés de medições”.

Esse estudo é de caráter exploratório e descritivo numa abordagem qualitativa. Para os dados coletados, formam feitas análises bibliográficas, entrevistas com produtores de leite, representantes de associações de produtores, entidades como Emater e STR, cooperativas, indústrias, veterinários, agrônomos, leiteiros (transportadores de leite), com técnicos e representantes do poder público e também acompanhamento de eventos que discutiram a temática do leite na Região Celeiro e Noroeste.

Como instrumentos de coleta de dados se utilizou um roteiro de entrevistas semiestruturada, o qual serviu de base para os questionamentos junto aos produtores, representantes das associações, técnicos, representantes do poder público e representantes das indústrias, estando com as devidas adaptações para cada público entrevistado. A delimitação do campo de estudo para a pesquisa foi a Região Celeiro.

Aproximadamente 60 entrevistas e depoimentos foram realizados, sendo gravados e posteriormente transcritos para gerar uma síntese através da análise de conteúdo. “Essa técnica possibilita a descrição do conteúdo manifesto e latente das comunicações” (GIL, 2002, p. 89).

Segundo Zamberlan (2014, p. 152), “as técnicas de análise de dados permitem ao pesquisador executar a apresentação e análise dos dados levantados e coletados de maneira clara, objetiva e estruturada, oferecendo ao leitor sua cientificidade e comprovação”.

Nos estudos de Gil (2002, p. 41) as pesquisas exploratórias “têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições.” No que tange a abordagem qualitativa da pesquisa, Minayo afirma que:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, [...] com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO 2000, p. 21-22).

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A pesquisa de campo é uma pesquisa empírica no local onde ocorre ou ocorreu o fenômeno. Num estudo de campo, “o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é enfatizada importância de o pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a situação de estudo [...] tende a utilizar muito mais técnicas de observação do que de interrogação” (GIL, 2002, p. 53). O autor também argumenta que “essa técnica possibilita a descrição do conteúdo manifesto e latente das comunicações” (GIL, 2002, p. 89).

Conforme Basso (2014, p. 32), ao buscar entender uma realidade recomenda-se um esforço para melhor compreensão da mesma, a partir da aproximação sucessiva, centrando maior energia nos conteúdos do que nas formalidades. Assim, “os procedimentos metodológicos que potencializam tal perspectiva de pesquisa devem ser a observação e o contato direto com o ambiente e com os sujeitos”.

Segundo Zamberlan (2014, p. 152), “as técnicas de análise de dados permitem ao pesquisador executar a apresentação e análise dos dados levantados e coletados de maneira clara, objetiva e estruturada, oferecendo ao leitor sua cientificidade e comprovação”.

Para a análise dos dados ou informações coletadas foi lançado mão da metodologia de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que remete um discurso síntese elaborado com pedaços de discursos de sentido semelhante reunidos num só discurso (LEFEVRE, 2003).

O método tem como fundamento a teoria da Representação Social e seus pressupostos sociológicos. Assim, o DSC é uma técnica de tabulação e organização de dados qualitativos associada ao software Qualiquantisoft (www.spi-net.com.br), permitindo agregar depoimentos sem reduzi-los a quantidades, através de procedimentos sistemáticos e padronizados (LEFÈVRE, 2003).

A proposta do DSC com base, sobretudo, nos pressupostos da Teoria das Representações Sociais (JODELET, 1989), consegue elencar e articular uma série de operações sobre a matéria-prima dos depoimentos coletados nas pesquisas empíricas de opinião através de questões abertas, que redundam ao final do processo em depoimentos coletivos confeccionados com extratos de diferentes depoimentos individuais. Assim, cada um desses depoimentos coletivos veiculando uma determinada opinião ou posicionamento, “sendo tais depoimentos redigidos na primeira pessoa do singular, com vistas a produzir, no receptor, o efeito de uma opinião coletiva, expressando-se, diretamente, como fato empírico, pela “boca” de um único sujeito de discurso” (LEFÈVRE, 2006, p. 517).

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A técnica consiste basicamente em analisar o material verbal coletado em pesquisas que tem depoimentos como sua matéria-prima, extraindo-se de cada um destes depoimentos as ideias centrais ou ancoragens e as suas correspondentes expressões chave, as quais irão compor um ou vários discursos-síntese dando origem aos Discursos do Sujeito Coletivo. Dessa forma, “o DSC constitui uma técnica de pesquisa qualitativa criada para fazer uma coletividade falar, como se fosse um só indivíduo” (LEFÈVRE, 2015. p. 1).

Sendo assim, os dados coletados foram compilados com o auxilio do software QualiQuantiSoft® disponibilizado para facilitar o trabalho de análise dos Discursos do Sujeito Coletivo após as conversas e entrevistas com os diversos atores que dialogam com a cadeia produtiva do leite.

Ao que tange a estrutura do texto é abordado no primeiro capítulo à organização e funcionamento das cadeias produtivas, sendo referenciado o sistema integrado e o

agribusiness; custos de transação e a nova economia institucional; a cadeia de produção e

comercialização agroindustrial; coordenação das relações verticais nas cadeias produtivas; legislação nas cadeias produtivas – lei do integrado; a evolução do setor lácteo; a cadeia produtiva do leite e sua dinâmica; contratos de integração; por fim, alguns estudos sobre integração e cadeias produtivas na região noroeste do estado do Rio Grande do Sul.

No segundo capitulo tem-se a abordagem da cadeia produtiva do leite, sendo trabalhado o contexto lácteo na Região Celeiro.

No terceiro capitulo são referenciados os contratos de integração, trazendo um breve histórico da origem dos contratos; contratos de integração na suinocultura; contratos de integração na avicultura; contratos de integração na fumicultura; contratos de integração na bovinocultura de leite; considerações sobre os contratos de integração nas diferentes cadeias produtivas e, ao final, uma análise dos contratos e suas.

No quarto capítulo é apresentada a relação entre os elos da cadeia produtiva do leite abordando primeiramente a percepção da indústria láctea na utilização dos contratos e trazendo o posicionamento da empresa “W”, “Y”, “Z”, no que se refere aos contratos. Também a avaliação dos produtores de leite para adesão ou não aos contratos, dividindo os mesmo em produtores com contratos na atividade leiteira e produtores sem contratos na atividade leiteira. Ao final do capítulo tem-se uma avaliação de diferentes agentes envolvidos com os produtores sobre a cadeia produtiva do leite e os contratos.

O quinto e último capítulo traz a viabilidade do uso de contratos de integração e, posteriormente, tem-se as considerações finais, referências, apêndice e anexo.

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1. ORGANIZAÇÃO E FUNCIONAMENTO DE CADEIAS PRODUTIVAS

Para um melhor entendimento da temática desde estudo, buscou-se contextualizar na fundamentação teórica os estudos sobre sistema integrado e o agribusiness; custos de transação e a nova economia institucional; a cadeia de produção e comercialização agroindustrial; coordenação das relações verticais nas cadeias produtivas; a legislação nas cadeias produtivas – lei do integrado; a evolução do setor lácteo; a cadeia produtiva do leite e sua dinâmica e, por fim, é abordada a temática dos contratos de integração.

Assim, o presente estudo versa sobre a contratualização nas cadeias produtivas com foco nos contratos de integração na cadeia produtiva do leite. O tema contratos de integração (CI) é pouco discutido nesta cadeia produtiva. Em pesquisa realizada na base Scielo, utilizando a palavra-chave “contratos de integração”, não foram identificados estudos sobre o tema. No Portal de Periódicos Capes foram identificados quatro artigos sobre contratos de integração, sendo dois na cadeia produtiva de aves (TEIXEIRA, 2012; FIGUEIREDO et al, 2006), um na cadeia produtiva do tabaco (MARIN et al., 2012) e o outro na cadeia produtiva de alimentos (BASTOS, 2013). No Banco de Teses e Dissertações da Capes constam dois trabalhos. Estes, no entanto, versam sobre CI na avicultura de corte (TEIXEIRA, 2012) e cotonicultura (PEREIRA, 2012).

1.1 SISTEMA INTEGRADO E O AGRIBUSINESS

Ao abordar os Contratos de Integração (CI), faz-se necessário transitar por alguns conceitos transversais ao tema, entre eles o conceito de agribusiness de John Davis e Ray Goldberg (1957), sendo esses os dois mais importantes teóricos dos sistemas integrados de produção, ou seja, aqueles que idealizaram o conceito de agronegócio propondo uma análise das atividades agroindustriais, considerando os sucessivos estágios de produção e interação das organizações que atuam no sistema. Isso seria o conjunto de todas as operações e transações envolvidas desde a fabricação dos insumos agropecuários até o processamento e distribuição e consumo ‘in natura’ ou industrializados (ZYLBERSZTAJN, 1995; MIELE, 2006).

Os teóricos Davis e Goldberg estudaram o agronegócio pela ótica sistêmica e ao analisar os sistemas agroindustriais levantaram elementos que mais tarde vieram a caracterizar

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uma filières2 no setor agroalimentar (MONTIGAUD, 1992; CARVALHO JÚNIOR, 1995; ZYLBERSZTAJN, 1995; MIELE, 2006).

A noção de filière de produção é utilizada na França desde o início da década de 70 por um público de diferentes áreas como, economistas, industriais, na administração pública e por políticos. Ela parte do reconhecimento que no decorrer da produção de um dado produto, ocorrem relações entre agentes econômicos que se situam em diferentes estágios da cadeia de produção, as quais auxiliam na descrição e explicação da estrutura e do funcionamento de uma atividade econômica. Dessa forma, com a noção de filière entende-se que as condições de funcionamento e o desempenho de uma empresa ou um setor são condicionados pelo desempenho dos setores a montante e a jusante da produção, bem como pelas modalidades de relação que são estabelecidas com estes setores (MONTIGAUD, 1992; CARVALHO JÚNIOR, 1995).

1.2 CUSTOS DE TRANSAÇÃO E A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

Rocha Júnior et al. (2012), ao estudar a integração entre as agroindústrias e os produtores rurais na cadeia produtiva suína, utilizam os fundamentos teóricos da Nova Economia Institucional (NEI), que traz o debate da racionalidade limitada e do oportunismo dos agentes de uma cadeia produtiva. Nesse sentido, os contratos de integração garantem maior qualidade na governança da cadeia produtiva e entre as vantagens estão as ações coordenadas que estimulam a criatividade (BREDA et al., 2001).

A NEI teve tal denominação após a publicação dos estudos de Ronald Coase no ano de 1937, em sua obra, “The nature of the firm” (A natureza da firma), quando o economista britânico traz ao debate a questão dos Custos de Transação (CT), pois as transações do sistema econômico não ficavam livres de custos e essencialmente existiam duas formas de custos, que seriam os de coleta de informações e os atinentes à negociação e estabelecimento de contratos. Nesse momento, a firma deixa de ser analisada somente como função de produção, pois os bancos, advogados, corretores, entre outros, geram diferentes custos. Assim a firma passa a ser uma organização de coordenação de agentes econômicos (PEREIRA, et al. 2008; FARINA et al. 1997).

Em sua análise, Coase destaca as formas de coordenação entre o mercado e firma, porém, não nega a importância das formas de coordenações intermediárias. Entende que, mercado e firma competem por possuírem a função comum de coordenar a atividade

2 Traduzindo literalmente do Francês para o Português, filières significa “canais”. Pode ser entendida assim como os canais seguidos por determinado produto ou como uma cadeia de produção.

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econômica, logo coexistem. Assim, surge a necessidade de distinguir os custos de produção dos outros custos inerentes à dada atividade estando ligada à tecnologia e ao relacionamento dos agentes.

Isso recebeu a denominação de Custos de Transação, os quais estão definidos em quatro níveis, sendo que o primeiro nível relaciona-se com os custos de construção e negociação dos contratos; o segundo envolve os custos por medir e monitorar os direitos de propriedade existentes no contrato. O terceiro nível engloba os custos de manter e fazer executar os contratos internos e externos da firma. O quarto nível, está relacionado aos custos de adaptação que os agentes sofrem com as mudanças ambientais (FARINA, 1999).

Porém, os custos de transação não são facilmente mensuráveis, devido ao fato de estarem relacionados principalmente com as atitudes ou comportamento das partes envolvidas nas negociações, com seus atributos comportamentais como a racionalidade limitada e oportunismo, que podem ocorrer tanto pré como pós-contrato (PEREIRA, et al. 2008).

North (1994) apud Pereira et al. (2008), cita quatro variáveis que influenciam diretamente nos custos de transação:

- O custo da quantificação dos atributos do bem ou serviço: avalia não apenas as dimensões físicas, mas também dos direitos de propriedade envolvidos na transação; um exemplo simples é do automóvel, que muitas pessoas compram por terem determinada cor, performance, potência, mas qualquer que seja a escolha a finalidade é de transportar;

- Tamanho do mercado: se as transações são pessoais (com parentes, amigos) ou impessoais (desconhecidos) e, neste caso, não há nada que impeça as pessoas de levarem vantagem sobre as outras;

- Cumprimento das obrigações assumidas: a evolução do sistema jurídico, fiscalizador e imparcial, fundamental para o desenvolvimento de sistema contratual complexo e eficiente;

- Atitudes ideológicas e percepções: como as pessoas veem as regras do jogo (instituições) e de que forma agem frente às transações e regras.

A NEI, portanto, é uma extensão da organização industrial, inserindo o ambiente institucional e as variáveis transacionais, caracterizando a organização de firmas e de mercados. Procura ainda identificar qual a melhor forma de organização das transações econômicas com a melhor alocação de recursos (FARINA, 1999).

Assim, a Nova Economia Institucional (NEI) ou Economia dos Custos de Transação (ECT), onde se destaca nas décadas de 70, 80 e 90, a obra de Oliver Williamson, como uma sequência do trabalho de Ronald Coase e também o trabalho do Prêmio Nobel Douglass North, tem o objetivo de estudar o custo de transação como o indutor dos modos alternativos

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de organização da produção como forma de governança, num arcabouço analítico institucional. Tem assim, a finalidade de “analisar sistematicamente as relações entre a estrutura dos direitos de propriedade e instituições”. Um alinhamento das estruturas de governança com os fatores condicionantes teóricos indica três grupos de fatores condicionantes das formas eficientes de governança (ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 15).

O primeiro grupo representa o aspecto central da ECT, que são as características das transações, estas consideradas a unidade básica de análise. O segundo grupo de fatores compõem o ambiente institucional, este considerado como o vetor de fatores de deslocamento no modelo que interferem diretamente na forma de governança eficiente. O terceiro grupo de fatores é associado aos pressupostos comportamentais, em especial o oportunismo e a racionalidade limitada (ZYLBERSZTAJN, 1995).

FIGURA 1 – Esquema da indução das formas de governança

Fonte: Zylbersztajn (1995).

Zylbersztajn (2005) argumenta que os contratos surgem como estruturas de amparo às transações que visam controlar a variabilidade e mitigar riscos, aumentando o valor da transação ou de um conjunto complexo de transações. Reforçando a ideia de que os contratos que envolvem a atividade agrícola não são menos complexos do que aqueles observados em outras atividades produtivas e industriais.

Aos contratos de integração, não significa dizer necessariamente uma maior eficiência, ou mesmo, maior lucro. “Os eventuais ganhos de escala ou os ganhos monopolísticos esperados de uma posição dominante de mercado podem ser eliminados caso se considere os custos relativos à escolha do modo de governança” (ZYLBERSZTAJN, 1995, p. 105).

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Assim, a atividade agrícola passa a ser vista de forma integrada aos sistemas agroindustriais na NEI/ECT, devido a sua conexão ao sistema produtivo e considerando aspectos relativos aos agentes e ao ambiente institucional e organizacional (ZYLBERSZTAJN, 2005).

Na figura a seguir é apresentado a estrutura do ambiente institucional e organizacional das cadeias produtivas na dinâmica da NEI, em que os agentes estão sujeitas a diferentes influências.

FIGURA 2 – Estrutura do ambiente institucional e organizacional das cadeias produtivas

Fonte: Adaptado de Zylbersztajn (2000).

Assim, a NEI/ECT proporciona um entendimento das relações que ocorrem ao longo das cadeias produtivas do agronegócio devido a sua estrutura teórica e através das estruturas de governança, ressaltando as influências que o ambiente institucional e organizacional exerce sobre o desempenho das mesmas (COSER, 2010).

1.3 A CADEIA DE PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO AGROINDUSTRIAL

Através do conceito de cadeia de produção agroindustrial é possível analisar o fluxo e o encadeamento dos produtos dentro de cada segmento, desde a montante até a jusante, estabelecendo o roteiro seguido por um determinado produto dentro do sistema de produção, transformação e distribuição, e ainda possibilitando a identificação de possíveis gargalos que possam ocorrer ou estejam ocorrendo no sistema. (BATALHA, 2001).

De forma simplificada, uma cadeia de produção agroindustrial pode ser dividida, quando percorrida de jusante a montante, em três macrossegmentos, excluindo aqui o setor de insumos, porém entendendo a sua importância na dinâmica de funcionamento do sistema agroindustrial. Os limites dessa divisão não são facilmente identificáveis, a depender do tipo

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de produto e o objeto de análise. Assim, Batalha (1995, p. 44) divide os três macrossegmentos:

 Comercialização – representa as empresas que estão em contato com o cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas etc.). Podem ser incluídas neste macrossegmento as empresas responsáveis somente pela logística de distribuição.  Industrialização – representa as firmas responsáveis pela transformação de

matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor. Neste caso, o consumidor pode ser uma unidade familiar ou outra agroindústria.

 Produção de matérias-primas – reúne as firmas fornecedoras das matérias-primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção do produto final (agricultura, pecuária, pesca etc.).

Um dos principais desafios no que tange a comercialização de produtos agroindustriais é equilibrar a demanda relativamente estável com a oferta agrícola que flutua sazonal e aleatoriamente. Dessa forma, a eficiência de um sistema de comercialização pode ser medida a partir da sua capacidade de atender um mercado consumidor, tendo um fluxo equilibrado de produtos de qualidade, a preços estáveis e acessíveis (AZEVEDO, 2001; COBRA, 1990).

1.4 COORDENAÇÃO DAS RELAÇÕES VERTICAIS NAS CADEIAS PRODUTIVAS

A partir do final dos anos 60, diversas análises de sistemas agroindústrias foram realizadas nos Estados Unidos, tomando um enfoque sistêmico de produto como referencial de pesquisa. Alguns estudos foram realizados por universidades, em parceria com o departamento de agricultura, para os setores de suinocultura, avicultura, carne bovina, laticínios e grãos, entre outros. Tais estudos foram motivados pela necessidade de se compreender melhor as formas de organização dos sistemas agroindustriais norte-americanos, que, na época, passavam por transformações significativas nos padrões de controle e de coordenação vertical. Assim, a predominância que até então era típica dos mercados locais, como principais coordenadores das relações entre produtores, processadores e outros atores dos sistemas agroindustriais, foi alterada para mecanismos mais complexos de coordenação, envolvendo contratos, integração vertical ou parcerias (SILVA e BATALHA, 1999).

Os sistemas integrados tem se acentuado no agronegócio utilizando contratos de integração vertical, especialmente nas cadeias de produção de aves, suínos e frutas, mas não contempla a cadeia produtiva do leite. A produção destes produtos cresceu de forma exponencial, sobretudo em função de suas características específicas e vantagens para o

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aumento e melhoria da qualidade da produção de matéria-prima para a agroindústria. Tais instrumentos negociais visam substituir outros arranjos contratuais, como a compra e venda e a parceria agrícola. Sua utilização tem sido apontada por pesquisadores3 como um fator de sucesso para as organizações que os adotam, ainda que no âmbito jurídico ainda restem alguns desafios de entendimento a serem superados entre as partes e seus interesses (AGROANALYSIS, 2014).

Devido às transformações do cenário econômico mundial, houve uma maior exigência do mercado para as organizações aumentar a eficiência em seus processos e se tornar mais competitivas, sendo realçados por movimentos de cooperação entre setores diversos como produtores rurais e agroindústria. Assim os agentes econômicos foram obrigados a criar novas formas de produção, que demandaram a utilização de novos contratos, como os contratos de integração vertical que nasceram com intuito de mitigar as imperfeições do livre mercado, especialmente no tocante às oscilações dos preços no mercado agrícola (AGROANALYSIS, 2014).

Segundo Batalha e Silva (2007), a competitividade de um setor ou nação seria a soma da competitividade dos agentes (firmas) que o compõem. No caso dos agronegócios, a cadeia agroindustrial é um espaço de análise diferente dos convencionalmente admitidos em estudos de competitividade. Neste caso a cadeia de produção agroindustrial não pode ser vista como a simples soma da competitividade individual de seus agentes, pois existem ganhos de coordenação, normalmente revelados em arranjos contratuais especialmente adequados às condições dos vários mercados que articulam esta cadeia, que devem ser considerados na análise de competitividade do conjunto do sistema.

Pires (2001) conceitua uma cadeia produtiva como sendo um conjunto articulado de atividades econômicas integradas como consequência da relação, em termos de mercados, entre tecnologia, organização e capitais. Sua visualização se dá como uma sucessão de operações de transformação dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico. Também entende ser um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os segmentos, um fluxo de troca entre as partes envolvidas no processo como fornecedores e clientes.

Zylbersztajn (2000) divide as cadeias produtivas agroindustriais nos subsistemas: produção; transformação; distribuição e consumo. O referido autor entende que esse último

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A Agroanalysis é a revista de gestão da Fundação Getúlio Vargas que oferece informações precisas e relevantes para a tomada de decisão no agronegócio e conta com uma equipe de colaboradores formada por profissionais e estudiosos do setor agropecuário.

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subsistema pode dar forma a toda a cadeia, pois são os estímulos dos consumidores que podem transformar os segmentos que o antecedem, visto que o conceito de agribusiness considera o consumo como uma parte do sistema. Conforme o autor, no conceito de sistema agroindustrial deve-se perceber que as relações verticais de produção entre todos os segmentos da cadeia produtiva servem de balizadores para a formulação de estratégias empresariais, assim como institucionalizadores para a formulação de políticas públicas.

1.5 A LEGISLAÇÃO NAS CADEIAS PRODUTIVAS – LEI DO INTEGRADO

No contexto brasileiro e na dimensão legal, o termo integração, segundo Projeto de Lei nº 330, que tramita no senado desde 2011, denominado Lei do Integrado, caracteriza-se por um sistema de parceria integrada entre produtores agrícolas e agroindústrias integradoras, visando planejar e realizar a produção de matéria-prima, bens intermediários ou de consumo final, e cujas responsabilidades e obrigações recíprocas são estabelecidas em contratos de integração.

Conforme o referido Projeto de Lei (PL), um contrato de integração é entendido como um contrato de parceria para produção integrada, firmado entre o produtor integrado e a indústria integradora que estabelece a finalidade, a participação econômica de cada parte na constituição da parceria e na partilha do objeto do contrato, as respectivas atribuições no processo produtivo, os compromissos financeiros, os deveres sociais, os requisitos sanitários, as responsabilidades ambientais, entre outras que regulem o relacionamento entre os sujeitos do contrato (SENADO, 2014).

Assim, na intenção de normatizar a relação entre integrado e integrador o PL, que atualmente se encontra na Câmera Federal e dispõe sobre os contratos de integração, estabelece condições, obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre produtores integrados e integradores e dá outras providências. Tal PL em seu Art. 1º dispõe sobre os contratos de integração vertical nas atividades agrossilvipastoris, estabelece obrigações e responsabilidades gerais para os produtores integrados e os integradores, institui mecanismos de transparência na relação contratual, cria fóruns nacionais de integração e as Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadec), ou similar, respeitando as estruturas já existentes, e dá outras providências (SENADO, 2014).

A integração vertical ou integração se refere à relação contratual entre produtores integrados e integradores que visa planejar e realizar a produção e a industrialização ou comercialização de matéria-prima, bens intermediários ou bens de consumo final, com responsabilidades e obrigações recíprocas estabelecidas em contratos de integração. Também

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o contrato entre as partes estabelece a sua finalidade, as respectivas atribuições no processo produtivo, os compromissos financeiros, os deveres sociais, os requisitos sanitários, as responsabilidades ambientais, entre outros, que regulem o relacionamento entre os sujeitos do contrato. Segundo a Lei, entendesse por atividades agrossilvipastoris as atividades de agricultura, pecuária, silvicultura, aquicultura, pesca ou extrativismo vegetal (SENADO, 2014).

O estado do RS por sua vez busca no momento criar uma legislação específica ao segmento lácteo, sendo aprovado pela Assembleia Legislativa em (28/12/2015) o Projeto de Lei (PL) 414/2015 que regulamenta a produção, transporte e comercialização de leite no Rio Grande do Sul. Construída por entidades do setor em conjunto com o Executivo, a Lei do Leite institui um programa de qualidade e garante a responsabilização em caso de irregularidades. Após sanção do governador, a “Lei do Leite” precisará ser regulamentada por meio de decreto que vai detalhar cada artigo da proposta. O prazo para a regulamentação é de 90 dias após a assinatura do governador (SINDILAT, 2015).

Com a nova legislação, é obrigatório que as atividades de coleta e transporte de leite sejam realizadas por transportadores devidamente cadastrados e vinculados às indústrias ou postos de refrigeração. Outra exigência prevista é o treinamento de cada transportador, que é de responsabilidade das empresas e, a partir da regulamentação da lei, será padronizado pela Secretaria da Agricultura (SINDILAT, 2015).

Existe também uma instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), através do decreto nº 8.533, de 30 de setembro de 2015, que estabelece os procedimentos a serem adotados por agroindústrias de leite que tenham interesse em utilizar créditos presumidos do PIS/Cofins. Esse benefício fiscal, previsto no Programa Leite Saudável, será concedido a laticínios que apresentarem projetos de assistência técnica e melhoria da qualidade de produtos lácteos. O foco dos projetos devem ser na gestão agropecuária, boas práticas e melhoria da produtividade do rebanho leiteiro, além de melhoramento genético e educação sanitária (BRASIL, 2016).

O Programa Leite Saudável prevê que as agroindústrias consigam recuperar 50% da contribuição de 9,25% do PIS/Cofins incidente sobre a venda do leite in natura. Para serem beneficiados, os estabelecimentos devem destinar 5% desses recursos a projetos de investimentos para auxiliar os produtores de leite no desenvolvimento da qualidade e da produtividade de sua atividade na área rural (BRASIL, 2016).

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1.6 A CADEIA PRODUTIVA DO LEITE E SUA DINÂMICA

A cadeia produtiva do leite e derivados lácteos passou por um processo de mudança estrutural em 1991, quando o governo federal deixou de controlar os preços aos produtores e consumidores, também ocorreu a abertura do mercado brasileiro aos derivados importados, notadamente aqueles vindos da Argentina e do Uruguai, por conta do estabelecimento de uma área de livre comércio, o Mercosul. Um dos principais fatores para expansão do mercado foi a comercialização do leite Longa Vida ou (UHT), produto que alterou e ampliou as fronteiras de produção, antes representadas por mercados regionalizados, principalmente para o leite fluido. Há mesma época se menciona o processo de granelização da coleta de leite nas fazendas, encetado aspecto tecnológico ao setor leiteiro no país (CEPEA, 2000).

No Brasil, o sistema agroindustrial do leite vivenciou um ambiente institucionalizado entre a década 1945 até a década de 1990, onde o Estado regulava os preços através de tabelamento e mediante controle do volume das importações (SANTINI, 2008). Se, por um lado, tais estratégias buscavam proteger os produtores do poder de negociação das indústrias e manter os preços atrativos aos consumidores, por outro, o controle nas importações gerava um ambiente favorável ao desenvolvimento de agroindústrias de derivados lácteos (FARINA, 1997).

Após a abertura comercial ocorrida na década 1990, os preços dos produtos lácteos passaram a ser regulados pelo mercado, o que incentivou a entrada de novas empresas no mercado, as quais passaram a ter mais liberdade para agir e criar novos produtos com um maior valor agregado (CARVALHO, 2005).

Nessa mesma década, por meio da inovação representada pela embalagem tetra pack, grandes empresas entram no setor de lácteos e logo dominam o mercado nacional deixando as cooperativas regionais e todo o setor lácteo em forte crise, que também foi agravada pela abertura do mercado no âmbito do bloco econômico MERCOSUL. Devida ao baixo investimento do Brasil no setor leiteiro, criou-se uma ideia de que o mesmo não era competitivo e isso levou muitas empresas multinacionais a se instalar na Argentina (WILKINSON, 1993).

Com a crise econômica na Argentina no final dos anos 90, se redefine novamente a estrutura setorial do mercado e, nesse período, desenvolve-se a pecuária leiteria no Sul do Brasil, mais competitiva e fortalecida devido as exigências de qualidade do mercado que foram estabelecidas pela abertura do Mercosul. Com isso o Brasil começa a resistir às importações buscando a sua autossuficiência para o mercado interno, tendo o importante

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apoio das cooperativas captadoras do leite da agricultura familiar, que conseguiam um baixo custo na produção, o que tornava o produto mais competitivo (MARCHETTI; JERÔNIMO, 2002).

Na contemporaneidade, o contexto lácteo vem sofrendo uma grande influência do mercado, visto que a estrutura do segmento está evoluindo com melhoramento genético, maior produtividade, escala de produção o que gera excedente, entre outros fatores. Aos contratos de integração caberia a função de mediar os entraves da cadeia, que são complexos, mas que tem em sua essência problemas relacionados, direta ou indiretamente, a questões financeiras e alguns fatores qualitativos e quantitativos que devem ser considerados no curto, médio e longo prazo.

De acordo com Batalha (1997), numa cadeia produtiva existem vários mercados e cada um apresenta características diferenciadas. Conforme o referido autor, existe o mercado entre produtores de insumos e produtores rurais, entre produtores rurais e agroindústrias, entre agroindústria e distribuidores e entre distribuidores e consumidores finais.

Frente ao contexto existe forte discussão quanto à informalidade no setor de lácteos e ausência de parâmetros, principalmente, na formação de preço e a ausência de comprometimento contratual corrobora com a problemática situação enfrentada pela cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul, devido à descoberta de adulteração do leite desencadeada pelo Ministério Público (MP), na operação “leite compensado”, que teve a sua primeira fase em maio de 2013, na qual transportadores foram presos e na quinta fase, constatou-se que postos de resfriamento e indústrias também estariam envolvidos na fraude. Outras fases foram desencadeadas nos estados de SC, PR e RS (JORNAL DO COMÉRCIO, 2014).

A dinâmica de mercado nos últimos anos vem atuando no sentido de selecionar os produtores de leite por meio de critérios, como a escala de produção que classifica os produtores por pequenos, médios ou grandes; a qualidade de matéria prima baseada em controles de qualidade; serviços de inspeção sanitários adequados e profissionalismo na gestão dos negócios, que consistem no uso da tecnologia, especialização, produtividade e controles zootécnicos e econômicos que propiciem desenvolvimento à atividade (BORTOLETO; SILVA, 2001).

Para Barros (2006), a comercialização é um processo social de interações entre agentes econômicos no mercado. Estudos na região Noroeste do Estado do RS ressaltam a importância e a necessidade de se fomentar a cadeia do leite, sendo uma atividade em

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ascensão e também porque a comercialização do leite oportuniza uma renda mensal aos agricultores familiares para mantê-los na área rural.

Segundo Schumacher e Marion Filho (2013), no Rio Grande do Sul a produção de leite está concentrada no Noroeste e a criação de gado de corte no Sudoeste. No período de 2000 a 2010, o número de vacas ordenhadas cresceu 2,58% ao ano e o rebanho de gado de corte diminuiu 0,06%. A produção e a produtividade de leite cresceram a taxas de 5,69 e 3,03% ao ano, respectivamente.

Conforme Trennepohl (2011, p. 173), a atividade leiteira e derivados é “uma atividade presente na economia da Região Noroeste do Rio Grande do Sul desde os tempos de seu processo de povoamento”. A pecuária leiteira está em expansão no Brasil e, na região Sul a região Noroeste do RS vem se destacando como uma bacia leiteira com grande potencial, pois segundo o autor, em 2006 a participação do Estado era de 10% na produção nacional e a Região Noroeste respondia por 60% da produção estadual.

Segundo dados de 2013 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população foi estimada em 197 milhões de brasileiros. Considerando o volume de leite produzido, a disponibilidade per capita é de 178 litros/habitante/ano. Esse volume ainda é baixo, quando comparado aos nossos vizinhos: Argentina com 207 litros/ano e Uruguai com mais de 300 litros por ano. A produção brasileira deveria ser de pelo menos 40 bilhões de litros para que o brasileiro tivesse pelo menos uma disponibilidade de 200 litros/per capita/ano. O Brasil ainda é um país deficitário na produção de leite, explica a pesquisadora Rosangela Zoccal da Embrapa Gado de Leite (ZOCCAL, 2013).

A pesquisadora também lembra que o Brasil é um dos países que mais importa produtos lácteos. No entanto, para exportá-los, a qualidade do leite precisa ser aperfeiçoada. “Quando exportamos lácteos, os países de destinos foram à Venezuela, países africanos e do Oriente Médio, que são países pouco exigentes em qualidade” [...] “precisamos suprir a demanda interna, reduzindo a importação e mudando a balança comercial de lácteos a nosso favor” (ZOCCAL, 2013 p. 1).

Diante deste contexto da cadeia produtiva do leite Trennepohl (2011), argumenta que:

O principal desafio colocado para a atividade leiteira no futuro é de consolidar a presença do Brasil no mercado internacional como exportador de produtos lácteos. Além de encontrar potenciais compradores interessados na aquisição dos produtos brasileiros é preciso desenvolver a produção nacional no sentido de atender as normas gerais sanitárias e de qualidade do mercado mundial e específicas de cada país importador. Esse esforço já foi iniciado há bastante tempo, mas ainda está distante de atingir os patamares necessários para ocupar fatias mais expressivas do mercado (TRENNEPOHL, 2011, p. 180).

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Para Carvalho, Carneiro e Stock (2006), o Brasil é um importante produtor mundial de leite e sua produção vem apresentando crescimento contínuo como a sua oferta acima da média mundial, logo, possui condições para se tornar um grande exportador de lácteos, caso incremente as vendas para países como os do continente africano, Oriente Médio, parte da Ásia, México, Rússia e países vizinhos.

Segundo Castro et al. (1998), a nutrição do rebanho foi apontada como um dos fatores mais importantes para o desempenho da produção leiteira. Para os autores, existem alguns fatores para a baixa produtividade do rebanho leiteiro do Estado do Rio Grande do Sul, a qual se deve principalmente à alimentação inadequada, tanto em quantidade quanto em qualidade. Aliado a isto, é comum não se alimentar o rebanho segundo seu potencial produtivo individual e tanto as vacas pouco produtivas quanto as mais produtivas acabam recebendo o mesmo tratamento alimentar, fato que não otimiza a produção e ainda eleva seu custo. Salienta-se também, que boa parte dos gastos com atendimento veterinário poderiam ser evitados se os animais recebessem alimentação correta. Consequentemente, os custos de produção seriam reduzidos.

Conforme Sperotto (2012), as transações entre as empresas processadoras (indústria) e os fornecedores (produtor) de leite na Região Noroeste-RS nunca foram estabelecidas por contratos formais, sempre ocorreu na informalidade. Nessa dinâmica de mercado, o produtor não tem qualquer vínculo com a empresa, pois não recebeu nenhum tipo de incentivo ou apoio técnico e decide quando parar de fornecer o leite in natura e a indústria não fez nenhum investimento junto ao produtor, somente obteve a matéria prima que lhe interessa, podendo a qualquer momento apresentar uma queda ou acréscimo no preço pago. Logo, pode-se observar comportamentos oportunistas de ambas as partes interessadas.

A busca por estabilidade nas relações entre a indústria e fornecedores é o principal desafio das empresas, pois as constantes disputas por preço e quantidade desestabilizam as relações e afetam a regularidade do fornecimento do leite, prejudicando a competitividade no mercado consumidor. Se, por um lado, a procura por matéria-prima é altamente disputada, principalmente aquela produzida com baixos custos, por outro os custos de transações e a produção em escala são fatores decisivos na competitividade da cadeia produtiva. Tendo garantido matéria-prima em larga escala, à medida que incorpora inovações técnicas e organizacionais, o cooperativismo vê-se novamente diante de uma grande oportunidade para competir no mercado do leite (SCHUBERT; NIEDERLE, 2009).

O processo de formação do preço do leite não segue um indexador e isso torna o mesmo questionável, pois é formado individualmente, facilitado pela ausência de parâmetros

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onde os agricultores não possuem clareza de como a empresa chegou a um determinado preço, muito menos dos preços pagos para os outros fornecedores da mesma empresa. Essa é uma característica de risco moral descrita por Possas, Fagundes e Pondé (1998), quando uma das partes da transação adota atitudes que prejudicam a avaliação do negócio por parte dos outros agentes envolvidos. Devido à assimetria de informações o processo torna-se mascarado e com legalidade duvidosa junto aos agricultores.

A proposta dos contratos de integração entre produtores e agroindústrias tem como objetivos minimizar os riscos financeiros, planejar a produção, aumentar a eficiência econômica de produtores e empresas, agregar tecnologia e, com isso, oferecer produtos de qualidade e com menores preços ao consumidor final, garantir a continuidade da empresa e o rendimento do produtor. Atualmente, entre os principais setores que participam dos contratos de integração estão à avicultura, suinocultura, fumo, além da citricultura, fruticultura, hortifrutigranjeiro (PORTAL DO AGRONEGÓCIO, 2010).

Casali e Marion Filho (2012), num estudo no município de Cruz Alta (RS), salientam que não se encontram contratos formais entre os produtores e as indústrias. Também acrescentam que os atores entendem não ser necessário o uso de contratos justificando ter assim mais liberdade na escolha do comprador e que existe uma confiança na relação comercial devido ao histórico de negociação.

1.7 CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO

O termo contrato indica um conjunto de compromissos interdependentes que possuem algum tipo de proteção legal e no caso de ocorrer algum descumprimento do que foi acordado entre as partes, pode ser acionado um terceiro para o ordenamento jurídico e exigir o cumprimento do que foi acordado na forma de ressarcimento ou punição das partes prejudicadas ou que provocaram o dolo (RODRIGUES, 2007).

Nos estudos sobre cadeias produtivas Williamson (1979) classifica os contratos em clássicos, neoclássicos e relacionais. Para o referido autor, contratos clássicos estão ligados ao conceito de mercado em uma competição perfeita, envolvendo transações isoladas e descontinuadas. Logo, entende-se que nestes contratos, as transações não são continuadas e não há um planejamento de longo prazo, assim os ajustes são promovidos via mercado. Tal compreensão do tema tem importância somente como referencial teórico, pois se distancia do mundo real.

Os contratos neoclássicos, por sua vez, são aqueles relacionados às transações de longo prazo, cujas partes manifestam o desejo de continuidade da transação. Dada a

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dificuldade em se prever as contingências futuras, adaptações podem acontecer conforme estas forem surgindo, mediante negociação entre as partes. Quando os custos de negociação são muito altos diante dos retornos esperados, as partes podem optar pela conclusão do contrato. A principal característica do contrato neoclássico é a utilização do contrato original como referência para a negociação, distinguindo-o do contrato relacional que passa a existir para transações complexas e de muito longo prazo, onde a cada negociação todos os fatores passam a ser considerados na formatação do contrato. Assim, a estrutura organizacional segue em direção à integração vertical (WILLIAMSON, 1979).

1.8 ALGUNS ESTUDOS SOBRE INTEGRAÇÃO E CADEIAS PRODUTIVAS NA REGIÃO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Existem alguns estudos que envolvem as cadeias produtivas na Região Noroeste do RS e que abordam aspectos pertinentes a temática deste estudo. Nesse sentido, Belato (1985) realizou um estudo com o objetivo de discutir a questão da integração na agricultura e a dinâmica de transformação do campesinato de tal sistema. Nas suas discussões, ressalta a ação do capital sobre a agricultura, a concentração nos segmentos a montante e a jusante da produção, e a transformação do campesinato expressa na destruição irreversível de suas formas históricas de organização e produção, sendo seguida pela expulsão da população excedente do campo gerando o êxodo rural e a miséria nas periferias urbanas.

O estudo traz também ao debate questões relativas à dinâmica do capitalismo com a oligopolização das empresas agroindustriais. Os agricultores tornam-se parte do elo do sistema capitalista quando compram os insumos da indústria fornecedora (a montante), e fornece a matéria-prima à indústria compradora (a jusante), e a integração de alguns agricultores elevam os níveis de produção da cadeia e os não-integrados ficam com sérias dificuldades para se manter num sistema independente de produção e dependente na comercialização através dos oligopólios atuantes a jusante da cadeia produtiva.

As conclusões do estudo dão conta de que o capital subverte o campesinato de diferentes formas. Algumas das possibilidades seriam através da estratégia da extensão rural e do controle da geração e difusão da tecnologia agrícola e pecuária. No que tange a extensão rural, houve uma dupla permissão sobre o campesinato, enquanto difusão de uma ideologia comunitária com certas fragilidades devido a intervenção direta das agências imperialistas associadas com agências ou agentes do estado receptor, o que dava condições de penetração, por etapas, dos componentes capitalistas.

Referências

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