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CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NAS

3. OS CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO

3.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NAS

DIFERENTES CADEIAS PRODUTIVAS

Ao contexto histórico das cadeias produtivas apresentado até então, a discussão levantada é motivada pelo fato de que na cadeia produtiva do leite não se desenvolveram os contratos de integração. Conforme Diesel, et al (2001), na década de 1980 muitos entenderam a relação de integração como uma forma de subordinação, causadora de dependência econômica do produtor para com a agroindústria integradora. Tal percepção não estaria totalmente equivocada, pois quando há uma integração vertical não sobra espaço para desvios e os processos são todos normatizados. No entanto, a produção do segmento está suscetível às regras de mercado fazendo com que, inevitavelmente, o produtor tenha que escolher alguém com quem vá negociar e em quem confiar.

Os aspectos citado por Etges (1991, apud VOGT, 2012, p. 158), em que “o vínculo que existe entre os produtores e as empresas não se dá através de um contrato formalizado e sim através de um pacto firmado entre ambos”. Por tal, entende-se que os contratos trazem consigo um acordo moral e que, dependendo das circunstâncias, poderiam existir ou não, a depender da confiança entre as partes envolvidas. Nesse sentido o relacionamento e a dependência direta entre o produtor e a empresa dizem respeito à forma de aquisição dos insumos por parte do produtor, ao padrão tecnológico com orientação e assistência técnica da empresa e à exclusividade e garantia da aquisição do produto por parte da empresa.

Levanta-se a hipótese de que até então existia um padrão de confiança generalizado na cadeia do leite podendo ser um dos argumentos para a inexistência dos contratos de integração. A relação de confiança que existia entre as partes podem ter se consumido no momento em que o leite se torna uma commodity. É neste momento que essa matéria-prima chama a atenção dos produtores de maior porte ou potencial de escala elevado. Outras

questões também são relevantes ao contexto como as exigência do cumprimento de normativas pelo governo, tendo em vista a adequação aos padrões de exportação, dentre outros aspectos.

Pode-se citar aqui os estudos de Diesel, et al (2001), pois o autor argumenta que o interesse em obter matérias-primas dentro de determinados requisitos de qualidade pode ter levado ao estabelecimento das relações de integração entre os agricultores e as agroindústria, já nas primeiras décadas do século XX. O fato é que as fraudes no setor lácteo brasileiro descobertas em 2013, levaram o consumidor a reavaliar o consumo deste produto, apoiando as normativas para um maior controle da qualidade do leite. Nessa linha de raciocínio, a cadeia produtiva do leite tende ao modelo integrado para garantir a sua permanência no mercado. Os estudos anteriores destacam centralmente as questões relativas à coordenação da cadeia, sendo o produtor o elo mais fraco a montante e a jusante num processo integrado. Houve um significativo aumento no número de empresas processadoras de leite, oligopsônio concorrencial, no Norte do Estado gaúcho. Estas se concentraram nas regiões que possuem fortes bacias leiteiras, gerando aumento da concorrência para a aquisição da matéria-prima in

natura. A diversificação de atividades torna-se necessária, mas com especialização e foco em

longo prazo.

Os contratos de integração deixam as relações formalizadas, porém, à diferença das cadeias do fumo, aves e suínos, a do leite teria uma complexidade maior. Todavia, a utilização dos contratos seria pertinente para ambos os atores da cadeia, pois trabalhariam com maior conexão e segurança, qualificando seus processos e, consequentemente, o produto final. Como toda a cadeia, no setor lácteo a indústria precisa de uma matéria-prima de qualidade que permeie até o final do processo, pois se receber um produto ruim não terá um produto final com qualidade ao seu consumidor.

Analisando as práticas de outras cadeias produtivas, com suas oportunidades e ameaças, sendo as mesmas podem ser demográficas, tecnológicas, culturais, operacionais, dentre outras, é possível ter alguns argumentos que visualizam a criação de um modelo inovador de contratos nesta importante cadeia produtiva, igualmente as demais analisadas, e isso é algo que começa surgir timidamente no Brasil.

Existem alguns aspectos comuns nas cadeias produtivas analisadas, tanto relativos a sua origem, quanto relativos a sua peculiaridade. Dentre eles a contemporaneidade, quando praticamente todos se desenvolveram de forma integrada a partir, particularmente dos anos de 1980 no Sul do Brasil. Essa realidade, ao mesmo tempo em que favorecia a obtenção de uma

matéria-prima de qualidade, com regularidade, eliminou os sistemas de produção tradicional (salvo os estritamente de subsistência).

O aceite de tal processo por parte dos produtores rurais, e seus resultados econômicos posteriores, corrobora em partes com as preocupações de Belato (1985), embora o autor tenha razão quanto ao objetivo capitalista do modelo implantado, porém, seria praticamente impossível aos produtores rurais sobreviverem, economicamente, mantendo um sistema tradicional de produção na medida em que o sistema econômico se globalizava e requeria cada vez mais competitividade. Acompanhando o mundo, o Brasil igualmente redefiniu comercial e produtivamente suas atividades primárias a partir da década de 1970, com importantes transformações na agricultura e na indústria brasileira, que envolvem o consumo, os aspectos tecnológicos e o comércio internacional. Assim, através dos contratos de integração houve ganhos expressivos de produtividade, redução de custos, qualidade e padronização. Ou seja, os produtores que a eles aderiram não só sobreviveram à evolução econômica como, comparativamente aos que ficaram no sistema tradicional, melhoraram de vida e conseguiram se manter competitivos na atividade no meu rural.

É nesse contexto que o setor lácteo brasileiro em geral e do Noroeste gaúcho em particular se insere. Hoje, há enorme interesse em se obter matéria-prima dentro de determinados requisitos de qualidade, obrigando ao estabelecimento de relações de integração entre produtor e agroindústria. Os fatores analisados nas cadeias de suíno, aves e fumo, sobre a origem dos contratos autenticam uma tendência natural de mudança e adaptação também do setor leiteiro nas relações entre os seus elos, em questões relativas ao um novo padrão de consumo, em aspectos tecnológicos, do comércio internacional, da produtividade, na redução de custos, relativas a qualidade, de padronização, entre outros. O advento das descobertas das enormes fraudes e adulterações no produto final leva o setor lácteo a avançar rapidamente para a consolidação de um sistema integrado de produção, no estilo dos demais segmentos analisados, obviamente sem perder suas especificidades naturais.