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3. OS CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO

3.2 CONTRATOS DE INTEGRAÇÃO NA SUINOCULTURA

A atividade de suinocultura existe no Brasil desde sua colonização, sendo desenvolvida inicialmente de forma primitiva pelos primeiros habitantes. No que tange tal atividade no Rio Grande do Sul, a criação de suínos se desenvolveu principalmente nas áreas colonizadas pelos imigrantes. A atividade enfrentou mudanças abruptas de reestruturação, passando da produção de subsistência à produção de carne e banha, como moeda de troca ou (escambo), à produção integrada, tendo uma nova genética das matrizes suínas, menos banha

e mais carne, devido à entrada de gordura vegetal na dieta alimentar humana (TRENNEPOHL, 2011).

Na década de 1980 ocorreram mudanças nas relações entre os suinocultores e as indústrias, culminando na crescente integração técnico-produtiva da atividade anteriormente colonial. Daí as indústrias estabeleceram os contratos de integração com os produtores rurais, fornecendo os animais, insumos, crédito, garantia de mercado, assistência técnica, entre outros, visando obter uma matéria-prima de qualidade e com regularidade. Diante deste novo contexto, os produtores também conseguiram viabilizar a adoção dos avanços tecnológicos tornando-se mais competitivos no mercado e diferenciando-se dos produtores tradicionais que, devido à nova estrutura produtiva, se tornaram menos competitivos (TRENNEPOHL, 2011).

Segundo Pereira, Machado e Kichel (2006), os contratos de integração têm sido um importante instrumento tanto para as empresas processadoras, que podem contar com a produção constante e em padrões previamente especificados, quanto para os produtores rurais, que têm na suinocultura uma atividade que lhes garante venda certa e recebimento garantido. Assim, os contratos de integração podem ser considerados de média especificidade de ativos, com transação frequente e reduzida incerteza para os seus agentes.

Os contratos e as regras que norteiam os programas de fomento pecuário diferem em função da agroindústria, do sistema de produção e do ano, mas têm algumas características comuns. Todos delimitam a divisão de responsabilidades entre os suinocultores e as agroindústrias e se reportam a condições de mercado para regular variações excessivas nos volumes ou para obter um parâmetro de preços. De um lado há aqueles mais simples, voltados quase que exclusivamente ao estabelecimento de garantias formais de compra e venda e de direitos de propriedade sobre os plantéis, a ração e demais insumos. Mas por outro lado, existem contratos mais complexos que, além das garantias, se voltam para a gestão da cadeia produtiva formalizando esquemas de incentivo, o papel da assistência técnica como agente de monitoramento e controle, e detalhando especificações técnicas (MIELE, 2007).

Diante do contexto abordado dos contratos na suinocultura é possível visualizar que se trata de uma atividade complexa que requer um elevado grau tecnológico e uma gestão muito pontual quando se trabalha com seres vivos. Talvez aqui se encontre um dos pontos mais relevantes dessa cadeia produtiva que está em evidenciar os seres vivos envolvidos, no bem- estar animal, e num pensamento sistêmico, somos a parte final dessa cadeia quando consumimos tudo que nós mesmos produzimos. Assim, se no processo produtivo os suínos forem criados de forma inconsequente e fora dos padrões mínimos que a lei exige, não será

possível comercializá-los, pois irá potencializar o risco a saúde humana e gerará grandes inconvenientes à integradora.

É justamente para diminuir os riscos da cadeia que os contratos ganham força, tendo um acerto formal das responsabilidades de ambas as partes, integrado e integradora. De forma simplificada, nessa cadeia os produtores entram com a mão de obra e a infraestrutura necessária que geralmente financia nos bancos em seu nome. Já a indústria entra com as matrizes para cria/recria/terminação, os insumos e medicamentos necessários. O produtor se compromete em manter uma temperatura “x” no ambiente ao baixar e erguer as cortinas, tratar os animais nos horários certos, garantir o acesso à água, limpar as baias,... Tudo isso é orientado, monitorado e fiscalizado pelo técnico responsável da integradora com vistas a diminuir os riscos de baixa conversão e perdas de animais até a entrega final do lote.

Toda essa atenção ao processo produtivo se faz necessário por parte da integradora que precisa garantir um excelente produto final que irá fornecer aos consumidores, e mais do que isso, precisa ter garantias que não terá problemas futuros decorrentes da ineficiência de seus processos, tanto produtivos, quanto de gestão. Assim, os contratos proporcionam a integradora as garantias de que necessita para desenvolver o seu negócio, pois tem em todo o seu processo a influência do fator humano que é suscetível a erros, além de outras contingências inconvenientes que podem ocorrer.

Ao que se percebe, todo o know-how vem da integradora que busca transferir ao integrado através da assistência técnica específica buscando melhores resultados para todos os elos envolvidos. Também é ela quem tem maior responsabilidade, gerindo o ciclo do começo ao fim. O produtor integrado também corre riscos, porém de certa forma são em menores proporções, assim como a sua margem de lucro ao final do ciclo. Por ser a integradora que coordena todo o processo, o produtor se torna um empregado da mesma, e certamente tem mais deveres do que direitos no decorrer do ciclo produtivo, mas por outro lado, não viabilizaria uma produção em escala sem o roteiro tecnológico oferecido por ela.

Nesse sentido, é preciso ter um olhar sistêmico nesta cadeia para entender o seu dinamismo que hora beneficia mais um dos elos devido a dinâmica do mercado. Assim como outras cadeias, a suinocultura também tem um papel social de “empregar” o homem no campo e muitas vezes ser uma renda complementar a outras atividades. O que se deve buscar é o equilíbrio de interesses para conseguir manter essa cadeia produtiva sustentável.