• Nenhum resultado encontrado

O posicionamento do TJ/RS frente a súmula 377 STF: a necessidade de estabilidade e de segurança jurídica

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O posicionamento do TJ/RS frente a súmula 377 STF: a necessidade de estabilidade e de segurança jurídica"

Copied!
46
0
0

Texto

(1)

UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

LIANE MARIA REIS OZORIO

O POSICIONAMENTO DO TJ/RS FRENTE À SÚMULA 377 STF: A NECESSIDADE DE ESTABILIDADE E DE SEGURANÇA JURÍDICA

Ijuí (RS) 2015

(2)

LIANE MARIA REIS OZORIO

O POSICIONAMENTO DO TJ/RS FRENTE A SÚMULA 377 STF: A NECESSIDADE DE ESTABILIDADE E DE SEGURANÇA JURÍDICA

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Luiz Gustavo Steinbrenner

Ijuí (RS) 2015

(3)

Dedico este trabalho à Deus,à minha família, pelo incentivo, e a todos que acreditaram em mim nesta caminhada de estudos.

(4)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade reservada a mim, para realização deste sonho de graduação no curso de Direito.

Ao meu esposo e aos meus filhos pelo incentivo e compreensão nos momentos em que tive que estar ausente.

À minha família pelo apoio e incentivo nesta caminhada de estudo.

Ao meu orientador Luiz Gustavo Steinbrenner pela dedicação e paciência neste período de pesquisas, estudos e correções.

(5)

“O prêmio por uma coisa bem feita é tê-la feito”. Ralph Waldo Emerson

(6)

RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso tem como finalidade estudar a construção do direito civil no que tange aos regimes de bens, em especial o da separação obrigatória de bens frente a súmula 377 do STF, analisando a sua (in)aplicabilidade e o posicionamento do TJ/RS frente a essa discussão e a necessidade de estabilidade e de segurança jurídica . Com a evolução sociocultural e familiar, o direito civil tem se proposto a regular as relações patrimoniais familiares frente aos tipos de regime de bens contraídos. Neste cenário destaca-se o Regime de Separação Obrigatória de bens, estabelecido no artigo 1.641 do Código Civil, onde o legislador com o intuito de resguardar o patrimônio daquele que se enquadra como vulnerável em determinada relação afetiva, entendeu que a melhor alternativa seria a não comunicação de quaisquer bens, sejam os adquiridos antes ou depois de contrair o matrimônio.

(7)

ABSTRACT

The present final paper has as its goal to study a the construction of the civil right in reference of the property regime, in particular the mandatory separation of property forward the precedent 377 of the STF, analyzing its (in) applicability, and the positioning of the TJ/RS on this discussion and the necessity of stability and legal certainly. With the sociocultural and familiar evolution, the civil right has proposed to regulate family property relations regarding the types of contracted goods regime. In this scenario, stands out the Mandatory Separation property Regime of property established in article 1.641 of the Civil Code, where the legislator in order to protect the heritage of the one who fits as vulnerable in one particular affective relationship, understood that the best way would be no communication of goods, both acquired before or after the matrimony.

Keywords: Property Regime. Mandatory. Mandatory separation of property. Precedent 377 STF.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...08

1 REGIME DE BENS...09

1.1 Pacto Antenupcial...09

1.2 Regime da comunhão parcial de bens...10

1.3 Regime da comunhão universal de bens...12

1.4 Regime da participação final nos aquestos...13

1.5 Regime da separação legal ou obrigatória de bens...14

2 O REGIME DA SEPARAÇÃO LEGAL DE BENS E A (IN)COMUNICABILIDADE DOS BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DO CASAMENTO...16

2.1 O Regime da separação obrigatória de bens...16

2.2 O Posicionamento do TJRS frente a súmula 377 do STF ...20

CONCLUSÃO...24

REFERÊNCIAS ... ...26

(9)

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por finalidade mostrar um estudo sobre os regimes de bens existentes em nosso ordenamento jurídico, cada um com suas especificidades, visto que as relações patrimoniais da sociedade atual requer atenção frente à insegurança jurídica que se apresenta. Primeiro foi feito um breve relatos dos regimes de bens existentes no nosso Código Civil. Posteriormente no capítulo ll , foi aprofundado as pesquisas no que diz respeito mais especificamente ao casamento ou união estável regido pelo regime de separação obrigatória de bens.

Através de pesquisa bibliográfica, como também as jurisprudências, foi feito análise quanto à aplicabilidade ou não da súmula 377 do STF pelos magistrados do Rio Grande do Sul. Notadamente pode-se vislumbrar a insegurança jurídica existente sobre este tema. Pode se dizer que as divergências persistem quando o assunto é econômico. E a argumentação apresentada pelos diferentes posicionamentos sobre o mesmo tema encontra guarida em correntes doutrinárias divergentes, o que dificulta ainda mais a construção de uma estabilidade nas decisões proferidas no Rio Grande do Sul.

(10)

1 REGIME DE BENS

Os efeitos patrimoniais nas relações familiares é tema de suma importância, principalmente quando tratamos dos regimes de bens do casamento ou da união estável. Neste sentido este tema foi colocado por Gonçalves (2013, p. 440) quando menciona que “regime de bens é o conjunto de regras que disciplina as relações econômicas dos cônjuges, quer entre si, quer no tocante a terceiros durante o casamento”.

Nosso código civil brasileiro disciplina os regimes de bens sobre quatro perspectivas aplicáveis que são o da comunhão parcial, a comunhão universal, a participação final nos aquestos e a separação convencional. Podem, no entanto, os nubentes fazerem combinações criando um regime misto desde que não contrarie a natureza e os fins do casamento. Antes de discorrermos sobre os regimes de bens que regram o casamento como também a união estável, se faz necessário que façamos uma breve analise sobre o pacto antenupcial.

1.1 Pacto antenupcial

O pacto antenupcial como expos Gonçalves (2013, p.465), ”é um contrato solene e condicional, por meio do qual os nubentes dispõem sobre os regimes de bens que vigorará entre ambos, após o casamento”. O requisito de ser solene é de tamanha importância, uma vez que será nulo se não for feito por escritura pública, e condicional, pois está condicionado ao casamento, ou seja, só terá eficácia se o casamento se concretizar, em não se realizado o casamento o pacto antenupcial não ter produzirá efeito jurídico. Como está posto no artigo 1.653 do Código Civil.

Em não sendo feito o pacto antenupcial, ou se este for nulo ou ineficaz será aplicado o regime da comunhão parcial, quanto aos bens entre os cônjuges segundo regra estabelecida pelo artigo 1.640 do Código Civil. A lei através deste regime supletivo supre o silencio das partes. Para a celebração do pacto antenupcial as partes devem apresentar a mesma capacidade exigida para a celebração do casamento.

(11)

O artigo 1.657 do Código Civil estabelece que para o pacto antenupcial ter validade contra terceiros, o mesmo deve ser registrado em livro especial, pelo oficial de Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. Não observado este disposto da lei o regime escolhido só vale entre os cônjuges. Importante se faz ressaltar que as convenções do pacto antenupcial devem ser feitas de forma que não violem disposição de lei imperativa ou proibitiva, como preceitua o artigo 1.655 do Código Civil, para melhor exemplificar, não terá valor cláusula que firam os direitos conjugais, paternos e maternos.

Também o legislador no artigo 1.639, §2º, do Código Civil menciona que, mesmo sendo estipulado pelo pacto antenupcial qual o regime de bens para o casamento é permitida a alteração desde que se fundamente em razões invocadas por ambos os cônjuges, mediante autorização judicial, sempre com ressalva dos direitos de terceiros. Simões (2015, p.106) salienta “[...] a sentença que autoriza a modificação de regime de bens do casal, esta servirá como justo título para expedição de mandados a fim de que os cartórios de registro civil e de imóveis procedam a devida averbação [...]”. A necessidade de autorização judicial para a alteração de regime de bens se faz para que não sejam forjados casamentos em diferentes regimes para prejudicar terceiros ou até mesmo um dos cônjuges.

1.2 Regime da comunhão parcial de bens

O regime da comunhão parcial está disposto no artigo 1.640 do Código Civil, também é chamado de regime legal por ser o regime de bens aplicado quando não houver sido estipulado no pacto antinupcial ou se o fizeram de forma nula ou ineficaz. Nos artigos 1.658 a 1.666 do Código Civil estão especificados os norteadores deste regime, que Rodrigues (2004, p.178) sintetiza dizendo

Regime de comunhão parcial é aquele em que basicamente se excluem da comunhão os bens que os cônjuges possuem ao casar ou que venham adquirir por causa anterior e alheia ao casamento, como as doações e sucessões.

Vindo entrar em comunhão apenas os bens adquiridos posteriormente a título oneroso. Para melhor esclarecer, se um dos cônjuges tiver reivindicado um bem

(12)

antes do casamento e vier a recebê-lo após a celebração do casamento, este bem não se comunica ao ou cônjuge.

Este regime deslumbra a possibilidade da existência de três patrimônios distintos sendo o patrimônio pessoal do homem, o da mulher, e o patrimônio comum formado pelos bens que foram adquiridos na constância do casamento ou da união estável.

Os bens que se excluem da comunhão são aqueles citados pelo artigo 1.659 do código civil, bem como no artigo seguinte estão elencados os bens que entram na comunhão. Importante e necessário é ressaltar que os bens adquiridos ainda que na constância do casamento, mas em substituição a um bem particular estes não integram o patrimônio comum. Os bens móveis que em que não se provar a data de sua aquisição serão considerados integrantes do patrimônio comum.

Neste regime de bens a administração poderá ser feita por qualquer um dos cônjuges, e se o administrador contrair dívidas em beneficio de bens particulares, apenas os bens particulares responderão por estas dívidas. Gonçalves (2013, p.482) conclui sobre este regime “dissolvida a sociedade conjugal, conserva cada cônjuge o que lhe pertence a titulo de acervo particular, dividindo-se os bens comuns na conformidade dos princípios que norteiam a partilha no regime da comunhão universal de bens”. Havendo manifestação do doador ou testador em relação aos bens para que estes sejam dispostos para ambos os conjugues estes são excluídos da incomunicabilidade.

Ementa: APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE DIVÓRCIO.

PARTILHA. 1. Sendo o casamento regido pelo regime da comunhão parcial, devem ser partilhados, de forma igualitária, os bens adquiridos a título oneroso, na constância da vida em comum. 2. É inviável a partilha do imóvel pretendido pela ré, quando não consta nos autos prova documental da existência e da aquisição pelo casal na constância da vida conjugal. RECURSO DESPROVIDO. (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

A administração dos bens é comum quando se tratar de bens comuns do casal, ou seja, os adquiridos na constância do casamento ou da união estável, no que tange aos bens particulares cabem a cada proprietário administrá-los, impondo

(13)

a lei a exigência da outorga marital ou uxória para os atos de alienação de bens imóveis.

1.3 Regime da comunhão universal de bens

Os artigos 1.667 a 1.671 do Código Civil dispõem sobre o regime da comunhão universal. Este regime, como explica Gonçalves (2013, p.482),

é aquele em que se comunicam todos os bens, atuais e futuros, dos cônjuges, ainda que adquiridos em nome de um só deles, bem como as dívidas posteriores ao casamento, salvo os expressamente excluídos pela lei ou pela vontade dos nubentes

Este regime deve ser estipulado por pacto antenupcial. Para que não haja comunicabilidade de algum bem em especial este deve ser expresso em cláusula de incomunicabilidade conforme se depreende da jurisprudência do TJRS.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. CASAMENTO PELO REGIME DA COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS. CLÁUSULA DE INCOMUNICABILIDADE E IMPENHORABILIDADE. O regime da comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros (art. 1667 do CC). Todavia, são excluídos da comunhão os bens doados ou herdados com clausula de incomunicabilidade, nos termos do art. 1668 do CC. A escritura de doação e partilha amigável revela que os bens penhorados foram recebidos pela esposa do devedor tributário com cláusula de impenhorabilidade e incomunicabilidade. Não servem, portanto, para a garantia do crédito tributário executado. Apelação desprovida. (RIO GRANDE DO SUL, 2012, grifo do autor).

Os bens excluídos da comunhão estão elencados no artigo 1.668 do Código Civil. Porém esta incomunicabilidade não se estende aos seus frutos percebidos durante o casamento. Neste regime a administração dos bens pode ser feita por qualquer um dos cônjuges, ou seja, é feita da mesma forma estabelecida para o regime de comunhão parcial. Havendo, no entanto, dissolução do casamento ou da união estável, extingue-se a comunhão, e não havendo comunhão as obrigações se tornam pessoais, ou seja, cada um responde apenas pelas dívidas que contraiu Não é permitido no regime de comunhão universal os cônjuges contratar sociedade entre si, como dispõe o artigo 977 do Código Civil.

(14)

A extinção da comunhão universal se dá pela dissolução da sociedade conjugal pela morte de um dos cônjuges, pela sentença de nulidade ou anulação do casamento, como também pelo divórcio.

1.4 Regime da participação final nos aquestos

O regime da participação final nos aquestos está disciplinado no artigo 1.672 a 1.686 do Código Civil, sendo que este regime também depende de pacto antenupcial, e nele se aplicam durante ao casamento as regras da separação total de bens, e após a sua dissolução as regras da comunhão parcial, ou seja, na dissolução do casamento se comunicam apenas os bens adquiridos a título oneroso na constância do casamento. A administração dos bens neste regime é feita de forma particular, ou seja, na constância do casamento cada cônjuge administra seu patrimônio de forma livre, porém em caso de disposição de bens imóveis depende da outorga do seu cônjuge. Em se tratando de bens móveis o paragrafo único do artigo 1.673 do Código Civil leciona dizendo que “a administração desses bens é exclusiva de cada cônjuge, que os poderá livremente alienar se forem bens móveis”, isto posto, deixa claro que os bens móveis podem ser vendidos livremente.

A atenção devida deve ser dada no que tange a dissolução do casamento em que vige este regime, para que se faça de forma correta, para tanto devem ser apurados os bens anteriores ao casamento de cada cônjuge, os que sobrevieram a cada um por sucessão ou liberalidade, como também as dividas relativas a esses bens, para que se faça a exclusão dos mesmos da partilha. Caberá à partilha os bens adquiridos na constância do casamento e os bens móveis, sendo possível a sua exclusão da partilha se comprovada que sua aquisição foi anterior ao casamento. Nos bens em comum será partilhado de forma igualitária para partes.

O artigo 1.684 do Código Civil ressalva ainda que, podem as partes optar por repor em dinheiro a parte dos bens que for impossível ou inconveniente a sua divisão. O que torna mais prática a dissolução por vias pacíficas.

Na jurisprudência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, chama atenção em não haver casos de litígios na dissolução deste regime, encontrando

(15)

apenas uma jurisprudência referente a solicitação de mudança do regime de comunhão parcial de bens para o regime de participação final nos aquestos.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS.

CABIMENTO, NO CASO. Caso concreto em que deve ser deferido o pedido de alteração do regime de bens do casamento, da comunhão parcial de bens para participação final nos aquestos, com eficácia ex nunc. Sentença reformada. APELAÇÃO PROVIDA, POR MAIORIA. (RIO GRANDE DO SUL, 2014)

Esta significativa constatação ao pesquisar o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, serve para chamar a atenção quanto a esse regime de bens, pois o número de litígios é visivelmente baixo, isto certamente devido à clareza estabelecida nas normas que norteiam tal regime de bens.

Por fim, o artigo 1.685 do Código Civil esclarece que quando a dissolução da sociedade conjugal se der por morte de um dos cônjuges, o critério de participação nos aquestos não se altera, visto que ao sobrevivente tocará a respectiva meação e aos herdeiros do falecido a outra, isto depois de se apurar o patrimônio próprio de cada cônjuge. A apuração da participação dos bens é feita em etapas, primeiramente se verifica o acréscimo patrimonial de cada cônjuge, depois se apura os valores para compensação e identificação do saldo em favor de um ou de outro e por fim a execução do crédito apurado.

1.5 Regime da separação legal ou obrigatória de bens

Posto nos artigos 1.687 e 1.688 do Código Civil está a separação legal convencionada em pacto antenupcial, onde os cônjuges optam pela incomunicabilidade total dos bens. Cada um administra separadamente seus bens e seus rendimentos, podendo livremente alienar e gravar de ônus real seu patrimônio. Ficando desta forma responsável pelas dívidas que possa vir a contrair independente de serem anteriores ou posteriores ao casamento.

Na dissolução do casamento pelo divórcio cada um dos cônjuges permanece com seus bens, nada havendo para partilhar entre si. Quando a dissolução é por morte, existindo descendentes o cônjuge sobrevivente terá direito ao seu quinhão de herança na mesma linha que este conforme estipula o artigo 1.829 do Código Civil.

(16)

Existindo apenas ascendentes o cônjuge sobrevivente concorrerá com estes, e em não existindo descendentes nem ascendentes o cônjuge sobrevivente independente de ser o regime de separação de bens herda a totalidade dos bens.

Quanto ao regime de separação obrigatória de bens que está disposto no artigo 1.641 do Código Civil nos propomos a aprofundar o estudo o qual será tema exclusivo no próximo capítulo deste trabalho. Dispõe o artigo 1.641 do Código Civil,

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas

suspensivas da celebração do casamento; II - da pessoa maior de sessenta anos;

II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.344, de 2010)

III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. (BRASIL, 2015, grifo do autor).

É nesta obrigatoriedade que repousa muitas discussões e divergências, visto que tal imposição recebe olhar que afirma sua inconstitucionalidade, segundo posicionamento de Rodrigues (2004, p.144-145) e de igual forma se posiciona Diniz (2009, p.165) devido tal regime ser obrigatório nos casos previstos no artigo acima citado, não dando liberdade de escolha aos cônjuges que se encontram em tal situação, o princípio da dignidade da pessoa humana é claramente violado, na visão de muitos doutrinadores quando se referem a imposição dada por esse artigo. Mas há doutrinadores que concordam com tal imposição legal uma vez que se vislumbra a necessidade de proteger o patrimônio daqueles que em situação de vulnerabilidade frente à relação afetiva que os motiva ao casamento.

(17)

2. O REGIME DA SEPARAÇÃO LEGAL DE BENS E A (IN)COMUNICABILIDADE DOS BENS ADQUIRIDOS NA CONSTÂNCIA DO CASAMENTO.

2.1 O Regime de Separação obrigatória de bens

Como podemos observar na leitura do artigo 1.641 do Código Civil, é imposto este regime às pessoas que desejam se casar e que enquadram-se em alguma destas situações.

Art. 1.641. É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento;

II - da pessoa maior de sessenta anos;

II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; (Redação dada pela Lei nº 12.344, de 2010)

III - de todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial. (BRASIL, 2015, grifo do autor).

Este é um regime imposto pela norma, não há necessidade de pacto antenupcial, ou seja, não se dá aos cônjuges a escolha por outro regime senão por este visto que estando estes enquadrados em alguma das especificações deste artigo é obrigatório que este seja observado.

Em seu inciso I o artigo 1.641 do Código Civil especifica que é obrigatória a separação de bens no casamento quando da celebração deste não forem observadas as causas suspensivas da celebração do casamento, que são aquelas previstas no artigo 1.523 do Código Civil, por mais que tenham a nomenclatura de suspensivas estas causas não impossibilitam o casamento, apenas suspendem a escolha do regime de bens do casamento.

Art. 1.523. Não devem casar:

I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros;

II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;

III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal;

(18)

IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas. Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV deste artigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. (BRASIL,2015).

Para que não haja confusão patrimonial, o legislador aconselha que não se casem quando se encontraremos cônjuges nestas situações, contudo estas causas suspensivas não tornam o casamento nulo ou anulável, mas ensejam a separação obrigatória.

Em seu inciso ll, o artigo 1.641 do Código Civil expõe a obrigatoriedade de separação dos bens quando se tratar de pessoa maior de setenta anos, por considerarem os legisladores que nesta faixa etária o estado de vulnerabilidade se acentua. Neste tema encontramos divergências significativas por parte de doutrinadores que afirmam que tal norma afronta diretamente o Estatuto do Idoso como afirma Dias (2011, p.248) “a limitação da vontade, em razão da idade, longe de se constituir em uma precaução (norma protetiva), se constituiu em verdadeira sanção”, não podendo o cônjuge optar pelo regime de bens que melhor lhe parecer pelo fato de ser considerado incapaz para tanto em virtude de sua idade avançada, presumindo não se ter capacidade mental para tanto.

A capacidade mental deve ser aferida caso a caso. Como também podemos pensar que há legisladores com idade avançada e que por isto não é considerado incapaz para atuar. É importante frisar que o legislador impõe esta norma a pessoa maior de setenta anos mesmo que esta não tenha nenhum bem,ou seja, não há o que se proteger, se esta é a função principal de tal norma ,é descabida, sendo como uma sanção obrigatória por ter esta idade, e não por possuir montante de bens patrimoniais. Tratando-se claramente uma violação ao princípio da dignidade da pessoa humana tirando-lhe a liberdade de escolha quanto ao seu casamento. Rodrigues (2004, p.144-145) pondera “a restrição apontada se mostra atentatória a

(19)

liberdade individual e que a tutela excessiva do Estado sobre pessoa maior e capaz decerto é descabida e injustificável”.

Ao contrário se posicionam doutrinadores como Silva quando atualizou a obra de Monteiro (2004, p.218) “se reconhecidos os maiores atrativos de quem tem fortuna, um casamento seja realizado por meros interesses financeiros”. Observando que se faz prudente tal imposição, pois não raros são os casamentos em que figuram cônjuges com grande diferença de idade, e para evitar que se aumentem os ditos “golpes patrimoniais” faz se necessário tal imposição deste regime de bens para se evitar que pessoas consideradas afetivamente vulneráveis sejam prejudicadas.

Em seu inciso lll, o artigo 1.641 do Código Civil impõe a separação dos bens aos cônjuges que para a celebração do seu casamento necessitarem de suprimento judicial. Quando o suprimento judicial for em razão de os nubentes não possuírem idade suficiente para a celebração do casamento, tão logo atingindo tal capacidade podem por meio de autorização judicial requerer a alteração do regime de bens para o que melhor lhe parecer com base no artigo 1.649 § 2º do Código Civil.

Na separação obrigatória de bens os bens particulares de cada cônjuge não se comunicam, como também não necessitam de outorga para vender seus bens aos seus descendentes, e não possuirão direitos sucessórios quando do falecimento do seu cônjuge.

Com a intenção de mais uma vez resguardar os vulneráveis o STF editou a Súmula 377, onde menciona que os bens adquiridos na constância do casamento regido pelo regime da separação obrigatória de bens se comunicam, nascendo aqui mais divergências, causando tamanha confusão, pois não menciona a necessidade de provar se houve conjunção de esforços ou não na aquisição dos bens adquiridos após o casamento, reduzindo claramente e em nada diferente do regime de comunhão parcial de bens. Visto que deixa a Súmula 377 do STF esta lacuna, não se referindo na colaboração ou não por parte dos cônjuges na aquisição dos bens, ou seja, abre precedente para que mesmo que em nada tenha colaborado um dos cônjuges este passa a ter direitos sucessórios quanto a estes bens. Prestigiando o enriquecimento sem causa.

(20)

A aplicabilidade da súmula 377 do STF abre precedente também para divergências quanto à administração dos bens adquiridos na constância do casamento, pois inicialmente na separação obrigatória de bens não havia a necessidade de anuência do cônjuge para se alienar ou agravar bem que não lhe era pertencente. Passando a existir bens em comum passa a ter esta exigência de anuência para tal realização. Dias (2011, p.251) coloca que “o casamento gera plena comunhão de vida (CC1. 511)”, e que este faz surgir verdadeiro vinculo de solidariedade.

Neste regime de bens quando a dissolução se der por morte de um dos cônjuges, se houver descendentes o cônjuge sobrevivente não terá direito a meação, mas se houver ascendentes o cônjuge sobrevivente terá direito a herança na mesma proporção que estes, em não havendo descendentes nem ascendentes o cônjuge sobrevivente terá direito a herança na sua totalidade.

Outro caso importante de se observar é quando se trata da residência dos cônjuges, independente de ser o regime de separação obrigatória é assegurado ao cônjuge sobrevivente o direito real de habitação, posto no artigo 1.831 do Código Civil.

Notados os posicionamentos divergentes dos doutrinadores, pertinente se faz o exame jurisprudencial que foi feito nos tribunais do Rio Grande do Sul com o intuito de se visualizar claramente a insegurança jurídica que há em se tratando na aplicabilidade ou não da Súmula 377 do STF em virtude de seus resultados serem de suma importância para o analise e construção do saber jurídico no referido tema.

(21)

2.2 O Posicionamento do TJRS frente a súmula 377 do STF

A jurisprudência por sua vez se mostra divergente conforme se observa nos acórdãos proferidos nos tribunais do Rio grande do Sul, pois mesmo que o legislador ao editar a súmula 377 do STF teve a intensão de melhor regular a separação obrigatória de bens dispondo que “no regime de separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”, silencia sobre a necessidade da comprovação de esforços na aquisição dos bens, o que abre precedentes para que se presuma a conjunção de esforços em virtude de se estabelecer vida em comum com o casamento, como também se depare com a necessidade de que seja comprovado esse esforço uma vez que pode haver um casamento onde um dos cônjuges em nada participe na questão patrimonial, quando um dos cônjuges não tem nenhuma atividade remunerada que possa colaborar na aquisição dos bens. Diniz (2009, p.196) assevera,

parece-nos que a razão está com os que admitem a comunicabilidade dos bens futuros,no regime de separação obrigatória,para evitar o enriquecimento indevido(CC,art.884 e 886)desde que sejam produto de esforço comum do trabalho e da economia de ambos,ante o principio de que entre os consortes se constitui uma sociedade de fato por haver comunhão de interesses.

Nos tribunais do Rio Grande do Sul, conforme a pesquisa mostra que são distintos os posicionamentos quanto à aplicabilidade ou não da súmula 377 do STF conforme podemos ver na decisão proferida na ementa aqui exposta e que colocamos na integra como anexo (1) para melhor embasar o estudo.

Ementa: DIVÓRCIO LITIGIOSO. PARTILHA DE BENS. REGIME DA

SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS. COMUNICAÇÃO DOS AQÜESTOS. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 377. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ERROR IN PROCEDENDO. PERÍCIA. 1. Não se vislumbra negativa de prestação jurisdicional, quando a Juíza indefere o pedido de produção de prova pericial, por entendê-la desnecessária. 2. Não havendo juízo de retratação pela interposição do agravo retido, desnecessária a imediata intimação da parte contrária para apresentar contra-razões, na medida em que poderá se manifestar havendo reiteração do pedido de apreciação do recurso na apelação. 3. Desnecessária a realização de perícia quando não reconhecido o direito da virago à partilha de bens. 4. Não se aplica ao caso a Súmula 377 do STF, pois restou cabalmente comprovado que todos os bens foram adquiridos na constância do casamento com recursos exclusivos do varão, não podendo se presumir qualquer contribuição da reconvinte. 5. Descabida a fixação de

(22)

alimentos em favor da virago, quando ela recebe benefício previdenciário, possui dos imóveis, um locado e outro para moradia e ainda possuía aplicações bancárias até o ano do divórcio. 6. A assistência judiciária gratuita é exceção dentro do sistema judiciário pátrio e o benefício deve ser deferido somente àqueles que são efetivamente necessitados na acepção legal, pois visa assegurar o acesso à Justiça de quem não possui recursos para atender as despesas do processo sem acarretar sacrifício ao seu sustento ou ao de sua família, e evidentemente não é o caso da reconvinte. Agravo retido desacolhido e recurso de apelação desprovido. (RIO GRANDE DO SUL, 2014).

No caso em tela pode se ver claramente a posição firmada pelos magistrados, em todos os passos dados foi afastada a possibilidade da aplicação da Súmula 377 do STF, pois por se tratar de ter o cônjuge contraído matrimonio após os 70 anos de idade, o pacto antenupcial não é necessário, sendo obrigado a separação total dos bens. A alegação de participação nos frutos percebidos pela empresa da qual o marido fazia parte, também é descabida visto que já possuía a empresa quando se casou com Cenira, o fato de ela possuir imóvel para moradia não lhe da direito a pleitear um imóvel para si, e como restou claro em declaração feita por ela mesma de que havia deixado de trabalhar após o casamento, não houve participação da mesma para as melhorias realizados nos imóveis, nem no desenvolvimento da empresa que segundo ela deveria ser periciada.

Na seguinte jurisprudência a ser analisada foi afastada qualquer possibilidade de participação nos aquestos, sustentando que a súmula 377 do STF não prescinde da prova de esforço comum de ambos os cônjuges na aquisição dos bens adquiridos na constância do casamento. Visualiza-se a necessidade de se comprovar este esforço quando alegado.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIVÓRCIO. PARTILHA. SEPARAÇÃO

OBRIGATÓRIA DE BENS. COMUNICAÇÃO PATRIMONIAL SE HOUVER PROVA DE AQUISIÇÃO CONJUNTA. ALIMENTOS AO FILHO. 1. PARTILHA. A aplicação da Súmula 377 do STF, que estabelece a comunicabilidade dos aquestos no regime da separação obrigatória de bens, não prescinde da prova do esforço comum de ambos os cônjuges na formação do patrimônio, pena de favorecer o enriquecimento sem causa. 2. ALIMENTOS. Cotejados todos os elementos dos autos, em especial o fato de o filho de seis anos de idade não demandar gastos excepcionais, bem como o igual dever de sustento da genitora para com a prole, se mostra adequada a redução do percentual de alimentos de 30% para 25% do salário líquido do apelante. DERAM PROVIMENTO EM PARTE. UNÂNIME. (RIO GRANDE DO SUL, 2012).

(23)

Divergente se posiciona o tribunal no caso que posteriormente se analisará, e que também consta como anexo (2) na integra, deste salientando a aplicabilidade da Súmula 377 do STF, lecionando sobre a necessidade ou não de se comprovar o esforço comum na aquisição dos bens na constância do casamento.

EMENTA: APELAÇÃO. DIVÓRCIO. PARTILHA. SÚMULA N.º 377, DO STF. DIVERGÊNCIA DE INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO. INCIDENTE DE COMPOSIÇÃO DE DIVERGÊNCIA. HÁ DIVERGÊNCIA ENTRE OS JULGADOS DESTA CORTE E TAMBÉM PERANTE O EGRÉGIO STJ, EM RELAÇÃO A APLICAÇÃO DA SÚMULA N.º 377, DO STF, CONSISTENTE EM DECIDIR SE NO REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA O ESFORÇO COMUM PARA A AQUISIÇÃO DE BENS É PRESUMIDO OU SE EXIGE PROVA CONCRETA. NECESSIDADE DE ESTABILIDADE E DE SEGURANÇA JURÍDICA QUE REVELAM A EXISTÊNCIA DE RELEVANTE QUESTÃO DE DIREITO, A JUSTIFICAR SEJA SUSCITADO O INCIDENTE DE COMPOSIÇÃO DE DIVERGÊNCIA PREVISTO NO ART. 555, § 1º, DO CPC, E NO ART. 13, II, ‘B’, §§ 1º E 2º, DO RITJRGS. SUSCITARAM INCIDENTE DE COMPOSIÇÃO DE DIVERGÊNCIA, REMETENDO O RECURSO PARA JULGAMENTO PERANTE O 4º GRUPO CÍVEL. (RIO GRANDE DO SUL, 2015).

Após a leitura deste caso vem se confirmar o que nos propomos estudar com maior profundidade, que é a diferença de posicionamentos que temos em nossos tribunais, tanto que no caso em tela, por haver tamanha discordância entre os Desembargadores, que houve a necessidade de suscitar incidente de composição de divergência, remetendo o recurso para julgamento perante outro grupo cível, em razão de discordância sobre a necessidade de se comprovar ou não se houve conjunção de esforços na aquisição do imóvel que ensejam a partilha.

Frente a esses posicionamentos divergentes observados no TJ/RS permeia uma insegurança jurídica neste sentido, uma vez que não se sabe qual será o posicionamento que será adotado frente a uma ação proposta no Rio Grande do Sul.

Devido a esta divergência existente há quem aposte na revogação da Súmula 377 do STF, ou tacitamente a considere revogada por considerar que a edição da referida súmula não tem cabimento, ou ainda, que em sendo aplicada contraria totalmente sua fundamentação inicial, visto que se o legislador editou a súmula 377 do STF para se evitar o enriquecimento sem causa, e não menciona a necessidade de comprovação comum de esforço, a súmula vem corroborar o

(24)

enriquecimento daquele que em nada ajudou na aquisição dos bens adquiridos na constância do casamento.

A alteração da referida súmula também poderia ser um meio de minimizar as divergências, na medida em que tal alteração esclarecesse quando a comprovação do esforço, estabelecendo que este deveria ser comprovado por parte dos cônjuges interessados nos aquestos resultantes do casamento.

(25)

CONCLUSÃO

A insegurança jurídica que existe em nosso dia a dia faz com que nos debruçamos sobre alguns temas para analisarmos como operadores do direito o nosso ordenamento jurídico e as lacunas nele existentes. Sabe-se que por se tratar de temas que envolvem valores econômicos e patrimoniais as divergências se acirram e o indivíduo caminha sem certeza de que rumo as decisões dos tribunais vão chegar. Frente a essa instabilidade que os legisladores por vezes vêm buscando melhor posicionar-se e para isto há a necessidade de criar súmulas como remédio a efetivação das normas já postas.

Buscamos por meio deste trabalho, mostrar um pouco dos resultados encontrados nos tribunais do Estado do Rio Grande do Sul, referente aos regimes de bens que orientam os casamentos, mais especificamente o com separação obrigatória de bens, seus requisitos e a aplicabilidade ou inaplicabilidade da Súmula 377 do STF, e pode-se confirmar a necessidade de maior atenção a este assunto, uma vez que o caminho que se busca é a estabilidade jurídica, ou ainda, a segurança efetiva dos direitos através do ordenamento jurídico.

A necessidade de se comprovar ou não se houve esforço em comum dos cônjuges na aquisição dos bens adquiridos na constância do casamento por vezes é deixada de lado, como também por alguns magistrados é chamada a sua comprovação. E é este caminho que às vezes incerto se percorre em busca de uma solução para os conflitos. Claramente constatamos a necessidade de uma construção mais uniforme nas decisões jurídicas, para se chegar o mais perto possível da estabilidade, saber o que se busca e o que se vai alcançar.

O mundo evolui, a sociedade evolui, e nosso ordenamento jurídico tem obrigatoriamente a necessidade de evoluir, pois vimos que mesmo sendo a súmula 377 do STF editada para tentar solucionar uma lacuna existente, para o momento ela está ultrapassada perante o olhar de alguns doutrinadores, o que chama a atenção daqueles que procuram a melhor forma de aplicar as leis .

(26)

Para que tenhamos uma construção uniforme na aplicabilidade das leis, pertinente se faz que estas sejam averiguadas com precisão por aqueles que tem como função examiná-las e corrigi-las quando suscitada tal necessidade.

(27)

REFERÊNCIAS

BRASIL. Código Civil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 04 maio 2015.

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 8. ed. revista, atualizada e ampliada: São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. vol 5. Direito de Família, 24. ed. Reformulada. São Paulo: Saraiva, 2009.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol 6. Direito de Família. 10. ed .São Paulo: Saraiva, 2013.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 4.ed. v.2. São Paulo:Saraiva, 1960; 32.ed. 1995; 37.ed. atualizada por Regina Beatriz Tavares da Silva, 2004.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 28 ed. v.6. Atualização de Francisco José Cahali. São Paulo: Saraiva, 2004.

SIMÕES, Thiago Felipe Vargas .Regime de bens no casamento e na união estável. Porto Alegre: Livraria do Advogad, 2015.

RIO GRANDE DO SUL. Apelação Cível Nº 70046424230, Vigésima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Aurélio Heinz, Julgado em

21/03/2012. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=apela%C3%A7%C3%A3o+civel+&proxystyle sheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica -site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF- 8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=&site=ementario&as_epq= &as_oq=&as_eq=&partialfields=n%3A70046424230&as_q=+#main_res_juris>. Acesso em: 18 maio 2015.

______. Apelação Cível Nº 70047366299, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 10/05/2012. Disponivel em: http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index &filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica- site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=&site=ementario&as_epq= &as_oq=&as_eq=&partialfields=n%3A70047366299&as_q=+#main_res_juris.Acesso em 12 de nov. 2015.

(28)

______. Apelação Cível Nº 70060664166, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 16/10/2014. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=apela%C3%A7%C3%A3o+civel+&proxystyle sheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica

-site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=apela%C3%A7%C3%A3o +civel+&site=ementario&as_epq=&as_oq=&as_eq=&partialfields=n%3A7006066>. Acesso em: 18 maio 2015.

______. Apelação Cível Nº70062617592, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator Sergio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em17/12/2014.

Disponível em:

<http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=inaplicabilidade+da+sumula+377+stf&proxyst ylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politi

ca-site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=&site=ementario&as_epq= &as_oq=&as_eq=&as_q=+#main_res_juris>. Acesso em: 09 out. 2015.

______. Apelação Cível Nº70063167514, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS. Relator José Pedro de Oliveira Eckert. Julgado em 12/02/2015. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_inde x&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica- site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=&site=ementario&as_epq= &as_oq=&as_eq=&partialfields=n%3A70063167514&as_q=+#main_res_juris>. Acesso em: 09 out. 2015.

______. Apelação Cível Nº 70063710644, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 25/03/2015. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=apela%C3%A7%C3%A3o+civel+&proxystyle sheet=tjrs_index&client=tjrs_index&filter=0&getfields=*&aba=juris&entsp=a__politica -site&wc=200&wc_mc=1&oe=UTF-8&ie=UTF-8&ud=1&lr=lang_pt&sort=date%3AD%3AS%3Ad1&as_qj=apela%C3%A7%C3%A3o +civel+&site=ementario&as_epq=&as_oq=&as_eq=&partialfields=n%3A7006371064 4&as_q=+#main_res_juris>. Acesso em: 18 maio 2015.

(29)

ANEXOS

ANEXO 1

DIVÓRCIO LITIGIOSO. PARTILHA DE BENS. REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS. COMUNICAÇÃO DOS AQÜESTOS. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 377. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ERROR IN PROCEDENDO. PERÍCIA. 1. Não se vislumbra negativa de prestação jurisdicional,

quando a Juíza indefere o pedido de produção de prova pericial, por entendê-la desnecessária. 2. Não havendo juízo de retratação pela interposição do agravo retido, desnecessária a imediata intimação da parte contrária para apresentar contra-razões, na medida em que poderá se manifestar havendo reiteração do pedido de apreciação do recurso na apelação. 3. Desnecessária a realização de perícia quando não reconhecido o direito da virago à partilha de bens. 4. Não se aplica ao caso a Súmula 377 do STF, pois restou cabalmente comprovado que todos os bens foram adquiridos na constância do casamento com recursos exclusivos do varão, não podendo se presumir qualquer contribuição da reconvinte. 5. Descabida a fixação de alimentos em favor da virago, quando ela recebe benefício previdenciário, possui dos imóveis, um locado e outro para moradia e ainda possuía aplicações bancárias até o ano do divórcio. 6. A assistência judiciária gratuita é exceção dentro do sistema judiciário pátrio e o benefício deve ser deferido somente àqueles que são efetivamente necessitados na acepção legal, pois visa assegurar o acesso à Justiça de quem não possui recursos para atender as despesas do processo sem acarretar sacrifício ao seu sustento ou ao de sua família, e evidentemente não é o caso da reconvinte. Agravo retido desacolhido e recurso de apelação desprovido.

APELAÇÃO CÍVEL SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70062617592 (N° CNJ: 0454322-07.2014.8.21.7000)

COMARCA DE CAXIAS DO SUL

C.T.R.F. .. APELANTE A.A. .. APELADO

A C Ó R D Ã O

(30)

Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, desacolher o agravo retido e negar provimento ao recurso de apelação.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, as eminentes Senhoras DES.ª LISELENA SCHIFINO ROBLES RIBEIRO E DES.ª SANDRA BRISOLARA MEDEIROS.

Porto Alegre, 17 de dezembro de 2014.

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES, Relator.

R E L A T Ó R I O

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR)

Trata-se da irresignação de CENIRA T. R. F. com a r. sentença que julgou improcedente a reconvenção que propôs contra ALBERTO A., para o fim de: (a) indeferir o pedido de alimentos e de partilha de bens e da evolução patrimonial da empresa ACRE CAXIAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ABRASIVOS LTDA. e (b) condenar a ré/reconvinte ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios ao procurador do adverso, estes fixados em 5 salários mínimos.

Opostos embargos declaratórios por ALBERTO A., foram eles providos, para determinar que o box de garagem matrícula nº 46.661, do imóvel constituído do apartamento nº 41, localizado na rua Andrade Neves, nº 542, em Caxias do Sul, matrícula nº 46.660, também não pode ser partilhado e indeferir o pedido da ré, relativo à meação por melhorias realizadas no imóvel de propriedade exclusive do requerente, objeto da matrícula nº 19.305.

(31)

Sustenta a recorrente, em preliminar, que a sentença deve ser cassada, pois não houve a devida prestação jurisdicional com relação a produção da prova técnica requerida, com violação ao art. 93, inc. IX da CF. Alega que o juízo a quo deveria ter oportunizado à parte contrária a apresentação de contra-razões ao agravo retido. Aduz que é necessária a realização de perícia contábil na empresa ACRE CAXIAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ABRASIVOS LTDA., da qual o recorrido detém um terço do capital social, ante a fundada suspeita de que a pessoa jurídica teria sido utilizada para a ocultação de bens passíveis de partilha. Diz que, para apurar a existência de ativos financeiros após o casamento, deve ser decretada a quebra do sigilo bancário de ambas as partes. No mérito, diz que no regime da separação obrigatória de bens, quando inexiste pacto antenupcial, devem ser partilhados os aquestos adquiridos onerosamente na constância da sociedade conjugal. Refere que a obrigação alimentar entre os ex-cônjuges é proveniente do dever se solidariedade e de mútua assistência. Diz que restou comprovado nos autos que antes do matrimônio ela exercia atividade remunerada, como massoterapeuta, com o que provia o seu sustento. Afirma que ALBERTO a proibiu de trabalhar, sob o argumento de que ele desfrutava privilegiada condição financeira. Diz que o fato de ser proprietária de dois imóveis, um destinado à locação e outro reservado para moradia própria, além de receber pensão previdenciária equivalente a um salário mínimo não justifica a dispensa do auxílio material do ex-marido, mormente considerando as patologias que a acometem. Sustenta que, na ausência de pacto antenupcial, ainda que o regime matrimonial seja o da separação obrigatória de bens, instala-se no regime da comunhão parcial, fazendo com que os supervenientes e adquiridos onerosamente de terceiros na constância conjugal, sujeitam-se à partilha em caso de divórcio. Aponta que a evolução patrimonial da empresa ACRE CAXIAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ABRASIVOS LTDA., durante o casamento e na proporção da participação do recorrido deve ser partilhada. Acrescenta que atualmente o seu estado é de pobreza, motivo pelo qual faz jus ao benefício da assistência judiciária gratuita. Pretende sejam acolhidas as preliminares argüidas e provido o agravo retido e no mérito seja julgada procedente a reconvenção para determinar a partilha dos aquestos havidos na constância do casamento e da evolução patrimonial experimentada pela empresa ACRE CAXIAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ABRASIVOS LTDA., consoante apuração a ser feita em liquidação de sentença, a fixação de alimentos em seu favor, a concessão do

(32)

benefício da gratuidade da justiça e a condenação do recorrido ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios para o seu procurador, nos limites máximos preconizados no art. 20, §3º, do CPC. Pede o provimento do recurso.

O recurso foi recebido no duplo efeito.

Intimado, o recorrido apresentou as suas contra-razões, sustentando que não houve negativa de prestação jurisdicional, pois a Juíza apreciou o pedido de perícia, indeferindo-o, tanto que CENIRA interpôs agravo retido. Alega que não havia necessidade de ser intimado para a apresentar contra-razões ao agravo retido, pois não houve juízo de retratação e com a reiteração de apreciação referido recurso na apelação, está exercendo o direito de resposta nas presentes contra-razões. Aduz que a realização de perícia é totalmente desnecessária, uma vez que não foi reconhecido o direito da recorrente à partilha de bens. Diz que a quebra do sigilo bancário das partes é descabida, na medida em que restou cabalmente comprovado, com reconhecimento pela própria recorrente, de que todas as benfeitorias e melhoramentos foram feitos nos imóveis exclusivamente com os recursos dele. Argumenta que CENIRA não necessita de seu auxílio financeiro, pois é proprietária de dois imóveis, um locado e outro para moradia, além de receber pensão por morte do primeiro marido e ter aplicações em contas bancárias. Destaca que a Súmula 377 do STF não se aplica ao caso, uma vez que restou plenamente comprovado que a recorrente não contribuiu para a aquisição de bens na constância do casamento, tendo sido empregados exclusivamente recursos dele, inclusive para o sustento da família. Pede o provimento do recurso.

Com vista dos autos, a douta Procuradoria de Justiça lançou parecer, opinando pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

Foi observado o disposto no artigo 551, § 2º, do CPC.

É o relatório.

(33)

DES. SÉRGIO FERNANDO DE VASCONCELLOS CHAVES (RELATOR)

Estou confirmando a r. sentença pelos seus próprios e jurídicos fundamentos, que tenho como se aqui transcritos estivessem.

Inicio focalizando as preliminares argüidas e o agravo retido.

Quanto à alegação de negativa da prestação jurisdicional, não tem razão alguma a recorrente, pois a ilustre julgadora a quo analisou o pedido de realização de perícia, tendo indeferido tal pleito, por entender que somente seria útil caso fosse reconhecido o direito da reconvinte à partilha de bens, já que o regime matrimonial é o da separação obrigatória de bens.

Da mesma forma, não vislumbro error in procedendo, pois não havendo juízo de retratação, desnecessária a imediata intimação do recorrido para responder, pois poderá fazê-lo nas contra-razões de apelação, em caso de reiteração do pedido de apreciação do agravo retido...

No tocante ao pedido de perícia, que foi objeto do agravo retido interposto, tenho que não merece prosperar, pois, como se verá na apreciação do mérito, não tem a recorrente direito à partilha de bens, sendo então totalmente desnecessária e descabida a realização da pretendida perícia e de outras provas técnicas.

Portanto, afastando as prefaciais e desacolhendo o agravo retido, passo ao exame do mérito e, igualmente, estou desacolhendo a inconformidade.

Com efeito, friso que o regime de bens do casamento era efetivamente o da separação obrigatória, no qual há incomunicabilidade relativa, pois os bens adquiridos onerosamente durante a convivência conjugal se comunicam, consoante entendimento doutrinário e jurisprudencial, tendo clareza solar a Súmula nº 377 do STF, in verbis:

(34)

“No regime de separação legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.

No caso em exame, porém, restou cabalmente comprovado, inclusive com o reconhecimento da própria recorrente, que, na aquisição de bens e melhorias realizadas em imóveis, foram empregados recursos exclusivos do recorrido, acumulados antes do casamento com CENIRA, o qual foi celebrado quando ele já contava com 70 anos de idade.

Da mesma forma, inviável se mostra a partilha de eventual crescimento patrimonial da empresa da qual participa o varão, pois, além de ter nela ingressado muito tempo antes do matrimônio, não mais exercia cargo de direção, recebendo apenas os frutos na proporção de sua participação, que são frutos civis do trabalho e não se comunicam.

Assim, descabe determinar qualquer partilha de bens ou de eventual crescimento patrimonial da empresa ACRE CAXIAS INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ABRASIVOS LTDA., pois não tem incidência o disposto na Súmula 377 do STF.

No que pertine aos alimentos pretendidos pela recorrente, observo que se torna necessária cuidadosa análise do binômio necessidade e possibilidade, pois somente se justifica o estabelecimento do encargo alimentar quando há efetiva impossibilidade da pessoa de prover o próprio sustento, consoante orientação jurisprudencial desta Câmara:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS CUMULADA COM REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS. ALIMENTOS. EX-COMPANHEIRA. DESCABIMENTO. Embora cabível a fixação de alimentos em prol da ex-companheira, baseado no dever de mútua assistência, consoante arts. 1694, caput, e 1566, inciso III, ambos do CC, impõe-se o atendimento ao binômio possibilidade-necessidade. Situação dos autos que não recomenda a fixação de pensão alimentícia, uma vez que a ex-companheira é jovem, separada de fato há mais de três anos, não havendo prova nos autos de que não tenha capacidade laboral para prover a própria subsistência. Apelação desprovida. (Apelação Cível Nº 70055410815, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 28/08/2013)”

(35)

“APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. PEDIDO DE ALIMENTOS EM FAVOR DA EX-COMPANHEIRA. DESCABIMENTO. Ainda que possível a fixação de alimentos em favor da ex-companheira, lastreada no dever de mútua assistência previsto no art. 1.694, do CC, há que restar demonstrada a necessidade da prestação. Caso concreto que não permite a fixação dos alimentos, vez que a postulante detém condições de trabalhar e prover o próprio sustento. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70049889157, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 26/09/2012)”

Assim, apesar de CENIRA já contar agora 78 anos de idade, não logrou comprovar que necessita do auxílio do ex-marido, pois recebe pensão por morte do primeiro marido, possui dois imóveis, um para locação e outro para a sua moradia, tendo ainda feito aplicações bancárias no decorrer do casamento, já que não tinha qualquer participação nas despesas da casa.

Portanto, mesmo que a recorrente tenha deixado de trabalhar a pedido do recorrido, não se pode desconsiderar que desfrutou de um ótimo padrão de vida durante o casamento, que lhe possibilitou, inclusive, aplicar as suas rendas, o que não seria possível se o varão não tivesse se desincumbido de todas as despesas do casal.

Além disso, considerando a sua idade e as doenças que a recorrente alega que a acometem, provavelmente não conseguiria mesmo desempenhar a atividade de massoterapeuta por muito tempo, não se justificando a fixação de alimentos em razão da cessação de sua atividade laboral em decorrência do casamento.

Não é possível confundir conveniência de perceber uma pensão de alimentos com a condição de necessidade, a qual decorre da efetiva incapacidade da pessoa de prover o próprio sustento. Ou seja, apenas na situação de impossibilidade de trabalhar é que tem justificativa o estabelecimento de pensão alimentícia.

Sopesando as circunstâncias, não vejo razão para fixar pensão alimentícia em favor de CENIRA, pois ela pode manter-se com a sua renda, trilhando o seu

(36)

próprio caminho, com dignidade, não se podendo desconsiderar que a separação geralmente acarreta a diminuição no padrão de vida dos casais desavindos.

Finalmente, no que pertine ao pleito de assistência judiciária gratuita, observo que a gratuidade é exceção dentro do sistema judiciário pátrio e o benefício deve ser deferido somente àqueles que são efetivamente necessitados, na acepção legal.

O benefício da assistência judiciária gratuita visa assegurar o acesso à justiça de quem não possui recursos para atender as despesas do processo, sem que isso lhe acarrete “prejuízo do sustento próprio ou da família”, consoante prevê expressamente o artigo 2º, parágrafo único, da Lei nº 1.060 de 1950.

Portanto, a recorrente não faz jus ao benefício, pois não comprovou a sua efetiva impossibilidade de arcar com as despesas processuais. Além disso, como já referido possui renda e aplicações bancárias, motivo pelo qual não pode ser considerada pobre na acepção legal, sendo que o deferimento somente se justifica a quem alega necessidade e comprova ganhos modestos, demonstrando a condição de necessitado, nos termos do art. 2º, parágrafo único, da Lei nº 1.060 de 1950.

Vale gizar não, embora se exija miserabilidade para a concessão do benefício, a recorrente não se enquadra no conceito legal e flexível de pobreza.

Com tais considerações, acolho também o parecer do Ministério Público, de lavra da ilustre PROCURADORA DE JUSTIÇA HELOÍSA HELENA ZIGLIOTTO, que transcrevo, in verbis:

“3. PRELIMINARMENTE

3.1. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Não assiste razão à apelante no que se refere a sua alegação de negativa de prestação jurisdicional, em razão do encerramento da instrução processual sem que tenha havido pronunciamento quanto aos pedidos de produção de prova contábil, técnica de engenharia e outros meios para aferição do crescimento econômico do acervo do casal na constância da sociedade conjugal.

(37)

Compulsando os autos, verifica-se que o pedido de perícia foi deduzido por Cenira quando as partes foram intimadas a dizer quais provas pretendiam produzir (fls. 393/398), sendo renovado às fls. 447/450. O pedido foi indeferido na audiência de instrução e julgamento (fl. 453 e verso), tendo a apelante agravado de forma retida, requerendo a reconsideração da decisão, que restou mantida. Dessa forma, não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional, uma vez que o pedido foi analisado pelo juízo a quo.

3.2. ERROR IN PROCEDENDO

Alega a recorrente ter havido error in procedendo, por não sido intimado o recorrido para apresentar contrarrazões ao agravo retido interposto às fls. 643/647.

Não assiste razão à apelante.

Com efeito, o recorrido não foi intimado para apresentar contrarrazões ao agravo retido.

Todavia, o próprio agravado, que seria o eventual prejudicado, não se insurgiu contra tal situação.

Ademais, a recorrente postulou nas suas razões de apelação a apreciação do agravo retido, tendo o recorrido apresentado contrarrazões ao apelo, ficando suprida, desta forma, a não apresentação de contrarrazões ao agravo retido.

Assim, merece ser afastada a preliminar.

4. DO AGRAVO RETIDO

Insurge-se a agravante contra a decisão que deu por encerrada a instrução, sem determinar a realização de perícia contábil na empresa, assim como a quebra do sigilo bancário das partes.

Não assiste razão à recorrente.

Quanto à realização de perícia contábil na empresa, entende-se que somente seria necessária caso fosse reconhecido o direito de meação da ex-cônjuge, o que se daria em sede de liquidação de sentença.

Mesmo raciocínio aplica-se à perícia técnica para aferição das melhorias realizadas no imóvel de propriedade exclusiva do requerente.

No que tange ao pedido de quebra do sigilo bancário das partes, da mesma forma se mostra descabido. Conforme referido na sentença (fl. 696), a recorrente, em seu depoimento pessoal, afirmou que “não contribuiu para a aquisição de bens e que era o requerente quem arcava com a totalidade das despesas e foi comprovado que a requerente, durante os 16 anos de casamento, direcionou seus rendimentos em proveito próprio, com aplicações financeiras e

(38)

aumento de seu patrimônio, sem qualquer comunicação com os rendimentos do requerente.”

Nesse contexto, é de ser desprovido o agravo retido.

5. MÉRITO

5.1. PARTILHA DE BENS

Sustenta a recorrente que devem ser partilhados os bens adquiridos onerosamente na constância da sociedade conjugal, quais sejam o apartamento que servia de moradia ao casal e respectivo box, móveis e utensílios que guarnecem o imóvel, bem como a evolução patrimonial da Empresa Acre Caxias Indústria e Comércio de Abrasivos Ltda.

Sem razão a apelante.

De início, cumpre referir que as partes casaram sob o regime da separação obrigatória de bens, conforme a certidão de casamento da fl. 14.

Quanto ao imóvel que serviu de moradia ao casal, localizado na Rua Andrade Neves, nº 542, ap. 41, matrícula 46.660 (fls. 61/62), em que pese ter sido registrado em 20/05/1998, foi adquirido em data anterior ao matrimônio, tendo sido pagas apenas 10 prestações após a celebração do casamento, com patrimônio exclusivo do recorrido, consoante documento juntado na fl. 36 e confirmado pelo depoimento da testemunha Miguel Antonio Walter.

Ademais, conforme já referido anteriormente, a própria recorrente afirma que nunca contribuiu para a aquisição de bens na constância do casamento, sendo que todas as despesas eram pagas exclusivamente pelo recorrido.

Outrossim, constata-se que não houve esforço da apelante para a aquisição de qualquer patrimônio, tendo ela utilizado todos os seus recursos financeiros para majorar seu patrimônio exclusivo.

Sendo assim, deve ser afastada a presunção de esforço comum, não tendo aplicação a súmula 377, do Supremo Tribunal Federal, que dispõe que os bens adquiridos onerosamente na constância da relação, resultado do emprego de esforço em comum, comunicam-se no acervo patrimonial.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO. CASAMENTO CELEBRADO PELO REGIME DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS. SÚMULA 377 DO STF. BENFEITORIAS REALIZADAS EM IMÓVEL DE PROPRIEDADE EXCLUSIVA DA VIRAGO. AQUISIÇÃO DE MOBILIÁRIO. AUSÊNCIA DE PROVA DO EMPREGO DE VALORES PELOS CÔNJUGES. PARTILHA INVIABILIZADA. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. Caso em que o matrimônio foi celebrado pelo regime da separação obrigatória de bens, incidindo o disposto na Súmula nº 377 do STF, ou seja, de que bens

(39)

adquiridos onerosamente na constância da relação, resultado do emprego de esforço em comum, comunicam-se no acervo patrimonial, o que equivale, neste aspecto, à aplicação do regime da comunhão parcial de bens. 2. Inexistindo comprovação do emprego de recursos financeiros por parte dos cônjuges nas benfeitorias realizadas no imóvel de propriedade exclusiva da virago, e havendo indicativos de que os valores investidos foram suportados pelo filho da virago, inviável a determinação de partilha. 3. Descabida a inclusão na partilha do mobiliário que guarnecia a residência, na medida em que, do mesmo modo, ausente comprovação de dispêndio de recursos pelo casal para aquisição de bens durante a relação. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70056305162, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Moreira Lins Pastl, Julgado em 12/12/2013)

Não assiste razão à recorrente, igualmente, quanto à pretensão de que seja partilhada a evolução patrimonial da Empresa Acre Caxias Indústria e Comércio de Abrasivos Ltda., pois decorrente da própria atividade empresarial, sem qualquer participação da virago.

Destarte, merece ser mantida a sentença no tocante a partilha de bens.

5.2. ALIMENTOS

A obrigação de prestar alimentos à ex-cônjuge advém do dever de mútua assistência, consoante dispõe o inciso III do artigo 1.566 do Código Civil:

“Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: (...)

III – mútua assistência; (...)

No presente caso, contudo, entende-se não estar presente o dever de mútua assistência.

No caso sob análise, a recorrente alega ter sido dependente economicamente do recorrido durante toda a constância da sociedade conjugal.

Todavia, verifica-se que a apelante possui rendimentos próprios, sendo proprietária de dois imóveis que lhe possibilitam perceber locativos, um elevado patrimônio representado por capital aplicado em diversas contas bancárias, conforme declarações de Imposto de Renda (fls. 513/528), bem como recebe benefício previdenciário de seu primeiro marido, situação que lhe permite prover o próprio sustento.

Cumpre salientar que a própria recorrente, em seu depoimento pessoal, refere que nunca trabalhou, sempre tendo se sustentado de seus rendimentos e quando estava casada, quem arcava com todas as despesas era o recorrido.

Ademais, conforme se oberva nas declarações de Imposto de renda mencionadas, a apelante ampliou de forma expressiva seu patrimônio no período da constância do matrimônio.

Referências

Documentos relacionados

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Para aprofundar a compreensão de como as mulheres empreendedoras do município de Coxixola-PB adquirem sucesso em seus negócios, aplicou-se uma metodologia de

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Por meio destes jogos, o professor ainda pode diagnosticar melhor suas fragilidades (ou potencialidades). E, ainda, o próprio aluno pode aumentar a sua percepção quanto

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

Para tanto, no Laboratório de Análise Experimental de Estruturas (LAEES), da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (EE/UFMG), foram realizados ensaios

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

DE ELETRONICOS LTDA - ME CARTAO RECARGA (para