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1 Departamento de Linguística Geral e Românica

Linguagem e Comunicação, TP2

2010-2011 Docente: Madalena Colaço

Princípios que regulam a interacção verbal 1. O Princípio de Cooperação e as máximas conversacionais

A par do seu conhecimento gramatical, todos os falantes têm um certo conhecimento sobre o modo como deve decorrer uma conversação para que os seus objectivos sejam cumpridos.

Quando os falantes tomam parte numa conversação, têm o objectivo de se fazerem entender e também de entenderem os seus interlocutores. Para isso, utilizam, na maioria das vezes inconscientemente, uma série de regras necessárias à manutenção do discurso.

Neste sentido, pode-se dizer que as trocas conversacionais são esforços de cooperação.

Esta ideia foi captada por Grice (1975) através daquilo a que o autor chamou o Princípio de Cooperação. A partir deste princípio, torna-se possível descrever certas regras que regulam o comportamento verbal em situações de interacção.

 Princípio de Cooperação:

"Faz com que a tua contribuição conversacional se adeqúe, no momento em que ocorre, às necessidades do propósito ou direcção comummente aceite da troca conversacional em que participas." (Grice (1975), apud Gouveia (1996): 403)

A observação do Princípio de Cooperação concretiza-se, segundo Grice, na obediência a quatro regras, que descrevem algumas características gerais de comportamento linguístico, a que o autor chamou máximas conversacionais.

 Máximas conversacionais:

Máxima de quantidade

1. Torna a tua contribuição tão informativa quanto é requerido (para o presente propósito da troca). 2. Não tornes a tua contribuição mais informativa do que é requerido.

Máxima de qualidade

Tenta fazer com que a tua contribuição seja uma contribuição verdadeira

1. Não digas o que crês ser falso.

2. Não digas aquilo para que não tens provas adequadas.

Máxima de relação

Sê relevante. Máxima de modo Sê perspícuo

1. Evita obscuridade de expressão. 2. Evita ambiguidades.

3. Sê breve (evita desnecessária prolixidade). 4. Sê metódico.

(2)

2 2. Estratégias de delicadeza

A forma dos enunciados é afectada pelo tipo de relação existente entre os participantes na situação de interacção. Os falantes tendem a adaptar os seus enunciados ao contexto social em que eles são produzidos: mais ou menos familiar, mais ou menos formal. Existe uma série de factores condicionantes das escolhas dos falantes a este nível. Por exemplo:

o idade o sexo

o grau de conhecimento anterior o posição social

o autoridade institucional

 Princípio de Delicadeza, Leech (1983):

Esta adaptação passa pela utilização de estratégias de delicadeza, que contribuem para a adequação dos enunciados às diferentes situações.

O formato linguístico dos enunciados pode variar, por exemplo, com o objectivo de minimizar ou atenuar os efeitos negativos ou desagradáveis da mensagem que se pretende transmitir (→ uso de eufemismos).

(1)a. O tio Joaquim morreu. b. O tio Joaquim faleceu. c. O tio Joaquim deixou-nos.

d. O tio Joaquim já não está entre nós. (2)a. Está despedido.

b. Não poderá continuar a trabalhar nesta empresa.

O Princípio de Delicadeza pode conduzir a uma diminuição da força ilocutória do enunciado. Por força ilocutória, entende-se a função do enunciado no contexto da enunciação; ou seja, é aquilo que, numa determinada situação, permite ao alocutário o reconhecimento do objectivo daquilo que é comunicado pelo locutor a partir de um acto de fala.

(3)a. Não mexa nesses livros.

b. Peço desculpa, mas não pode mexer nesses livros. (4)a. Passa-me a manteiga.

b. Passa-me a manteiga, por favor.

c. Não te importas de me passar a manteiga?

As formas delicadas de expressão são frequentemente usadas para a expressão da ironia.

(5) Importa-se de sair de cima do meu pé?

(6) Quer fazer-me o grande favor de não me incomodar mais?

3. O "não dito"

Nem sempre os falantes respeitam as máximas conversacionais (logo, o Princípio de Cooperação) quando interagem verbalmente.

As infracções do Princípio de Cooperação podem ser intencionais. Por exemplo, podem ser usadas para produzir um efeito cómico.

(3)

3 (7) Um lavrador encontra outro e diz-lhe: "Olá, Chico, a minha mula está com a mesma doença que a tua teve. O que lhe deste? "Terebentina", respondeu o Chico.

Uma semana mais tarde, voltaram a encontrar-se e o primeiro lavrador gritou: "Chico, dei terebentina à minha mula, como me tinhas dito, e ela morreu."

"Aconteceu o mesmo à minha", retorquiu o Chico.

(Gouveia (1996): 404)

(8) Professor – Já vejo que o menino não percebe nada disto! Passemos a outra secção da Anatomia... A circulação... Qual é a artéria mais importante que o menino conhece?

Tonecas – A artéria mais importante que conheço é a Rua do Ouro...

(Cosme, J. O.: As Lições do Tonecas)

As infracções intencionais ao Princípio de Cooperação podem também ser usadas com o objectivo de confundir ou enganar o interlocutor.

O Princípio de Cooperação também é, por vezes, infringido de forma não intencional. Por exemplo, quando julgamos que estamos a ser claros mas não somos compreendidos. Ou quando a quantidade de informação que damos não corresponde à esperada pelo interlocutor.

(9)A: – Olá, então o que fizeste durante o fim de semana? B1: – Olha, no sábado levantei-me às 8 horas. Comecei por tomar banho e depois tomei o pequeno-almoço: bebi um copo de leite e comi duas torradas com manteiga. A seguir vesti-me: vesti umas calças de ganga e uma camisola azul. Fui tomar um café e

voltei para casa. Quando eram umas 11 horas, ouvi as notícias e fui comprar o jornal. Às 11 e meia...

B2: – Olha, no sábado fiquei por casa e no domingo fui passear para Sintra.

3.1. As implicaturas (ou implicitações)

Em certas situações, verifica-se uma infracção ao Princípio de Cooperação apenas aparente, uma vez que no discurso do falante estão presentes informações implícitas.

“quando um falante introduz uma implicitação na conversação, a descoberta dessa implicitação por parte do interlocutor é o resultado de uma série de inferências feitas a partir dos seguintes elementos: (a) aquilo que o falante disse e que infringe aparentemente o princípio da cooperação, embora o interlocutor assuma que o falante está a querer cooperar; (b) os conhecimentos desse interlocutor (sejam conhecimentos sobre o mundo em geral ou, mais especificamente, sobre o contexto da conversação, sobre actos linguísticos, etc.).” (Pinto de Lima, J. (2006): 62)

 Implicatura conversacional:

"(...) casos em que o falante, ao comunicar com o seu alocutário, somente insinua o que quer dizer, deixando apenas sugerido o objectivo ilocutório do seu acto" (Gouveia (1996): 407)

As implicaturas conversacionais descrevem um conjunto de raciocínios que o interlocutor faz para deduzir, concluir ou interpretar o sentido do que o falante disse. O interlocutor procura um sentido para o enunciado que esteja de acordo com as máximas conversacionais, tendo em conta a

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4 informação literal. Caso não haja um sentido literal, então procura um sentido que responda a esses princípios.

(10)A: Vamos jantar?

B: A minha irmã chega hoje de Londres. (11)A: A Maria prometeu amanhã chegar a horas. B: Enquanto há vida, há esperança!

(12) “Quando uma pessoa diz «Estás a atirar-me areia para os olhos», normalmente viola a primeira máxima da Qualidade ao nível do que diz, porque é patentemente falso que o interlocutor lhe esteja a atirar areia para os olhos. A verdade é que essa pessoa está a implicitar – através de uma comparação subentendida – que o interlocutor está a tentar que le não “veja” a verdade acerca de qualquer coisa. A frase enunciada deve ser interpretada no sentido de «Estás a tentar esconder-me a verdade.»” (Pinto de Lima, J. (2006): 63-64)

A compreensão da implicatura presente num enunciado decorre de uma série de inferências feitas pelo interlocutor.

Para além das implicaturas conversacionais, há ainda a considerar um outro tipo de implicaturas, que resultam da presença de determinados elementos linguísticos que têm a função convencional de marcar a presença de uma implicatura.

 Implicatura convencional:

Decorrente da presença de um elemento linguístico que marca convencionalmente uma implicatura.

(13) O Pedro está doente, logo não vem à aula.

(14) O Pedro é aluno da turma 4 mas teve negativa no teste.

3.2. As pressuposições

Tal como as implicaturas, também as pressuposições correspondem a informações não ditas pelo falante, mas que são recuperadas pelo interlocutor, de forma a permitir a compreensão dos enunciados.

 Pressuposição:

"(...) por vezes, os falantes querem dizer menos do que de facto dizem. Tal acontece quando o enunciado pressupõe a verdade de certas proposições (sem as quais não pode ser avaliado), que não constituem, porém, o núcleo principal do significado que o locutor pretende transmitir" (Gouveia (1996): 405)

(15) A empresa ELL (não)defende os interesses dos estudantes. → Existe uma empresa chamada ELL.

(16) O Pedro (não) quer outra cerveja.

→ O Pedro já bebeu (pelo menos) uma cerveja.

(17) O Pedro (não) lamenta que a Maria tenha sido despedida. → A Maria foi despedida.

(5)

5 (18) Fecha a porta, por favor.

→ A porta está aberta.

Assim, pode dizer-se que as pressuposições correspondem às condições necessárias para que o enunciado seja adequado à situação.

Referências bibliográficas:

Austin, J. L. (1962). How to Do Things with Words. Oxford: Clarendon Press.

Grice, H. P. (1975). Logic and Conversation. In Cole, P. & J. L. Morgan (orgs). Syntax and Semantics, vol. 3. Nova Iorque: Academic Press. pp.41-58.

Leech, G. (1983). Principles of Pragmatics. Londres: Longman.

Leituras aconselhadas:

Gouveia, C. (1996). Pragmática. In Faria, I., E. R. Pedro, I. Duarte & C. Gouveia (orgs). Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Caminho. pp.383-419.

Pinto de Lima, J. (2006). Pragmática Linguística. Colecção O Essencial sobre Língua Portuguesa. Lisboa: Caminho.

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