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@essanaosou_eu: um estudo sobre as culturas juvenis nas redes sociais

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E ARTES. @essanaosou_eu: UM ESTUDO SOBRE AS CULTURAS JUVENIS NAS REDES SOCIAIS. Karina Dias Silveira Orientador: Profº Dr. Marcelo de Andrade Pereira. Dissertação de Mestrado. Santa Maria, RS, Brasil, 2017.

(2) @essanaosou_eu: UM ESTUDO SOBRE AS CULTURAS JUVENIS NAS REDES SOCIAIS. por Karina Dias Silveira. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação; Linha de pesquisa Educação e Artes da Universidade Federal de Santa Maria como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação.. Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Andrade Pereira. Santa Maria, RS, Brasil, 2017 2.

(3) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E ARTES. A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado @essanaosou_eu: Um estudo sobre as culturas juvenis nas redes sociais Elaborada por Karina Dias Silveira _________________________________________________ Prof.º Dr. Marcelo de Andrade Pereira UFSM – Universidade Federal de Santa Maria – Orientador _________________________________________________ Prof.º Dr. Jean Carlos Gonçalves UFPR – Universidade Federal do Paraná _________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Renata Ribeiro Tavares da Silva UNESPAR – Universidade Estadual do Paraná. _________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Sueli Salva UFSM – Universidade Federal de Santa Maria. 3.

(4) RESUMO @essanaosou_eu: UM ESTUDO SOBRE AS CULTURAS JUVENIS NAS REDES SOCIAIS Autora: Karina Dias Silveira Orientador: Prof. Dr. Marcelo de Andrade Pereira Santa Maria, 2017. Ao pensar o jovem, suas conexões com o mundo digital, e suas relações de aprendizagem diante das imagens dentro das rede social Instagram, a presente pesquisa busca compreender a forma pela qual estes se subjetivam frente a imagens entendidas por eles como ideais. Neste sentido, a partir de uma dinâmica realizada com um grupo focal dentro do Instagram, procurou-se perceber que tipo de relações os jovens estabelecem e de que forma passam a aprender diante da realidade que encontram dentro desta rede social. Ao buscar referências na dinâmica das redes sociais (SIBILIA, 2015, 2016, CASTELLS 1999, 2003), no dispositivo (AGAMBEN, 2009), nos Estudos Culturais (COSTA, 2004), e tendo como sujeitos da pesquisa jovens de 17 a 20 anos, este estudo procurou, dentro do campo movediço da web, aproximar-se das dinâmicas subjetivas juvenis que ocorrem na atualidade. Diante das provisoriedades das respostas que nesse campo são encontradas, o que cabe à pesquisa é dar pistas frente a esse mundo que captura e fascina os que nele buscam se situar.. Palavras-chave: Jovens, Imagens, Redes Sociais, Instagram.. 4.

(5) ABSTRACT @essanaosou_eu: A STUDY ABOUT THE YOUTH CULTURES ON SOCIAL NETWORKS Author: Karina Dias Silveira Advisor: Prof. Dr. Marcelo de Andrade Pereira Santa Maria,2017. Thinking about the young person, their connections with the digital world and their learning relations with the images inside of social network Instagram, the present research sought to understand the way in which they subjectivate themselves against images understood by them as ideals. In this sense, based on a dynamic carried out with a focus group inside the Instagram social network, it was sought to understand what kind of relationships young people establish and how they begin to learn from the reality they find inside this social network. Searching for references in the dynamics of social networks (SIBILIA, 2015, 2016, CASTELLS 1999, 2003), in the device (AGAMBEN, 2009), in Cultural Studies (COSTA, 2004), and having as research subjects young people between the ages of 17 and 20, this study sought, within the websurfaced field, to approach the subjective juvenile dynamics that occur today. In the provisory face of the answers that are found in this field, what is the task of research is to give clues to this world that captures and fascinates who want to situate here.. Keywords: Youth, Images, Social Networks, Instagram.. 5.

(6) Nessa junção – que, ainda assim e apesar de tudo, insiste em acontecer todos os dias durante longas horas, em quase todos os cantos do planeta –, as peças não se encaixam bem: descobremse ressaltos imprevistos em suas engrenagens e os circuitos se obstruem com frequência, ocasionando toda sorte de atritos, ruídos, transbordamentos e até enormes desastres. (SIBILIA 2015, p. 13) 6.

(7) 7.

(8) 8. Imagem produzida por Nath Araújo. Disponível em https://www.facebook.com/natharaujoart/?hc_ref=SEARCH.

(9) SUMÁRIO Introdução ......................................................................................................................12 1 Cenário ........................................................................................................................26 1.1 O lugar da escola e o espaço do Instagram ........................................................................................ 33 1.2 @essanaosou_eu............................................................................................................................... 41. 2 Estudos culturais e Cultura Visual ...........................................................................46 3 Metodologia .................................................................................................................54 3.1 Procedimentos metodológicos........................................................................................................... 57 3.2 Os locais da pesquisa ........................................................................................................................ 62 3.3 A oficina ........................................................................................................................................... 65 3.4 Delimitações metodológicas ............................................................................................................. 71. 4 Onde a pesquisa acontece: análise e discussão dos dados .......................................75 Considerações Finais .....................................................................................................88 Referências................................................................................................................................ 95. 9.

(10) LISTA DE ANEXOS. Carta de autorização da escola.........................................................................................92 Carta de autorização do uso dos dados produzidos pelos estudantes ..............................93 Carta de autorização dos responsáveis para a participação dos estudantes na oficina ....94. 10.

(11) 11 Reprodução/ @nanaths - Disponível em https://www.instagram.com/p/vWpcnbmN8r/?taken-by=nanaths.

(12) Introdução. Os jovens1, ao se conectarem as redes sociais, se veem frente a diversos modelos sociais – digitais influencers2, cantores, celebridades, blogueiros e blogueiras, que se estabelecem a partir destes referenciais, construídos com a colaboração das imagens (fotografias digitais, imagens de cultura de massa, ícones de beleza e comportamento) – que perpassam seu cotidiano. Baseada na lógica do capitalismo contemporâneo, a sociedade se ergue hoje sobre uma imensa rede de processamento digital, metabolizando forças vitais, lançando e relançando constantemente ao mercado novos produtos, serviços e subjetividades (SIBILIA, 2015). Neste sentido, compreendo as subjetividades como sendo produzidas a partir do momento mesmo em que estes jovens buscam os referenciais dentro da cultura de massa, de certa forma, inconscientemente, acabando por reproduzir certos padrões arquétipos e tipos humanos virtualizados que visam produzir coletividades e inseri-los a um grupo. A tecnologia, na atualidade, pode ser utilizada por estes jovens de diferentes formas, a partir do uso da ferramenta celular, sendo esta uma plataforma para os 1. Estudantes do ensino médio noturno de uma escola estadual da cidade de Santa Maria, com faixa etária entre 17 a 20 anos, que acessam a rede social Instagram com grande frequência ao dia. 2 Influenciadores digitais – figuras as quais são amplamente seguidas e compartilham conteúdo digital (de autoria própria ou publicitária) dentro das redes sociais.. 12.

(13) processos de conectividade, bem como fonte para busca de informações, de aproximação com imagens, vídeos, jogos, sites de busca, sendo um agente facilitador do seu cotidiano e de inscrição no espaço social. Ao pensarmos na realidade social construída a partir da década de 1990, com a popularização dos meios eletroeletrônicos, e a criação de dispositivos que eram capazes de proporcionar a troca de mensagens textuais, é dado início a um outro tipo de construção inter-humana, que têm nestes fluxos digitais emergentes seus principais interesses e ponto de partida. Esta geração de jovens que nasceu a partir deste período construiu outras maneiras de interação com o outro, configurando a conectividade como sua aliada nos processos de interatividade, convivência e, neste sentido, na plasmação de outros modos de relação espaço temporal. Ao entrarmos na era do conexionismo generalizado – remontando-se aqui ao final da década de 1990 – que nos possibilitou pensar o mundo como uma rede de comunicação, criamos novas formas de espaço e tempo complexos, flutuantes e indefinidos (PARENTE, 2000). Desta forma, defrontar-se às complexas indefinições que hoje nos rodeiam é buscar entender a lógica de uma indústria cultural momentânea que gera potencialidades intencionais de consumo para criar novas condições humanas, onde as pessoas se sintam atraídas e pertencentes a um determinado grupo (COELHO, 2006).. 13.

(14) Concebida como ferramenta primordial da indústria cultural, a mídia comunicase inerentemente aos produtos da própria indústria, com um poder de persuasão capaz de despertar o desejo de consumo nas pessoas. Compartilhamos, assim, a ideia da utilidade dos próprios sujeitos, tomados como consumidores de si e do outro, que se firmam nas teias das redes sociais. Na sociedade contemporânea, as noções de massa e de povo e a própria ideia de indivíduo moderno estão perdendo força, passando a emergir, com relevância cada vez maior, o papel do consumidor (SIBILIA, 2015). Ao entender que toda a cultura vive por meio das invenções e propagações dos significados de vida, e que cada vez mais se opera em uma ótica de transcendência (BAUMAN, 2008), não soa estranho o fato de que o sentido do poder dos fluxos de persuasão, dentro das redes virtuais, torna visível e estabelece novas formas para o consumo. É através do uso de imagens – e, entre elas as subliminares – que a indústria cultural se utiliza dos artifícios midiáticos de modo a “vender” a ideia de que deve-se operar na lógica esperada dentro da rede social. Todavia, devemos considerar as questões que disparam nos jovens a vontade de se tornarem visíveis, ou seja, a vontade de consumir produtos de moda, aparelhos de tecnologia de ponta, estilos de vida, atualizações para que possam continuar fazendo uso de diferentes aplicativos em seus celulares, entre outras inovações que são oferecidas, questões essas disparadas pelas redes sociais.. 14.

(15) Diante destes dispositivos que seduzem e fazem com que os jovens sintam a necessidade de pertencer a um grupo, Giorgio Agamben (2009, p. 40) nos lembra que o termo dispositivo remete a “qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes”. No entendimento do célebre filósofo italiano “ao ilimitado crescimento dos dispositivos no nosso tempo corresponde uma igualmente disseminada proliferação de processos de subjetivação” (AGAMBEN, 2009, p.41). Cabe considerar que os jovens, frente ao dispositivo das redes sociais, se veem frente a processos de subjetivação dentro destes espaços que os convidam a se produzir enquanto sujeitos visando determinados formatos sociais e digitais nele presentes. Neste sentido, proponho como problema desta pesquisa a seguinte questão: Como estariam funcionando os processos de construção subjetiva, a partir das vivências destes jovens no âmbito da rede social Instagram3? Pensar nas imagens hoje validadas pelos jovens, sua relação com as redes sociais e o espaço escolar é o anelo central da presente pesquisa. Busco, neste sentido, observar como esses sujeitos jovens se educam diante e por tal realidade vivida dentro das redes,. 3. O Instagram é uma rede social baseada em imagens, que permite aos usuários a publicação de fotos e vídeos de curta duração. Dentro da plataforma, os usuários podem aplicar efeitos nas fotos, bem como interagir com os demais, por intermédio de comentários e curtidas. Além disso, um usuário pode seguir o outro para poder acompanhar suas postagens e atividades dentro da rede.. 15.

(16) e, a partir disso, indagar como têm acontecido a dinâmica em relação àquilo que validam em seus perfis em redes sociais, em particular, a do Instagram, de modo a entender como constroem imagens tendo em vista aquilo que é socialmente [melhor] aceito. Ao utilizar como ponto de partida o jovem, suas relações com as imagens dentro das redes sociais e suas conexões com o mundo digital, por meio das redes sociais, optei por pesquisar dentro de um terreno que embasa uma lógica da aparência ou do aparecer, do ver e ser visto, do mostrar e ser mostrado. Parto do pressuposto que este ambiente dispara uma série de formas de produção e recepção de informações as mais diversas, oportunizando assim um espaço onde os jovens podem ganhar visibilidade, deixar ver, esconder, transformar, e, desta maneira tender ou atender a determinadas concepções de ser e estar no mundo. Bauman (2008, p. 08) aponta que “todas as sociedades são fábricas de significados”. Valendo-se desta afirmativa, proponho pesquisar os significados do que temos hoje dentro das dinâmicas sociais destes jovens. O que os impinge a mostrar esses recortes de si? Buscam com qual finalidade aplicar filtros nas imagens que produzem? Na maior parte dos aplicativos utilizados por estes jovens existem ferramentas de edição de imagens, que recebem a denominação de filtro. Filtrar significa editar a imagem dentro de um programa específico que possibilita a alteração de cores, brilho, 16.

(17) contraste, luminosidade, formatos – ou seja, a inserção de diferentes tipos de alterações. Neste sentido, possibilitam a criação de uma imagem em formato mais aceitável de identificação com os padrões de referência dentro desta rede social. O desafio desta pesquisa é o de evitar perspectivas reducionistas relativas às dinâmicas das redes sociais e não se deter na dicotomia do que possa ser o certo ou errado. Para tanto, intitulo a pesquisa como @essanaosou_eu, pretendendo por essa ideia desenhar a perspectiva de como estes jovens produzem sentido a partir das imagens presentes na rede social Instagram, observando como se subjetivam diante de um universo visual que estabelece determinado modo de ser. Ao buscar dentro das redes os perfis com maior número de seguidores – sendo o mais expressivo, em termos numéricos, o da própria ferramenta, com 225 milhões seguindo suas postagens –, o @instagram é percebido como um dos perfis mais valorizados do universo imagético social. Chamados digitais influencers, estes perfis e estas pessoas que contam com um grande número de seguidores, acabam por definir certos parâmetros de fabricação das imagens dentro das próprias redes, ou seja, atuam como modelos para um grande público. Trago como exemplo no capítulo inicial desta dissertação a digital influencer Kéfera Buchmann, figura seguida por alguns dos participantes da pesquisa.. 17.

(18) Ao tomar como pontos centrais as redes sociais4 (CASTELLS 1999, 2003; SIBILIA 2015; PARENTE, 2000), o dispositivo5 (AGAMBEN, 2009), os jovens, as imagens e os estudos culturais6 (COSTA, 2004) –, busco dentro deste ambiente de conexões pensar como as imagens passam a fazer sentido na vida dos jovens, por meio de sua fabricação. Desta forma, podemos considerar o dispositivo rede da social como uma esfera de ação na qual os jovens se fazem presentes não apenas por sua própria vontade e interesse, mas como imperativo para a inscrição no espaço social contemporâneo. A escolha do título desta dissertação de mestrado @essanãosou_eu remonta a uma fala muito frequente em meu dia-a-dia, quando estou, a trabalho, maquiando. Após finalizar a maquiagem, e mostrar no espelho o resultado final, por muitas vezes a cliente diz – “nossa, essa não sou eu!”. Esta metáfora do cotidiano do trabalho se relacionou com o objeto de estudo a partir do momento em que percebi e me aproximei das redes 4. Segundo Hanneman e Riddle (2005), a idéia básica de uma rede social é muito simples. Uma rede social é um conjunto de atores (ou pontos, ou nós, ou agentes) que podem ter relações um com o outro. As redes podem ter poucos ou muitos atores e um ou mais tipos de relações entre pares de atores. 5 Mecanismo de ordem discursiva, visual, auditiva ou sensorial que controla, orienta, determina certos posicionamentos ao homem. 6 Os trabalhos precursores dos estudos culturais, pautados em uma abordagem cuja ênfase recai sobre a importância de se analisar o conjunto da produção cultural de uma sociedade – seus diferentes textos e suas práticas – buscam entender os padrões de comportamento e a constelação de idéias compartilhadas por homens e mulheres que nela vivem. (COSTA, SILVEIRA E SOMMER, 2003). Nesta dissertação entendo os estudos culturais como um campo teórico abrangente que pode abordar determinados assuntos em diversas áreas do conhecimento, como por exemplo, o aprendizado a partir das redes sociais; porém ao tratar de imagens virtuais como dispositivo popular entre os jovens, minha abordagem para compreensão da imagem partirá dos estudos culturais e terá um direcionamento para a cultura visual.. 18.

(19) sociais em função da divulgação daquilo que produzo em matéria de maquiagem; – o que de certa forma facilita a afinidade com estas ferramentas, e acabo, pelo trabalho, também me valendo do mesmo tipo de lógica das redes sociais. Neste ambiente virtual, onde o que vale é o ver e ser visto, as imagens acabam ganhando cada vez mais força. A análise frente a esse cenário se faz necessária, pois ele engendra novas formas de ser, novas formas de aprender, novas formas de ensinar. E o que se comunica e se absorve, nesse novo sentido é, novamente levado à frente pelas ondas do digital, em um fluxo, contínuo (com o perdão do eco). Diante das tantas questões que podem surgir quando o assunto são os jovens e as redes sociais, abordar certas tensões e tentar entender como essa rede social possa estar colaborando na construção das subjetividades, como também buscar a relação entre a rede e o processo que a leva a “educar” os jovens para ali se inserirem, questionando a realidade que ali possa estar sendo idealizada, me parecem como pontos importantes a serem pensados para que se possadar conta das inquietações da pesquisa. Neste sentido, a pesquisa foi pensada e realizada de forma a acompanhar o movimento das redes. Ela aconteceu em um primeiro momento presencialmente, em um encontro do grupo focal participante, e, posteriormente, foi sendo desenvolvida de forma online, dentro do perfil @essanaosou_eu, na rede social Instagram. Penso que para discutir as questões aqui presentes, a inserção no ambiente online – a fim de plasmar a matéria desta dissertação –, foi de extrema importância, pois pude 19.

(20) perceber o quanto as interações que lá acontecem são pensadas, cuidadas. Ao me aproximar dos dez participantes da pesquisa através do perfil @essanaosou_eu, pude acompanhar suas postagens, entender suas opiniões, de modo a constatar o quanto estes sujeitos são capturados por essa dinâmica das redes sociais. Ao as acompanharem fazem com que esse fluxo de informações de si continue de forma a fazer pensar que são eles os protagonistas da história que por meio das imagens são contadas; o pleno funcionamento dessa rede representacional depende da crença que a participação é algo por eles deliberado. Neste sentido, ao buscar por pesquisas situadas dentro da perspectiva da realidade das redes sociais, encontrei algumas propostas que se assemelham a esta, no campo acadêmico da educação. A busca pelo estado da arte, no banco de teses e dissertações da CAPES, foi feita com o uso do marcador “redes sociais” como palavra chave. Dentro deste banco, a pesquisa ainda foi delimitada por dissertações de mestrado, dos últimos cinco anos, optando por grande área de conhecimento as ciências humanas, como área de conhecimento a educação, por área de concentração educação e estudos culturais em educação. Foi obtido um total de 53 dissertações dentro da grande área.. 20.

(21) 21 Reprodução/ @instagram - Disponível em https://www.instagram.com/p/BV3zRsnjFdq/?taken-by=instagram&hl=en.

(22) Ao delimitar a pesquisa, incluindo marcadores como “redes sociais instagram”, pude encontrar duas dissertações, ligadas ao campo das ciências sociais aplicadas, sendo da área de conhecimento de artes e comunicação. São elas: “Autorrepresentação de adolescentes porto-alegrenses no Instagram”, de Andressa Fantoni, do ano de 2017, e “Experiência Estética e Comunicação: novas possibilidades de interação e compartilhamento da arte na Pós-modernidade”, de Rafael Fagundes Cavalheiro, no ano de 2016. Quanto aos diferentes pressupostos das pesquisas acima citadas, pode-se perceber o quanto a evolução, as implicações e os significados que podem ser entendidos a partir destes espaços de conectividade, tendo em vista o uso das redes sociais, podem reverberar dentro do campo da pesquisa. Diante da centralidade do papel da imagem dentro desta pesquisa, procuro elucidar a forma pela qual dou uso ao termo, a partir de Joly (2009, p. 61), que pensa a imagem como “uma mensagem visual composta de diferentes tipos de signos o que equivale [...] a considerá-la como uma linguagem e, portanto, como um instrumento de expressão e de comunicação”. Ou seja, quer ela seja expressiva ou comunicativa, constitui sempre uma mensagem para o outro, mesmo quando este outro é o próprio autor da mensagem. Neste sentido, a imagem aqui foi entendida como mensagem que carrega grande força de comunicação e expressividade. Ao discutir sobre uma rede em que as imagens 22.

(23) assumem centralidade, pensando a partir das mensagens as quais as mesmas desejam passar, foi possível entender porque elas não são escolhidas fortuitamente, de forma a ocupar um espaço significativo dentro das redes sociais. Frente a todas estes tensionamentos, busco entender como estes jovens se constituem dentro de uma rede social. Ao trazer estas relações e ao abordar as dinâmicas de interação e construção dos sujeitos a partir das redes, a pesquisa tentou elucidar algumas questões frente ao comportamento deste grupo de jovens dentro da contemporaneidade, dando espaço para que pudessem discutir sobre as demandas da rede social Instagram. Este estudo se subdividiu em quatro grandes capítulos, no primeiro deles encontra-se a contextualização da sociedade atual – o cenário –, a qual estabelece as formas de construção com o mundo virtual, representado pela indústria cultural, mídias virtuais e dispositivos. Nos dois subcapítulos seguintes – o lugar da escola e o espaço do Instagram e @essanaosou_eu – situo as questões das dinâmicas escolares e virtuais destes jovens, bem como sobre a produção das imagens dentro do espaço das redes sociais. O segundo capítulo, elaborado a partir das contribuições dos Estudos Culturais e da Cultura Visual, trata inicialmente do grande guarda-chuva conceitual denominado Estudos Culturais, o qual abriga as diversas possibilidades de aprendizagem diante da cultura. Ao defender a perspectiva da construção de conhecimento perante a qualquer 23.

(24) realidade interativa, os Estudos Culturais subsidiam o entendimento em relação às questões do aprender dentro das redes sociais. Já a problematização concernente às imagens que passam pelos jovens dentro das redes sociais encontra-se apoiada nos Estudos Culturais e na Cultura Visual, a qual discute as questões da aproximação da imagem ao espectador, buscando primordialmente responder pela questão – o que esta imagem diz de mim? –, suscitando as relações entre imagem e sujeito, colocando-as como portadoras de significados. Frente a essas duas concepções teóricas, discuto no subcapítulo – e o que eu aprendo nas redes sociais? – as possíveis relações de aprendizagem construídas a partir das redes sociais e de seus referenciais. Dentro do terceiro capítulo, aponto a metodologia qualitativa da pesquisa, pautada em uma análise de conteúdo. As delimitações e as formas pela qual a pesquisa foi realizada são apresentadas nos subcapítulos a seguir – procedimentos metodológicos; os locais da pesquisa; a oficina e delimitações metodológicas – que apontam os sujeitos, os espaços e a forma pela qual foi desenhada a pesquisa. No quarto e último capítulo – onde a pesquisa acontece: análise e discussão dos dados – considero e analiso os dados obtidos pela pesquisa, elencados em três grandes categorias: padrões, filtros e formas de ser. Organizados desta forma em função dos dados obtidos, estes três disparadores, recorrentes na fala dos estudantes –, forneceram. 24.

(25) subsídios para discussão de suas temáticas junto à fala dos estudantes e as contribuições teóricas dos autores utilizados neste.. Dadas as intenções iniciais ao que segue dentro trabalho, a pesquisa que aqui se acessa tem dimensões que visam cruzamentos, extensões e conexões com o online.... 25.

(26) 1 O cenário Na sociedade de consumidores somos constantemente ensinados, segundo os moldes da melhor pedagogia do exercício e do exemplo, a formatar nossas ações rigorosamente dentro de preceitos e táticas que fomentam a realização dos desígnios dessa sociedade. As crianças de hoje nascem dentro da cultura consumista e crescem modelando-se segundo seus padrões e normas. (COSTA, 2009, p.35). Organizados em torno do consumo, os jovens de hoje já nascem em um cenário formatado dentro de características que colaboram com essa lógica. Costa (2009, p. 24) situa a questão do imenso poder da “convergência” das mídias, pontuando que as mesmas se associaram e potencializaram os efeitos de suas ações, tornando-nos cada vez mais receptivos às suas irresistíveis convocações. Diante destas convocações, a Geração Z, nascida entre a década de 1990 e os anos 2000, acaba por construir suas relações subjetivas com o mundo pautadas dentro de ideais de consumistas, visando gerir a rotatividade mercado. Crescendo dentro de espaços pensados em consonância com a realidade da indústria cultural, os jovens de hoje se situam frente a convites constantes a formas de ser. Em um recente estudo realizado globalmente pela Truth Central, publicado em 2017, e que buscava mapear o comportamento da chamada Geração Z, situa-se que “se antes falava-se em ‘nativos digitais’, hoje fala-se em ‘nativos do always on’. Os jovens. 26.

(27) estão sempre conectados, 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana), não importa o lugar”. Ao considerarmos essa conectividade, não soa estranho o fato de que a vida destes jovens tem assumido novos formatos, que suas formas de relação com o outro passam a ser geridas pelo mercado das imagens, e que estas trocas dentro deste cenário acontecem de forma intensa e facilitada. O mesmo estudo situa que o consumidor comum se tornou um usuário de dispositivos móveis há somente 12 anos, e que neste sentido, se calcularmos em anos nosso histórico de contato com a tecnologia móvel, somos todos adolescentes assumindo riscos e experimentando coisas novas diante deste novo formato de relações interpessoais (TRUTH CENTRAL, 2017). Com um simples click7 no mouse, um touch8 na tela do celular, diante do desejo de ser diferente e querer sempre mais, os jovens tem diante de si, hoje, um mundo que não oferece fronteiras, sequer limites. Na contemporaneidade, a exposição apresenta-se diante dos corpos como um convite à obrigação. Selfies9 chegam como facilitadoras do processo. O mostrar-se é constante. Nas redes sociais, a forma pela qual os jovens se relacionam, é expondo, tanto imagens como posicionamentos – ou melhor,. 7. Clique. Toque. 9 Fotografia que uma pessoa tira de si mesma, geralmente com um celular, e publica nas redes sociais. (Dicionário Michaelis Online, 2017) 8. 27.

(28) posicionamentos por meio de imagens. E essa é a fonte para busca de diversão, informação e forma de socialização. Dentro das tantas possibilidades de redes sociais em uso na atualidade, convido para a minha pesquisa o Instagram. O Instagram trata-se de uma rede de grande utilização, criada por Kevin Systrom e Mike Krieger, e lançada em outubro de 2010; esta rede social online permite o compartilhamento de fotos e vídeos entre seus usuários, disponibilizando filtros digitais. Também oferece o recurso denominado Direct10. Criado nos Estados Unidos, é uma rede social amplamente utilizado em todo o mundo. Com acesso facilitado a criação de um perfil para quem deseja participar, solicita apenas uma conta de e-mail, a qual ficará vinculada à sua conta do Instagram, e um nome de usuário. Dentro de um número de usuários imenso, que ultrapassa os 700 milhões, segundo o site especializado Canaltech – que veicula informações sobre os principais acontecimentos do mundo da tecnologia – , a questão é que vários nomes de usuários já não estão mais disponíveis. Para o perfil da pesquisa, o nome disponível para utilização foi o @essanaosou_eu. Neste perfil, pensado para a dinâmica da pesquisa, foram disponibilizadas as questões norteadoras do estudo, em formato visual, possibilitado pela própria ferramenta Instagram, de forma a tornar a proposta interativa para os sujeitos, voltada. 10. Ferramenta do Instagram que possibilita a troca de mensagens de forma privada.. 28.

(29) às dinâmicas das redes sociais. Assim sendo, o instrumento de coleta de dados online se tratou de um perfil ativo – o qual os participantes seguem, e por ele são seguidos. Dentro do próprio site de acesso ao Instagram, o www.instagram.com, encontrase uma seção onde são dadas dicas sobre como tirar, editar e compartilhar “as suas fotos mais legais”. Ainda na mesma plataforma, a empresa anuncia que a melhor maneira de aumentar e fortalecer seu público é criar conteúdo de marca de alta qualidade que as pessoas queiram ver em seus feeds do Instagram. Criar conteúdo forte também aumenta a probabilidade de que sua conta seja descoberta por não seguidores em Pesquisar e Explorar ou em Atividade, onde as pessoas podem ver as publicações que os seguidores delas curtiram.. Neste sentido, esta vitrine virtual proporciona encontros, comunicação e troca de ideias. Dentro dele e de suas diversas possibilidades de filtrar as imagens, são ofertados não apenas novas escalas de contraste, de cor e luminosidade, e sim a aplicação de filtros que alteram automaticamente o sentido daquilo o que se vive. Neste espaço que permite a modificação das imagens, escolhem-se formas de se dar a ver e de se comportar. De acordo com os relatos dos jovens pertencentes ao grupo focal desta pesquisa, contam viver imersos nos conteúdos de perfis que seguem, de figuras que os inspiram e em publicações compartilhadas virtualmente. Além disso, os jovens também se apresentam como produtores de conteúdo, compartilhando suas experiências. Conforme Castells (1999), as redes horizontais de comunicação que giram em torno da Internet 29.

(30) introduziram uma multiplicidade de padrões de comunicação baseados em uma transformação cultural à medida que o virtual passa a ser uma dimensão essencial de nossa realidade. Reig (2010) coloca em questão se os jovens de hoje de fato estariam aprendendo dentro desta nova realidade da web, que se utiliza de multitarefas, misturando formatos, se valendo da aprendizagem diversificada, dando destaque assim à aprendizagem móvel, que não acontece somente em um contexto. No ambiente escolar, o que se percebe é que facilmente esses sujeitos se desligam de um sistema tradicional de ensino, “trocando” a aula pelo celular – tanto pelos atrativos maiores, quanto por sua afinidade com a ferramenta. A mesma autora, então nos questiona: “¿Puede que no vayamos tan desencaminados y que toque ya, más que ponerla en duda, educar la participación en el nuevo entorno abundante de posibilidades cognitivas, creativas, sociales que supone la web?. ”. (REIG, 2010, p. 5) Dentro destas abundantes possibilidades cognitivas e criativas das redes sociais,. temos um espaço de compartilhamento de imagens diversas, onde cada usuário tem a possibilidade de fornecer conteúdo de natureza diversificada, de caráter informativo ou não, e desta forma produzir informações ligadas às mais diversas áreas, que acabam por fazer parte do cotidiano de quem faz uso destas redes. Subjetivamente, sem intenção ou intencionalmente, inúmeros dispositivos visuais circulam nas telas de celulares, tablets e notebooks, deixando “no ar” certos 30.

(31) posicionamentos. Opiniões e discussões geradas dentro das redes, a partir de diferentes publicações, acabam por interagir com concepções que acabam se inserindo no cotidiano desses jovens. E neste sentido, é possível sugerir que passam a ocorrer os processos de troca dentro das redes sociais. Para Torres, Fialho e Shimazaki (2014, p. 349) Os avanços das tecnologias da informação e da comunicação e o surgimento das redes sociais, cada vez mais interativas e colaborativas, têm influenciado as pessoas, principalmente adolescentes e jovens, modificando seus cotidianos e suas relações sociais. [...] Nesse espaço, as pessoas expressam suas opiniões de diversas maneiras, utilizando imagens, vídeos e construindo novos vínculos sociais. As redes sociais viabilizam um rápido acesso a informações, além de momentos de grande interação entre os pares, podendo contribuir significativamente para o processo de ensino e aprendizagem.. Dentro deste processo de aprendizagem que ocorre a partir dessas interações, podemos pensar nas imagens, as quais por si só já carregam mensagens. Desta forma, discutir a questão das imagens, já entendidas como práticas sociais em nossa sociedade, e o quanto subjetivamente podem significar para um jovem foram questões centrais desta pesquisa. Nos novos vínculos sociais, hoje configurados em diferentes formatos, virtuais, mediados por imagens, a questão cultural acerca do que é socialmente aceito tem suas referências com base na lógica do consumo. Neste contexto, onde a cultura toma forma frente a demandas midiáticas do mercado, Adorno (2002) entende que as massas 31.

(32) possuem certa responsabilidade pela cultura que consomem, isto é, essa cultura que é determinada pelas preferências das próprias massas. Para Veiga Neto (2004, p. 53) “centrar nossas análises nos fenômenos culturais não implica reduzir tudo à cultura; significa, sim, assumir que a cultura é uma das condições constitutivas de existência de toda prática social, que toda prática social tem. rodução/ @toxicspiritss - Disponível em https://www.instagram.com/p/BDWS8uzGNy5/?taken-by=toxicspiritss. uma dimensão cultural”. Se aproximar da dimensão cultural a qual as redes sociais tem nos possibilitado, de certa forma, é pensar sobre o que está se construindo no hoje e no agora, e no mesmo hoje e agora já se tornando também alguma coisa outra. Então, pode-se dizer que a vida social está atrelada a relações de representação e de poder dentro de nossa sociedade, uma vez que esta estrutura funciona de forma colaborativa com interesses maiores. Nas palavras de Martins e Sérvio (2012, p. 256), ao discutir e analisar essas culturas do nosso tempo, neste caso, as culturas das imagens ou, a cultura midiática, também buscamos compreender a sociedade em que vivemos, suas contradições, embates e enfrentamentos, seus interesses, inquietações e tremores, seus desejos, fantasias e utopias.. Ao pensar os jovens dentro desse cenário cultural, onde principalmente os dispositivos da rede social e da escola estão presentes, como espaços que colaboram com a produção de subjetividades destes sujeitos, é que a pesquisa ganha vida.. 32.

(33) 1.1 O lugar da escola e o espaço do Instagram. Para começar, então, se a atmosfera em que estamos imersos mudou tanto, caberia retomar aqui a pergunta central: para que precisamos de escolas agora? Ou melhor, o que gostaríamos que esse artefato fizesse com os corpos e as subjetividades que todos os dias transitam por seus domínios, cada vez mais cheios de grades e tentativas de controle? (SIBILIA, 2012, p. 52). Ao buscar situar um lugar para a escola nos dias de hoje, retomando as considerações de Sibilia (2012), indago: para que precisamos dela na atualidade? Se antes as escolas buscavam por formar sujeitos em formatos moldados às necessidades da sociedade industrial, pautada em um ideal normativo, hoje os novos sujeitos, que vivem as intensidades do mundo conectado ainda se veem diante de uma mesma estrutura pedagógica de ensino. Nesse sentido, o que passa a se observar é a perda de eficácia de sua oferta, na medida em que a mesma se encontra em desajuste com o que os jovens buscam se aproximar nos dias de hoje (SIBILIA, 2015). Mesmo que talvez em certo descompasso com o que experimentam online, a escola concomitantemente os ajuda a construir suas subjetividades. Este jovem, que transita em suas fases de vida – muda, habita, desabita, vai, vem, volta, troca, para de ser – percorre diferentes caminhos, para se constituir como sujeito. Porém, nos dias de hoje, até que ponto estes lugares são constituídos por ele?. 33.

(34) Seriam lugares que ele deseja habitar, e que ele supõe construir – ou lugares culturalmente construídos? A forma pela qual o jovem se relaciona socialmente, utilizando o Instagram e por consequência se aproximando de pessoas as quais se dispôs a seguir, o aproxima de uma infinidade de imagens e de desejos que partem de outras realidades. Estes sujeitos, celebridades ou digitais influencers, dispõem de imagens em suas redes que por muitas vezes indicam um modo de vida que cria padrões de referência para os mesmos. Porém, ao acessarem as redes sociais, os jovens firmam certo acordo de que elas não representam a realidade. Face à estas referências, os jovens, tal como relatado, expõem em seus perfis imagens e recortes de uma vida. Existe a vida na escola, e existe a vida online – ambos coexistem. Então, se tratando de recortes, esses jovens escolhem a forma pela qual preferem se mostrar. Castells (1999) aponta que não somos os mesmos desde que nos encontramos nas redes sociais, visto que estas nos contaminam de variadas formas. Por meio deste novo modo de se expor, que possibilita encontros com imagens diversas, estamos sujeitos a nos configurar de novas maneiras. Talvez que estas novas configurações revelem sujeitos mais abertos à exposição nas redes, visto que é uma realidade que possibilita a apresentação de recortes de momentos. Conforme Cardon (2012, p. 47), os novos internautas, mais jovens, menos diplomados e sociologicamente diversos, agruparam-se em nichos de proximidade para conversar, zombar,. 34.

(35) difundir informação, valorizando sua identidade. Através dessas microfalas, muito mais próximas da troca verbal do que da publicação de um artigo, eles se apropriaram da Internet como espaço social de um tipo particular. Essa Internet da conversação desempenhou um papel decisivo na democratização dos usos dela feitos. Os novos internautas aproveitaram do fato de que a Internet não era apenas uma ágora “muito pública”, mas também um local onde suas colocações não seriam submetidas aos critérios tradicionais de seleção. Por outro lado, foram inseridos no “paradoxo da privacy”, expondose livremente ao mesmo tempo que desejam não ser vistos por todos.. Além de ser um local “muito público”, o viver nas era das redes sociais traz a questão de “poder ser quem se quiser ser”, de que se é na imagem e como imagem. Diante das possibilidades de filtrar, os jovens podem se expor tendo por parâmetro padrões previamente estabelecidos, que facilitam o contato social dentro destes espaços. Entra aqui a questão do que é visível e do que é público, pois conforme Candon (2012, p. 48), “a Internet abriu a caixa de Pandora: as pessoas podem dizer qualquer coisa na Web [...]”. Neste sentido, também podemos pontuar a ideia de receptor e interlocução, pois o jovem passa a receber as imagens e criar suas próprias relações com e a partir delas. Ao considerar a possibilidade de se tornar visível publicamente, o jovem tem dentro das redes sociais a possibilidade de mostrar – dentro do formato que desejar – a realidade por ele produzida, não necessariamente vivida ou cotidiana, uma realidade de exceção, que suspende o laço necessário do aparecer com seu referente real. Baseada em referências suas ou no que julga melhor aceito dentro da rede, este jovem tem dentro. 35.

(36) do seu próprio perfil a possibilidade de mostrar um mundo moldado a seus critérios. Para Candon (2012, p. 53), de um ponto de vista simplesmente quantitativo, essa atração pelas redes sociais mudou profundamente as relações nas telas digitais. Não são mais uma porta aberta para um mundo de documentos frios e longínquos, mas uma janela viva para nosso cotidiano. Essa inserção da Internet na sociabilidade dos indivíduos e também em sua sociabilidade reflete a transformação sociológica desses públicos. De fato, a dinâmica das redes sociais se caracteriza pela chegada massiva, na Internet, de uma população muito mais jovem e oriunda de meios populares.. O jovem dentro das redes sociais tem diversas formas para parecer ser – figura inventada ou real, destacando-se aquele que consegue a maior aceitação do público, diante de “likes”, as famosas opções de curtir do Instagram. Para este contexto, trago como exemplo um ícone da web citado pelos sujeitos desta pesquisa. A autointitulada Youtuber11, dona do canal “5inco minutos”, Kéfera Buchmann, de apenas 24 anos. Figura pública, amada e odiada, que reúne aproximadamente doze milhões de seguidores em suas mídias sociais: Instagram, Youtube, Facebook e Twitter, começou produzindo vídeos caseiros, os quais caíram no gosto do público, e hoje arrecadam cerca de 2 milhões de acessos, ou views12, como são tipicamente chamados, por vídeo, contando com quase 9 milhões de inscritos em seu canal, o quarto mais assistido no. 11. Pessoa que publica vídeos no site Youtube – canal que possibilita a postagem de vídeos criados pelos próprios usuários. 12 Visualizações – quantidade de acesso por vídeos.. 36.

(37) Brasil, conforme consta em seu livro intitulado Muito mais que 5inco minutos (BUCHMANN, 2015). Em seus muito mais que cinco minutos, Kéfera mostra aos jovens sua visão de mundo, suas opiniões, seus gostos, suas críticas e, obviamente, coloca-os em posição de aceitação ou crítica, no momento em que a assistem e acabam sendo perpassados por suas falas e seu conteúdo – estrategicamente pensado para eles. Conforme Castells (2003, p. 52) os empresários da Internet são antes criadores que homens de negócios, mais próximos da cultura do artista do que da cultura corporativa tradicional. Sua arte, no entanto, é unidimensional: eles fogem da sociedade, à medida que prosperam na tecnologia,[...], recebendo um feedback cada vez menor do mundo como ele é. Afinal, para que prestar atenção ao mundo se o estão refazendo à sua própria imagem?. Desta forma podemos entender que cada vez mais a hierarquização dentro da Internet tem dado ênfase a certos conteúdos em detrimento de outros, em função do que têm maior escala de visualização, considerados “válidos” ou “melhores” para serem assistidos/seguidos. Acabamos por aderir à ideia de ser quem o mercado necessita que sejamos. Considero que assim comecem a surgir validações disseminadas nas redes sociais. O que um sujeito de grande influência digital, que comumente é chamado de digital influencer, publica na web, acaba por virar fenômeno – tanto de aceitação como de rejeição. Conforme Sibilia (2016, p. 38),. 37.

(38) as ‘celebridades da internet’ que, sem fazerem nada em particular, mas aquilo que todos costumam fazer – exibir sua vida e seu corpo nas redes sociais -, conquistam muitos seguidores e, portanto, despertam o interesse das empresas, que lhes oferecem dinheiro para postar fotos promovendo seus produtos de modo mais ou menos velado. Quanto mais honesto pareça esse gesto – ou seja, quanto menos óbvio seja o fato de que a pessoa está sendo paga para isso -, mais interessante será para a companhia investidora, pois o que funciona mesmo nesse tipo de marketing encoberto são as recomendações supostamente desinteressadas de um ‘amigo confiável’.. Ao se ter em vista interesses, os jovens são cercados de influências digitais diversas, vindas de diferentes sujeitos que buscam interferir neste contexto virtual, de forma a fornecer conteúdos de sua ordem de interesse, ou de interesses subjacentes aos seus, de ordem maior. Para Cardon (2012, p. 76), [...] o risco dessa informação conversacional é de que, subjetivamente, ela seja guiada apenas por rumores do dia ou estratégias inspiradas por novas técnicas de marketing. Certos tratamentos de informações na Internet são testemunhas dessa tendência: a corrida pela informação que faz a economia do aproveitamento, o interesse sem fim dos blogueiros por anedotas em evidência, a multiplicação de julgamentos de gosto sobre personalidades e vedetes, a circulação febril de rumores, as querelas narcisistas dos utilizadores do Twitter, etc.. Nesse sentido, pode-se afirmar que várias imagens dentro dessa rede social funcionam no sentido de despertar desejos, sejam elas nas mais variadas formas para que se consiga tal fato. Porém, de qualquer forma, cabe lembrar que é do interesse do próprio usuário a função de seguir quaisquer sejam as figuras, que exercem ou não este tipo de função dentro do Instagram. 38.

(39) O que segue, diante da realidade hoje veiculada pelas redes sociais, é que cada jovem assume papel único frente ao que vive – movimenta seu perfil, se adequa às propostas de funcionamento e faz com que o círculo das redes sociais continue sendo alimentado. Perante este fato, o que surge como ponto importante para pensar e que nos deve chamar a atenção é que “as tecnologias digitais de comunicação e informação possibilitaram o avanço de um novo regime de poder: aquele que converteu você, eu e todos nós nas personalidades do momento” (SIBILIA, 2016, p.47). Esta afirmação leva-nos a compreender que o sujeito jovem e ‘personalidade do momento’ tem em seu perfil no Instagram a possibilidade de mostrar, a quem quiser ver, seu recorte de realidade. Cabe, assim, a questão de como essa dinâmica têm acontecido e dentro disso, as formas pela qual o mesmo se ‘educa’ e procura seus próprios sentidos frente à vasta quantidade de imagens que passa por seus olhos, em um simples correr dos feeds13 das pessoas que segue.. 13. Chama-se de feed o lugar onde se agrupam todas as imagens postadas por uma determinada pessoa dentro do Instagram.. 39.

(40) 40 Reprodução/ @toxicspiritss - Disponível em https://www.instagram.com/p/BOkvJ0MD0yg/?taken-by=toxicspiritss.

(41) 1.2 @essanaosou_eu. O Instagram, rede social utilizada por todos os participantes do grupo focal pesquisado, foi um dos cenários onde as interações propostas pela pesquisa ocorreram. A interação online com o grupo aconteceu dentro da própria rede social, suscitando a ideia de que a pesquisa constituísse maior link e que se conectasse com a vida destes jovens. Penso que essa dissertação pôde, desta forma, se aproximar muito mais das postagens que pude acompanhar no Instagram de cada um destes sujeitos. Esta espécie de jogo, balizado pela postagem de imagens, possível por meio da Internet, gera novos espaços – ditos livres – ocupados pelos jovens, onde podem se manifestar de diferentes formas. Entendida como princípio de democracia, a Internet é muito mais uma sorte do que um perigo, uma vantagem do que um perigo. É a transparência completa da Internet em si mesma, abolindo os espaços de luz e sombra com o objetivo de levá-los para a luz dos motores de pesquisa, que pode consistir numa real ameaça a essas falas que proliferam em todas as direções, humildes ou capitais, graves ou irônicas – mas sempre profundamente livres. (CARDON, 2012, p. 108). Podemos partir da ideia de que as redes sociais constituem um espaço livre, híbrido, onde cada um pode “ser quem desejar” e produzir conteúdos diversos. Ao ter em vista esse cenário e a transparência da web, o jovem neste espaço das redes sociais pode deixar transparecer sua forma de entender o mundo. E através das imagens que publica, pode-se sentir inserido ou não dentro do contexto da rede. 41.

(42) Tome-se o exemplo (hipotético) de um jovem que deseja se popularizar por meio do Instagram, ou expondo-se a ponto de que seja notado – de que os olhares se voltem para ele; a rede existe para que ele seja visto. É improvável, pois, que este fizesse uso de imagens quaisquer – pois nesse caso, estaria a lançar um atrativo sem basear-se no tipo de imagem que já encontra dentro desta rede. Enumero aqui o exemplo de duas postagens retiradas do perfil do Instagram de uma das participantes da pesquisa. Duas questões me parecem bem claras diante destas postagens, uma delas se trata da própria similaridade plástica das imagens. Ambas retratam uma paisagem. A primeira postagem, retirada da Internet, tem a localização inserida como South Africa, fazendo referência a outro país.. Imagens retiradas do Instagram de uma participante da pesquisa. 42.

(43) Na segunda postagem, temos uma imagem fotografada pela própria participante, que marca a localização Santa Maria, Rio Grande do Sul, com legenda que enfatiza “das maravilhas de se morar em uma vila”. A segunda questão que chama a atenção diante das postagens é propriamente a ideia de retratar dois lugares, de visuais muito semelhantes, porém de realidades diferentes.. 43.

(44) Conforme Costa (2009, p. 24) vivemos em um tempo onde os jovens tem ego imenso, pois desde os meninos pobres que sonham tornar-se ronaldinhos com a bola nos pés, passando por milhares de garotinhas ricas ou pobres que têm as top models de hoje como modelos a serem seguidos, e chegando ao imenso contingente de jovens que, com uma guitarra ou um microfone, imaginamse mega stars levando imensas platéias ao delírio, todos alimentam-se da ilusão de potência que fama e dinheiro propiciariam.. Alimentados por todos estes modelos, os jovens de hoje veem-se dentro das redes frente a imagens que difundem um modo de vida melhor, superior. Acabam, neste sentido, colaborando na construção de um perfil – o qual dentro das redes sociais é mostrado por pessoas que os influenciam digitalmente – de formas de (querer) ser. Podemos entender tais formas de (querer) ser – oferecidas como uma possível maneira de dizer, à luz do título da pesquisa – “essa não sou eu?”, ou essa acaba sendo “quem quero (me) dar a ver?” – em um ambiente que sugere a adoção de determinadas formas de vida já expostas. Pensar e questionar o uso das redes por meio da aderência destes padrões talvez seja a melhor forma de perceber o quanto esses jovens acabam buscando caber dentro de formatos predefinidos que ali dentro são oferecidos aos mesmos. Ao criarem perfis nas redes sociais, acessam novas possibilidades – um mundo além da sua realidade, em casa, na escola –, passando de igual modo a se alimentar desse imaginário,. 44.

(45) coletivamente construído, – um mundo que se vale dos recortes mais preciosos de uma realidade que pode ser filtrada, refeita, costurada, maquiada, “vivida”. O espaço a ser preenchido entre as redes e a vida desses jovens seria justamente a discussão diante de algumas destas imagens que compõem suas vivências dentro do Instagram. Visto que estão recorrentes em seu dia a dia e colaboram na construção de suas subjetividades; com efeito, estas imagens passam diante de seus olhos, muitas vezes, sem sequer parar e pensar sobre o quanto fazem parte de suas próprias realidades. Conforme Sibilia (2016, p. 52), a rede mundial de computadores se tornou um grande laboratório, um terreno propício para experimentar e desenvolver novas subjetividades e outras formas de se relacionar com os demais. Em seus diversos canais nascem modos inovadores de ser e estar no mundo [...]. Como quer que seja, não há dúvidas de que esses reluzentes espaços devem ser observados com atenção, nem que seja porque se apresentam como os cenários mais adequados para montar um espetáculo de novo cunho, embora cada vez mais estridente: o show do eu.. Não se pode negar que dentro do espaço de uma rede social existem formas diversas nas quais as relações com o outro podem ser pautadas. Assim como um perfil pode seduzir os jovens a seguirem determinadas produções imagéticas, também pode lhes gerar repulsa. Ao entender as dinâmicas presentes nas redes sociais, os jovens, tal como relatado, buscam formas pelas quais possam se firmar dentro deste cenário, de modo a se educar diante do formato que é melhor aceito neste espaço. 45.

(46) 2 Estudos Culturais e Cultura Visual. Ao trazer para a pesquisa a perspectiva dos Estudos Culturais, o qual abriga as diversas possibilidades de aprendizagem diante da cultura, aponto a ideia da construção de conhecimento perante a realidade interativa, embasando as questões do aprender dentro das redes sociais. Neste sentido, para Costa (2004, p. 13) [...] os Estudos Culturais, ao operarem uma reversão nesta tendência naturalizada de admitir um único ponto central de referência para os estudos da cultura, configuram um movimento das margens contra o centro. Sua principal virtude talvez seja a de começar a admitir que a inspiração possa advir de qualquer lugar, contribuindo para desfazer os binarismos tão fortemente aderidos às epistemologias tradicionais. Assim, é preciso admitir que está em atividade, neste final de século, um novo campo de estudos que se apresenta como politicamente muito atraente e promissor, e que se esboça conectado às variadas concepções e práticas que vêm marcando os contextos destes tempos.. Os Estudos Culturais, ao abrirem um leque de possíveis referências para o estudo da cultura, apontam os diferentes espaços que subsidiam a construção de conhecimento cultural – podendo ser citado como um deles as redes sociais. Estas, na medida em que assumem papel importante diante dos jovens, fazendo parte de sua formação como sujeitos, podem direcionar suas escolhas e passam a contribuir em suas construções socioculturais. Ainda para Costa (2003, p. 38),. 46.

(47) a cultura não pode mais ser concebida como acumulação de saberes ou processo estético, intelectual ou espiritual. A cultura precisa ser estudada e compreendida tendo-se em conta a enorme expansão de tudo que está associado a ela, e o papel constitutivo que assumiu em todos os aspectos da vida social.. Desta forma, as questões culturais na atualidade caminham junto à realidade das redes sociais, visto que essa tem feito parte da vida e das formas do jovem se constituir como sujeito. Aproximar-se da realidade online não deixa de ser uma forma de buscar pelo que neste espaço é culturalmente aceito e proposto. Sardar e Van Loon (1998) definem cinco pontos para aproximação com os Estudos Culturais, sendo que o primeiro deles diz respeito a noção de que um dos objetivos dos Estudos Culturais é o de mostrar as relações entre poder e práticas culturais, buscando uma forma de expor como o poder atua modelando estas práticas. Segundo os autores, o desenvolvimento dos estudos da cultura acontece de forma a tentar captar e compreender toda a sua complexidade no interior dos contextos sociais e políticos. Para eles, a cultura sempre tem uma dupla função: ela é, ao mesmo tempo, o objeto de estudo e o local da ação e da crítica política, e está atrelada a uma avaliação moral da sociedade moderna e com uma linha radical de ação política. Dentro desta perspectiva de estudo, vinculo o campo da Cultura Visual diante das questões relacionadas às imagens. Se o espaço das redes sociais pode ser entendido dentro dos Estudos Culturais como ambiente em que também se aprende, o campo da. 47.

(48) Cultura Visual entra nesta mescla conceitual frente às relações e tensionamento diante das imagens. A Cultura Visual, entendida como [...] campo de fronteiras difusas, demarcado muito mais por esboços inacabados referências dialogais (por vezes vociferações) do que propriamente por marcos conceituais precisos, delineadores, que possam resultar em alguma instalação minimamente confortável. Filiada aos Estudos Culturais, estabelece estreita relação com as discussões decorrentes da chamada virada cultural, ou cultural turn, quando as análises econômicas, políticas e sociais enveredaram rumo às interpretações culturais. (MARTINS, 2016, p. 177). Para tanto, a cultura passa a ocupar o centro das discussões, fornecendo subsídios para que as imagens sejam problematizadas e, neste sentido, a própria Cultura Visual nos oferece um campo de estudo que possibilita tensionar os dispositivos visuais, com intuito e na tentativa de validar a ideia de que os jovens não recebam essas imagens de forma gratuita, deixando de questionar o valor disseminado por cada uma delas. Neste estudo, atravessado pelas ideias centrais dos Estudos Culturais e da Cultura Visual, a ideia presente não foi a de analisar as imagens pelo viés da própria Cultura Visual, e sim pautar-se a partir das falas dos alunos provenientes a partir de suas relações com as imagens. Uma proposta que se desenha dentro do próprio campo de estudo da Cultura Visual necessita trabalha a partir das imagens. No contexto aqui assumido, a Cultura Visual apenas é abordada como campo teórico que discute as imagens e subsidia as questões subjacentes aos Estudos Culturais. Para Hernandez (2013, p. 92), 48.

(49) em um mundo dominado por dispositivos da visão e tecnologias do olhar, a finalidade educativa que proponho com a pesquisa com e sobre as imagens a partir da cultura visual é explorar nossa relação com as práticas do olhar, as relações de poder em que somos colocados, e questionar as representações que construímos de nossas relações com os outros, pois, ao final, se não podemos compreender o mundo e intervir nele, é porque não temos a capacidade de repensá-lo e oferecer alternativas aos relatos naturalizados.. Justamente pelo viés de desnaturalizar o que já está instituído dentro das redes sociais, e em busca de deslocar o olhar desses jovens frente aos apelos constantes em função das imagens é que a pesquisa se vincula ao campo educacional. A Cultura Visual, no que tange às imagens, abre um leque de possibilidades para problematizações acerca das mesmas, para que estas possam de fato assumir sentido aos jovens. Abordar o contexto teórico da Cultura Visual implica em “considerar que as imagens e outras representações visuais são portadoras e mediadoras de significados e posições discursivas”, como aponta Hernandez (2011, p. 33). Em outras palavras, as imagens deixam de ser apenas meros artefatos representacionais, elas condensam ou exprimem os posicionamentos dos sujeitos que as experimentam, quer como produtores, quer como consumidores e são, em muitos casos, determinados e condicionados por elas. Neste sentido, é necessário compreender que os fenômenos que afetam a vida dos jovens partem da relação estreita entre redes sociais e imagens, e possibilitam com. 49.

(50) que os mesmos passem a produzir sentido, delineando sua subjetividade e senso crítico. Filho (2016, p. 109) situa que os dias de hoje, comumente ditos e vistos como o tempo do domínio da imagem visual e da virtualidade, são marcados pela profusão e disseminação veloz e voraz das visualidades. A predominância da imagem visual, produzida e consumida nas mesmas intensidades e velocidades, tem desafiado a educação, na medida em que também lhe cabe, na mediação e condução dos processos de formação, refletir sobre as consequências, possibilidades, benefícios e riscos intrínsecos a essa tal ‘era das imagens’.. Para Martins (2015, p. 23), “a cultura visual discute e trata a imagem não apenas pelo seu valor estético, mas, principalmente, buscando compreender o papel social da imagem na vida da cultura”. Ou seja, tensionar as questões culturais e políticas defendidas pelo viés dos Estudos Culturais dentro do campo da Cultura Visual é dar o devido poder às imagens, discutindo-as de forma a ampliar significações que as mesmas possam estar carregando. Desta forma, ao vincular o campo teórico dos Estudos Culturais junto ao campo da Cultura Visual, propus discutir como estas redes podem estar gerando processos de aprendizagem a estes jovens dentro das redes sociais por meio da cultura e das imagens, discutindo as possibilidades a partir da fala dos pesquisados frente a este cenário. As imagens, neste sentido, atuaram apenas como plano de fundo das discussões, e não como disparadoras de questões centrais. Foram abordadas como ponto inicial para. 50.

(51) discussão dos questionamentos, e a análise foi feita a partir da fala gerada através destas relações com as imagens. Mas o que, enfim, os jovens expressam por meio das imagens que validam dentro das redes sociais? Mostram o modo como eles próprios se veem ou como esperam que os outros os vejam? Pode-se dizer que, se por um lado existem jovens que acabam se adaptando aos espaços das redes sociais para se sentirem inseridos em determinado ambiente, seja ele virtual ou real, por outro existem os jovens que criticam o fato de alguns se moldarem em função das mesmas. Essa divisão fica clara no momento em que questionados, apontam conhecer sujeitos fabricados em função de determinados padrões. Conforme Cardon (2012, p. 51), “com distância, confiança, ironia ou paixão, não cessamos de escrever e de compartilhar o que as mídias nos dizem ou nos mostram.” Nessa perspectiva, os jovens acabam por contribuir ainda mais para manter em circulação os padrões das redes, pois também se valem dela para gerar suas críticas, e apontar como negativa a questão de seguir um modelo ali exposto. Conforme Amante (2014, p. 35), Atualmente, estar nas redes sociais constitui uma forma de gerir o próprio estilo de vida e as relações sociais. Quando um jovem faz comentários positivos sobre os seus amigos, está a favorecer a possibilidade de também os seus amigos fazerem comentários positivos sobre si próprio. Desta forma, entre outras, assiste-se nestas redes à co-construção de subjetividades, processo em que a relação com os pares assume particular relevância.. Reprodução/ @toxicspiritss - Disponível em https://www.instagram.com/p/BJyM4Cgjzw5/?taken-by=toxicspiritss. 51.

(52) Comentários, sejam eles positivos ou negativos, funcionam no sentido de oportunizar que o jovem posicione-se frente a este espaço de opiniões diversas que se forma dentro de uma rede. Dessa forma, o obriga a fazer certas escolhas, privilegiando aquilo que considera aceitável e adequado frente a realidade ali exposta. Podemos situar, neste sentido, a dinâmica que ocorre dentro das redes sociais como uma pedagogia cultural, no sentido utilizado por Steinberg (1997), que situa a educação como processo que ocorre em diferentes locais sociais, para além do espaço escolar. E na forma pela qual se aprende dentro deste cenário sobre as referências do que é aceito, do que pode gerar melhores comentários e do que o outro vai preferir ver, é que se pode dizer que este é o espaço em que se iniciam os processos virtuais do “aprender”. Para Martins e Sérvio (2012, p. 255) “mensagens e imagens midiáticas se apresentam como atraente possibilidade de troca, instigando diálogos e práticas que demandam algum tipo de negociação, ajudando os indivíduos a construir maneiras de compreender, interagir e se adaptar ao mundo”. Desta forma, os jovens são convidados a lidar com essas negociações podendo criar sua própria maneira de interação dentro das redes sociais. Porém, as questões que estes devem pontuar em relação aos modelos e padrões, entendendo o processo educativo dentro deste contexto, são no sentido de entender as múltiplas direções pelas quais parece ser orientado no mesmo.. 52.

(53) As pedagogias culturais, ao operarem de variadas formas e por distintos perfis, podem projetar novas formas de aprender a ser sujeitos, remodelando constantemente estes jovens que procuram se moldar aos padrões socialmente difundidos dentro das redes – na busca de encontrar a forma mais adequada para viver na sociedade conectada da atualidade.. 53.

(54) 3 Metodologia. Teoria e pesquisa só servem se têm a capacidade de dar sentido à observação de seu objeto de estudo. O valor da pesquisa social não deriva apenas da sua coerência, mas também de sua relevância. Não se trata de um discurso, mas de uma investigação (CASTELLS, 1999, p.29).. Ao situar as questões metodológicas da pesquisa, enfatizo em um primeiro momento seu caráter qualitativo em relação à produção de dados. Ao abordar a fluidez da tecnologia, busco pela forma por intermédio da qual esses jovens têm se organizado frente às conexões das redes sociais, que lhe soam familiar, e se multiplicam a ponto do mesmo não dar conta de acompanhar e conhecer todas as possibilidades que constantemente são ofertadas. Pesquisar dentro das possibilidades das ciências humanas é lidar com provisoriedades, com construções constantes. É caminhar, transitar sobre conexões vívidas e cheias de intensidades. Aqui se percorreu um caminho onde não são possibilitadas bases sólidas para afirmações: estas por hora podem valer, mas que talvez, em seguida, estarão sujeitas à substituição por outras perspectivas. Todavia, optar por escolhas metodológicas quando se tomam as subjetividades como referência, a partir do dispositivo das redes sociais, tem papel fundamental dentro do que se deseja tomar como norte dentro da pesquisa. Diante dessas questões, ao optar pelo uso da análise de conteúdo, a pesquisa buscou situar as questões metodológicas 54.

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