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O positivismo jurídico e sua evolução como pensamento: um histórico de sucesso ou de fracasso?

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Academic year: 2021

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COMO PENSAMENTO: UM HISTÓRICO DE

SUCESSO OU DE FRACASSO?

Legal positivism and its evolution as doctrine:

a history of success or failure?

Daniel Dix Carneiro *

RESUMO

Este artigo versa sobre o processo evolutivo do positivismo jurídico !"!# $%&'("%&)!# *+!',* !-# .%&)/!# 0%''%# !&)%1)!2# '3!# "!)45!'# de nossa abordagem: as razões que ensejaram o surgimento dessa 0!6)/4&(2#'6('# (/( )%/7')4 ('#%#(#)%&)()45(#0%#0%'54& 6+(83!#0!#04/%4)!# com os preceitos morais. Veremos, ainda, que, a partir de meados 0!# '9 6+!# $(''(0!2# (# !& %$83!# 0%# 04/%4)!# $/% !&4:(0(# $!/# %''(# !//%&)%#*+!',* (#;!4#!<=%)!#0%#06/('# /7)4 ('2#!#>6%# 6+"4&!6# !"#!# surgimento do pós-positivismo, pensamento este que preconiza uma "(4!/#4&)%4/(83!#0!#04/%4)!# !"#(#"!/(+2#&(#<6' (#4& %''(&)%#$%+!#'%&'!# 0%#=6')48(-#?!/9"2#)%&0!#%"#54')(#&!''(#)/(0483!#/!"(&!@A%/"B&4 (# 0%#'4')%"()4:(/#%#($+4 (/#!#04/%4)!2#$(/% %#04* 6+)!'(#(#(0"4''3!#0!'# preceitos morais como direito, fato que dá origem ao pensamento &%! !&')4)6 4!&(+4')(2# !# >6(+# $/% !&4:(# (# 4&'%/83!# 0(# "!/(+# &!'# )%1)!'# !&')4)6 4!&(4'#! 40%&)(4'#$!/#"%4!#0!'#$/4& 7$4!'#0%#04/%4)!2# ()6(+"%&)%#(+8(0!'#C# !&0483!#0%#&!/"('#=6/704 ('#%#&3!#"(4'#"%/!'#

4&')/6"%&)!'#0%#4&)%A/(83!#0!#04/%4)!-Palavras chaveD#?!'4)454'"!#=6/704 !-#E5!+683!-#F%! !&')4)6

4!&(+4'"!-* Advogado; mestrando em Direito Internacional pela Universidade do Estado do Rio de G(&%4/!#HIEJGK-#L!&)()!D#0(&4%+-041M6!+- !"-</

(2)

ABSTRACT

This paper discusses the evolutionary process legal positivism as a $N4+!'!$N4 (+#)N!6AN)-#O4)N4&#)N4'# !&)%1)2#!6/#($$/!( N#4'#"!)45()%0# by: the reasons that gave rise to the emergence of this doctrine, its characteristics and the attempt to separate the law from moral precepts. We will also see that from the middle of last century, the concept of law advocated by this philosophical movement was the object of harsh criticism, which led to the emergence of post-positivism, a movement that calls for greater interaction between the law and morality, in the constant quest for the sense of justice. However, in view of our Roman-P%/"(&4 #)/(04)4!&#)!#'Q')%"()4:%#(&0#($$+Q#)N%#+(R2#4)#'%%"'#04;* 6+)# to admit moral precepts as law, which gives rise to neo-constitutionalist thought. This movement advocates the inclusion of morality in Western Constitutions through the principles of law, which are now raised to legal norm status and are no longer mere instruments for the integration o law. KeywordsD#S%A(+#$!'4)454'"-#E5!+6)4!&-#F%!@ !&')4)6)4!&(+4'"-#

INTRODUÇÃO E DELIMITAÇÃO DO TEMA

T#$/%'%&)%#%&'(4!#54'(#(#40%&)4* (/#%#(&(+4'(/#!#$!'4)454'"!#=6-/704 !# !"!#0!6)/4&(#'6/A40(#(!#*&(+#0!#'9 6+!#UVU#%"#!$!'483!#(!# denominado direito natural (jusnaturalismo), o qual preceituava a %$83!#0%#6"#04/%4)!#40%(+2#<('%(0!#%"#5(+!/%'#"%)(;7'4 !'#%#0454&!'2## 6=!'#$(/B"%)/!'#0%5%/4("#&!/)%(/#!'#+%A4'+(0!/%'#&(#%+(<!/(83!#%#&(# !& %$83!#0('#+%4'2#'!<#$%&(#0%#&3!#'%/%"# !&'40%/(0('#5W+40('2#;()!# >6%#04* 6+)(5(#!#%')60!#0!#04/%4)!#%"#'4#%#)/(:4(#A/(&0%#4&'%A6/(&8(# às relações jurídicas.

Como ponto de partida de nossa pesquisa, teceremos algumas poucas considerações sobre a corrente jusnaturalista, para que, em '%A640(2#$!''("!'#(<!/0(/#!#'6/A4"%&)!#%#(#%5!+683!#0(#%' !+(#$!-sitivista do direito, a qual foi concebida especialmente no intuito de '4')%"()4:(/#(#($+4 (83!#%#!#%')60!#0!#04/%4)!2#/%06:4&0!@'%2#$!/)(&)!2# a insegurança jurídica causada pelo direito natural, que preconizava a invalidade ou inaplicabilidade de uma lei ou norma com base em valores morais e em concepções subjetivas de justiça.

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Y%/4* (/%"!'# >6%# !# $!'4)454'"!# =6/704 !2# %"# '6(# !& %$83!# 4&4 4(+2#$/% %4)6(5(#6"#%')60!# 4%&)7* !#0!#04/%4)!2#"%04(&)%#(#4&)/!-0683!#0%#6"(#(<!/0(A%"#avalorativa, o que representou um avanço '4A&4* ()45!#C#'! 4%0(0%2#4''!#$!/>6%#'4"$+4* !6#!#%&)%&04"%&)!#%#(# ($+4 (83!#0('#&!/"('2#)/(:%&0!2#$!/# !&'%A64&)%2#"(4!/#'%A6/(&8(#C'# /%+(8Z%'#=6/704 ('#>6%#0%5%"#'%/#!#!<=%)!#0%#$/!)%83!#0!#04/%4)!2#)%&0!# grande aplicabilidade até os dias atuais.

Apesar dos avanços inegáveis trazidos à sociedade e à comu-nidade jurídica pela doutrina do positivismo clássico, veremos que, com base em interpretações indevidas por parte dos aplicadores do 04/%4)!2#!#/%;%/40!#$%&'("%&)!2#%"#/(:3!#0(#'6(#!<=%)4540(0%#%#'4')%-"()4:(83!2#( (<!62#0%#;!/"(#%>645! (0(2#(''! 4(&0!#!#$/,$/4!#04/%4)!# C#+%42#(;(')(&0!@!2#$!/)(&)!2#0(#*+!'!*(2#0%#"!0!#>6%2#%"#"%(0!'#0!# '9 6+!#$(''(0!2#%'$% 4* ("%&)%#(!#*&(+#0(#[%A6&0(#P6%//(#\6&04(+2# !"%8!6# (# '!;/%/# A/(&0%'# /7)4 ('# $!/# $(/)%# 0%# &!5!'# *+,'!;!'# 0!# direito.1#.%'0%#%&)3!2#!#$%&'("%&)!#$!'4)454')(#)%"#'!;/40!#(+A6"('# reformulações em sua abordagem avalorativa#%# 4%&)7* (#4&4 4(+"%&)%# concebida, no intuito de adequá-lo aos novos anseios sociais de justiça, %'$% 4(+"%&)%# !"#'6(#/%($/!14"(83!#0(#"!/(+#%#"%04(&)%#(#( %4)(83!# 0!'#$/4& 7$4!'# !"!#%'$9 4%#0%#&!/"(#=6/704 (2#!'#>6(4'#%')3!# (0(# 5%:#"(4'#4& !/$!/(0!'#(!'#)%1)!'# !&')4)6 4!&(4'2#;()!#>6%# 6+"4&(#&!# aparecimento do chamado neoconstitucionalismo.

BREVES CONSIDERAÇÕES ACERCA DO

DIREI-TO NATURAL

]#%14')^& 4(#0%#5(+!/%'#%1)%/&!'#%#4&)/7&'% !'#C#&()6/%:(#N6"(&(# ;!4# !&'40%/(0(#(#<('%#$(/(#'%#0%;%&0%/#0%'0%#"64)!#(#%14')^& 4(#0%# um direito ideal que se opusesse ao denominado direito dos homens, o qual muitas vezes era tido como injusto e imperfeito. Com base nes-ses conceitos, foi fundada a escola do direito natural, que conquistou A/(&0%#$(/)%#0!'#*+,'!;!'#%#$%&'(0!/%'#%6/!$%6'#(#$(/)4/#0!#'9 6+!# UYV#%#54(<4+4:!62#%"#'6(# !& %$83!2#(#&3!#($+4 (83!#0%#6"(#+%4#!6#0%# 6"(#&!/"(#>6%#&3!#%')45%''%#%"# !&'!&B& 4(# !"# /4)9/4!'#"!/(4'#!6# com concepções de justiça.2 Partindo dessas noções, o direito natural poderia ser tido como um modelo a ser seguido pelas leis a serem formuladas pelas sociedades, de modo que o direito propriamente

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04)!#'!"%&)%#'%/4(# !&'40%/(0!#5W+40!#>6(&0!#'%A64''%#!'#$(/B"%)/!'# ideais de justiça estabelecidos pela escola jusnaturalista.3

.%&)/!#0%''%# !&)%1)!2#)%"!'#>6%#('#&!8Z%'#0%#5(+!/2#"!/(+#%# justiça podiam ser traduzidas como sendo o pilar fundamental da doutrina jusnaturalista, o que acarretava insegurança no regramento das relações jurídicas travadas na sociedade que, por sua vez, estariam C#"%/ ^#0('# !&

%$8Z%'#'6<=%)45('#0%#"!/(+#%#0%#=6')48(-Podemos considerar, portanto, que as características metafísicas %#'6$/(+%A(4'#0!#=6'&()6/(+4'"!#04* 6+)(5("#!#%')60!# 4%&)7* !#%#'4'-temático do direito, fato cada vez mais demandado pelas sociedades, 6=('# /%+(8Z%'# =6/704 ('# )/(5(0('# 54&N("# '%# )!/&(&0!# 04&B"4 ('# %# !"$+%1('#%#&%

%''4)(5("#0%#"(4!/#'%A6/(&8(#%#%')(<4+40(0%-.4(&)%#0%''%#>6(0/!2#(!#*&(+#0!#'9 6+!#UVU2#A(&N(#;!/8(#(#0%&!-minada escola positivista do direito, que, em atendimento ao anseio '! 4(+2# !"%8(#(#$%&'(/#!#04/%4)!# !"#<('%#&6"(# !& %$83!#0%#6"# '4')%"(#=6/704 !#;% N(0!#%#4&4 4(+"%&)%#0%'54& 6+(0!#0(#&!83!#'6<=%-)45(#0%#"!/(+2#(+)%/(&0!@'%#(#;!/"(#0%# !"$/%%&'3!#0!'#;%&_"%&!'# =6/704 !'2#)!/&(&0!@!'#"(4'#!<=%)45!'2#"%04(&)%#(0!83!#0(#)9 &4 (#0%# '6<'6&83!#0!#;()!#C#&!/"(#=6/704 (2#!#>6%#$/!"!5%6#(#'%A6/(&8(#0('# relações jurídicas, tornando-as mais estáveis.

O SURGIMENTO DO POSITIVISMO JURÍDICO

COMO DOUTRINA

F6"(#</%5%#'7&)%'%2#!#$!'4)454'"!#=6/704 !# +W''4 !#$!0%#'%/# !&-ceituado como sendo a doutrina que entende ser direito o conjunto de normas (em sentido lato) que foram devidamente deliberadas e postas pelo Estado para regular as relações sociais, que independem, para sua validade, de valores morais preestabelecidos, e cujos esforços estejam 5!+)(0!'# C# /%`%13!# '!</%# (# '6(# ($+4 (83!# %# 4&)%/$/%)(83!2# 0%5%&0!# '%/#%''%#!#!<=%)!#(#'%/#0%*&40!#$!/#%')%#$%&'("%&)!-#F%''%#('$% )!2# $!0%"!'#(*/"(/#>6%#!#$%&'("%&)!#<W'4 !#0!#$!'4)454'"!#=6/704 !# !&'40%/(# !# 04/%4)!# !"!# /%'6+)(0!# 0(# (83!# %# 0(# 5!&)(0%# N6"(&(# H04/%4)!#$!')!#%#$!'4)45!K2#&3!#0% !//%&0!2#$!/)(&)!2#0(#4"$!'483!#0%# .%6'2#0(#&()6/%:(#!6#0(#/(:3!2#)/(06:4&0!@'%#&!#/!"$4"%&)!# !"#!'# denominados valores morais e de justiça preconizados pelo

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jusnatura-+4'"!2#0%#;!/"(#>6%#(# !& %$83!#0!#04/%4)!#'%#+4"4)(/4(#(!# !&=6&)!#0%# normas impostas por seres humanos para regular o comportamento do próprio homem e da sociedade.

Devemos ressaltar que boa parte dos partidários do positivismo =6/704 !#H%' !+(# +W''4 (K#0%;%&0%#>6%#&3!#%14')%2#&% %''(/4("%&)%2#6"(# /%+(83!#%&)/%#!#04/%4)!2#(#"!/(+#%#(#$/,$/4(#=6')48(#H !& %$83!#(5(+!/(-tiva do direito), pois as noções de justiça e de moral seriam rela%$83!#(5(+!/(-tivas !6#&3!#(<'!+6)('#%2#$!/)(&)!2#(+)%/W5%4'#&!#0% !//%/#0!#)%"$!2#&3!# A!:(&0!#0%#;!/8(#$!+7)4 (#'6* 4%&)%#$(/(#'%#4"$!/# !&)/(#(#5!&)(0%# de quem elabora as normas.

L!//!<!/(&0!#%''(#$/%"4''(2#'3!#5W+40('#('# !&'40%/(8Z%'#;%4)('# por Hans Kelsen em sua “Teoria Pura do Direito”, obra tida como símbolo do positivismo jurídico, acerca da inviabilidade de uma moral absoluta idealizada pelo jusnaturalismo, bem como da sua necessária '%$(/(83!# !"#!#04/%4)!2#!#>6(+2#%"#'%6#'%&)4/2#&3!#"%/% %#'%/#'6<"%-tido a qualquer juízo de valor:

Quando uma teoria do Direito positivo se propõe a distinguir Direito e \!/(+#%"#A%/(+#%#.4/%4)!#%#G6')48(#%"#$(/)4 6+(/2#$(/(#!'#&3!# !&;6&04/# %&)/%#'42#%+(#5!+)(@'%# !&)/(#(# !& %$83!#)/(04 4!&(+2#)40(# !"!#4&04'-cutível pela maioria absoluta dos juristas, que pressupõe que apenas %14')%#6"(#a&4 (#\!/(+#5W+40(#b#>6%#92#$!/)(&)!2#(<'!+6)(#b#0(#>6(+# /%'6+)(#6"(#G6')48(#(<'!+6)(-#]#%14A^& 4(#0%#6"(#'%$(/(83!#%&)/%#.4-/%4)!#%#\!/(+2#.4/%4)!#%#G6')48(2#'4A&4* (#>6%#(#5(+40(0%#0%#6"(#!/0%"# =6/704 (#$!'4)45(#9#4&0%$%&0%&)%#0%')(#\!/(+#(<'!+6)(2#a&4 (#5W+40(2# 0(#\!/(+#$!/#%1 %+^& 4(2#0%#a#\!/(+-#c---d#[%2#$/%''6$!&0!#(#%14')^& 4(# de valores meramente relativos, se pretende distinguir o Direito da \!/(+# %"# A%/(+# %2# %"# $(/)4 6+(/2# 04')4&A64/# !# .4/%4)!# 0(# G6')48(2# )(+# $/%)%&'3!#&3!#'4A&4* (#>6%#!#.4/%4)!#&(0(#)%&N(#(#5%/# !"#(#\!/(+#%# !"#(#G6')48(2#>6%#!# !& %4)!#0%#.4/%4)!#&3!# (4<(#&!# !& %4)!#0%#<!"-# c---d#A pretensão de distinguir Direito e Moral, Direito e Justiça, sob

! "#$%%&" %' ! ($! &)*! '$ #+*! #$,*'+-*! ( %! -*, #$%.! *"$/*%! %+0/+12*! que, quando uma ordem jurídica é valorada como moral ou imoral, justa ou injusta, isso traduz a relação entre a ordem jurídica e um dos vários sistemas de Moral, e não a relação entre aquela e ‘a’ Moral. Desta forma, é enunciado um juízo de valor relativo e não um juízo ($!-*, #!*3% ,&' 4!5#*.!+%' !%+0/+12*!6&$!*!-*,+(*($!($!&)*! #($)! jurídica positiva é independente da sua concordância ou discordância com qualquer sistema de Moral4

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?!/#'6(#5%:2# !"#<('%#&!'#%&'4&("%&)!'#0!#=6'*+,'!;!#(+%"3!# Hebert Hart,5# )(+5%:# !# "(4!/# &!"%# !&)%"$!/B&%!# 0!# $!'4)454'"!# jurídico e um dos responsáveis, como veremos adiante, pela reformu-+(83!#0%''%#$%&'("%&)!2#>6(&0!#$/%)%&0%6#($/!14"W@+!#0!'# !& %4)!'# "!/(4'#%#(0%>6W@+!#(!'#(&'%4!'#0%#=6')48(#'6/A40!'#(!#*&(+#0(#[%A6&0(# P6%//(#\6&04(+26 podemos resumir os fundamentos da doutrina po-sitivista nos seguintes postulados:

a) ]'#+%4'#'3!#;/6)!'#0!'#

!"(&0!'#0!'#'%/%'#N6"(&!'-b) F3!#%14')%#57& 6+!#&% %''W/4!#%&)/%#04/%4)!#%#"!/(+2#!6#%&)/%# direito como ele é ou como deveria ser (direito ideal). A análise dos conceitos jurídicos deve ser distinta dos preceitos históricos, sociológicos e de quaisquer outros.

c) O sistema jurídico é um sistema lógico fechado, no qual as decisões jurídicas corretas podem ser inferidas por meios lógicos a partir de regras jurídicas predeterminadas sem referenciais a objetivos sociais, políticos ou morais.

d) Os juízos morais podem ser emitidos, ou defendidos, como $!0%"#('#(*/"(8Z%'#0%#;()!'2#$!/#"%4!#0%#(/A6"%&)(83!# /( 4!&(+2#%540^& 4(#!6#$/!5(#H !& %$83!#"(4'#"!0%/&(#0%-fendida por Hart).

Feitos esses esclarecimentos e considerações iniciais, especial-"%&)%#'!</%#(# !& %4)6(83!#%#'6/A4"%&)!#0!#$!'4)454'"!#=6/704 !2#<%"# como acerca dos seus principais fundamentos, podemos avançar em nossos estudos no sentido de analisar de forma mais pormenorizada as (/( )%/7')4 ('#0%''(#0!6)/4&(2#'6('# /7)4 ('#%#'6(#%5%&)6(+#(0%>6(83!# (!#&!''!#()6(+# !&)%1)!#=6/704 !#%#*+!',* !-#

PONTOS E PROBLEMAS FUNDAMENTAIS QUE

CARACTERIZAM O POSITIVISMO JURÍDICO

Após as breves considerações introdutórias acerca da doutrina positivista, temos melhores condições de prosseguir em nossas análises

(7)

no intuito de nos familiarizarmos cada vez mais com esse pensamento que inovou a forma de entender e aplicar o direito no início do século UU#%# 6=!#+%A(0!#&!'#(

!"$(&N(#()9#!'#04('#()6(4'-?(/(#>6%#)%&N("!'#6"(#"%+N!/# !"$/%%&'3!#040W)4 (#0!#$!-'4)454'"!#=6/704 !2#$(/% %@&!'#0%#;6&0("%&)(+#4"$!/)B& 4(#>6%#40%&-)4*>6%"!'#!'#$!&)!'#>6%# (/( )%/4:("#%''(#0!6)/4&(2#!'#>6(4'#;!/("# (<!/0(0!'#%#(&(+4'(0!'#$%+!#*+,'!;!#0!#04/%4)!#F!/<%/)!#e!<<4!-7

.%''(#;%4)(2# !"#<('%#&!'#%&'4&("%&)!'#0%#e!<<4!2#)%"!'#>6%# o positivismo jurídico poderá ser caracterizado como pensamento e 0!6)/4&(# !&;!/"%#(#40%&)4* (83!#0!'#'%A64&)%'#$!&)!'#%#0%' /48Z%'D#

a) Modo de abordar e de encarar o direito – o positivismo !&'40%/(# !# 04/%4)!# !"!# 6"# ;()!# %# &3!# !"!# 6"# 5(+!/2# (;(')(&0!@'%2#$!/)(&)!#0!#$%&'("%&)!#=6'&()6/(+4')(-#F%''%# ('$% )!2#!#04/%4)!#0%5%#'%/#)40!# !"!#(#/%6&43!#0%#;()!'2#;%&_-menos ou dados sociais em tudo análogos àqueles presentes &!#"6&0!#&()6/(+-#.%&)/!#0%''%# !&)%1)!2#)%"!'#>6%#!#=6/4'-ta e o aplicador do direito devem estudá-lo e analisá-lo da mesma forma que o cientista estuda a realidade, abstendo-se, pois, de formular qualquer juízo de valor sobre as questões >6%#+N%#'3!#($/%'%&)(0('-#T#)%/"!#04/%4)!#0%5%#'%/# !&'40%-rado como absolutamente avalorativo, independentemente do fato de ser mau ou bom, justo ou injusto. A validade do direito se funda em critérios que concernem à estrutura ;!/"(+2#4&0%$%&0%&)%#0%# !&)%a0!#H !"!#5%/%"!'#(04(&)%# com base na denominada regra fundamental formulada por Kelsen, ou mais recentemente na regra de reconhecimento concebida por Hart). Assim, a validade de uma norma ju-/704 (#'%#)/(06:#&% %''(/4("%&)%#&(#(*/"(83!#0%#'%6#5(+!/# ou de sua justiça.

b) 7$1/+89 !( !(+#$+' !: com base nesse aspecto, o direito é !&'40%/(0!#%"#/(:3!#0!#'%6#%+%"%&)!#0%# !(83!2#0%/45(&0!2# portanto, da denominada teoria da coatividade do direito, a qual será motivo de nossa análise nas linhas que seguem. A !&'40%/(83!#0!#04/%4)!# !"!#;()!# !&06:#&% %''(/4("%&)%#

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ao entendimento do direito como aquele que vige em uma '! 4%0(0%2#!6#'%=(2# !"!#'%&0!#!# !&=6&)!#0%#&!/"('#>6%#'3!# consideradas válidas e impostas pelo meio da força estatal. c) Fontes do direito – o positivismo jurídico desenvolve uma

doutrina acerca: i) das relações travadas entre a lei e os costu-"%'2#0%#;!/"(#(#%1 +64/#!# !')6"%#contra legem ou o costume ab-rogativo e admitindo somente o costume secundum legem e às vezes o praeter legem; e ii) das relações havidas entre a lei e o direito judiciário e o direito consuetudinário. Devem-@'%# )("<9"# !&'40%/(/# !'# $/!<+%"('# '6/A40!'# %"# /(:3!# das denominadas fontes “pressupostas” e “aparentes” do direito, como a equidade e a natureza das coisas e dos fatos. F%''%#$!&)!2#5%/%"!'#(04(&)%#>6%#!#$!'4)454'"!#$% (#%"# %1$+4 (/#!#;6&0("%&)!#0%#5(+40(0%#0(#&!/"(#;6&0("%&)(+# desenvolvida por Kelsen (norma pressuposta) bem como da denominada regra de reconhecimento concebida por Hart, 4''!#$!/>6%#9#;6&0("%&)!#0%''(#0!6)/4&(#(#&3!#(0"4''3!# 0%#4&)%/;%/^& 4('#"%)(;7'4 ('2# !&)/($!&0!@'%#"(4'#6"(#5%:# ao pensamento jusnaturalista.

d) Teoria da norma jurídica – considera a norma como um comando da qual decorre a teoria imperativista do direito. O imperativo, dentro desse aspecto, pode ser considerado como positivo (facere) ou negativo (non facere).

e) Teoria do ordenamento jurídico# b# 0%5%@'%# !&'40%/(/# (# %')/6)6/(#&3!#"(4'#0(#&!/"(#4'!+(0("%&)%#0%' /4)(#%#$!'-ta, mas do conjunto de normas jurídicas vigentes em um determinado corpo social. Com base na referida teoria, o positivismo contempla ainda as denominadas teorias da !%/^& 4(#%#0(# !"$+%)4)60%#0!#!/0%&("%&)!#=6/704 !D f# !%/^& 4(D#&3!#$%/"4)%#>6%2#%"#6"#"%'"!#!/0%&("%&)!#

=6/704 !2# !%14')("#0%#;!/"(#'4"6+)B&%(#06('#&!/"('# (&)(A_&4 ('#H !&)/(04),/4('#!6# !&)/W/4('K2#$!4'#0% !//%# do próprio ordenamento o princípio que estabelece que 6"(#0('#06('#!6#("<('#('#&!/"('#'3!#4&5W+40('#HN4%-rarquia, temporalidade e especialidade, métodos ainda aplicáveis hodiernamente);

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f# completitude: o positivismo jurídico considera que, 0('# &!/"('# %1$+7 4)(# !6# 4"$+4 4)("%&)%# %14')%&)%'# &!# ordenamento jurídico, o magistrado poderá sempre !<)%/#6"(#0% 4'3!#/%A6+(/#$(/(#'!+6 4!&(/#>6(+>6%/# ('!# que lhe seja apresentado. O positivismo jurídico visa a %+4"4&(/2#$!/)(&)!2#0%#;!/"(#0%*&4)45(#(#%14')^& 4(#0%# lacunas do direito.8

f) Método da Ciência Jurídica# b# $!/# "%4!# 0%')%# "9)!0!2# !# $!'4)454'"!#=6/704 !#0%;%&0%#(#($+4 (83!#0(#)%!/4(#0(#4&)%/-$/%)(83!# "% (&4 4')(2# (# >6(+# %&)%&0%# >6%2# $!/# ! ('43!# 0(# atividade do aplicador do direito deve prevalecer o elemento 0% +(/()45!# '!</%# !# $/!06)45!# !6# /4()45!# 0!# 04/%4)!-# F!'# 04:%/%'#0%#e!<<4!D#gc---d#H%"$/%A(&0!#(#4"(A%"#"!0%/&(2# poderíamos dizer que o juspositivista considera o jurista 6"(#%'$9 4%#0%#/!<_#!6#0%# (+ 6+(0!/(#%+%)/_&4 (Kh-9

Ainda '%A6&0!#e!<<4!2#)(+#;!4#!#$!&)!#%' !+N40!#$%+!'#(05%/'W/4!'# da doutrina positivista para desencadear a contraofensa contra esse pensamento e que gerou um debate denominado !"!#(#g<()(+N(#0!'#"9)!0!'h-#]''4"2#(#54'3!#)/(04 4!&(+#0!# $!'4)454'"!#%&)%&0%#>6%#0(#4&)%/$/%)(83!#$!0%/4(#$/!06:4/# 6"(#a&4 (#'!+683!# !//%)(#%#(=6')(0(#(!# ('!# !& /%)!-#.%5%-mos, entretanto, ressaltar que tal fato é refutado por Kelsen, >6(&0!#(*/"(#>6%#!#04/%4)!#%')W#4&'%/40!#%"#6"(#"!+06/(2# o que autorizaria o juiz e o aplicador do direito a atuar de ;!/"(#04' /4 4!&W/4(#&('#N4$,)%'%'#0%#4&0%)%/"4&(83!#0(#&!/-ma, escolhendo uma dentre as diversas soluções possíveis.10 g) Teoria da obediência – o positivismo jurídico, como pensa-"%&)!2#($/%A!(#(#!<%04^& 4(#(<'!+6)(#%#4//%')/4)(#0(#+%4# !"!# tal, isso porque, como já visto, essa doutrina está desprovida 0%#5(+!/%'#>6(&)!#(!# !&)%a0!#0(#&!/"(-##]#$(/)4/#0!#*&(+# 0(#[%A6&0(#P6%//(#\6&04(+2#(#)%!/4(#0(#!<%04^& 4(# !"%8(# a ser refutada por parte da doutrina positivista, tendo em 54')(#(#/%($/!14"(83!#0(#"!/(+#(!#04/%4)!2#>6(&0!#A(&N(# "(4!/#&!)!/4%0(0%#(#*A6/(#0!'#$/4& 7$4!'#=6/704 !'#!'#>6(4'2# por estarem diretamente vinculados aos valores e à moral, 0%41("#0%#'%/#"%/!'#%+%"%&)!'#0%#4&)%A/(83!#0!#04/%4)!#%# $(''("#C# ()%A!/4(#0%#%'$9 4%'#0!#A^&%/!#&!/"(#=6/704 (2#

(10)

doutrina defendida por Ronald Dworkin e John Rawls, dois A/(&0%'# /7)4 !'# !&)%"$!/B&%!'#0!#$%&'("%&)!#$!'4)454'-ta, os quais defendem, inclusive, em algumas hipóteses, a +%A4)4"(83!#0(#0%'!<%04^& 4(# 454+1112 . ]''4"2#($,'#(&(+4'(/"!'2# !"#<('%#&!'#%&'4&("%&)!'#0%#F!/<%/-)!#e!<<4!2#('# (/( )%/7')4 ('#0!#$!'4)454'"!#=6/704 !2#$!0%"!'#(*/"(/# >6%#(# !& %$83!#0!#04/%4)!# !"!# 4^& 4(2#+(')/%(0(2#$!/#'6(#5%:2#%"# 6"(#(<!/0(A%"#(5(+!/()45(2#&3!#'6<"%)%&0!#!#$/,$/4!#04/%4)!#(#>6(+->6%/# /4)9/4!#0%#5(+40(0%#"%)(;7'4 !2#)%&0!#%"#54')(#(#'6(#'%$(/(83!# total dos preceitos morais, parece-nos ser o ponto-chave para melhor entendermos essa doutrina e suas posteriores críticas surgidas, em %'$% 4(+2#($,'#!#)9/"4&!#0(#[%A6&0(#P6%//(#\6&04(+2#;()!#>6%2#(4&0(# &%')%#%')60!2#"%/%

%/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-A %/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-ABORD%/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-AGEM %/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-AV%/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-ALOR%/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-ATIV%/W#6"(#"%+N!/#()%&83!#0(#&!''(#$(/)%-A DO DIREITO

Y(+%&0!@&!'2#(4&0(2#0('#+48Z%'#0%#e!<<4!2#(#0!6)/4&(#$!'4)454')(# )%"#!/4A%"#gc---d#&!#%';!/8!#0%#)/(&';!/"(/#!#%')60!#0!#04/%4)!#&6"(# 5%/0(0%4/(#(0%>6(83!#0(# 4^& 4(#>6%#)45%''%#('#"%'"('# (/( )%/7')4 ('# 0('# 4^& 4('#;7'4 !@"()%"W)4 ('2#&()6/(4'#%#'! 4(4'h- 13

.4(&)%#0%''(#(*/"(83!2#'(+4%&)("!'#>6%#6"(#0('# (/( )%/7')4 ('# <W'4 ('#0(# 4^& 4(#'%#)/(06:#%1()("%&)%#%"#'6(#avaloratividade, ou seja, &(#04;%/%&8(#%14')%&)%#%&)/%#!'#=67:!'#0%#;()!#%#0%#5(+!/2#4''!#$!/>6%#(# 4^& 4(# !&'4')%#($%&('#%"#=67:!#0%#;()!2#!#>6%#/%$/%'%&)(#(#%1$/%''3!# 0%# !&N% 4"%&)!#0(#/%(+40(0%# !"!#*"#a&4 !#0%#4&;!/"(/#%# !"6&4 (/# 6"(#0%)%/"4&(0(# !&')()(83!-#i%"!'2#$!/)(&)!2#>6%#(# 4^& 4(#0%5%#'%/# /4A!/!'(#%#0%*&4)45("%&)%#%1 +64/#!#=67:!#0%#5(+!/# !"!#"9)!0!#0%# !& +6'3!-##?!/#'6(#5%:2#!#=67:!#0%#5(+!/2#%"#$!'483!#!$!')(#(!#=67:!# 0%#;()!2#/%$/%'%&)(#6"(#)!"(0(#0%#$!'483!#0!#'6=%4)!#!<'%/5(0!/#%"# ;/%&)%#C#$/,$/4(#/%(+40(0%2#54')!#>6%#'6(#;!/"6+(83!#&3!#$!''64#!#4&)64)!# 0%#4&;!/"(/2#"('#'4"#0%#4&`6%& 4(/#)%/ %4/!'-]# 4^& 4(2# !"!# !<=%)!# 0%# %')60!2# )%"# (# $/%)%&'3!# 0%# %1 +64/# 0!#'%6#$/,$/4!#B"<4)!#!'#=67:!'#0%#5(+!/#$%+(#'4"$+%'#/(:3!#0%#'%/# conhecimento puro e objetivo da realidade, enquanto o juízo de valor

(11)

terá sempre caráter subjetivo ou pessoal, contrário à objetividade !&4:(0(#$%+(#(&W+4'%# 4%&)7*

(-F%''%# !&)%1)!2# !& +64@'%# >6%# !# $!'4)454'"!# =6/704 !# (''6"%# 6"(#()4)60%# 4%&)7* (#%"#;/%&)%#(!#04/%4)!2#=W#>6%#!#%')60(# !"!#92#%# &3!# !"!#0%5%/4(#'%/-#E&)%&0%@'%#!#04/%4)!# !"!#;()!#%#&3!# !"!#5(+!/2# 0%#;!/"(#>6%2#%"#'6(#0%*&483!2#0%5%#'%/#0%' (83!#>6%#'%=(#;6&0(0(#%"#=67:!#0%#5(+!/#%#>6%# !"$!/)%#(#04')4&83!# do próprio direito em bom e mau, justo e injusto.

Podemos deduzir, inicialmente, que o juspositivista, para a doutrina clássica, deve estudar o direito real, sem se questionar se, (+9"#0!#04/%4)!#$!')!2#%14')%#)("<9"#6"#04/%4)!#40%(+-#?(/(#&,'2#%''(# 9#(# !& %$83!#"(4'#"(/ (&)%#>6%# !&)/($Z%#!#$!'4)454'"!#(!#=6'&()6-ralismo, o qual sustenta que deve fazer parte também do direito real (#5(+!/(83!# !"#<('%#&!#

N("(0!#04/%4)!#40%(+-VALIDADE DO DIREITO E VALOR DO DIREITO

Ao considerarmos a abordagem avalorativa do direito preconizada $%+!#$%&'("%&)!#$!'4)454')(# +W''4 !2#;(:@'%#4"$!/)(&)%#(#04;%/%& 4(83!# %14')%&)%#%&)/%#(#5(+40(0%#%#!#5(+!/#0%#6"(#&!/"(#=6/704 (2#%"#%'$% 4(+# &!#>6%#'%#/%;%/%#C#'6(#!<'%/5B& 4(#%#($+4 (<4+40(0%#$%+!#!$%/(0!/#0!# 04/%4)!-##[%A6&0!#e!<<4!2#(#5(+40(0%#0%#6"(#&!/"(#=6/704 (#4&04 (#(# >6(+40(0%#0%#)(+#&!/"(2# !"#<('%#&(#>6(+#%+(#%14')%#&(#%';%/(#0!#04/%4)!-# F%''%#('$% )!2#(!#(*/"(/"!'#>6%#6"(#&!/"(#9#5W+40(2#'4A&4* (#04:%/# que essa norma integra validamente um ordenamento jurídico real e $!0%#'%/#4&5! (0(#%#($+4 (0(#(#6"(#0%)%/"4&(0(#'4)6(83!# !& /%)(-14

Por outro lado, o valor de uma norma jurídica traduz a qualidade dessa norma, pela qual deve ser tida conforme o direito ideal (considerado como a síntese de todos os valores fundamentais nos quais o direito deve <6' (/#4&'$4/(83!K2#0%#;!/"(#>6%2#(!#04''%/"!'#>6%#6"(#&!/"(#=6/704 (#9# 5W+40(#!6#=6')(2#'4A&4* (#04:%/#>6%#%+(#%')W#0%#( !/0!# !"#!#04/%4)!#40%(+2# o que revela grande subjetivismo e implica insegurança jurídica.

O oposto de validade é a invalidade e o contrário de valor (ou justiça) é o desvalor (ou injustiça). Assim, com base nesses conceitos, 0% !//%"2#(4&0(2#&!#%&)%&0%/#0%#e!<<4!2#('#'%A64&)%'# !//%&)%'#=6/704 !-@*+!',* ('D15

(12)

a) o jusnaturalismo b#0%;%&0%#>6%#(#5(+40(0%#0%#6"(#&!/"(#%')W# necessariamente atrelada ao seu valor, de forma que, para esta corrente, uma norma é considerada válida se ela for valorosa !6#=6')(j#&%"#)!0!#04/%4)!#%14')%&)%#0%5%#'%/## !&'40%/(0!# como válido e, por conseguinte, aplicável, pois nem todo seria =6')!-##E''(# !& %$83!#40%&)4* (#!# !& %4)!#0%#5(+40(0%#%#0%# valor e reduz a validade ao próprio conceito de valor;

b) o positivismo extremo – 4&5%/)%#)!)(+"%&)%#(#$!'483!#=6'-&()6/(+4')(2#40%&)4* (&0!#)("<9"#!'# !& %4)!'#0%#5(+40(0%# e de valor, porém reduzindo o conceito de valor ao de vali-dade. Para esta corrente, uma norma jurídica é considerada =6')(#$%+(#'4"$+%'#%#a&4 (#/(:3!#0%#'%/#5W+40(#H4')!#92#0%# advir da autoridade legitimada pelo ordenamento jurídico $(/(#%+(<!/(/#%#4"$!/#&!/"('K-#F!'#04:%/%'#0%#e!<<4!2#'%/4(# %1%"$+!# 0%')(# !//%&)%# ('# $(+(5/('# 0%# k!<<%'2# >6(&0!# (*/"!6#'%/#gc---d#=6')!#!#>6%#!#'!<%/(&!#!/0%&(#%#4&=6')!#!# que o soberano veta”;

c) o positivismo clássico# b# )%"@'%# $!/# N(<4)6(+# (# 04')4&83!# %# '%$(/(83!# 0!# !& %4)!# 0%# 5(+40(0%# 0!# 0%# 5(+!/-# # F%''%# '%&)40!2#$(/(#%')(# !& %$83!#0!#$%&'("%&)!2#$!0%/W#%14')4/# 04/%4)!#5W+40!#>6%#9#4&=6')!#%#04/%4)!#=6')!#>6%#9#4&5W+40!-##F3!# %1 +64&0!2#)!)(+"%&)%2#(#$!''4<4+40(0%#0%#'%#$/!"!5%/#6"# juízo de valor do direito, o positivista clássico defende que )(+#=67:!#'%#(;(')(#0!# ("$!#0(# 4^& 4(#=6/704 (-##E')(#a+)4"(# deve se limitar a formular um juízo de validade do direito, (''%A6/(&0!#(#'6(#%14')^& 4(#=6/704 (2#'%A6&0!#!'#"9)!0!'#%# critérios estabelecidos pelo próprio sistema (e.g. hierarquia, temporalidade e especialidade).

Com base nessas considerações e a partir dos conceitos básicos ()4&%&)%'#(!#$!'4)454'"!#=6/704 !# !"!#0!6)/4&(# 4%&)7* (#%#avalorativa, entendermos que nos encontramos em melhores condições de passar a abordar o pensamento dos principais defensores dessa corrente =6/704 !@*+!',* (#>6%#"60!6#(#;!/"(#0%#$%&'(/"!'#!#04/%4)!2#)/(:%&-do grandes avanços ao seu estu(#>6%#"60!6#(#;!/"(#0%#$%&'(/"!'#!#04/%4)!2#)/(:%&-do, independentemente de eventuais /7)4

(13)

('2#>6%#)("<9"#'%/3!#!<=%)!#0%#&!''('#(&W+4'%'-O PENSAMENT('2#>6%#)("<9"#'%/3!#!<=%)!#0%#&!''('#(&W+4'%'-O DE KELSEN

16

Como já mencionamos, Kelsen pode ser tido, indubitavelmente, como um dos grandes pensadores do positivismo jurídico da primeira "%)(0%# 0!# '9 6+!# UU2# )(&)!# >6%# '6(# $/4& 4$(+# !</(# %' /4)(2# gi%!/4(# Pura do Direito”, é considerada por muitos, até os dias atuais, como o grande símbolo dessa doutrina, uma vez que se traduz num projeto 0%#0%*&48Z%'#0!#04/%4)!# !"!# 4^&

4(#H;6&0("%&)!#0!#$!'4)454'"!K-]#)%!/4(#0%#l%+'%&2#&6"(#</%5%#'7&)%'%2#<('%4(@'%#&(#%14')^& 4(#0%# dois mundos distintos, quais sejam: a) o do “ser”; e b) do “dever ser”. F%''%# !&)%1)!2#!#"6&0!#0!#'%/#$!0%#'%/# !&'40%/(0!# !"!#(>6%+%# %"#>6%#NW#6"(#+4A(83!#04/%)(#%&)/%#6"#;()!#%#6"(# !&'%>6^& 4(#He.g.: &!#"6&0!#0(#&()6/%:(#b# !/$!#>6%# (4#0%540!#C#;!/8(#0(#A/(540(0%K-## Por sua vez, o mundo do “dever ser” pode ser tido como as hipóteses 0(#"!/(+2#0(#/%+4A43!#%#0!#04/%4)!2#0%#;!/"(#>6%2#%&)/%#!#;()!#%#(# !&'%->6^& 4(2#0%5%#N(5%/#6"(#&% %''W/4(#4"$6)(83!#%1)%/&(-#

Assim, com base nos conceitos descritos por Kelsen, temos que, $(/(# !'# ;%&_"%&!'# 0(# &()6/%:(2# 0%5%# '%/# ($+4 W5%+# !# $/4& 7$4!# 0(# (6'(+40(0%2#%&>6(&)!2#/%+()45("%&)%#(!'#;%&_"%&!'#&!/"()45!'2#!# $/4& 7$4!#(#'%/#($+4 (0!#9#!#0(#4"$6)(83!2# !&'40%/(&0!@'%2#$(/(#)(&)!2# o tipo da norma e o fruto da vontade humana.17

.%5%"!'#/%''(+)(/2#%&)/%)(&)!2#>6%#l%+'%&#&3!#( %4)(#(#%14')^&-cia de direito sem valores, porém, como já visto por nós, ele repele a ideia de valores morais absolutos, em que pesem, em seu entender, as normas, como prescrições de dever ser, resultarem necessariamente 0%#5(+!/%'-#E&)/%)(&)!2#'%A6&0!#'6(# !& %$83!2#(#)(/%;(#0(# 4^& 4(#=6-/704 (#&3!#'%#)/(06:#0%#;!/"(#(+A6"(#&6"(#5(+!/(83!#!6#($/% 4(83!# 0!#'%6#!<=%)!2#"('#%"#'6(#0%' /483!#0%#;!/"(#(+N%4(#(#>6(+>6%/#5(+!/# $/%%14')%&)%2#;(:%&0!# !"#>6%#!#=6/4')(# 4%&)7* !#&3!#40%&)4*>6%# !"# qualquer valor, nem mesmo com o valor jurídico por ele descrito.18

LJVimJVT[#?]J]#.ESV\Vi]noT#.T#TeGEiT#.T#

DIREITO

A partir das premissas acima abordadas e considerando os ensi-&("%&)!'#0%#]0/4(&#[A(/<4219#5%/4* ("!'#>6%#l%+'%&#)%&)(#($/4"!/(/# (#0%*&483!#0%#04/%4)!#(!#%')(<%+% %/#)/^'# /4)9/4!'#0%#0%+4"4)(83!#0!#'%6#

(14)

!<=%)!#&!'#'%A64&)%'#)%/"!'D#(K#04/%4)!#9#6"(#)9 &4 (#'! 4(+#%'$% 7* (j#<K# direito usa a força monopolizada pelo Estado; e c) direito pertence ao "6&0!#0!#0%5%/-#E''%'# /4)9/4!'#'%/3!#!<=%)!#0%#&!''('#(&W+4'%'#(<(41!D

*;!5!(+#$+' !<!&)*!'<2/+2*!% 2+*,!$%"$2=12*

T#04/%4)!#&3!#0%5%#'%/# !&'40%/(0!#6"(#*&(+40(0%#%"#'4#"%'-"!2#0%5%&0!#'%/#)40!# !"!#6"(#)9 &4 (#0%# !&)/!+%#'! 4(+#%'$% 7* (# e, como técnica, deve servir a quem a utiliza e emprega. Dessa forma, podemos considerar que o direito pode ser revelado como uma técnica 0%# !&)/!+%#4&04/%)!#0(# !&06)(#N6"(&(2#4''!#$!/>6%#(#(0%>6(83!#(!# comportamento social e humano pode ser obtida por meio de sanções punitivas estabelecidas pela norma.

Assim, o direito, como ordem social que estabelece sanções, $!0%/W#/%A6+(/#(# !&06)(#N6"(&(#&3!#($%&('#&6"#'%&)40!#$!'4)45!2# >6(&0!# $/%' /%5%# 6"(# !&06)(# +4A(&0!# 6"# ()!# 0%# !%/83!2# !"!# '(&83!#(#6"(# !&06)(#!$!')(#%#5%0(&0!2#(''4"2#%''(# !&06)(2#"('# )("<9"#$!/#6"(#;!/"(#&%A()45(2#0%#"!0!#>6%#6"(# !&06)(#>6%#&3!# é juridicamente proibida deve ser considerada juridicamente permitida.

?!0%"!'# !& +64/2#$!/)(&)!2#>6%2#0%&)/!#0(# !& %$83!#0%#l%+'%&2# (#+4<%/0(0%2#$%+(#!/0%"#=6/704 (#9#&%A()45("%&)%#0%41(0(#(!'# 40(-03!'#$%+(#'4"$+%'#/(:3!#0%#(>6%+(#&3!#+N%'#$/!4<4/#6"(#0%)%/"4&(0(# !&06)(2#;()!#$!/#%+%#0%*&40!# !"!#'%&0!#!#g"7&4"!#0%#+4<%/0(0%h-20

b) O direito usa a força monopolizada pelo Estado

L!"#<('%#&%')%# /4)9/4!2#$!0%"!'#$/%''6$!/#>6%#(#'(&83!#&3!#9# %1 +6'4540(0%#0!#04/%4)!#$!')!2#$!/9"#9#!#$/,$/4!#04/%4)!#>6%#"!&!$!-+4:(#%#0%)%/"4&(#(#;!/8(#0%#4"$!'483!2#0%#"!0!#>6%#(#!/0%"#=6/704 (# estabelecida se distingue necessariamente da ordem normativa moral ou religiosa pelo simples modo pelo qual descreve ou veda determi-nadas condutas humanas.21

c) O direito pertence ao mundo do dever

O mundo do dever é tido como a realidade natural ou mundo *'4 ("%&)%# !&'40%/(0!2# &!# >6(+# !# $%&'("%&)!# N6"(&!#

(15)

'4"$+%'-"%&)%# !&')()(#6"(#! !//^& 4(#0%#6"#&%1!#&()6/(+7')4 !#&% %''W/4!-# Desse modo, o mundo do dever pode ser conceituado como sendo o "6&0!#&!/"()45!2#!#>6(+#9#%1$+4 4)(0!#$%+!#=W#"%& 4!&(0!#$/4& 7$4!# 0(#4"$6)(83!-#

F%''%# 7$4!#0(#4"$6)(83!#(*/"(#>6%#>6(&0!#]#92#e#0%5%#'%/-#E1D#>6(&0!# alguém te fez um bem, deve mostrar-se agradecido; quando alguém '( /4* (/# '6(# 540(# $%+(# $W)/4(2# '6(# "%",/4(# 0%5%# '%/# /% !&N% 40(2# >6(&0!#(+A69"#$% (/2#0%5%#;(:%/#$%&4)^& 4(h-22

A ESTRUTURAÇÃO DO DIREITO

]$,'#0%*&4/#%#0%+4"4)(/#'6(#)%!/4(#0!#04/%4)!2#l%+'%&#($/%'%&)(# !#'%6#"!0%+!#0%#%')/6)6/(83!#%#0%#($+4 (83!#0!#04/%4)!-#?(/(#)(&)!2# !&'40%/(#(#(<!/0(A%"#0%#5(+40(0%#0(#&!/"(#%#($/%'%&)(#(#04&B"4 (# 0%#'6(#($+4 (83!2#4&)/!06:4&0!#!# !& %4)!#0%#&!/"(#;6&0("%&)(+#"%-04(&)%#(#%1$+!/(83!#0(#*A6/(#0(#$4/B"40%#&!/"()45(# !"!#%')/6)6/(# hierárquica que confere validade às leis.

.%&)/!# 0%''%# !&)%1)!2# 5%"@&!'# 4"%04()("%&)%# C# "%",/4(# (# ;("!'(#4"(A%"#0(#$4/B"40%# !&')4)670(#$!/#l%+'%&#$(/(#%1%"$+4* (/# a forma como se estrutura o ordenamento jurídico vigente e até hoje lembrada pelos professores durante o curso de direito.

F!#)!$!#0(#$4/B"40%2# !& %&)/(@'%#(#L!&')4)6483!2#&!/"(#)40(# por Kelsen como fundamental e pressuposta, a partir da qual todas as demais devem auferir sua validade e legitimidade. Essa teoria pode '%/#/%'6"40(#"%04(&)%#(#(*/"(83!#0%#>6%#'%"$/%#6"(#0%)%/"4&(0(# norma buscará sua legitimidade e validade, tomando por base outras &!/"('#%14')%&)%'#&!#'4')%"(#=6/704

!#%#(#%+(#'6$%/4!/%'-Dando continuidade ao desenvolvimento da sua teoria de estru-)6/(83!#%#'4')%"()4:(83!#0!#04/%4)!2#l%+'%&#$(''(#(# !&'40%/(/#%#(0"4)4/# (#%14')^& 4(#0%#0!4'#)4$!'#0%#0%/45(83!D#(K#!#%')W)4 !#%j#<K#!#04&B"4 !-##

E"#'6(# !& %$83!2#'4')%"('#=6/704 !'#'3!#04&B"4 !'#&(#N4$,)%'%# 0%#('#&!/"('#!/4A4&(/%"@'%#(#$(/)4/#0%#6"(#$/%''6$!')(#%# !"$+%1(# !/A(&4:(83!#0%#$/!0683!#&!/"()45(#$!/# !"$%)^& 4(#%#0%+%A(83!#0%# !"$%)^& 4(#%')(<%+% 40(#&(#/%A/(#"()/4:#HL!&')4)6483!K-#?!/#'6(#5%:2#

(16)

&!'#'4')%"('#%')W)4 !'2#$!/#%1%"$+!2#!'#"!/(4'2#(#0%/45(83!#&!/"()45(# 9#!<)40(#$!/#6"(#'%>6^& 4(#0%#0%068Z%'#+,A4 ('#!6#4+(8Z%'-#

Assim, numa breve síntese, temos que, no sistema estático, a va-lidade das normas decorrerá de deduções lógicas decorrentes de uma norma pressuposta fundamental2#(#>6(+#&3!#($%&('#;!/&% %#!#;6&0(-"%&)!#0%#5(+40(0%2# !"!#)("<9"#!# !&)%a0!#0%#5(+40(0%#0%06:40!# 0%#6"(#!$%/(83!#+,A4 (2#!#>6%#"!0%/&("%&)%#9#0%&!"4&(0!#$%+!'# constitucionalistas como validade ou constitucionalidade material. A validade material de norma, ou sua compatibilidade, decorre de uma !& +6'3!#0!#A%/(+#$(/(#!#$(/)4

6+(/-L!"!#%1%"$+!#0(#0%/45(83!#%')W)4 (2#$!0%"!'# 4)(/#!'#$!')6+(-0!'#A%/(4'#0(#5%/( 40(0%#%#0!#("!/#(!#$/,14"!2#0!'#>6(4'#)4/("!'#('# '%A64&)%'# !& +6'Z%'#+,A4 ('#$%+!#"9)!0!#0(#4+(83!D

a) YEJ]LV.].E#b#&3!#0%5%"!'#"%&)4/2#&3!#0%5%"!'#$/%'-tar falso testemunho; devemos respeiYEJ]LV.].E#b#&3!#0%5%"!'#"%&)4/2#&3!#0%5%"!'#$/%'-tar os compromissos */"(0!'j

b) ]\]J# T# ?JpUV\T# b# &3!# 0%5%"!'# (6'(/# (# "!/)%# 0%# (+A69"2# &3!# 0%5%"!'# $/%=604 (/# "!/(+# !6# *'4 ("%&)%# !# $/,14"!#%)

-.%''%#"!0!2#'%#(+A6"#$!')6+(0!#&!/"()45!#%'$% 7* !#;!/2#0%# alguma forma, materialmente incompatível com o postulado norma-tivo geral tido pelo ordenamento jurídico como pressuposto lógico e superior, ele, necessariamente, será considerado inválido e inaplicável. ?!/#'6(#5%:2#&!#'4')%"(#04&B"4 !2#(#5(+40(0%#0%#6"(#&!/"(#$!0%#'%/# /(')/%(0(#()9#'%/#(+ (&8(0(#(#L!&')4)6483!2#"(/ !#0%#4&0%$%&0^& 4(2# (6)!&!"4(#%#(6)!0%)%/"4&(83!#0%#6"#E')(0!2#"%04(&)%#(#!<'%/5B& 4(# dos requisitos formais estabelecidos pela norma fundamental daquela !/0%"# =6/704 (# $(/(# %+(<!/(83!# 0%# !6)/('# &!/"('# 4&;%/4!/%'2# !# >6%# implica a sua validade e constitucionalidade formal.

]#$(/)4/#0%''%'# !& %4)!'2#)%"!'# !&048Z%'#0%#40%&)4* (/#!#A/(&-de ponto fraco (calcanhar (/#!#A/(&-de Aquiles) do positivismo jurídico como doutrina e objeto de críticas pesadas por parte de seus opositores, isso

(17)

$!/>6%#%+%'#03!#"(/A%"#(!#>6%')4!&("%&)!#( %/ (#0!#;6&0("%&)!#0%# 5(+40(0%#0(#L!&')4)6483!#)40(# !"!#&!/"(#;6&0("%&)(+-#

L!"#<('%#&%''(# !&'40%/(83!2#\W/ 4!#\!&)%4/!#J%4'23 formula ('#'%A64&)%'#4&0(A(8Z%'D# !"!#$!0%"!'#%1$+4 (/#(#+%A4)4"40(0%#0('# &!/"('# !&)40('# &!# )!$!# 0(# $4/B"40%2# 0%&!"4&(0('# !"!# &!/"(# fundamental? De onde vem o fundamento de para aplicá-las? Por que motivos todas as outras normas inferiores devem ser com ela compa-tíveis? Qual seria o fundamento para reconhecermos a validade do Poder Constituinte Originário?

]&)%5%&0!#%1()("%&)%#>6%')4!&("%&)!'#(#/%'$%4)!#0!'# /4)9/4!'# de validade da norma fundamental superior, Kelsen desenvolveu a denominada “Teoria da norma fundamental”, pela qual a norma fundamental deve ser considerada válida como marco inicial e jurí-04 !@$!'4)45!2# !//%'$!&0%&0!2#$!/)(&)!2#(#6"(#!$83!#4&)%+% )6(+#0!# cientista do direito e desvinculada de qualquer valor moral.

Temos, portanto, que a norma fundamental idealizada por l%+'%&# !//%'$!&0%# (# 6"(# $/%''6$!'483!# )40(# $!/# 4"$/%' 4&075%+# H&!/"(#$/%''6$!')(K2#(#$(/)4/#0(#>6(+#'%#54(<4+4:(#(#40%&)4* (83!#0(# validade das demais normas integrantes da ordem jurídica. Dentro 0%''%# !&)%1)!2#(#5(+40(0%#0(#&!/"(#9#;6&0("%&)(+#4&0%$%&0%&)%#0(# '6(# !& !/0B& 4(#!6#04' !/0B& 4(# !"#>6(+>6%/#'4')%"(#"!/(+#H;()!# >6%#;!4#`%14<4+4:(0!2# !"!#5%/%"!'#(04(&)%2#"%04(&)%#(# !& %$83!#0(# regra de reconhecimento por Hart).

E&)/%)(&)!2# !"#(#0%540(#5^&4(#C#gi%!/4(#0(#&!/"(#;6&0("%&-)(+h2# >6%# %')(<%+% %# (# 0%&!"4&(0(# &!/"(# $/%''6$!')(2# (# >6(+# &3!# 0%$%&0%#0%#>6(+>6%/#5(+!/#"%)(;7'4 !#!6#"!/(+2# /%"!'#>6%#%+(#&3!# responde a contento às indagações acerca do seu fundamento de vali-0(0%2#;()!#(#>6%#(#0!6)/4&(#$!'4)454')(2#"%'"!#(# !&)%"$!/B&%(2#&6& (# conseguiu responder satisfatoriamente, passando sempre ao largo de 6"(#/%`%13!#"(4'#$/!;6&0(-24

.]#]?SVL]noT#.T#.VJEViT

T#a+)4"!# ($7)6+!#0(#gi%!/4(#?6/(#0!#.4/%4)!h#;!/"6+(0(#$!/# l%+'%&#9#0%')4&(0!#C#(&W+4'%#%#0%'

(18)

/483!#0!'#"9)!0!'#0%#4&)%/$/%)(-83!#0!#04/%4)!2# !&'40%/(0(# !"!#(#!$%/(83!#"%&)(+#>6%#( !"$(&N(# !#($+4 (0!/#0!#04/%4)!#(!'# ('!'# !&

/%)!'#>6%#+N%#'3!#($/%'%&)(0!'-i%&0!# %"# 54')(# (# %')/6)6/(83!# 0!# 04/%4)!2# !# $/! %''!# 0%# '6(# ($+4 (83!#0%5%/W2#&% %''(/4("%&)%2#( !&)% %/#(#$(/)4/#0%#6"#%' (+3!# &!/"()45!#'6$%/4!/#$(/(#6"#%' (+3!#4&;%/4!/-##]$,'#%')(#(&W+4'%2#%&-tram em cena: a) o aspecto da temporalidade, método pelo qual deve (#&!/"(#"(4'#/% %&)%#/%5!A(/#(#"(4'#(&)4A(#&(>6%+%# !&)%a0!#%"#>6%# forem incompatíveis; e b) o aspecto da especialidade, por meio do qual 6"(#&!/"(# !"# !&)%a0!#%'$% 7* !#0%5%#$/%5(+% %/#%"#;( %#0(>6%+(# 6=!# !&)%a0!#'!</%#!#"%'"!#)%"(#(&(+4'(0!#9#A%/(+-l%+'%&#0%;%&0%#>6%#(#($+4 (83!#0!#04/%4)!#$!0%#'%/# !&'40%/(0(# !"!#6"#()!#0%# /4(83!#=6/704 (2#%"#$(/)%#0%)%/"4&(0(2#'4)6(83!#%"# >6%#!#($+4 (0!/#'%/W#)40!# !"!#"%/!#%1% 6)!/#0!# !"(&0!2#$!/#"%4!# 0!#"9)!0!#0%#'6<'6&83!#0!#;()!#C#&!/"(2#%#%"#$(/)%#4&0%)%/"4&(0(-# F%''%#$!&)!2#(#4&0%)%/"4&(83!#$!0%/W#'%/#4&)%& 4!&(+2#>6(&0!2#$!/# %1%"$+!2#(#+%4#$%&(+#0%41(#C#;( 6+0(0%#0!#"(A4')/(0!#(#($+4 (83!#0%# 6"(#"6+)(#$%&(+#!6#0%#6"(#$%&(#0%#$/4'3!j#!6#&3!#4&)%& 4!&(+2#&('# N4$,)%'%'#%"#>6%#!#'%&)40!#0(#5%/<(+#0(#&!/"(#&3!#'%=(#4&%>675! !-25 F!'# ('!'#0%#4&0%)%/"4&(83!#0(#&!/"(2#4&)%& 4!&(+#!6#&3!2#N(-verá sempre um leque de possibilidades de aplicações. É o que Kelsen chama de moldura dentro da qual estariam inseridas as possibilidades 0%#($+4 (83!-#F%''%#('$% )!2# !"!#=W#"%& 4!&(0!2# !"#%''%#$%&'("%&-)!2#l%+'%&# !&)/(/4(#(#54'3!#0(#)%!/4(#$!'4)454')(#)/(04 4!&(+2#'%A6&0!# (#>6(+#(#4&)%/$/%)(83!#$!0%/4(#$/!06:4/#6"(#a&4 (#'!+683!# !//%)(#%# ajustada a caso concreto apresentado.

O APARECIMENTO DE UM NOVO POSITIVISMO

]$,'#!#*&(+#0(#[%A6&0(#P6%//(#\6&04(+#%#%"#/(:3!#0('#A/(&0%'# )/(&';!/"(8Z%'#$!/#>6%#$(''!6#(#'! 4%0(0%#0%'0%#(# !& %$83!#0(#0!6)/4-&(#$!'4)454')(2#>6%# !&'40%/(#!#04/%4)!# !"!# 4^& 4(2#0%6@'%#4&7 4!#(#6"(# 0%"(&0(#'! 4(+#&!#'%&)40!#0%#'%#%14A4/#6"(#/%+()454:(83!#0('#0% 4'Z%'# judiciais que, em vezes cada vez maiores, precisava ser adequada aos ('!'# !& /%)!'2#!'#>6(4'#'%#"!')/(5("#045%/'4* (0!'#&(#"%040(#%"#>6%# ('#/%+(8Z%'#'! 4(4'#'%#)!/&(5("#"(4'# !"$+%1('#%#04&B"4 ('2#0%#"!0!# >6%#!#04/%4)!#$!')!#&3!# !&'%A64(#( !"$(&NW@+('#(#

(19)

!&)%&)!-]# (/( )%/7')4 (#0(#0% +(/(83!#$!/#$(/)%#0!#($+4 (0!/#0!#04/%4)!# da norma ao fato que lhe é apresentado, abstendo-se de qualquer =67:!#0%#5(+!/2#%"#(+A6"('#N4$,)%'%'2#&3!#"(4'#%')(5(#;6& 4!&(&0!# 0%#"!0!#>6%#N!65%#(#&% %''40(0%#0%#(0($)(83!#0!#04/%4)!#C'#&!5('# %14A^& 4('#'! 4(4'2#!#>6%#4"$+4 !6#(#&% %''W/4(#/%54'3!#0!#+%A(0!#$!-sitivista tradicional.

O pensamento positivista clássico começa, portanto, a sofrer uma /%;!/"6+(83!#(#$(/)4/#0!#$%&'("%&)!#0%#k%<%/)#S-#]-#k(/)#%#P/%A!/4!# ?% %'@e(/<(2#(6)!/%'#>6%#$(''("#(#/% !&N% %/# !&)%"$!/(&%("%&)%# o importante papel desempenhado pelos princípios e pelos valores morais. Devemos, entretanto, ressaltar que esses pensadores ainda '3!# !&'40%/(0!'#0%;%&'!/%'#0!#$!'4)454'"!#=6/704 !# !"!#0!6)/4&(2# $!4'#"(&)^"#(#(*/"(83!#0%#>6%#'!"%&)%#('#&!/"('#$!0%"#$/!06:4/# 04/%4)!'2#&%A(&0!#(#$!''4<4+40(0%#0%#%14')4/%"#04/%4)!'#"%)(;7'4 !'#%# &3!#%'

/4)!'-][#V.EV][#.E#k]Ji

T#=6'*+,'!;!#(+%"3!#k%<%/)#S-#]-#k(/)#0%;%&0%#>6%#0%5%#%14')4/# 6"(#;!/"(#'%A6/(#0%#'%#0%)%/"4&(/#%"#>6%# !&'4')%#%1()("%&)%#04/%4)!-# .%&)/!#0%''%# !&)%1)!2#%#(&(+4'(&0!#!#04/%4)!#&()6/(+2#!#/%;%/40!#$%&'(-dor conclui que há duas proposições defendidas por aquela doutrina:26 a) %14')^& 4(#0%# %/)!'#$/4& 7$4!'#0%#"!/(+#%#0%#=6')48(#$(''75%4'#

0%#0%' !<%/)(#$%+(#/(:3!#N6"(&(2#"%'"!#>6%#'6(#!/4A%"# &3!#'%=(#)%//%&(#%#'4"#0454&(j#%

b) ('#+%4'#0!'#N!"%&'#>6%# !&)/(/4%"#)(4'#$/4& 7$4!'#&3!#'3!# válidas.

F!#%&)%&04"%&)!#0%#k(/)2#'!"%&)%#!#'%A6&0!#$!')6+(0!#'%/4(# !<=%)!# 0%# &%A(83!# $!/# $(/)%# 0!'# (6)!/%'# $!'4)454')('# +W''4 !'-# i(+# !& +6'3!2# !&)60!2#&3!#'4A&4* (#04:%/#>6%#!'#$%&'(0!/%'#$!'4)454')('# &3!#/% !&N%8("#(#%14')^& 4(#0!'# !& %4)!'#0%#"!/(+#%#0%#=6')48(j#!#>6%# %+%'#&3!#( %4)("#9#>6%#!'#$/4& 7$4!'#"!/(4'#4&)%A/%"#!#!/0%&("%&)!# jurídico como um todo.

(20)

.4(&)%#0%''%#;()!2#%#%"#/(:3!#0!#&3!# !&5%& 4"%&)!#0(#gi%!/4(# da norma fundamental” como norma pressuposta e desvinculada de quaisquer valores morais, Hart tenta aperfeiçoar o pensamento de Kel-'%&#"%04(&)%#(#4&)/!0683!#0(#gi%!/4(#0('#/%A/('#0%#/% !&N% 4"%&)!h-27 Com base nesse pensamento, o ordenamento jurídico seria constituído $!/#&!/"('#$/4"W/4('#%#&!/"('#'% 6&0W/4('D#('#$/4"W/4('#'3!#(>6%+('# que produzem direitos subjetivos e criam obrigações; e as secundárias aquelas que indicam a forma pela qual devem ser produzidas as normas $/4"W/4('-#[%/4("#%''('#&!/"('#>6%#$%/"4)4/4("#!#/% !&N% 4"%&)!#%# (#(+)%/(83!#0!#04/%4)!-#

F6"(# </%5%# '7&)%'%2# $!0%"!'# !& +64/# >6%# ('# 0%&!"4&(0('# &!/"('# $/4"W/4('# '3!# !&'40%/(0('# !"!# 0%# "%/(# !&06)(# %2# $!/# '6(#5%:2#('#'% 6&0W/4('#'%/4("#%'$9 4%'#0%#&!/"('#0%#!/A(&4:(83!#%# procedimento.

F%''%#('$% )!2#(#/%A/(#0%#/% !&N% 4"%&)!#0%'%&5!+540(#$!/#k(/)# pode ser tida como espécie de regra secundária que é utilizada para 40%&)4* (83!#%#;!/"6+(83!#0%#/%A/('#$/4"W/4('#0%#!</4A(83!-#.%&)/!# 0(# !& %$83!#0%#k(/)2#(#/%;%/40(#/%A/(#$!0%#'%/#;!/"6+(0(#0%#;!/"(# %1$/%''(#!6#&3!2#0%#"(&%4/(#>6%#gc---d#'6(#%14')^& 4(#"(&4;%')(@'%#&!# "!0!# !"!#('#/%A/('# !& /%)('#'3!#40%&)4* (0('2#)(&)!#$%+!'#i/4<6&(4'2# quanto pelos funcionários, como pelos particulares e seus consultores”. [%/4(#6"(#/%A/(#a+)4"(2#>6%#%')(<%+% %#!'# /4)9/4!'#$!/#"%4!#0!'#>6(4'# a validade do sistema é avaliada.28

F6"#$/4"%4/!#"!"%&)!2#!# !& %4)!#0(#/%A/(#0%#/% !&N% 4"%&)!# pode ser confundido com o de norma fundamental formulada por Kelsen. Porém, a regra de reconhecimento apresenta-se como um fato, %&>6(&)!#>6%#(#/%A/(#;6&0("%&)(+#'%# !&')4)64#&6"(#$/%''6$!'483!# +,A4 (#&% %''W/4(2#=W#>6%#'6(#5(+40(0%#9#'6$!')(2#%#&3!#0%"!&')/(0(# $%+!'# /4)9/4!'#0%#N4%/(/>64(#0%*&40!'#$%+!#$!'4)454'"!# +W''4 !-#]'-'4"2#(#/%A/(#0%#/% !&N% 4"%&)!#&3!#$!0%#'%/# !&'40%/(0(#&%"#'6$!')(# válida ou inválida, sendo simplesmente aceita socialmente, devendo ser praticada.

?!0%"!'2# !&)60!2#40%&)4* (/#6"(# !&)/!59/'4(#&!#>6%#)(&A%# à legitimidade acerca da denominada norma de reconhecimento. O problema que se impõe é bastante semelhante àquele enfrentado por l%+'%&#%"#/%+(83!#C#'6(# !& %$83!#0%#&!/"(#;6&0("%&)(+-##

(21)

A defesa por Hart de que a legitimidade da regra de reconheci-"%&)!#9#(6;%/40(#04/%)("%&)%#0%#6"(#( %4)(83!#'! 4(+2#0%#"!0!#>6%# 4&%14')%#5(+40(0%#0(#/%;%/40(#&!/"(2#$!/#'%/#'6(#%14')^& 4(#>6%')3!#0%# ;()!2#!#>6%#"(&)9"#'6(# !&'!&B& 4(# !"#!'#$/% %4)!'#0!#$!'4)454'"!2# 9#!<=%)!#0%# /7)4 (#$!/#$(/)%#0%#J!&(+0#.R!/q4&2#>6(&0!#%')%#(*/"(# >6%#(#%5%&)6(+#( %4)(83!#'! 4(+#'4A&4* (#6"#/% !&N% 4"%&)!#0%#>6%# (#/%A/(#%14')%2#"('#&3!#'4A&4* (2# !&)60!2#>6%#('#$%''!('# !& !/0%"# com ela, pois o simples reconhecimento pode ser obtido pelo uso da força militar ou mediante o arbitrário do Poder.29

r6%/%"!'2#%&)/%)(&)!2#/%''(+)(/#>6%#k(/)#!6'(2#%"#/%+(83!#(!# $%&'("%&)!# $!'4)454')(# +W''4 !2# >6(&0!# (*/"(# >6%# "!/(+# $!0%/W# 4&`6%& 4(/#!#04/%4)!#0%#06('#"(&%4/('D30

a) >6(&0!#0(#%+(<!/(83!#+%A4'+()45(j#% b) quando da atividade judicial.

T#/%;%/40!#$%&'(0!/#%' +(/% %#(4&0(#>6%#(#"!/(+2# !"!#)/(0483!2# &3!#$!0%#'%/#/%5!A(0(#!6#"!04* (0(#$!/#()!'#0%#5!&)(0%#H+%A4'+()45!K2# porém ressalva que somente um ato legislativo pode ser causa dessa (+)%/(83!# !6# "!04* (83!# (!# +!&A!# 0!# )%"$!-31# F%''%# !&)%1)!2# ('# %14A^& 4('#0!#'4')%"(#!* 4(+#$!0%"#!6#"%'"!#0%5%"#'%"$/%#%')(/# '6=%4)('#(#6"#%1("%#"!/(+2#$!/#"(4!/#>6%#'%=(#(#(6)!/40(0%#0%#!&0%# provém. Porém, para algumas questões, somente podem ser apreciadas satisfatoriamente quando surgem no caso concreto.

Hart ressalta o papel do Judiciário, ao defender que o direito positivo deve ser considerado como uma estrutura aberta, o que !//%#0(#$/,$/4(#)%1)6/(#(<%/)(#0%#+4&A6(A%"#H;()!#>6%#'%#(''%"%+N(# à moldura descrita por Kelsen).

F%''(#+4&N(#0%#/( 4! 7&4!#%#04(&)%#0!'# N("(0!'# ('!'#04;7 %4' (hard cases)#$(/(#!'#>6(4'#!#($+4 (0!/#0!#04/%4)!#&3!# !&'%A6%#0%#$/!&)!# ($+4 (/#6"(#'!+683!#+,A4 (# !"#<('%#&!#"9)!0!#0(#'6<'6&83!2#)%&0!# em vista a estrutura forçosamente aberta do ordenamento e da 4'3!#($/%'%&)(0(#$!/#0%)%/"4&(0('#&!/"('2#k(/)#(0"4)%#>6%#=64:#(=(# de forma discricionária. Porém, esse agir deve, em seu entender, estar

(22)

+4"4)(0!#(!#%'$(8!#0%41(0!#$%+(#$/,$/4(#&!/"(2#"!"%&)!#%"#>6%#!# julgador pode se valer de preceitos morais.32

Antes do seu falecimento, contudo, Hart confeccionou um pós--escrito à sua obra “O conceito de direito”, no qual procura responder a algumas críticas que lhe foram dirigidas por Dworkin. Por meio desse instrumento, autodenomina sua doutrina como sendo um positivismo moderado ou soft, já que procura descrever o funcionamento do direito reconhecendo a normatividade dos princípios, bem como valores na regra de reconhecimento, sem que com isso passe a ser uma teoria valorativa, porque a moral somente pode ter aplicabilidade normativa quando introduzida de alguma forma no sistema jurídico.33

T#?EF[]\EFiT#.E#?ELE[@e]Je]

T#=6'*+,'!;!#%'$(&N!+#P/%A!/4!#?% %'@e(/<(#9#!6)/!#&!"%#>6%# tentou readaptar o pensamento positivista às demandas sociais surgidas (#$(/)4/#0%#"%(0!'#0!#'9 6+!#$(''(0!2#! ('43!#%"#>6%#!# !& %4)!# 4%&)7-* !#%#avalorativo de observar e aplicar o direito começou a perder força. Para o referido autor, o poder político deve ser considerado como fundamento básico do direito, o qual será legitimado mediante (#!/A(&4:(83!#0!#E')(0!2#;()!#>6%#)%/W#!# !&03!#0%#+4"4)W@+!-34

F%''%# !&)%1)!2#'%A6&0!#\W/ 4!#\!&)%4/!#J%4'2#!#$!0%/#$!+7)4 !# deve, necessariamente, buscar seu fundamento no direito, esclarecendo >6%#?% %'@e(/<(#0%;%&0%#>6%#!#E')(0!#0%5%#'%#!/A(&4:(/#4& !/$!/(&0!# a denominada moralidade crítica em moralidade positivada.35

F!#%&)%&04"%&)!#0%#e(/<(2#(#"!/(+40(0%# /7)4 (#9# !&'40%/(0(# !"!#(>6%+(#>6%#)%"#4& +4&(83!#$(/(#'%/#4&)%A/(0(#(!#04/%4)!#$!'4)45!2# $!/9"2#$!/#>6%')Z%'#"%/("%&)%#;!/"(4'2#(4&0(#&3!#;!4# !&5%/)40(#%"# &!/"(2#0%#"!0!#>6%2#0%&)/!#0%#6"(#54'3!#$!'4)454')(2#&3!#$!0%#'%/# considerada direito. Por sua vez, a moralidade positivada deve ser con-ceituada como aquela que já foi incorporada ao ordenamento jurídico.36 e(/<(#/% !&N% %#(#%14')^& 4(#0%#6"(#"!/(+40(0%#%1)%/&(#%#(&-)%/4!/#(!#E')(0!#%#(!#$/,$/4!#04/%4)!2# !&)60!#&3!# !&'40%/(#>6%#%''(# "!/(+40(0%#$!''(2#(&)%'#0%#'6(#$!'4)45(83!2#'%/#A(/(&)40(#$%+!#04/%4)!2# isso porque o direito somente possui instrumentos para assegurar

(23)

o respeito àqueles valores que estiverem efetivamente incorporados $!/# &!/"('2# !& +64&0!# >6%2# '%# %')45%/%"# $!'4)45(0!'2# &3!# %')(/W# garantido pelo direito.37

L!"!#$%&'(0!/2#e(/<(# /4)4 (#('#)%!/4('#=6'&()6/(+4')(#%#$!'4)4-vista clássica. Refuta o jusnaturalismo por preceituar um canal entre 04/%4)!#%#"!/(+2#4A&!/(&0!#('#>6%')Z%'#()4&%&)%'#(!#%1%/ 7 4!#0!#?!0%/#%# (0"4)4&0!#(#%14')^& 4(#0%#6"(#0%)%/"4&(0(#"!/(+40(0%# !"!#=6/704 (2# '%"#>6%2#$(/(#)(&)!2#N(=(#&% %''40(0%#0%##5%/4* (/#!'#$/! %04"%&)!'# 4&')4)670!'#$(/(# /4(83!#0!#04/%4)!#&!5!-#?!/#!6)/!#+(0!2#&!#%&)%&04-"%&)!#0!#=6'*+,'!;!#%'$(&N!+2#!#$!'4)454'"!#)%& 4!&(# !"6&4 (/#!# poder ao direito, sem, contudo, passar pela moral, restringindo o direito C>64+!#>6%#9#0%*&40!#$%+!#?!0%/# /4(0!/#0('#&!/"('2#0%' !&N% %&0!# qualquer valor moral no Estado de Direito.38

]''4"2# !"#<('%#&%''('# !&')()(8Z%'2#e(/<(#$(''(#(#$/!$!/#6"# "!0%+!#>6%#+%5%#%"# !&'40%/(83!#(#/%+(83!#%&)/%#\!/(+2#?!0%/#%#.4/%4)!2# no qual se adote o seguinte processo:39

a) a moralidade crítica pressiona o poder, buscando incorporar-@'%#(!#!/0%&("%&)!#%14')%&)%j

b) a moralidade positivada ganha cada vez mais espaço no ordenamento, o que se dá principalmente com a atividade 0%#4&)%/$/%)(83!2#>6%#$/!5! (#(# !&'!+40(83!#%#("$+4(83!# daqueles valores positivados.

\W/ 4!#\!&)%4/!#J%4'#%' +(/% %#(4&0(#>6%#?% %'@e(/<(2#%"#'%6'# %')60!'2#$/!"!5%#)("<9"#!6)/(#04;%/%& 4(83!#4"$!/)(&)%#&!#>6%#)(&A%# C'#/%+(8Z%'#%&)/%#"!/(+#%#$!0%/-#[%A6&0!#%''%#/%&!"(0!#(6)!/2#!#=6'*-+,'!;!#%'$(&N!+#04')4&A6%#9)4 (#$a<+4 (#0(#0%&!"4&(0(#9)4 (#$/45(0(-40 ]#9)4 (#$a<+4 (#'%/4(#(>6%+(#5! ( 4!&(0(#(#'%#4& !/$!/(/#(!#E')(-do mediante o ;!/&% 4"%&)!#0%#$(/B"%)/!'#0%#!/4%&)(83!#0!#%1%/ 7 4!# 0!# ?!0%/# ?a<+4 !2# <%"# !"!# 0!# %')(<%+% 4"%&)!# 0('# (6)!/40(0%'# competentes para realizar as funções a serem desempenhadas pelo $!0%/#%')()(+2#/%;%/%&)%2#$!/)(&)!2#(!#$/,$/4!#%1%/ 7 4!#0!#$!0%/-#F%''%# ('$% )!2#$(/% %@&!'#>6%#e(/<(#0%' (/( )%/4:(#(#(*/"(83!#0%#l%+'%&#

(24)

0%#>6%#(#"!/(+#&3!#$!0%#'%/#(<'!+6)(2#0(&0!#+6A(/#C#/(:!(<4+40(0%# preconizada por John Rawls.41

Por outro lado, a ética privada pode ser considerada como uma ética de conduta, que norteia os planos de vida individuais de cada 40(03!-#L!"$Z%"#(#9)4 (#$/45(0(2#(+9"#0!'#5(+!/%'#4&045406(4'2#!# !& %4)!#0%#;%+4 40(0%#0%# (0(#6"2#'%6'#40%(4'2#!6#'%=(2#)!0!#!# !&)%a0!# moral particular com o qual os indivíduos pautam suas ações, de forma >6%2#&%''%# ('!2#%')(/7("!'#&!#B"<4)!#0(#/( 4!&(+40(0%-42

e(/<(#($/%'%&)(@'%# !"!#6"#+4<%/(+#(!#0%;%&0%/#>6%#)!0!'#!'# 40(03!'#0%5%"#A!:(/#0%#)!)(+#+4<%/0(0%#&(#<6' (#0(#;%+4 40(0%#%#0(# /%(+4:(83!#$%''!(+2#0%;%&0%&0!#&%''%#$!&)!#6"(#4&)%/5%&83!#"7&4"(# %')()(+-# F%''%# ('$% )!2# %+%# $/%A(# (# /%(+4:(83!# 0%# 6"# "!0%+!# '! 4(+# (<%/)!2#!6#'%=(2#&!#>6(+#!#E')(0!#4&)%/;%/%#)3!#'!"%&)%#&!#B"<4)!#0(# m)4 (#$a<+4 (2#0%41(&0!#>6%# (0(#4&045706!#'%#$(6)%#$!/#6"(#9)4 (# privada individualmente construída. Para tanto, o Estado deve criar as condições mínimas para o desenvolvimento de um espaço no qual !'# 40(03!'#$!''("#A!:(/#0%#(6)!&!"4(#"!/(+#%#%')%=("#+45/%'#$(/(# optar por sua própria ética privada.43

F!#%&)(&)!2#$(/% %@&!'#>6%#e(/<(#&3!#;!4#'6* 4%&)%"%&)%# +(/!# &!#'%&)40!#0%#0(/#6"(#'!+683!#C'#N4$,)%'%'#%"#>6%#(#"!/(+40(0%#&3!# 9#4& !/$!/(0(#(!#04/%4)!2#4''!#$!/>6%#'%#+4"4)!6#(#/% !&N% ^@+(# !"!# garantida apenas nos casos em que é positivada pelo ordenamento.

Como veremos adiante, é nesse vácuo que o autor americano Ronald Dworkin propõe um modelo totalmente inédito do que foi até (A!/(#0%*&40!#%#0%;%&040!#$%+!'#$%&'(0!/%'#$!'4)454')('2#"%04(&)%# !#>6(+#$/! 6/(#0%"!&')/(/#>6%#!'#"9)!0!'# +W''4 !'#0%#$/!0683!#0!# direito, que Kelsen chama de norma fundamental e Hart de regra de reconhecimento, &3!#'3!#!'#a&4 !'#%14')%&)%'2#$!0%&0!#!#04/%4)!#'%/# manipulado e “encontrado” por seus aplicadores de várias outras maneiras além das convencionais.

T[#?T[ViVYV[\T[#EULSI[VYV[i]#E#VFLSI[VYV[i]#

]#$(/)4/#0!'# !& %4)!'#4&)/!06:40!'#$!/#k(/)#%#?% %'@e(/<(2#!'# quais foram objeto de nossos comentários, podemos considerar que

(25)

!#$%&'("%&)!#$!'4)454')(#'!;/%6#6"(#0454'3!# !"!#0!6)/4&(2#0(&0!# !/4A%"#(!'#0%&!"4&(0!'#$!'4)454'"!#%1 +6'454')(#%#4&

+6'454')(-T# $!'4)454'"!# %1 +6'454')(# 9# !&'40%/(0!# !"!# (>6%+%# >6%# desvincula a moral do direito e somente a considera garantida pelo direito, se incorporada pelo ordenamento jurídico mediante um !&N% 4"%&)!#$/954!2#$!'483!#0%;%&040(#$!/#?% %'@e(/<(#%#$!/#k(/)# (&)%'#0(#%+(<!/(83!#0!#'%6#$,'@%'

/4)!-Por outro lado, quando o direito reconhece validade normativa a critérios de racionalidade, a sua positividade e o próprio reconheci-"%&)!# !"!# /4)9/4!#0%#5(+40(0%#* ("#'6'$%&'!'-#

F(#%';%/(#0%#/( 4!&(+40(0%2#('#&!/"('#0(#/(:3!#9)4 (#$!0%"# !&-tradizer as normas positivas e prevalecem sobre elas por superioridade lógico-normativa e hierárquica. Essa maneira de ver as coisas só é com-patível com o positivismo inclusivo da moral ou positivismo moderado, por meio do qual os princípios passam a ganhar força normativa ao lado das regras e podem ser considerados como verdadeiros elos de !&%13!#%&)/%#(#"!/(+2#(#*+!'!*(#%#!#04/%4)! (positivismo inclusivista).

T# $!'4)454'"!# 4& +6'454')(# 0% !//%2# %"# $(/)%2# 0(# ( %4)(83!# 0!# pensamento, de acordo com Hart em seu pós-escrito e das considera-ções feitas por Dworkin acerca dos princípios jurídicos, como veremos (04(&)%2#!'#>6(4'#0%41("#0%#'%/#54')!'# !"!#%+%"%&)!'#'6<'404W/4!'#0%# 4&)%A/(83!#0!#04/%4)!2#$(/(#'%/%"# !&'40%/(0!'# !"!#$(/)%#4&)%A/(&)%# 0!#$/,$/4!#04/%4)!#%"#/(:3!#0(#'6(#&!/"()4540(0%-##

O ENTENDIMENTO DE DWORKIN INAUGURA

UMA NOVA CORRENTE, O PÓS-POSITIVISMO

T#=6'*+,'!;!#("%/4 (&!#J!&(+0#.R!/q4&2#)40!# !"!#!#A/(&0%# /7)4 !# 0!# $!'4)454'"!# =6/704 !2# !& %&)/!6# '%6'# %')60!'# &(# /%+(83!# %&)/%# "!/(+# %# 04/%4)!2# !# >6%# /%'6+)!6# &(# $/!$!'483!# 0%# 6"# "!0%+!# inteiramente diverso daquele concebido pelos positivistas.44

[%A6&0!# '%6# %&)%&04"%&)!2# &3!# '%/4(# !//%)!# (*/"(/"!'# (# %14')^& 4(#0%#6"#"9)!0!#0%#4+(83!#+,A4 (#>6%#$!''(#0%*&4/#(!# %/)!#!# !& %4)!#0%#04/%4)!2#$/%)%&'3!#%''(#'6A%/40(#$%+(#0!6)/4&(#$!'4)454')(2#

(26)

de modo que sua teoria confere aos princípios um papel protagonista, (!'#>6(4'#()/4<64#%* W 4(#$+%&(#%# /4(0!/%'#0%#04/%4)!'#'6<=%)45!'-#

.R!/q4&# 4&)%/$%+(# (# 0!6)/4&(# 0%# k(/)2# (# >6(+# (*/"(# >6%# ('# denominadas regras de reconhecimento auferem sua aplicabilidade 04/%)("%&)%#0%#'6(#( %4)(83!#'! 4(+-#]''4"2# !"#<('%#%"#'%6#$%&'(-"%&)!2#'%#%''(#$/%"4''(#;!''%#/%(+"%&)%#(0%>6(0(2#$!0%/@'%@4(#(*/"(/# que também as denominadas normas primárias poderiam auferir +%A4"4)40(0%#0!#"%'"!#"!0!2#0%#;!/"(#>6%#&3!#N(5%/4(#=6')4* ()45(# para que somente as normas secundárias possam ser legitimadas pela ( %4)(83!#$!/#$(/)%#0(#'!

4%0(0%-F%''%#$!&)!2#.R!/q4&#0%;%&0%#>6%2#"%'"!#('#&!/"('#0%# !&06-)(#H0%&!"4&(0('#$/4"W/4('#$!/#k(/)K2#'3!#&% %''(/4("%&)%#'6$!/)(0('# por princípios, os quais, em seu entender, decorrem da própria moral. E"#'6(#54'3!2#(#"!/(+#$!''64#;!/)%#4&)%/(83!# !"#!/0%&("%&)!# jurídico, manifestando-se como princípios jurídicos, que integram, em '%6#'%&)4/2#!#04/%4)!2#"%'"!#&(#N4$,)%'%#0%#&3!#%')(/%"#%1$/%''("%&)%# $!'4)45(0!'-#?!/#)(+#/(:3!2#.R!/q4&#/% N(8(#('# !& %$8Z%'#;!/"(4'#0!# 04/%4)!#$/!$!')('#$%+!#$!'4)454'"!2#0%;%&0%&0!#>6%2#*+!'!* ("%&)%2#&3!# há motivo para se desenvolver uma teoria da verdade, pois, ao se partir 0%#6"(#$/%"4''(#0%#>6%#6"(#$/!$!'483!#'!"%&)%#$!0%#'%/#5%/0(0%4/(2# '4A&4* (#>6%#0%5%"!'#0%#(+A6"(#;!/"(#0%"!&')/(/#'6(#5%/0(0%-#

?(/% %@&!'2#$!/)(&)!2#>6%#.R!/q4&#$!''64#6"(#54'3!#6&4;!/"%# da moral e do direito, fato até certo ponto viabilizado pelo sistema jurídico no qual desenvolve seus estudos (common law), visando a "%+N!/(/#(# !& %$83!#0(0(#$!/#k(/)#%#?% %'@e(/<(-#

Assim, Dworkin pensa o ordenamento jurídico positivo apenas como meio destinado a conferir maior segurança às relações jurídicas, 0%#;!/"(#>6%#&3!#0%' !&'40%/(#%"#'%6#$%&'("%&)!#!#04/%4)!#$!')!2# $!/9"2#%"#'%6#%&)%&0%/2#('#&!/"('#'3!#'6')%&)(0('#$!/#$/4& 7$4!'# morais, os quais devem, em verdade, ser considerados como seu real ;6&0("%&)!#0%#5(+40(0%2#$!0%&0!2#4& +6'45%2#4"$+4 (/#(#&3!#($+4 (83!# 0(>6%+('#&!/"('#>6%#+N%'#'3!# !&)/W/4('-#

Considerando esse entendimento, temos que a moral se manifes-)(/4(#$!/#"%4!#0%#$/4& 7$4!'2#'%=(#!/4%&)(&0!#(#%+(<!/(83!#0('#&!/"('2# '%=(#0(#($+4 (83!#04/%)(#(!# ('!# !& /%)!2#/%(+4:(0(#$%+!#"(A4')/(0!-45

(27)

A ideia consequente desse pensamento é a de que a moral deve ser entendida como antecedente ao direito, devendo, por conseguinte, ser resguardada por seus instrumentos. Portanto, aceitando-se uma 0%*&483!#0%#04/%4)!# !"!#($%&('#!#)%1)!#$!'4)45(0!2# N%A(@'%#C# +6'3!#0%#>6%#(#"!/(+#0%5%#'%/#$!')(#( 4"(#0!#04/%4)!-46

L!"#<('%#&(#(*/"(83!#0%#>6%#!'#5(+!/%'#"!/(4'#%')3!#( 4"(#0!# direito, fato que pode ser viabilizado pelo sistema da common law, surge (#=6')4* (83!#0(#0%'!<%04^& 4(# 454+2#/% !&N% 40(# !"!#$!''75%+#$%+!# =W# 4)(0!#*+,'!;!#("%/4 (&!#G!N&#J(R+'2#4''!#$!/>6%2#&(#N4$,)%'%#0%#!'# 40(03!'#0%5%/%"#"(4'#!<%04^& 4(#(!'#5(+!/%'#"!/(4'#0!#>6%#C'#$/,-prias regras escritas, nada mais evidente que se aceite a possibilidade 0%#0%41(/%"#0%#!<%0% %/#C'#+%4'#>6%#%5%&)6(+"%&)%#/%$6)%"#4"!/(4'-47

T6)/(# !&'%>6^& 4(#0!#$%&'("%&)!#0%#.R!/q4&#9#%1()("%&)%#(# $!''4<4+40(0%#0%#%&1%/A(/#(#"!/(+# !"!#;6&0("%&)!#0%#5(+40(0%#0('# normas, de modo que, além de poderem ser desobedecidas, as leis imo-rais merecem ser declaradas nulas o quanto antes, o que valeria, inclu-'45%2#$(/(#('#&!/"('# !&')4)6 4!&(4'-#F%''%#'%&)40!2#0%5%"!'#/%''(+)(/# >6%2# !"#<('%#%"#)(+#%&)%&04"%&)!2#!#%')604!'!#(+%"3!#T))!#e( N!;48 desenvolveu a sua teoria acerca das chamadas normas constitucionais 4& !&')4)6 4!&(4'2#;()!#>6%2#%"#'6(# !"$/%%&'3!2#$!0%/4(#! !//%/#&('# '%A64&)%'# N4$,)%'%'D# (K# &3!# !<'%/5B& 4(# 0('# /%A/('# %')4$6+(0('# $!/# 0! 6"%&)!#$/9@ !&')4)6 4!&(+#$(/(#'6(#($/!5(83!j#<K#(#4&!<'%/5B& 4(# de regras constitucionais que disciplinam sua própria reforma; c) a %14')^& 4(#0%#N4%/(/>64(#%&)/%#045%/'('#&!/"('# !&')4)6 4!&(4'j49 e d) (#4&;/(83!#0%#04/%4)!#'6$/(+%A(+2#$!'4)45(0!#!6#&3!#&(#L!&')4)6483!-50

Para Dworkin, o positivismo seria um modelo concebido para 6"#'4')%"(#0%#/%A/('#;! (0!#&(#$!''4<4+40(0%#0%#%14')^& 4(#0%#6"#)%')%# a&4 !# ($(:#0%#)/(06:4/2#(!# %/)!2#)!0!#!# !&)%a0!#0!#04/%4)!-#E''(# (<!/0(A%"#)!/&(#04')(&)%#(#($+4 (83!#0%#%+%"%&)!'#>6%2#%"<!/(#&3!# sejam considerados regras, seriam fundamentais, como é o caso dos $/4& 7$4!'-#]''4"2# N("(#(#()%&83!#$(/(#('#0%&!"4&(0('#$!+7)4 ('#%# os princípios, aos quais considera como princípios em sentido amplo. I"(#$!+7)4 (#0%*&4/4(#6"#!<=%)45!#(#'%/#(+ (&8(0!-#GW#!#$/4& 7$4!2# em sentido estrito, seria um enunciado a ser observado por um critério 0%#=6')48(#!6#0%#"!/(+-#F%''%#$!&)!2#(#A/(&0%#04')4&83!#%&)/%#('#/%A/('#%# !'#$/4& 7$4!'2#'%A6&0!#.R!/q4&2#'%/4(#(#;!/"(#$%+(#>6(+#'3!#($+4 (0!'-#

(28)

As regras, no entender do referido pensador e com base numa !& %$83!#$!'4)454')(2#!<%0% %/4("#(#6"#'4')%"(#0%#)60!#!6#&(0(2# de forma que, se o fato ocorrido se subsumir no comando legalmente $/%54')!2#(#&!/"(#9# !&'40%/(0(#5W+40(#%#$(''75%+#0%#($+4 (83!2#!62# (!# !&)/W/4!2#&3!#9#5W+40(2#N4$,)%'%#%"#>6%#&3!#$!0%/W#'%/#($+4 (0(# %#&3!# !&)/4<64/W#0%#;!/"(#(+A6"(#$(/(#(#0% 4'3!#(#'%/# !&;%/40(#(!# caso apresentado.

Por outro lado, temos que a aplicabilidade lógica e prática dos $/4& 7$4!'#9#045%/'(-#F%''%#$!&)!2#.R!/q4&#%1$+4 (#>6%#!'#$/4& 7$4!'# $!''6%"#6"(#04"%&'3!#%#6"(#($+4 (<4+40(0%#>6%#('#/%A/('#%"#'4#&3!# 04'$Z%"2#>6%#9#%1()("%&)%#!#%')(<%+% 4"%&)!#0%#$%'!2#!6#0%#5(+!/(83!-# L!"#<('%#&%''(#$/%"4''(2#&3!#N(5%/4(#>6%#'%#;(+(/2#$!/)(&)!2#%"# !&`4)!# %&)/%#$/4& 7$4!'2#"('#'4"#%"# !+4'3!2#4''!#$!/>6%# (0(#$/4& 7$4!2#%"# 0%)%/"4&(0('# 4/ 6&')B& 4('2#)%"#6"#$%'!#$/,$/4!-#.(#(/A6"%&)(83!# %&)/%#%+%'#9#>6%#'6/A4/4(#(#'!+683!#$(/(#!# ('!# !& /%)!#($/%'%&)(0!-51

F(# N4$,)%'%# 0%# %14')4/%"# $/4& 7$4!'# !&)/(04),/4!'# %&)/%# '4# %# aparentemente capazes de incidir sobre um mesmo caso concreto, o !$%/(0!/#0!#04/%4)!#&3!#%')W#!</4A(0!#(#%' !+N%/#($%&('#6"#($+4 W5%+-# Outro ponto relevante é que, a cada hipótese em que aqueles mesmos $/4& 7$4!'# !+404/%"2#(#$/%;%/^& 4(#$!0%#/% (4/#'!</%#6"#04;%/%&)%2#0%-$%&0%&0!#0('#%'$% 4* 40(0%'#0!# ('!#($/%'%&)(0!#%#%')60(0!-#J%')(# +(/!2#$!/)(&)!2#>6%#('#0% 4'Z%'#)!"(0('#&%"#'%"$/%#'%/3!#+,A4 ('2# podendo, muitas vezes, causar controvérsias, considerando-se para tanto cada caso concreto avaliado.

# GW# !'# !&`4)!'# %&)/%# /%A/('# '3!# /%'!+540!'# $!/# 6"# '4')%"(# preestabelecido clássico pela doutrina positivista, que é, ele próprio, um sistema de regras. Como já vimos, é o que Hart chama de regras secundárias (regras de reconhecimento), ou norma fundamental para Kelsen, de forma que haverá sempre uma norma a prevalecer em 0%)/4"%&)!#0(#!6)/(-#F%''%#('$% )!2#!'# /4)9/4!'#0(#%' !+N(#0('#/%A/('# continuariam fornecidos pelo próprio sistema, como e.g., temos a N4%/(/>64(2#!#;()!#0%#'%/#"(4'#/% %&)%2#0%#'%/#"(4'#%'$% 7* (#!6#()9# mesmo de possuir um peso maior dentro do sistema (lei ordinária, lei

!"$+%"%&)(/2#L!&')4)6483!K-F3!#$!0%"!'#0%41(/#0%#"%& 4!&(/#>6%#(#)%!/4(#;!/"6+(0(#$!/# Dworkin, no sentido de conferir validade ao direito a partir de conceitos

(29)

"!/(4'#%#$/4& 7$4!'2#&3!#&% %''(/4("%&)%#$!'4)45(0!'2#$(/% %@&!'#"64)!# inteligente e fascinante, contudo, cremos que sua aplicabilidade nos '4')%"('#=6/704 !'#>6%#'%A6%"#!#"!0%+!#/!"(&!@A%/"B&4 !#&3!#)%/W# muito sucesso, pois, nesse sistema, o direito posto ainda é a principal fonte a instruir as decisões judiciais.

É com base nesse entendimento que começa a ser discutida uma &!5(#0!6)/4&(2#0%&!"4&(0(#&%! !&')4)6 4!&(+4')(2#(#>6(+2#%"#/(:3!#0!# reconhecimento da normatividade dos princípios, defende que eles devem necessariamente ser alçados à categoria de princípios 4!&(4'2#!'#>6(4'#4&)%A/(/4("#!#)%1)!#0('#L!&')4)648Z%'2#"(&)%&0!@'%2# assim, a segurança jurídica preconizada pelas normas postas e afas-tando os critérios morais e supralegais aceitos por Dworkin.

?TJi][# ]eEJi][# ?]J]# T#

FETLTF[iViILVT-F]SV[\T

O reconhecimento da normatividade dos princípios, os quais perdem o seu caráter subsidiário e integrativo, deve ser considerado um divisor de águas dentro do estudo do direito. Entretanto, o enten-dimento de que os princípios morais podem ser aplicados independen-)%"%&)%#0%#'6(#$!'4)45(83!# !"!#'%&0!#5(+!/%'#'6$/(+%A(4'2#%"#&!''!# sentir, deve ser apreciado com ressalvas, de forma que, para conferir efetividade ao pensamento inaugurado por Dworkin, nos alinhamos àqueles que defendem que os princípios devem ser alçados à categoria de princípios constitucionais.

[%A6&0!#?(6+!#e!&(540%'2#!'#$/4& 7$4!'2#$!/#%1$/%''(/%"#5(-+!/%'#"!/(4'2#'%"#0a540(2#/%"!5%"#04* 6+0(0%'#$(/(#/%'!+683!#0%# eventuais controvérsias apresentadas ao aplicador do direito, porém 0%5%"!'#/%''(+)(/#>6%#!#/%;%/40!#(6)!/#&3!#(0"4)%#(#'6(#%1)/( !&')4-)6 4!&(+40(0%2#4''!#$!/>6%# !&'40%/(#>6%#(#( %4)(83!#0%''(#N4$,)%'%# atrairia efeitos nocivos ao sistema jurídico, por reconhecer novamente a perda dos progressos normativos, trazidos pelo positivismo jurídico.52

.%''(#;!/"(2#A!')(/7("!'#0%#/%(*/"(/#>6%#(#)%'%#0!#04/%4)!#'6$/(-+%A(+#&3!#%' /4)!#%#$/% !&4:(0!#$!/#.R!/q4&#&3!#)%"#A/(&0%#/% %$)454-dade no direito brasileiro, primeiramente porque estaria ligada à ideia 0%#04/%4)!#&()6/(+2#)3!# !"<()40!#$%+!#$!'4)454'"!#=6/704 !#%2#'%A6&0!2#

Referências

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