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Homoafetividade: uma questão de direito.

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Academic year: 2021

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

UNIDADE ACADÊMICA DE DIREITO

CURSO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS

JÉSSICA MARIA GOMES ARAÚJO

HOMOAFETIVIDADE: UMA QUESTÃO DE DIREITO

SOUSA - PB

2010

(2)

JÉSSICA MARIA GOMES ARAÚJO

HOMOAFETIVIDADE: UMA QUESTÃO DE DIREITO

Monografia apresentada ao Curso de

Ciências Jurídicas e Sociais do CCJS da

Universidade

Federal

de

Campina

Grande, como requisito parcial para

obtenção do título de Bacharela em

Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Prof

º

. Alexandre da Silva Oliveira.

SOUSA - PB

2010

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Elaboração da Ficha Catalográfica:

Johnny Rodrigues Barbosa

Bibliotecário-Documentalista

CRB-15/626

A659h Araújo, Jéssica Maria Gomes.

Homoafetividade: uma questão de direito. / Jéssica Maria Gomes

Araújo. - Sousa- PB: [s.n], 2010.

47 f.

Orientador: Prof. Alexandre da Silva Oliveira.

Monografia - Universidade Federal de Campina Grande; Centro

de Formação de Professores; Curso de Bacharelado em Ciências

Jurídicas e Sociais - Direito.

1. Homoafetividade. 2. Direito de personalidade. 3. Dignidade

da pessoa humana. 4. União estável homoafetiva. 5. Direito de família

– união homoafetiva. 6. Gays – união homoafetiva. 7. Direitos LGBT.

I. Oliveira, Alexandre da Silva. II. Título.

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J E S S I C A M A R I A G O M E S A R A U J O

H O M O A F E T I V I D A D E : U M A Q U E S T A O DE D I R E I T O

T r a b a l h o monografico a p r e s e n t a d o ao Curso de Direito do C e n t r o de Ciencias Juridicas e Sociais d a U n i v e r s i d a d e Federal de C a m p i n a G r a n d e , c o m o exigencia parcial da o b t e n c a o do titulo de Bacharel e m Ciencias Juridicas e Sociais. Orientador: Prof. A l e x a n d r e da Silva Oliveira

B a n c a E x a m i n a d o r a : Data de a p r o v a c a o :

Orientador: Prof. A l e x a n d r e da Silva Oliveira

E x a m i n a d o r interno

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A D e u s , por Sua fidelidade e misericordia. A o s m e u s Pais pelo c o m p a n h e i r i s m o e d e d i c a c a o . A V o v o Bina (In Memoriam) por ser minha estrela m a i s linda. A o m e u A m o r , por todo o apoio. A o s amigos de longe, de perto e do meio do c a m i n h o . Por s e m p r e e s t a r e m presentes e m m i n h a vida.

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A G R A D E C I M E N T O S

A D e u s , m e u refugio, fortaleza e Pai.

A V o v o Bina {in memoriam), por m e ensinar as primeiras letras e por ser a estrelinha m a i s linda a iluminar m e u s c a m i n h o s .

A o m e u S U P E R - P A I , de quern - c o m muito orgulho - herdei toda a p e r s o n a l i d a d e , d e t e r m i n a g a o e teimosia, por acreditar e m m i m , sonhar c o m i g o e m e apoiar s e m p r e . A m i n h a S U P E R - M A E por t o d o o esforgo, estimulo, d e d i c a c a o e por m e e n s i n a r a

lutar por m e u s s o n h o s . Por todo o amor, apoio e e n s i n a m e n t o s .

A Tia Zizi, por ter sido s e m p r e mais que uma tia e por ser ate hoje m i n h a s e g u n d a m a e .

A o s d e m a i s tios e tias, primos, primas e familiares por f o r m a r e m u m a familia forte e unida, o n d e s e m p r e encontrei a m p a r o .

A o m e u irmao Daniel, por dividir c o m i g o todos os m o m e n t o s n e s s e s cinco a n o s e estar s e m p r e presente: na alegria, na tristeza, na saude, na d o e n c a , na sala de aula ou fora dela.

A o m e u irmao Davi, que m e s m o distante s e m p r e transmitiu carinho, a m o r e u m a palavra q u e alegrasse meu coragao. Por t o d o o c o m p a n h e i r i s m o , tranquilidade e alegria q u e m e transmite.

As m i n h a s primas Kandice, Katarina e Daniella, por toda a forga e c u m p l i c i d a d e . A t o d o s os m e u s a m i g o s queridos que f a z e m o C C B N B - S o u s a , por t o d o o carinho e por m e r e c e b e r e m s e m p r e de bracos abertos, f a z e n d o c o m q u e e u m e sinta e m c a s a .

A o Professor A l e x a n d r e Oliveira, por toda atencao e t e m p o d i s p e n s a d o s nesse p r o c e s s o , a p e s a r de todos os seus c o m p r o m i s s o s .

A o s m e u s amigos-filhos-irmaos Livia, S e n n a e Natarajan por m e e n s i n a r e m o v e r d a d e i r o sentido da a m i z a d e .

A Ricardo, por t o d o o amor, carinho, dedicagao, paciencia e por tornar m e u s dias mais felizes. Por todos os e n s i n a m e n t o s , conselhos, por acreditar e m m i m e por trilhar s e u s c a m i n h o s c o m i g o . A m o r , te a m o infinito a potencia infinita (pra nao perder o jeito m e n i n a de ser!).

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"O m a i s importante nao e o objeto do desejo m a s o s e n t i m e n t o e m s i . " G o r e Vidal

"Por que e que, culturalmente, nos nos s e n t i m o s m a i s confortaveis v e n d o dois h o m e n s s e g u r a n d o a r m a s do que d a n d o as m a o s ? " Ernest G a i n e s

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R E S U M O

O presente trabalho traz u m a a b o r d a g e m analitica acerca da problematica da h o m o a f e t i v i d a d e no Brasil e de sua possivel legalizacao; q u e s t a o esta trazida a luz a partir da a p r o v a g a o d a A r g u i c a o de D e s c u m p r i m e n t o de Preceito F u n d a m e n t a l ( A D P F ) n ° 1 3 2 / R J . Nesse intuito, e tragado primeiramente u m perfil historico evolutivo, a p r e s e n t a n d o a homoafetividade e c o m o esta v e m s e n d o tratada no c o n t e x t o de e v o l u g a o social no qual esta inserida. Por c o n s e g u i n t e , trata-se do Principio F u n d a m e n t a l da Dignidade d a Pessoa H u m a n a , principio este garantidor de q u e t o d o s os direitos e escolhas do individuo sejam respeitados. T r a g a - s e ainda u m paralelo entre m e n c i o n a d o principio e a questao d a h o m o a f e t i v i d a d e no o r d e n a m e n t o j u r i d i c o brasileiro, e s c l a r e c e n d o que a aceitagao da condigao d e f a m i l i a homoafetiva nada m a i s e que a positivagao, ou ainda a afirmagao de tal principio. Discorre-se t a m b e m sobre a importancia dada ao afeto nos r e l a c i o n a m e n t o s familiares e as m u d a n g a s trazidas por este a partir d o m o m e n t o e m q u e foi r e c o n h e c i d o c o m o Principio F u n d a m e n t a l para a constituigao e caracterizagao da familia. Explicita-se ainda acerca da A D P F n ° 1 3 2 , e s c l a r e c e n d o s o b r e as m u d a n g a s trazidas a partir da aprovagao d a m e s m a , garantindo direitos e p e r m i t i n d o o r e c o n h e c i m e n t o da entidade familiar homoafetiva c o m o tal. Para isso, d i s c o r r e - s e a c e r c a d a uniao estavel c o m o u m todo, m o s t r a n d o a relevancia que ha e m c o n s i d e r a r a uniao homoafetiva sob o m e s m o prisma. Nesse interim, a p r e s e n t a -se t a m b e m breve e s b o g o sobre a A D P F c o m o u m t o d o , no intuito d e facilitar o e n t e n d i m e n t o no tocante a sua apresentagao, aprovagao e c o n s e q u e n t e aplicagao. C o m p r e e n d i d o o instituto da uniao estavel e a importancia e n e c e s s i d a d e da A D P F , traga-se u m paralelo entre a m b o s , t r a z e n d o de f o r m a detalhada as alteragoes i m p o s t a s pela aprovagao da m e s m a . Sob e s s a otica, constata-se q u e a a p r o v a g a o d a A D P F n° 132 constitui na garantia de direitos que ja d e v e r i a m ser c o n t e m p l a d o s ha a l g u m t e m p o ; s e n d o o primeiro g r a n d e passo e m diregao a criagao de u m a legislagao especifica para a regencia dessas relagoes, presentes na historia d a h u m a n i d a d e d e s d e s e m p r e .

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R E S U M E N

Este articulo presenta un e n f o q u e analitico sobre la cuestion de h o m o a f e t i v a s en Brasil y su posible legalizacion; este asunto sale a la luz d e s p u e s de la a p r o b a c i o n de la Peticion en caso de Incumplimiento de un P r e c e p t o F u n d a m e n t a l ( A D P F ) no 1 3 2 / R J . C o n ese fin, ha sido b a s i c a m e n t e un perfil historico de la e v o l u c i o n , homoafetivas presentar y c o m o se ha a b o r d a d o en el contexto d e la e v o l u c i o n social e n los q u e opera. Por lo tanto, se ha a b o r d a d o el Principio de Dignidad d e la Persona H u m a n a , un principio que garante que t o d o s los d e r e c h o s y e l e c c i o n e s de los individuos s e a n respetados. T a m b i e n se establece un paralelismo entre d i c h o principio y la cuestion del derecho homoafetivas brasileno, a c l a r a n d o que la c o n d i c i o n de aceptacion de la familia no es m a s que la positivacion h o m o a f e t i v a s , o incluso la afirmacion de este principio. T a m b i e n habla de la importancia d a d a a los e f e c t o s en las relaciones familiares y los c a m b i o s p r o v o c a d o s por este d e s d e el m o m e n t o en que f u e reconocido c o m o un principio f u n d a m e n t a l para la c r e a c i o n y c a r a c t e r i z a c i o n de la familia. Dar m a s explicaciones s o b r e el N 0 A D P F 132, que

r e p r e s e n t a n los c a m b i o s producidos d e s p u e s de la a p r o b a c i o n de los m i s m o s d e r e c h o s q u e garantiza y permite el reconocimiento de un homoafetivas la unidad familiar c o m o tal. Para ello, se habla de la union es estable en su conjunto, m o s t r a n d o q u e no hay relevancia en la consideracion de la homoafetivas union de la m i s m a . Por otra parte, t a m b i e n esta presente en el e s q u e m a A D P F breve en su conjunto, con el fin de facilitar la c o m p r e n s i o n en cuanto a su p r e s e n t a c i o n , a p r o b a c i o n y posterior aplicacion. Entiende a la institucion de una relacion estable y la importancia y necesidad de la A D P F , establece un paralelo entre ellos, lo que en detalle los c a m b i o s i m p u e s t o s por la a p r o b a c i o n . En este sentido, p a r e c e q u e la a p r o b a c i o n de la A D P F N 0 132 es la garantia de los d e r e c h o s q u e d e b e r i a estar

cubierto por algun t i e m p o , al ser el primer p a s o importante hacia la creacion d e una legislacion e s p e c i f i c a para la r e a l i z a t i o n de estas relaciones en historia de la h u m a n i d a d d e s d e e n t o n c e s .

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S U M A R I O 1. I N T R O D U Q A O 10 2. C O N C E I T O E E V O L U Q A O H I S T O R I C A D O S D I R E I T O S D O S H O M O S S E X U A I S 13 2 . 1 . C O N C E I T U A Q A O 13 2.2. E V O L U Q A O H I S T O R I C A 17 3. H O M O A F E T I V I D A D E E O P R I N C J P I O D A D I G N I D A D E D A P E S S O A H U M A N A 23 3 . 1 . C O N S I D E R A Q O E S H I S T O R I C A S S O B R E A D I G N I D A D E DA P E S S O A H U M A N A 2 5 3.2. D I G N I D A D E D A P E S S O A H U M A N A E H O M O A F E T I V I D A D E N O O R D E N A M E N T O JURJDICO B R A S I L E I R O 2 6 4. C O N S T I T U C I O N A L I D A D E D A UNIAO E S T A V E L H O M O A F E T I V A S O B A O T I C A D A A D P F N ° 1 3 2 / R J 34 4 . 1 . I N S T I T U T O D A U N l A O E S T A V E L 34 4.2. A R G U I Q A O DE D E S C U M P R I M E N T O DE P R E C E I T O F U N D A M E N T A L -C O N -C E I T O E A P L I -C A Q A O 37 4.3. U N I A O E S T A V E L H O M O A F E T I V A E A D P F 132/RJ 4 0 5. C O N C L U S A O 4 5 6. R E F E R E N C E S 48 9

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1. I N T R O D U Q A O

A p o s anos de d i s c u s s o e s e decisoes contrarias, o o r d e n a m e n t o j u r i d i c o brasileiro sofre u m a m u d a n c a que mostra claramente o avango d o s legisladores na b u s c a de u m direito v e r d a d e i r a m e n t e igualitario e justo.

A a p r o v a g a o da Lei que permite a uniao estavel homoafetiva, veio - m e s m o q u e t a r d i a m e n t e - para regular u m a pratica j a recorrente e m varios e s t a d o s brasileiros, e m b o r a , ate entao, fosse considerada inconstitucional.

A p e s a r de muitos acreditarem que a h o m o s s e x u a l i d a d e e u m a construgao m o d e r n a , tal pratica e percebida d e s d e os primordios da civilizagao. Nos relatos biblicos os r e l a c i o n a m e n t o s h o m o s s e x u a i s s a o tratados e c o n d e n a d o s c o m o p e c a d o s da c a r n e , ja que, biblicamente, a familia e constituida por u m r e l a c i o n a m e n t o entre individuos de sexo oposto, c a p a z e s de gerar d e s c e n d e n c i a .

Por ser c o n d e n a d a biblicamente, a h o m o s s e x u a l i d a d e e n c o n t r o u forte oposigao nas Igrejas que, partilhando dos preceitos biblicos, coloca a m a r g e m os a d e p t o s d e tal pratica.

T a m b e m ha relatos de casais h o m o s s e x u a i s durante o imperio r o m a n o ; e p o c a esta q u e cultuava o h o m e m e renegava a mulher a condigao de d o n a do lar e p r o c r i a d o r a . D e s s a f o r m a , os relacionamentos entre h o m e n s e m u l h e r e s t r a t a v a m a p e n a s de m e r a formalidade, e n q u a n t o os r e l a c i o n a m e n t o s v e r d a d e i r a m e n t e afetivos ocorriam entre h o m e n s .

A s o c i e d a d e , por possuir g r a n d e influencia religiosa, s e m p r e tratou c o m preconceito aqueles que tern opgao sexual diversa da imposta pela maioria. D e s s a f o r m a , a a v e r s a o , o preconceito, s e m p r e estiveram presentes na vida d o s que e s c o l h e r a m ser diferentes.

Outro fato gerador de conflitos neste c a m p o e o fato de estar constituida u m a s o c i e d a d e machista, de origem patriarcal, na qual o h o m e m deveria a s s u m i r seu papel d e c h e f e de familia; s e n d o o ente forte, dominador, no entanto, a p e s a r de t o d o s os p r e c o n c e i t o s e obstaculos enfrentados, as diferengas s e m p r e existiram e resistiram, lutando por melhorias e m sua condigao. E m b o r a discriminados, s e m p r e

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s o u b e r a m q u e p o s s u i a m direitos e insistiram na busca de u m a realidade m a i s f a v o r a v e l .

D e p o i s de tanta luta, p e r c e b e - s e que isso comega a acontecer. Em 5 de m a i o d e 2 0 1 1 , foi a p r o v a d o no S T F a Arguigao de D e s c u m p r i m e n t o de preceito

F u n d a m e n t a l , A D P F n°132, que regula e disciplina a uniao estavel h o m o a f e t i v a , t o r n a n d o constitucional algo que ja vinha a c o n t e c e n d o e m alguns lugares do Brasil.

Esta d e c i s a o do S u p r e m o possui bastante relevancia, pois, mais u m a vez, m o s t r a a p r e o c u p a g a o do legislador brasileiro e m trabalhar os ideais d e i g u a l d a d e entre os p o v o s . S e n d o a s s i m , esta nova norma traz e m s u a s entrelinhas muito m a i s do q u e aquilo q u e e perceptivel superficialmente; traz, e n t r e m e a d o e m s e u direito a unir-se civilmente, direitos relacionados a familia, s u c e s s o e s e muitos outros.

A partir da m e s m a , foram tragadas indagagoes, constituindo a s s i m a p r o b l e m a t i z a g a o do referido estudo. Pretende-se responder se ha r e a l m e n t e e m b a s a m e n t o j u r i d i c o para aprovagao desta decisao; apresentar quais m u d a n g a s s e r a o o b s e r v a d a s e quais os reflexos no o r d e n a m e n t o j u r i d i c o brasileiro c o m o u m todo.

E m razao d a atualidade e proporgoes que v e m tornando o t e m a , e l a b o r o u - s e o p r e s e n t e trabalho, cujo principal objetivo e esclarecer acerca d a relevancia e constitucionalidade do m e s m o , b e m c o m o estudar as m u d a n g a s ocorridas nos diversos r a m o s do universo juridico brasileiro, sob a otica da d e c i s a o e m q u e s t a o .

Para d e s e n v o l v e r o presente estudo, utilizou-se o m e t o d o dedutivo e a tecnica de d o c u m e n t a g a o indireta, caracterizada pela coleta de d a d o s m e d i a n t e p e s q u i s a d o c u m e n t a l e/ou bibliografica. M e t o d o dedutivo, pois, partindo-se de v e r d a d e s p r e v i a m e n t e e s t a b e l e c i d a s c o m o principios gerais, s e n d o estes n o r t e a d o r e s da p e s q u i s a , aplicando-se a casos individuals, para c o m p r o v a g a o de sua validez.

O c a m p o de investigagao a c a d e m i c a no ambito d a s Ciencias Juridicas a ser utilizado e o dogmatico-juridico, haja vista que as fontes de estudo desta p e s q u i s a s a o as n o r m a s juridicas que se referem a homoafetividade, a historia do e s t a b e l e c i m e n t o desse r a m o j u r i d i c o e a interpretagao juridica e doutrinal a c e r c a do objeto d e s t e trabalho, qual seja a regulamentagao d a uniao estavel h o m o a f e t i v a .

S o b e s s a otica, o m e t o d o e m p r e g a d o pela h e r m e n e u t i c a juridica a ser o b s e r v a d a nesse trabalho e o exegetico, e m p r e g a n d o as tecnicas de analise s e m a n t i c a , gramatical e logica, assim c o m o a historica.

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Diante disso, a presente pesquisa estruturou-se e m tres capitulos. No primeiro c a p i t u l o tratar-se-a d a questao conceitual, b e m c o m o a evolugao historica d a s relagoes homoafetivas e sua equiparacao a uniao estavel.

N o s e g u n d o capitulo, analisar-se-a a questao da h o m o a f e t i v i d a d e e sua relacao c o m o principio d a dignidade d a pessoa h u m a n a ; m o s t r a n d o a importancia d o s direitos f u n d a m e n t a l s , d e v e n d o estes prevalecer a c i m a de qualquer outro.

Por f i m , no terceiro capitulo, sera realizada u m a analise minuciosa d a A D P F n ° 1 3 2 ; a p r e s e n t a n d o os direitos anteriormente garantidos aos h o m o s s e x u a i s , explicitando ainda a importancia das m u d a n g a s trazidas pela m e s m a , nos diversos r a m o s do o r d e n a m e n t o juridico brasileiro.

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2. C O N C E I T O E E V O L U Q A O H I S T O R I C A D O S D I R E I T O S D O S H O M O S S E X U A I S

N a o ha c o m o se precisar e x a t a m e n t e o p e r i o d o o n d e t i v e r a m inicio os r e l a c i o n a m e n t o s entre individuos de m e s m o sexo. A s i n f o r m a c o e s q u e se a p r e s e n t a m sao d a t a d a s da A n t i g u i d a d e , s e n d o constatados relatos t a n t o nas S a g r a d a s Escrituras - constituindo textos repudiadores de tal pratica -, q u a n t o e m livros historicos, q u e nos e s c l a r e c e m quais sociedades e r a m a d e p t a s d e s t e uso.

C o n c e i t u a r " h o m o s s e x u a l i d a d e " e tarefa simples, s e n d o este t e r m o bastante auto-explicativo; no entanto, vale salientar neste trabalho as alteracoes que o m e s m o sofreu, indicando claramente u m a v a n c o , m e s m o que p e q u e n o , no e n t e n d i m e n t o d a situacao.

Historicamente, c o m o j a m e n c i o n a d o , as relagoes h o m o a f e t i v a s s e m p r e existiram. P e r m a n e c e r a m e subsistiram enfrentando preconceitos diversos e lutando por m e l h o r i a s e m suas condigoes; nao olvidando que, antes de q u a l q u e r definigao s e x u a l q u e os rotule, tratam-se de seres h u m a n o s ; e, c o m o tais, p o s s u i d o r e s d o s m e s m o s d e v e r e s e direitos f u n d a m e n t a l s inerentes a q u a i s q u e r do povo.

E nesta otica que o presente capitulo mostrara a definigao, e v o l u g a o e a v a n g o s e x p e r i m e n t a d o s no decorrer da historia da h u m a n i d a d e .

2.1. C O N C E I T U A Q A O

E n t e n d e - s e c o m o uniao homoafetiva aquela realizada entre individuos do m e s m o sexo, e m busca de um relacionamento afetivo publico e d u r a d o u r o . A s s e m e l h a n d o - s e bastante tal conceito ao da uniao estavel, s e n d o este previsto no C o d i g o Civil Brasileiro:

Art. 1.723, CC. E reconhecida como entidade familiar a uniao estavel entre o homem e a mulher, configurada na convivencia publica, duradoura e estabelecida com o objetivo de constituigao de familia.

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C o m o e possivel observar, a uniao homoafetiva possui as m e s m a s caracteristicas d a uniao estavel, s e n d o o unico diferencial entre u m a e outra f o r m a , o fato de q u e , n a q u e l a s , este relacionamento ocorre entre individuos do m e s m o s e x o .

T r a t a d o - s e d a origem d a palavra, o v o c a b u l o " h o m o s s e x u a l " p o s s u i raiz e t i m o l o g i c a grega; t r a z e n d o o radical " h o m o " a ideia de s e m e l h a n c a , algo igual, h o m o l o g o , a n a l o g o ; inferindo assim a igualdade de s e x o s entre os parceiros d a relagao e m q u e s t a o . E o que se observa na analise do v e r b e t e , retirado do Dicionario A u r e l i o , p. 345:

Homossexual (cs). Adj. 2 g. 1. Relativo a afinidade, atragao e/ou

comportamentos sexuais entre individuos do mesmo sexo. 2. Que tern essa afinidade e esse comportamento. S. 2 g. 3. Pessoa homossexual (2). [Anton.: heterossexual.]

P e r m e a d a de preconceitos, a h o m o s s e x u a l i d a d e a c o m p a n h a a historia d a h u m a n i d a d e . A p e s a r de s e m p r e ter existido, seu historico m a i s c o m u m e d e marginalizagao e nao aceitacao por g r a n d e parte d a s o c i e d a d e . Ja t e n d o sido tratada c o m o a s s u n t o 'proibido', hoje encontra e s p a c o para d i s c u s s o e s , t r a t a n d o - s e d e a s s u n t o p o l e m i c o e divisor de opinioes. O q u e mais se o b s e r v a , e m se t r a t a n d o d e s t e assunto, e u m a verdadeira ojeriza enfrentada por parte d o s h o m o s s e x u a i s q u e , lutando contra o preconceito, t e n t a m a m o l d a r - s e tanto q u a n t o possivel as i m p o s i g o e s de u m a s o c i e d a d e de valores tao controvertidos.

C o m o na s o c i e d a d e , o conceito t a m b e m sofre alteragoes no c a m p o cientifico. Nesta area, ate o a n o de 1985, era d e n o m i n a d a de " h o m o s s e x u a l i s m o " e c o n s t a v a no art. 3 0 2 do C I D - Codigo Internacional de Doengas - c o m o s e n d o u m a d o e n g a m e n t a l . T e n d o c o n s e g u i d o relativos avangos ao longo do t e m p o , j a e m 1995, o sufixo "ismo", significando doenga, d e u lugar ao sufixo "dade", indicando m o d o de ser.

A doutrina e u n a n i m e e m nao considerar c a s a m e n t o havido entre p e s s o a s do m e s m o s e x o , ja q u e para que este se faga, e necessaria a d i v e r s i d a d e de s e x o , aliada a f o r m a solene e ao consentimento. A s s i m , nao e c o n c e b i d a a uniao h o m o a f e t i v a c o m natureza juridica de c a s a m e n t o . Mais q u e isso, o p o s i c i o n a m e n t o majoritario e no sentido do nao r e c o n h e c i m e n t o dos vinculos homoafetivos estaveis, c o m b a s e no f u n d a m e n t o de q u e nao ha previsao legal q u e permita tal aceitagao. E o q u e se infere da posigao de V e n o s a (2004, p.55):

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A Constituicao, assim como o art. 1723 do Codigo Civil, tambem se refere expressamente a diversidade de sexos, a uniao do homem e da mulher. Como no casamento, a uniao do homem e da mulhertem, entre outras finalidades, a geracao de prole, sua educacao e assistencia. Desse modo, afasta-se de piano qualquer ideia que permita considerar a uniao de pessoas do mesmo sexo como uniao estavel nos termos da lei. O relacionamento homossexual, modernamente denominado homoafetivo, por mais estavel e duradouro que seja, nao recebera a protegao constitucional e, consequentemente, nao se amolda aos direitos de indole familiar criados pelo legislador ordinario.

Da m e s m a f o r m a se posiciona Maria Helena Diniz (2004, p.32), d e f e n d e n d o a n e c e s s i d a d e de u m a E m e n d a Constitucional e m caso de se admitir c a s a m e n t o ou uniao estavel entre casais h o m o s s e x u a i s , ja que, para ela, nao existe nessas unioes o intuitu familiae, n e m t a m p o u c o o requisito da diversidade de sexo.

E m p o s i c i o n a m e n t o contrario figura Luis Roberto Barroso (2009, p. 19), e m s e u artigo d e titulo "Diferentes, m a s iguais: O r e c o n h e c i m e n t o j u r i d i c o d a s relacoes h o m o a f e t i v a s no Brasil", o b s e r v a n d o que a defesa da familia de m o d e l o tradicional nao p r e s s u p o e a n e g a c a o de outras f o r m a s de o r g a n i z a c a o familiar.

D e a c o r d o c o m o m e s m o , nao ha incompatibilidade entre a uniao estavel entre p e s s o a s de m e s m o sexo e a uniao estavel entre p e s s o a s de sexos diferentes. M a i s q u e isso, u m a nao possui n e n h u m a relagao c o m a outra, nao existindo interferencia ou prejuizo para n e n h u m a das f o r m a s de relagao,a existencia d a outra.

Ressalta ainda que " o nao r e c o n h e c i m e n t o j u r i d i c o d a s relagoes h o m o a f e t i v a s nao beneficia, e m n e n h u m a medida, as unioes c o n v e n c i o n a i s e t a m p o u c o p r o m o v e qualquer valor institucionalmente protegido".

O Estado Democratico de Direito nao pode ignorar a existencia de r e l a c i o n a m e n t o s h o m o s s e x u a i s e deixar de atribuir-lhes efeitos j u r i d i c o s , pois c o n s a g r o u c o m o norte o respeito a dignidade da pessoa h u m a n a , a m p a r a d o nos principios da igualdade e proibigao da discriminagao, c o m o se p e r c e b e do artigo 5° d a Constituigao Federal:

Art. 5°: Todos sao iguais perante a lei, sem distingao de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pais a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade, a igualdade, a seguranga e a propriedade.

D e s s a f o r m a , resta claro q u e o m e s m o t r a t a m e n t o d e v e ser d i s p e n s a d o a t o d o e q u a l q u e r individuo, s e m que haja n e n h u m tipo de distingao, seja ela racial,

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social, religiosa ou sexual. I n d e p e n d e n t e de s u a s e s c o l h a s , t o d o s s a o seres h u m a n o s , e c o m o tais, possuidores dos m e s m o s direitos. N e s s e sentido, Flavio T a r t u c e (2006, p.215) discorre:

Ora, nao ha ramo do Direito Privado em que a dignidade da pessoa humana tenha mais ingerencia ou atuacao do que o Direito de Familia. De qualquer modo, por certo e dificil a denominagao do que seja o principio da dignidade da pessoa humana. Reconhecendo a submissao de outros preceitos constitucionais a dignidade humana, Ingo Wolfgang Sarlet conceitua o principio em questao como "o reduto intangivel de cada individuo e, neste sentido, a ultima fronteira contra quaisquer ingerencias externas". Tal nao significa, contudo, a impossibilidade de que se estabelecam restrigoes aos direitos e garantias fundamentais, mas que as restrigoes efetivadas nao ultrapassem o limite intangivel imposto pela dignidade da pessoa humana.

A l g u n s autores a f i r m a m que o tratamento conferido ate e n t a o as unioes entre p e s s o a s do m e s m o sexo se faz inconstitucional, ja que fere de pronto a Carta M a g n a , p r e c e i t u a n d o esta a proibigao de qualquer tipo d e atitude discriminatoria relacionada a opgao sexual do individuo. Dentre estes autores, esta Maria Berenice Dias ( 2 0 0 1 , p.19/20), d e f e n d e n d o a equiparagao a uniao estavel atraves da a n a l o g i a , a f i r m a n d o q u e :

O genero da pessoa eleita nao pode gerar tratamento desigualitario com relagao a quern escolhe, sob pena de se estar diferenciando alguem pelo sexo que possui: se igual ou diferente do sexo da pessoa escolhida.

D e s s a f o r m a , o fato de o art. 226, § 3°, da Constituigao Federal de 1988, nao incluir a possibilidade de uniao estavel aos h o m o s s e x u a i s , limita os direitos g a r a n t i d o s no art. 5° do m e s m o diploma legal, a m e a g a n d o o direito de individuo d e d e t e r m i n a r c o m o quer exercitar sua sexualidade.

E inaceitavel a restrigao a c e r c a da uniao homoafetiva, frente as d i v e r s a s alteragoes sofridas nas relagoes familiares, as quais fizeram c o m q u e o c a s a m e n t o nao f o s s e mais direcionado primordialmente a reprodugao, v a l o r a n d o m a i s que isso, o c o m p a n h e i r i s m o e a c a m a r a d a g e m , requisito existente t a m b e m nas unioes h o m o s s e x u a i s .

A uniao homoafetiva e u m fato q u e se impoe, nao p o d e n d o ser ignorado e/ou n e g a d o pelo Estado, q u e d e v e respeitar a opgao pessoal valorada na d i g n i d a d e d a p e s s o a h u m a n a . N i n g u e m , m e n o s ainda os aplicadores do direito, p o d e m , e m n o m e

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d e u m a postura preconceituosa ou discriminatoria, fechar os olhos a e s s a nova realidade social, pois d e n e g a r u m direito f u n d a m e n t a l e m a c u l a r a cidadania e a d i g n i d a d e d a pessoa h u m a n a .

2.2 E V O L U Q A O H I S T O R I C A

R e l a c i o n a m e n t o s homoafetivos s e m p r e estiveram presentes na historia da h u m a n i d a d e ; s e n d o e n c o n t r a d a d e s d e os povos selvagens ate as antigas civilizagdes, ha relatos de tal pratica entre r o m a n o s , egipcios, g r e g o s e assirios.

No entanto, foi na Grecia que a h o m o s s e x u a l i d a d e t o m o u maior feigao, pois, a l e m d e se relacionar c o m a religiao e a pratica militar, a ela e r a m a t r i b u i d a s caracteristicas relativas a intelectualidade, estetica corporal e etica c o m p o r t a m e n t a l .

Na Grecia antiga, era papel do preceptado "prestar servigos de mulher" ao preceptor, c o m o intuito de treina-lo para a guerra, o n d e nao haveriam m u l h e r e s . Nas O l i m p i a d a s os atletas c o m p e t i a m nus, exibindo sua beleza fisica, s e n d o v e d a d a a presenga de m u l h e r e s na arena, c o n s i d e r a d a s incapazes de apreciar o belo. Nas m a n i f e s t a g o e s teatrais, m e s m o os papeis femininos e r a m atribuidos a o s h o m e n s , s e n d o e s t e s travestidos ou f a z e n d o uso de m a s c a r a s .

O que se p e r c e b e desse periodo e a valoragao do h o m e m nao s o m e n t e c o m o ente m a i s forte, responsavel pela sustentagao familiar, conceito este e n r a i z a d o atraves d a s doutrinas cristas e sociais ao longo d o s t e m p o s . A importancia do h o m e m , aqui, vai mais a l e m . Este e visto c o m o ser superior tanto f i s i c o q u a n t o intelectualmente, ficando tao a c i m a das m u l h e r e s que os r e l a c i o n a m e n t o s v e r d a d e i r a m e n t e afetivos a c o n t e c i a m entre eles de f o r m a natural, r e n e g a n d o a m u l h e r a posigao de mera procriadora, garantindo assim a perpetuagao da e s p e c i e .

C o m a a s c e n s a o do cristianismo, a h o m o s s e x u a l i d a d e p a s s a a ser e n c a r a d a c o m o u m a a n o m a l i a psicologica, u m vicio baixo e impuro c o n d e n a d o pela Biblia, c o m o se p e r c e b e pela transcrigao dos trechos:

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Com homem nao te deitaras como se fosse mulher: e abominacao. (Levitico 18:22)

Pelo que Deus os abandonou as praticas infames. Porque ate as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrario a natureza. E, semelhantemente, tambem os varoes, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varao com varao, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro. (Romanos 1: 26-27)

C o m efeito, c a b e ressaltar que, n u m a s o c i e d a d e f o r t e m e n t e influenciada pela religiosidade, m o r a l i d a d e e c o s t u m e s , o conceito de entidade familiar traz e m seu nucleo a ideia de u m a familia patriarcal, nitidamente hierarquizada, c o m papeis bem definidos e constituida pelo c a s a m e n t o . Esta e a familia preceituada na Biblia, livro influenciador d a s o c i e d a d e e m s u a s diversas religioes, s e n d o estas, e m s u a g r a n d e m a i o r i a , c o n d e n a d o r a s d a s praticas nao costumeiras, de acordo c o m s e u s p a d r o e s .

O q u e se e s q u e c e de mencionar e que, no m e s m o livro q u e c o n d e n a a h o m o s s e x u a l i d a d e c o m o vicio, e n c o n t r a m - s e escritos q u e c o n d e n a m a q u e l e s que j u l g a m o p r o x i m o , c o m o p e r c e b e - s e d a leitura do Livro de J o a o 8:7: "...aquele dentre v o s q u e esta s e m p e c a d o , que Ihe atire uma pedra.".

S e n d o a s s i m , nao faz parte da algada d o s d e m a i s individuos j u l g a r e m as praticas afetivas e/ou sexuais uns dos outros. Mais q u e isso, Direito e Religiao nao p o d e m e n v e r e d a r por u m m e s m o c a m i n h o , ja que se tratam de teorias e x t r e m a m e n t e diferentes. Basta ver os a v a n c o s e conquistas sociais relativos a o divorcio, a i n d e p e n d e n c i a d a mulher, as unioes estaveis, constituindo e s t e s , e x e m p l o s d e praticas c o n d e n a d a s biblicamente, mas q u e se e n c o n t r a m r e g u l a d a s no o r d e n a m e n t o juridico, p r o v a n d o que este nao se d e v e guiar pelas " v e r d a d e s " e s t i p u l a d a s naquela.

M o s t r a n d o mais u m a vez que, e m b o r a f o r t e m e n t e influenciado, Direito e Religiao nao e s t a o intimamente ligados, discorre o autor C H I A R I N I (2004, p.25):

Assim sendo, o Direito nao esta, de forma alguma, ligado a Religiao, contrariando-a as vezes, e, portanto, ja que o Direito nao obedece aos mandamentos biblicos que ordenam a mulher a submeter-se ao seu marido, e que impedem o divorcio, porque os juristas se preocupam com o fato de ser a homossexualidade contra a vontade de Deus? Se o ordenamento juridico ja contrariou a Biblia em nome da igualdade entre os sexos, porque nao pode, mais uma vez, contraria-la, afirmando a igualdade entre hetero e homossexuais? L O P E S (2004, p.3), e m artigo publicado na revista eletronica A m b i t o Juridico, d e f e n d e q u e a h o m o s s e x u a l i d a d e existe d e s d e muito e q u e nao esta p r e s e n t e

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a p e n a s entre os seres h u m a n o s ; m a s entre as diversas e s p e c i e s a n i m a i s , s e n d o este u m a c o n t e c i m e n t o o b s e r v a d o d e s d e os t e m p o s mais remotos da historia d a h u m a n i d a d e . Para tanto, cita o autor C H I A R I N I (2004, p.13), p r o n u n c i a n d o - s e sobre o t e m a :

O certo e de que "desde que o mundo e mundo", a homossexualidade existe, e nao sera proibindo-se que se acabara com ela. Quern defende que a homossexualidade e algo errado, contra a natureza, deve ter em mente que durante seculos e seculos esta atitude foi, e ainda e, combatida pela igreja, mas ela continua resistindo e existindo. Nao sera varrendo a homossexualidade para debaixo do tapete que se acabara com esta pratica. Mesmo porque, se ate os animais tern relagoes homossexuais, como pode alguem dizer que esta pratica contra a natureza? Ou sera que foram os homens quern ensinaram os animais a ter relagoes homossexuais? Claro que nao, isto faz parte do instinto animal, e o ser humano, sendo igualmente animal, deve, igualmente, possuir instintos semelhantes aos da maioria dos animais.

P e r c e b e - s e d a i que a h o m o s s e x u a l i d a d e e algo ligado a t o d o s os a n i m a i s , incluindo-se os seres h u m a n o s , nao p o d e n d o a s s i m , ser e s c o n d i d a , j u l g a d a ou c o n d e n a d a c o m o algo antinatural ou que fira os preceitos biblicos.

A p e s a r de tais p o s i c i o n a m e n t o s , o que se observa da e v o l u g a o das s o c i e d a d e s , e sim u m direito f o r t e m e n t e influenciado por preceitos religiosos; s e n d o e s t e s criados c o m base e m ideais tragados c o m o f o r m a de controle social. A Igreja detinha o poder e utilizava-se disso para controlar os individuos, e s t a b e l e c e n d o n o r m a s c o m p o r t a m e n t a i s que d e v e r i a m ser seguidas a risca, e m b u s c a d e u m a vida "eterna".

Foi d e s s a m a n e i r a , q u e considerou valido c o m o f o r m a de r e l a c i o n a m e n t o entre individuos a p e n a s o c a s a m e n t o , c o n d e n a n d o as d e m a i s praticas. T a l p o s i c i o n a m e n t o , atraves d a influencia exercida por esta sobre o o r d e n a m e n t o j u r i d i c o , a c a b o u t o r n a n d o - s e lei.

D e s s a f o r m a , nao havia e s p a g o para o a p a r e c i m e n t o de outras e s p e c i e s de r e l a c i o n a m e n t o , que divergissem d a concepgao juridica tradicional; ou seja, a q u e l a e m q u e o c a s a m e n t o era heterossexual e c o m a finalidade de procriagao.

C o m a evolugao d o s t e m p o s e da sociedade, foi s u p e r a d a a figura d a s u p r e m a c i a absoluta da familia legitima, ja q u e , c o m o e sabido, o direito tern que a c o m p a n h a r a evolugao social. S e n d o a s s i m , o cenario t o r n o u - s e propicio a o

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s u r g i m e n t o de novas f o r m a s de familia, na m e d i d a e m q u e o m o d e l o institucional foi e n f r a q u e c e n d o .

A s s i m s e n d o , a familia deixa de possuir suas f u n c o e s "publicas" e adquire a p e n a s f u n c o e s "privadas". O conceito de familia torna-se mais a m p l o e permite-se u m a pluralidade de organizacoes familiares. Estas d e i x a m de ser c o m p r e e n d i d a s c o m o nucleo e c o n o m i c o e reprodutivo e p a s s a m a u m a c o m p r e e n s a o socio-afetiva, p a s s a n d o a ser algo voluntario, afetivo e de mutuo respeito, p e r d e n d o o carater de n e c e s s i d a d e .

E a partir d a i q u e o o r d e n a m e n t o juridico passa a considerar e aceitar outras f o r m a s de familia,quais s e j a m : as decorrentes de uniao estavel e as m o n o p a r e n t a i s , a l e m d a s ja constituidas pelo c a s a m e n t o .

N o e n t a n t o , a p e s a r de t o d a s as e v o l u c o e s d e m o n s t r a d a s , a q u e s t a o dos direitos h o m o s s e x u a i s no m u n d o ainda e p e r m e a d a de diversos p r e c o n c e i t o s sociais. E m se tratando de Brasil, as relagoes homoafetivas f o r a m proibidas entre os a n o s de 1533 e 1830; h a v e n d o significativa evolugao a p e n a s nos ultimos 30 anos. S o b r e a s e x u a l i d a d e no t e m p o , M A S C O T E apud B A S T O S (2009) afirma:

A sexualidade, embora universal, e experimentada diferencialmente, em fungao da epoca e da cultura em que se vive, da classe social e da etnia a que se pertence, da religiao, do pais em que se habita e ate mesmo do proprio ciclo da vida; tanto suas expressoes como as normas sociais que a regulam variam - em maior ou menor grau. Isto significa que nao se pode tratar essas questoes de forma abstrata, se se quer compreender as expressoes que assumem na vivencia de grupos ou individuos historicamente situados. Para tanto, e indispensavel enfoca-la dentro de um contexto social determinado, com as particularidades que o configuram.

D a i , p r o c e d e n d o - s e a u m e n q u a d r a m e n t o do assunto no contexto social atual, c o n c l u i - s e que a h o m o s s e x u a l i d a d e , e m b o r a v e n h a g a n h a n d o e s p a g o s , ainda se mostra u m t e m a p o l e m i c o e c o m p l e x o , eivado de preconceito pela m a i o r parte da p o p u l a g a o .

O q u e se ve sao individuos de u m m e s m o sexo, relacionando-se a f e t i v a m e n t e e, a l e m d a n e c e s s i d a d e de lutar para t e r e m garantidos s e u s direitos c o m o seres h u m a n o s , t e n d o d e se a m o l d a r a u m a s o c i e d a d e que nao os aceita a s s i m c o m o o s a o . Lutando contra u m preconceito q u e vai muito alem da verbalizagao de opinioes contrarias a e s s a uniao. T e n d o de d e f e n d e r - s e de u m a s s e d i o m o r a l , u m a violencia

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verbal e, m a i s q u e isso, t e n d o que enfrentar por diversas v e z e s , violencia fislca, t e n d o por resultado, inclusive a morte.

N o a m b i t o juridico, o q u e se via e r a m individuos tolhidos d e s e u s direitos e n q u a n t o c i d a d a o s ; direitos estes garantidos as d e m a i s e s p e c i e s de f o r m a g a o familiar, o que tornava tal fato mais dificil de ser aceito.

A t e entao, os casais h o m o s s e x u a i s nao e r a m c o n s i d e r a d o s c o m o e n t i d a d e familiar, e sim c o m o socios. A p e s a r disso, ao longo do t e m p o c o n q u i s t a r a m alguns direitos j u r i s p r u d e n c i a l m e n t e , tais c o m o : direito a c o m u n h a o parcial de b e n s para efeitos de h e r a n c a ; inclusao c o m o d e p e n d e n t e e m piano de s a u d e ; p e n s a o e m c a s o de morte, se o parceiro for a s s e g u r a d o do INSS; g u a r d a de filhos e m caso de u m d o s parceiros ser pai ou m a e biologico.

N o e n t a n t o , o fato de nao ser tratada c o m o entidade familiar, trazia as r e l a c o e s homoafetivas muitos onus. M e s m o v i v e n d o j u n t o s ha muito t e m p o , os parceiros nao t i n h a m direito de autorizar que o outro fizesse cirurgia de risco; s o m a r r e n d a s para aprovar f i n a n c i a m e n t o s ; alugar imovel; inscrever parceiro c o m o d e p e n d e n t e de servidor publico; p e n s a o alimenticia e m caso de s e p a r a g a o ; licenga m a t e r n i d a d e para n a s c i m e n t o de filho de parceira; licenga-luto; usufruto d o s bens do parceiro; visita intima na prisao; declaragao conjunta de imposto de renda e d e d u g a o no IR do imposto pago e m n o m e do parceiro.

F i n a l m e n t e e s s a realidade foi t r a n s f o r m a d a , a partir de u m a A g a o de D e s c u m p r i m e n t o de Preceito F u n d a m e n t a l ( A D P F ) , proposta ao S T F pelo g o v e r n a d o r Sergio Cabral e aceita e m 5 de maio de 2 0 1 1 , constituindo a A D P F n°

1 3 2 / R J . E m b o r a so agora t e n h a sido aceita, a primeira agao d e s s e tipo, proposta ao S T F e m 2 0 0 6 , constituia u m a A g a o Direta de Inconstitucionalidade ( A D i n ) , e foi p r o p o s t a pela A s s o c i a g a o Parada do Orgulho Gay, sob o n° 4 2 7 7 , t e n d o sido extinta pelo s e u relator Celso de Mello.

A partir de agora, serao e x p e r i m e n t a d a s m u d a n g a s significativas no a m b i t o d a s relagoes h o m o a f e t i v a s ; no entanto, muitas delas j a e r a m j u r i s p r u d e n c i a l m e n t e aceitas e m Tribunals no Rio G r a n d e do sul e Parana, pioneiros no Direito de Familia. C o m o citado a n t e r i o r m e n t e , sao direitos ja conquistados, entre outros, o direito a c o m u n h a o parcial d e bens, para efeitos de heranga; a inclusao do parceiro e m piano assistencial de s a u d e , entre outros.

T a i s direitos serao a m p l i a d o s no que se refere a a d o g a o por pares h o m o a f e t i v o s , a partilha de bens e m caso de separagao, b e m c o m o direito a p e n s a o ,

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entre outros, u m a vez que a A D P F veio para equiparar a uniao homoafetiva a uniao e s t a v e l , f a z e n d o c o m que valha para a m b a s os m e s m o s direitos.

Partindo d e s s e e n t e n d i m e n t o , f u n d a m e n t a l se faz r e c o n h e c e r a c o r a g e m e lucidez d a 8a C a m a r a Civel do egregio Tribunal de Justica do Estado do Rio G r a n d e

d o Sul, ao r e c o n h e c e r a uniao estavel homoafetiva a partir do e n t e n d i m e n t o do art. 5° d a Carta M a g n a .

"EMENTA: Homossexuais. Uniao Estavel. Possibilidade juridica do pedido. E possivel o processamento e o reconhecimento de uniao estavel entre homossexuais, ante principios fundamentais insculpidos na Constituicao Federal que vedam qualquer discriminacao, inclusive quanto ao sexo, sendo descabida discriminacao quanto a uniao homossexual (grifos nossos) E e justamente agora, quando uma onda

renovadora se estende pelo mundo, com reflexos acentuados em nosso pais, destruindo preceitos arcaicos, modificando conceitos e impondo a serenidade cientifica da modernidade no trato das relacoes humanas, que as posicoes devem ser marcadas e amadurecidas, para que os avancos nao sofram retrocesso e para que as individualidades e coletividades,

possam andar seguras na tao almejada busca da felicidade, direito fundamental de todos. Sentenea desconstituida para que seja instruido o

feito. Apelacao provida.. (9 FL S) (Apelacao Civel N° 598362655, Oitava Camara Civel, Tribunal de Justica do RS. Relator: Des Jose Ataides Siqueira Trindade., Julgado em 01/03/00)"

Disso p e r c e b e - s e q u e , e m detrimento de todo o preconceito e a d v e r s i d a d e s e n f r e n t a d o s , a h o m o a f e t i v i d a d e v e m , paulatinamente, c o n q u i s t a n d o e s p a c o s , o que d e certa f o r m a retrata a disposicao judicial - ou de parte dele - e m a d e q u a r a legislacao a realidade de fato.

3. H O M O A F E T I V I D A D E E O P R I N C J P I O DA D I G N I D A D E D A P E S S O A H U M A N A

A n t e s de tratar e s p e c i f i c a m e n t e do t e m a e m q u e s t a o , f a c a m o s u m a breve e x p l a n a c a o acerca do estudo do Direito; estudo este q u e c o m p r e e n d e a l e m d a c o m p r e e n s a o d a s n o r m a s e m si, a n e c e s s i d a d e de aplicabilidade de recursos outros na c o n s e c u c a o de s u a s finalidades, a saber, agir v e r d a d e i r a m e n t e c o m justica, e q u i d a d e e retidao.

N o decorrer do aprendizado juridico, observa-se e e n s i n a - s e a valorizar a l e m d a s n o r m a s e m si, o uso d a analogia, bem c o m o a observancia a o s c o s t u m e s e o respeito e a p l i c a c a o d o s Principios F u n d a m e n t a i s do Direito. Tais m e t o d o s s a o

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aplicaveis q u a n d o nao ha norma especifica, ou q u a n d o ha lacuna ou o b s c u r i d a d e na lei.

D e s s a f o r m a , tais usos d e v e m ser o b s e r v a d o s e m quaisquer c i r c u n s t a n c i a s , por se tratar de constituintes basilares do b o m direito. Esta n e c e s s i d a d e e c l a r a m e n t e perceptivel partindo da analise do art. 126, C C / 0 2 , q u e traz e m s u a s linhas a o b r i g a t o r i e d a d e da aplicacao destes recursos, e m caso de f a l h a s na letra d a lei:

Art. 126, CC: O juiz nao se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade na lei. No julgamento da lide caber-Ihe-a aplicar as normas legais; nao as havendo, recorrera a analogia, aos costumes e aos principios gerais do direito.

S a b e - s e q u e a analogia consiste e m utilizar n o r m a q u e se e q u i p a r e ao caso e m q u e s t a o , na falta de norma especifica para resolucao d a lide, d e s d e que o t r a t a m e n t o analogico nao fira os preceitos constitucionais. A o b s e r v a n c i a aos c o s t u m e s consiste no respeito aos m e s m o s , praticados e m d e t e r m i n a d a e p o c a e lugar, no intuito de q u e estes s e j a m preservados e respeitados por t o d o s os individuos que constituem aquela sociedade, d a i porque t a m b e m c o n s t i t u e m b a s e do direito.

Ja os principios, no direito, constituem o ponto m a i s importante do s i s t e m a n o r m a t i v o . D e s s a f o r m a , d e v e m ser estritamente o b e d e c i d o s , sob pena de t o d o o o r d e n a m e n t o j u r i d i c o se corromper. T r a t a m - s e de instrumentos a m p l a m e n t e n e c e s s a r i o s a interpretacao d a s normas e d o s direitos c o m o u m t o d o . E o que se o b s e r v a d a s palavras de N U N E S (2010, p.33):

Nenhuma interpretagao sera bem feita se for desprezado um principio. E que ele, como estrela maxima do universo etico-juridico, vai sempre influir no conteudo e alcance de todas as normas. E essa influencia tern uma eficacia efetiva, real, concreta. (...) O principio, em qualquer caso concreto de aplicacao das normas juridicas, da mais simples a mais complexa, desce das mais altas esferas do sistema etico-juridico em que se encontra para imediata e concretamente ser implementado no caso real que se esta a analisar. Ha ainda q u e se observar q u e , e m b o r a principios e n o r m a s p o s s u a m a m e s m a estrutura logica, a q u e l e s p o s s u e m maior forga q u e estas. S e n d o a s s i m , c o n s t i t u e m - s e n o r m a s especiais, o c u p a n d o posigao de d e s t a q u e no universo

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j u r i d i c o , orientando e c o n d i c i o n a n d o a aplicacao das d e m a i s n o r m a s , i m p o n d o - s e d e f o r m a absoluta. E nessa otica que B A S T O S (2007, p. 143-144), preleciona:

Os principios fundamentais sao aqueles que guardam os valores fundamentais de ordem juridica. Isto so e possivel na medida em que estes nao objetivam regular situacoes especificas, mas sim desejam lancar a sua forga sobre todo o mundo juridico. Alcangam os principios esta meta a proporgao que perdem o seu carater de precisao do conteiido; isto e, conforme vao perdendo densidade semantica, eles ascendem a uma posigao que Ihes permite sobressair, pairando sobre uma area muito mais ampla do que uma norma estabelecedora de preceitos. Portanto, o que o principio perde em carga normativa, ganha com forga valorativa a espraiar-se por cima de um sem-numero de outras normas.

C o m o d e m o n s t r a d o , os principios f u n d a m e n t a i s p o s s u e m g r a n d e importancia na interpretagao d a s normas juridicas e do direito c o m o um t o d o , d e v e n d o s e m p r e ser c o n s i d e r a d o s p r e c i p u a m e n t e ; s e n d o eles: o principio da s o b e r a n i a , d a c i d a d a n i a , da dignidade da pessoa h u m a n a , d o s valores sociais do trabalho e d a livre iniciativa e o do pluralismo politico.

E m b o r a alguns autores e n t e n d a m q u e a isonomia e a principal garantia constitucional, a maioria se posiciona de f o r m a a d e f e n d e r o principio d a d i g n i d a d e da p e s s o a h u m a n a c o m o principal direito constitucional garantido, f u n c i o n a n d o c o m o principio maior para a interpretagao de t o d o s os direitos e garantias conferidos as p e s s o a s na Constituigao Federal.

3.1 C O N S I D E R A Q O E S HISTORICAS S O B R E A DIGNIDADE DA P E S S O A HUMANA

A n t e s de tratar sobre a d i g n i d a d e da pessoa h u m a n a c o m o u m t o d o , faz-se n e c e s s a r i o tragar u m a breve e x p l a n a g a o sobre sua o r i g e m e historico. D i g n i d a d e e u m conceito e l a b o r a d o no decorrer d a historia, que c h e g a ao inicio do s e c u l o XXI c o m o u m valor s u p r e m o , construido pela razao juridica. A ideia de q u e o ser h u m a n o j a n a s c e p o s s u i n d o valores, v e m do p e n s a m e n t o classico, t e n d o s u a s raizes no

ideario cristao.

Data d a Grecia Antiga o inicio d a ideia de q u e o h o m e m possui u m valor intrinseco a si, que carrega c o n s i g o d e s d e o m o m e n t o e m que e posto no m u n d o .

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Nao e x i s t e m registros normativos referentes a d i g n i d a d e da pessoa h u m a n a d a t a d o s d e s t a e p o c a ; no entanto, asa reflexoes filosoficas sobre o h o m e m , realizadas neste e s p a c o t e m p o r a l f o r a m de extrema importancia para o que hoje se c o m p r e e n d e s o b r e a p r e s e r v a c a o do individuo e da s o c i e d a d e .

De a c o r d o c o m o p e n s a m e n t o filosofico politico d a A n t i g u i d a d e C l a s s i c s , a d i g n i d a d e da pessoa h u m a n a estava relacionada a sua posigao social e grau d e r e c o n h e c i m e n t o pelos d e m a i s m e m b r o s da s o c i e d a d e , permitindo-se falar e m p e s s o a s m a i s ou m e n o s d i g n a s .

Foi a religiao crista que fez surgir, na Idade Media, o e n t e n d i m e n t o de que o ser h u m a n o e d o t a d o de u m valor proprio, intrinseco a sua condigao de h o m e m , nao p o d e n d o este ser tratado c o m o simples objeto ou instrumento. T a l p e n s a m e n t o surgiu a partir d a analise de textos biblicos - tanto no Novo q u a n t o no V e l h o T e s t a m e n t o - que a f i r m a m que Deus criou o h o m e m a Sua i m a g e m e s e m e l h a n c a .

No p e n s a m e n t o estoico, a dignidade s e n d o inerente ao ser h u m a n o , era tida c o m o caracteristica q u e o distinguia das d e m a i s criaturas, a f i r m a n d o q u e t o d o individuo era portador d a m e s m a dignidade. Esta c o n c e p g a o de d i g n i d a d e , b a s e a d a na doutrina crista e no estoicismo, p e r m a n e c e durante o p e r i o d o m e d i e v o .

Nos seculos XVII e XVIII, e p o c a do jusnaturalismo, e s s a c o n c e p g a o , assim c o m o a ideia do direito natural e m si, passa por um p r o c e s s o d e racionalizagao, m a n t e n d o , no entanto, a nogao f u n d a m e n t a l de igualdade entre os h o m e n s e m d i g n i d a d e e liberdade.

A partir de entao a dignidade passa a ser c o n s i d e r a d a c o m o a liberdade do ser h u m a n o de optar de acordo c o m sua razao e agir de a c o r d o c o m seu e n t e n d i m e n t o e opgao. Em outras palavras, a concepgao de d i g n i d a d e parte d a a u t o n o m i a etica do ser h u m a n o , o q u e traduz o p e n s a m e n t o kantiano. A c o n c e p g a o kantiana de d i g n i d a d e prevalece ate os dias de hoje, i m p r e g n a d a no p e n s a m e n t o filosofico-constitucional.

No e n t a n t o , e mister observar que por u m longo p e r i o d o esta c o n c e p g a o de d i g n i d a d e h u m a n a , e m b o r a existente, p e r m a n e c e u no c a m p o d a s ideias, s e n d o discutida e p r o p a g a d a , m a s nao praticada de f o r m a geral. S o m e n t e a p o s u m c o n t e x t o de diversas guerras e atrocidades e m varias partes do m u n d o , d i g n i d a d e d a pessoa h u m a n a v e m g a n h a n d o forga e t o r n a n d o - s e principio f u n d a m e n t a l e m diversas constituigoes. E o que se observa d a s Constituigoes Italians, q u e previu a d i g n i d a d e d a pessoa h u m a n a e m 27/12/1947, no seu art. 3°; A l e m a ( 2 3 / 0 5 / 1 9 4 9

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-art. 1°, n°1); P o r t u g u e s a (25/04/1976 e revisao e m 1989 - -art. 1°) e E s p a n h o l a (-art. 10, n°1).

Influenciado por este m o v i m e n t o internacional, o constituinte brasileiro c o n s a g r o u a d i g n i d a d e da pessoa h u m a n a na Constituigao Federal de 1988, no T i t u l o I - Dos principios f u n d a m e n t a i s , e m seu art. 1°, inciso III; c o m o f o r m a de reagao ao autoritarismo militar, as recorrentes violacoes aos direitos e garantias f u n d a m e n t a i s e ao positivismo. Neste contexto nacional a d i g n i d a d e da p e s s o a h u m a n a foi constitucionalmente acolhida c o m o f u n d a m e n t o da Republica Federativa do Brasil e do estado d e m o c r a t i c o de Direito; c a b e n d o ao Estado a tarefa de preserva-la, p r o m o v e n d o c o n d i c o e s que t o r n e m possivel a sua pratica.

C a b e ainda ressaltar, a titulo de informacao, que, c o m o fim do socialismo, a d i g n i d a d e da p e s s o a h u m a n a t a m b e m foi positivada e m diversas constituigoes do leste e u r o p e u , tais c o m o na C r o a t i a (22/12/1990 art. 25); Bulgaria ( 1 2 / 0 7 / 1 9 9 1 -p r e a m b u l o ) ; Eslovaquia ( 1 7 0 9 / 1 9 9 2 - art. 12) e Russia (12/12/1993 - art. 2 1 ) .

3.2 D I G N I D A D E DA P E S S O A H U M A N A E H O M O A F E T I V I D A D E NO O R D E N A M E N T O J U R J D I C O B R A S I L E I R O

Esta c l a r a m e n t e explicitado no art. 1°, inciso III, da Constituigao F e d e r a l , u m principio c o n s i d e r a d o basilar para o exercicio do direito: o principio d a D i g n i d a d e d a P e s s o a H u m a n a ; t r a z e n d o intrinseco o respeito ao ser h u m a n o , i n d e p e n d e n t e de s u a posigao social ou dos atributos que a ele p o s s a m ser imputados pela s o c i e d a d e , p o s s u i n d o a s s i m a pessoa h u m a n a , u m valor e m si m e s m o q u e nao p o d e ser sacrificado e m f a c e de n e n h u m interesse coletivo. S o b r e isso, d i s p o e M O R A E S ( 2 0 0 2 , p. 129):

O principio fundamental consagrado pela Constituigao Federal da dignidade da pessoa humana apresenta-se em dupla concepgao. Primeiramente, preve um direito individual protetivo, seja em relagao ao proprio Estado, seja em relagao aos demais individuos. Em segundo lugar, estabelece verdadeiro dever de tratamento igualitario dos proprios semelhantes. Este dever configura-se pela exigencia de o individuo respeitar a dignidade de seu semelhante tal qual a Constituigao Federal exige que Ihe respeitem a propria. A concepgao dessa nogao de dever fundamental resume-se a tres principios do Direito Romano: honestere vivere (viver honestamente), alterum non

laedere (nao prejudicar ninguem) e suum cuique tribuere (de a cada

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E s s e c o m p r o m i s s o do Estado, p r o c l a m a d o no art. 1°, inciso III, d a Carta M a g n a , esta a s s e n t a d o nos principios de igualdade e de liberdade, c o n c e d e n d o a s s i m protecao a todos, v e d a n d o todo e qualquer tipo de discriminagao e preconceito, sejam estes por motivos de origem, raga, idade ou sexo. D e s s a f o r m a s a o a s s e g u r a d o s o exercicio dos direitos sociais e individuals, a liberdade, a s e g u r a n g a , o bem-estar, o d e s e n v o l v i m e n t o , a igualdade e a justiga, c o m o valores s u p r e m o s de u m a s o c i e d a d e .

Estes m e s m o s direitos sao garantidos no art. 5° da Constituigao Federal ao trazer e l e n c a d o s os direitos e garantias f u n d a m e n t a i s , p r o c l a m a n d o q u e t o d o s sao iguais perante a lei, s e m distingao de qualquer natureza; e n f a t i z a n d o ainda a i g u a l d a d e entre h o m e m e mulher e v e d a n d o que a l g u e m seja o b r i g a d o a fazer ou deixar de fazer a l g u m a coisa, s e n a o e m virtude da lei.

C o m o garantido constitucionalmente, a s e x u a l i d a d e e u m direito h u m a n o f u n d a m e n t a l que integra o ser h u m a n o , a c o m p a n h a n d o - o d e s d e s e u n a s c i m e n t o , v e z q u e d e c o r r e de sua propria natureza; s e n d o assim, trata-se de u m direito natural, inalienavel e imprescritivel.

O respeito ao exercicio da sexualidade constitui-se ainda no proprio e x e r c i c i o d a d i g n i d a d e h u m a n a , c o m p r e e n d e n d o ai tanto a liberdade sexual c o m o a livre orientagao s e x u a l . V a l i d a n d o tal raciocinio t e m - s e C A R L U C C I ( 2 0 0 1 , p.24), q u e preleciona:

El derecho a la livre determination de cada uno es considerado hoy un derecho humano. La circunstancia de que no este mencionado en el catalogo que contienen los tratados nacionales e internacionales sobre derechos humanos no signified que no exista. Asi como existe un derecho a la livre determination de los pueblos, existe un derecho a la livre determination del individuo.

S e n d o a s s i m , negar a existencia de unioes h o m o s s e x u a i s e afastar o principio previsto no inciso IV do art. 3° d a Constituigao Federal, c o m o b e m preceitua G I O R G I S (2002, p. 224):

A relagao entre a protegao da dignidade da pessoa da humana e a orientagao homossexual e direta, pois o respeito aos tragos constitutivos de cada um, sem depender da orientagao sexual, e previsto no art. 1°, inciso 3°, da Constituigao, e o Estado Democratico de Direito promete aos individuos, muito mais que a abstengao de invasoes ilegitimas de suas esferas pessoais, a promogao positiva de suas liberdades.

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S e n d o a s s i m , a orientagao sexual do individuo, por estar inserida na esfera d a privacidade, nao admite restrigoes. Qualquer interferencia consiste e m afronta a liberdade f u n d a m e n t a l , direito de todo ser h u m a n o , no que diz respeito a sua c o n d i g a o de vida. Dessa f o r m a , ate entao, c o m o t o d o s os d e m a i s s e g m e n t o s alvos de p r e c o n c e i t o s e discriminagao social, as relagoes h o m o s s e x u a i s s u j e i t a r a m - s e a deficiencia no que dizia respeito a normatividade, s e n d o c o l o c a d o s a m a r g e m d a s o c i e d a d e e sofrendo c o m o d e s c a s o do Direito.

O q u e se percebia era que se tratava de excluir a h o m o s s e x u a l i d a d e d o m u n d o do Direito. No entanto, fez-se imperativa sua inclusao no rol d o s direitos h u m a n o s f u n d a m e n t a i s , por se tratar de direito subjetivo, inserido e m t o d a s as s u a s c a t e g o r i a s , s e n d o ao m e s m o t e m p o direito individual, social e difuso.

A l e m de a m p a r a d o pelo principio f u n d a m e n t a l da isonomia - t e n d o c o m o corolario a proibigao d a s discriminagoes injustas - a h o m o a f e t i v i d a d e e n c o n t r a e s c o p o t a m b e m na liberdade de e x p r e s s a o . Mais que isso, p o d e ser incluida t a m b e m entre os direitos de personalidade, no que c o n c e r n e a identidade pessoal e

integridade fisica e psiquica.

C o m base nisso, d e p r e e n d e - s e que qualquer discriminagao b a s e a d a na orientagao sexual configura nitido desrespeito a d i g n i d a d e h u m a n a , infringindo a s s i m o principio maior c o n s a g r a d o pela Constituigao Federal. E o que preceitua D I A S ( 2 0 0 0 , p. 17):

Infundados preconceitos nao podem legitimar restrigoes a direitos, o que fortalece estigmas sociais que acabaram por causar sentimentos de rejeigao e sofrimentos. Ventilar-se a possibilidade de desrespeito ou prejuizo a um ser humano, em fungao da orientagao sexual, significa dispensar tratamento indigno a um ser humano. Nao se pode, simplesmente, ignorar a condigao pessoal do individuo (na qual, sem sombra de duvida, inclui-se a orientagao sexual), como se tal aspecto nao tivesse relagao com a dignidade humana.

I m p o n d o a Carta M a g n a respeito a dignidade h u m a n a , t o r n a r a m - s e d i g n o s d e protegao os r e l a c i o n a m e n t o s afetivos, independente d a identificagao do sexo do par. C o m o m e n c i o n a d o anteriormente, o conceito tradicional de familia foi s u b s t i t u i d o por outro m a i s amplo, b a s e a d o na afetividade e m detrimento d a q u e l e c o m base u n i c a m e n t e nos interesses e c o n o m i c o s e reprodutivos. A partir d e e n t a o f o r a m aceitos o m o d e l o de familia decorrente da uniao estavel e o m o d e l o m o n o p a r e n t a l .

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N e s s a nova c o n c e p g a o , o afeto e e x t r e m a m e n t e necessario a realizagao d a d i g n i d a d e h u m a n a , pois e ele que proporciona ao individuo a e s t r u t u r a c a o d a sua vida, s e n d o obtido, primordialmente, no seio familiar. Foi nesse sentido q u e a Constituigao Federal privilegiou a afetividade c o m o valor juridico, d a n d o s u p o r t e as novas f o r m a s de relagoes familiares.

S e n d o a s s i m , e n q u a d r a r as unioes homoafetivas no a m b i t o da familia e muito m a i s q u e u m a q u e s t a o constitucional; trata-se de uma postura m o r a l e etica, t o r n a n d o o s individuos iguais, assim c o m o v e r d a d e i r a m e n t e o sao. N e s s e sentido, o Tribunal d e Justiga g a u c h o foi pioneiro no r e c o n h e c i m e n t o d a s unioes estaveis h o m o a f e t i v a s , c o m o a p r o p r i a d a m e n t e disposto por P E R E I R A (2007, p. 165):

A jurisprudencia do Tribunal de Justiga do Rio Grande do Sul parecia trilhar por caminho coerente: reconheceu a competencia das varas de familia para julgar questoes referentes a unioes de pessoas do mesmo sexo (o que ja pressupunha o reconhecimento da natureza familiar dessas unioes) e tambem reconheceu as unioes homossexuais os mesmos efeitos patrimoniais inerentes as demais relagoes familiares de maneira geral. As decisoes do Tribunal gaucho reconheceram a possibilidade de se estender indistintamente a homens a mulheres, independentemente de sua orientagao sexual, o direito de constituir familia, garantindo nas relagoes familiares entre pessoas do mesmo sexo eficacia (indireta) aos direitos fundamentais a igualdade e a liberdade, a partir da vinculagao dos julgadores a esses direitos fundamentais na interpretagao e aplicagao do direito privado.

D e s s a f o r m a , o que se faz necessario para o r e c o n h e c i m e n t o de u m a uniao e s t a v e l , seja entre p e s s o a s de sexo oposto ou entre p e s s o a s do m e s m o sexo e a n e c e s s i d a d e de d e m o n s t r a g a o da ocorrencia de d e t e r m i n a d o s requisitos, e s t e s sim n o t a d a m e n t e importantes na construgao de u m a base familiar solida.

C o n s t i t u e m requisitos necessarios ao r e c o n h e c i m e n t o d a uniao estavel h o m o a f e t i v a : a existencia de u m a relagao e m q u e s e u s m e m b r o s c o n v i v a m u m c o m o outro, e s t a b e l e c e n d o uma c o m u n h a o estreita de vida entre si, ainda q u e nao c o a b i t e m ; q u e tal relagao seja c o n t i n u a e d u r a d o u r a de tal f o r m a q u e d e m o n s t r e estabilidade e interesse na constituigao familiar; que seja publica de c o n h e c i m e n t o notorio e i n e q u i v o c o por parte d o a s p e s s o a s que integram o circulo de c o n v i v e n c i a d o casal; e, principalmente, que haja o objetivo de constituir f a m i l i a , a partir d a uniao e s t a b e l e c i d a , s e n d o isso revelado, de acordo c o m O L I V E I R A (2002, p. 156):

Pelo comportamento social a moda de casados e uma gama de elementos variaveis, como a frequencia a lugares publicos, a

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participagao em reunioes, festividades e compromissos familiares, a situagao de dependencia de um dos companheiros, as viagens em conjunto, a colaboracao nas empreitadas de interesse comum, a abertura de contas bancarias conjuntas, a existencia de filhos em comum, o tratamento dispensado por parentes, conhecidos e amigos, a aquisicao de bens em condominio etc.

T a m b e m a j u r i s p r u d e n c e , ha algum t e m p o v e m decidindo neste sentido, m o s t r a n d o q u e , finalmente, ampliou sua atuacao tratando de f o r m a idonea e j u s t a o q u e Ihe e a p r e s e n t a d o no tocante a materia e m questao:

Rio Grande do Sul - APELAQAO. UNIAO HOMOSSEXUAL.

RECONHECIMENTO DE UNIAO ESTAVEL. APELO DA SUCESSAO. A uniao homossexual merece protegao juridica, porquanto traz em sua essentia o afeto entre dois seres humanos com o intuito relational. Seja como parceria civil (como reconhecida majoritariamente pela Setima Camara Civel) seja como uniao estavel, uma vez presentes os pressupostos constitutivos, de rigor o reconhecimento de efeitos patrimoniais nas unioes homossexuais, em face dos principios constitucionais vigentes, centrados na valorizagao do ser humano. Caso em que se reconhece as repercussoes juridicas, verificadas na uniao homossexual, em face do principio da isonomia, sao as mesmas que decorrem da uniao heterossexual. (TJRS, 8.a C.Civ. AC 70035804772, rel. Des. Rui

Portanova, j . 10.06.2010).

Portanto e d e s c a b i d o estabelecer a diferenca de sexos c o m o p r e s s u p o s t o para o r e c o n h e c i m e n t o d a uniao estavel; m e s m o p o r q u e a familia nao e m a i s c a r a c t e r i z a d a pela ocorrencia do c a s a m e n t o . T a m b e m a existencia de prole j a nao e m a i s e s s e n t i a l para q u e a convivencia mereca r e c o n h e c i m e n t o e protegao constitucional.

O u seja, c o m o a existencia de filhos ou a c a p a c i d a d e procriativa j a nao s a o e s s e n c i a i s para q u e a convivencia de d u a s p e s s o a s merega protegao legal, nao ha p o r q u e deixar de abrigar, sob o conceito de familia, as relagoes h o m o a f e t i v a s , u m a v e z q u e e s t a s e s t a o sim f u n d a m e n t a d a s naquilo que foi c o n s a g r a d o c o m o principio f u n d a m e n t a l as relagoes familiares: o afeto. E o que se p e r c e b e d a s d e c i s o e s j u r i s p r u d e n c i a i s :

APELAQAO CIVEL. UNlAO HOMOAFETIVA. RECONHECIMENTO. PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IGUALDADE. E de ser reconhecida judicialmente a uniao homoafetiva mantida entre dois homens de forma publica e ininterrupta pelo periodo de nove anos. A homossexualidade e um fato social que se perpetuou atraves dos seculos, nao podendo o judiciario se olvidar de prestar a tutela jurisdicional a unioes que, enlagadas pelo afeto, assumem feigao de familia. A uniao pelo amor e que caracteriza a entidade familiar e nao apenas a diversidade de generos. E, antes disso, e o afeto a mais pura exteriorizagao do ser e do viver, de forma que a marginalizagao das relagoes mantidas entre

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pessoas do mesmo sexo constitui forma de privagao do direito a vida, bem como viola os principios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. AUSENCIA DE REGRAMENTO ESPECIFICO. UTILIZAQAO DE ANALOGIA E DOS PRINCIPIOS GERAIS DE DIREITO. A ausencia de lei especifica sobre o tema nao implica ausencia de direito, pois existem mecanismos para suprir as lacunas legais, aplicando-se aos casos concretos a analogia, os costumes e os principios gerais de direito, em consonancia com os preceitos constitucionais (art. 4° da LICC). Negado provimento ao apelo. (TJ, Estado do Rio Grande do Sul, AC 70009550070, Des. Luiz Felipe Brasil Santos, Desa. Maria Berenice Dias, 2004).

APELAQAO CIVEL. UNIAO HOMOAFETIVA. RECONHECIMENTO. PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA IGUALDADE. E de ser reconhecida judicialmente a uniao homoafetiva mantida entre duas mulheres de forma publica e ininterrupta pelo periodo de 16 anos. A homossexualidade e um fato social que se perpetua atraves dos seculos, nao mais podendo o Judiciario se olvidar de emprestar a tutela jurisdicional a unioes que, enlacadas pelo afeto, assumem feigao de familia. A uniao pelo amor e que caracteriza a entidade familiar e nao apenas a diversidade de sexos. E o afeto a mais pura exteriorizagao do ser e do viver, de forma que a marginalizagao das relagoes homoafetivas constitui afronta aos direitos humanos por ser forma de privagao do direito a vida, violando os principios da dignidade da pessoa humana e da igualdade. Negado provimento ao apelo. (TJ, Estado do Rio Grande do Sul, AC 70012836755, Des. Luiz Felipe Brasil Santos (revisor), Des. Ricardo Raupp Ruschel, Desa. Maria Berenice Dias, 2005).

M e s m o que nao haja disposigao legal especifica a c e r c a do a s s u n t o , a posigao q u e i m p e r a , na letra da lei, e a de que d e v e o juiz, e m f a c e do silencio normativo e d a o m i s s a o do legislador, cumprir a lei a t e n d e n d o as d e t e r m i n a g o e s c o n s t a n t e s no art. 4 ° d a Lei de Introdugao ao C o d i g o Civil, e no art. 126, do C o d i g o de P r o c e s s o civil; v a l e n d o - s e , na lacuna da lei, d a analogia, c o s t u m e s e principios gerais d o direito.

A t e p o r q u e nada diferencia tais unioes de m o d o a impedir que s e j a m definidas c o m o f a m i l i a . S e n d o a s s i m , e n q u a n t o nao existir r e g r a m e n t o legal e s p e c i f i c o , e n e c e s s a r i o , pelo m e n o s , a aplicagao analogica das regras juridicas que r e g u l a m as relagoes b a s e a d a s no afeto.

S e n d o as relagoes sociais tao d i n a m i c a s , nao c a b e continuar p e n s a n d o a s e x u a l i d a d e p e r m e a d a de preconceitos, de conceitos fixados no c o n s e r v a d o r i s m o do p a s s a d o e repletos d e ideologias machistas e discriminatorias tao d i s c r e p a n t e s c o m a s o c i e d a d e e m q u e v i v e m o s . E c o m base nesse p e n s a m e n t o q u e D I A S (2009, p.8) afirma:

Referências

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