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A arte de confortar //61. Reflexões sobre Pastoral da Saúde nos hospitais. Augusto Gonçalves Vila-Chã S.J.

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Academic year: 2021

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Para que o nosso mundo seja mais feliz, bom, agradável e satisfatório deve estar mais equitativamente distribuído. É preciso que as pessoas ca-renciadas ou desconsideradas sejam mais beneficiadas, as-sistidas e promovidas. Há muita dor, muito sofri-mento, muita angústia, muita necessidade, muito esqueci-mento ou até desprezo. Não temos o direito de abusar

daqueles que sofrem. À sociedade humana urge apresentar valores, potenciar valores, autenticar valores, que despertem a neces-sidade de possui-los, vivê-los e propagá-los, porque abunda grandemente a falta deles. Infelizmente, no nosso tempo, exibem-se de-masiados antivalores: egoísmo, hedonismo, ambição, ostentação, luxo, prazeres e vícios. Consequentemente despertam-se invejas, desejos de possuir, perigos.

Há que apresentar e propor autênticos modelos humanos em favor da vida. O vo-luntariado humano e social sintetiza esta determinação de fazer, até o que parece hu-manamente impossível, para preencher as

esperanças dos mais débeis, para dar sentido a esses anseios.

É necessário que sejamos cada vez mais con-tagiados pela luta a favor da vida. Pela nossa fé, sabemos que a vida humana tem que ser um projecto que supera as nossas barreiras terrenas, os nossos limites.

Os nossos voluntariados nos hospitais, nos centros de saúde, clínicas, lares de primeira e terceira idade, até nos domicílios parti-culares, aceitam e querem, abnegada e de-sinteressadamente, trabalhar para servir a vida humana em sofrimento. Por isso nestas Jornadas, a equipa Diocesana da Pastoral da Saúde propõe modelos e linhas directrizes,

A arte de confortar

Reflexões sobre Pastoral da Saúde nos

hospitais

Philippe de Champaigne, Ex Voto

1662 Louvre, Paris

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Augusto Gonçalves Vila-Chã S.J.

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que ampliem a visão da acção e os motivem a actuar com eficiência e bom acolhimento. Convém não esquecer que além dos profis-sionais de saúde, o voluntariado é a força mais importante da acção pastoral neste campo. Ao longo dos séculos constitui um imenso exército o grupo de crentes que so-nharam estar, de uma ou doutra forma, ao lado dos membros doentes ou carenciados da comunidade.

Temos consciência de que esta presença no mundo da saúde se desenvolve por vezes com um carácter típico e pouco programa-do. Que os nossos voluntários nem sempre tiveram a formação adequada para desem-penhar convenientemente esta missão. Ao assistirmos hoje ao despertar social do voluntariado, não podemos deixar de agra-decer a Deus o trabalho que os nossos vo-luntários desenvolveram sempre na acção pastoral junto dos doentes, dos pobres, dos carenciados. Basta lembrar as misericórdias, hospitais, asilos, infantários, patronados. Como é sabido, o mundo da saúde é um dos sectores mais dinâmicos e em contínua mu-tação e progresso. Por isso a ciência e a téc-nica exigem a criação de redes assistenciais cada vez mais especializadas e actualizadas. As paróquias, associações e movimentos de Apostolado poderiam e deveriam organizar o voluntariado com pessoas, capazes e ab-negadas para visitarem, acompanharem e confortarem os doentes, os acamados, os de-ficientes, os marginalizados, os idosos, quer internados nas casas assistenciais, quer nas famílias.

O maior número de pessoas nestas circuns-tâncias encontra-se efectivamente nos seus domicílios, muitas vezes em estado críti-co, em situações precárias de assistência.

Acompanhando e aliviando a sua frequente solidão, o voluntário há-de ser laço de comu-nhão e união prática entre os carenciados e a comunidade cristã a que pertencem facili-tando-nos o acesso às celebrações litúrgicas e aos sacramentos, às festas, aos convívios e até aos passeios e peregrinações. Não es-quecendo que os próprios doentes têm uma missão específica como voluntários. Assim esses nossos irmãos não se sentirão margina-lizados dentro da Igreja.

Este dia do doente pretende valorizar o Tra-balho do Voluntariado no mundo da saúde. Lançar mão e organizar o voluntariado será uma das melhores formas de cuidar os nos-sos doentes, de lhes proporcionar o encontro com a solidariedade humana e, nos crentes, de lhes fazer experimentar palpavelmente o que é a caridade Cristã.

Oxalá o dia mundial do doente desperte em todos energias e incentivos válidos e dura-douros, aumentem os voluntariados dispos-tos a ajudarem os enfermos, a não se senti-rem esmagados pela doença, mas a melhor experimentarem, por mais anos e melhor, qualidade de vida.

A COMUNIDADE PAROQUIAL E O DOENTE Numa Comunidade Paroquial, há actividades distribuídas: catequese, liturgia, cursos bíbli-cos, pré-matrimoniais, etc. Ora, estas tarefas de evangelização, ao serem desempenhadas por membros de cada paróquia, levam a que valorizemos cada um pelo que dá. E é justo e humano que o façamos. Mas quero fazer aqui um alerta: não estaremos nós a ser in-fluenciados por uma sociedade competitiva, consumista e valorativa onde estamos inse-ridos, que só valoriza quem produz e que vai Augusto Gonçalves Vila-Chã S.J.

Coordenador do Departamento Arquidiocesano da Pastoral da Saúde de Braga

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desprezando a classe deficitária em saúde e energias (doentes, deficientes e velhos)? Há diversos tipos de paróquias: grandes, pe-quenas, antigas e cheias de tradições, outras modernas, outras ainda urbanas e rurais. Mas todas elas devem ser:

1. Catequéticas - Que ensinem a conhecer a

fé, a amadurecê-la e desenvolvê-la.

2. Litúrgicas - onde se celebram ao longo do

ano litúrgico, os mistérios de Deus (Advento, Natal e Pentecostes) pela celebração da Eu-caristia e dos diversos sacramentos (Baptis-mo, Confirmação, Matrimónio, Ordem).

3. Comunidades de amor e serviço aos ou-tros - onde todos e cada um se devem sentir

irmanados em Cristo e, como

Ele, viver em autenticidade a fraternidade, a solidariedade e o espírito de serviço para com os mais necessitados, os que sofrem, os marginalizados e a terceira idade.

4. Comunidades evangelizadoras - que à luz

do Evangelho de Cristo se preocupem em ser testemunho autêntico no meio da sociedade, do bairro onde vivem, do local de trabalho, e transmitem essa força salvadora, humaniza-dora e libertahumaniza-dora que vem de Cristo. Mas para que isto resulte é necessário que cada um de nós se despoje do egoísmo pes-soal, dos interesses sociais, e seja na verdade testemunho autêntico de cristão. E aqui, há duas perguntas fundamentais que ponho à reflexão de cada um:

1ª- Qual é, de facto o serviço que as comuni-dades paroquiais prestam aos doentes? 2ª- O que é que poderia ser feito por essas mesmas comunidades?

Reflectindo sobre estas duas questões verifi-ca-se que:

» O serviço aos doentes é feito quase só pe-los sacerdotes e por alguns paroquianos que para isso sentem vocação ou sentido pasto-ral.

» A maior parte das vezes este serviço limita-se ao momento final da vida, na administra-ção dos últimos sacramentos, verificando-se que faltou, anteriormente, uma presença hu-mana e cristã, amiga, por parte da paróquia junto do enfermo.

Numa análise sintética, o que acontece com grande número de pessoas falecidas é o se-guinte:

» Um aviso à paróquia por parte da agência funerária (a maior parte das vezes) ou da fa-mília;

» Se visitar a família do defunto, o sacerdote informa-se sobre a duração da doença e o lo-cal de hospitalização;

» Se esteve em casa, não recebeu atenção religiosa, para não assustar o doente com a ideia da morte;

» Se esteve no hospital, terá tido a assistência do capelão;

» Nalguns casos chama-se o sacerdote para o sacramento da santa unção;

» Em muitos casos, realiza-se uma pastoral mais ampla que a sacramental.

» No caso do doente hospitalizado este rece-be atenção por parte do capelão hospitalar, mas sente-se afastado da comunidade paro-quial.

Assim é necessário:

» Valorizar o doente como membro activo da comunidade;

» Tomar a comunidade responsável pela atenção pastoral ao doente, pela criação

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dum grupo de pessoas comprometidas que trabalhem de forma actualizada e com novas formas de presença.

» Não se limitar à administração dos sacra-mentos e breves visitas;

» Coordenar a acção da comunidade cristã; » Vinculá-la com o Secretariado Diocesano da Pastoral da Saúde para a orientação, forma-ção e coordenaforma-ção.

Todos nós devemos ter presente esta situa-ção concreta na nossa vida: a enfermidade. Ninguém se pode dela alhear e há assim toda a razão para nos referirmos com propriedade a esta “Pastoral da saúde”.

Contudo, podemos afirmar que a presen-ça da Igreja no mundo dos doentes é muito pobre; reduz-se a uns quantos sacerdotes e aos capelães dos hospitais e à boa vontade de alguns paroquianos - vivendo o resto da Igreja despreocupado desta situação. Aqui faço uma chamada de atenção para a pa-lavra “IGREJA”. Há tendência para dela nos alhearmos, como se a nós não se referisse, esquecendo-nos de que a Igreja somos todos nós os que nos dizemos cristãos. As comuni-dades paroquiais, quando servem o doente, fazem-no como a um ser isolado. É por isso que acontece que aqueles que viveram inte-grados numa comunidade paroquial, quando atingidos pela doença se sentem marginaliza-dos por essa comunidade.

Numa informação do Secretariado Nacional da Pastoral da Saúde, apresentada à XXV As-sembleia Plenária da Conferência Episcopal Espanhola lia-se:

“A Pastoral da Saúde, dentro das comuni-dades paroquiais, ocupa hoje em dia, dum modo geral, um lugar acidental e supletivo dentro do conjunto de actividades paro-quiais. Fundamenta-se ainda, com

frequên-cia, em critérios puramente sacramentalis-tas, de consolação e assistência, paternalistas e individualistas. Acresce ainda que nem o doente se sente integrado na paróquia nem esta matem uma ligação estreita com os do-entes no domicílio ou no hospital.”

É possível que tudo isto aconteça porque, na maioria das nossas paróquias, não se encon-trem os traços característicos de verdadeiras comunidades; não passam de paróquias ter-ritoriais, sociologicamente cristãs. Felizmen-te, os leigos já vão despertando para este sentido comunitário e a participação e cor-responsabilidade nas actividades da comu-nidade se vão tomando um facto. Assim só nos resta uma opção bem definida: fazer das nossas paróquias verdadeiras comunidades, que sejam o fundamento do próprio conceito de Igreja. Comunidades nas quais:

» A relação entre os mesmos seja uma rela-ção pessoal, na fé, na esperança e no amor; » A integração se fundamente na liberdade e a vida comunitária seja o resultado duma experiência cristã vivida em unidade; » Todos nos sintamos igualmente responsá-veis;

» A igualdade e a fraternidade sejam um fac-to;

» Apareça claramente a sua dimensão aberta e evangelizadora.

E aqui pergunto-me: que Igreja quis Jesus? Ele anunciou o Reino: aceitou todos, não recusou ninguém. Foi ao encontro dos mar-ginalizados, dirigiu a sua mensagem aos po-bres, ofereceu a salvação sem distinguir nin-guém e negou toda a segregação. Hoje, mais do que nunca, a Igreja tem de recuperar a realidade de Povo de Deus, a sua realidade comunitária:

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» Ser povo e assembleia convocados por Deus;

» Ter a vivência do amor no serviço ao pró-ximo;

» Povo livre, que celebra a sua libertação diante do Senhor.

» Comunidade em que o Espírito suscita os diferentes carismas e mistérios.

E será assim que os doentes não serão mais uns marginalizados que vamos visitar de vez em quando, mas sim membros vivos da co-munidade que, pela sua própria situação, vivem a fé, celebram a libertação de Cristo e se unem no amor com todos os outros e se comprometem com a comunidade e com o mundo. Serão eles os mensageiros da es-perança como ‘’testemunhas’’ de Cristo que vem, serão os anunciadores do mundo que há-de vir, pela sua dor, pelas suas esperanças e desilusões, pela sua fé e pela celebração dos sacramentos.

Vila-Chã, Augusto, A arte de confortar -

Re-flexões sobre a Pastoral da Saúde nos hospi-tais, Ed. APPACDM de Braga, 2008, 165-173.

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