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Nº COMARCA DE MARCELINO RAMOS GERSON PAULO BRUSCHI ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CHEQUES. OPERAÇÃO DE FACTORING. LEGITIMIDADE ATIVA. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS.

Detém a empresa de factoring, portadora de cheques emitidos pelo executado em favor da faturizada, legitimidade ativa para o ajuizamento da execução, em virtude de ter recebido os cheques através de endosso, por meio de contrato de fomento mercantil.

Cheque é título cambial autônomo e abstrato, passível de livre negociação e circulação, e se está em poder da apelada, não importa saber a relação negocial havida entre estranhos à lide, inexistente qualquer indício nos autos a demonstrar a existência de má-fé.

Precedentes do TJRGS. Apelação desprovida.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Nº 70008682296 COMARCA DE MARCELINO RAMOS

GERSON PAULO BRUSCHI APELANTE

B MAIOR EMPRESA DE FOMENTO MERCANTIL E COMERCIAL LTDA.

APELADA

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Magistrados integrantes da Décima Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, NEGAR PROVIMENTO à apelação.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DRA. AGATHE ELSA SCHMIDT DA SILVA E DR. MARCELO CEZAR MÜLLER, Juízes de Direito convocados.

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Porto Alegre, 27 de maio de 2004.

DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO, Presidente e Relator.

R E L A T Ó R I O

DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO (RELATOR)

GERSON PAULO BRUSCHI opôs embargos à execução de título extrajudicial movida por B MAIOR EMPRESA DE FOMENTO MERCANTIL E COMERCIAL LTDA. argüindo, preliminarmente, a ilegitimidade ativa da exeqüente, uma vez que os cheques foram emitidos de forma nominal em favor de Central Equipamentos, como pagamento de equipamento para um açougue que o embargante havia adquirido, nunca mantendo qualquer relação com a exeqüente, requerendo a extinção do processo sem julgamento do mérito.

No mérito, referiu que os três cheques objeto da execução foram dados como parte do pagamento de equipamento da empresa Central Equipamentos, de Chapecó – SC, emitidos de forma nominal e pré-datados. Mencionou que o equipamento recebido apresentou vários problemas de funcionamento, os quais foram comunicados à empresa vendedora, que nenhuma providência tomou, causando prejuízos ao embargante, que emitiu contra-ordem em 15/02/02, permitindo-se ao devedor a exceção de contrato não cumprido. Salientou que caberia à exeqüente ter executado primeiramente a endossatária e depois o embargante, asseverando a ocorrência de excesso de execução, pelo fato de estarem sendo calculados juros mensalmente capitalizados, requerendo sejam reduzidos a 0,5% ao mês, com capitalização anual. Requereu o deferimento da AJG e a procedência dos embargos.

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A exeqüente ofereceu impugnação aos embargos. Em relação à preliminar argüida, aduziu que o cheque é título não causal, podendo a execução nele fundada ser promovida por qualquer endossatário ou portador regular, e não somente por quem tenha participado do negócio que ensejou sua emissão, tratando-se de título representativo de ordem de pagamento à vista. Mencionou a desnecessidade de outro documento para instruir a execução, à qual basta o próprio cheque, juntando aos autos o contrato firmado entre a empresa de factoring que pleiteia o pagamento do cheque e quem lhe transmitiu o mesmo.

Quando ao mérito, disse que, na condição de possuidora de boa-fé, não pode ter opostas contra si exceções pessoais oponíveis somente entre os participantes do negócio fundamental ensejador da emissão dos títulos, devendo a execução ater-se somente à sua perfeição formal e ao porte, respondendo solidariamente cada um dos participantes da cadeia de circulação frente ao último portador pelo cumprimento da obrigação. Negando a incidência de juros capitalizados, requereu a improcedência dos embargos.

Houve réplica.

Realizou-se audiência de instrução, com coleta de prova oral consistente no depoimento pessoal da representante legal da embargada e na ouvida de testemunhas, fls. 62 e verso e 77-79, sendo ofertados memoriais remissivos pela embargada.

Sobreveio sentença julgando improcedentes os embargos e condenando o embargante ao pagamento das custas processuais e de honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa, suspensa a exigibilidade em razão da AJG.

Inconformado, apela o embargante, reiterando argumentação anteriormente expendida, no sentido de que a apelada é parte ilegítima para cobrar os cheques objeto da ação, e que o equipamento de refrigeração

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causando-lhe prejuízos e, sem que a vendedora solucionasse o problema, restou ao apelante sustar o pagamento dos títulos. Menciona que todas as testemunhas ouvidas corroboram sua tese, asseverando que o devedor obrou de má-fé ao transferir os cheques à apelada, após ter conhecimento de que a mercadoria vendida apresentava problema, sendo reclamadas providências à vendedora.

Sustenta que a constatação de defeito no produto, com a reclamação formulada verbalmente no prazo legal, conforme demonstrativos de contas telefônicas de fl. 14, acarretam o direito de se exonerar no pagamento do preço, tendo grande quantidade de carne e embutidos fabricados estragados, além de sua marca denegrida. Afirma que a embargada deve buscar o ressarcimento dos títulos junto à endossatária, com a qual realizou a transação dos cheques, requerendo o provimento da apelação, com a inversão dos ônus sucumbenciais.

As contra-razões propugnam pela manutenção da sentença, requerendo a condenação do apelante por litigância de má-fé.

É o relatório.

V O T O S

DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO (RELATOR)

A presente apelação não merece acolhimento, devendo ser mantida a respeitável sentença hostilizada.

Primeiramente, afasto a prefacial de ilegitimidade ativa da embargada para o ajuizamento da execução, uma vez que, conforme já decidido pela sentença, detém a exeqüente legitimidade para a causa em virtude de ter recebido os cheques emitidos em favor da faturizada por endosso, a partir de contrato de fomento mercantil por meio do qual obteve a

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titularidade do crédito consubstanciado nos títulos em questão, ordens de pagamento à vista, consoante aditivos contratuais de fls. 26 e 27.

No mérito, argumenta o embargante que a exeqüente, empresa de factoring portadora dos cheques, é pessoa estranha ao negócio que deu origem à emissão dos mesmos, tendo em vista que emitidos nominalmente em favor da empresa Central Equipamentos, como parcela do pagamento referente à compra de equipamento de refrigeração, o qual, por apresentar defeitos, ensejou a contra-ordem de pagamento dos cheques, conforme documento de fl. 13, pretendendo seja aceita a exceção de contrato não cumprido.

O cheque, contudo, é título de crédito que se reveste de liquidez, certeza e exigibilidade, requisitos passíveis de desconstituição somente mediante prova inequívoca, o que, no caso, não se vislumbra.

Por outro lado, não importa saber a relação negocial havida entre estranhos à lide, inexistente qualquer indício nos autos a demonstrar que tenha agido de má-fé a apelada, sustentando o recorrente tão-somente a má-fé da empresa Central Equipamentos.

Sendo assim, resta incontroverso que o cheque foi repassado à exeqüente por terceira pessoa, tratando-se de terceira de boa-fé, não podendo ser opostas exceções pessoais, a não ser que se comprove que a endossatária tinha ciência do fato, conforme prevê o art. 25 da Lei 7.357/85 (Lei do Cheque), situação inocorrente no caso.

Esta é a orientação doutrinária, citando-se, por exemplo, Pontes de Miranda, na obra Tratado de Direito Privado, tomo 37, pp. 325/326, 2ª ed., Borsoi, Rio de Janeiro, ora transcrito, verbis:

A inoponibilidade das objeções e exceções ligadas à causa, ou à origem da vinculação, se de boa fé o possuidor, é matéria de constante, velha e reiterada jurisprudência...

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Contra os possuidores de boa-fé nenhuma defesa ou exceção ligada à causa ou à falta de causa pode ser alegada. E é assim que se delimita o campo de permissão, que só ao direito cambiário ou cambiariforme é dado precisar. Ao direito que rege o negócio jurídico subjacente, simultâneo ou sobrejacente, ou à falta de negócio, só se admite a delimitação dentre os possuidores de má-fé.

Dada a natureza autônoma do título de crédito, o possuidor de boa-fé exercita um direito próprio, que não pode ficar restrito às relações existentes anteriormente.

Não configurada a má-fé do portador do título, detém a portadora o direito de buscar o respectivo pagamento, observado ainda o elemento essencial do cheque, qual seja, o pagamento à vista a favor de seu portador.

Neste sentido:

APELAÇÃO. DECLARATÓRIA DE NULIDADE E CAUTELAR DE SUSTAÇÃO DE PROTESTO DE CHEQUE. OPERAÇÃO DE FACTORING. 1.ABSTRAÇÃO E INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS. TENDO O CHEQUE CIRCULADO ATRAVÉS DE ENDOSSO E DE OPERAÇÃO DE

FACTORING, TORNA-SE ABSTRATO, IMPOSSIBILITANDO AO EMITENTE OPOR EXCEÇÕES

PESSOAIS QUE CABERIAM CONTRA O ENDOSSANTE E NÃO CONTRA O CREDOR ENDOSSATÁRIO, QUE RECEBEU O TÍTULO DE BOA-FÉ. 2.A NULIDADE DE CHEQUE É DE SER RECONHECIDA SOMENTE QUANDO AUSENTE UM DE SEUS REQUISITOS ESSENCIAIS, NÃO OCORRENTE NO CASO EM TELA. APELO DESPROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70006047369, DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. ORLANDO HEEMANN JÚNIOR, JULGADO EM 01/04/2004)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INVALIDADE DE TITULO CAMBIAL. NEGÓCIO DE FACTORING. CHEQUE. AQUISIÇÃO DO TITULO POR TERCEIRO DE BOA-FÉ. EXCEÇÃO PESSOAL. APÓS A CIRCULAÇÃO, PELO ENDOSSO, ANTERIOR AO

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VENCIMENTO E A TERCEIRO DE BOA-FÉ, SÃO INOPONÍVEIS AS EXCEÇÕES PESSOAIS E A DISCUSSÃO DA "CAUSA DEBENDI" EM RAZÃO DA PRESUNÇÃO "JURE ET JURE" DA EXISTÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DA RELAÇÃO DE CRÉDITO. SENDO ASSIM, A DEMANDANTE SOMENTE PODERIA OPOR AS EXCEÇÕES PESSOAIS FRENTE AO VENDEDOR ENDOSSATÁRIO, SENDO INOPONÍVEIS TAIS EXCEÇÕES CONTRA A EMPRESA QUE, EM OPERAÇÃO DE FACTORING, ADQUIRIU DE BOA-FÉ OS CHEQUES. APELO PROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 599431186, PRIMEIRA CÂMARA ESPECIAL CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. JOÃO ARMANDO BEZERRA CAMPOS, JULGADO EM 05/09/2000)

EMBARGOS DE DEVEDOR. EMISSÃO DE CHEQUE. CIRCULAÇÃO. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ DA EMPRESA DE FACTORING. INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS POR PARTE DA EMITENTE FRENTE AO TERCEIRO DE BOA-FÉ. PRELIMINAR REJEITADA. APELO PROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70004154423, DÉCIMA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: DES. PAULO ANTÔNIO KRETZMANN, JULGADO EM 22/05/2003)

Em face do exposto, as contas telefônicas revelando legações para o Município de Chapecó, fls. 14-16, bem como a prova oral colhida nos autos, em nada modificam a situação, restringindo-se o depoimento pessoal da representante legal da embargada, fl. 62, a confirmar a existência de relação com a empresa Central Equipamentos, e as testemunhas do embargante, fls. 62-verso e 77-79, a referir terem comprado produtos estragados do mesmo, que teria justificado o fato em razão de problemas na câmara fria, tendo solicitado à vendedora que realizasse reparos, exceções pessoais estas que, conforme já analisado, não podem ser opostas perante o terceiro possuidor de boa-fé.

Por final, deixo de aplicar a condenação por litigância de má-fé ao apelante, porque a atitude do mesmo não se enquadra nas hipóteses do artigo

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Desta forma, nego provimento à apelação.

DRA. AGATHE ELSA SCHMIDT DA SILVA (REVISORA) - De acordo. DR. MARCELO CEZAR MÜLLER - De acordo.

DES. CARLOS EDUARDO ZIETLOW DURO-Presidente-Apelação Cível nº 70008682296, de Marcelino Ramos. A decisão é a seguinte: “NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME.”

Referências

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