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AS COMUNIDADES !MIGRANTES EM PORTUGALI

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AS COMUNIDADES !MIGRANTES

EM PORTUGAL

I

0 presente lex to, procum pe1pretar 11ma reflexclo que tome emlinlw de co111a algumas das questoes que na actualidade envolvem as comunidades imigrantes. Por intermedio da al7(i/ise, dos recenres flux os de imigrarrio pam Portugal e dos perfis da mesma, procum-se estribar a importcincia que as

comunidades provenientes dos PALOP 's assumemno nosso pais.

Nr/o descurando a problematica dos imigrantes ilegais, desenvolve-se igualmente uma exegese so-lire os diplomas que regulam o regime de entrada e perma/I!Jncia de cidadrios estrangeiros em ter-ritorio nacional.

Par 1iltimo, tomando em atenrrio o estatuto de cidadiio nacional eo estatuto de cidadclo residente, sera nossa intelll;clo demonstrm; par zm1lado, que Port1tgal

e

uma «Na~~r lo civica inc/usiva» e, por outro, a nossa discorddncia relativamente cis reservas que os diplomas preveemno q1te conceme ao

usufi'uto de direitos politicos.

Manuel Menezes'

Segundo Castro et all ( 1991) poderemos considerar como gmpo etnico, um gmpo de indivfduos eo m ancestralidade eo mum, padroes de cultura comuns e que apresentam um determinado grau de identificayao eo m esse grupo- reconhecendo-se como pertencendo ao grupo, i.e., herdeiros de uma comunidade hist6rica e cultural. Adicionando a estas caracterfsticas, o estatuto de minoritario- na sociedade onde residem- "encontTamos" o conceito de minoria etnica.

Nao descurando o referido, sera entao de nosso interesse no presente texto encetar uma breve cogitayao sabre questoes varias, que envolvem as comunidades imigrantes a

* Mestre em Servi~o Social pelo Instituto Superior de Servi9o Social de Lisboa. Docente- Licenciatura em Servi9o Social- no lnstituto Superior Bissaya-Barreto.

Estem1igo

e

uma versao revista de uma comunica<y1io apresentada na Semana lntensiva Erasmus, realizada em Coimbra.

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I l l

Manuel Menezes

residir em Portugal- principalmente as comunidades oriundas dos PafsesAfricanos de Ungua Oficial Pmtuguesa (PALOP's). A op9ao de am'ilise justifica-se, por urn !ado, pela maior relevancia que as mesmas assume m no conjunto da irnigra9ao em Portugal e, por outro, devido as «recentes» altera96es decorrentes da integra9ao de Portugal na Uniao Europeia (UE), que, por intermedio da adop9ao de legisla9ao varia, vem propugnar discrimina96es entre os diferentes estrangeiros a residir em Porntgal, i.e., a distin9ao entre estrangeiros de «primeira» - oriundos dos Estaclos-membro da UE - e estrangeiros de «segunda» - oriundos de pafses extern os a UE.

Assim sendo, nu m primeiro ponto far-se-a uma exegese dos recentes flux os de imigra-9ao para Portugal, salientando-se a evoluimigra-9ao que se tern verificado nos ultimos anos, nomeadamente no que concerne as comunidades imigrantes mais representativas, be m como relativamente ao padrao de distribui9ao geogniftco da imigra9ao. Analisando-se igualmente, ainda que de um modo eel ere, os diferentes pe1fis dessa imigra9ao.

Nu m segundo momento, sera de nosso interesse reflectir sobre os problemas inerentes

a

imigrc19ao ilegal em Portugal, no que diz respeito as condi96es de explora9ao a que os

mesmos estao sujeitos, interligando estas, como nao usufruto de direitos de cidadania.

To man do conhecimento «(~ficialmente» desta problematica, o Estado portugues tem vindo

a implementar, nos ultimos anos, algumas mediclas visando a regulariza9ao destes

imi-grantes. Destarte, o modo como estes processos tem cleconido, sera igualmente objecto de explana9ao no presente.

Embora c6nscios da necessiclade de existir um controlo sob re a imigra9ao, nao

pode-mos ficar indiferentes ~ ~ uniformiza9ao que se pretencle instituir na UE, no que concerne a

entrada de cidac!aos de pafses nao membros ea discrimina9ao a que estes estao sujeitos relativamente aos cidadaos de Estados-membro da UE. Deste modo, nao descurando as identiclacles que unem os portugueses aos PALOP's, analisaremos os diplomas que regu-lam o regi me de entrada e permanencia de cidadaos estrangeiros no territ6rio nacional. Interligada eo m esta questao e, dada a difere n9a que existe entre o estatuto de cidadao

nacional eo de cidadao residente, tentaremos demonstrar que Pmtugal e umaNaplo cfvica

i11clusiva-por oposi9ao a nar;oes etnicas exclusivas-tendo em aten9ao a neutralidade que

existe em rela9ao as identidacles etnoculturais dos cidadaos (Cf. Kymlicka, 1996). Embora conscientes dos aspectos positivos que a legisla9ao portuguesa plasma relati-vamente a aquisi9ao- pelos estrangeiros- do estatuto de cidadao nacionaL nao

concorcla-mos comas restri96es que essa mesma legisla~ao preve relativamente ao usufruto de

direitos, estamos neste caso concreto a referir-nos ao nao usufruto de direitos polfticos. Defenclemos, entao, a necessiclade de repensar a geografia da cidadania na UE, de modo a adequar neste aspect a as cliferentes di mensocs da cidadania com a residencia dos cicla-claos, quer eles tenham o estatuto de resiclentes ou o estatuto de ciclaclaos nacionais.

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As comunidades imigrantes em P01tugal

1. Im i gra~ao em Portugal, Recentes Evo lu ~oes

Portugal, urn pafs tradicionalmente de emigrantes, s6 a partir de meados da decada de

70 e que se ve confrontado com flux os de imigra~ao mais significativos2

• Os pafses de

origem desses «novos» imigrantes encontram-se intimamente ligados ao passado colonial

pmtugues, nomeadamente os PALOP's3

, o que se traduz em l a~os culturais e espirituais

especfficos entre os emigrantes ea comunidade do pais de acolhimento.

Este aumento justifica-se, por um !ado, devido a altera~ao da conjuntura polftica em

Pottugal-Revolu~ao emAblil de 19744

-e, por outro !ado, devido ao agudizar dos contlitos

nas col6nias-descoloniza~ao. Assim, verificamos que ea partir de J 975 que se da o

«boom» de imigra~ao de africanos. Se ate esta data nao ultrapassavam os 503 indivfduos

(legalizados5

), no espa~o de duas decadas o seu numero aumenta para 79280 indivfduos

(Cf. Barreto, 1996).Constatamos, entao, que em 1995 as comurudades africanas represen-tavam 47. J% do total de estrangei.ros, seguida dos indivfduos miundos de pafses da Europa,

eo m uma representa~ao de cerea de 24.7%6

.

Analisando cada comunidade de per si, constatamos que entre 1989 e 1994 houve

algumas altera~oes significativas. Segundo um estudo realizado por Baton (1993), as

co-munidades mais representativas a residir no nosso pafs em 1989 era m respecti vamente:

Cabo-Verdiana (28 .000), Brasileira ( 1 0.500), Inglesa (7 .750), Espanhola (7 .300) e

Estadun.idense ( 6400). Comparando estes dad os eo m os por n6s recoUudos nos Servi~o s de

Estrangeiros e Fronteiras (SEF) relativamente a Dezembro de 1994, verificamo , por um

!ado, que a comunidade Cabo-Verdiana continua a ocupar o 1 o lugar, representando 23,3%

(Ni=36.5(i))1 do total dos imigrantes a residir em Pmtugal, seguida da comunidade Brasi-leira (Ni= 18.612; 11,9%) e, por outro, que houve um aumento significativo das

comunida-des oriundas de Africa em rela~ao comparativamente as Europeias. Assim, em 3° e 4°

Jugares aparecem-nos em 1994 respectivamente as comurudades Angolanas (Ni= 13.589;

8.7%) e Guineense (Ni= 1 0.828; 6,9% ), ocupando posi~oes anteriormente pettencentes as

comurudades Inglesa (5" maior r eprese nta ~ao com 10.731; 6,8%) e Espanhola

W

posi~ao

com8.531;5,4%).

0 aumento da imigra~ao de comunidades oriundas das antigas co16nias pode ser

justificada, tanto, pelas mas co ndi~oes s6cio-econ6micas existentes em Cabo

Verde-primeiro foco de imigra~ao anterior a 1974 -, como, pela situa~ao de guerra em Angola e

Mo~ambique - foco de imi gra~ao p6. 1974. Pensamos, que esta situa~ao se pode vir a

inverter a medio prazo. Mas sera importante referir, que um outro polo de imi g ra ~ao tem

vindo a surgir a partir de 1997, estamos a referir-nos nomeadamente ao territ6rio de Macau, nao sendo de descurar, os cerea de 100.000 cidadaos portugueses ainda residentes no twit6rio.

No que concerne ao padriio de distribui~iio geografica dapopula~ao imigrante, existe

uma maior fixa~ao de estrangeiros em distritos industrializados e nos p61os de atrac~ao das

migra~oes pmtuguesas, tais como Lis boa, Porto, Algarve, Set:Ubal, Aveiro (Cf. Presumido et all, 1993; Pimpao, 1991; Castro etaU, 1991- paraascomunidades africanas). Comparando

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-

Manuel Menezes

o estudo rea!izado por Ea ton ( 1993), eo m os dad os por n6s recolhidos, confirma-se que entre 1989 e 1995 os p6los de atraccrao mais significativos continuam a ser os mesmos, chegando mesmo os Distritos de Lis boa e Faro a reforcrar as suas posicroes. Assim sendo,

em 1989 Lis boa «acolhia» cerea de 52% dos estrangeiros, Faro 1 0,5%, e Setuball 0%. Em

1995, Lis boa ve a sua percentagem subir para 54,4% e Faro para 12,6%, enquanto Setubal desce para 8,8% (SEF). Em ambos os estudos, o Distrito que menor numero de estrangei-ros atrai eo distrito de Bragancra.

Relativamente ao Distrito de Coimbra, entre 1993 e 1995 existe um aumento pouco significativo de imigrantes, situando-se a sua representatividade, em relacrao ao resto do pafs, proximo dos 2,5%. Relativamente as comunidades com maior representacrao no Dis-trito de Coimbra em 1993 (SEF), nao se registam diferencras significativas em relacrao a os dad os anteriormente referidos, dado que, continuam a aparecer nas primeiras posicroes: Brasil (Ni=724; 22,9%), Cabo Verde (Ni=340; 10,7%), Angola (Ni=238; 7,5%) e Guine Bissau (Ni=222; 7%).

Existe no en tanto uma diferencra, que pensamos ser assaz importante mencionar,

no-meadamente no que concerne ao pe1ji I do imigrante. Para os p6los de atraccrao

anterior-mente refericlos, o perfil do imigrante e caracterizado porjovens do sexo masculino- numa primeira fase, dado que nos encontramos perante um processo de imigracrao faseado,

iniciado pelo homem e conclufdo coma reunificacrao familiar ~ - com baixas qualificacroes,

que vem ocupar posicroes precarias na ind(tstria intensiva e na construcrao civil, encontran-do assim, dificulclacles de integracrao, sofrenencontran-do um processo de marginalizacrao social, discriminacrao cultural e exploracrao econ6mica, vivendo, na sua maioria, em bairros de-gradados dos suburbios de Lisboa (Cf. Ferrao, 1996: 180-181).

No caso concreto de Coimbra, dacla a importancia que a Universiclade assume, a

mai-oria dos imigrantes

e

composta por indivfduos- tanto do sexo masculino como

feminino-que, ao abrigo de acorclos de cooperacrao entre Portugal e os PALOP's -devendo aqui regis tar-se uma cliscriminacrao positiva em relacrao aos estrangeiros oriunclos clestes pafses

- vem frequentar cursos Universitarios em Coimbra9

, podendo considerar-se os mesmos

(principalmente aqueles com uma estaclia mais prolongada, dado que muitos, ap6s o termi-nos do curso optam por continuar a residir em Portugal), como um subgrupo estabilizado e integrado na socieclade portuguesa. Deste modo, a integracrao na sociedade de acolhimento clependc, entre outros facto res, da proximidade entre a cultura cl a minoria ea do pafs que recebe, da duracrao da estada em paralelo com o reagrupamento familiar, clas habilitacroes liten1rias/qualificacr6es profissionais e, da capacidade de integracrao econ6mica (Cf. Turner,

1989:90).

2. !migrantes Ilegais, Que Problerm1ticas?

Nao clescurando a importancia dos dad os anteriormente analisados nao poderfamos no en tanto deixar de abordar -ainda que sinteticamente- a problematica dos estrangeiros que reside m clandestinamente em Portugal.

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Segundo urn estudo realizado por Castro et all (1991), em 198lmais de41.5% (o que correspondia a mais de 20.000 indivfduos) dos africanos estrangeiros residentes em Portu-gal estariam em situa9ao ilePortu-gal. Dados mais recentes apontam para um aumento desses numeros. Eaton ( 1993), revela igualmente alguns dados surpreendentes no que diz respeito a outras comunidades, nomeadamente a comunidade britiinica. Segundo Cal ( citada pela autora), existiriam em 1987 cerea de 20.000 britanicos a residir ilegalmente em P01tugal e, em 1993, cerea de 50.000 africanos encontravam-se igualmente nesta situa9ao10 .

A am1lise deste tipo de imigra9ao e de extrema importancia, porquanto, para alem de nao figurarem nas estatfsticas existentes, assumem urn interesse primordial, nao s6, dada a situa9ao de ilegalidade em que se encontram, como tambem, devido ao nao usufruto de direitos mfnimos que os coloca nu m a situa9ao de extrema marginalidade. Neste aspecto poderemos referir que, tal como na decada de 60 os portugueses foram explorados em muitos pafses europeus, tambem na actualidade o imigrante clandestino sofre esse tipo de explora9ao em Portugal. Ocupam locais de trabalho principalmente na constru91io ci vi! -que muitos portugueses ja nao aceitam, trabalham mais do -que as horas legalmente permi-tidas e eo m salarios inferiores ao salario mfnimo nacional11 . Em paralelo com esta situa-91io, dada a pennanencia ilegal no pais, nao usufruem de qualquer tipo de direitos, nao existindo qualquer tipo de contribui96es para a seguran9a social por parte das empresas que os contratam12 .

Este con junto de situa96es transforma-se nu m ciclo vicioso, dado que progressi vamen-te influcncia as condi96es habitacionais- uma gran de parvamen-te vive em bairros de lata, educa-cionais- baixas habilitac;oes literarias e impossibilidade de melhorar as qualifica96es pro-fissionais13, que progressivamente se transmitem de pais para filhos e por consequencia

conduz

a

«guetiza9ao» na sociedade mais vasta.

2.1 Primeiro Processo de Legalizac;ao

To man do consciencia clesta situa9ao e, principalmente devido ao debate que se iniciou sobre o racismo e xenofobia, aquando do aparecimento da questao de expulsao dos imi-grantes ilegais, face as obriga96es decorrentes doAcordo de Chenguen- expulsao dos imigrantes clandestinos -, o governo portugues iniciou em 1992 um Processo de

Regulari-za9ao Extraordinario para imigrantes clandestinos14. 0 mesmo, continha em si

cliscrimi-na96es positivas- por razoes hist6ricas e princfpios fundamentais que o aconselhavam-relativamente aos imigrantes oriundos dos PALOP's. Is toe, era pennitido a os cidadaos nao comunitarios - desde que residissem em Portugal em perfodo anterior a Maio de 1992-requererem a regularizac;ao da sua situa9ao, se provassem dispor de condi96es econ6mi-cas mfnimas para assegurar a sua subsistencia- exercfcio de actividade profissional. No entanto, os estrangeiros oriunclos dos PALOP's, eram clispensados clestes requisitos, se tivessem entrado no pais em data anterior a 1 de Junho de 1986 e se tivessem mantido uma presen9a continuada em Portugal a partir dessa mesma data.

Embora as inten96es do governo fossem positivas - podendo-se considerar que pc! a

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Manuel Menezes

p1imeira vez ha urn reconhecimento oficial da problematica da imigra~ao - a forma como

decorreu o processo de legaliza~ao nao conseguiu resolver os problemas. Para alem de urn

perfodo extremamente cutto- durou somente quatro meses - de legaliza~ao, existiram todo

urn conjunto de situa~oes que dificultaram o processo, nomeadamente os poucos postos de

atendimento, a inexperiencia dos funcionarios do SEF, a dificuldade por prute dos

imigran-tes em compreender o processo, em paralelo corn situa~oes de aproveitamento por parte

de comerciantes locais e empreiteiros no que concerne

a

passagem de atestados de

resi-dencia e de contratos de trabalho. Tudo isto, Jevou a que somente 47.000 pedidos dessem entrada no SEF, nao se legalizando por exemplo: os estrangeiros entrados em territ6rio nacional em data posterior a 15 deAbril de 1992; os menores que, nao podendo assinaro requerimento respective, acabaram, tambem, por nao ser inclufdos no de seus pais por

estes nao se encontrarem em Portugal; pessoas que residiam no pafs M muitos an

os-mesmo antes de 1974, quando ainda possufam a nacionalidade pmtuguesa- e nao

compre-encleram pm·que razao lhes era exigida a documenta~ao como estrangeiros; imigrantes que

encontraram dificuldade em reunir a documenta~ao exigida por lei, nomeadamente a

de-clara~ao da entidade patronal, entre outros15

2.2. Segundo Processo de Legaliza~ao

Em Maio de 1996, foi aberto urn segLmdo Processo de Legaliza~ao Extraordinario (Lei

11° 17/96, de 24 de Julho ). Segundo este diploma, podirun requerer a legaliza~ao, desde que

dispusessem de condi~oes econ6micas mfnimas para assegurarem a subsistencia,

designadamente pelo exercfcio de uma actividade profissional remunerada, os: cidadaos

origindrios de PALOP 'se os demais cidadaos estrangeims nao comunitdrios ou

equipara-dos, entrados em Portugal ate 31 de Dezembro de 1995 e ate 25 de Marro de 1999

respec-tivamente.

Tentando evitar erros do processo anterior, o prazo de legaliza~ao foi aumentado para

se is meses- surgindo posteriormente o pedido de aumento do prazo em mais urn mes -,

sendo igualmente criada uma Comissao Nacional para a Regulariza~ao Extraordinaria

que, para ale m da coordena~ao de todo o processo, decidia em ultima instancia sob re os

pedidos de regulru·iza~ao extraordinruia.

Da analise do diploma pode-se concluir que o mesmo tinha maior transpru·encia e era

mais abrangente16

• No en tanto, algumas questoes se levantaram corn o decorrer do

pro-cesse. Corn o prazo de legaliza~ao prestes a terminar- 11 de Dezembro de 1996 -,os

respons<:1veis procurru·run convencer alguns indecisos17

-muitas vezes corn a oposi~ao de

alguns patroes que lucram corn a mao de obra barata e corn os esquemas de fuga ao fisco.

Deste modo, o SEF procurou, nas ultimas semanas do processo, desenvolver ac~oes de

esclru·ecimento, disponibilizando igualmente postos moveis de legaliza~ao em locais onde

existiam imigrantes ilegais (bairros degradados, Centro Colombo, Expo ' 98, Ponte Vasco da Gama, bem como grandes estaleiros).

(7)

As comunidades imigrantes em Pottugal

Um outro problema eo m que se depararam as autoridades, fora m as redes que faziam entrar em Portugal imigrantes extra comunitarios residentes noutros pafses europeus, fa-zendo-lhes crer que poderiam legalizar-se em Portugal e beneficiar da livre circulayao na UE. Entre meados deAgosto e finais de Novembro, atraves dos control os selectivos do SEF nas fronteiras, 450 estrangeiro- vindos de Franya, Espanha e principalmente da Alemanha- viram negada a entrada em Portugal.

No que concerne aos pedidos de legalizayao, ate ao momento da realizayao do estudo, no SEF haviam dado entrada cerea de 23.000 processos, envolvendo cerea de 40.000 indivfduos. No caso concreto da Regiao Centro, os oito postos de atendimento tin ham recebido 511 pedidos de legalizayao, podendo-se referir que a maioria dos pedidos se situaram em areas citadinas pr6ximas do litoral (Leiria: 132; Coimbra: 124;Aveiro: I 1 I). Quanto aos pedidos por comunidade, as mais representativas continuaram a ser provenien-tes de Africa eo m 185 pedidos, seguidas do Brasil eo m 158 pedidos e surpreendentemente

apareceu em terceiro lugar a comunidade «Chinesa»18 eo m 70 pedidos- uma possfvel

explicayao para estes dados podera sera afluencia nos ultimos anos de estudantes macaenses

a

Universidade de Coimbra, imigra9ao essa, que possivelmente viria a ser seguida de

outros familiares, que actualmente trabalham na industria hoteleira. Gostarfamos ainda de referiro numero de pedidos de venezuelanos (Ni=34), a importancia dos mesmos, interli-ga-se eo m o facto, de os mesmos serem feitos por descendentes de emigrantes portugue-ses.

Aquando da realizayao do estudo e, dado que o processo de regularizayao extraordina-rio estava prestes a terminar, uma questao se nos colocou: que possibilidades e que os estrangeiros teriam de obter um titulo de residencia em P01tugal ? Dada a integra9ao de Portugal na UE, verificamos que, por um !ado, tem vindo a ser abolidas as fronteiras internas, transferindo-se esse mesmo controlo para as fronteiras externas, tentando-se implementar um tratamento unifmme em relayao aos nacionais dos pafses nao membros e, por outro, questionamo-nos, se esse mesmo controlo estara de acordo com os direitos humanos universais e corn os direitos especfficos que podem deiivar de la9os de pertenya. Sao estas algumas das questoes a que tentaremos dar resposta no ponto seguinte.

2.3. Entrada e Pennanencia de Estrangeiros em Portugal: Duas Realidades

Os dois diplomas basicos que regulam o regime de entrada e permanencia no tetTit6rio

nacional de estrangeiros sao: um diploma de caracter geratl9 e um diploma de caracter

especial- que regula as condiyoes especiais de entrada e permanencia em teJTit6rio

portu-gues de cidadaos dos Estados-membro da Uniao Europeia e seus familiares20

.

De acordo com o primeiro diploma, e considerado estrangeiro todo o indivfduo que nao prove possuir a nacionalidade portuguesa. Para residir em Pmtugal tem que ter uma auto-rizayiio valida de residencia, assim sendo, e considerado imigrante o estrangeiro que resi-de e/ou trabalha em Pottugal. Imigrante legal ou simplesmente imigrante se esta munido resi-de

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Manuel Menezes

uma autoriza9ao de residencia21 valida para o efeito. Imigrante ilegal se a nao possui.

Da amilise desenvolvida constatamos que existe discrimina9ao no tratamento de es-trangeiros oriundos de pafses fora da comunidade, verificando-se que o diploma geral e muito mais restritivo comparativamente ao diploma especial. Seguindo de perto Miranda (1994), verificarnos que as duas principais diferen9as sao:

(i) no que concerne aos estrangeiros na sua generalidade, exige-se que possuam

re-cursos de subsistencia suficientes (art. 7°, n°1), interditando-se a entrada quando houver fortes indfcios de que tencionam praticar urn delito grave, ou de que consti-tuem urn a amea9a para a ordem publica, seguran9a nacional ... (art. 10°, n° 1 );

inter-di9ao essa que nao se aplica aos cidadiios de um qualquer Estado-membro;

(ii) os estrangeiros em geral carecem de uma autoriza9ao de residencia a solicitar no

SEF (arts. 54° e seguintes); no que concerne aos cidadiios da Uniiio, admite-se o

tftulo de permanencia a tftulo definitivo e urn direito de residencia, caso sejarn verificados certos requisitos (arts. 5° e seguintes, 9° e seguintes).

Dadas as discrimina96es existentes, gostariamos de nos questionar do porque da nao

existencia de urn regime especial paralelo, par·a cidadaos dos PALOP's, dado que, face

a

Constitui9ao da Republica Portuguesa e tendo por base as questoes relacionadas corn os la9os de arnizade e de coopera9ao corn os PALOP's, estaremos perante urna

inconstitucionalidade par omissiio (Miranda, 1994). Interligado corn esta questao,

gostarf-arnos igualmente de referir o art. 15°, n° 3, on de a Constitui9ao preve uma discrimina9ao positiva relativamente aos cidadaos oriundos dos PALOP's, ficando abetta a possibilidade de lhes poderem ser atribufdos, mediante conven9ao internacional e em condi96es de

reciprocidade, direitos nao conferidos a estrangeiros22

No seguimento do anteriormente exposto e sabendo que a admissao no territ6rio portu-gues passa por do is estadios- interligados entre si e cornplernentares no tempo- que se distinguem ao nivellegal: admissao geografica ou irnigra9ao- referida supra- e «admissao cfvica na associa9ao de cidadaos ou naturaliza9iio» (Welan, 1988: 4), que seguidamente iremos abordar·.

2.4. Portugal, Na9ao Cfvica Inclusiva

Segundo aleiportuguesadanacionalidade23

, existe a nacionalidade por: naturaliza9ao

(atribufda pelo SEF), nascimento, casamento e adop9ao (cuja competencia pertence

a

Conservat6ria dos Registos Centrais).

Numa primeira aproxima9ao

a

questao, verificamos pela analise da Lei, que

aAdmi-nistra9ao Publica de tern urn pod er discricionario, i.e., rnesmo que estejam preenchidos

todos os requisitos24 pode a entidade cornpetente en tender que nao deve ser concedida a

nacionalidade ao cidadao interessado.

Destarte, a cidadania e atribufda pelo Estado a uma pessoa corn base no parentesco25

(9)

As comunidades imigrantesem Poi1Ugal

Numa primeira aproxima~ao

a

questao, verificamos pela analise da Lei, que a

Admi-ni st ra~ao Publica detem um poder discricionario, i.e., mesmo que estejam preenchiclos

todos os requisitos24 pode a enticlade competente en tender que nao cl eve ser concedida a

nacionalidade a6 cidadao interessado.

Destarte, a cidadania e atribufda pelo Estado a uma pessoa com base no parentesco25

(ius sanguinis), ou na loca/izay·ao26 (ius soli) ou atraves de uma combinay'iio dos dois27

(Halfmann, 1996; Wiener, 1996; Habermas, 1994 ), i.e., a perreny·a cl comunidade,

interli-ga-se por Lm1laclo, coma lei do solo (vide requisitos para n a turali za~ao, nota 24) e, por

outro, coma lei do sangue. Oaf decorre, que a cidadania e imediata, exclusiva e

permanen-te (Cf. Halfman, 1996: 10), i.e., os Estados nao podem retirar a perten ~a adquirida pelo

nascimento (pem1anente ); como regra, a cidadania s6 e possfvel nu m Estado ( exclusivida-de ); nao sendo igualmente pennitidas outras lealdaexclusivida-des polfticas salientes que interfiram na

r e la~ao entre o indivfduo eo Estado28

• No caso concreto p011ugues e, no seguimento do

anterionnente expos to, constatamos que existe uma at ribui ~ao automatica da

cicladania-pelo nascimento - e que- apesar do pod er discricionario da Admini stra~ao- e dad a uma

op~ao ( com alguns requisitos) de n at urali za~ao aos estrangeiros, tentando-se desta forma minimizar os agudos efeitos da exclusao da cidadania nacional. Existe entao, uma inclusao

automatica e uma inclusao por op~ao, sendo importante referir, que estas duas form as de

inclusao nao deveriam servir de ju s tifi ca~ao para qualquer tipo de d i scrimina~ao. Mas o

que verificamos e que de facto essa dis c rimina ~ao existe, visto que, s6 por intermedio da

aquisi~ao do status de nacional e que em ultima instancia aos imigrantes estrangeiros, e pennitido tornar-se cidadao de um Estado. Caso nao adquiram esse status- de nacional-,

devido aos requisitos ou por op~ao, esses estrangeiros veem-se exclufdos do acesso a

varias dimensoes da cidadania a que s6 o status de cidadao nacional da acesso,

nomeada-mente

a

pa1 1 icipa~ao no sistema polftico.

Sabendo entao, que existe um hiato entre os padroes legais e os pad roes baseados na

identidade de pe11en~a , hiato esse, mais explfcito nos cidadaos oriundos de pafses extern os

a

comunidade, gostarfamos no proximo ponto de cogitar um pouco sobre as possibilidades

de ultrapassar esta s itua ~ao de exclusao29

.

3. As «Diferentes Dimensoes» da Cidadania ea lmportancia da Participa~ao

PoHtica

Segundo o art. 13Q nQ 2 da Consti tu i~ao: «ninguem pode ser privilegiado, beneficiado,

prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer clever em razao da

ascen-dencia, sexo, r a~a, lingua, terrir6rio de origem, convic~6es polfticas e ideol6gicas, in s tru~ao ,

s itua~ ao econ6mica ou condi9ao social.». Consagra-se assim, o princfpio de e quipara~ ao,

i.e., os e unico na UE31

Toda a pessoa que resida dentro de um determinado territ6rio cleve ter a oportunidadc

de participar na constr u ~ao de identidades colectivas. Estas identidades podem ser criadas

(10)

n

Manuel Menezes

transformado - salvo raras exce p~ oes- num «direito real» (Viveret, 1991).

Sabendo igualmente, que a nao e fecti va~a o de direitos de cidadania r efo r ~a a exclusao

dos sujeitos que nao tern direito ao seu usufruto, no caso concreto dos irnigrantes,

verifica-mos que esta si tu a~ao aumenta a sua segregac;:ao social dentro das sociedades que os

acolhem, fazendo corn que «( ... ) estas sociedades se jam mais desiguais e os se us sistemas

democniticos se jam menos representatives» (Cf. Baubock, 1994: 220)32

. Encontramo-nos

entao perante uma «forma legal de exclusao» (Gontaroff, 1995), onde os indivfduos- ao nao usufmfrem do direito de voto- sao exclufdos de uma fmma de cidadania pela Jei, ou nas

palavras de Bmja (1995) na l eg itim a~a o do racismo pelos Estados. Is toe, encontramo-nos

perante urn «exclusao intema por motivos extemos»33

, onde indivfduos que sao afectados

pelas decisoes polfticas, paradoxalmente, nao podem participar em actos que legitimam essas mesmas tomadas de decisao, existindo destarte dimensoes da cidadania que

inte-gram somente nacionais de urn deterrninado pais34

.

Sera entao, impmtante questionarmo-nos sob reo significado da palavra cidadao, quan-do habitamos num determinaquan-do local, no qual nao nose perrnitiquan-do exprimir, ou seja, a razao

de ser, da dif eren c i a~ao entre o status de cidadao nacional eo de estrangeiro no que

conceme ao direito a votar ea ser eleito, dado que, pens am os, este tipo de di sc rirnin a~ao

pode colocar em causa a Jegitimidade de algumas decisoes polfticas35

.

No que concerne

a

UE, embora o Tratado de Maastricht criasse alguns direitos que

penetram nas esferas tradicionais das soberanias nacionais: art. sob: direito de voto para

residentes de outros Estados membros nas e l ei~oes locais e nas e lei ~oes para o Parlamento

Europeu; art. so C: protec~ao diplomatica para cidadaos da UE em terceiros pafses, pelos

representantes de outros Estados-membro se nao houver represe nta~ao do seu proprio

Estado; art. so D: direito de pe ti ~ao ao parlamento Europeu. Continua no entanto, a nao

existir coincidencia entre cidadania e residencia na UE (Bmbaker, in Schitter, 1996), dado

que, embora nos encontremos perante urn ava n ~o- formal/ret6rico- ao nivel da

patticipa-~ao polftica para os cidadaos dos diversos Estados-membro36, estas sao medidas

inclusi-vas selectiinclusi-vas ao nao tomru·em em linha de conta- exclufrem- os residentes estrangeiros.

Alguns movimentos sociais tern vindo ultimamente, a exigir modifi ca~oes

relativamen-te

a

l eg i s l a~ao da cidadania europeia, nomeadamente RedeAnti1racista pru·a a Igualdade

na Europa (ARNE), que defende a s ub s titui ~ao da alusao aos «nacionais de urn

Estados--membro», por uma outra que se referira a «qualquer pessoa que resida dentro do te1r it61io

da UE»37

. Estas exigencias tern toda a razao de ser, visto que, e inaceitavel, tanto nas

l eg i s l a~oes especfficas de cada Estado-membro como na l eg i s l a~ao supranacional, que continue a existir em paralelo urn processo de inclusao - s6cio-econ6rnico -e urn processo

de exclusao- polftico - (Wiener, 1996; Habermas, 1994 ), em r e l a~ao a os estrangeiros

residentes, podendo mesmo falru·-se nu m comboio a duas velocidades, onde a int eg ra ~ao

s6cio-econ6mica- ap6s urn processo moroso - viaja no «Alfa» ea int egra~ao polftica

utiliza o comboio «Regional».

Para que esta s itua ~ao seja ultrapassada e necessaria que o debate sob re uma «nova

geografia da cidadania» seja aprofundado e que se adoptem medidas concretas, de forma

a que a cidadania seja construfda nao somente corn base nos l a~os legais de pert e n~a a

(11)

As comunidades imigrantes em Portugal

uma comunidade, mas tambem- como defende Wiener -em la~os baseados na identidade

de perten~a a espa~os dentro da comunidade (1996: 37), permitindo assim, o acesso da cidadania a mais membros do que s6 aos cidadaos dos Estados-membro.

Mas sa ben do

a

partida, que da passagem do discurso

a

pratica- dada a relutancia dos

Estados em perder o controlo sob re a perten~a polftica- ainda ini decorrer algum tempo,

teremos que desenvolver uma ac~ao que vi se a impl eme nt a~ao de medidas facilitadoras

da int egra~ao das comunidades imigrantes na sociedade38

Notas Conclusivas

Chegada a fase final, gostarfamos de tecer algumas considera~oes. Nao e pretensao do

presente texto, que o mesmo se constitua como um produto acabado sobre a realidade das comunidades imigrantes em Portugal, mas antes, que as reflexoes nele contidas possam constituir-se como urn ponto de partida para o debate sob re a cidadania que os imigrantes (nao) possuem, e para o repensar da pnitica- tanto profissional, como do cidadao em geral

-, enquanto pn1tica polftica, que tome em aten~ao o importante papel que a mesma pode

desempenhar na conso lida~ ao da cidadania, reflectindo sob re novas estrategias, novas

respostas, tendo em aten~ao as possibilidades que se colocam diariamente ao cidadao.

Assim sendo, poderemos referir em term os conclusi vos que:

a) 0 tipo de imigra~ao portuguesa assume caracterfsticas especiais que a diferenciam

do tipo de imigra~ao existente no seio da UE., visto que, por urn !ado, nos

encontra-mos perantefluxos deirnigra~ao recentes- s6 a partir de 1974 e que os mesmos se

tomam mais significativos e, por outro, sao na sua maioria provenientes dos PALOP's

(representando em 1995 47,1% do total da imigra~ao legal a residir em Portugal),

propugnando consequentemente a existencia de l a~os culturais significativos, be m

como afinidades lingufsticas claras entre as comunidades irnigrantes ea sociedade

de acolhimento, o que em princfpio facili ta a sua integra~ao.

b) No que concerne a os perfis da imigra~ao e, falando de irnigrantes legais, embora

encontremos comunidades a viver em bairros degradados e por consequencia em

s itua~ao de exclusao, esta existe, pensamos, nao por razoes de xenofobia, mas

devido,

a

propria estrutura da sociedade p01tuguesa. Sendo considerada uma das

mais pobres da UE, s itu a~ao essa, que em paralelo com o padrao de di s tribui~ao

geogn1fica da irnigra~ao- fixa~ao em distritos industrializados do litoral e nos p6los

de at:rac~ao das rnigra~oes portuguesas, tais como: Lis boa, Pmto, Algarve, Serubal

- , vai dificultar a integra~ao na sociedade aos habitantes desses bairros - tanto aos

portugueses como aos imigrantes.

Em paralelo corn as situa~oes referidas supra, encontramos igualmente urn elevado

numero de imigrantes a residirem ilegalmente em Portugal. A justifica~ao para est a

problematica, deve-se em parte, ao processo atribulado de descoloniza<;iio, que

(12)

nn

Manuel Menezes propugnou o regresso/fuga de muitos africanos que detinham a nacionalidade pmtu-guesa e que corn a independencia dos seus pafses, passaram a ser considerados estrangeiros.

Esta situac;ao tern-se vindo a prolongar desde

a

vinte an os, verificando-se que s6

recentemente o Estado portugues assumiu as responsabilidades, em parte devido a directivas da UE. Deste modo, verificamos que por intermedio de urn processo at:ribulado, nu m primeiro momento legalizaram-se 47.000 estrangeiros, numero esse claramente incipiente, dado o conhecimento oficial da existencia de muitos mais imigrantes em situac;ao de ilegalidade. Assim sendo, decorreu em 1996 urn segundo processo de legalizac;ao. Processo esse, corn maior t:ransparencia do que o primei-ro, veriticando-se igualmente um maior empenhamento- por intermedio de acc;oes de sensibilizac;ao e instalac;ao de postos moveis de legalizac;ao- por parte do SEF.

c) To man do em atenc;ao os diplomas que regula m a entrada ea permanencia de estran-geiros em Portugal, nao poderemos de forma alguma aceitar que por raz5es supranacionais sejam esquecidos os lac;os culturais e os deveres especiais que Portugal tem para corn os PALOP's. Encontrando-nos, mesmo, perante um parado-xo, claclo que, nao conseguimos facilmente conciliar um passado/presente onde Portugal se caracteriza como pafs de forte emigrac;ao, corn as

barreiras/discrimina-c;oes que actualmente estao a ser levantadas

a

imigrac;ao de cidadaos oriundos de

pafses externos

a

comunidade. Esta posic;ao sai ainda mais reforc;ada se tomarmos

em atenc;ao que ate ao momento presente, nenhuma das comunidades imigrantes a residir no pafs se encontra numa posic;ao de forte contraste corn a sociedade portu-guesa, vis to que, embora existam diferenciac;oes, existem igualmente clarividentes continuidades, quer no que se refere a identidade lingufstica, a os credos religiosos

e ao modus vivendi, be m como, em relac;ao as condic;oes s6cio-econ6micas.

Destarte, pensamos, que medidas de solidariedade -como os processos de legalizac;ao extraordim'irios- por parte do Estado portugues em relac;ao aos imigrantes ilegais nao sao suficientes, devendo o Estado repensar posic;oes anteriormente adoptadas no que concerne

a imigrac;ao de cidadaos oriundos de Estados que nao pertencem

a

UE. Is to por·que, nao

compreendemos a adopc;ao deste tipo de atitudes e, ao mesmo tempo defendermos que

Portugal - no que concerne

a

aquisic;ao de nacionalidade- possa ser considerado uma

Nac;ao cfvica inclusiva, permitindo a natmalizac;ao atraves da lei do sangue, da lei do solo,

ou da conjugac;ao das duas, aceitando assim, as diferentes identidades etnoculturais-colocanclo-se numa oposic;ao clara em relac;ao aos pafses etnicos exclusivos, que s6 perm

i-tem a aquisic;ao da nacionaliclade com base no ius sanguinis.

Deste modo,

e

necess{u·io repensar que tipo de sociedade desejamos, se uma socieclacle

diferenciacla!exclusiva e injusta ou uma sociedade mais justa!integradora. Senclo entao necessaria, -caso a opc;ao recaia na segunda hip6tese - actuar «politicamente» enquanto cidadaos e enquanto tecnicos do social, visando a diminuic;ao das discriminac;oes existen-tes entre cidadaos estrangeiros de primeira e cidadaos estrangeiros de seguncla.

(13)

As comunidades imigrantes em P01tugal

Ultrapassada que esteja esta situa9ao, urn outro aspecto deve igualrnente ser reequacionado, i.e., a exclusao polftica de residentes estrangeiros, dado que, nao

cornpre-endernos corno

e

que

e

possfvel existir legitimidade dernocn1tica nas decisoes polfticas,

quando urn nurnero significativo de «cidadaos»- afectados por esse tipo de decisoes- nao

pod ern exprirnir-se.

E

entao necessario transforrnar urn direito potencial da Constitui9ao

em direito efectivo, dado que a integra9ao econ6nuca fica bastante fragilizada se em paraielo existir exclusao polftica.

Se ao nfvel supranacional ja se verificaram alguns avan9os Jegislativos, estes clevem ser implementados, implementa9ao essa, que deve tornar em linha de conta nao a inclusao selectiva, visto que, s6 permite a participa9ao dos cidadaos dos Estados-membro, mas a inclusao de todos os cidadaos residentes na UE.

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NOT

AS

2 Entre 1960 e 1975 os fluxos de imigra9ao niio atingiram os 8000 individuos, existindo em Pottugal com residencia legalizada em 1975,28 108 estrangeiros, dos quais 19645 eram europeus.

3 Angola, Mo9ambique, Cabo verde, Guine-Bissau e Siio Tome e Principe, Brasil, Timor.

4 S6 a pmtir deste pcriodo e que se verifica alguma «aberturm> por parte das autoridades pmtuguesas, relativamente ao reconhecimento do direito

a

identidade, hist6ria, cultura ... pr6prias das minorias etnicas existentes em Portugal. 5 No presente texto, ao falannos em Estrangeiros com residencia legalizada, referimo-nos a individuos de

naciona-lidade nao portuguesa, a quem foi concedida uma autoriza9iio de residencia pelos Servi9os de Estrangeiros e

Frontei-l~l~ .

6 Entre 1960 e 1995 o aumento cla imigrayao oriunda de Athca, tem implica9iies directas na correlar;:cio da popular;:clo imigrante em Portugal: 1960: Europeus- 89.8%; Brasileiros- 3%; Africanos- 0.5%; 1995: Africanos- 47.1 %; Europeus - 24.7 %; Brasileiros- 11.8%.

7 Dada a sua maior representayiio pensamos ser importante referir algumas caracteristicas que sao inercntes a csta

(15)

As comunidades imigmntes em Portugal

comunidade. De acordo com Casu·o et all ( 1991 ), sao uma comunidade iminentemente !aboral- ondc a imigra<;iio tem motiva<;oes principalmente econ6micas -, existindo uma maior percentagem de homens em compara<;i\o eo m as mulheres, bem como uma piri\mide etaria comtun peso substancial dos g~ upo s que se enquadram na popula<;iio activa, comuma elevada taxa de actividade, explicitada maioritariamente em profissoes niio especializadas.

8 A reunifica<;i\o familiar

e,

em nossa opiniao, de extrema imp01tancia, dado facilitar a adapta<;i\o do imigrante it soci-edade hospcdcira. lsto e, por umlado, a existencia de ag~·eg ad os familia res e l llll sinal clarividente de que a idcntidadc cultural e social do pais de origem tem continua<;iio (porexemplo, a preserva<;ao dos habitos alimentares ea participa-<;iio em fcstas, religiosas ou niio, que silo vivenciadas pc la familia) e, poroutro, f.1cilitam a integraparticipa-<;iio e adaptaparticipa-<;iio it

nova rcalidade social (por exemplo, a int eg~ ·a <;ao dos filhos na escola, podendo estes constituir-se como mnmeio f.1cilitador da difit&'io da lingua -no seio familiar-da sociedade de acolhimcnto ), evitando o processo de marginaliza<;iio, Cf Carita (1994).

9 Convem salicntar que, cm Coimbra, ainda niio existem infra-estmturas espccificas, nomeadamente ao nivel social, para tazer face a os recentes flux os de imigrantes- principalmente estudantcs -, embora ten ham si do constmidas residencias universitarias estas destinam-se

a

comunidade estudante em geral. Ha necessidade de construir muitas mais residencias, dado, o pre<;o exorbitante do arrendamento dos quartos e as fi·acas condi<;oes de habitabilidade de muitos deles. A constru<;ao deste tipo de infi·a-est111lllras

e

igualmente importante, pm·que, nos \tltimos tempos tem surgido a! guns focos de racism a que tem dificultado o aiTendamento dos quartos a estudantes negros. Assim, pensa-mos ser importante que, para estes casos concretes, scja criado um centro/programa que recolha informa<;iio sob re queixas de discrimina<;iio.

Uma outra questiio, con"C!aciona-se coma questiio dos rendimentos dos estudantes imigrantes, se por 11111 !ado,-segundo a lei da imigra<;iio- elcs nao pod em trabalhar, por outro, temos veriticado que, as suas principais fontes de rendimento -bolsas dos paises de on de siio oriundos -nao tem sido pagas, o que se traduz na precariza<;iio c.las situayoes dos estudantes, existindo a I guns que deixam de estudar durante um semestre, para tentarem encontrar mn emprcgo que lhes proporcione al1:,'1111S rendimentos. Neste aspecto

e

de referir o impOitante papel dos setvi<;os sociais da Uni-versidade que, ao longo dos anos, tem vindo a permitirque os estudantes trabalhem nas cantinas, sendo-lhes atribu-idas senhas de refei<;iio, coma forma de pagamento, o que melhora a situa<;iio ccon6mica de muitos desses estudantcs. I 0 0 Movimento SOS Racismo apresenta dad os similares.

11 Situa<;iio, igualmente vivenciada, no petiodo recente, por pottugueses que tem e mig~·ado para a «Alemanha de Leste». 12 Caso se jam despedidos, niio podem inscrever-se nos Centres de Emprego e, por conscquencia nao recebem o subsidio de desemprego; niio tem direito its presta<;oes familiares; na situa<;iio de doen<;a ficam sem di.reito a assistencia medica ou it compmticipa<;iio na aquisi9iio de medicamentos.

13 A falta de titulo de residencia impossibilita o acesso

a

fonna<;ao profissional. 14 Decreto-Lei n°212/92,de 12de0utubro.

15 Para um estudo mais aprofundado vide relat6tio elaborado em 1993, pelo Secretatiado Coordenador das Associa96es para a Legaliza<;iio, Lisboa.

16 0 pedido era individual e gratuito, devendo o agregado familiar ( constituido pelo conjuge, fil hos men ores ou inca-pazes) do requerente ser identificado, fazendo-se igualmente prova bastante de residencia em comum como condi<;iio de aplica<;iio extensiva do regime previsto na presente lei.

Em caso de defetimento do pedido, era concedida uma regulatiza<;iio extraordinatia provis6ria, emitindo o SEF um titulo de residenciaanual, titulo esse, que seconve1tia em regttlmiza<;iio extraordinatia definitiva no prazo de tres anos, caso niio oconessem medidas penais.

17 0 desconhecimento levava a que muitos esu·angeiros- que se encontravam legais - pensassem que nao era necessaria legalizar a mulher e os filhos. Este tipo de enganos viria a propugnar muitos problemas aquando do terminos do processo extraordinario de legaliza<;iio.

18 Pensamos ser m a is cmTccto falar em asiaticos, m as aquando da recolha dos dados nao estavam ainda disponiveis os rcsultados por pais de origem dos imigrantes que requereram a legaliza<;ao.

19 Decreto-Lei n° 59/93, de 3 deMar<;o. 20 Decreto-Lei n° 60/93, de 3 de Mar<;o. 21 Titulos de residencia:

(a)- de acordo com o diploma geral: Anual, renovavel anuahnentedurante cinco anos; Temporario valido porcinco

(16)

111

Mru1llel Menezes

anos, renovavel de cinco em cinco anos ate aos 20 anos de residencia; s6

e

passado a quem vivcr em Pottugal cinco anos consecutivos; Vitalicio, passado a cstrangeiros residentes no pais ha 20 anos consecutivos.

(b) -de acordo eo m o diploma especial: Cart do de resictenciatempodtrio emitido a favor de: nacionais de um est ado membro da CE admitidos em tenit6rio nacional a fim de ocuparem tnn emprego -por tun periodo superior a t:res meses e inferior a um a no - ao serviyo de mn empregador do pais ou por conta de um prcstador de servivos; Car/(tO de residencia de nacional de um Estado membro da Comunidade Europeia, valido pelo periodo de 5 an os, sendo auto-maticamente renovavel a pedido dos interessados, por periodos de I 0 a nos.

22 Exemplos: Convenyiio de Brasilia de 7/91197 1, com Cabo Verde - Dec. Lei n• 524-G/76, de 5 de Julho- e Guine-Bissau- Dec. Lei n• 115/8 1, de 5 de Setembro.

23 Lei n• 37/81, de 3 de Outubro.

24 (i) Scremmaiores ou emancipados; residirem cm territ6rio Portugues ou sob administrayiio portuguesa, com auto-rizm;iio de rcsidencia valida, ha pelo menos 6 a nos para os nacionais dos PALOP's ou I 0 a nos se foremnacionais de outro pais; (ii) conhecerem suficientementemente a lingua portugucsa; (iii) comprovarcm a existencia de uma ligayiio cfcctiva ~i comunidade nacional (ex.: declarayiio de matricula dos filhos em escolas po1tugucsas, dcclarayocs de anti-gas cntidades patronais, documentos em como prestaram servi90 militar por Portugal, etc.); (iv) tercm idoneidade ci vica; (v) possuircm capacidade para reger a sua pessoa e assegurar a sua subsistencia; niio terem praticado crimes ou actus que violem os principios e valores da comunidade portuguesa.

Existe Oispe11sa de Requisitos (relativos ao tempo de residencia em te1rit6rio portugucs, ao conhccimento da lingua portugucsa ea ligayao nacional a comunidade), se: (i) o cidadiio ja liver tido a nacionalidadc portuguesa e posterior-mcntc a pcrca; (ii) o cidadiio formembro de uma comunidade de ascendencia pottuguesa; (iii) o cidadao forestrangeiro mas ten ha prestado ou tcnha sido chamado a prestar servi9os relevantes ao Estado P01tugues.

25 (i) siio portugucscs de origem: os filhos de pai portugues ou mac portuguesa nascidos em territ6rio portugues ou sob administra9iio portuguesa, ouno estrangciro se o progenitor pottugucs ai se encontrarao servi90 do Estado po1tugues; os fi lhos de pai portugucs ou mae portuguesa nascidos no estrangeiro se declararem que qucrem scr po1tuguescs ou inscrevcrcm o nascimcnto no rcgisto civil p01tugucs; (ii) por adopviio: o adoptado plenamentc por nacional

pmtugu-es

adquirc a nacionalidaclc portuguesa.

26 (i) os individuos nascidos cm terri t6rio portugucs, lilhos de estrangciros que aqui rcsidam com titulo valido de autorizaviio de residencia ha, pelo me nos 6 ou I 0 a nos, confonne se tratc, rcspectivamente, de cicladaos nacionais dos PALOP's ou de outros paiscs, c dcsde que niio se encontrem ao se1viyo do respectivo Estado, sedeclmarem quequcrcm ser portugueses; (ii) os individuos nascidos cm tcrrit6rio portugues quando nao possuam outra nacionaliclade. 27 Por Casamento: o estrangciro casado ha mais de trcs a nos comnacional portugues pode adquirir a nacionaliclade

portuguesa mediante declaraviio feita na constancia do matrim6nio;

28 Assim sendo, surge como oposivao <i aquisiyao de nacionalidade: a niio comprovavao de ligavao atectiva

a

comuni-daclc nacional; o exercicio de fi.mv6es p(tblicas ou a prestayao de servi9o militar niio obrigat6rio a Est ado estrangciro, entre outras.

29 Deve-sc, no entanto, reforvar mais uma vez, que a questao da regularizaviio dos imi!,'Tlliltes e uma questiio prioritaria, dado a mcsma se constituir como uma condiyao essencial para cidadania dos imigrantcs. !'or outras palavras, nao podercmos reclamar novos direitos de cidadania, falando nomeadamente de pmticipayiio politica para os residcntcs lcgais, c cm paralelo dcparanno-nos coma existencia de direitos humanos elementares que ainda nao estao assegu-rados.

30 Podendo referir por exemplo: o Dec. Lei n• 97/77, de 17 de Maryo, que impoc uma percentagem de trabal haclores portugueses - pelo menos 90%, quando o quaclro de pcssoal for constituiclo por mais de cinco trabalhaclores ( concli-cionamento esse que niio abrange os cidacliios dos Estados-membro cla U E); 0 Dec. Lci n• 797/76, cle 6 de Novembro, que s6 pcnnitc a cidadiios nacionais concorrer aos concursos para a concessiio cle habitayoes sociais.

31 Pretencle-se agom analisar as comunidades imigrantes, to man do em atenviio a qucstao chave dos direitos de cidadania, tentanclo cxplicar que o seu ~1mago

c

o gozo ou a exclusao de vitrios direitos- nomeaclamente os direitos politicos-nas socieclaclcs metropol itapoliticos-nas contempori\neas. Sob re este aspecto, pocle-sc Cf. T umer ( 1989).

32 Ncste aspccto

c

importantc o contributo de Gosewinkcl (l995), que chama a atenyao para a integrayiio na soeicdade ou intcgrayiio tr6pico- propriedacle que cxistc na intcrligayiio entre subsistemas e mn sistema maior -, constituinclo-se esta no ea so dos imigrantes, como uma climensiio particular da integrayiio da sociedade politica- Naviio- no seu

(17)

As comunidades imigrantes em Pottugal

m

conjunto ou da int cg ra ~i\o sistemica. Assim senclo, no que diz respeito a os direitos politicos, o seu ni\o usufhtto por parte dos imigrantes, contribui em (iltima am\lise para uma se mi - in tegra~iio sistcmica clacla a niio rcaliza~i\o de uma clas dimensocs que a constitucm.

33 Para tun cstuclo m a is desenvolvido sob re cste assunto pode-se Cf. Boubiick ( 1994).

34 Cheganclo ao extreme de se legislarque ·art. 67 d) do Dec. Lei n• 59/93, de 3 de Mar9o · constitui fundamento de expulsao do tcrrit6rio nacional dos cidadiios: que interfiram de fonna abusiva nos cxercicios de direito de pmticipa9iio politica rcscrvados aos cidadiios nacionais.

35 Pensamos, no case concreto de imigrantcs a viver em baitTos clegradados, que a sua situa9iio pocleria sofl·er melhorias significativas se os mcsmos tivcssem a possibilidacle de votar nas elei96es autarquicas, is to pm·que, os mesmos pocleriam constituir-se come g111po de pressiio influcnciando destmte as decisoes politicas. ao nivcl da habita9iio. da C1mara Municipal.

36 Convcm no cntanto relerir, de acordo eo m Prcub ( 1995), queo processo ainda s6 vai a mcio, visto que, os direitos que apareccm ligaclos il ciclaclania cla UE sctvcmmais o fim-limitado ·de facilitaro livre movimento de pessoas, i. c., garantindo-lhes tun status legal no Estado-mcmbro onde nao sao wn nacional, status esse, que

e

mais f01te do que o de tun cstrangeiro, mas considcravehnente mais fraco do que o dos respectivos nacionais.

37 Poclcremos igualmente rcfcrir que ja em 1994 o Projecto de Carta de Direitos e Deveres de Cidadiios de Paiscs Tcrceiros, previa que· embora numa declarayiio vaga masque pretendia aumentar a possibilidade do exercicio de direitos politicos·«( ... ) todos os ciclaclaos de paises tcrceiros legalmentc residentes na UE tem o direito de exerceruma actividade politica no pais de acolhimento sem prejuizo das limita<;:ocsjustiticadas por razoes de ordem p\tblica e seguran9a p(tblica ( ... )».

38 Sinteticamente, podcremos refcrir algmnas das ac96es que tem vindo a ser desenvolvidas no nosso pais:

(I) Cria9ii0 de wn Conselho Municipal das Comunidades lmigranles e das Minorias Etnicas na Cihnara Municipal de Lisboa. Criado em 1993,

c

wn 6rgiio consultivo da Autarquia, que tem como intuito a colabora<;:iio na defini9iio de politicas municipais que visem a plena integra<;:ao social de minorias · respeitando a identidade propria, os valores ea cultura dos imigrantcs, promovcndo igualmente o dialogo inter-cultural- contrariando fcn6menos de xcnofobia e racismo. Na sua constituiyiio, para alcm de vereadores ligados

a

area social, encontramos i!,'l.tahnente rcprcscntantcs das Associa<;:oes das comunidades que vivem ou trabalham cm Lis boa.

(I!) Por intennedio do Dec. Lei n° 3-A/96, de 26 de Janeiro, foi criado o Alto-Comis.wirio para a lntegm(:rio e Minorias Etnicas · cntidade cle flmbito nacional -ctuo objective ptimordial eo acompanhamento intenninistcrial do apoio li integra9iio de imignmtcs. Comuma fun9iio coordenadora, pretende-se que o mesmo funcionc como fomcntador de parcerias entre as varias cntidades reprcsentativas de imigrantes existentes em Portugal, institui<;:ocs de solidari-edade social e outras entidades p(tblicas ou privadas com intetvenl(iio nesse dominio; bem como, assegurar o acom-panhamcnto e di namizal(iio de politicas activas de combatc a exclusiio, estimulando uma acl(iio horizontal interdcpartamcntal junto dos servi9os da Administra9ao p(tblica e dos depattamentos govcrnamcntais com intervcn-91iO no sector.

(Ill) Embora com tun estatuto um pouco diferente (regc-se pela Lei n• 70/93, de 29 de Setembro: direito de asilo), pensamos ser importante referir o aparecimento de propostas (Cf. RPCM n" 28/96, de 14 de Maio) que visam o desenvolvimento de politicas integraclas, que favore<;:am o acolhimento e inscryao da comunidade timorense em Pmtugal- sendo igualmente desejavel que propostas deste nivel se jam apresentadas para as restantes comunidadcs estrangeiras: a)· promover curses de pmtugues a ministrar a jovens timorenses, por acordos a celebrar pclo Ministcrio da Ed u ca~ao eo m as Organiza96es nao Governamentais (ONG) ou outras entidadcs; b)· conceder equivalencias de estudos, eo m vista

a

plena integra9ao escolar dos jovens nos diversos graus de cnsino e preparar a integra9ao cl as crian9as e jovens em estabelecimentos de ensino; c)· ao nivel do Ministerio para a Qualificayao eo Emprego, asse-gurar o acompanhamento pcrsonalizado dos timorenses nos processes de infonnayiio e orientayao profissional, for-mayao profissional e procura activa de emprego, criando para tal a mticulayiio necessaria com os centros de cmprego e os centres de f o nna~iio profissional da zona de influencia de cada delegayao regional e estabelecenclo acordos de coopera~ao eo m as ONG para a realizayiio dos curses de fonna~ao profissional que se considercm adequacies; d)· ao nivel do Ministcrio da Justi9a, facilitar a obten91io cxpedita da clocument a~ iio necessaria

a

identificayao, facilitando igualmente o apoio juridico a os timorcnses que dele necessitemnas modalidades disponiveis.

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Manuel MetJezes

Apesar da importancia do enunciado supra, gostariamos de referir outro tipo de medidas- multiculturais- que podem ser implementadas em P01tugal: (i) Acc;oes/Programas que procurem aumentar a representa<;iio das comunidades imigrantes nas instituic;oes econ6micas e educacionais; (ii) Rever os curriculos hist6ricos e litcn\rios dentro das escolas pl1blicas, dando maior reconhecimento as contribuic;oes hist61icas e culturais das minorias; (iii) Ao nivel do trabalho, haveruma adaptac;ao aos feriados religiosos de grupos imigrantes, podendo-se dar como exemplo, a niio obrigac;ao de os comerciantes judeus lee harem a os domingos; (iv) Implementa<;ilo nas varias institui<;oes de ensino de programas anti-racistas, be m como o descnvolvimento de investiga<;oes relativamente aos lu\bitos das comunida-des imigrantes; (v) Forneceralgunsservic;os aos imigrantes adultos na sua lingua materna, cm vezde imporqueeles aprendam portugues como condic;ao de acesso aos servic;os pl1blicos; (vi) lmplementac;ao de programas educativos bilingues, para as crianc;as imigrantes, de modo a que os primeu·os anos de educac;ao sejam conduzidos em parte na sua lingua matema, como fa se de transic;iio para a educac;ao dos 2° e 3° ciclos em p01tugues. Sob re a importancia das politicas multiculturais, pode-se CfK ymlicka ( 1996).

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