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CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, EPIDEMIOLÓGICAS E CONCENTRAÇÕES DE SÓDIO E POTÁSSIO NO COLOSTRO DE NUTRIZES HIPERTENSAS E NÃO HIPERTENSAS, ATENDIDAS EM UM SERVIÇO DE SAÚDE EM MARIANA, MG

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Academic year: 2019

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INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

MARÍLIA ALFENAS DE OLIVEIRA SÍRIO

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, EPIDEMIOLÓGICAS E CONCENTRAÇÕES DE SÓDIO E POTÁSSIO NO COLOSTRO DE NUTRIZES HIPERTENSAS E

NÃO HIPERTENSAS, ATENDIDAS EM UM SERVIÇO DE SAÚDE EM MARIANA, MG

(2)

MARÍLIA ALFENAS DE OLIVEIRA SÍRIO

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS, EPIDEMIOLÓGICAS E CONCENTRAÇÕES DE SÓDIO E POTÁSSIO NO COLOSTRO DE NUTRIZES HIPERTENSAS E

NÃO HIPERTENSAS, ATENDIDAS EM UM SERVIÇO DE SAÚDE EM MARIANA, MG

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências Biológicas do

Instituto de Ciências Exatas e Biológicas, da

Universidade Federal de Ouro Preto, como

parte integrante dos requisitos para

obtenção do título de Mestre em Ciências

Biológicas, área de concentração:

Bioquímica Estrutural e Fisiológica

Orientador:

Prof. Dr. Marcelo Eustáquio Silva

(3)

Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br

S619c Sírio, Marília Alfenas de Oliveira.

Características clínicas, epidemiológicas e concentração de sódio e potássio no colostro de nutrizes hipertensas e não hipertensas, atendidas em um serviço de saúde em Mariana, MG . [manuscrito] / Marília Alfenas de Oliveira Sírio. – 2005.

xvi, 125f.: il.,tab.

Orientador: Prof. Dr. Marcelo Eustáquio Silva.

Área de concentração: Bioquímica estrutural e fisiológica.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas.

1. Hipertensão - Teses. 2. Puerpério – Teses 3. Sódio – Teses. 4. Potássio - Teses. I. Universidade Federal de Ouro Preto. Instituto de Ciências Exatas e Biológicas. Núcleo de pesquisas em Ciências Biológicas. II. Título.

(4)

A meus pais Alencar e Maria,

a meu esposo Luiz Carlos,

(5)

AGRADECIMENTOS

A DEUS,

meu parceiro de todos os momentos,

agradeço esta oportunidade

e a alegria de poder concluir

mais este sonho.

AO ORIENTADOR

Prof. Dr. Marcelo Eustáquio Silva,

meus sinceros agradecimentos

pelo conhecimento científico compartilhado

pelos conselhos ditados pela experiência

pelo tempo dedicado

pela segurança transmitida

pelo apoio

pela paciência

(6)

Ao Sr. José da Cruz Vieira, ex-administrador da SBSC – Hospital Monsenhor Horta,

que aprovou e viabilizou a realização deste estudo.

Às nutrizes, pela imprescindível participação.

Ao Dr. Arnaldo Alves da Silva, grande estudioso da hipertensão arterial, com quem

discuti muitos artigos e cuja opinião foi, para mim, valiosa.

À Maria Elizabeth Gomes Murta, bioquímica da SBSC- Hospital Monsenhor Horta,

sempre disposta a responder meus questionamentos, quando este estudo era apenas um

projeto.

À enfermeira Adriana Guerra pela colaboração na aplicação da metodologia escolhida.

Ao Prof. Cornélio de Freitas Carvalho, por ceder o laboratório de Química do ICEB

para a realização das dosagens propostas.

À Profª Cristina Passos, que elegemos como nossa co-orientadora.

Ao Prof. Rinaldo Cardoso dos Santos, pela revisão criteriosa deste trabalho.

A Antônio Otávio de Souza Sobrinho, estudante do curso de Química Industrial, que

auxiliou na realização das dosagens bioquímicas.

A Heberth de Paula, pela assistência no processamento dos dados.

À Cida, Goreth e Jair, pela atenção, carinho e competência na função que exercem na

Secretaria do NUPEB, Biblioteca da ENUT e Laboratório de Nutrição Experimental da

ENUT, respectivamente.

Aos professores do NUPEB, por terem me proporcionado grandes momentos de

aprendizagem e atualização de meus conhecimentos científicos.

Aos colegas do mestrado, especialmente a Ana Paula e Maria Luísa, pela amizade e

apoio e à Cléia Barbosa, nutricionista entusiasta do aleitamento materno, com quem

(7)

RESUMO

O colostro, que é o primeiro leite secretado após o parto, é rico em proteínas,

vitaminas e sais minerais, dentre eles o sódio e o potássio. Estes são dois nutrientes

essenciais ao organismo e estão envolvidos na regulação da osmolaridade, pH e volume

dos líquidos corporais. Já é bem documentado o papel do sódio na regulação da volemia

e um consumo elevado de sódio, principalmente por indivíduos sal-sensíveis, é

fundamental na gênese da hipertensão arterial sistêmica. O potássio exerce uma função

protetora contra a hipertensão, frente a um elevado consumo de sódio. O objetivo deste

estudo foi comparar as concentrações de sódio e potássio no colostro de 48 horas de 105

puérperas nutrizes, sendo 33 hipertensas e 72 não hipertensas, atendidas na SBSC –

Hospital Monsenhor Horta, em Mariana-MG, de junho a novembro de 2003. Dados

dessas nutrizes foram obtidos de entrevista estruturada e busca em prontuários médicos.

A coleta do colostro seguiu técnica recomendada por VINHA (1987, 1994) e as

determinações dos íons no colostro seguiram recomendações de KEENAN et al (1982).

As nutrizes foram selecionadas para os grupos das não hipertensas (68,6 %) com média

de PA de internação de 111/70 mmHg e hipertensas (31,4%) com média de PA de

internação de 159/103 mmHg. As médias das concentrações de sódio e potássio obtidas

no colostro de 48 horas das nutrizes não hipertensas foram, respectivamente, 87,2 (±

4,31) mmol/L e 14,45 (± 4,24) mmol/L, e no grupo das nutrizes hipertensas foram,

respectivamente, 87,75 (± 11,83) mmol/L e 14,49 (± 4,24) mmol/L. Quando se testaram

associações da hipertensão com os níveis de sódio e potássio no colostro, bem como

com as variáveis: idade, paridade, história familiar (mãe e pai) de hipertensão arterial

sistêmica, idade gestacional, peso do recém-nascido e fatores socioeconômicos, apenas

a idade e a paridade associaram significativamente com a hipertensão (p≤0,05). Quando se testaram associações das concentrações de sódio e potássio com as variáveis acima

citadas, encontrou-se associação significativa (p≤0,05) da variável história paterna de hipertensão com a concentração de sódio no colostro, e da variável idade com a

concentração de potássio no colostro. Pelo presente estudo conclui-se que as médias das

concentrações de sódio e potássio no colostro de 48 horas das nutrizes não hipertensas e

hipertensas não apresentaram diferenças significativas.

(8)

ABSTRACT

Colostrum, the first milk secreted after delivery, is rich in proteins, vitamins and

minerals, sodium and potassium amongst them. These are essential nutrients to the

organism and are involved in the regulation of osmolarity, pH and volume of corporals

fluids. The role of sodium in the regulation of volemy is well documented and a high

sodium intake, especially by sal-sensivite individuals, is considered as fundamental in

the genesis of arterial systemic hypertension. Potassium exerts a protective function

against hypertension in the presence of a high sodium intake. The aim of this study is

comparing the concentrations of sodium and potassium in the 48-hour colostrum of 105

breast-feeders mothers in postpartum period, 33 hypertensive and 78 non hypertensive,

attended at SBSC - Monsenhor Horta hospital, Mariana, MG, from june to november

2003. Data from these mothers were obtained from a structured interview and from a

search in the medical registers of patients. Colostrum collection followed the technique

recommended by Vinha (1987, 1994) and ion determinations in colostrum were done

according to Keenan et al. (1982). Mothers were selected for the groups of non

hypertensive (68,8%) with average of admission blood pressure of 111/70 mmHg and

hypertensive (31,4%) with average of admission blood pressure of 159/103 mmHg. The

average concentrations of sodium and potassium obtained from 48-hour colostrum of

non hypertensive mothers were respectively 87,2 (± 14,31) mmol/L and 14,45 (± 4,24)

mmol/L; amongst the hypertensive ones the values were 87,75 (± 11,83) mmol/L and

14,40 (± 4,24) mmol/L. When associations of hypertension with colostrum levels of

sodium and potassium, as well as the variables: age, parity, family (father and mother)

history of hypertension, gestational age, weight of the newborn and socioeconomical

factors were tested, only age and parity were significantly associated with hypertension

(p≤0,05). When associations of sodium and potassium concentrations with the above cited variables were tested, positive results (p≤0,05) were found between age and colostrum potassium concentrations. In the present study the average concentrations of

sodium and potassium in the colostrum of non hypertensive and hypertensive

breast-feeders mothers showed no significant differences.

(9)

SUMÁRIO

RESUMO ...VI

ABSTRACT...VII

1. INTRODUÇÃO...1

2. REVISÃO DA LITERATURA...3

2.1. Aleitamento Materno...3

2.1.1. A síntese do leite humano...3

2.1.1.1. Aspectos morfofisiológicos da lactação...3

2.1.1.2. A produção celular do leite humano...5

2.1.1.3. Controles neuroendócrinos da lactação...8

2.1.2. O colostro...9

2.1.3. Sódio e potássio no leite humano...12

2.1.4. A percepção do sabor salgado...14

2.1.5. Amamentação e a idade materna...16

2.1.6. Breve histórico do aleitamento materno no Brasil ...18

2.2. Hipertensão Arterial ...25

2.2.1.Definição e dados epidemiológicos...25

2.2.2. Aspectos etiopatogênicos e fisiopatológicos...27

2.2.3. Regulação da pressão arterial...30

2.2.4. Sódio, potássio e a hipertensão arterial...35

2.2.5. A sensibilidade ao sal...42

2.2.6. A hipertensão na gestação...46

2.2.7. Fatores de risco na infância para HAS tardia...51

3. OBJETIVOS...56

(10)

3.2. Objetivos específicos...56

4. MATERIAL E MÉTODOS...57

4.1. Natureza do estudo...57

4.2. População do estudo...57

4.3. O processo amostral...58

4.4. Instrumento de coleta de dados...60

4.5. Obtenção da amostra...60

4.6. Preparação da amostra e análise...62

4.7. Variáveis obtidas da entrevista...62

4.7.1. Idade materna...62

4.7.2. Paridade...62

4.7.3. História familiar de HAS...62

4.7.4. Idade gestacional...63

4.7.5. Peso ao nascer...63

4.7.6. Indicadores socioeconômicos...63

4.8. Análise estatística...63

4.9. Aspectos éticos...63

5. RESULTADOS...64

5.1. Forma de apresentação...64

5.2. Caracterização das nutrizes...65

5.3. Caracterização dos grupos de nutrizes não hipertensas e hipertensas...73

5.4. Concentrações de sódio e potássio no colostro...78

5.5. Estudos de associações...82

6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...88

(11)

6.2. Hipertensão...96

6.3. Níveis de sódio e potássio no colostro das nutrizes...100

6.4. Estudos de associações com as concentrações de sódio e potássio no colostro...106

7. CONCLUSÕES...109

8. PERSPECTIVAS...110

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...111

(12)

Lista de Gráficos e Tabelas

GRÁFICO 1. Distribuição das nutrizes do estudo, atendidas na SBSC – Hospital

Monsenhor Horta, em Mariana - MG, quanto ao estágio de vida: adolescentes (10 a 19

anos) e adultas (idade igual ou superior a 20 anos) nas diferentes faixas etárias

GRÁFICO 2. Distribuição das nutrizes do estudo, atendidas na SBSC – Hospital

Monsenhor Horta, em Mariana – MG, quanto a paridade: primíparas (que tiveram

apenas um parto) e multíparas (que tiveram mais de um parto), por faixa etária.

GRÁFICO 3. Distribuição das nutrizes do estudo, atendidas na SBSC – Hospital

Monsenhor Horta, em Mariana – MG, quanto à procedência: zona rural e zona urbana,

por faixa etária

GRÁFICO 4. Distribuição percentual por faixa etária, das nutrizes do estudo, atendidas

na SBSC – Hospital Monsenhor Horta, em Mariana – MG, segundo a renda familiar

bruta mensal, em termos de números de salários mínimos

GRÁFICO 5. Distribuição percentual por faixa etária, das nutrizes do estudo, atendidas

na SBSC – Hospital Monsenhor Horta, em Mariana - MG, segundo o comparecimento

ao pré-natal

GRÁFICO 6. Distribuição percentual por faixa etária, das nutrizes do estudo atendidas

na SBSC – Hospital Monsenhor Horta, em Mariana - MG, segundo o acesso a

(13)

GRÁFICO 7. Distribuição percentual das nutrizes adolescentes atendidas na SBSC –

Hospital Monsenhor Horta, em Mariana – MG, segundo o acesso a orientações para o

sucesso do aleitamento materno através de diferentes agentes: profissionais da saúde

(Prof), amigos, parentes, livros, revistas e televisão (TV)

GRÁFICO 8. Distribuição percentual das nutrizes adultas atendidas na SBSC – Hospital

Monsenhor Horta, em Mariana – MG, segundo o acesso a orientações para o sucesso do

aleitamento materno através de diferentes agentes: profissionais da saúde (Prof),

amigos, parentes, livros, revistas e televisão (TV)

TABELA 1. Classificação diagnóstica da hipertensão arterial

TABELA 2. População estimada de adolescentes e adultos na cidade de Mariana, MG,

em 2004

TABELA 3. Aspectos dos nascimentos, no período de 1998 a 2001 no município de

mariana, MG

TABELA 4. Caracterização das nutrizes do estudo – número (n) e porcentagem (%),

atendidas na SBSC – Hospital Monsenhor Horta, em Mariana - MG, quanto à idade,

paridade e história familiar de hipertensão, idade gestacional e peso do recém-nascido, e

distribuição dessa população nos grupos das nutrizes não hipertensas e hipertensas que

apresentaram: hipertensão arterial sistêmica crônica, doença hipertensiva específica da

gravidez (DHEG) ou DHEG superposta à hipertensão arterial crônica (DHEG + HASc)

TABELA 5. Média dos pesos dos recém-nascidos (RNs), em gramas, das nutrizes

atendidas na SBSC - Hospital Monsenhor Horta, em Mariana-MG, que compuseram os

(14)

TABELA 6. Média dos valores, em mmHg, obtidos das aferições das pressões arteriais

sistólicas de internação (PASI) e de coleta (PASC) e pressões arteriais diastólicas de

internação (PADI) e de coleta (PADC), das nutrizes atendidas na SBSC - Hospital

Monsenhor Horta, em Mariana – MG., distribuídas nos grupos das nutrizes não

hipertensas e hipertensas

TABELA 7. Médias das concentrações de sódio e potássio, em mmol/L, no colostro

das nutrizes atendidas na SBSC - Hospital Monsenhor Horta, em Mariana-MG,

distribuídas nos grupos das nutrizes não hipertensas e hipertensas

TABELA 8. Médias de sódio e potássio (em mmol/L) no colostro das nutrizes do

estudo, caracterizadas pelas variáveis biológicas: estágio de vida, paridade, história

familiar de hipertensão, idade gestacional e peso do recém-nascido, atendidas na SBSC

- Hospital Monsenhor Horta, em Mariana, MG.

TABELA 9. Associação entre as variáveis maternas, peso ao nascer, aspectos do

pré-natal e situação sócio-econômica das nutrizes atendidas na SBSC – Hospital Monsenhor

Horta, em Mariana - MG, e a presença ou ausência de hipertensão arterial nas nutrizes

do estudo

TABELA 10. Associação entre as variáveis maternas, peso ao nascer, aspectos do

pré-natal e situação sócio-econômica das nutrizes atendidas na SBSC – Hospital Monsenhor

Horta, em Mariana - MG, e os valores de sódio referidos como faixa de normalidade

TABELA 11. Associação entre as variáveis maternas, peso ao nascer, aspectos do

pré-natal e situação sócio-econômica das nutrizes atendidas na SBSC – Hospital Monsenhor

(15)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS UTILIZADAS NESTE ESTUDO

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

SBSC – Sociedade Beneficiente São Camilo

HAS – hipertensão arterial sistêmica

HASc – hipertensão arterial sistêmica crônica

DHEG – doença hipertensiva específica da gestação

PS – pressão sangüínea

PAS – pressão arterial sistólica

PASI – pressão arterial sistólica de internação

PASC – pressão arterial sistólica de coleta

PAD – pressão arterial diastólica

PADI – pressão arterial diastólica de internação

PADC – pressão arterial diastólica de coleta

Na – sódio

K – potássio

RN – recém-nascido

(16)

Significado das Palavras-Chaves

- Hipertensão Arterial Sistêmica: níveis pressóricos iguais ou superiores a 140/90

mmHg para a população adulta.

- Puerpério: período em que as modificações locais e sistêmicas provocadas pela

gravidez e parto no organismo da mulher retornam à situação do estado pré-gravídico.

- Sódio: é o cátion mais abundante no espaço extracelular dos seres do reino animal,

determinando o volume de fluido estracelular. Regula a osmolaridade, pH e volume dos

líquidos corporais.

- Potássio: é o principal cátion do líquido intracelular. Juntamente com o sódio está

envolvido na manutenção do equilíbrio hídrico normal, equilíbrio osmótico e equilíbrio

(17)

1. INTRODUÇÃO

Muito tem-se estudado sobre a nutrição dos seres humanos e sua relação com as

doenças crônico-degenerativas na vida tardia. Em se tratando de nutrição, o primeiro e

mais natural dos alimentos disponíveis ao ser humano é o leite materno e, mais

especificamente, o colostro: a primeira secreção das glândulas mamárias destinada ao

recém-nascido, que lhe confere nutrição, hidratação e proteção. O leite materno é

extremamente defendido como o alimento mais apropriado e seguro ao lactente. Mota

(1990) cita Guimarães, que em 1858 já afirmava ser o leite humano um alimento

especial e de excelência, e recomendava usar nos primeiros seis meses, leite humano

exclusivo e, só após o aparecimento dos primeiros dentes, introduzir outros alimentos.

Inúmeros trabalhos foram realizados sobre a composição química do leite

materno, na tentativa de desvendar o que o torna capaz de garantir o crescimento e

desenvolvimento adequado da criança no primeiro ano de vida. Sabe-se hoje, da

presença de imunoglobulinas capazes de conferir imunidade ao lactente, da quantidade

de ferro que, embora seja pequena, é de ótima biodisponibilidade ao organismo do

recém-nascido, dos ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa, dentre eles o

docosahexaenóico, de grande importância para o desenvolvimento do sistema nervoso,

da estrutura especial da caseína (micelas pequenas e leves) que a torna melhor digerível.

Ainda assim, a composição do leite humano ainda não foi exaustivamente estudada.

Poucos trabalhos abordaram a composição do leite materno com relação aos íons sódio

e potássio. Poucos trabalhos também abordaram qualquer relação do leite materno a

enfermidades. O presente estudo tem o propósito de investigar a possível existência

dessa relação.

Neste contexto, considerando as doenças crônico-degenerativas, e tendo a

nutrição como uma de suas múltiplas causas, ressaltamos a hipertensão arterial que é, na

atualidade, um dos males de maior prevalência na população mundial, observado nos

diferentes grupos étnicos e nas diversas faixas etárias, alcançando altas taxas de

morbi-mortalidade. Já é fato comprovado na comunidade científica a correlação entre a

elevada ingestão de sódio e a hipertensão arterial em animais de laboratório e nos seres

(18)

elevação dos níveis pressóricos em conseqüência ao consumo de uma dieta

hiperssódica.

O consumo de sódio entre 5 e 15 mmol/dia para crianças de zero a seis meses e

entre 11 e 33 mmol/dia para a idade de seis a doze meses é considerado apropriado,

seguro e adequado. Consumos excedentes a estes valores deveriam ser evitados como

medida de precaução para crianças, que podem ser hereditariamente predispostas à

hipertensão arterial sistêmica (SCHAEFER & KUMANIKA, 1985).

Segundo Contreras (1978), a exposição precoce a alimentos altamente salgados

pode promover um consumo crônico excessivo de sal, na medida em que o apetite

humano para quantidades supra-normais de sal é suposto de ser culturalmente induzido.

Uma vez adquirido, na primeira infância, o hábito do consumo de elevadas

concentrações de sódio, e baixas concentrações de potássio, o ser humano teria maior

predisposição às doenças cardiovasculares, independente do contexto social em que se

insere ou da existência de um fator genético que o predispõe à hipertensão arterial

sistêmica.

Nota-se, então, a importância de se estudar a nutrição infantil para, se

necessário, propor mudanças precoces no hábito alimentar, que venham beneficiar a

saúde, prevenindo patologias futuras e garantindo uma melhor qualidade de vida ao ser

humano.

Poderia, então, o leite materno de nutrizes hipertensas conter níveis de sódio e

potássio inapropriados ao recém-nascido, expondo-o a condições de risco para

hipertensão arterial na vida adulta? Para conhecer as concentrações de sódio e potássio

no colostro de 48 horas de nutrizes hipertensas e não hipertensas, realizou-se o presente

estudo envolvendo as nutrizes atendidas na clínica obstétrica da Sociedade Beneficente

São Camilo – Hospital Monsenhor Horta, situado na cidade de Mariana, MG, no

(19)

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. ALEITAMENTO MATERNO

2.1.1. A SÍNTESE DO LEITE HUMANO

2.1.1.1. ASPECTOS MORFOFISIOLÓGICOS DA LACTAÇÃO

Lactação é uma característica única dos mamíferos e esta capacidade de

proporcionar alimento ideal para filhos, independente da estação do ano, confere-lhes

vantagens evolutivas sobre outras espécies (OMS, 1994). O leite é produzido na

glândula mamária mais especificamente nas células alveolares (EUCLYDES, 1997).

As glândulas mamárias sofrem a maioria de sua morfogênese pós-natalmente na

adolescência e idade adulta, em contraste com a maioria dos órgãos, que são

desenvolvidos pré-natalmente (LAWRENCE & LAWRENCE, 1999).

O desenvolvimento intra-uterino da glândula mamária se inicia no fim da 6ª

semana de gestação (OMS,1994). Valdés et al (1996) e Carmo et al. (2002) discorrendo

sobre a fisiologia mamária, citam 3 fases distintas do processo de lactação: a

mamogênese - desenvolvimento da glândula mamária e início da produção do leite na

gestação, a lactogênese (ou apojadura) - início da lactação e a lactopoiese (ou

galactopoiese) - manutenção da lactação.

As mamas são preparadas para a amamentação desde a 16ª semana de gestação,

sem nenhuma intervenção ativa da mãe. Elas se mantêm inativas devido a um balanço

de hormônios inibitórios que suprimem as respostas de células-alvo. Nas primeiras

horas e dias pós-parto, as mamas respondem a mudanças no meio hormonal e a

estímulos gerados pela sucção do recém-nascido, para produzir e liberar o leite

(LAWRENCE & LAWRENCE, 1999).

Uma complexa seqüência de eventos, governada pela ação hormonal, prepara a

mama para a lactação. A proliferação lóbulo-alveolar e ductal dependem de hormônios

(20)

sexuais, especialmente o estrógeno. Pouco antes da puberdade, uma expansão mais

rápida do sistema de ductos inicia-se nas fêmeas, sob ação do estrogênio. O completo

crescimento dos alvéolos requer estimulação pela progesterona (LAWRENCE &

LAWRENCE,1999).

A glândula mamária é formada por três tipos de tecidos: o glandular do tipo

túbulo-alveolar, o conjuntivo, que conecta os lóbulos e o adiposo, que ocupa os espaços

inter-lobulares (VALDÉS et al., 1996).

Figura 1. Anatomia da Mama

Na mulher madura a mama contém entre 15 a 25 segmentos ou lóbulos de tecido

glandular envolvidos pelo tecido conjuntivo (OMS,1994). Segundo King (1994), o

tecido glandular formando alvéolos, produz o leite que posteriormente é conduzido ao

mamilo através de pequenos canais ou ductos. Antes de atingir o mamilo, os ductos se

tornam mais largos e formam os seios lactíferos, nos quais o leite é armazenado.

Aproximadamente 10 - 20 ductos muito finos ligam os seios lactíferos ao exterior,

através do mamilo (KING, 1994). Segundo a OMS (1994), os ductos mamários

principais (seios lactíferos) se distendem sob a aréola, área pigmentada em volta do

(21)

milímetros da superfície da pele, serve provavelmente como um marcador visual para o

bebê. O leite é coletado nos seios lactíferos, que são comprimidos tanto na

amamentação quanto na ordenha manual.

2.1.1.2. A PRODUÇÃO CELULAR DO LEITE HUMANO

A biossíntese do leite envolve um sítio celular onde ocorrem os processos

metabólicos (LAWRENCE & LAWRENCE, 1999). A secreção do leite é o processo

pelo qual as células epiteliais dos alvéolos da glândula mamária sintetizam os

constituintes do leite e os entregam ao lúmen glandular (VALDÉS, et al., 1996).

Os alvéolos mamários e os condutos menores são recobertos por uma camada de

células epiteliais que secretam continuamente ao lúmen (NEVILLE, 1987). Os

componentes do leite são obtidos por síntese da célula mamária ou por transporte do

plasma sanguíneo através destas células. Cada célula secretora da glândula mamária

funciona como uma unidade completa, produzindo leite com todos os seus constituintes

(VALDÉS et al., 1996).

As células secretoras são polarizadas com abundante retículo endoplasmático

rugoso e dictiossomos Golgi acima do núcleo, que é pequeno e rodeado por muitas

mitocôndrias. A superfície apical tem microvilosidades e a superfície basal é

extensivamente convoluta para o transporte ativo de materiais da corrente sangüínea

para dentro da célula. As células secretoras são cuboidais, mudando para uma forma

cilíndrica pouco antes da secreção do leite (LAWRENCE & LAWRENCE, 1999).

Neville (1991), Valdés, et al, (1996) e Lawrence & Lawrence (1999) relataram

sobre os mecanismos pelos quais os constituintes do leite são carreados pela célula

epitelial do alvéolo até o lúmen alveolar. Segundo esses autores, os mecanismos são:

- Difusão: água e íons monovalentes (sódio, potássio, cloro, etc.) se

difundem através da membrana das células alveolares até o lúmen

(22)

- Exocitose: a membrana que envolve proteínas e certos carboidratos se

funde à membrana celular, que se abre e deixa sair a proteína livre de sua

membrana envolvente até a luz alveolar.

- Proteínas, lactose, cálcio, fosfato e citrato são armazenados dentro das

vesículas do Golgi e passam para dentro do lúmen dos alvéolos por

exocitose.

- Secreção apócrina: os lipídios são secretados por este mecanismo, no

qual a célula perde parte de sua membrana e citoplasma e passa a fazer

parte dos glóbulos de gordura.

- Pinocitose: as imunoglobulinas são transportadas pelas células alveolares

através de um receptor transcelular.

- Via Paracelular: onde células e outros componentes obtidos do plasma ou

fluído intersticial passam livremente para o lúmen alveolar através dos

espaços intercelulares, existentes durante a gestação, mas que se fecham

assim que a lactação seja bem estabelecida.

Segundo Valdés et al. (1996), nos três primeiros dias pós-parto as mamas

aumentam de volume e o fluxo sangüíneo das mamas aumenta ainda mais. As células

secretoras aumentam de tamanho, mostram abundante retículo endoplasmático,

desenvolvido aparelho de Golgi e numerosas microvilosidades no seu pólo apical.

Inicia-se o fechamento dos espaços intercelulares e quando os alvéolos se distendem

para secreção do colostro (ou do leite), as células epiteliais perdem sua forma cuboidal e

tornam-se achatadas.

Durante a gestação, a glândula mamária acumula no lúmen dos alvéolos uma

substância denominada de pré-colostro, também chamada de leite pré-parto (ALLEN,

1991). O pré-colostro é formado principalmente por exsudato do plasma, células,

imunoglobulinas, lactoferrina, soroalbumina, sódio, cloro e uma pequena quantidade de

lactose (VALDÉZ, 1996). Segundo Lawrence & Lawrence (1999) sua composição

(23)

durante a gravidez, permitindo que fluidos e solutos fluam entre o espaço lácteo e o

fluido intersticial da glândula mamária. Sódio, potássio, cloro, magnésio, cálcio, fosfato,

sulfato e citrato passam através da membrana das células alveolares em ambas direções.

Água também passa em ambas direções, predominantemente das células alveolares, mas

também do fluído intersticial.

Allen, et al. (1991), relatam, segundo dados obtidos do estudo da composição do

leite humano, uma concentração de sódio no leite pré-parto igual a 61,3 ± 25,8 mmol/L

e de potássio igual a 18,3 ± 5,6 mmol/L.

À iniciação da lactação, mudanças nas junções “tight” de vazadas para muito

justas bloqueiam o movimento paracelular de lactose e íons (LAWRENCE &

LAWRENCE, 1999). Segundo Allen, et al. (1991) a via paracelular se fecha e a

concentração de sódio e cloro no leite sugere que o fluxo através da via paracelular deva

ser muito baixo comparado com processos da membrana plasmática que opera para

manter a concentração dessas substâncias no leite.

Presume-se que a concentração intracelular de potássio é mantida alta, e aquela

de potássio baixa, por uma bomba na membrana basal (LAWRENCE &

LAWRENCE,1999). Nickerson & Akers (1984) afirmam que durante o estabelecimento

da lactação há um fluxo constante de íons do epitélio alveolar para o leite que é

continuamente produzido. Para Lawrence & Lawrence (1999), o sódio e o potássio são

distribuídos de acordo com o gradiente de potencial elétrico. O leite é eletricamente

positivo, quando comparado com o fluido intracelular.

Nos primeiros dias após o parto, a glândula mamária secreta o colostro: um

fluído amarelado e viscoso que preenche as células alveolares no último trimestre da

gestação, sendo secretado por alguns dias após o nascimento (OMS,1994; KING, 1994;

(24)

2.1.1.3. CONTROLES NEUROENDÓCRINOS DA LACTAÇÃO

A produção do leite numa glândula mamária previamente preparada depende

fundamentalmente da prolactina, hormônio hipofisário que atua nas células alveolares

determinando a síntese do leite (OMS, 1994, VALDÉS, et al.1996, CARMO et al,

2002).

No terceiro trimestre da gravidez, os níveis plasmáticos de prolactina estão

muito elevados, contudo sua ação galactopoiética permanece bloqueada pelos altos

nÍveis de esteróides placentários, especialmente a progesterona (VALDÉS et al., 1996).

Os receptores lactogênicos que têm afinidade semelhante para prolactina e lactogênio

placentário humano (HPL), são predominantemente ocupados pelos HPL (LAWRENCE

& LAWRENCE, 1999). A dequitação placentária determina o brusco decréscimo dos

hormônios placentários, desbloqueando a glândula mamária face ao estímulo da

prolactina, iniciando-se a lactogênese (VALDÉS, et al. 1996).

A OMS (1994) descreve sobre os reflexos maternos envolvidos na lactação: o da

produção do leite, envolvendo o hormônio prolactina e o de ejeção de leite envolvendo

a ocitocina. Ambos são sensíveis à força motora da lactação: a sucção. A estimulação

das terminações nervosas do complexo mamilo-areolar pelo bebê envia impulsos pela

via neural reflexa aferente para o hipotálamo, resultando na secreção de prolactina pela

hipófise anterior e ocitocina pela hipófise posterior. A prolactina ganha a corrente

sangüínea, chega às mamas e estimula a produção alveolar inicial, ativa a transcrição de

genes relacionados à síntese de proteínas do leite, da alfa-lactalbumina e, portanto, da

lactose nas células alveolares.

O leite que encontra-se nos alvéolos mamários não flui espontaneamente até os

seios lactíferos, devido à pressão capilar dentro dos condutores microlobulares e,

portanto, não se encontra disponível ao lactente. Este só pode extrair o leite da glândula

mamária quando o leite chega aos seios lactíferos como resposta ao reflexo de descida

do leite (VALDÉS et al., 1996). Da mesma forma que a prolactina, a ocitocina é

produzida quando as terminações nervosas do mamilo são estimuladas pela sucção

(25)

Segundo Valdés, et al. (1996), microfibrilas mioepteliais que rodeiam os

alvéolos têm receptores específicos para a ocitocina, que chega às mamas pela corrente

sangüínea. A ocitocina produz a contração das microfibrilas mioepiteliais provocando

compressão dos alvéolos e promovendo a ejeção do leite.

O reflexo de ejeção desencadeado pelo estímulo da boca do recém-nascido sobre

a aréola e o mamilo determina que o leite flua dos alvéolos até os condutos maiores e

seios lactíferos, de onde pode ser removido pelo lactente (VALDÉS et al., 1996).

Embora a liberação de ambas ocitocina e prolactina seja desencadeada pela

estimulação dos mamilos, alguma ocitocina é liberada por outras vias sensoriais, tais

como a visual, tátil, olfatória e auditiva. Assim, a mulher pode liberar leite se visualizar,

tocar, ouvir, sentir o cheiro ou pensar em sua criança (NEWTON, 1992). Para a

manutenção da secreção do leite, lactopoiese, durante o período pós-parto, o principal

fator é representado pelo reflexo neuroendócrino da sucção (CARMO et al, 2002).

2.1.2 - O COLOSTRO

Os estágios consistentemente identificáveis do leite humano são colostro, leite

de transição e leite maduro e seus relativos conteúdos são significantes para

recém-nascidos e suas adaptações fisiológicas para a vida extra-uterina (LAWRENCE &

LAWRENCE, 1999).

Durante os primeiros quatro dias após o parto, a glândula mamária produz o

colostro, fluido amarelado e espesso composto pelo pré-colostro que vai se mesclando

progressivamente com o leite que começa a ser produzido (VALDÉS et al,1996).

O colostro é a primeira secreção láctica da nutriz após o parto e é um alimento

de alta densidade e pequeno volume (OMS, 1994). O volume de colostro nos primeiros

dias pós-parto varia de 2 a 20 mL por mamada, sendo suficiente para satisfazer as

necessidades do recém-nascido (VARELA, 1983; KING, 1994; VALDÉZ, 1996). No

início, o recém-nascido recebe pequeno e importante volume de colostro e, no prazo de

(26)

OMS (1994) e Lawrence & Lawrence (1999) relataram que o colostro possui

mais proteínas, vitaminas lipossolúveis (A, E e K) e minerais como o sódio, potássio,

cloro e zinco e menos lactose, gordura e vitaminas hidrossolúveis. O colostro possui

quase três vezes mais proteínas que o leite maduro. Também as vitaminas lipossolúveis

encontram-se em alta concentração no colostro, destacando-se o beta-caroteno, que

confere sua cor amarelada (VALDÉZ, 1996).

O colostro evolui para leite maduro entre 3 a 14 dias após o parto. (OMS, 1994).

O colostro humano é conhecido por diferir do leite maduro na composição. O valor

médio de energia é 67 Kcal/dL comparado com 75 Kcal/dL do leite maduro

(LAWRENCE & LAWRENCE, 1999).

Segundo Lawrence & Lawrence (1999) a gordura contida principalmente no

centro dos glóbulos, aumenta de 2% no colostro para 2,9% no leite de transição e 3,6%

no leite maduro. A concentração de gordura na secreção pré-parto é apenas de 1 g/dL e

93% desta gordura é triglicerídeo, aumentando para 97% no colostro. Os diglicerídeos,

monoglicerídeos e ácidos graxos livres, todos aumentam da secreção pré-parto para a

secreção pós-parto. O nível de fosfolípides declina nesse mesmo período, do colostro

para o leite maduro. A glândula mamária também secreta o colesterol que está

envolvido no desenvolvimento do tecido cerebral e na mielinização das células

nervosas.

Além de nutrir e hidratar, o colostro desempenha um papel crucial na proteção

do recém-nascido contra infecções (OGRA & OGRA., 1989). O número de células

mononucleares imunologicamente competentes tem seu mais alto nível no colostro

(LAWRENCE & LAWRENCE, 1999). O colostro humano e o leite materno contêm

uma série de elementos celulares, como macrófagos, leucócitos, células epiteliais,

linfócitos e outras e acredita-se que existe uma série de reações celulares dinâmicas no

leite materno (OGRA & OGRA, 1989). O leite humano, principalmente na fase de

colostro, fornece estímulo necessário para o desenvolvimento dos mecanismos de

defesa intestinal, ou seja, ele contém fatores tróficos, incluindo hormônios, fatores de

crescimento, peptídeos, aminoácidos e glicoproteínas, os quais desempenham

(27)

também, rico em imunoglobulinas, principalmente a IgA secretora (IgAS), que

encontram-se ativas para uma gama de patógenos e antígenos alimentares (HANSON et

al, 1989). O componente secretor, ou peça de transporte, é elaborado nas células

alveolares das mamas e une duas moléculas de IgA sérica, formando o complexo

dimérico IgA-secretor, que passa para o leite, onde apresenta propriedades antigênicas

especiais de amplo espectro de ação (ALMEIDA, 1999) protegendo a criança até que

ela comece a produzir seus próprios anticorpos (KING, 1994). Outro papel

antimicrobiano, de efeito bacteriostático, é desempenhado pela lactoferrina que

complexa o ferro, tornando-o limitante para os microrganismos. Sua concentração é

elevada no colostro, cerca de 1 a 2 g/ 100 mL (ALMEIDA, 1999). Segundo Valdés et

al. (1996), a concentração de IgA e lactoferrina, junto a grande quantidade de linfócitos

e macrófagos, confere uma condição protetora ao recém-nascido.

Segundo Ogra & Ogra et al. (1981), o colostro também favorece o

desenvolvimento de uma flora intestinal predominantemente constituída de

bifidobactérias, que inibem o crescimento de microrganismos patogênicos e ainda limita

a exposição do lactente a esses agentes nocivos e também a proteínas estranhas. O

colostro também possui a lisozima, uma enzima lítica que atua sobre as paredes

celulares das bactérias e junto com a IgAS é sinérgica, podendo destruir bactérias

patógenas como a Escherichia coli (VINAGRE & DINIZ, 2002).

O colostro é laxativo e auxilia a eliminação do mecônio (KING, 1994). O

mecônio contém um fator de crescimento essencial para os Lactobacillus bifidus e é o

primeiro meio de cultura no lúmen intestinal estéril do recém-nascido (LAWRENCE &

LAWRENCE, 1999). Mota (1990), no seu discurso sobre aleitamento materno, cita

Francisco de Melo Franco, autor do primeiro livro de pediatria escrito em língua

portuguesa, em 1790, que dedicou um capítulo à nutrição das crianças, onde

recomendava o uso do colostro, por suas propriedades laxativas, condenando o costume

generalizado na época, de não oferecer leite humano nos primeiros três dias após o parto

e o uso de purgantes.

Lawrence & Lawrence, (1999), relatam que o volume de colostro varia de

(28)

principalmente aquelas que tiveram seus bebês amamentados precocemente, têm

colostro mais facilmente ao nascimento, e o volume aumenta mais rapidamente.

O Ministério da Saúde (2002) faz recomendações para uma alimentação

saudável para crianças brasileiras menores de 2 anos de idade: até os seis meses, dar

somente leite materno, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento; a partir dos

seis meses, oferecer de forma lenta e gradual, outros alimentos, mantendo o leite

materno até os dois anos de idade ou mais.

2.1.3. SÓDIO E POTÁSSIO NO LEITE HUMANO

Sódio, cloro e potássio são os principais eletrólitos presentes nos fluídos

corporais. (GRUMASH et. al., 1993). Tanto no leite materno como nas fórmulas

lácteas, o sódio e o potássio estão na fração aquosa (RODRIGUEZ, et al., 2002).

Segundo Allen et al. (1991), a composição do leite pré-parto quanto aos valores

de sódio e potássio mostra, respectivamente: 61,26 ± 25,82 mmol/L e 18,30 ± 5,67

mmol/L.

Lawrence & Lawrence (1999) apresentam diferenças na composição do leite

humano e no plasma sangüíneo, quanto aos valores de sódio e potássio, que são

respectivamente 57 mg% (24,8 mmol/L) e 15 mg% (3,8 mmol/L) no leite humano

maduro e 320 mg% (139,1 mmol/L) e 18 mg% (4,6 mmol/L) no plasma sangüíneo.

Os valores de sódio, encontrados no colostro humano, leite humano de transição,

leite humano maduro e leite de vaca são respectivamente: 48 mg/dL (20,9 mmol/L),

29mg/dL (12,6 mmol/L), 15 mg/dL (6,5 mmol/L) e 58 mg/dL (25,2 mmol/L) e os

valores encontrados para o potássio, nos mesmos tipos de leite, são respectivamente: 74

mg/dL (18,9 mmol/L), 64 mg/dL (16,4 mmol/L), 57 mg/dL (14,5 mmol/L) e 145 mg/dL

(29)

Segundo a OMS (1994), os níveis de sódio do leite de vaca são 3,6 vezes

maiores que no leite humano (leite humano: 7 mmol/L ou 16 mg/dL; leite de vaca: 22

mmol/L ou 50 mg/dL).

Ereman et. al. (1987) afirmaram que, dos minerais no leite humano, a

concentração de sódio é a mais variável, flutuando durante o dia e durante todo o

período de lactação. Estes autores sugeriram que o cortisol pode regular os eletrólitos do

leite, por ressaltar o efeito da prolactina sobre as trocas sódio-potássio no epitélio

mamário. Mudanças nos níveis de cortisol plasmático e prolactina durante o dia pode,

portanto, explicar algumas das variações da concentração de sódio no leite, embora a

razão para a maior variabilidade do sódio que do potássio no leite permanece obscuro.

Keenan, et al. (1982), relatou uma variação diária entre 22 a 80% nos eletrólitos

do leite de ratas e estas mudanças variaram à medida que o período de lactação

progrediu, mas foram independentes da dieta materna. Restrição de sódio na dieta das

ratas não influenciou os níveis no leite.

Em um estudo longitudinal, Hofman & Hazebroek (1983) encontraram um

declínio nos níveis de sódio de 20 mmol/L para 15 mmol/L na primeira semana. No

oitavo dia, Lawrence & Lawrence (1999) encontraram níveis iguais a 8 mmol/L, e na

quinta semana foram estabilizados em 6 mmol/L. Mudanças tempo-dependentes na

composição do leite foram também relatadas por Allen et al. (1991) que observaram

decréscimos de 25% ou mais no sódio, potássio e citrato de 1 a 6 meses. Estes autores

afirmam que a composição do leite está sempre em transição.

Wack et. al. (1997) analisaram a composição de 140 (cento e quarenta) amostras

de leite materno de 30 (trinta) lactantes. Os valores médios maternos, com seus

respectivos desvios-padrões para o sódio foram de 141 ± 17 mg/L (6,1 mmol/L) e de

480 ± 11 mg/L (12,3 mmol/L) para o potássio. Esses valores foram estáveis em toda a

lactação, após uma fraca diminuição nos primeiros quatro meses.

Grumash et al. (1993) analisaram a composição do leite materno de mães

brasileiras que geraram neonatos a termo, pequenos para a idade gestacional (grupo A),

(30)

(grupo B) e de mães de neonatos a termo, com peso adequado para a idade gestacional

(grupo C) e concluíram que os níveis de sódio no colostro e leite materno até o 60º

(sexagésimo) dia pós-parto era cerca de duas vezes mais elevado no leite das mães do

grupo A quando comparados aos valores de sódio determinados no leite das mães do

grupo C. O sódio foi também elevado nos 7º (sétimo), 15º (décimo quinto) e 30º

(trigésimo) dias no leite de mães do grupo B.

Ontsouka et al. (2003) encontraram níveis de sódio e potássio iguais a 27 ± 1

mmol/L e 44 ± 1 mmol/L, respectivamente, no colostro de bovinos e relataram que as

concentrações de sódio e cloro foram significativamente mais altas no colostro que no

leite maduro.

Existe um crescente interesse pelo estudo dos minerais na nutrição humana,

particularmente nas crianças. Assim, é essencial determinar os conteúdos de minerais no

leite materno e em fórmulas infantis, para que, sabendo-se a quantidade de leite

ingerido, pode-se determinar a ingestão dos elementos essenciais (RODRIGUEZ, et

al.,2002).

2.1.4. A PERCEPÇÃO DO SABOR SALGADO

Há um número relativamente grande de estudos sobre a percepção do sabor nos

prematuros, recém-nascidos e lactentes. Estes estudos demonstram que a sensibilidade

aos sabores surge em diferentes momentos do desenvolvimento. A sensibilidade pelos

sabores salgado e amargo muda após o nascimento, sendo o sabor salgado aquele que

representa o exemplo mais claro desta mudança (BEAUCHAMP & MENELLA, 1997).

Segundo Beauchamp & Menella (1999), as papilas gustativas aparecem pela

primeira vez, por volta da 7ª ou 8ª semana de gestação e, na 13ª à 15ª semanas,

começam a se assemelhar, morfologicamente, à papila adulta. Estudos com lactentes

prematuros apóiam a hipótese da preferência pelo sabor doce presente antes do

(31)

sensoriais ao sistema nervoso central no 6º mês de gestação e que as conexões neurais

são adequadas para provocar alterações na salivação e na sucção.

Ao nascimento, os lactentes respondem com expressão facial positiva ao sabor

doce e com uma expressão negativa aos sabores azedo e amargo (BIRCH, 1999).

Steiner (1997), relata que nenhuma resposta facial distinta foi observada para a

estimulação com sal. Neonatos humanos não diferenciam a ingestão de solução salina

ou água (KARE & BEAUCHAMP et al., 1985). Mattes (1997) sugeriu que os neonatos

carecem de habilidade para detectar estímulo salgado ou julgam ser de igual

palatabilidade para a água pura.

Birch (1999) relata que por volta dos quatro meses os lactentes começam a

mostrar uma preferência pelo sal. Para Beauchamp & Menella (1997) estas mudanças

evolutivas da preferência pelo sal podem refletir mudanças de sensibilidade

(independentes da experiência), podem ser conseqüência de experiências específicas ou

o resultado de ambas as situações. Com a idade de 18 meses, a preferência por soluções

salinas desaparece (na realidade, ocorre uma rejeição); ao contrário, as crianças

começam a exibir preferências definidas por sal em um alimento fluido (sopa) e em

outros alimentos (por exemplo, cenoura) (BEAUCHAMP & MENELLA, 1999). Para

Kare & Beauchamp (1985), a indiferença ou rejeição ao sal estaria relacionada à menor

necessidade e tolerância aos eletrólitos, devido à sua imaturidade renal. Como o leite

humano supre a necessidade da criança, parece não existir vantagem na atração por

substâncias salgadas. No período dos 4 aos 6 meses de idade, observa-se aumento na

preferência pelo sabor salgado, coincidindo com o período em que se verifica uma

maturação significativa dos rins. Em contrapartida, recente estudo conduzido por Zinner

et al (2002) sobre a pressão sangüínea neonatal e a responsividade ao paladar salgado,

afirma que o neonato já nasce capaz de perceber o sabor salgado.

Shiffman (1999), relata que o sabor salgado dos sais de sódio resulta do influxo

de íons de Na+ através dos canais de sódio nas membranas das células gustativas. O

canal é específico; lítio, que também pode passar facilmente, também é salgado, embora

outros cátions (ex: potássio) que não “se ajustam”, não são estritamente salgados. Esta

(32)

(MATTES, 1997). Segundo Ye et al. (1992), o sabor salgado pode ser modificado por

ânions que se difundem pelas junções estreitas através das vias paracelulares e modulam

as respostas do paladar aos cátions. Este achado sugere que a unidade funcional para a

percepção do sabor não está confinada à célula gustativa individual, mas também inclui

o seu microambiente paracelular (SHIFFIMAN, 1999).

2.1.5. A AMAMENTAÇÃO E A IDADE MATERNA

Dos 3,2 milhões de nascimentos registrados em 1999 no Brasil, a maior

concentração por idade da mãe correspondeu à faixa de 20 a 24 anos (31%),

sobressaindo também o alto percentual de mães entre 15 e 19 anos (23%). A maior

proporção de mães adolescentes foi observada na Região Norte (30%) e a menor

proporção na região Sudeste (20%) (Ministério Saúde, 2001).

A Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS), realizada no país em

1996, revelou que 18% das jovens entre 15 e 19 anos já tinham iniciado sua vida

reprodutiva, sendo que destas, 14,3% já eram mães de pelo menos um filho vivo. Essa

mesma pesquisa também revelou que as mulheres iniciam sua vida reprodutiva por

volta dos 22 anos, com grandes diferenciais segundo a escolarização: foi de 4,9 anos a

diferença entre a idade mediana ao ter o primeiro filho das mulheres sem nenhuma

escolaridade e aquelas com 9 a 11 anos de estudo (BRASIL, 1997).

No estudo conduzido por Gama et al. (2002), verificou-se que o risco de parto

prematuro e de baixo-peso ao nascer foi significativamente maior no grupo das mães

adolescentes. Neste estudo também se observou que puérperas de 20-34 anos com

experiência de gravidez na adolescência apresentaram os piores indicadores de

condições de vida. Estas gestantes apresentaram pior nível de escolaridade, ausência de

emprego remunerado, maior exposição a abortos e maior percentual de proles

numerosas.

Dewan et al (2002) conduziram um questionário para levantamento do

(33)

primíparas, que fizeram seu pré-natal no Hospital das Mulheres de Liverpool. A maioria

das mulheres (83%) sabia que o leite materno era o melhor alimento para o seu bebê.

Somente 45% planejaram amamentar e a maioria (27,7%) estava no grupo das não

adolescentes. O conhecimento sobre aleitamento materno foi muito pobre entre as

adolescentes. Diferenças significativas foram observadas entre adolescentes e não

adolescentes para vários fatores: adolescentes tinham um baixo nível educacional, a

maioria estava desempregada e eram solteiras. Estas características também têm sido

mencionadas por outros autores e provavelmente refletem uma menor probabilidade das

adolescentes amamentarem. Frota & Marcopito (2004) relataram que a dificuldade para

amamentar nos primeiros dias, de ocorrência mais elevada entre as mães adolescentes,

mostrou-se fortemente associada ao desmame, independente de outros fatores.

Lamounier et al. (1998) entrevistando 261 gestantes adolescentes em uma

maternidade pública da cidade de Belo Horizonte, MG, observaram que a média de

idade foi de 16,9 anos (mediana de 17 anos), 78% não planejaram a gravidez, 77,4%

estavam na primeira gravidez, 22,6% tinham duas ou mais gestações e 85,4% fizeram o

pré-natal. Dentre as gestantes adolescentes, 93,5% eram alfabetizadas sendo que 36,8%

tinham de 1 a 4 anos de estudo e 52,5% tinham de 4 a 8 anos de estudo.

Segundo Motil, et al. (1997), as quantidades de leite produzidas por mães

adolescentes foram significativamente menores na 6ª, 12ª, 18ª e 24ª semanas pós-parto,

que aquelas produzidas pelas mães adultas. As adolescentes produziram de 37 a 54%

menos leite entre a 6ª e a 24ª semanas pós-parto respectivamente, que as adultas. A

composição do leite, incluindo energia, lactose, gordura, nitrogênio total, nitrogênio

não-protéico, sódio, potássio, cálcio e fósforo, mostrou pequena diferença entre as

mulheres adolescentes e adultas. A exceção foi para a concentração de sódio, que foi

significativamente maior nas adolescentes que nas adultas na 6ª e 12ª semanas, mas não

na 18ª e 24ª semanas pós-parto. Outros estudos têm sugerido que o leite de mães

adolescentes, particularmente o colostro, pode mostrar uma variação na composição em

resposta ao diminuído volume de leite (VITOLO, et al., 1993). Humenick et al. (1998)

estudando a composição do leite no 6º dia pós-parto, concluiram que elevadas

(34)

adversos na amamentação na 4ª semana pós-parto, possivelmente associados a variáveis

psicosociais.

2.1.6. BREVE HISTÓRICO DO ALEITAMENTO MATERNO NO BRASIL

O aleitamento materno, função biológica aperfeiçoada por milhões de anos de

evolução e com adequação natural espécie-específica, é indiscutivelmente superior a

qualquer outra forma artificial de aleitar a criança, que possa ser concebida pela

tecnologia humana (WOISKI, 1995).

A industrialização, a urbanização, o uso da mão-de-obra mais barata da mulher,

a desvalorização pela sociedade da maternidade e a descoberta das fórmulas de leite em

pó foram os principais responsáveis pela diminuição do aleitamento materno no nosso

século, com repercussões desastrosas na saúde das nossas crianças e das parturientes

(VINAGRE, 2002).

Carvalho & Tamez (2002) ressalta um importante fator de promoção do

desmame precoce: o apogeu do “marketing” das fórmulas infantis, que ocorreu nas

décadas de 60 e 70, quando existia uma permissividade total: distribuição de amostras

grátis de leite em pó, “enfermeiras” das companhias iam até as favelas demonstrar o

preparo correto da mamadeira, publicidade livre para o público em geral dos leites

infantis, ajuda financeira a pediatras e suas sociedades para participação e organização

de congressos, brindes em seus consultórios, etc. Dessa forma, o desestímulo à

amamentação foi induzido e deste bombardeio publicitário surgiu o imaginário leite em

pó modificado infantil, até hoje não considerado leite de vaca, e sim leite

“maternizado”.

A partir dos anos 70, iniciou-se um movimento mundial para a retomada das

práticas antigas de amamentação. No Brasil este movimento consolidou-se com a

criação do “Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno” – PNIAM, em

(35)

Saúde, e diversas instituições governamentais e não governamentais (LEÃO et al.,

1989).

O desenvolvimento do PNIAM, ocorrido a partir de 1981, resultou na retomada

da valorização do leite materno. Em 1982, a Portaria 18 do INAMPS/MS estabeleceu a

obrigatoriedade de alojamento conjunto (VENÂNCIO & MONTEIRO, 1998,

ALMEIDA, 1999).

Para atender aos lactentes clinicamente impossibilitados de serem amamentados

por suas próprias mães, tornou-se crescente a necessidade de leite humano ordenhado

disponível em quantidades suficientes à demanda. Assim, o Ministério da Saúde,

através da Portaria nº 322/88 regulamentou a implantação e o funcionamento de Bancos

de Leite Humano, além do desenvolvimento de um Programa Nacional de Apoio

Técnico a essas unidades (ALMEIDA, 1999). Os bancos de leite têm papel muito

importante a desempenhar na promoção do aleitamento materno, uma vez que garantem

a oferta de leite humano aos recém-nascidos de alto risco (prematuros e de baixo peso) e

ao mesmo tempo estimulam as mães a fazer a extração do leite enquanto o filho não

recebe alta hospitalar, assegurando, assim, que a produção láctea não seja afetada

(EUCLYDES, 1997).

Lamounier (1996) relata que em 1990 o Brasil foi um dos países participantes de

um encontro realizado em Florença, Itália, promovido pela Organização Mundial da

Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em busca de

mecanismos que pudessem ser desenvolvidos para proteção, promoção e apoio ao

aleitamento materno. Nesta época foi produzido e adotado pelos participantes do

encontro “Aleitamento Materno na Década de 90: Uma iniciativa Global” um conjunto

de metas chamado “Declaração de Innocenti”, que resgatava o direito da mulher de

aprender e praticar a amamentação com sucesso. Neste encontro também foi idealizada

uma estratégia denominada “Iniciativa Hospital Amigo da Criança – IHAC” cujo

objetivo básico consiste na mobilização de profissionais de saúde e funcionários de

hospitais e maternidades para mudanças de rotinas e condutas visando o desmame

(36)

Desde então, o Brasil participa ativamente incentivando, promovendo e

apoiando o aleitamento materno em hospitais e maternidades (SALVIANO, 2004). As

estratégias e experiências utilizadas para aumentar a prática da amamentação são

muitas, tendo como alvo o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida.

Dentre estas estão incluídas atividades dirigidas aos profissionais de saúde e à

população em geral, tanto no pré-natal quanto no pós-parto e em visitas domiciliares a

puérperas (LAMOUNIER & LEÃO, 1998).

Atualmente o Brasil conta com 310 Hospitais Amigos da Criança e 172 Bancos

de Leite Humano (MS, 2005).

Em 1988 o Conselho Nacional de Saúde/MS – Resolução nº 5, aprovou as

Normas Brasileiras de Comercialização de Alimentos para Lactentes (NBCAL),

elaborada com base no Código Internacional de Substitutos do Leite Materno, aprovado

durante a 34ª Assembléia Mundial de Saúde em 1981. Em 1992, através da Resolução

nº 31, foi aprovado novo texto da Norma. O objetivo da NBCAL é incentivar o

aleitamento materno e protegê-lo das imperícias do marketing abusivo das indústrias de

leites infantis, mamadeiras, chupetas e alimentos complementares, mediante a

regulamentação da comercialização e práticas a ela relacionadas (MS, 1999).

Venâncio & Monteiro (1998), utilizando dados de duas pesquisas nacionais, uma

realizada no período de 1974-1975 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) e outra em 1989 pelo INAM (Instituto nacional de Alimentação e Nutrição),

mostraram que a amamentação no Brasil aumentou durante o período de 1975 a 1989

(sua duração mediana1 passou de 2,5 meses para 5,5 meses), porém a prática de amamentação exclusiva era pouco freqüente na década de 80 (3,6 % em crianças de

zero a quatro meses).

Dados da Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, realizada pela

BEMFAM (Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil) e DHS (Programa de

Pesquisa de Demografia e Saúde Macro Internacional Inc), em 1996, revelaram que

93% das crianças são amamentadas, sendo a duração mediana da amamentação igual a 7

1

(37)

meses. Quanto à amamentação exclusiva, a mediana encontra-se pouco acima de 1 mês

e aumenta muito claramente segundo o nível educacional, passando de 0,6 meses para

mulheres com pouca ou nenhuma instrução para pouco mais do dobro entre mulheres

mais instruídas.

Monteiro (1997) ao comparar as duas pesquisas realizadas pela BEMFAM (1986

e 1996) com relação à prática de amamentação nas diferentes idades (independente dos

outros alimentos ofertados à criança) confirma a tendência de aumento da amamentação

no país. Em crianças de 0 a 4 meses a freqüência da amamentação (independente de

complementação), no dia anterior ao da pesquisa, se eleva de 73,5% em 1986 para

85,4% em 1996. No caso de crianças de 0 a 4 meses recebendo leite materno exclusivo

e leite materno acrescido de água, chá ou suco somariam 33,3% em 1986 e 55,3% em

1996.

Em 1991, 93,1% dos recém-nascidos em todo o estado de Minas Gerais

iniciaram o aleitamento logo após o nascimento; aos três meses, houve redução desse

valor para 51,8 % e aos 12 meses, apenas 19,2 % das crianças eram amamentadas. A

duração mediana da amamentação foi de 120 dias (MINAS GERAIS, 1994).

Segundo Passos et al. (2000), no município de Ouro Preto - Minas Gerais, das

229 crianças estudadas, 93,4% iniciaram a vida sendo amamentadas e 6,6% nunca

mamaram. O desmame foi intenso já nos primeiros meses de vida, sendo que aos 3

meses 32,2% das crianças já encontravam-se desmamadas e no sexto mês 48,5% já se

encontravam desmamadas. A duração mediana da amamentação foi de 198 dias ou 6,6

meses. Quanto ao aleitamento materno exclusivo (AME)2, apenas 58,2% iniciaram a amamentação de forma exclusiva. Aos três meses apenas 16,6 % das crianças eram

aleitadas exclusivamente ao peito e aos 6 meses uma fração insignificante de crianças

(1,8%) recebia leite materno como único alimento. A duração mediana do aleitamento

materno exclusivo foi de 17 dias. Considerando o aleitamento exclusivo somado ao

predominante3, a idade mediana foi de 71 dias, ou 2,4 meses.

2

A criança recebe apenas o leite materno e não ingerem nem mesmo água e/ou chás.

3

(38)

Segundo Giugliani & Lamounier (2004) apesar de todo o avanço científico e dos

esforços de diversos organismos nacionais e internacionais, as taxas de aleitamento

materno no Brasil, em especial as de amamentação exclusiva, estão bastante aquém do

recomendado. Segundo dados do Ministério da Saúde (2003) em 1999 72,9% das

crianças brasileiras amamentaram até o sexto mês de vida e apenas 44,2% foram

amamentadas até 1 ano de vida. Acerca da amamentação exclusiva, pouco mais da

metade das crianças brasileiras beneficiou-se do aleitamento materno exclusivo no

primeiro mês de vida em 1999, proporção que diminuiu progressivamente até atingir

apenas 9,7% entre o quinto e sexto mês de vida. Na região sudeste apenas 42,8% das

crianças se beneficiaram do AME nos primeiros trinta dias de vida e apenas 8,3%

receberam AME durante os seis primeiros meses de vida. Na região nordeste, 55,4% das

crianças receberam AME nos primeiros 30 dias de vida e apenas 10,7% mamaram

exclusivamente aos 6 meses de vida. A região sul foi onde a AME mostrou números

mais elevados: 64,3% no primeiro mês de vida e 12,9% no sexto mês. Nas regiões norte

e centro-oeste as porcentagens de crianças que receberam AME no primeiro mês de

vida foram respectivamente 53% e 50,5% e no sexto mês, apenas 9% e 7,9% das

crianças encontravam-se em AME nas regiões norte e centro-oeste respectivamente.

Essa diversidade de prevalências de aleitamento materno exclusivo e

predominante mostra a influência dos hábitos culturais regionais e a necessidade de se

promoverem programas de incentivo à amamentação, adequados a cada região, uma vez

que o Brasil é um país continental, rico em culturas diferentes, necessitando de

abordagens regionalizadas para promoção da amamentação exclusiva. Não cabe um

modelo único de promoção do aleitamento materno num país com tanta diversidade

sócio-cultural (VIEIRA et al., 2003).

Contrariamente ao exposto, segundo Lamounier (2003) e Vieira et al. (2004),

um hábito bastante difundido e culturalmente arraigado, no Brasil e em outros países,

que está positivamente associado ao desmame precoce é o uso de bicos e chupetas. Para

Lamounier (2003), é necessário mais esclarecimento às mães e à população em geral,

bem como aos profissionais de saúde sobre os efeitos prejudiciais do uso de bicos e

(39)

Segundo Leão et al. (1989) o baixo peso, a prematuridade, a demora da primeira

mamada e o alojamento em berçários, influenciam negativamente na adoção e na

duração do aleitamento materno. O uso de bicos e chupetas e presença de mamadeiras

no berçário podem significar a pouca convicção dos próprios pediatras em promover o

aleitamento materno. Nesse caso, além de contribuir para o desmame, o uso de bicos e

chupetas pode ser visto pela mãe como uma alternativa fácil ao primeiro obstáculo que

encontrar no processo da amamentação, após a saída do hospital (LAMOUNIER, 1996)

e deve ser visto pelo pediatra e outros profissionais da saúde como um marcador das

dificuldades do aleitamento materno (LAMOUNIER, 2003).

Para Almeida & Novak (2004), a nova forma de pensar a amamentação, além de

mais abrangente, exige que se estabeleça um novo foco sobre a mulher, que não pode

continuar a ser tratada como sinônimo de mãe nutriz, responsável pelo êxito da

amamentação e culpada pelo desmame. Há necessidade de compatibilizar os

determinantes biológicos com os condicionantes socioculturais, os quais configuram a

amamentação como uma categoria híbrida entre a natureza e a cultura.

Segundo Euclydes (1997) para vencer a “cultura da mamadeira” e “resgatar a

cultura do aleitamento materno”, é necessário implementar não só ações educativas

destinadas aos profissionais de saúde e às mulheres, como também à família e à

população em geral, utilizando-se de todos os recursos disponíveis, com a inclusão dos

meios de comunicação de massa. Segundo a autora, muitas mulheres não amamentam

devido a falsas crenças ou tabus que carregam desde a infância por influência materna,

muitas vezes reforçada pela opinião de uma vizinha ou falta de apoio do companheiro.

Estudo realizado por Nakamura et al. (2002) ressalta a importância de se

esclarecer e ensinar vários aspectos sobre o aleitamento materno. Eles entrevistaram 346

meninas de 9 a 15 anos, de duas escolas que refletem níveis sócio-econômicos distintos

(baixo e alto) e concluíram que as meninas de ambas as classes sociais sabem que o leite

materno é a melhor dieta que o recém-nascido pode receber no primeiro ano de vida,

(40)

Uma pesquisa realizada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da

OMS no Brasil e 1994 constatou que os cursos de medicina, que contam com cerca de

8345 horas em média, dedicam apenas 26 horas (0,13% da carga horária total) ao ensino

do aleitamento materno. Desde então, tem havido progressos quanto à carga horária e ao

ensino do manejo do aleitamento materno, graças aos esforços do Ministério da Saúde

com seus centros de referência em treinamento de aleitamento materno e de órgãos

como o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Sociedade Brasileira de

Pediatria, OMS (Organização Mundial da Saúde) e outros (BUENO & TERUYA,

2004).

Para Monteiro (1997), o aumento na freqüência de crianças amamentadas nas

várias idades indica que frutificaram as várias ações do PNIAM, sendo válido notar o

caráter abrangente e intersetorial das referidas ações (regulação da publicidade de

substitutos comerciais do leite materno, interdição das doações de leite em pó às

maternidades, promoção do alojamento conjunto, transformação de hospitais infantis

em “Hospitais Amigo da Criança”, aperfeiçoamento da legislação de apoio à mulher

trabalhadora, entre outras). Ademais, a participação decisiva de organizações não

governamentais engajadas na promoção da amamentação e o apoio técnico financeiro

do UNICEF foram fundamentais nesse processo.

Para divulgar cada vez mais a importância do hábito de amamentar, o Ministério

da Saúde está reestruturando a Política Nacional de Aleitamento Materno, e tem como

prioridade o crescimento qualitativo e quantitativo dos bancos de leite e a redução da

mortalidade neonatal. Outras metas são: promover a amamentação nas unidades básicas

de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), promover o Programa de Educação à

Distância em Bancos de Leite Humano e Aleitamento Materno, formar a Rede de

Bancos de Leite Humano da América Latina e Caribe, viabilizar ações que integrem o

Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, firmado pela União,

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