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1.1 Grupos e Subgrupos - Notas de Aula MATB35 Parte 1

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(1)

Cap´ıtulo 1

Parte 1

1.1

Grupos e Subgrupos

1.1.1

Opera¸

oes bin´

arias

Defini¸c˜ao 1.1.1. Umaopera¸c˜ao bin´aria∗ sobre um conjuntoS´e uma fun¸c˜ao deS×S

em S, ∗:S ×S → S. Para cada (a, b) ∈ S×S, denotaremos o elemento ∗((a, b)) de S

por a∗b.

Defini¸c˜ao 1.1.2. Sejamuma opera¸c˜ao bin´aria sobre um conjuntoSeHum subconjunto de S. Dizemos que o subconjunto H ´e fechado pela opera¸c˜ao bin´aria ∗ se para todo

(a, b)∈H tamb´em vale que a∗b∈H. Nesse caso a opera¸c˜ao bin´aria sobre H dada pela restri¸c˜ao dea H ´e a opera¸c˜ao induzidadesobre H.

Defini¸c˜ao 1.1.3. Uma opera¸c˜ao bin´ariasobre um conjuntoS ´e chamada comutativa se

a ∗ b = b ∗ a para todo a, b∈S.

Defini¸c˜ao 1.1.4. Uma opera¸c˜ao bin´ariasobre um conjuntoS ´e chamadaassociativa se

(a∗b)∗c=a∗(b∗c) para todo a, b, c∈S.

Teorema 1.1.5. Sejam S um conjunto e f, g, h fun¸c˜os de S em S. Ent˜ao f ◦(g◦h) = (f ◦g)◦h.

1.1.2

Estruturas bin´

arias isomorfas

Uma estrutura bin´aria alg´ebricahS,∗i´e um conjunto S junto com uma opera¸c˜ao bin´aria ∗ sobre S.

(2)

Defini¸c˜ao 1.1.6. SejamhS,∗iehS′

,∗′

iduas estruturas bin´arias alg´ebricas. Um isomor-fismo de S com S′

´e uma aplica¸c˜ao bijetora φ:S →S′

tal que

φ(x∗y) =φ(x)∗′

φ(y) para todo x, y∈S. (1.1)

Se talφexiste, ent˜aoSeS′

s˜ao estruturas bin´arias isomorfas. Denotamos isto porS ∼=S′ , omitindo as opera¸c˜oes envolvidas.

A propriedade dada em (1.1) ´e chamadapropriedade do homomorfismo.

Defini¸c˜ao 1.1.7. SejahS,∗iuma estrutura bin´aria. Um elementoedeS ´e umelemento identidade para ∗ se e∗s=s∗e=s, para todo s∈S.

Teorema 1.1.8 (Unicidade do elemento identidade). Uma estrutura bin´aria hS,∗i tem no m´aximo um elemento identidade.

Teorema 1.1.9. Suponhamos quehS,∗item um elemento identidadeepara. Seφ:S → S′

´e um isomorfismo de hS,∗i com hS′

,∗′

i, ent˜ao φ(e) ´e um elemento identidade para a opera¸c˜ao bin´aria ∗′

sobre S′ .

1.1.3

Grupos

Defini¸c˜ao 1.1.10. Umgrupo hG,∗i´e um conjunto G, fechado pela opera¸c˜ao bin´aria, tal que os seguintes axiomas s˜ao satisfeitos:

1. Para todoa, b, c∈G vale

(a∗b)∗c=a∗(b∗c).associatividade de

2. Existe um elemento e∈G tal que para todo x∈G,

e∗x=x∗e=x. elemento identidadee para

3. Para todo elemento a∈G, existe um elemento a′

∈G tal que

a′

∗a=a∗a′

=e. inversoa′ de a

Defini¸c˜ao 1.1.11. Um grupo G´e abeliano se sua opera¸c˜ao bin´aria ´e comutativa.

(3)

1.1 Grupos e Subgrupos 3

Demonstra¸c˜ao. Suponhamos quea∗b=a∗c. Ent˜ao, existe inverso dea,a′

, tal que

a′

∗(a∗b) =a′

∗(a∗c).

Pela lei associativa,

(a′

∗a)∗b= (a′

∗a)∗c.

Pela defini¸c˜ao de inverso a′

∗a=e, portanto

e∗b=e∗c.

Assim, pela defini¸c˜ao de elemento identidade segue que

b=c.

Similarmente, deb∗a=c∗apodemos deduzir que b=c.

A seguir provaremos que uma “equa¸c˜ao linear” em um grupo tem uma´unica solu¸c˜ao.

Teorema 1.1.13. Sejam G um grupo com opera¸c˜ao bin´ariaea, b elementos quaisquer de G. Ent˜ao as equa¸c˜oes lineares a∗x=b ey∗a=b tem solu¸c˜oes ´unicas x e y em G.

Demonstra¸c˜ao. Primeiro mostremos a existˆencia de pelo menos uma solu¸c˜ao mostrando que a′

∗b´e uma solu¸c˜ao de a∗x=b. Notemos que

a∗(a′

∗b) = (a∗a′

)∗b lei associativa,

=e∗b defini¸c˜ao de a′

=b propriedade de e.

Assim,x=a′

∗b´e uma solu¸c˜ao dea∗x=b. De forma similar pode-se provar quey=b∗a′

´e uma solu¸c˜ao dey∗a=b.

Para mostrar a unicidade dey, usamos o m´etodo de assumir que temos duas solu¸c˜oes, digamos y1 e y2, tais que y1 ∗a = b e y2 ∗a = b. Ent˜ao y1∗a = y2 ∗a, e assim pelo Teorema1.1.12 segue que y1=y2. A unicidade dex ´e provada de forma similar.

Teorema 1.1.14. Em um grupo G com opera¸c˜ao bin´ariaexiste um ´unico elemento e

em G tal que

e∗x=x∗e=x

para todo x ∈ G. Similarmente, para todo a ∈G, existe um ´unico elemento a′

em G tal que

a′

∗a=a∗a′

(4)

Demonstra¸c˜ao. O Teorema1.1.8mostra que um elemento identidade para uma estrutura bin´aria ´e ´unico.

Vejamos a unicidade do elemento inverso. Suponhamos que a ∈ G tem inversos a′

e a′′

tais quea′

∗a=a∗a′

=ee a′′

∗a=a∗a′′

=e. Ent˜ao

a∗a′′

=a∗a′

=e

e pelo Teorema 1.1.8

a′′

=a′

,

portanto o inverso ´e ´unico.

Notemos que em um grupoG, temos

(a∗b)∗(b′

∗a′

) =a∗(b∗b′

)∗a′

= (a∗e)∗a′

=a∗a′

=e.

Essa equa¸c˜ao junto com o Teorema1.1.14mostra queb′

∗a′

´e o ´unico inverso dea∗b. Isto ´e, para todoa, b∈Gtemos que (a∗b)′

=b′

∗a′

. Enunciamos isto como um corol´ario.

Corol´ario 1.1.15. Seja G um grupo. Para todoa, b∈G temos que (a∗b)′

=b′

∗a′ .

Dado que para todo elemento ade um grupo G o elemento inverso ´e ´unico o denota-remos por a−1.

Sejanum inteiro positivo. Sea´e um elemento de um grupoG, escrito multiplicativa-mente, denotamos o produtoaaa· · ·a, denfatores dea, poran. Sejaa0=ee denotemos o produto a−1a−1a−1· · ·a−1, de n fatores de a−1, por a−n. Com isto ´e claro que as leis

usuais de expoentes s˜ao v´alidas.

Defini¸c˜ao 1.1.16. Seja G ´e um grupo. A ordem de G, denotada por |G|, ´e o n´umero de elementos em G.

1.1.4

Subgrupos

Defini¸c˜ao 1.1.17. Se um subconjunto H de um grupoG ´e fechado pela opera¸c˜ao bin´aria de G e se H com a opera¸c˜ao induzida de G ´e por sua vez um grupo, ent˜ao H ´e um subgrupo deG. Denotaremos isto porH ≤GouG≥H, eH < Gou G > H seH ≤G

eH 6=G.

Defini¸c˜ao 1.1.18.SejaG´e um grupo. O subgrupoG´e chamado desubgrupo impr´oprio deG. Todos os outros subgrupos s˜ao chamados de subgrupos pr´oprios. O subgrupo{e}

(5)

1.1 Grupos e Subgrupos 5

Teorema 1.1.19. Um subconjunto H de um grupo G´e um subgrupo de G se, e somente se,

1. H ´e fechado pela opera¸c˜ao bin´aria de G,

2. o elemento identidade ede G pertence a H,

3. para todo a∈H, a−1H.

Demonstra¸c˜ao. Exerc´ıcio.

Subgrupos c´ıclicos

Vejamos como deve ser um subgrupoHdeZ12que contenha o elemento 3. Tal subgrupo deve conter o elemento identidade 0 e 3 + 3, que ´e 6. Ent˜ao ele deve conter 6 + 3, que ´e 9. Notemos que o inverso de 3 ´e 9 e o inverso de 6 ´e 6. Pode-se verificar que H={0,3,6,9} ´e um subgrupo deZ12 e este ´e o menor subgrupo deZ12 que cont´em 3.

Teorema 1.1.20. Sejam G um grupo e a∈G. Ent˜ao

H ={an | n∈Z}

´e um subgrupo deG e ´e o menor subgrupo deG que cont´ema, isto ´e, todo subgrupo de G

contendo a, tamb´em cont´em H.

Demonstra¸c˜ao. Vamos usar o Teorema1.1.19para provar que H´e subgrupo deG. Como aras=ar+spara r, s Z vemos que o produto emG de dois elementos deH pertence a

H. AssimH´e fechado pela opera¸c˜ao de grupo deG. Tamb´em vemos quea0=e, portanto e ∈ H, e para todo ar H, a−r H e a−rar = e. Logo, todas as propriedades s˜ao

verificadas e assimH ≤G. Notemos que, se K ´e subgrupo de G e a∈K, ent˜ao an deve

pertencer a K, com n∈Z. Logo,H ≤K.

Defini¸c˜ao 1.1.21. SejamG um grupo e a∈G. Ent˜ao o subgrupo {an | nZ} deG do Teorema 1.1.20´e chamado o subgrupo c´ıclico de G gerado por a, denotado por hai.

Defini¸c˜ao 1.1.22. Um elemento a de um grupo G gera G e ´e chamado um gerador para G se hai=G. Um grupoG ´e c´ıclico se existe algum elemento a∈G que gera G.

Exemplo 1.1.23. O grupo Z4 ´e c´ıclico enquanto o grupo 4 de Klein V n˜ao ´e c´ıclico.

Exemplo 1.1.24. O grupo Z, com opera¸c˜ao soma, ´e um grupo c´ıclico. Os n´umeros 1

e −1 s˜ao ambos geradores para este grupo, e estes s˜ao os ´unicos geradores de Z. Para

n∈ Z+, o grupo Zn com opera¸c˜ao soma m´odulo n ´e um grupo c´ıclico. Se n > 1 ent˜ao 1 en−1 s˜ao ambos geradores, mas podem existir outros geradores.

(6)

1.1.5

Grupos c´ıclicos

Se o subgrupo c´ıclico haide G´e finito, ent˜ao a ordem de a´e a ordem do subgrupo c´ıclico |hai|. Caso contr´ario diremos quea´e deordem infinita.

Teorema 1.1.26. Todo grupo c´ıclico ´e abeliano.

Demonstra¸c˜ao. SejamGum grupo c´ıclico e aum gerador deGtal que

G=hai={an | n∈Z}.

Seg1 eg2 s˜ao quaisquer dois elementos deG, ent˜ao existem inteirosr estais queg1=ar

e g2=as. Ent˜ao

g1g2=aras=ar+s=as+r =asar =g2g1,

portanto G´e abeliano.

Algoritmo da divis˜ao em Z. Se m ´e um inteiro positivo e n ´e qualquer inteiro, ent˜ao existem ´unicos inteiros q e r tais que

n=mq+r e 0≤r < m.

Usando a nota¸c˜ao do algoritmo da divis˜ao chamamos q o quociente e r o resto (n˜ao negativo) quando n´e dividido por m.

Teorema 1.1.27. Um subgrupo de um grupo c´ıclico ´e c´ıclico.

Demonstra¸c˜ao. Sejam G um grupo c´ıclico gerado por a e H um subgrupo de G. Se H = {e}, ent˜ao H ´e c´ıclico. Se H 6= {e}, ent˜ao an H para algum n Z+. Seja m o menor inteiro em Z+ tal queamH.

Provemos que H = hami = hci, com c = am, isto ´e, provemos que c = am gera H.

Devemos provar que todob∈H´e uma potˆencia dec. Comob∈H eH≤G, ent˜aob=an

para algum inteiro positivon. Peloalgoritmo da divis˜ao existem inteirosq er tais que

n=mq+r com 0≤r < m.

Ent˜ao

an=amq+r = (am)qar

e assim

ar = ( am

|{z} ∈H

)−q

| {z } ∈H

an

|{z} ∈H

.

(7)

1.1 Grupos e Subgrupos 7

Comom´e o menor inteiro positivo tal queamHe 0r < m, ent˜ao necessariamente

r = 0. Assim,n=qm e

b=an = (am)q =cq,

portanto b´e uma potˆencia de c.

Corol´ario 1.1.28. Os subgrupos de Z com a soma s˜ao precisamente os grupos nZ sob a soma, para n∈Z.

Demonstra¸c˜ao. Pelo Teorema1.1.27 todo subgrupo de Z´e c´ıclico e dado n∈Z qualquer o subgrupo hni´e justamente nZ.

Sejam r e s inteiros positivos. Pode-se provar que H = {nr+ms | n, m∈Z} ´e um subgrupo deZ com a opera¸c˜ao usual de soma, +.

Defini¸c˜ao 1.1.29. Sejam r e s dois inteiros positivos. O gerador positivo d do grupo c´ıclico

H ={nr+ms | n, m∈Z}

sob a soma ´e o m´aximo divisor comum (mdc) der es. Escrevemos d=mdc(r, s).

Defini¸c˜ao 1.1.30. Dois inteiros positivos s˜ao relativamente primosse seu mdc´e 1.

Ser e ss˜ao relativamente primos e se r dividesm, ent˜aor deve dividirm.

Teorema 1.1.31. Seja G um grupo c´ıclico com gerador a. Se a ordem de G ´e infinita, ent˜ao G ´e isomorfo ahZ,+i. Se G tem ordem finita n, ent˜ao G´e isomorfo a hZn,+ni.

Demonstra¸c˜ao. Caso I Para todo inteiro positivo m, am 6= e. Neste caso afirmamos

que dois expoentes distintos h e k n˜ao podem dar elementos iguais ah e ak de G. Por

contradi¸c˜ao, vamos assumir queah=ak e sem perda de generalidade digamos quek > k.

Ent˜ao

aha−k =ah−k =e.

Mas isto contradiz nossa hip´otese inicial. Logo, todo elemento deGpode ser escrito como am para um ´unico m Z. A aplica¸c˜ao φ:G Z dada por φ(ai) = i ´e bem definida,

injetiva e sobrejetiva. Al´em disso

φ(aiaj) =φ(ai+j) =i+j=φ(ai) +φ(aj),

e portanto a propriedade do homomorfismo ´e verificada eφ´e um isomorfismo.

Caso IIam=epara algum inteiro positivom. Sejano menor inteiro positivo tal que

an =e. Se s Z e s=nq+r, com 0 r < n, ent˜ao as =anq+r = (an)qar = eqar =ar.

Como no Caso I, se 0 < k < h < n e ah = ak, ent˜ao ah−k = e e 0 < hk < n,

contradizendo nossa escolha den. Assim, os elementos

(8)

s˜ao todos distintos e eles formam todos os elementos deG. A aplica¸c˜aoψ:G→Zn dada

por ψ(ai) = i, para i = 0,1,2, . . . , n1 ´e bem definida, injetiva e sobrejetiva. Como

an=e, vemos que aiaj =ak, com k=i+

nj. Assim

ψ(aiaj) =i+nj=ψ(ai) +nψ(aj),

e portanto a propriedade do homomorfismo ´e verificada eψ ´e um isomorfismo.

Teorema 1.1.32. Seja G um grupo c´ıclico com n elementos e gerador a. Seja b ∈ G o elementob=as. Ent˜aob gera um subgrupo c´ıclicoH de Gcontendo n/delementos, com

d=mdc(n, s). Tamb´em vale que hasi=hatise, e somente se, mdc(s, n) =mdc(t, n).

Demonstra¸c˜ao. Pelo Teorema 1.1.20 sabemos que b gera um subgrupo c´ıclico H de G. Precisamos provar queHtemn/delementos. Seguindo a ideia da demostra¸c˜ao do Teorema

1.1.31 sabemos que H tem tantos elementos como o menor inteiro positivo m tal que bm=e. Agora, b=as e bm=ese, e somente se, (as)m=e, ou se, e somente se, ndivide

ms. Seja d=mdc(n, s). Existem inteiros u e v tais que

d=un+vs.

Assim,

1 =u(n d) +v(

s d),

onde ambos n/de s/ds˜ao inteiros. Observe que mdc(n/d, s/d) = 1. Queremos encontrar o menor inteirom tal que

ms

n =

m(s/d)

(n/d) ´e um inteiro.

Comomdc(n/d, s/d) = 1 ent˜ao necessariamente n/ddeve dividir m. Logo, o menor talm ´en/d. Assim a ordem deH ´en/d. Notemos queZn ´e um grupo c´ıclico de ordemn, e sed

´e um divisor den, ent˜ao o grupo c´ıclico hdideZn temn/d elementos e cont´em todos os

inteiros positivosm menores do quene tais quemdc(m, n) =d. Logo, existe unicamente um subgrupo de Zn de ordem n/d. Daqui segue que se G ´e um grupo de ordem n com

gerador a, ent˜ao hasi=hatise, e somente se, mdc(n, s) =mdc(n, t).

Exemplo 1.1.33. • hZ12,+12i, h3i={0,3,6,9}.

• hZ12,+12i, h8i={0,4,8}.

O pr´oximo corol´ario segue imediatamente do Teorema 1.1.32.

Corol´ario 1.1.34. Se a´e um gerador de um grupo c´ıclico finito G de ordemn, ent˜ao os outros geradores de G s˜ao os elementos da forma ar, comr relativamente primo a n.

(9)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 9

Exemplo 1.1.36. Encontremos os subgrupos de Z18. Pelo Corol´ario 1.1.34 sabemos que

os elementos1,5,7,11,13e17s˜ao geradores de Z18. Assim, temos os seguintes subgrupos

de Z18. Notemos que h1i=Z18.

• h2i={0,2,4,6,8,10,12,14,16},|h2i|= 9e com poss´ıveis geradores2,4,8,10,14,16.

• h3i={0,3,6,9,12,15}, |h3i|= 6, poss´ıveis geradores3,15.

• h6i={0,6,12}, |h6i|= 3, poss´ıveis geradores6,12.

• h9i={0,9}, |h9i|= 2, gerador9.

A seguir mostramos o diagrama de subgrupos:

h1i

h2i h3i

h6i h9i

h0i

1.2

Grupos de permuta¸

oes e o Teorema de Lagrange

1.2.1

Grupos de permuta¸

oes

Defini¸c˜ao 1.2.1. Uma permuta¸c˜ao de um conjunto A´e uma fun¸c˜aoφ:A→A que ´e injetiva e sobrejetiva.

Vejamos como ´e a multiplica¸c˜ao de permuta¸c˜oes. Seja A um conjunto e sejam σ e τ permuta¸c˜oes de A. Como composi¸c˜ao de bije¸c˜oes ´e por sua vez bije¸c˜ao, ent˜ao a fun¸c˜ao composta σ◦τ:A→A´e uma permuta¸c˜ao de A

A→τ A→σ A.

Exemplo 1.2.2. Consideremos A = {1,2,3,4,5} e a permuta¸c˜ao σ: A → A, dada por

17→4,27→2,37→5,47→3e57→1. Em geral ´e usada a seguinte nota¸c˜ao mais estandar para permuta¸c˜oes:

σ= 1 2 3 4 5

4 2 5 3 1

(10)

Consideremos a seguinte permuta¸c˜ao de A, τ, dada por

τ = 1 2 3 4 5

3 5 4 2 1

!

Isto ´e,τ(1) = 3, τ(2) = 5, etc. Sendo assim, temos que

στ = 1 2 3 4 5

4 2 5 3 1

!

1 2 3 4 5 3 5 4 2 1

!

= 1 2 3 4 5

5 1 3 2 4

!

Ou tamb´em(στ)(1) =σ(τ(1)) =σ(3) = 5, etc.

Teorema 1.2.3. Sejam A um conjunto na vazio e SA a cole¸c˜ao de todas as permuta¸c˜oes de A. Ent˜ao SA ´e um grupo sob a multiplica¸c˜ao de permuta¸c˜oes.

Demonstra¸c˜ao. J´a vimos que SA ´e fechado sob a multiplica¸c˜ao de permuta¸c˜oes. Pelo

Teorema 1.1.5 sabemos que composi¸c˜ao de fun¸c˜oes ´e associativo. A permuta¸c˜ao ι tal que ι(a) = a, para todo a ∈ A, ´e o elemento identidade. O elemento inverso de uma permuta¸c˜ao σ:A→A´e a bije¸c˜ao inversa, σ−1:AA.

Observa¸c˜ao 1.2.4. Note queA n˜ao precisa ser finito.

Observa¸c˜ao 1.2.5. Alguns livros computam o produto de permuta¸c˜oes στ de esquerda a direita: (a)(στ) = ((a)σ)τ.

Vejamos na continua¸c˜ao alguns exemplos.

Exemplo 1.2.6. O grupo S3 de permuta¸c˜oes de3 elementos. Seja A={1,2,3}. Sejam

ρ0= 1 2 3

1 2 3

!

, ρ1= 1 2 3

2 3 1

!

, ρ2 = 1 2 3

3 1 2

!

µ1= 1 2 3

1 3 2

!

, µ2= 1 2 3

3 2 1

!

, µ3 = 1 2 3

2 1 3

!

tabela!!!

Observamos que este grupo n˜ao ´e abeliano e ´e o menor grupo com esta propriedade.

Observa¸c˜ao 1.2.7. Existe uma correspondˆencia natural entre os elementos de S3 e as formas em que duas c´opias de um triˆangulo equil´atero com v´ertices 1,2 e 3 podem ser superpostas, uma cobrindo a outra com v´ertices sobre v´ertices.

(11)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 11

Exemplo 1.2.8. O quarto grupo dihedral, denotado por D4, formado pelas sime-trias de um quadrado. Se enumeramos os v´ertices do quadrado com os n´umeros 1,2,3,4

podemos listar os elementos de D4:

ρ0= 1 2 3 4

1 2 3 4

!

, ρ1 = 1 2 3 4

2 3 4 1

!

,

ρ2= 1 2 3 4

3 4 1 2

!

, ρ3 = 1 2 3 4

4 1 2 3

!

,

µ1= 1 2 3 4

2 1 4 3

!

, µ2= 1 2 3 4

4 3 2 1

!

,

δ1= 1 2 3 4

3 2 1 4

!

, δ2= 1 2 3 4

1 4 3 2

!

A seguir mostramos o diagrama de subgrupos:

D4

{ρ0, ρ2, µ1, µ2} {ρ0, ρ1, ρ2, ρ3} {ρ0, ρ2, δ1, δ2}

{ρ0, µ1} {ρ0, µ2} {ρ0, ρ2} {ρ0, δ1} {ρ0, δ2}

{ρ0}

Notamos que D4 ´e um grupo n˜ao abeliano, de ordem 8, e n˜ao isomorfo aS4.

Exemplo 1.2.9. O grupo dos quatˆernios, denotado por Q8, ´e um grupo com 8 ele-mentos

Q8={±1,±i,±j,±k}.

O elemento identidade ´e o 1. As opera¸c˜oes no grupo s˜ao dadas por

(12)

A seguir mostramos o diagrama de subgrupos:

Q8

{1, i,−1,−i} {1, j,−1,−j} {1, k,−1,−k}

{1,−1}

{1}

Observa¸c˜ao 1.2.10. Os grupos D4 eQ8, de ordem 8, n˜ao s˜ao isomorfos (porque?). A menos de isomorfismo existem 5 grupos de ordem 8, entre os quais conhecemos os grupos Z8, D4 e Q8.

1.2.2

Orbitas, ciclos e grupos alternados

´

Defini¸c˜ao 1.2.11. Sejam f: A→B uma fun¸c˜ao qualquer eH um subconjunto de A. A imagem de H sobf ´e o conjunto{f(h)∈B | h∈H} e ´e denotado por f(H).

Lema 1.2.12. Sejam G e G′ grupos e ϕ: G Guma fun¸c˜ao injetiva tal que ϕ(xy) =

ϕ(x)ϕ(y), para todo x, y ∈ G. Ent˜ao ϕ(G) ´e um subgrupo de G′

e ϕ: G → ϕ(G) ´e um isomorfismo.

Demonstra¸c˜ao. Exerc´ıcio.

Teorema 1.2.13 (Teorema de Cayley). Todo grupo ´e isomorfo a um grupo de per-muta¸c˜oes.

Demonstra¸c˜ao. Seja G um grupo. Mostremos que G ´e isomorfo a um subgrupo de SG.

Pelo Lema 1.2.12 precisamos apenas definir uma fun¸c˜ao injetiva ϕ: G → SG tal que

ϕ(xy) =ϕ(x)ϕ(y), para todox, y∈G.

Dado x ∈G, seja λx:G →G a aplica¸c˜ao definida por λx(g) =xg, para todo g ∈G.

A equa¸c˜ao λx(x−1c) = x(x−1c) = c, v´alida para todo c ∈ G, mostra que λx(G) = G. Se

λx(a) = λx(b), ent˜ao xa = xb e portanto a = b, por cancelamento, assim λx ´e injetora.

Logo,λx´e uma permuta¸c˜ao de G.

Definimos ϕ: G → SG por ϕ(x) = λx, para todo x ∈ G. Vamos mostrar que ϕ ´e

injetora. Suponhamos que ϕ(x) = ϕ(y). Ent˜ao λx = λy como fun¸c˜oes de G em G. Em

particular,λx(e) =λy(e). Portantox·e=y·e, isto ´e,x=y, e portantoϕ´e injetora. Falta

mostrar que ϕ(xy) = ϕ(x)ϕ(y), isto ´e, mostrar que λxy = λxλy. Agora, para qualquer

g∈G, temos

(13)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 13

Lembremos que multiplica¸c˜ao de permuta¸c˜oes ´e composi¸c˜ao de fun¸c˜oes, portanto

(λxλy)(g) =λx(λy(g)) =λx(yg).

Logo,λxy=λxλy.

SejamAum conjunto qualquer eσuma permuta¸c˜ao deA. Para todoa, b∈Adefinimos a seguinte rela¸c˜ao:

a∼b se, e somente se,b=σn(a) para algumn∈Z. (1.2)

∼´e uma rela¸c˜ao de equivalˆencia:

• Reflexiva: a=σ0 =a, logo aa.

• Sim´etrica: Sea∼b, ent˜ao b=σn(a), para algum n Z. Assim,a=σ−n(b), com

−n∈Z. Logo b∼a.

• Transitiva: Suponhamos que a ∼ b e b ∼ c, ent˜ao b = σn(a) e c = σm(b), para

alguns n, m∈Z. Substituindo:

c=σm(σn(a)) =σmσn(a) =σm+n(a).

Portanto, a∼c.

Defini¸c˜ao 1.2.14. Seja σ uma permuta¸c˜ao de um conjuntoA. As classes de equivalˆencia em A determinadas pela rela¸c˜ao de equivalˆenciadada em (1.2) s˜ao as´orbitas de σ.

Exemplo 1.2.15. Como a permuta¸c˜ao identidade deA,ι, deixa todo elemento deA fixo, as ´orbitas de ιs˜ao os subconjuntos unit´arios de A.

Exemplo 1.2.16. Considere a permuta¸c˜ao de S3

µ3= 1 2 3

2 1 3

!

Nesse caso as ´orbitas de σ s˜ao{1,2} e{3}.

Defini¸c˜ao 1.2.17. Uma permuta¸c˜ao σ ∈ Sn ´e um ciclo se tem no m´aximo uma ´orbita que cont´em mais do que um elemento. O comprimento de um ciclo ´e o n´umero de elementos na sua maior ´orbita.

Exemplo de Nota¸c˜ao c´ıclica:

1 2 3 4 5 3 2 5 1 4

!

(14)

Note que

(1,3,5,4) = (3,5,4,1) = (5,4,1,3) = (4,1,3,5).

Defini¸c˜ao 1.2.18. Dizemos que dois ciclos s˜aodisjuntos se eles n˜ao tem elementos em comum.

Exemplo 1.2.19. Uma permuta¸c˜ao de S8 descrita como produto de ciclos:

1 2 3 4 5 6 7 8

3 1 6 7 5 2 8 4

!

= (1,3,6,2)(4,7,8)(5).

Teorema 1.2.20. Toda permuta¸c˜ao σ de um conjunto finito ´e um produto de ciclos disjuntos.

Demonstra¸c˜ao. SejamB1, B2, , . . . , Br as ´orbitas deσ, e seja µi o ciclo definido por

µi(x) = (

σ(x), para x∈Bi

x, nos outros casos.

Claramenteσ=µ1µ2· · ·µr. Como as classes de equivalˆencia de ´orbitasB1, B2, . . . , Br s˜ao

disjuntas (pois s˜ao classes distintas), ent˜ao os ciclos µ1, µ2,· · ·, µr tamb´em s˜ao disjuntos.

Observa¸c˜ao 1.2.21. Multiplica¸c˜ao de ciclos disjuntos ´e comutativo.

Defini¸c˜ao 1.2.22. Um ciclo de comprimento 2´e chamado de transposi¸c˜ao.

Note que

(a1, a2, . . . , an) = (a1, an)(a1, an−1)· · ·(a1, a3)(a1, a2).

Corol´ario 1.2.23. Qualquer permuta¸c˜ao de um conjunto finito, com pelo menos dois elementos, ´e um produto de transposi¸c˜oes.

Exemplo 1.2.24.

1 2 3 4 5 6 7 8

3 1 6 7 5 2 8 4

!

= (1,3,6,2)(4,7,8)(5) = (1,3)(1,6)(1,2)(4,7)(4,8).

Teorema 1.2.25. Nenhuma permuta¸c˜ao emSn pode ser descrita, simultaneamente, como um produto de um n´umero par e um n´umero ´ımpar de transposi¸c˜oes.

Defini¸c˜ao 1.2.26. Uma permuta¸c˜ao de um conjunto finito ´e chamada de par (resp. ´ımpar) se pode ser descrita como um n´umero par (resp. ´ımpar) de transposi¸c˜oes.

Exemplo 1.2.27. 1. ι= (1,2)(1,2)´e par.

(15)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 15

3. (1,3,6,2)(4,7,8)(5) = (1,3)(1,6)(1,2)(4,7)(4,8)´e uma permuta¸c˜ao ´ımpar.

Teorema 1.2.28. Sejan≥2. O conjunto formado pelas permuta¸c˜oes pares de{1,2,3, . . . , n}

forma um subgrupo de ordem n2! do grupo sim´etrico Sn.

Demonstra¸c˜ao. Notemos que o produto de duas permuta¸c˜oes pares ´e por sua vez par. Comon≥2 ent˜aoSn cont´em (1,2) eι= (1,2)(1,2) ´e uma permuta¸c˜ao par. Seσ ´e escrito

como um produto par de transposi¸c˜oes, o produto das mesmas transposi¸c˜oes tomadas na ordem reversa ´eσ−1. Assim, seσ ´e uma permuta¸c˜ao par, ent˜aoσ−1 deve ser tamb´em par. Logo, o conjunto formado pelas permuta¸c˜oes pares de{1,2,3, . . . , n} forma um subgrupo do grupo sim´etrico Sn.

Denotemos o conjunto formado pelas permuta¸c˜oes pares de {1,2,3, . . . , n} por An e

o conjunto formado pelas permuta¸c˜oes ´ımpares de {1,2,3, . . . , n} por Bn. Vejamos que

An tem ordem n2!. Para provar isto, provemos que existe uma bije¸c˜ao entreAn e Bn. Seja

τ = (1,2)∈Sn. Definamosλτ: An →Bn, porλτ(σ) =τ σ. ´E f´acil verificar queλτ ´e uma

bije¸c˜ao. Com isto temos que|An|= n2!, pois |Sn|=n!.

Defini¸c˜ao 1.2.29. O subgrupo de Sn formado pelas permuta¸c˜oes pares ´e chamado de grupo alternado em n letras e ´e denotado por An.

1.2.3

O Teorema de Lagrange

Provavelmente j´a foi observado que a ordem de um subgrupo H, de um grupo finito G, divide a ordem do grupo G. Esse ´e o chamadoTeorema de Lagrange. Para provar isto precisaremos do conceito declasses laterais, que tamb´em ser´a usado no estudo de grupos quocientes.

Classes laterais

Teorema 1.2.30. Seja H um subgrupo de um grupoG. Definamos a rela¸c˜ao ∼L sobre G por

a∼L b se, e somente se, a−1b∈H.

Definamos a rela¸c˜ao ∼R sobre G por

a∼Rb se, e somente se, ab−1∈H.

Ent˜ao a∼L b ea∼Rb s˜ao, ambas, rela¸c˜oes de equivalˆencia sobre G.

Demonstra¸c˜ao. Exerc´ıcio (fa¸ca uso do fato que H≤G).

A rela¸c˜ao de equivalˆencia∼L do Teorema1.2.30define uma parti¸c˜ao em G.

(16)

os x ∈ G tais que a−1x H. Mas, a−1x H se, e somente se, a−1x = h para algum h ∈ H, ou equivalentemente, se, e somente se, x = ah para algum h ∈ H. Portanto a c´elula contendo a´e

aH ={ah | h∈H}.

Similarmente, para ∼R, donde

Ha={ha | h∈H}.

Notemos que como G n˜ao ´e necessariamente abeliano, ent˜ao n˜ao necessariamente aH = Ha.

Defini¸c˜ao 1.2.31.SejaHum subgrupo de um grupoG. O subconjuntoaH ={ah | h∈H}

de G ´e a classe lateral `a esquerda de H contendo a, enquanto o subconjunto

Ha={ha | h∈H} de G´e a classe lateral `a direita de H contendo a.

Exemplo 1.2.32. Vamos exibir as classes laterais `a esquerda e `a direita do subgrupo3Z

de Z.

A nota¸c˜ao ´e aditiva, portanto a classe lateral `a esquerda de 3Z contendo m´e m+ 3Z

m+ 3Z={· · · , m−9, m−6, m−3, m, m+ 3, m+ 6, m+ 9,· · ·}.

Observamos que comoZ´e abeliano ent˜ao as classes laterais `a esquerda e `a direita s˜ao iguais.

Observa¸c˜ao 1.2.33. Para um subgrupo H de um grupo abeliano G, a parti¸c˜ao de G em classes laterais `a esquerda de H e a parti¸c˜ao de Gem classes laterais `a direita de H s˜ao iguais.

Exemplo 1.2.34. As classes laterais (`a esquerda e direita) de H ={0,3} em Z6 s˜ao

H={0,3}, 1 +H ={1,4}, 2 +H ={2,5}.

Exemplo 1.2.35. As classes laterais `a esquerda de H=hµ1i={ρ0, µ1} em S3 s˜ao

H = {ρ0, µ1}

ρ1H = {ρ1ρ0, ρ1µ1}={ρ1, µ3} ρ2H = {ρ2ρ0, ρ2µ1}={ρ2, µ2}.

As classes laterais `a direita de H =hµ1i={ρ0, µ1} em S3 s˜ao

H = {ρ0, µ1}

(17)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 17

Observa¸c˜ao 1.2.36. Toda classe lateral (`a esquerda ou `a direita) de um subgrupo H

de um grupo G tem o mesmo n´umero de elementos que H. Para provar isto (no caso de classe lateral `a esquerda) basta definir a bije¸c˜ao natural φ:H → gH, h 7→ gh, para qualquer g∈G.

A seguir apresentamos o Teorema de Lagrange.

Teorema 1.2.37 (Teorema de Lagrange). Seja H um subgrupo de um grupo finito G. Ent˜ao a ordem de H ´e um divisor da ordem de G.

Demonstra¸c˜ao. Seja n a ordem de G e suponhamos que H tem ordem m. Em vista da Observa¸c˜ao 1.2.36 toda classe lateral de H tamb´em tem m elementos. Seja r o n´umero de c´elulas na parti¸c˜ao de Gem classes laterais `a esquerda de H. Ent˜aon=rm, portanto m´e de fato um divisor de n.

Note que este importante teorema ´e provado usando a contagem de classes laterais e o n´umero de elementos de cada classe lateral. N˜ao devemos subestimar resultados que contam algo!.

Corol´ario 1.2.38. Todo grupo de ordem prima ´e c´ıclico.

Demonstra¸c˜ao. SejamG um grupo de ordem prima p e a∈G,a6=e. Ent˜ao o subgrupo c´ıclicohaideGgerado poratem pelo menos dois elementos,aee. Pelo Teorema1.2.37, a ordemm ≥2 de haideve dividir o primo p. Portanto, necessariamentem=p ehai=G. Logo,G´e c´ıclico.

Como todo grupo c´ıclico de ordemp´e isomorfo aZp, ent˜ao segue do resultado anterior

que existe uma ´unica estrutura de grupo, a menos de isomorfismo, de ordem prima p.

Teorema 1.2.39. A ordem de um elemento de um grupo finito divide a ordem do grupo. Demonstra¸c˜ao. Lembremos que a ordem de um elemento ´e igual `a ordem do subgrupo c´ıclico gerado pelo elemento. Sendo assim, a prova desse teorema segue imediatamente do Teorema de Lagrange (Teorema1.2.37).

Defini¸c˜ao 1.2.40. Seja H um subgrupo de um grupo G. O n´umero de classes laterais `a esquerda deH em G´e o´ındice de H em G, denotado por(G:H) ou `as vezes tamb´em por [G:H].

Observemos que o ´ındice (G : H) pode ser finito ou infinito. Se G ´e finito, ent˜ao obviamente (G : H) ´e finito e (G : H) = |G|/|H|, j´a que cada classe lateral de H cont´em|H|elementos.

(18)

Demonstra¸c˜ao. Exerc´ıcio.

Exemplo 1.2.42. Considere 6Z≤ 2Z ≤ Z. Nesse caso, (Z : 2Z) = 2, (2Z : 6Z) = 3 e

(Z : 6Z) = 6.

O Teorema de Lagrange (Teorema1.2.37) mostra que se existe um subgrupoH de um grupo finito G, ent˜ao a ordem de H divide a ordem de G. A rec´ıproca ser´a verdadeira? Veremos na seguinte se¸c˜ao que isto ´e verdade no caso de grupos abelianos. No entanto, pode ser provado que A4 n˜ao tem subgrupo de ordem 6, fornecendo um contra-exemplo no caso de grupos n˜ao abelianos.

1.2.4

Produtos diretos e grupos abelianos finitamente gerados

Defini¸c˜ao 1.2.43. Oproduto cartesiano dos conjuntos S1, S2,· · ·, Sn ´e o conjunto formado por todas asn-uplas ordenadas (a1, a2,· · ·, an), comai∈Si, parai= 1,2,· · · , n. O produto cartesiano ´e denotado por

S1×S2× · · · ×Sn

ou por

n Y

i=1 Si.

Teorema 1.2.44. Sejam G1, G2,· · · , Gn grupos. Para (a1, a2,· · · , an) e (b1, b2,· · ·, bn) em Qni=1Gi, definamos(a1, a2,· · ·, an)(b1, b2,· · · , bn) como sendo o elemento

(a1b1, a2b2,· · ·, anbn).

Ent˜aoQni=1Gi ´e um grupo, oproduto direto dos gruposGi, sob esta opera¸c˜ao bin´aria.

Demonstra¸c˜ao. Notemos que, para todoi= 1, . . . , n, ai ∈ Gi, bi ∈Gi, eGi ´e um grupo,

temos que aibi ∈ Gi. Como consequˆencia Qni=1Gi ´e fechado pela opera¸c˜ao bin´aria. A lei

associativa em Qni=1Gi ´e v´alida em cada coordenada poisGi ´e um grupo. Se ei ∈Gi ´e o

elemento identidade, ent˜ao emQni=1Gi o elemento (e1, e2, . . . , en) ´e o elemento identidade.

Finalmente, dado (a1, a2, . . . , an) ∈ Qni=1Gi, o elemento (a−11, a

−1 2 , . . . , a

−1

n ) ´e o elemento

inverso. Logo Qni=1Gi´e um grupo.

Observa¸c˜ao 1.2.45. Caso a opera¸c˜ao de cadaGiseja comutativa poderemos usar nota¸c˜ao aditiva em Qni=1Gi e nos referimos a Qni=1Gi como a soma direta dos grupos Gi. A nota¸c˜ao⊕n

i=1Gi´e usada as vezes, ao inv´es da nota¸c˜ao Qn

i=1Gi, especialmente com grupos

(19)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 19

Exemplo 1.2.46. Consideremos o grupoZ2×Z3, de ordem 6. Podemos ver queZ2×Z3

´e c´ıclico, gerado por (1,1). Este grupo ´e isomorfo a Z6.

Exemplo 1.2.47. Consideremos o grupoG=Z2×Z2. Note queGtem ordem 4. Podemos

ver que Z2×Z2 n˜ao ´e c´ıclico. Este grupo ´e isomorfo ao grupo 4 de Klein.

Teorema 1.2.48. O grupo Zm×Zn ´e c´ıclico e ´e isomorfo a Zmn se, e somente se, m e

n s˜ao relativamente primos, isto ´e, se omcd de m en ´e 1.

Demonstra¸c˜ao. Suponhamos que o grupo Zm×Zn ´e c´ıclico e ´e isomorfo a Zmn.

Supo-nhamos por absurdo que mdc(m, n) =d > 1. Ent˜aomn/d ´e divis´ıvel por m e porn e ´e menor do quemn. Portanto, para qualquer par ordenado (r, s)∈Zm×Zn temos

(r, s) + (r, s) +· · ·+ (r, s)

| {z }

mn/dsomandos

= (0,0).

Portanto, nenhum elemento (r, s) emZm×Zn pode gerar o grupo inteiro. Logo,Zm×Zn

n˜ao ´e c´ıclico e n˜ao ´e isomorfo a Zmn o que ´e uma contradi¸c˜ao.

Suponhamos quemdc(m, n) = 1. Consideremos o subgrupo c´ıclico deZm×Zn gerado

por (1,1). Lembremos que a ordem deste subgrupo c´ıclico ´e o menor inteiro positivo r tal que quando operarmos (1,1) com ele mesmo r vezes obtemos o elemento identidade (0,0). Notamos que o primeiro 1 no par ordenado (correspondente a Zm) ´e zero (0)

quando operado com ele mesmo (um m´ultiplo de) m vezes. Similarmente, o segundo 1 no par ordenado (correspondente a Zn) ´e zero (0) quando operado com ele mesmo (um

m´ultiplo de) n vezes. Portanto, para obter 0 de forma simult´anea devemos operar (1,1) com ele mesmo um n´umero de vezes que deve ser um m´ultiplo de me n. O menor inteiro positivo que ´e um m´ultiplo de m e n ´e mn se, e somente se, mdc(m, n) = 1. Como por hip´otese mdc(m, n) = 1, ent˜ao (1,1) gera um subgrupo c´ıclico de ordem mn, que ´e a ordem do grupoZm×Zn. PortantoZm×Zn´e c´ıclico de ordemmn e isomorfo aZmn pois

m e ns˜ao relativamente primos.

Este teorema pode ser estendido a um produto de mais de dois fatores usando o mesmo tipo de argumento. Escreveremos isto como um corol´ario.

Corol´ario 1.2.49. O grupo Qni=1Zmi ´e c´ıclico ´e isomorfo a Zm1m2···mn se, e somente se,

os n´umeros mi parai= 1, . . . , n s˜ao tais que omcd deles, dois a dois, ´e igual a 1.

Exemplo 1.2.50. O Corol´ario 1.2.49 mostra que se n ´e escrito como um produto de potˆencias de n´umeros primos distintos, digamos

n= (p1)n1(p2)n2· · ·(p

r)nr,

ent˜ao Zn ´e isomorfo a

Z(p1)n 1Z(p2)n

(20)

Em particular, por exemplo, Z72 ´e isomorfo a Z8×Z9.

Observamos que mudando a ordem dos fatores em um produto direto obtemos um grupo isomorfo ao inicial.

Defini¸c˜ao 1.2.51.Sejamr1, r2, . . . , rn inteiros positivos. Seum´ınimo m´ultiplo com´um (abreviado pormmc) ´e o gerador positivo do grupo c´ıclico formado por todos os m´ultiplos comuns dosri, isto ´e, o grupo c´ıclico formado por todos os inteiros divis´ıveis por todos os

ri, para i= 1,2, . . . , n.

Teorema 1.2.52. Seja(a1, a2, . . . , an)∈Qni=1Gi. Se ai tem ordem finitari em Gi, ent˜ao a ordem de (a1, a2, . . . , an) ∈

Qn

i=1Gi ´e igual ao m´ınimo m´ultiplo comum de todos os ri.

Demonstra¸c˜ao. A prova segue repetindo o argumento usado na prova do Teorema1.2.48. Para que uma potˆencia de (a1, a2, . . . , an) seja (e1, e2, . . . , en), a potˆencia deve ser

simul-taneamente: um m´ultiplo de r1 que levaa1 no e1, um m´ultiplo de r2 que leva a2 no e2, etc.

Exemplo 1.2.53. A ordem de (8,4,10) emZ12×Z60×Z24 ´e 60. De fato, a ordem de 8

em Z12 ´e 12/4 = 3. De forma similar vemos que a ordem de4 em Z60 ´e 15e a ordem de 10emZ24 ´e12. Portanto, a ordem de (8,4,10)em Z12×Z60×Z24´emmc(3,15,12) = 60.

A seguir enunciaremos o importante resultado que descreve a estrutura dos grupos abelianos que tˆem um n´umero finito de geradores.

Teorema 1.2.54(Teorema fundamental dos grupos abelianos finitamente gerados). Todo grupo abeliano finitamente gerado G´e isomorfo a um produto direto de grupos c´ıclicos da forma

Z(p1)r1 ×Z(p2)r2 × · · · ×Z(pn)rn ×Z×Z× · · · ×Z,

ondepi s˜ao n´umeros primos, n˜ao necessariamente distintos, e osri s˜ao inteiros positivos. O produto direto ´e ´unico exceto por poss´ıveis re-arranjos dos fatores; isto ´e, o n´umero (n´umero de Betti de G) de fatores Z ´e ´unico e os n´umeros (pi)ri s˜ao ´unicos.

Exemplo 1.2.55. Todos os grupos abelianos de ordem 360, a menos de isomorfismo, s˜ao:

1. Z2×Z2×Z2×Z3×Z3×Z5

2. Z2×Z4×Z3×Z3×Z5

3. Z2×Z2×Z2×Z9×Z5

4. Z2×Z4×Z9×Z5

(21)

1.2 Grupos de permutac¸ ˜oes e o Teorema de Lagrange 21

6. Z8×Z9×Z5

Observa¸c˜ao 1.2.56. Um grupo ´e chamadodecompon´ıvelse ´e isomorfo a um produto di-reto de dois subgrupos pr´oprios n˜ao triviais. Caso contr´ario ´e chamadoindecompon´ıvel. Os seguintes fatos sobre grupos abelianos podem ser provados sem dificuldade usando o Teorema Fundamental dos Grupos Abelianos Finitamente Gerados (Teorema 1.2.54).

Os grupos finitos abelianos indecompon´ıveis s˜ao exatamente os grupos c´ıclicos com ordem uma potˆencia de um primo.

Se m divide a ordem de um grupo abeliano finito G, ent˜ao G tem um subgrupo de ordem m.

Referências

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