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O Multiculturalismo e o Hibridismo Religioso Brasileiros

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Academic year: 2020

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Resumo: este artigo trata do deslocamento do religioso brasileiro

como resultado do multiculturalismo e hibridismo religioso brasileiros, bem como do processo de individualização e experimentação no campo religioso comum de uma sociedade de massa, e ainda da midiatização da religião.

Palavras-chave: multiculturalismo, deslocamento, midiatização

As religiões tanto sofrem os efeitos como têm sido fatores importantes no processo de globalização.

(Alberto Moreira) Keila Matos, Mirian Matulio de Souza,

Rosângela da Silva Gomes

O MULTICULTURALISMO E O

CAMPO RELIGIOSO BRASILEIRO: INDIVIDUALIZAÇÃO

E EXPERIMENTAÇÃO

A

questão das mudanças no campo religioso brasileiro que emerge em nossos dias desafia cada vez mais a mente dos teóricos das religiões em elaborar pesquisas sobre essa demanda da atual sociedade. Este artigo discute como o homem moderno rompeu definitivamente o monopólio das instituições religiosas, abrindo caminhos para que novos grupos religiosos, em especial os mais motivados em recrutar adeptos, pu-dessem conquistar espaços, avançando numericamente e consolidando-se em determinadas áreas da sociedade.

Como exemplo disso Pierucci (2004) cita que o catolicismo como instituição religiosa desde a década de 1930 vem perdendo significativamente

bRASILEIROS

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fiéis para outras instituições religiosas, conforme dados do censo brasileiro de 2000. Ele indaga se essa não é sina das religiões tradicionais majoritárias em qualquer parte do mundo, pois qualquer religião tradicional, majoritária, numa sociedade que se moderniza, estará fadada a perder adeptos, o que seria para ele uma fatalidade sociocultural.

Esse autor diz que as chamadas sociedades pós-tradicionais, por meio do individualismo do mercado, fazem decair quaisquer filiações tradicionais, ou seja, forçam os indivíduos a se despir de seus antigos laços tanto cultu-rais e sociais quanto religiosos, relegando-os a algo como exclusivamente opcional e, por isso, experimental.

Reforçam a individualização, a busca instantânea de satisfação, levando o file ao mercado religioso da experimentação, que se dá num processo migratório entre as denominações religiosas, em busca de sua salvação. Através dos meios de comunicação, enriquecido de idéias, o espírito humano formado de reformulação de conhecimentos torna-se uma preocupação nos dias atuais, e não sem razão, uma vez que interessa a grande parte da população.

A vida social em todos os seus aspectos e em todos os momentos da sua história justifica a prática religiosa não pelo que está aparente, mas pelo produto de uma cooperação, obra de todos, que faz parte do pensamento coletivo, rico em elementos sociais.

A formação de comunidades religiosas, ou seja, os novos modelos de instituições religiosas crescentes no Brasil constituem-se com conteúdos específicos, com estímulos que desenvolva seu crescimento. Cria a impor-tância dos dogmas e com ela aparece a necessidade de se isolar de outras instituições ou doutrinas estranhas concorrentes, e para manter o domínio pela propaganda que também é um fator para migrações.

Os ensinamentos são importantes na comunicação dos grupos religio-sos, exercendo fortes influências na atualidade no campo brasileiro, porque o conceito de sacerdote foi substituído pelo do pregador. As pregações é o ensinamento coletivo sobre diversos assuntos, que vão do físico ao espiritual. Em regra, é através das pregações que o individuo se identifica com o grupo pelo qual fez sua opção.

A autodeterminação e a liberdade religiosa é caminho que sugere livre escolha do indivíduo, que em busca de satisfações pessoais se propõe romper com a lógica inclusivista e suscita uma reinterpretação da singula-ridade e subjetividade do individuo, tornando possível garantir a acolhida do pluralismo religioso num país como o Brasil, onde a diversidade cultural e religiosa sempre foi motivos de preconceitos.

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A RELAÇÃO ENTRE CULTURAS E O DIÁLOGO

ENTRE AS RELIGIÕES

Se pensarmos o futuro da religião na sociedade global sob uma perspectiva multicultural, perceberemos que multicuturalismo brasileiro favorece o hibridismo (fluidez, porosidade) religioso, por ser constituído de diferentes grupos étnicos, conseqüentemente, de uma diversidade cultural e religiosa. Consideramos aqui que a globalização é um fenômeno cultural e que não mais se pode falar em uma cultura global que rege uma determinada sociedade, mas que muitas sociedades são multiculturais, conseqüentemente, regidas pelo multiculturalismo. O multiculturalismo está entre as questões contemporâneas que mais se agrava, porém já existia desde a Antigüidade (Império Romano, por exemplo).

Stuart (2003) faz uma crítica desconstrutora dos termos multicultural e multiculturalismo e diz que, embora atualmente os termos multicultural e multiculturalismo sejam interdependentes, possuem conceituações distintas. De acordo com Stuart (2003, p. 50),

multicultural é um termo qualificativo. Descreve as características sociais e os problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo tempo em que retêm algo de sua identidade ‘original’. [...] multiculturalismo é um termo substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais.

O multiculturalismo não é uma doutrina, mas uma série de processos e estratégias políticas inacabados, porém, segundo Wallace (apud STUART, 2003, p. 52), “precisamos encontrar formas de manifestar publicamente a importância da diversidade cultural [...]”. A migração e o deslocamento os povos têm produzido cada vez mais sociedades étnica e culturalmente mistas, logo surgem questões de escolhas identitárias, especialmente em relação a gerações afrodescendentes diante, por exemplo, do catolicismo romanizado ou do pentecostalismo clássico.

Assim como ocorre na maioria das diásporas, as tradições variam de acordo com a pessoa, ou mesmo dentro de uma mesma pessoa, e constantemente são revisadas e transformadas em resposta às experiências migratórias.[...] Jovens [...]expressam certa fidelidade às tradições de origem, ao mesmo

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tempo em que demonstram um declínio visível em sua prática concreta. Declaram não uma identidade primordial, mas uma escolha de posição ao grupo que desejam ser associados. As escolhas identitárias são mais políticas que antropológicas [...] (STUART, 2003, p. 64).

O hibridismo são as culturas cada vez mais mistas e diaspóricas, em que as pessoas também são hibridizadas, pois uma pessoa muçulmana oci-dentalizada pode usar calça jeans e nunca faltar às orações de sexta-feira.

Como sociedade multicultural e pluriétnica, o Brasil apresenta uma complexa teia de questões de classe, gênero, etnia, religião e exercício de poder em que a cada momento uma mesma pessoa vive ângulos diferentes da mesma situação, demonstrando que todo ser humano sempre se vê inserido em um emaranhado de relações e identidades multiculturais independen-temente da posição social que ocupa.

Barth (1998, p. 187) informa que o raciocínio antropológico é de que “haveria agregações humanas que, em essência, compartilham uma cultura comum e diferenças interligadas que distinguiriam cada uma dessas culturas, tomadas separadamente de todas as outras”.

Ele enfatiza que a visão simplista de que um isolamento geográfico e social sustenta a diversidade cultural não procede, pois, essas distinções de categorias étnicas não dependem de uma ausência de mobilidade, con-tato e informação. Em contrapartida, relações sociais estáveis são mantidas através de fronteiras e são comumente fundamentadas em estatutos étnicos dicotomizantes.

Os grupos étnicos são suportes de cultura. Mesmo um grupo étnico ocupando vários nichos ecológicos diferentes conserva uma unidade cultu-ral e ética básicas por longos períodos. A respeito das fronteiras dos grupos étnicos, esses só se mantêm como unidades significativas se as diferenças culturais persistirem. Em se tratando da interdependência dos grupos étni-cos, para que isso ocorra deve haver uma complementaridade dos grupos no que concerne a certos traços de suas características culturais e que é dessa complementaridade que emerge uma interdependência.

O Brasil possui sistemas sociais poliétnicos, ou seja, é uma sociedade plural integrada no espaço mercantil sob o controle de um sistema estatal dominado por um dos grupos, mas deixando amplos espaços de diversidade cultural nos setores de atividade religiosa e doméstica.

Tanto a migração quanto a flutuação das comunidades religiosas no campo brasileiro podem facilmente identificadas quando, por exemplo, observamos as comunidades islâmicas, hinduístas, budistas no entorno do

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Distrito Federal, onde encontramos uma grande concentração de diversidade religiosa, típica de uma sociedade de mercado cultural de massa.

O INDIVÍDUO NO CONTEXTO DE SOCIEDADE

DE MASSA

A interculturalidade tem sido vivenciada através dos meios de comu-nicação e se concretiza através do deslocamento das massas migratórias. Na sociedade moderna, o deslocamento de massas populacionais rurais para as cidades causou uma concentração populacional, promovendo uma urbani-zação e industrialiurbani-zação que acarretaram com isso uma massificação.

Nesse momento surgem organizações de massa (partidos, sindica-tos, espetáculo/cinema, esporte/futebol...) e uma sociedade industrializada (indústria+técnica). Ao mesmo tempo em que essa sociedade industrializada exige especialização em diversos níveis da vida (preferências culturais...) acontece também um enfraquecimento da consciência coletiva, conseqüen-temente, surgem indivíduos atomizados e insensíveis aos valores coletivos. Na multidão (massa), o indivíduo passa a ter como identidade uma alma coletiva (homem massa).

Assim, a multidão absorve o indivíduo numa forma de contami-nação mental através de organizações que moldam tais indivíduos. Nesse distanciamento de si mesmo o indivíduo é invadido também por tecnolo-gias, por hibridizações de povos e por mercados mundiais com referenciais multiétnicos.

No pós-modernismo vive-se um deslocamento cultural cada vez mais flutuante, plural, incoerente, já que o indivíduo está cada vez menos capaz de se identificar (definir), pois ao mesmo tempo em que todas as culturas são aceitas, são consideradas provisórias. Por outro lado, essa crise das culturas gera no indivíduo uma maior capacidade de tolerância às diferenças.

Existem teorias da comunicação no contexto de sociedade de massa que indicam as condições vividas pelos indivíduos nas aglomerações urbanas. Aqui destacamos quatro delas (FERREIRA, 2007).

A primeira teoria é a Hipodérmica, em que o público é comparado aos tecidos do corpo humano, que atingido por uma substância (informação) todo o corpo social é atingido indistintamente. O indivíduo se comporta (age, pensa, sente) segundo os ditames dos estímulos (informações) dos meios de comunicação. Aqui o indivíduo é isolado (como pensar).

A segunda é a Crítica, em que o desenvolvimento da razão passa de emancipadora (autônoma, crítica) para instrumental (técnica), na medida

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em que a indústria cultural é um sistema que promove uma pseudo-indi-vidualidade, ou seja, a identidade do indivíduo é proposta pela sociedade num contexto regido pela cultura industrial. Aqui o indivíduo é vulnerável. Há uma supremacia da sociedade sobre o indivíduo, bem como uma atrofia da imaginação da espontaneidade do consumidor cultural. Então aqui o indivíduo é atomizado (no que pensar).

A terceira é a teroria do Agendamento (Agenda setting), em que tal agendamento determina no que o indivíduo vai pensar e não como através de uma tematização proposta no dia-a-dia, que passa a ser o objeto de conversa entre a pessoas, contribuindo que o indivíduo seja alienado (não pensar).

A quarta teoria é denominada Espiral do Silêncio, em que não há um agendamento de temas a serem conversados, mas provoca-se o silêncio do indivíduo. Os indivíduos se silenciam para não serem punidos quanto à discordância às opiniões dominantes. Assim, o indivíduo fica preso no silêncio (o que silenciar).

Junto a esse processo de massificação do indivíduo ocorre um des-locamento do religioso em que esse indivíduo começa a perceber que a religião não tem necessariamente ser buscada nos templos religiosos, mas pode também ser vivenciada em outras instâncias sociais que assumem as funções das instituições religiosas no campo cultural. Segundo Moreira (2008, p. 3), “os acontecimentos midiáticos de massa se tornaram vetores da experiência religiosa”.

CULTURA MIDIÁTICA E MIDIATIZAÇÃO DO RELIGIOSO

Cultura midiática é uma cultura de mercado pensada e produzida para ser transmitida e consumida segundo a gramática, a lógica própria, a estética e a forma de incidência e recepção peculiares ao sistema midiático cultural (MOREIRA, 2008).

De acordo com Thompson (apud MOREIRA; PUCCI; ZAMORA, 2008, p. 91), “se quisermos entender a natureza da modernidade [...] as características institucionais das sociedades modernas e as condições de vida criadas por elas, devemos dar um lugar central aos meios de comunicação e ao seu impacto”.

Na sociedade brasileira, a mídia tem um papel decisivo na vida pes-soal e no cotidiano das pessoas. Há informação e entretenimento altamente concentrados na dinâmica da economia de mercado em atividades culturais como música, cinema, shows, revistas, esporte, lazer, mercado das artes... (MOREIRA, 2008).

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No campo religioso não tem sido diferente, na medida em que, assim como Hollywood por meio do cinema ministra aulas de catequese (Paixão de Cristo), a TV e várias literaturas se encarregam da socialização religiosa. As cruzadas evangelísticas se tornam réplicas de shows seculares, pois sempre são acompanhados de pregação, mas também de apresentações de danças e músicas comparadas a números artísticos sofisticados (Diante do Trono). Percebemos também uma migração do próprio sacerdote que se apresenta como pregador, cantor e ator (Marcelo Rossi).

A tecnologia a serviço das igrejas tem contribuído para que elas ultrapassem as paredes dos seus templos e alcancem milhares de pessoas. A internet tem sido um meio de comunicação de massa utilizado por igrejas através de oração on line, transmissão de evento (cultos, shows) e divulgação (CDs, DVDs) por tecnologia streaming ou confissões de fiéis via skype. A Cultura Gospel no Mosaico Cristão Brasileiro

A cultura gospel se manifesta na valorização de gêneros musicais e no rompimento com a tradição de santidade protestante puritana de recusa da sociedade e das manifestações culturais por meio da abertura para a expressão corporal. Essa cultura tem na mídia religiosa o seu maior veículo de disseminação e de inspiração, e sua missão revela-se na busca de adeptos para o consumo dos bens e serviços religiosos oferecidos por suas mais diferentes expressões, independente de vinculação confessional (CUNHA, 2004).

A sociedade pós-moderna ou midiática caracteriza-se pela supervalori-zação do entretenimento e do lazer, ao mesmo tempo em que se torna mais dependente das novas tecnologias. Diante deste contexto, a prática religiosa apropria-se destes mecanismos como forma de divulgação e sobrevivência em meio ao espaço midiatizado (GALINDO, 2004).

O termo gospel usado no Brasil a partir da década de 1990 para iden-tificar música contemporânea cristã foi apenas uma estratégia mercadológica. O gospel brasileiro é uma renovação musical dentro da Igreja com intuito de tornar a música evangélica mais relevante para a geração atual.

Por algum tempo a expressão gospel era ligada somente à música gospel. Mesmo assim, o pensamento que se tinha era que ela era identificada como qualquer música cantada por cantores cristãos (jazz gospel, reggae gospel, country gospel, pop gospel, country gospel, rock gospel...), porém ela tem um estilo próprio, desenvolvido a partir de spirituals cantados por cristãos negros norte-americanos no início do século XXI.

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O desenvolvimento do gospel deu-se especialmente pela segregação racial na América do Norte. Os escravos negros convertidos ao cristianismo que freqüentavam as igrejas brancas eram inferiorizados por causa da sua cor. Então muitos deles começaram a formar congregações negras (Igreja Metodista Episcopal Africana/Sociedade Africana Livre).A Igreja e o lar eram os dois ambientes em que eles tinham liberdade para praticar seus costumes, preservar sua cultura (escravos brasileiros/cultos afro, negros/música). A música gospel é caracteristicamente espontânea e profundamente emocional, sincopada (ligação da última nota de um compasso com a primeira da do seguinte e com alteração do timbre dos cantores.

Para um produto ser vendido em círculos evangélicos na década de 1990, precisava ser rotulado com o termo gospel. Gospel é uma tentativa de massificar uma marca, defendida como estratégia mercadológica.

Além da música gospel, vieram a moda gospel, a igreja gospel e a linguagem gospel. Se não bastasse tudo isso, tivemos também cosméticos gospel, prestação de serviços gospel e até dieta gospel (Dieta de Jesus, Dieta do Criador). Tudo explorando um nome, uma imagem criada para o consumo em massa.

O resultado é que, em vez de ser parte de um avivamento musical com o objetivo de revelar a Glória de Deus ao mundo moderno, o movimento gospel correu o risco de entrar para a História como aqueles que vendem Jesus como se vendessem cerveja e cigarros.

CONCLUSÃO

A diversidade cultural brasileira é marcada por fortes diferenças re-gionais e representa as chaves interpretativas da vida das crenças e práticas religiosas. Os novos grupos religiosos investem todos os esforços para a concretização do bem-estar humano, com inúmeras promessas para os dias atuais. Uma cumplicidade estabelece-se entre as pessoas de todas as idades de todos os níveis sociais, já não se trata mais de ser rico ou pobre, branco, negro ou mestiço, rural ou urbano, trata-se de pertencer a um grupo ou a uma comunidade, levando a uma percepção individual do mundo que é influenciada pelo grupo.

Sobre o interesse religioso, sabemos que um grupo ou classe encontra em um determinado tipo de prática ou crença religiosa, e isto, é o resultado do poder de legitimação que uma religião exerce sobre a força material e simbólica. Sobre o modo de solução para a ética individual podemos dizer fundamentalmente que uma religião que predomina dentro de uma

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asso-ciação política é privilegiada por esta principalmente quando se trata de uma religiosidade de graça institucional, em recepção mútua sob pressão da necessidade de atender exigências éticas e intelectuais de seus adeptos.

Segundo Durkheim (1858, p. 33),

Na base de todos os sistemas de crenças e de todos os cultos deve, necessa-riamente haver certo número de representações fundamentais e de atitudes rituais que, apesar da diversidade das formas que umas e outras puderam assumir, apresentam, por toda parte, o mesmo significado objetivo e também, por toda parte, exerçam as mesmas funções. São esses elementos permanentes que constituem o que existe de eterno e de humano na religião; formam todo o conteúdo objetivo da idéia que se exprime quando se fala da religião em geral. Como, pois, é possível chegar a tingi-los?

Aquilo que o grupo aprova ou valoriza tende a ser selecionado na percep-ção pessoal; já o que é rejeitado ou indiferente aos valores do grupo tem menor possibilidade de ser selecionado pela percepção do sujeito – e se for significativa para o sujeito, este o guarda para si ou o elabora de forma a adaptá-lo aos valores do grupo, seja de forma lúdica, simbólica ou distorcida, no intuito de evitar a censura coletiva. A consciência de ser pode gerar solidão caso não haja a cons-ciência de pertencer, ou seja, de compartilhar a existência com outros.

A pessoa tem dimensões fantásticas e maravilhosas, suas potencialida-des são inimagináveis, sua vida é marcada por pensamentos e atos místicos mágicos e supersticiosos. Quando reflete e pensa sobre o assunto tem a consciência de sua transcendência, tendo necessidades que transcendem o conhecimento e as habilidades. Não basta saber fazer, também precisa crescer no seu ser e desenvolver sua escala de valores humanos necessita de orientações de referências existenciais, de palavras e exemplos que dêem sentido a sua vida. Nessas condições de individualização e experimentação que lhe dão sentido à vida, o individuo não encontra dificuldades para romper com seguimentos religiosos. Portanto, demonstrando que é ele quem escolhe e organiza sua religião.

Segundo o exposto neste artigo, no campo religioso surgem mudanças duradouras implantadas pelo processo de globalização, entre elas, podemos, com base em Moreira (2008), elencar as seguintes: religião e ordem global se interpenetram; há uma proximidade de fronteiras entre sistemas simbólicos; há uma hibridização de práticas religiosas; há um pluralismo religioso; há um de-senvolvimento de identidades particulares; há a religião da escolha do indivíduo; há um deslocamento do religioso e também uma midiatização do religioso.

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Referências

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Abstract: this article deals with the displacement of the Brazilian religious as

a result of religious hybridity and multiculturalism Brazilians, and the process of individuation and the religious field trial of a common mass society, and yet the media coverage of religion.

Keywords: multiculturalism, displacement, media coverage KEILA MATOS

Doutoranda em Ciências da Religião na PUC Goiás. E-mail: kcmatos@yahoo.com.br. MIRIAN MATULIO DE SOUZA

ROSÂNGELA SILVA GOMES

Referências

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