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CATEGORIA: CONCLUÍDO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE. SUBÁREA: Fisioterapia INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

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TÍTULO: EFEITOS DA ESTIMULAÇÃO TRANSCRANIANA POR CORRENTE DIRETA ASSOCIADA À

EDUCAÇÃO DA DOR POR NEUROCIÊNCIA NA DOR EM PACIENTES COM CERVICALGIA CRÔNICA: ENSAIO PLACEBO-CONTROLADO ALEATORIZADO

CATEGORIA: CONCLUÍDO

ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE

SUBÁREA: Fisioterapia

INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

AUTOR(ES): VICTÓRIA PEREIRA LACERDA

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EFEITOS

DA

ESTIMULAÇÃO

TRANSCRANIANA

POR

CORRENTE DIRETA ASSOCIADA À EDUCAÇÃO DA DOR POR

NEUROCIÊNCIA NA DOR EM PACIENTES COM CERVICALGIA

CRÔNICA: ENSAIO PLACEBO-CONTROLADO ALEATORIZADO

Victória Pereira Lacerda

Resumo: A cervicalgia é caracterizada por dor entre a linha nucal superior até a espinha da escápula, atingindo atualmente grande parte da população, sendo severamente incapacitante, podendo levar à diminuição da qualidade de vida e absenteísmo no trabalho. Nesta pesquisa o objetivo foi avaliar os efeitos da ETCD na dor em pacientes com cervicalgia crônica. A estimulação transcraniana por corrente direta (ETCD) consiste na aplicação de corrente elétrica contínua, gerada pela colocação de dois eletrodos em regiões diferentes do escalpo e pode gerar modulação de áreas específicas do cérebro e seus efeitos podem durar além do tempo de estimulação. O método usado ‘tratou-se de um ensaio placebo-controlado aleatorizado com avaliador e paciente cegos de dois braços. Os instrumentos de medida usados foram: Escala numérica de Dor, Questionário de padrão de Dor McGill –forma abreviado e Limiar de dor por pressão. Em resultados foi observado que tanto grupo placebo quanto ativo obtiveram melhora do padrão de Dor, em todos os testes e questionários. Conclui-se que o efeito foi placebo, no entanto foi possível observar que a corrente gerou modificações na sensibilização central do grupo ETCD ativo, e a intervenção baseada em Educação da Dor por neurociência teve eficácia em ambos grupos.

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2 INTRODUÇÃO

A cervicalgia é caracterizada por dor entre a linha nucal superior até a espinha da escápula, sendo severamente incapacitante, apresentando grande impacto pessoal e socioeconômico e pode levar à diminuição da qualidade de vida e absenteísmo no trabalho; o quadro pode se irradiar para o membro superior, caracterizando uma cervicobraquialgia¹ .

A dor cervical inclui distúrbios associados ao efeito chicote, dor de cabeça e síndrome cervical radicular9. Uma revisão sistemática relatou taxas de recuperação de dor cervical variando de 16% a 99%³0. Aproximadamente 50% das pessoas com cervicalgia continuam a experimentar algum grau de dor de 6 a 12 meses após uma lesão2,31. O prognóstico da doença é importante no processo de tomada de decisão clínica. Quando o prognóstico para um paciente com cervicalgia é favorável, a intervenção pode ser limitada à educação da dor e orientações; no entanto, um paciente com mau prognóstico pode necessitar de uma profunda avaliação seguida por uma terapia específica³0. Comparados a indivíduos saudáveis, pacientes com dores crônicas tem uma resposta exagerada da dor à estimulação dos tecidos que se encontram distantes do sítio do primário dos sintomas20,21, o que sugere aumento dos processos nociceptivos centrais. Impulsos aferentes nociceptivos prolongados podem levar a um aumento da excitabilidade de neurônios sensoriais centrais e mudanças na plasticidade, levando à hipersensibilidade, assim produzindo uma resposta exagerada da dor24,26. Existem evidências que demonstram aumento da sensibilização central em uma variedade de condições de dor crônica, incluindo a dor cervical crônica22,23,27. A presença de sensibilização central implica que o cérebro produz dor, fadiga e outros "sinais de alerta" mesmo quando não há nenhum dano tecidual real ou nocicepção. Assim, o cérebro de pacientes com dor crônica deve tornar-se um alvo importante tratamento. Isto pode ser conseguido explicando aos pacientes o mecanismo de sensibilização central com evidência na neurociência moderna, uma estratégia conhecida como educação da dor por neurociência17. Um dos principais objetivos da educação da dor é mudar crenças dos pacientes através da reconceptualização da dor. Dessa forma, os pacientes devem tomar conhecimento de que a dor, por si só, não resulta em danos teciduais.

A aplicação de correntes elétricas com o objetivo de modificar as funções cerebrais é uma técnica antiga, descrita há mais de duzentos anos27,32. Os primeiros

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estudos em modelos animais demonstraram que a estimulação de baixa intensidade com eletrodos intracerebrais ou epidurais, induz uma atividade cortical e alterações de excitabilidade que podem permanecer estáveis por longos períodos após a estimulação31. A permanência destes efeitos mostraram-se dependentes da síntese de proteínas e acompanhados de alterações intracelulares dos níveis de AMPc e cálcio.6,7,10 Também foi observado que a aplicação transcraniana de corrente elétrica induz um fluxo de corrente intracerebral grande o suficiente para alterar a atividade neuronal e o comportamento de um indivíduo.

A estimulação transcraniana por corrente direta (ETCD) consiste na aplicação de corrente elétrica contínua, gerada pela colocação de dois eletrodos em regiões diferentes do escalpo. O efeito da estimulação depende de quatro variáveis principais: tipo de estimulação (anodal ou catodal), intensidade de corrente, posição dos eletrodos no escalpo e duração de estimulação. Dependendo das variáveis de estimulação, a ETCD pode modular áreas específicas do cérebro e seus efeitos podem durar além do tempo de estimulação.

Nas últimas décadas, os efeitos da ETCD foram reavaliados, confirmando os estudos iniciais e despertando novo interesse em pesquisadores. Mostrou-se segura e confiável na modulação da função cortical cerebral de humanos, induzindo mudanças focais e prolongadas, porém reversíveis, na excitabilidade cortical.20,21,22 A aplicação de uma sessão única ou múltipla de ETCD foi estudada para diversas condições médicas evidenciando melhora de processos cognitivos,4,11,12,23,28,29 efeitos benéficos na reabilitação de pacientes com acidentes encéfalo-vasculares crônicos3,8 e se mostrou uma potencial ferramenta no tratamento da dor. Entretanto, o uso da ETCD no tratamento da dor é pouco explorado e pouco se entende quanto à base neurofisiológica deste procedimento.

A ETCD é uma técnica amplamente estudada em diversos centros ao redor do mundo, e tem se mostrado segura e com efeitos colaterais mínimos quando utilizados protocolos de segurança de parâmetros de estimulação.24 De acordo com Agnew e McCreery (1987), a estimulação elétrica cerebral produziria eletroquimicamente produtos tóxicos ao cérebro e produtos da dissolução metálica dos eletrodos na interface eletrodo-tecidual que poderiam lesar o cérebro. Claramente, este fator não tem importância no caso da estimulação transcraniana devido a ausência de interface cérebro-eletrodo. A geração destes produtos são os

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únicos riscos da estimulação transcraniana em relação ao contato com a pele.1 Se a ETCD é realizada com as esponjas dos eletrodos embebidas em soro fisiológico, as reações químicas na interface eletrodo-pele são amplamente minimizadas.

Ainda existem muitas dúvidas a respeito das densidades de corrente geradas na estimulação por ETCD, incluindo questionamentos se a magnitude da corrente é suficiente para atingir o córtex e para influenciar a atividade neural.30,16 ; como as diferentes montagens de eletrodos influenciam nas correntes de estimulação21,22,25 e qual o papel das diferenças anatômicas resultantes de doenças neurológicas, como acidentes encéfalo-vasculares, na distribuição das correntes.3 Mesmo com estudos comportamentais e de imagem19 que mostram os efeitos cerebrais da ETCD, pouco foi feito para quantificar as densidades de correntes durante a estimulação e compará-las a magnitude necessária para estimulação neural, ou analisar a influência de diferentes parâmetros de nas correntes estimulação.

Os mecanismos de ação da estimulação elétrica transcraniana ainda é um campo de pesquisa em expansão. Os poucos estudos da ETCD em dor são direcionados a estímulos no córtex motor primário (M1), e apesar de mostrar um efeito positivo, os reais motivos da melhora após estimulação não são completamente entendidos. Sabe-se que a ETCD atua na excitabilidade cortical modificando o potencial transmembrana de repouso, despolarizando-a e promovendo um efeito excitatório (ETCD anodal) ou hiperpolarizando-a resultando em efeito inibitório (estimulação catodal). Sugere-se que as modificações transitórias desencadeiem mudanças plásticas, dependentes de glutamato, devido a mudanças nas concentrações intracelulares de íons de cálcio. Estes efeitos são, teoricamente, dependentes de polarização, pois as estimulações anôda e catôda resultam, respectivamente, em facilitação ou inibição da transmissão sináptica. As consequências em longo prazo da estimulação parecem ser dependentes de modificações da neuroplasticidade relacionada a receptores NMDA.18

A dor tem se tornado o novo foco de estudo de aplicação da ETCD. No entanto, é pouco provável que os efeitos analgésicos observados sejam decorrentes apenas da estimulação direta desta área, mas sim, de regiões cerebrais estruturalmente conectadas a M1 e estimuladas secundariamente. A aplicação da ETCD sobre o córtex M1 tem um efeito local, mas também é capaz de promover mudanças metabólicas, detectáveis por até 50 minutos por PET Scan, em regiões

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cerebrais distantes como o polo frontal contralateral e o córtex motor sensorial.14 Alterações semelhantes foram observadas com o uso ressonância magnética funcional (fMRI), mostrando aumento do efeito BOLD em córtex parietal posterior contralateral e córtex motor suplementar ipsilateral após ETCD anôda de 1 mA em indivíduos normais.13

Estes efeitos espacialmente distantes parecem ter papel principal no efeito analgésico da ETCD. Em outro estudo de fMRI, a ETCD catodal em M1 provocou redução de 57% do fluxo sangüíneo na área motora suplementar durante a tarefa de oposição dos dedos, enquanto não foram observadas mudanças significativas nas áreas subjacentes ao local de estimulação no escalpo.2 Em outro estudo30, os autores observaram que a estimulação catodal com 1.0 mA por sete minutos pode reduzir a discriminação tátil contralateral de estímulos vibratórios. Além disso, ETCD catodal de 1.0 mA por quinze minutos aplicada sobre o córtex sensorial primário, diminuiu a pontuação no escore numérico verbal analógico (VNA) para dor evocada por laser e aplicada no lado contralateral.

Fregni et al., estimulou com ETCD anodal, de 2.0 mA sobre M1 por vinte minutos, um grupo homogêneo de pacientes com lesão de medula espinhal. Redução importante (>50%) da escala visual analógica (EVA) foi encontrada em 63% dos pacientes após a quinta sessão, principalmente em dor paroxística localizada em membros inferiores. Não foram observados efeitos após 2 semanas. Este foi o primeiro relato do uso de ETCD em distúrbio de dor predominantemente neuropática mostrando bom efeito analgésico (58%) e de curta duração.

Em fibromialgia, o mesmo grupo mostrou que cinco sessões consecutivas diárias de ETCD sobre M1, proporcionaram efeito analgésico na dor difusa relacionada a esta patologia, chegando a reduções de até 58% na pontuação da escala visual analógica.5 Apesar do crescente número de estudos em ETCD, estas pesquisas ficaram restritas a alguns tipos muito particulares de Síndromes Dolorosas, a quase totalidade dos estudos avaliou pacientes com dor neuropática após lesão medular e fibromialgia. Algumas síndromes dolorosas extremamente prevalentes na população geral como as dores por excesso de nocicepção nunca foram avaliados. O objetivo do presente estudo é avaliar os efeitos da estimulação transcraniana por corrente direta (ETCD) na dor em pacientes com cervicalgia crônica associada a educação em dor por neurociência.

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São poucos estudos relacionando o uso da ETCD na melhora da dor e incapacidade em pacientes com cervicalgia crônica, sendo assim, se faz necessário o aprimoramento desse tema e método.

OBJETIVO

Avaliar os efeitos da estimulação transcraniana por corrente direta (ETCD) associada à educação da dor por neurociência na dor em pacientes com cervicalgia crônica.

MÉTODOS

Tipo de estudo

Trata-se de um ensaio placebo-controlado aleatorizado com avaliador e paciente cegos de dois braços.

Consideraçõeséticas

O estudo teve início após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Paulista (UNIP). O número do protocolo de aprovação no Comitê de Ética é 96332918.2.0000.5512. Todos os participantes concordaram e assinaram os itens especificado no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Casuística

Foram incluídos no estudo indivíduos com cervicalgia crônica em acompanhamento na Clínica de Fisioterapia da Universidade Paulista e também através da divulgação em meios de comunicação, que apresentaram quadro de dor cervical não específica há pelo menos 3 meses e obtiveram nível mínimo do dor 3 na escala verbal numérica da dor. Foram incluídos pacientes com dor em região cervical, com idades entre 18 e 60 anos e de ambos os sexos. Foram excluídos pacientes portadores de doenças graves de coluna, tais como fraturas, tumores e doenças inflamatórias, como espondilite anquilosante; condições radiculares da coluna confirmadas por testes neurológicos (hérnia discal e espondilolistese com

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comprometimento neurológico, estenose de canal medular e outros); antecedentes de crises convulsivas ou epilepsia, antecedente de traumatismo craniano; doenças neurológicas; doença psiquiátrica prévia ou depressão; doenças cardiorrespiratórias graves; gravidez; infecção no local de aplicação da corrente; câncer; marcapasso cardíaco; lesões de pele no local de aplicação da corrente; alterações de sensibilidade e alergia na região de posicionamento dos eletrodos.

Os participantes foram avaliados por um terapeuta responsável pelas avaliações durante a pesquisa para verificação de enquadramento nos critérios de inclusão do estudo. Os participantes elegíveis foram informados sobre os objetivos do estudo.

O avaliador da pesquisa e o participante não tiveram acesso a qual grupo de tratamento o paciente foi alocado. Devido à natureza da intervenção, somente o terapeuta responsável sabe em qual dos grupos de tratamento o sujeito foi alocado.

Randomização

Após a avaliação, os voluntários foram encaminhados para o terapeuta responsável pelo tratamento, o qual abriu o envelope lacrado antes do início do tratamento para ter conhecimento de qual grupo o paciente faria parte (Grupo ETCD ativo ou Grupo ETCD placebo). A randomização foi realizada por um pesquisador não envolvido com o recrutamento e tratamento dos participantes. A alocação dos sujeitos foi feita de forma aleatória, utilizando o programa radomization.com e os códigos dos grupos foram guardados em envelopes lacrados e opacos. Os envelopes lacrados foram guardados em local seguro, de acesso apenas ao pesquisador responsável pela randomização e concedidos ao terapeuta responsável pelo tratamento.

Intervenção

Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em 2 grupos: 1) ETCD bipolar ativo e 2) ETCD bipolar placebo. No grupo ETCD bipolar ativo foi utilizada a corrente Galvânica durante 20 minutos de estimulação, com a intensidade de 2 miliamperes, com os eletrodos embebidos no soro fisiológico acoplados na região Fronto Temporal Esquerda (eletrodo negativo) e na região do CZ no escalpo (eletrodo positivo), e no grupo ETCD bipolar placebo a corrente não foi ligada.

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Foram realizadas 8 sessões de indução, 2 vezes por semana, totalizando 4 semanas de tratamento. O follow-up foi de 1 mês após aleatorização.

As avaliações de dor, limiar de dor por pressão, e questionários foram aplicadas antes e após a intervenção, além de seguimento pós, que foi realizado 1 mês após o término da intervenção.

Durante todo o protocolo, os pacientes mantiveram seu tratamento farmacológico habitual, uma vez que como o uso do ETCD é experimental, ele foi adicionado ao esquema de tratamento farmacológico ou não farmacológico utilizado pelo doente previamente à intervenção.

INSTRUMENTOS DE MEDIDA Escala verbal numérica da dor

Corresponde a uma linha contínua de 10 centímetros sendo graduado de zero (sem dor) e dez (dor insuportável).

Questionário de padrão de Dor McGill –forma abreviada

Avaliam as dimensões da experiência dolorosa segundo 20 subgrupos de descritores, agrupados em quatro grupos de palavras qualitativamente similares, que expressam a sintomatologia com magnitude crescente e possibilitam ao doente avaliar os componentes sensitivos, discriminativos e temporoespaciais (subgrupos de 1 a 10), os afetivoemocionais, neurovegetativos e punitivos (subgrupos de 11 a 15) e os avaliativos de situação gral da dor ( subgrupo 16).O grupo miscelânea contêm quatro subgrupos de expressões não aplicáveis aos subgrupos prévios. O índice de dor, obtido pela somatória dos valores e número de descritores acolhidos, possibilita quantificar a dor.

Limiar de dor por pressão (Pressure pain threshold, PPT)

As avaliações foram realizadas antes da aplicação da corrente. Essa avaliação foi feita na primeira e na última sessão. Foi realizada a higienização com álcool gel nas áreas de avaliação. Após a limpeza da pele, foram demarcadas, com auxílio de uma fita métrica e caneta, as áreas onde seria realizada a algometria. Os

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limiares de dor de pressão foram medidos bilateralmente com um algômetro de pressão analógica, ambos em níveis sintomáticos (músculo trapézio) e em um local remoto (músculo quadríceps).

O pesquisador avaliador realizou um estudo preliminar de confiabilidade intraexaminador para a mensuração do limiar de dor por pressão nos pontos de avaliação que foram utilizados no estudo. Foram recrutados 10 participantes com dor cervical crônica que foram avaliados em 2 ocasiões com intervalo de 48 horas entre elas. A confiabilidade intra-avaliador para a mensuração do PPT foi estimada calculando-se os coeficientes de correlação intraclasse (ICC 3,2) para o músculo trapézio e para a musculatura de quadríceps.

Durante a mensuração do PPT, a sonda circular do algômetro (com 1 cm 2 de área) foi posicionada perpendicularmente à pele e pressionada a uma taxa de aproximadamente 50 kPa/s17. Os participantes foram solicitados a avisar quando a sensação de pressão ou desconforto se tornar uma sensação nítida de dor. Duas medidas em kPa foram coletadas de cada área com intervalo de 30s entre as mesmas. Em cada participante foram realizadas 2 demonstrações do procedimento nos músculos extensores do antebraço dominante para assegurar que houvesse compreensão do teste. Caso existisse dúvida, uma terceira demonstração seria realizada.

Análise Estatística

A análise dos dados foi realizada ao fim do tratamento por um estatístico cego. Foi utilizada a estatística descritiva das variáveis em estudo. Para a análise de dados, foi utilizada como ferramenta a média e desvio padrão.

RESULTADOS

A partir dos procedimentos descritos no item ‘’Método’’, avaliamos trinta possíveis pacientes que entraram em contato. Dois pacientes não puderam iniciar o tratamento por restrição médica, um por não se encaixar em nossos critérios (idade), doze por falta de disponibilidade e os quinze restantes iniciaram o tratamento. Dentre os quinze pacientes que iniciaram o tratamento três desistiram, sendo assim, a reavaliação e a análise de dados foram realizadas nesses doze pacientes

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restantes. A Tabela 1 se refere aos dados demográficos e as características clínicas, a maioria dos participantes eram mulheres e a duração média de dor dos participantes era de aproximadamente 1 ano e nove meses.

A Tabela 2 se refere ao teste “Escala verbal numérica da dor “ que avalia o nível de dor de 0 á 10 dos pacientes, o grupo ativo obteve uma diminuição no nível de dor, porém o grupo placebo também obteve uma diminuição.

Na Tabela 3 verificamos que no questionário de Padrão de Dor McGill os pacientes também obtiveram uma melhora no índice de dor, tanto ativo quanto placebo.

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No Limiar de Dor por Pressão também observamos melhora em ambos os grupos (Tabela 4), porém o limiar de dor da musculatura quadríceps do grupo ativo teve um aumento maior do que o do placebo, o que nos indica que a corrente possivelmente teve ação no processo de sensibilização central.

DESENVOLVIMENTO

Este estudo mostra que o tratamento com ETCD ativa não foi melhor do que a ETCD placebo, nem após 8 sessões de tratamento, nem 1 mês após a randomização, diferentemente dos resultados obtidos em um estudo sobre a ETCC em pacientes com fibromialgia33 que demonstrou uma diferença significante entre grupo ativo e placebo através do teste Escala Numérica da Dor, esse estudo foi realizado com 20 participantes e com corrente contínua de intensidade de 1,0mA, já no presente estudo a intensidade utilizada foi de 2,0mA. Em outro estudo com 10 participantes, os autores avaliaram os efeitos da ETCD na modulação da dor lombar crônica37, foram utilizados os mesmos parâmetros da nossa intervenção, 20 minutos de ETCD com uma corrente de 2mA, no entanto eles realizaram 5 sessões, sendo 1 vez ao dia, e em seu resultado o estudo demonstrou que 70% dos indivíduos obtiveram uma melhora através do limiar de Dor por pressão, porém nesse estudo não houve um grupo placebo, enquanto que na presente intervenção ambos os grupos obtiveram uma melhora.

Foi possível observar durante as sessões de tratamento realizadas, que a aula de educação em dor por neurociência realizada na primeira sessão foi bem aceita, esclarecendo dúvidas e servindo para minimizar as crenças relacionadas à dor dos participantes. Em um estudo houve a combinação da educação da dor por neurociência com treinamento de controle motor direcionado à cognição em pacientes com dor crônica da coluna vertebral36 e os resultados foram positivos, eles

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verificaram que o cérebro dos pacientes com a dor crônica na coluna vertebral se diferia do cérebro de pessoas saudáveis, pessoas com essa patologia possuíam uma hiperexcitabilidade do sistema nervoso central e anormalidades cerebrais, como diminuição da densidade da matéria cerebral. Enquanto o presente estudo optou por combinar a educação da Dor por neurociência com a ETCD, sabe-se que a presença de sensibilização central implica que o cérebro produza dor e outros sinais de alerta mesmo quando não há dano tecidual em potencial, e isso pode ser explicado aos pacientes através de estratégias de educação da dor por neurociência, assim como foi realizado nessa intervenção, onde nos mostrou sua efetividade.

Apesar de ambos os grupos terem melhorado em relação ao nível de dor, no teste Limiar de Dor por Pressão, o grupo ativo teve uma melhora considerável do padrão de Dor da musculatura quadríceps quando comparado com a musculatura quadríceps do grupo placebo, isso nos indica que a corrente provocou uma melhora no processo de sensibilização central dos pacientes, já que a musculatura do quadríceps era um ponto remoto longe do sítio primário dos sintomas, roborando um estudo anterior sobre os efeitos modulatórios da estimulação transcraniana direta anódica sobre os limiares de percepção e dor em voluntários saudáveis34, nesse estudo o resultado foi positivo referente ao limiar de dor.

O número de participantes foi pequeno para se ter resultados conclusivos, e o fato de juntarmos duas formas de intervenções diferentes (Educação da Dor por Neurociência e ETCD) também interfere no resultado entre placebo e ativo, lembrando que o grupo placebo também recebeu a aula de Educação em Dor, o que nos mostra a sua eficácia, assim como na revisão sobre o efeito da educação em neurociência sobre dor, incapacidade, ansiedade e estresse na dor musculoesquelética crônica35, que concluiu que a estratégia educacional que aborda a neurofisiologia e a neurobiologia da dor pode ter um efeito positivo sobre a dor.

A maior dificuldade desse estudo foi encontrar voluntários que estivessem disponíveis, e devido a isso acabavam por não iniciar o tratamento. Em futuros estudos sobre o assunto seria de grande importância conseguir uma maior quantidade de participantes e separar as formas de intervenção e/ou a forma como seria avaliada e reavaliada cada uma delas.

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O objetivo do trabalho foi concluído, e apesar do efeito ter sido placebo referente à corrente foi observado melhora na sensibilização central, sendo nítido que a intervenção baseada em educação da dor por neurociência teve um resultado positivo, refletindo na melhora do nível de dor dos participantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados demonstraram que ambos os grupos (Placebo e Ativo), obtiveram uma melhora na dor baseado na Escala Numérica da Dor, no Questionário de Padrão de Dor McGill e no Limiar de Dor por Pressão. Percebemos então que o grupo Ativo não foi melhor que o Placebo, isso pode ter ocorrido, pois os dois grupos tiveram acesso á intervenção baseada na educação da dor por neurociência, mostrando sua possível efetividade. É importante enfatizar que para maiores conclusões o número de pacientes deverá ser maior em futuros estudos sobre a ETCD.

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Referências

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