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Terceira Civilização - Estudo. [1.3] Carta de Sado. Meus discípulos, vençam com o coração de um rei leão! Prólogo da nova série de explanações

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Terceira Civilização - Estudo

[1.3] “Carta de Sado”

Meus discípulos, vençam com o coração de um rei leão!

Prólogo da nova série de explanações

O Gosho é a fonte da qual brota a vitória

O Gosho, ou os escritos de Nitiren Daishonin, constitui uma compilação de ensinos para se conquistar a vitória. É a força motriz para triunfar em tudo — na vida e na sociedade, na batalha contra as funções maléficas e para sobrepujar o carma negativo.

Filosofia de transformação interior, o Budismo de Nitiren Daishonin fortalece as pessoas ao máximo, permitindo-lhes cultivar a força, a sabedoria e a riqueza de espírito. Cada palavra, cada frase do Gosho estão imbuídas do desejo do Buda: despertar as pessoas para o potencial inerente e fazê-las manifestar essa força. A imensa benevolência de Daishonin, como Buda dos Últimos Dias da Lei, é ajudar os discípulos e todas as pessoas a conquistarem a vitória na vida. Podemos sentir esse desejo pulsar vigorosamente em cada um dos escritos.

O Gosho é a fonte da vitória duradoura; detém a chave para o êxito e a prosperidade de todas as pessoas. Portanto, enquanto a SGI avançar tendo o Gosho como base, continuará a se desenvolver sempre.

Iniciamos 2009, o “Ano dos Jovens e da Vitória” da SGI. Posso dizer com imensa alegria que desfruto excelente saúde. Pelo bem de nossos jovens e de nossa vitória eterna, é meu desejo exercer a liderança com ainda mais vigor em prol do

Kossen-rufu, tendo como base os escritos de Nitiren Daishonin. De minha parte, pelo bem da posteridade, continuarei a falar e a escrever sobre o espírito budista essencial de mestre e discípulo. Este ano também vamos estudar o Gosho, o escrito eterno da SGI, e expandir ainda mais nossa magnífica rede de pessoas que vivem com base no espírito de jamais serem derrotadas.

“Carta de Sado” — a base da Soka Gakkai

Nesta nova série, gostaria de focar em profundidade os escritos de Daishonin que serviram de inspiração e alicerce espiritual aos três primeiros presidentes da Soka Gakkai. O primeiro escrito é “Carta de Sado”, que Nitiren Daishonin deixou para as futuras gerações com o apaixonado desejo de defender e preservar o ensino budista correto. Nesse sentido, é um escrito que transmite poderosa mensagem aos discípulos de Daishonin.

Não seria exagero dizer que “Carta de Sado” é o Gosho da Soka Gakkai. Digo isso porque os três primeiros presidentes, unidos pelos laços de mestre e discípulo, aplicaram na própria vida os ensinos desse escrito com abnegada dedicação à fé.

Ao advertir discípulos arrogantes, o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, frequentemente citava a frase: “Uma pomba que imita a fênix”.1 E ele expunha amplamente que a grande missão da Soka Gakkai era empreender com determinação a prática do Chakubuku, um dos

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temas centrais de “Carta de Sado”. O segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, também costumava explanar esse escrito para incutir em nós a firme consciência da mensagem dessa carta. Durante a célebre Campanha de Osaka,2 em 1956, numa reunião realizada no Centro Cívico de Nakanoshima, Osaka, ele explanou este Gosho para incentivar os companheiros de Kansai e impulsioná-los à vitória.

Foi também este escrito que inspirou minha prática budista na juventude. Eu sofria de tuberculose e a empresa do Sr. Toda passava por séria crise. Durante esse período extremamente difícil, lia e relia várias vezes “Carta de Sado”, desejando extrair coragem para lutar e enfrentar cada dia e assim conquistar a vitória final. Por isso, eu também dedicava-me de corpo e alma sempre que explanava esse escrito. No início de nosso movimento, aproveitava para explicar esse ensino onde quer que eu fosse — em Sendai, no norte do Japão; em Kawagoe, na província de Saitama e no bairro de Katsushika, em Tóquio.

Em 1959, um ano depois da morte do Sr. Toda, explanei “Carta de Sado” no Centro Cívico de Toshima, em Tóquio, um lugar repleto de recordações de meu mestre. Sentindo como se minha vida fosse uma extensão da vida do Sr. Toda, clamei aos companheiros com todo o meu ser, desejando que o poderoso brado do mestre reverberasse na vida de cada um: “Discípulos! Entrem em ação. Todos, cada um de vocês!” Também explanei esse escrito para um grupo de membros da Divisão dos Estudantes, do Ensino Médio e Superior, jovens fênix que se responsabilizariam pelo futuro. Dialoguei com eles como se fossem adultos. Hoje, essas pessoas se destacam como excelentes líderes do Kossen-rufu no mundo todo.

Trecho para estudo nesta explanação

Esta carta deve ser entregue a Toki. E deve também ser mostrada a Saburo Saemon, ao reverendo leigo Okuratonotsuji Juro, à monja leiga de Sajiki e aos meus outros seguidores. Envie-me o nome daqueles que foram mortos nas batalhas de Kyoto e de Kamakura. Por favor, peça também àquelas pessoas que estão vindo para cá me trazerem a antologia dos textos não budistas, o segundo volume de Palavras e Frases do Sutra de Lótus, o quarto volume de Profundo Significado do Sutra de Lótus, junto com o comentário sobre esse volume, e as coletâneas de escritos oficiais de comentários e de decretos imperiais.

As coisas mais terríveis deste mundo são o calor do fogo, o brilho das espadas e a sombra da morte. Se até os cavalos e os bois têm medo da morte, não é de se surpreender que os seres humanos também tenham. Se mesmo um leproso luta pela vida, imagine uma pessoa saudável. O Buda ensinou que o ato de cobrir todo um sistema de grandes mundos com os sete tipos de tesouros não se compara a oferecer o dedo menor ao Buda e ao Sutra [de Lótus]. O garoto Montanhas de Neve ofereceu o próprio corpo e o asceta Aspiração à Lei removeu a própria pele [para nela gravar os ensinos do Buda]. Como não há nada mais precioso que a própria vida, aquele que a dedica à prática budista, com certeza, atingirá o estado de Buda. Se alguém está disposto a consagrar a vida, por que pouparia qualquer outro tesouro pela causa do budismo? Em outras palavras, se a pessoa reluta em se desfazer da riqueza, como poderia sacrificar a vida, que é muito mais preciosa?

Aprendemos que é nosso dever retribuir às dívidas de gratidão que temos com os outros mesmo ao custo de nossa própria vida. Muitos guerreiros sacrificam a vida por seu lorde; talvez muito mais do que imaginamos. Um homem morre para defender a honra e uma mulher morre por seu marido. Os peixes

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lutam para sobreviver, lamentam pela pouca profundidade do lago onde vivem e cavam buracos no fundo para se esconder; porém, enganados pela isca, são fisgados. Os pássaros, temendo que as árvores em que vivem sejam muito baixas, escolhem os galhos mais altos para se proteger, mas enganados pela isca, eles também são apanhados em armadilhas. Os seres humanos são igualmente vulneráveis. As pessoas geralmente se sacrificam por assuntos seculares insignificantes, mas raramente o fazem pelos preciosos ensinos do Buda. Assim, não é de se surpreender que não atinjam a iluminação.

De acordo com a época [ou o tempo], o budismo deve ser propagado pelos métodos Shoju ou Chakubuku. Esses métodos são comparáveis ao uso da pena ou da espada. Os grandes sábios da antiguidade praticaram os ensinos budistas conforme a época. O garoto Montanhas de Neve e o príncipe Sattva sacrificaram a vida quando lhes disseram que, em troca, poderiam ouvir os ensinos e que doar a vida constitui-se na prática de bodhisattva. No entanto, por que alguém deveria sacrificar a vida quando isso não é necessário? Numa época em que não há papel, a pessoa deve usar a própria pele. Numa época em que não há pincel, a pessoa deve usar os próprios ossos. Numa época em que as pessoas louvam aqueles que observam os preceitos e os praticantes do ensino correto, ao mesmo tempo em que denunciam aqueles que violam ou ignoram os preceitos, elas devem seguir rigorosamente os preceitos. Numa época em que o confucionismo ou o taoísmo é empregado para reprimir os ensinos de Sakyamuni, a pessoa deve arriscar a vida para advertir o Imperador, assim como fizeram os mestres do Darma Tao-an, Hui-

-yüan e o mestre Tripitaka Fa-tao. Numa época em que as pessoas confundem os ensinos Hinayana com o Mahayana, os ensinos provisórios com o verdadeiro ou as doutrinas exotéricas com as esotéricas, como se fossem incapazes de distinguir as pedras preciosas dos pedregulhos ou o leite de vaca do leite de mula, devemos mostrar firmemente essas diferenças, seguindo o exemplo dos grandes mestres Tient’ai e Dengyo.

É da natureza dos animas ameaçar os fracos e temer os fortes. Nossos eruditos das várias escolas dos dias atuais agem exatamente da mesma forma. Eles desprezam um sábio que não possui poder, mas temem governantes maléficos. Essas pessoas nada mais são que serviçais aduladores. Somente quando vence um poderoso inimigo a pessoa é capaz de provar a verdadeira força. Quando um governante mau se associa a reverendos que seguem ensinos errôneos e tentam destruir o ensino correto e eliminar um sábio, aqueles que possuem o coração de um rei leão, com certeza, atingirão o estado de Buda, assim como Nitiren. Afirmo isso não por arrogância, mas porque estou profundamente comprometido com o correto ensino. A pessoa arrogante sempre ficará amedrontada diante de um forte inimigo, assim como ocorreu com o desdenhoso asura que se encolheu e se escondeu numa flor de lótus no Lago Eternamente Frio ao ser repreendido por Shakra. Se o ensino correto estiver de acordo com a época e a capacidade das pessoas, mesmo uma palavra ou frase capacitará as pessoas a entrarem no Caminho. No entanto, ainda que a pessoa estude mil sutras e dez mil tratados, será incapaz de atingir o estado de Buda se esses ensinos não forem apropriados para a época tampouco para a capacidade das pessoas.

(END-5, pp. 13-15.)

Explanação

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Kingo],4 ao reverendo leigo Okuratonotsuji Juro,5 à monja leiga de Sajiki6 e aos meus outros seguidores. (END-5, p. 15.)

A imensa benevolência e consideração

de Daishonin pelos seguidores

Esta passagem, que precede o corpo principal da carta, especifica os destinatários. Nestas linhas, podemos perceber o sentimento de Daishonin de prezar os discípulos individualmente.

Porém, a carta, conforme indicado no fim dela, é endereçada a todos os “discípulos e leigos de Nitiren”.7

Foi escrita em março de 1272, durante o exílio de Nitiren Daishonin na Ilha de Sado.8 No pós-escrito, Daishonin diz: “Meu desejo é que as pessoas que possuem espírito de procura se reúnam para lerem juntas esta carta de encorajamento”.9 Na época, os seguidores de Kamakura enfrentavam uma enxurrada de perseguições. Por essa razão, Daishonin pede enfaticamente às pessoas de fé genuína que mantenham estreita comunicação umas com as outras, e que, baseadas na orientação dele, se unam para triunfar sobre as dificuldades do momento.

Num artigo que escreveu sobre “Carta de Sado”, o Sr. Toda disse: “O que mais me comove quando leio este escrito é que, apesar de o próprio Nitiren Daishonin se encontrar em constante perigo e de viver em circunstâncias terríveis, de extrema incerteza e necessidade, o que predomina em cada linha é o afeto, profundo como a de um pai, e a constante consideração que ele tinha pelos discípulos. A imagem que isso evoca em minha mente é a de um rochedo gigantesco e inabalável, elevando-se acima do mar, banhado por suaves ondas sob a cálida luz do Sol”.10

Mesmo no exílio, onde corria risco de morte, Daishonin continuou a se preocupar com o bem-estar dos discípulos, numa demonstração de máxima benevolência. Essa atitude era uma prova de seu vasto e imperturbável estado de vida. O presidente Toda comparava esse estado de espírito com um rochedo imenso que se ergue acima do mar na primavera. Sem dúvida, meu mestre usou essa analogia para descrever o estado de vida elevado e a imensa benevolência de Daishonin, porque ele próprio havia superado a perseguição das autoridades militares japonesas durante a Segunda Guerra Mundial. O Sr. Toda lutou até o fim, imbuído da determinação firme como uma rocha, própria de um campeão invencível, exatamente como fez Daishonin.

Enfrentar grandes dificuldades é o que nos possibilita cultivar nosso estado de vida de forma ilimitada. Um mestre, no budismo, é alguém que ensina esse princípio essencial. Que boa sorte incrível ter um mestre assim! A verdadeira prática do discípulo é corresponder ao mestre, consciente da profunda dívida de gratidão que o une a ele. “Carta de Sado” pode ser lida como um juramento imbuído do espírito fundamental do budismo. E esse juramento nada mais é que o compromisso comum do mestre e do discípulo.

Envie-me o nome daqueles que foram mortos nas batalhas de Kyoto e de Kamakura.11 Por favor, peça também àquelas pessoas que estão vindo para cá me trazerem a antologia dos textos não budistas,12 o segundo volume de Palavras e Frases do Sutra de Lótus [de Tient’ai], o quarto volume de Profundo Significado do Sutra de Lótus [de Tient’ai], junto com o comentário sobre esse volume, e as coletâneas de escritos oficiais de comentários e de decretos imperiais. (END-5, p. 13.)

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O estado de vida sereno do Buda

Nitiren Daishonin pede que lhe envie o nome dos que foram mortos nos combates de Kyoto e de Kamakura para recitar Daimoku por eles. Notamos nessa atitude a infinita benevolência do Buda pelas pessoas, que o leva a orar pela eterna felicidade delas — pelo passado, presente e futuro. Ele solicita também aos que planejavam visitá-lo em Sado que lhe tragam vários textos de referência, como uma antologia de escritos budistas, obras de Tient’ai e outros documentos.

Na remota ilha, Daishonin dedicou-se com paixão ainda maior à tarefa de esclarecer suas ideias e registrá-las por escrito para conduzir todas as pessoas dos Últimos Dias à iluminação. Esta passagem, em que ele solicita que lhe envie diversos materiais de consulta, nos mostra quão sereno era seu estado de vida, completamente imperturbável diante das próprias circunstâncias extremas. Que coragem indescritível devem ter sentido os seguidores ao ler estas linhas iniciais.

As coisas mais terríveis deste mundo são o calor do fogo, o brilho das espadas e a sombra da morte. Se até os cavalos e os bois têm medo da morte, não é de se surpreender que os seres humanos também tenham. Se mesmo um leproso luta pela vida, imagine uma pessoa saudável. (END-5, pp. 13-14.)

A questão fundamental

da vida e da morte

“As coisas mais terríveis deste mundo são...” Ao iniciar desse modo o trecho principal de “Carta de Sado”, Daishonin põe em primeiro plano a preocupação que ocupa a mente de todas as pessoas. Temer a morte e apegar-se à vida é próprio do ser humano. “O calor do fogo” indica os acidentes e os desastres naturais, enquanto “o brilho das espadas” alude à violência da guerra. Nada é mais temeroso para as pessoas do que a “sombra da morte”, ou a perspectiva da própria extinção. Isso é certo tanto para os animais como para os seres humanos. Mas, se a vida for reduzida ao temor da morte e ao apego desesperado à existência, como poderemos experimentar a profunda alegria de uma vida plena? Por que nascemos? Qual é o propósito de nossa vida? Por que morremos? Nós só podemos edificar uma vida de profundo significado se contemplarmos seriamente nossa própria existência.

Nitiren Daishonin trata do tema da vida e da morte, neste escrito, para explicar aos seguidores — expostos a enormes sofrimentos e dificuldades — que o budismo existe para resolver os problemas fundamentais da vida humana. Procura também despertar as pessoas para a ideia de que, não importa a tempestade que venha a açoitá-las, jamais devem perder de vista a fé — a base de tudo.

O Buda ensinou que o ato de cobrir todo um sistema de grandes mundos com os sete tipos de tesouros não se compara a oferecer o dedo menor ao Buda e ao Sutra [de Lótus].13 O garoto Montanhas de Neve14 ofereceu o próprio corpo e o asceta Aspiração à Lei15 removeu a própria pele [para nela gravar os ensinos do Buda]. Como não há nada mais precioso que a própria vida, aquele que a dedica à prática budista, com certeza, atingirá o estado de Buda. Se alguém está disposto a consagrar a vida, por que pouparia qualquer outro tesouro pela causa do budismo? Em outras palavras, se a pessoa reluta em se desfazer da riqueza, como poderia sacrificar a vida, que é muito mais preciosa? (END-5, p. 14.)

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A que devemos dedicar

esta vida insubstituível?

A que, então, devemos dedicar esta vida insubstituível? Em “Carta de Sado” Daishonin ensina que podemos atingir a iluminação dedicando nossa vida à prática do budismo. Para ressaltar o profundo significado desta declaração, primeiro ele cita o 23º capítulo do Sutra de Lótus, “Os Feitos do Bodhisattva Rei dos Remédios”. Em seguida, menciona os exemplos do garoto Montanhas de Neve e do asceta Aspiração à Lei — duas figuras que representam o Buda Sakyamuni em existências passadas, quando realizava práticas de bodhisattva — para esclarecer que a dedicação com espírito inabalável é a chave para realizar a prática budista.

Nitiren Daishonin observa também que os que estão dispostos a dar a vida não vacilarão em se desprender de qualquer outro tesouro. É como se, em outras palavras, ele dissesse de forma rigorosa e, ao mesmo tempo, benevolente, aos seguidores que tremiam só de pensar na possibilidade de serem perseguidos e de sofrerem terríveis consequências, como o confisco de terras: “Estas perseguições que estamos enfrentando não seriam uma oportunidade única de dedicarmos a vida, sem reservas, para atingirmos o estado de Buda? A que deveríamos temer, uma vez que é o objetivo da suprema iluminação que está bem diante de nós?”

Esta passagem também transmite um importante espírito que nos brinda lições nos dias atuais. Uma dessas lições, como já disse, é: vivermos apegados a algo não nos conduz à felicidade genuína. O estabelecimento de um propósito fundamental, a disposição de percorrer o caminho correto na vida, não importando as dificuldades que esse desafio possa vincular, é o que nos possibilita experimentar a mais profunda alegria e realização. Se nos deixarmos manipular pelos desejos mundanos e pouparmos a vida no momento crucial, nosso coração definhará e só nos restarão sentimentos como aflição, miséria e arrependimento.

Outra importante lição é que o elevado estado de vida obtido com a prática budista é eterno e transcende nossa existência atual. Dedicando esta preciosa existência ao budismo, temos a certeza de que experimentaremos imensa felicidade e inúmeros benefícios em todas as futuras existências.

Conseguir enxergar os fatos da perspectiva da eternidade da vida — através do passado, presente e futuro — e também do ponto de vista da felicidade eterna, constitui o ponto decisivo para transcender os diversos problemas da vida e da sociedade. À medida que as pessoas, individualmente, adquirem uma perspectiva correta sobre a vida e a morte, elevam o estado de vida da humanidade de forma coletiva. A filosofia que desejar abrir novas possibilidades em benefício da sociedade do século 21, necessitará saber distinguir entre noções superficiais e profundas acerca da vida e da morte. Nós, praticantes do Budismo de Nitiren Daishonin, marchamos na vanguarda nesse sentido. Por isso, avancemos orgulhosos com essa convicção.

Aprendemos que é nosso dever retribuir às dívidas de gratidão que temos com os outros mesmo ao custo de nossa própria vida. Muitos guerreiros sacrificam a vida por seu lorde; talvez muito mais do que imaginamos. Um homem morre para defender a honra e uma mulher morre por seu marido. Os peixes lutam para sobreviver, lamentam pela pouca profundidade do lago onde vivem e cavam buracos no fundo para se esconder; porém, enganados pela isca, são fisgados. Os pássaros, temendo que as árvores em que vivem sejam muito baixas, escolhem os galhos mais altos para se proteger, mas

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enganados pela isca, eles também são apanhados em armadilhas. Os seres humanos são igualmente vulneráveis. As pessoas geralmente se sacrificam por assuntos seculares insignificantes, mas raramente o fazem pelos preciosos ensinos do Buda. Assim, não é de se surpreender que não atinjam a iluminação. (END-5, pp. 14-15.)

Dedicar esta vida suprema ao budismo

Num dos trechos anteriores, observando que é comum as pessoas perderem a vida em acidentes ou em conflitos armados — mencionados como “o calor do fogo” ou “o brilho das espadas” —, Daishonin nos lembra que as pessoas se apegam à própria vida como se apegam a um tesouro.

Nesta parte, também destaca que há vários exemplos de pessoas que dão a vida de acordo com as convenções e os valores morais da sociedade.

Do mesmo modo, há inúmeros casos de indivíduos que, iludidos, sacrificam a vida da maneira mais insensata, acreditando que estão se protegendo do perigo.

A conduta dos peixes e das aves descrita nesta parte da carta, se baseia na sabedoria dos antigos pensadores, documentada em obras como Fundamentos do Governo na Era Chen-kuan (Zhenguan Zhengyao),16 um clássico chinês sobre a arte da liderança. ”Enganados pela isca” é uma metáfora que mostra como os seres humanos — mesmo adotando diversas medidas e precauções para manterem-se a salvo — são manipulados pelos desejos imediatos ou cometem erros de julgamento devido à forma estreita de pensar, resultando na própria destruição. É triste que essa insensatez humana continue frequente ainda hoje.

Por essa razão, Daishonin aconselha que, em vez de dar a vida — o bem mais valioso que temos — por questões mundanas e superficiais, devemos nos dedicar aos “preciosos ensinos do Buda”.

Apesar de falarmos em “não poupar a própria vida”, o Budismo de Nitiren Daishonin não é, de modo algum, um ensino que promove o martírio ou o autossacrifício. Os mestres Makiguti e Toda e eu — os três primeiros presidentes da Soka Gakkai — se dedicaram com a determinação de impulsionar o Kossen-rufu de tal forma que um único membro sequer fosse sacrificado, e com a disposição de dar o melhor de si para esse fim. Esse espírito dos sucessivos presidentes deverá ser mantido na Soka Gakkai por todo o futuro.

Não desperdicem, de modo algum, a preciosa vida dos senhores. Aos nossos jovens digo: Por mais difíceis que sejam as circunstâncias em que se encontrem, jamais lamentem ou prejudiquem a vida de vocês nem a dos outros. Cada um de vocês está dotado da maravilhosa e suprema natureza de Buda. Em termos específicos, como deveríamos praticar para dedicar essa inestimável vida aos “preciosos ensinos do Buda”? No escrito “O presente de arroz”, Daishonin diz sobre a consecução do estado de Buda pelas pessoas comuns nos Últimos Dias da Lei: “A respeito da iluminação, os mortais comuns tornam-se budas se mantiverem uma determinação firme e sincera”.17 Estas palavras, na forma mais sublime e elevada, expressam a postura de “não poupar a própria vida”. Daishonin declara de maneira enfática que as pessoas comuns desta época, sem terem de sacrificar a vida como o garoto Montanhas de Neve e por meio da “determinação firme e sincera”, podem obter o mesmo benefício resultante da dedicação abnegada.

Como afirma Daishonin, o que importa é o coração. É uma questão de empreender milhões de kalpa de esforços num único momento da vida em prol do budismo e pela nobre causa do Kossen-rufu. Para nós, não poupar a vida significa recitar constantemente Nam-myoho-rengue-kyo, sem nenhum temor, e

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dedicarmo-nos de corpo e alma para comprovar a fé — pelo bem do mundo, do futuro e de todas as pessoas.

O Sr. Makiguti descreveu essa atitude como “um modo de vida abnegado para realizar o bem maior”. Essa vida se caracteriza pela vitória sobre o egoísmo e o medo, e por ter como foco a felicidade pessoal e dos semelhantes. Ele explicou: “Este é o modo simples de viver, uma vida de humanismo natural... O indivíduo que se conscientiza da importância desse modo de vida e descobre que é universalmente acessível, manifesta forte desejo de adotá-lo. Mas ele não fica só no querer. Sente a necessidade de agir em prol dos outros”.18

Portanto, o Sr. Makiguti afirmou que a Soka Kyoiku Gakkai (literalmente, Sociedade Educacional de Criação de Valores, precursora da Soka Gakkai) “era a prova viva de dedicação ao bem maior”.19 O que ele quis dizer é que a dedicação abnegada se encontra numa vida aparentemente comum, porém aberta a todos. Exemplo perfeito desse tipo de empenho pode ser encontrado em nossa atuação diária pelo Kossen-rufu. Dedicamo-nos de corpo e alma para encorajar os demais e compartilhar sinceramente a grandiosidade do Budismo de Nitiren Daishonin com todos que nos rodeiam.

De acordo com a época [ou o tempo], o budismo deve ser propagado pelos métodos Shoju ou Chakubuku. Esses métodos são comparáveis ao uso da pena ou da espada. (END-5, p. 15.)

“Os Últimos Dias da Lei são a época para aplicar apenas o Chakubuku”

Nesta passagem, Daishonin esclarece a prática budista apropriada para os Últimos Dias da Lei. “Shoju” significa explicar a Lei com base na capacidade de cada pessoa. “Chakubuku” significa ensinar aos demais o princípio supremo do Nam-myoho-rengue-kyo diretamente, tal como é.

Daishonin diz que o método escolhido pela pessoa para a propagação deve adequar-se à época ou ao tempo. A definição do método adequado para um período particular só é possível por meio de uma compreensão essencial do que as pessoas e a época requerem. Os sutras budistas, de modo geral, dividem o tempo posterior à morte do Buda em três períodos: Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei.20 Em “A seleção do tempo”, Daishonin diz: “Tomemos emprestado os olhos do Buda para avaliar a questão do tempo e da capacidade [das pessoas]”.21 Para determinar a época e escolher o método correto e apropriado de propagação, precisamos observar os fatos por meio das lentes precisas e perspicazes da sabedoria do Buda.

Numa das explanações sobre “Carta de Sado”, o Sr. Toda analisou a frase: “De acordo com a época [ou o tempo], o budismo deve ser propagado pelos métodos Shoju ou Chakubuku”. Ele disse nessa ocasião: “Não devemos interpretar mal o significado da palavra ‘tempo’. Nitiren Daishonin nos ensina que devemos empregar ou o método Shoju ou o método Chakubuku conforme o tempo. Porém, muitos interpretam esta frase de modo equivocado, acreditando que cada um possa decidir arbitrariamente e por si mesmo qual é o método a ser usado em determinado momento. Por exemplo, há os que pensam: Já que a sociedade critica de forma tão dura os ensinos budistas, empreguemos o Shoju’, ou ‘Como todos estão de acordo e não fazem objeções, então, apliquemos o Chakubuku’. No entanto, essa interpretação é incorreta. O ‘tempo’, nesta frase, refere-se aos Primeiros, aos Médios e aos Últimos Dias da Lei [...] e, os Últimos Dias da Lei são a época para aplicar apenas o Chakubuku”.22

Sempre e onde quer que realizemos nossas atividades, jamais nos esqueçamos de que devemos nos inspirar no espírito do Chakubuku: compartilhar o

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Nam-myoho-rengue--kyo com os demais. Assim se comportam os genuínos discípulos dos grandes mestres do Chakubuku.

Os grandes sábios da antiguidade praticaram os ensinos budistas conforme a época. O garoto Montanhas de Neve23 e o príncipe Sattva24 sacrificaram a vida quando lhes disseram que, em troca, poderiam ouvir os ensinos e que doar a vida constitui-se na prática de bodhisattva. No entanto, por que alguém deveria sacrificar a vida quando isso não é necessário? Numa época em que não há papel, a pessoa deve usar a própria pele. Numa época em que não há pincel, a pessoa deve usar os próprios ossos. Numa época em que as pessoas louvam aqueles que observam os preceitos e os praticantes do ensino correto, ao mesmo tempo em que denunciam aqueles que violam ou ignoram os preceitos, elas devem seguir rigorosamente os preceitos. Numa época em que o confucionismo ou o taoísmo é empregado para reprimir os ensinos de Sakyamuni, a pessoa deve arriscar a vida para advertir o Imperador, assim como fizeram os mestres do Darma Tao-an, Hui-yüan25 e o mestre Tripitaka Fa-tao.26 Numa época em que as pessoas confundem os ensinos Hinayana com o Mahayana, os ensinos provisórios com o verdadeiro ou as doutrinas exotéricas com as esotéricas, como se fossem incapazes de distinguir as pedras preciosas dos pedregulhos ou o leite de vaca do leite de mula,27 devemos mostrar firmemente essas diferenças, seguindo o exemplo dos grandes mestres Tient’ai28 e Dengyo.29 (END-5, pp. 15-16.)

“Não podemos permitir que

o estandarte da propagação tombe!”

No passado, grandes sábios ou bodhisattvas foram capazes de atingir o estado de Buda praticando de acordo com a época, algo ao qual o budismo atribui extrema importância.

Mesmo antes do surgimento de Sakyamuni e do budismo como sistema formal de pensamento, observamos que diversos praticantes altruístas e respeitados mestres, como os mencionados neste trecho, davam a vida para ouvir a verdade suprema que os conduziria à iluminação. Porém, quando os ensinos do Buda atingem ampla aceitação na sociedade, qualquer que seja a época da qual falemos, os praticantes dessas doutrinas têm a responsabilidade de dar bom exemplo na fé para que muitos outros também as pratiquem corretamente. Em contrapartida, numa época em que o governante reprime e rechaça o budismo, os praticantes devem resistir ao poder e advertir essa pessoa ao risco da própria vida. É uma época em que os ensinos budistas são distorcidos e em que as pessoas ficam confusas a respeito do que é correto e o que não é, sendo, portanto, imperativo esclarecer a superioridade relativa das distintas correntes budistas. Que tipo de época, então, é a atual? Conforme disse anteriormente, o budismo só pode ser transmitido por meio da compreensão correta da prática apropriada para esse período.

Neste trecho, como indica a referência de Daishonin aos “grandes sábios da antiguidade”, as pessoas que conseguem reconhecer a época e adotar as ações necessárias são chamadas, no budismo, de “sábias”. O que essas pessoas que buscaram o Caminho no passado e os mestres budistas têm em comum é a postura de proteger a Lei, o espírito de prezar o ensino correto do Buda acima de tudo e o comprometimento com os demais mesmo ao custo da própria vida. Se essas pessoas conseguiram compreender claramente o que tinham de fazer foi porque não pouparam a própria vida. Um requisito essencial que os mestres ou líderes budistas devem ter é a capacidade de compreender a época e de propagar o ensino em conformidade com o tempo. A Soka Gakkai conseguiu um grande

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desenvolvimento porque a liderança dos primeiros presidentes, os mestres Makiguti e Toda, sempre se adequou à época. E eu, como terceiro presidente, sem deixar que meu diálogo interior com o mestre Toda se interrompesse, orei e orei, incansalvelmente, para abrir o caminho do Kossen-rufu de forma que se ajustasse à época. Eis a razão do êxito de nosso movimento.

Em abril de 1980, depois de concluir minha quinta visita à China, voei direto de Xangai a Nagasaki para empreender uma viagem de orientação por toda a Kyushu. Essa foi a primeira viagem de orientação a uma localidade do Japão desde que, no ano anterior [1979], havia sido obrigado a deixar a presidência da Soka Gakkai.30 De Nagasaki parti para Fukuoka. Ali, clamei aos meus amados discípulos de Kyushu, profundamente comprometidos e decididos a se empenhar junto comigo pelo Kossen-rufu: “Não permitam que o estandarte da propagação tombe!” Não deixem que a chama da fé se apague!” De Kyushu — região que havia sofrido tanto por causa dos problemas ocasionados pelo clero —, lancei uma poderosa contraofensiva, decidido a manter vivo o espírito da dedicação abnegada ao Kossen-rufu, característica do Budismo de Nitiren Daishonin. Com a consciência de que esse era o momento crucial para assentar as bases da eterna vitória da Soka Gakkai, os membros de Kyushu se levantaram junto comigo. Quando os discípulos seguem o mestre e empreendem com ele uma campanha pelo Kossen--rufu apropriada para a época, a vitória está assegurada. Nossos companheiros de Kyushu têm escrito uma história de triunfo como essa.

A época atual é o momento de nossos sucessores na Divisão dos Jovens perpetuarem este importante espírito Soka de mestre e discípulo, e assegurarem que esse compromisso seja transmitido pelo eterno futuro.

É da natureza dos animais ameaçar os fracos e temer os fortes. Nossos eruditos das várias escolas dos dias atuais agem exatamente da mesma forma. Eles desprezam um sábio que não possui poder, mas temem governantes maléficos. Essas pessoas nada mais são que serviçais aduladores. Somente quando vence um poderoso inimigo a pessoa é capaz de provar a verdadeira força. (END-5, p. 16.)

Os praticantes do ensino correto

são hostilizados e enfrentam

perseguições nos Últimos Dias

Esta passagem descreve o clima predominante nos Últimos Dias da Lei, uma época em que os praticantes do ensino correto são hostilizados e enfrentam perseguições.

A Perseguição de Tatsunokuti31 e o exílio na Ilha de Sado representaram perseguições religiosas perpetradas por sacerdotes decadentes, como Ryokan do templo Gokuraku e outros clérigos, com o propósito de destruir Daishonin e a comunidade de seguidores. A frase “natureza dos animais” se refere à tendência fundamental de pessoas como Ryokan e outros sacerdotes das escolas budistas estabelecidas na época de Daishonin. Desprezar uma pessoa de sabedoria (Daishonin) e temer os governantes perversos (os funcionários do governo) era o procedimento característico de tais pessoas. Esse era o clima espiritual prevalecente no Japão, que conduziu a uma dura repressão tanto a Daishonin como a seus seguidores.

Não obstante, os seguidores enfrentaram corajosamente essa grande perseguição declarando: “Somente quando vence um poderoso inimigo a pessoa é capaz de provar a verdadeira força”.

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Quando um governante mau se associa a reverendos que seguem ensinos errôneos e tentam destruir o ensino correto e eliminar um sábio, aqueles que possuem o coração de um rei leão, com certeza, atingirão o estado de Buda, assim como Nitiren. Afirmo isso não por arrogância, mas porque estou profundamente comprometido com o correto ensino. (END-5, pp. 16-17.)

Vencer a injustiça, defendendo

e proclamando o que é correto

“Quando um governante mau se associa a reverendos que seguem ensinos errôneos e tentam destruir o ensino correto e eliminar um sábio...”, descreve uma aliança mal-intencionada entre as autoridades políticas e o poder religioso. O tipo de perseguição contra os que proclamam o ensino correto do budismo é o mesmo em todas as épocas.

Em meio a uma perseguição implacável, Daishonin avançou com o “coração de um rei leão”, recusando-se a retroceder um único passo. Ter o “coração de um rei leão” significa reconhecer serenamente a “natureza dos animais” e derrotá-la. No budismo, “rei leão” é outra forma para referir-se a um buda. Quem se levanta com essa atitude, sem falta, manifesta o estado de Buda.

Daishonin diz a esse respeito: “Como, por exemplo, Nitiren”. Nesta frase, ele pede aos seguidores que o observem, ressaltando que a motivação dele não é a arrogância, mas a sincera dedicação ao ensino correto.

Devemos refletir profundamente sobre o comprometimento de Daishonin com a Lei. Quando prezamos a Lei mais do que a própria vida, teremos a coragem de defender o que é correto com total convicção, sem temer nada. Nessa postura, reside a essência suprema da fé.

Desde que conheci o Sr. Toda, há mais de sessenta anos (em 14 de agosto de 1947), tenho defendido a nobre causa da Soka Gakkai e proclamado os ideais de nosso movimento amplamente pelo mundo, sem retroceder um único passo. O que me proporciona forças é o meu compromisso inabalável de concretizar o sonho de meu mestre, o grande líder do Kossen-rufu. Esse ideal é, para mim, mais precioso do que minha própria vida. Em outras palavras, levantei-me e atuei com a postura de proteger rigorosamente a Soka Gakkai, a organização que realiza a ordem e a vontade do Buda, e com a atitude de impulsionar o seu desenvolvimento em todo o mundo, de acordo com o ardente desejo do Sr. Toda. A postura de “não poupar a própria vida” e de manifestar o “coração do rei leão” são as duas faces da mesma moeda. É assim porque, não poupar a vida em prol do compromisso com a Lei e ter a coragem de um rei leão para combater os inimigos do Sutra de Lótus são, em essência, a mesma coisa. Para mim, a principal mensagem desta primeira metade de “Carta de Sado” é: os discípulos de Daishonin devem se tornar reis leões, indivíduos valorosos que incorporam o mesmo espírito altruísta do Buda. Procuremos observar com que ênfase ele trata de nos transmitir esse importante ponto.

A frase “Como, por exemplo, Nitiren” representa um clamor apaixonado aos discípulos. Podemos imaginá-lo bradando das profundezas do ser: “Da mesma forma que eu fui capaz de vencer as funções negativas, vocês também devem munir-se da força de um rei leão e derrotar todas as funções negativas. Lutem com a mesma postura que Daishonin! Lutem do meu lado e com a mesma determinação!” O que ele esperava dos dedicados discípulos era o levantar de cada um com a mesma determinação e coragem manifestada por ele.

Durante a Segunda Guerra Mundial, somente os mestres Makiguti e Toda puseram em prática e mantiveram a postura leonina de Daishonin. O clero, em nítido contraste, sucumbiu aos interesses

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covardes, vis e egoístas. Nos dias

atuais, o legado de Daishonin, o exemplo abnegado do rei leão, vive e palpita unicamente na Soka Gakkai. Herdamos fielmente o espírito corajoso, e desse modo conseguimos abrir este enorme caminho que hoje conduz ao Kossen-rufu mundial. Por essa razão, nosso benefício também é infinitamente incalculável. Com essa poderosa convicção, saiamos para encontrar mais e mais pessoas e compartilhar com elas o grandioso caminho Soka, o caminho de mestre e discípulo.

A pessoa arrogante sempre ficará amedrontada diante de um forte inimigo, assim como ocorreu com o desdenhoso asura que se encolheu e se escondeu numa flor de lótus no Lago Eternamente Frio ao ser repreendido por Shakra. (END-5, p. 17.)

O espírito de prezar o ensino correto nos possibilita manifestar infinita coragem

As declarações de Daishonin sobre seu ensino ou sua prática estão isentas de arrogância. Ele observa: “A pessoa arrogante sempre se deixa dominar pelo pânico quando está diante de um adversário poderoso”. É exatamente assim.

A verdadeira natureza dos arrogantes é o egocentrismo. Como o único interesse é o benefício próprio, quando se veem diante de um poderoso oponente só pensam na autopreservação. Por esse motivo, são dominados pelo terror. Em contrapartida, os que possuem o coração de um rei leão vivem embasados na Lei. Como não estão centrados no próprio ego, têm à disposição um infinito suprimento de coragem, que lhes permite adotar firme postura diante dos que tentam destruir a Lei.

Mesmo uma palavra ou frase capacitará as pessoas a entrarem no caminho. No entanto, ainda que a pessoa estude mil sutras e dez mil tratados, será incapaz de atingir o estado de Buda se esses ensinos não forem apropriados para a época tampouco para a capacidade das pessoas. (END-5, p. 17.)

Realizar a prática que concorde com a época e a capacidade das pessoas

Chakubuku significa denunciar o errôneo no mundo do budismo com o coração de um rei leão e revelar o ensino correto. Daishonin declara que, enquanto possuirmos esse corajoso espírito, mesmo uma palavra ou frase do ensino correto nos conferirá o benefício de manifestar o estado de Buda. Contudo, sem essa postura essencial, ou seja, sem o espírito de Chakubuku baseado no sentimento de prezar a Lei, é impossível entrar no Caminho, ainda que estudemos mil sutras ou dez mil tratados.

O escritor britânico Gilbert Keith Chesterton (1874-1936) disse: “Mártir é um homem que se preocupa tanto com alguma coisa fora dele que se esquece de sua vida pessoal”.32 De nosso ponto de vista, “alguma coisa fora de nós” poderia referir-se a valores como a Lei Mística ou nossos mestres da fé, nossos companheiros e entes queridos, a humanidade, a Soka Gakkai e o Kossen-rufu. “Esquecermo-nos de nossa vida pessoal” seria algo semelhante a “não poupar a própria vida”, ou ao espírito de “prezar a Lei mais do que a própria vida”.33 Em uma de suas explanações, o Sr. Toda analisou o conceito de “não poupar a vida”, que consta no Sutra de Lótus,34 dizendo: “Sem essa atitude altruísta, não poderíamos recitar Daimoku. [...] Tenho certeza de que ninguém nunca elogiou ou felicitou os senhores por propagarem este budismo. Se não tivéssemos essa atitude abnegada de não poupar a vida, não poderíamos continuar com nossos esforços pelo Kossen-rufu. Se um insulto ou uma

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reação violenta bastarem para nos desanimar, então, seria melhor nem nos darmos ao trabalho de falar sobre o budismo para os demais”.35

Esta era a extraordiária coragem do Sr. Toda, grande líder e grande mestre do Chakubuku. Desde o início de nosso movimento, os membros têm avançado com coragem e perseverança infatigável, dispostos a compartilhar a Lei Mística com os semelhantes, tal como o Sr. Toda ensinou.

Cada um dos senhores, por ter gravado esse espírito de mestre e discípulo no coração e por estar se empenhando dia e noite em prol da Lei, da sociedade e dos companheiros, é um verdadeiro campeão de dedicação abnegada, dono de um coração de rei leão. A todos meu mais alto louvor.

Enquanto houver a transmissão do espírito de mestre e discípulo às futuras gerações, a Soka Gakkai prosperará e crescerá eternamente. Quero assinalar isso enfaticamente a todos os meus discípulos diretos, especialmente àqueles que se dedicam na Divisão dos Jovens.

Sigam os passos dos mestres que incorporam a coragem do rei leão! Discípulos, triunfem com o coração do rei leão!” Esta é a diretriz eterna para a vitória dos mestres e discípulos Soka que, com a própria vida, leem o escrito “Carta de Sado”.

Continua na próxima edição

(Daibyakurengue, edição de janeiro de 2009.)

Notas

1. Na parte final de “Carta de Sado”, Daishonin diz: “De modo semelhante, os discípulos traidores declaram: ‘Embora o reverendo Nitiren seja nosso mestre, ele é enérgico demais. Nós propagaremos o Sutra de Lótus de maneira mais branda’. Com tal declaração, eles estão se mostrando tão ridículos quanto o vaga-lume que ri do Sol e da Lua, um formigueiro que despreza o monte Hua, poços e riachos que zombam dos rios e oceanos ou uma pomba que imita a fênix”. (END-1, p. 29.)

2. Campanha de Osaka: Em maio de 1956, os membros de Kansai, unidos ao jovem Daisaku Ikeda, que fora enviado a essa localidade pelo presidente Toda para apoiá-los, concretizaram a conversão de 11.111 famílias ao Budismo de Nitiren Daishonin. Na eleição realizada dois meses mais tarde, o candidato apoiado pela Soka Gakkai em Kansai conquistou uma cadeira na Casa dos Conselheiros, feito considerado impossível na época.

3. Toki Jonin (1216-1299): Seguidor leigo de Nitiren Daishonin. Viveu em Wakamiya, distrito de Katsushika, província de Shimosa (parte da atual província de Tiba), e foi um destacado samurai, vassalo do senhor feudal de Tiba, condestável dessa província. Converteu-se aos ensinos de Daishonin por volta de 1254, um ano depois deste ter recitado pela primeira vez o Nam-myoho-rengue-kyo, no templo Seityo, estabelecendo seu budismo. Recebeu várias cartas e tratados de Daishonin, como “O objeto de devoção para a observação da mente”, e os preservou cuidadosamente.

4. Shijo Kingo (c. 1230-1300): Um dos mais notáveis seguidores de Nitiren Daishonin. Seu nome e título completos eram Shijo Nakatsukasa Saburo Saemon--no-jo Yorimoto. Serviu à família Ema, uma ramificação do clã governante Hojo, como samurai. Era versado em medicina e artes marciais. Estima-se que ele tenha se convertido aos ensinos de Daishonin em 1256. Quando Nitiren Daishonin foi levado a

Tatsunokuti para ser decapitado, em 1271, Shijo Kingo o acompanhou decidido a morrer com ele.

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5. Reverendo leigo Okuratonotsuji Juro (s.d.): Um seguidor de Nitiren Daishonin. Pelo nome, é provável que ele viveu em Tsuji, Okurato, na região de Kamakura. Detalhes sobre sua pessoa são desconhecidos.

6. Monja leiga de Sajiki (s.d.): Seguidora de Nitiren Daishonin, também conhecida como Dama de Sajiki. Viveu na região homônima, em Kamakura. Informações sobre sua pessoa são escassas.

7. END-5, p. 29.

8. Exílio na Ilha de Sado: Quando as autoridades fracassaram no intento de executar Daishonin em Tatsunokuti, em setembro de 1271, exilaram-no na Ilha de Sado no mês seguinte. Dadas as condições do lugar, a medida equivalia à sentença de morte. No entanto, quando as duas predições formuladas por Daishonin — a revolta interna e a invasão estrangeira — se cumpriram, o governo emitiu um indulto em março de 1274, permitindo seu regresso a Kamakura.

9. END-5, p. 30.

10. TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu (Obras Completas de Jossei Toda). Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1983, v. 3, p. 252.

11. Refere-se à revolta ocorrida no clã governante Hojo. Esse confronto levou a lutas armadas em Kyoto, a capital imperial, e em Kamakura, a sede do governo militar. Em fevereiro de 1272, Hojo Tokisuke liderou um motim contra o meio-

-irmão mais novo, o regente Hojo Tokimune, numa tentativa de tomar-lhe o poder. Tokisuke e outras pessoas, entre as quais Nagoe Tokiakira e Nagoe Noritoki, foram mortos por suspeita de estarem envolvidos no golpe. O fato é conhecido também como Revolta de Hojo Tokisuke ou Revolta de Fevereiro.

12. Refere-se à coletânea de escritos de várias filosofias e vários ensinos não budistas. 13. Cf. LS-23, p. 285.

14. Garoto Montanhas de Neve: Nome do Buda Sakyamuni numa de suas existências passadas, quando realizava a prática de bodhisattva. A divindade Shakra, decidida a testar a determinação do menino, aparece diante dele sob a forma de um demônio faminto. Depois de ouvir a primeira parte de um ensino budista recitado pelo demônio, o menino lhe suplica que revele a outra metade. O demônio aceita, porém, exige em troca a carne e o sangue do menino. Montanhas de Neve promete, de bom gosto, oferecer o corpo ao demônio, que então lê para ele a segunda metade do ensino. Quando o garoto está prestes a cumprir o prometido, o demônio recobra a forma anterior, revelando-se como Shakra. A divindade elogia a atitude de Montanhas de Neve de não poupar a própria vida em prol da Lei.

15. Aspiração à Lei: O nome de Sakyamuni em uma de suas existências passadas. Um demônio disfarçado de brâmane apresenta-se a ele e diz que lhe ensinará uma estrofe de um ensino budista se ele se dispuser a transcrevê-la usando a própria pele como papel, um dos ossos como pena e o sangue como tinta. Quando Aspiração à Lei aceita de bom grado e se prepara para escrever o ensino budista, o demônio desaparece. No lugar deste, surge um buda e transmite-lhe um profundo ensino.

16. Fundamentos do Governo na Era Chen-kuan (Zhenguan Zhengyao): Obra editada por Wu Ching, historiador chinês da dinastia T’ang (618-907). Foi amplamente estudada pelos funcionários do governo japonês na época de Daishonin.

17. WND-1, p. 1.125.

18. MAKIGUTI, Tsunessaburo. Makiguchi Tsunesaburo Zenshu (Obras Completas de Tsunessaburo Makiguti). Tóquio: Daisanbunmei-sha, 1987, v. 10, p. 17.

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19. Ibidem, p. 21.

20. Três períodos: Primeiros, Médios e Últimos Dias da Lei. Três períodos consecutivos nos quais o tempo posterior à morte do Buda é dividido. Durante os Primeiros Dias da Lei, o espírito ou a essência do budismo prevalece e as pessoas podem atingir a iluminação por meio da prática. Nos Médios Dias da Lei, embora firmemente estabelecido na sociedade, o budismo torna-se cada vez mais formal e poucas pessoas se beneficiam dele. Nos Últimos Dias da Lei, as pessoas vivem à mercê dos três venenos — avareza, ira e estupidez — e deixam de aspirar ao estado de Buda. Nesse período, o budismo perde o poder de conduzir as pessoas à iluminação.

21. WND-1, p. 540.

22. TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu (Obras Completas de Jossei Toda). Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1986, v. 6, pp. 541-542.

23. Garoto Montanhas de Neve: Ver nota nº 14.

24. Príncipe Sattva: Príncipe que se sacrificou para salvar uma tigresa faminta, segundo narra o Sutra da Luz Dourada. É identificado como uma das existências prévias do Buda Sakyamuni. A história é mencionada em várias escrituras budistas para ilustrar a benevolência. Um dia, ao passear pelo bosque de bambus, o príncipe Sattva depara-se com uma tigresa faminta que acabara de dar à luz sete filhotes e, por estar muito debilitada, não consegue alimentá-los. O príncipe dá a própria carne e o próprio sangue como oferendas e, desse modo, salva a mãe e os filhotes.

25. Tao-an e Hui-yüan: Ambos foram sacerdotes e estudiosos budistas que viveram na China no século 6, durante a regência do Imperador Wu (c. 560-578), da dinastia Chou do Norte. Tao-an (s.d.) apresentou um tratado ao Imperador, no qual afirmava a superioridade do budismo sobre o taoísmo e refutava o confucionismo. Tempos depois, Hui-yüan (523-592), protestou contra o Imperador quando este ameaçou proibir o budismo.

26. Fa-tao (1806-1147): Sacerdote que refutou o Imperador Hui-Tsung da China durante a dinastia Sung, quando este decidiu apoiar o taoismo e tentou reprimir a prática budista. Por sua audácia, Fa-tao foi marcado no rosto e exilado.

27. O leite de vaca indica o Sutra de Lótus, enquanto o leite de mula, que acreditavam ser venenoso, representa os demais sutras.

28. Tient’ai (538-597): Também conhecido como Chih-i. Fundador da escola budista chinesa Tient’ai. Comumente chamado de Grande Mestre Tient’ai. Suas explanações foram compiladas em obras como Profundo Significado do Sutra de Lótus, Grande Concentração e Discernimento, e Palavras e Frases do Sutra de Lótus. Tient’ai refutou todas as demais escolas budistas da China e propagou o Sutra de Lótus.

29. Dengyo (767-822): Também conhecido como

Saityo. Fundador da escola Tendai (Tient’ai) no Japão. Refutou os erros das seis escolas de Nara — as escolas budistas estabelecidas nessa época —, proclamou a validez do Sutra de Lótus e se dedicou a fundar o centro de ordenação do Mahayana no monte Hiei.

30. Em 24 de abril de 1979, Daisaku Ikeda renunciou à posição de terceiro presidente da Soka Gakkai e, a partir desse momento, passou a ser presidente honorário da Organização. Antes, em 1975, havia assumido a presidência da Soka Gakkai Internacional (SGI), função que continua a desempenhar até os dias de hoje.

31. Perseguição de Tatsunokuti: Em 12 de setembro de 1271, figuras poderosas do governo prenderam injustamente Daishonin e o levaram no meio da noite a um lugar chamado Tatsunokuti, nas

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proximidades da capital (Kamakura), onde tentaram executá-lo. O intento fracassou e, cerca de um mês depois, Daishonin foi exilado na Ilha de Sado.

32. Gilbert Keith Chesterton. Orthodoxy (Ortodoxia). Nova York: Dodd, Mead and Company, 1949, p. 133.

33. Paráfrase de uma passagem de Comentários sobre o Sutra do Nirvana, de Chang-an: “Nosso corpo é insignificante, mas a Lei é suprema” (WND-1, p. 1.021).

34. Cf. LS-16, p. 230.

35. TODA, Jossei. Toda Josei Zenshu (Obras Completas de Jossei Toda). Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1985, v. 5, p. 415.

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