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The routes for Power

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Academic year: 2021

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As rotas para o poder

D. Trump versus H. Clinton

The routes for Power

Paulo Finuras Investigador Integrado

Centro de Investigação em Ciência Política Relações Internacionais e Segurança Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

(ULHT)

Resumo

Vários primatologistas sugerem que os padrões de dominância evidentes ao nível tanto dos primatas superiores como dos seres humanos servem basicamente o propósito evolucionista da adaptação ao ambiente e a procura do sucesso reprodutivo. Por seu turno, as hierarquias dominantes, segundo os cientistas sociais, ajudam a manter a ordem e a regulação nos grupos e ainda um nível de distinção entre líderes e liderados. Estes princípios básicos parecem bem claros na competição das eleições presidenciais americanas que se vivem neste momento ao nível da «rota do poder» que os candidatos do Partido republicano (PR) e Partido Democrático (PD estão a disputar e a trilhar. Palavras-chave

Estatuto, Poder, Prestígio, Reconhecimento

Abstract

Several contemporary primatologist, suggest that dominance patterns are evident in terms of both higher primates like humans and serve basically the evolutionary purpose of adapting to the environment and demand of reproductive success. The dominant hierarchies, according to social scientists, help maintain the order and regulation in groups and even a level of distinction between leaders and followers. These basic principles seem clear in the competition of the American presidential election that we are living at this time in terms of «routes to power » that both candidates of the Republican Party (PR) and Democratic Party (PD are disputing and trail.

Keywords

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Vários primatologistas,1 sugerem

que os padrões de dominância evidentes ao nível tanto dos primatas superiores como dos seres humanos servem basicamente o propósito evolucionista da adaptação ao ambiente e a procura do sucesso reprodutivo e as hierarquias dominantes, segundo os cientistas sociais, ajudam a manter a ordem e a regulação nos grupos e ainda um nível de distinção entre líderes e liderados. Estes princípios básicos parecem bem claros na competição das eleições presidenciais americanas que se vivem neste momento ao nível da «rota do poder» que os candidatos do Partido republicano (PR) e Partido Democrático (PD estão a disputar e a trilhar.

Pode-se encarar a campanha destas eleições presidenciais americanas que se decidem no próximo mês de Novembro de 2016 de duas formas diferentes. Uma é encará-las como «mais um» espetáculo merecedor de atenção sobretudo no espaço mediático (aliás como quase todas as competições que vêm desse país e cultura em formato de show e espetacularidade e portanto este não foge à regra). Outra, como algo que pode apenas contribuir para afastar ainda mais os cidadãos da «política».

Acontece que aquilo que está em jogo é demasiado sério e não se trata de eleições para o mais alto cargo de um país qualquer mas sim daquele que, neste momento, direta e indiretamente, define regras ao nível da geopolítica mundial e cujas consequências da sua ação e do seu

1 Nomeadamente Schubert, 1991.

2 Essa é uma das razões que evolutivamente sempre levou a que os liderados quando perante o abuso de poder utilizassem várias estratégias contra o dominador que vão desde a ostracização, ao

poderio militar, tecnológico, científico e económico rapidamente se fazem sentir em todo o globo e em todos nós.

Pessoalmente e enquanto cientista evolucionista sinto-me bastante atraído por este fenómeno por causa daquilo que ele revela justamente na perspetiva evolucionista e biossocial em que gosto de o equacionar e analisar. De facto, direi mesmo que se trata de uma oportunidade de investigação única ou que, pelo menos, com estes contornos específicos, só acontece de 4 em 4 anos.

Como sabemos, nas sociedades humanas o poder político está intimamente associado às questões do estatuto obtido pelos líderes o qual pode advir essencialmente por uma de duas vias: a via da dominância ou a do prestígio. Gosto de lhe chamar a rota da força versus a rota do reconhecimento e prestígio.

A dominância no contexto que nos interessa aqui (político) resulta de alguém conseguir obter uma alta posição social em relação aos outros indivíduos que a ela reagem de forma submissa em relação aos

indivíduos dominantes.2 Esta situação não

de todo nova. As hierarquias de dominância encontram-se em muitas outras sociedades animais, incluindo em particular os primatas tais como nós, os seres humanos.

O trabalho de alguns cientistas nesta área 3 tem tido como foco

precisamente a aquisição de poder através das várias formas mais comuns (dominação

mexerico, passado pela desobediência até ao assassinato. Para mais ver Finuras, P. primatas Culturais, 2015 (Op. Cit.)

3 J. Henrich, R. Masters, J. Tracy, Mark Van Vugt,

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ou prestígio). Em geral existem essencialmente dois caminhos para alcançar o estatuto de detentor do poder. Um baseado no respeito, reconhecimento e deferência, e outro baseado na intimidação e submissão, este último sendo uma herança direta da nossa evolução como primatas.

Por outras palavras, também nas sociedades humanas, o domínio social e político oferece «plenos poderes» sexuais e políticos e permite a livre expansão pessoal, donde, aquilo que incita ao poder nas sociedades humanas parece ser uma mescla muito complexa e variável. Contudo, o exercício do poder e o comportamento político que lhe está associado parece oscilar entre dois polos: o da agressividade potencial e o do exibicionismo dos sinais de estatuto e prestígio. No primeiro caso, o «líder» mantém a autoridade pela intimidação, pelo discurso e pela mímica da ameaça, direta ou velada, quando não pelo logro4 (R. Trivers, 2012); no segundo caso,

pela repetição histriónica da sua presença e da sua importância para os outros.

Algumas linhas de investigação recente 5 tem estudado as designadas

«hierarquias de estatuto», ou seja a forma como nas sociedades humanas se decide quem fica com o poder e a competição a que se assiste entre estes dois candidatos às eleições americanas (Donald Trump e Hillary Clinton) parecem claramente colocar em evidência estes mesmos temas.

Normalmente os indivíduos conseguem persuadir os outros a votarem nele e ao fazê-lo estão a conceder-lhe um estatuto de prestígio, reconhecendo as suas capacidades e a sua experiência e assim a

4 R. Trivers, 2011.

prestar-lhe no futuro o respeito e a deferência que consideram adequado. Esta é chamada a «rota do prestígio» para o poder.

Outras vezes os indivíduos alcançam o poder utilizando a «rota do domínio» predominando a ameaça, a força, a agressão e o medo (os golpes militares de conquista do poder normalmente são o melhor exemplo disto).

Também aqui, como na maioria dos casos dos políticos tradicionais, a candidata do PD, Hillary Clinton, aposta tudo na «rota do prestígio» quer na forma como apresenta as suas credenciais, quer na forma como tenta projetar a sua competência e experiência anterior como política e como ex-Secretária de Estado, numa numa palavra, a sua reputação.

Já o seu rival, o candidato do PR, Donald Trump, tem essencialmente apresentado não apenas um discurso agressivo, provocador, ameaçador e bélico, como que «esbracejando» de forma «histriónica» o seu perfil «guerreiro» e «dominador» perante as ameaças, reais ou imaginárias, sejam elas «vindas» dos Mexicanos, dos Chineses, dos estrangeiros em geral, dos refugiados e potenciais terroristas escondidos, dos muçulmanos ou dos simples vizinhos, etc.. Isto é quase um clássico retirado dos livros sobre «ameaças externas para criar coesão interna» que fará as delícias de qualquer jovem estudante de ciência, sociologia ou psicologia política.

O interessante aqui, claro, mais do que aquilo que os candidatos evocam e argumentam, é a forma como os próprios «liderados» e potenciais eleitores estão a reagir a ambas as formas de fazer política e 5 J. Tracy, 2016), G. Kilduff, 2014

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à argumentação e retórica que a suporta por parte dos candidatos, bem como à forma como se «vendem» a eles e às suas ideias.

O denominador de base deste fenómeno é que qualquer das abordagens utilizadas pelos candidatos tem a mesma origem comum: a evolução humana. É sabido 6 que no caso dos primatas

não-humanos, a dominância pela força e a intimidação é praticamente a única «rota para o poder» como é no caso dos chimpanzés e dos gorilas. De resto a «rota do prestígio», provavelmente, só terá surgido como uma alternativa à «rota da dominação» por causa da extrema importância das informações culturalmente transmitidas por alguns, o que sugeria que seria benéfico distinguir, reconhecer e seguir aqueles que denotavam possuir conhecimentos ou capacidades «especiais», «diferentes» e «superiores» ou alguma experiência «única» ou mais aconselhada e adequada para certa posição ou situação social.

Mas atenção. Qualquer das estratégias ou «rotas do poder» têm sido e continuam ainda a ser praticadas e bem-sucedidas, para o bom e para o mau, em todas as nossas sociedades.

Alguns investigadores7 acrescentam que

pode ainda haver mais um fator nesta equação da conquista do poder e que é, de resto, surpreendente. Por vezes, alguns indivíduos que são marcadamente «dominantes» nas suas estratégias de «ataque» também conseguem alcançar o

6De Waal, 1996

7 G. Kilduff, 2014, 2016

8 Algumas investigações referem que os indivíduos

tendem a confiar mais depressa em alguém que fala

estatuto que necessitam porque, mesmo que não o sejam, tendem a «parecer» competentes. Quando os indivíduos transmitem convicções fortes, apresentam-se com confiança e de forma asapresentam-sertiva conseguem a adesão de muitos outros indivíduos, mesmo que a sua convicção, por muito forte que seja, não seja verdadeira ou a sua aparente confiança e assertividade em nada acrescente valor às ideias que defendem. A sua dominância assenta apenas na sua confiança e na sua assertividade, mas por vezes é o suficiente para obter forte adesão, o que é reforçado se o candidato for, homem, alto, saudável e…rico.8

Em consonância com isto, os seguidores do candidato republicano podem projetar-se no próprio candidato como se através dele pudessem também intimidar e ameaçar todos aqueles de quem não gostam ou que no seu entender são potenciais ou atuais «inimigos». De resto, a preferência por candidatos masculinos e «agressivos» ou «dominadores» é muito antiga nos seres humanos que tendem a favorecer líderes deste tipo sempre que se sentem «ameaçados».9

Mais uma vez a ideia e a importância do papel do género na política (masculino ou feminino) não é propriamente nova e tem impacto real. Alguns psicólogos evolucionistas (Van Vugt, 2008 D. Kenrick, 2010) nos seus trabalhos sobre a liderança evolutiva sugerem que os homens tendem a privilegiar outros homens para cargos de

rápido, fluentemente e com forte convicção (Henrich, 2016).

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poder e de liderança quando percebem (ou são conduzidos a perceber) ameaças, pressões ou qualquer forma de concorrência por parte de outros grupos e a preferir líderes femininos apenas quando confrontados com a concorrência dentro dos seus próprios grupos.

Não obstante as tendências das sondagens e o facto de os debates televisivos, para além da dimensão

espetáculo, não serem afinal tão importantes para a tomada de decisão que provavelmente já está feita na cabeça dos eleitores, caso algum evento grave em termos de segurança ou ameaça aconteça na véspera do ato, acredito que mais uma vez dar-se-á uma (infeliz) regressão evolutiva e o candidato republicano poderá mesmo vencer. O que se passará a seguir é a grande questão.

Referências/References

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Henrich, J. (2016) The Secret of Our Success: How culture is driving human evolution, domesticating our

Henrich, J. (2010). Cultural transmission and the diffusion of innovations: Adoption dynamics indicate that biased cultural transmission is the predominate force in behavioral change and much of sociocultural evolution. American

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