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Agenda

Exibição de Capital Político Exibição de Capital Social Posicionamento

Divulgação de Notícias Campanha Negativa

Tentativa de Criar Engajamento Pessoal/Intimidade

Promessas e Propostas Realizações Passadas Outros

O perfil de Marina Silva foi usado com frequência diária sensivelmente superior aos de seus dois adversários que gozavam das maiores fatias de tempo no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral em rádio e televisão. Com 8,4 tweets diários, somando os períodos de pré-campanha e disputa do primeiro turno, a candidata do Partido Verde superou Dilma Rousseff (com média aproximada de 1,9 mensagens) e José Serra (7,4 tweets) na soma de dias dos mesmos períodos. Tomando apenas a disputa do primeiro turno como parâmetro, a superioridade de Marina é ainda maior: 11,9 mensagens publicadas diariamente contra 1,9 e 7,5 dos candidatos do PT e do PSDB, respectivamente. Cabe salientar a influência de um possível alinhamento de “partidos verdes” a uma postura entusiasta frente aos potenciais sociais e políticos da internet em escala global.

De qualquer modo, esta pesquisa demonstra que o Twitter, no cenário da disputa presidencial no Brasil em 2010, contribui para o acúmulo de evidências empíricas que sustenta o pressuposto teórico de que campanhas tendem a compensar a falta de visibilidade pública mediática com estratégias de comunicação online (CONWAY, KENSKI, WANG, 2011; GILMORE, 2012). Há uma curva decrescente de frequência de utilização que é inversamente proporcional ao tempo de propaganda em televisão e rádio dos três candidatos. Somam-se a isso os resultados das sondagens de opinião ao longo da disputa eleitoral. Dilma Rousseff, que menos utilizou o Twitter dentre os três disputantes, foi a candidata que melhor se posicionou nas aferições das predileções dos eleitores e quem mais tempo disponível tinha no HGPE. José Serra, segundo colocado na média das sondagens de opinião e o segundo candidato com maior tempo em televisão e rádio, também foi o segundo candidato a usar o Twitter com mais frequência. Há, portanto, uma correlação direta, inversamente proporcional, entre o uso do Twitter, tempo disponível para propaganda no HGPE e posição nas sondagens de opinião.

A análise das frequências de utilização absolutas de cada uma das três campanhas sugere o que pode ser um uma singularidade positiva da utilização do Twitter em campanhas presidenciais. Tomando como referência o grande ícone mundial do emprego das redes sociais online para campanha, percebe-se que tanto Dilma Rousseff quanto José Serra e Marina Silva registraram uma presença expressiva no Twitter ao longo de suas empreitadas eleitorais.

Em 2008, Barack Obama se tornou referência na história da comunicação eleitoral ao ingressar em diversos tipos de sites para redes sociais, incluindo o Twitter. No entanto,

entre abril de 2007 (quando, em pré-campanha, iniciou sua jornada no Twitter) e novembro de 2008, o então candidato publicou apenas 261 tweets, uma quantidade sensivelmente inferior às marcas dos três principais presidenciáveis no Brasil em 2010. Mesmo a candidata Dilma Rousseff, que registrou um volume de tweets sensivelmente inferior em relação a seus dois adversários diretos, registrou uma frequência de uso maior a do candidato que se tornou um ícone das campanhas online. Em termos de frequência absoluta, a candidata do PT publicou 392 vezes contra 1.687 publicações de José Serra e 1.499 de Marina Silva em 204 dias. Obama, como já dito, publicou apenas 261 vezes em mais de um ano de presença no Twitter (ANCU, 2011).

No que tange às análises quantitativas e qualitativas concernentes à classificação de conteúdos, percebe-se similaridades e particularidades entre as campanhas analisadas. Os três candidatos utilizaram largamente mensagens com o intuito de divulgar e comentar eventos e ações de campanha. Da mesma forma que posicionaram o conjunto de mensagens triviais e apolíticas entre as quatro categorias mais utilizadas. Conclui-se, portanto, que o Twitter serve como um canal de comunicação que visa a situar os eleitores e simpatizantes sobre os passos do candidato. Conduzir seus seguidores a fatos, detalhes e registros de eventos foi uma das funções primordiais do Twitter para os candidatos a presidente de 2010, conforme a tendência internacional. No entanto, é mister salientar que Marina Silva destoou de seus dois adversários ao imprimir um modo hiper-atualizado de promoção de agenda na medida em que oferecia oportunidades para que seus seguidores acompanhassem suas participações em diferentes eventos e ações ao vivo através de hyperlinks. Participações em programas, pronunciamentos em encontros com alianças partidárias, dentre outros, eram divulgados constantemente a seus seguidores e além.

A exibição de capital social também figura entre as funcionalidades correntes do Twitter pelos três candidatos. Como já afirmado, embora Marina Silva tenha colocado esse recurso em quinta posição no nível de frequência, sua diferença para a quarta categoria mais utilizada (posicionamento), no geral, foi de apenas 16 mensagens. Uma vez que a categoria em questão engloba manifestações de apoio tanto de figuras públicas quanto de eleitores e simpatizantes que não gozam desse status público, presume-se que grande parte das citações e interações discursivas acaba se voltando para a demonstração do prestígio social dos candidatos. Essa questão será mais bem discutida e fundamentada quando da discussão sobre os tipos de perfis com os quais os candidatos mais interagiram

e quais são as categorias de conteúdo predominantes nas mensagens contendo interações discursivas.

Dilma Rousseff, por sustentar a posição de candidata do governo com o compromisso de dar prosseguimento a um projeto político em vigor na ocasião, foi a única a situar mensagens sobre “realizações passadas” entre as quatro categorias com maior presença em seus tweets. Por ser estreante em campanhas, a estratégia também serviu para preencher uma lacuna de prestígio social e político que a acompanhava. Vincular-se a um partido, governo e projeto político, portanto, também fez parte da construção da imagem pública da candidata.

José Serra se valeu de mensagens biográficas como nenhum de seus dois adversários. Confeccionar uma imagem pública de origem humilde e trabalhadora era necessário para que o candidato se posicionasse frente a um governo conduzido com por um líder que carrega a alcunha de “popular” num partido que reivindica a representação das classes trabalhadoras do Brasil. Já o PSDB de José Serra tinha de lidar e contra-atacar a percepção pública corrente de que o partido alinhava-se às necessidades e prioridades das elites sociais e política do país. Desse modo, conquistar segmentos sociais menos favorecidos, social e economicamente, e preferencialmente alinhados ao PT era uma das tarefas de campanha. Alcançar esse objetivo, portanto, pressupunha agregar à imagem pública de José Serra propriedades semânticas associadas à simplicidade, origem humilde, mas também aquelas voltadas para a suavização de seu estigma de centralizador, ríspido e mal-humorado.

Marina Silva, como já bem exposto anteriormente, se destacou por expor suas posições e encorajar ações de engajamento. Na sua condição de religiosa, muitos questionamentos e receios acerca de suas posições frente a questões de ordem moral foram contemplados no seu perfil com o intuito de esclarecer suas intenções e compromissos. Daí a razão para o alto volume de mensagens dessa categoria, diferentemente do perfil de seus dois adversários. A grande aposta no poder de mobilização da internet fez com que a campanha de Marina Silva também se distinguisse dos outros dois candidatos no que se refere ao estímulo ao engajamento. Diversas ações, como “tuitaços”, instruções para organização de eventos, produção de materiais de campanha, abertura de comitês domiciliares e doações para a campanha constituíram a categoria “tentativa de criar engajamento”. Por mais de uma vez, Marina Silva foi bem sucedida nas tentativas de alçar sua campanha aos assuntos mais comentados do Twitter, ampliando a visibilidade pública da candidata. Essas marcas também renderam à Marina

Silva destaques na imprensa, uma vez que algumas dessas ações de mobilização digital agendaram a cobertura jornalística das eleições, ampliando ainda mais a visibilidade da campanha.

Outras duas constatações chamam a atenção sobre o modus operandis dos três candidatos no Twitter. A primeira delas é o baixo volume de mensagens voltadas a críticas aos adversários ou reações a ataques dos mesmos. A categoria “campanha negativa” teve a terceira menor incidência nos perfis de todos os três disputantes. O lema, portanto, era personalizar ao máximo a campanha feita nos perfis oficiais dos candidatos evitando menções aos adversários e conflitos discursivos.

A segunda constatação é de que o Twitter não foi o locus para a divulgação e discussão de promessas e propostas de campanha dos três principais presidenciáveis de 2010. Apenas 1% do total de mensagens de Dilma Rousseff, 4% de José Serra e 8% de Marina Silva foram dedicados a seus projetos de governo. Sob o ponto das reflexões teóricas acerca das campanhas online, o Twitter com sua capacidade interativa e dialógica não foi usado de modo a amparar o paradigma da participação cidadã na constituição de projetos colaborativos de campanha. Com uma pequena exceção – relativa a José Serra que, em um de seus tweets, aparentemente acatou a sugestão de um seguidor que pedia a ampliação do projeto da Nota Fiscal Paulista a todo o território nacional – todos os três candidatos preferiram não priorizar, muito menos discutir suas ideias e planos de governo.

4.2 – Recursos para interação discursiva

Nesta seção serão apresentados os resultados das análises da utilização do que se convencionou chamar neste trabalho de recursos para a interação discursiva no Twitter: as menções (mentions) e replicações (retweets). Como já discutido anteriormente na proposta metodológica, apenas uma análise qualitativa que leve em consideração o conteúdo de cada tweet em específico pode garantir conclusões sobre os níveis e propósitos de interação discursiva de uma campanha no Twitter.

Desse modo, da análise quantitativa do volume de mensagens com “menções” e “replicações” e a distribuição destas nas categorias de conteúdo, foi realizada uma análise com quatro categorias específicas para avaliar a funcionalidade dos recursos de interação discursiva para as três campanhas, a saber: (1) Esclarecimento e discussão de ideias; (2) Declarações de Apoio; (3) Campanha Negativa; (4) Engajamento e (5) Outros.

Os três candidatos distribuíram a aplicação de recursos de interação discursiva em proporções distintas. Enquanto Marina Silva dedicou 43,3% de todos os seus tweets a menções e replicações, Dilma Rousseff os utilizou em 17,6% de suas mensagens. José Serra, por outro lado, fez da sua comunicação no Twitter um canal voltado majoritariamente para a interação com outros usuários. Das 1.687 mensagens publicadas pelo candidato do PSDB, 1.015 foram feitas com a utilização de mentions e retweets, ou seja, 60,2% de todos os tweets publicados.

Gráfico 15 – José Serra – Quantitativo Interação Discursiva

Embora o candidato do PSDB se destaque na utilização dos dois recursos voltados à interações discursivas, a marca atingida por Marina Silva também é significativa. A candidata do PV dedicou quase metade de suas publicações a alguma forma de comunicação direta com outros usuários do Twitter.

40%

33% 27%