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Geral- Interações Discursivas Efetivas

Menções Replicações Geral

das mensagens, mas também que a parcela majoritária dessas publicações serviu genuinamente à comunicação horizontal com outros usuários dos Twitter.

Discussão e Hipóteses

Tomando, portanto, o cenário brasileiro da comunicação eleitoral no Twitter a partir do conjunto de mensagens publicadas pelos três principais candidatos que disputavam as eleições para presidente em 2010, percebe-se que a segunda hipótese de pesquisa deste trabalho se sustenta.

H2: Seguindo a tendência mundial comprovada na revisão de literatura deste trabalho, a disputa eleitoral de 2010 para presidente do Brasil será marcada pela presença de um volume significativo de recursos para a interação discursiva no Twitter.

Ao menos no que tange ao volume de mensagens com menções e replicações presentes no conjunto de tweets dos três candidatos – e tomando a presença desses recursos como indícios de interação dialógica – o modelo brasileiro de que dispomos até o momento respeita um padrão que segue os melhores números encontrados em experiências mundiais, uma vez que quase metade de todas as mensagens publicadas pelas três campanhas foi compostos de mentions e retweets. Trata-se de um modelo que equipara, quantitativamente, as estratégias de comunicação voltadas para a interação com outros perfis no Twitter às mensagens do tipo “broadcasting”, voltadas para a divulgação de algum tipo de informação ou exibição de conteúdo sem qualquer traço de interação discursiva.

Aproximadamente 48% da soma de todas as mensagens publicadas pelos três candidatos contiveram mentions e retweets e, logo, 52% serviram à divulgação de informações e conteúdos sem endereçamentos específicos a algum perfil no Twitter. A constatação de que quase metade de todos os tweets publicados pelos três principais candidatos à presidente em 2010 foi composta a partir do uso de recursos para a interação discursiva conduz a uma conclusão inevitável: o Twitter foi concebido, conceitual e estrategicamente, como um canal de interação direta com cidadãos na mesma medida em que foi utilizado para a simples divulgação de informações de campanha no conjunto das primeiras campanhas presidenciais em que o uso dos social media foi permitido no Brasil.

Apenas um artigo encontrado na revisão de literatura desta tese apresentou distinções dos recursos para menções e replicações com o intuito de identificar o quanto as campanhas foram, efetivamente, interativas com eleitores. Graham et al. (2013) avaliaram menções e replicações e identificaram aquelas efetivamente dialógicas.No entanto, incluiu nesse conjunto mensagens que sequer continham menções a algum usuário do Twitter. Mesmo com esse equívoco procedimental, os autores identificaram que apesar da presença expressiva de mentions e retweets utilizados por candidatos nas eleições gerais do Reino Unido de 2010 (média superior a 50% de todas as mensagens publicadas), apenas 22% desse total consistiram em interações discursivas. Baseado nesse indício, a terceira hipótese de trabalho desta tese foi formulada.

H3: Tal qual demonstram as análises de Graham et al. (2013), a presença de recursos de menções e replicações não corresponde, de fato, à presença de interações discursivas efetivas entre candidatos e partidos com outros usuários do Twitter.

Considerando as análises empreendidas nesta seção, as eleições para presidente do Brasil de2010 invalidam a terceira hipótese de pesquisa deste trabalho. Conforme exposto no Gráfico 41, 76% dos 48% de presença de mentions e retweets da soma dos três candidatos da amostra consistiram em interações discursivas efetivas entre as campanhas e outros perfis no Twitter. Esse resultado sugere tanto uma disposição dialógica dos candidatos e suas equipes quanto um entendimento peculiar das campanhas presidenciais brasileiras de que o Twitter deve cumprir o papel inovador de ser um canal de comunicação direta com o público.

O componente mais crítico aos estudos em campanhas online presentes nessa tese conduziu a resultados que atestam o quão efetivamente interativa foi a disputa eleitoral em questão.

Metodologicamente, demonstrou-se neste trabalho a necessidade de aprofundar a análise dos componentes de interação do Twitter para evitar inconsistências analíticas e conclusões equivocadas. A análise da presença efetiva de interação discursiva nas mensagens com menções e replicações demonstrou uma incidência majoritária de interações concretas entre as três campanhas e perfis do Twitter. 76% dessas mensagens serviram, de fato, à comunicação horizontal dos perfis dos três principais candidatos. Considerando, portanto, que apenas 26% das publicações contendo recursos para a interação discursiva não serviram, de fato, ao propósito de interagir discursivamente,

acumulam-se evidências suficientes para afirmar que o Twitter foi utilizado nas eleições presidenciais brasileiras de 2010 como em nenhuma outra eleição de que se tem registro na literatura sobre campanhas online.

Se forem consideradas as insuficiências metodológicas da maioria das pesquisas empíricas dedicadas à análise de campanhas no Twitter, a discrepância entre o quantitativo de interações discursivas das campanhas analisadas neste trabalho em relação ao padrão internacional pode ser ainda maior. Isto porque na ausência de análises pormenorizadas dos enunciados de mensagens contendo, é plausível cogitar que a mera constatação da presença desses recursos camufle o real nível de interação entre campanhas e eleitores. Em outras palavras, aquelas campanhas consideradas pouco horizontais pelo baixo nível de utilização de replicações e menções podem se mostrar ainda menos interativas do que se supõe se as mensagens que contém os dois recursos para interação discursiva forem analisadas especificamente.

Trata-se de uma marca significativa, mas que deve ser ponderada sobre outras premissas e questões teóricas que permeiam o fenômeno das campanhas online. Conforme foi demonstrado nas análises presentes nessa seção, apenas a candidata Marina Silva, do PV, dedicou a maior parte da comunicação direta que estabeleceu com eleitores para esclarecer e discutir ideias. No quadro geral das interações discursivas dos três candidatos, predominou, majoritariamente, a abordagem de assuntos informais como estratégia de aproximação do eleitor a partir de temas presentes em seus cotidianos ou simples considerações acerca de temas irrelevantes sob o ponto de vista político, falsificando a quarta hipótese deste trabalho.

H4: Como plataforma de comunicação que permite a comunicação horizontal com eleitores - como nenhum outro recurso de comunicação eleitoral mediada e massiva - presume-se que as campanhas utilizarão os recursos de interação discursiva do Twitter para esclarecer promessas, posicionamentos e propostas específicas demandadas por cidadãos.

Esta constatação demonstra que, embora o Twitter tenha sido usado significativamente para a comunicação horizontal, os três candidatos pouco contribuíram para concretizar umas das reivindicações teóricas que se faz às campanhas políticas nos meios digitais: promover a troca argumentativa entre candidatos e cidadãos acerca de temas políticos relevantes na agenda do debate público, gerando ganhos cognitivos e,

consequentemente, políticos para as partes envolvidas e para o próprio processo político- eleitoral. Trata-se, portanto, da reivindicação por maior participação cidadã no jogo político a começar pela disputa eleitoral. Essa formulação teórica ou reivindicação política que permeia o fenômeno das campanhas online desde sua origem permanece, ainda, na dimensão do idealismo.

No entanto, há que se notar que tanto José Serra quanto Marina Silva fizerem referências à possibilidade de eleitores contribuírem com suas plataformas em sites colaborativos criados por suas campanhas. Portanto, existiu uma dimensão participativa tanto na campanha digital de Marina Silva quanto de José Serra (AGGIO, MARQUES, SAMPAIO, 2011), mas que extrapola o objetivo da pesquisa apresentada aqui.

O volume significativo de interação discursiva dos três principais candidatos à presidente do Brasil na eleição de 2010 comprova que há algo de muito singular no modo como essas campanhas se apropriaram do Twitter, na medida em que não entenderam o referido site apenas como uma extensão da comunicação estratégica que estabelecem em outros meios e canais de comunicação, mas sim como um locus de interação social. Sublinha-se o adjetivo social, pois, como já foi discutido aqui à exaustão, o ganho político das interações discursivas não advieram das discussões políticas estabelecidas, mas sim majoritariamente da aproximação social das campanhas com eleitores a partir de temas cotidianos, informais e apolíticos.

Soma-se a essa estratégia o grande volume de interações cuja finalidade foi a de exibir manifestações de apoio que gerassem a exibição do capital social acumulado pelos candidatos. Mesmo Marina Silva, que atingiu altos índices de utilização desses recursos para manifestar ou discutir suas posições e propostas, sobrepôs as conversas “triviais” e a exibição de capital social àqueles expedientes.

Finalmente, acredita-se que esta seção tenha contribuído metodologicamente para pesquisas futuras ao lançar luz sobre a necessidade de utilização de mais abordagens analítica a fim de medir, realmente, o quão dialógicas ou discursivas são as campanhas online geridas no Twitter. Ao contrário do que é apresentado na literatura internacional em termos de pesquisa empírica, de um modo geral, o trabalho de análise realizado aqui não deixa dúvidas sobre o quão interativas foram as três principais campanhas para presidente em 2010.

Ainda se faz necessário explorar, analiticamente, outra dimensão das interações de campanha para elaborar uma radiografia mais precisa do teor da comunicação horizontal estabelecida pelos candidatos que compõe a amostra desse estudo. Trata-se da

verificação das características dos perfis que foram contemplados a partir de mensagens voltadas à interação discursiva. A questão central, portanto, é: em que nível se dá a interação social das campanhas no Twitter? Trata-se de privilegiar a interação com celebridades? Jornalistas? Agentes da política? Perfis institucionais do Estado ou de instituições sociais variadas? Ou se trata, de fato, da comunicação direta com cidadãos que não gozam do status público desses perfis mencionados?

4. 3 - Perfis dos Interlocutores

Foram criadas cinco categorias para distinguir os interlocutores selecionados pelas campanhas para interagir discursivamente. Basicamente, foram separados perfis de agentes e instituições da política, celebridades, cidadãos (eleitores, simpatizantes e militantes), agentes e agências do jornalismo (jornalistas, contas de veículos de comunicação, blogs independentes), “fakes” e “outros” (grupos organizados, perfis declaradamente falsos e contas de suporte para as campanhas).

Há três razões que justificam o esforço de distinção e análise dos perfis dos interlocutores das campanhas. A primeira decorre da necessidade de definir com ainda mais precisão as características das interações discursivas analisadas na seção anterior. Ou seja, a identificação dos endereçamentos nas interações discursivas é chave fundamental para determinar se o Twitter foi usado prioritariamente para o contato direto com jornalistas e veículos de comunicação a fim de influenciar pautas, com celebridades para exibir capital social ou se foi priorizado o contato direito com cidadãos, efetivamente. O alcance das interações discursivas e seus propósitos perpassam pela identificação do perfil dos interlocutores.

A segunda razão parte da imprescindibilidade de verificar o quanto a comunicação política no Twitter contempla os requisitos normativos das tecnologias digitais como instrumento para aproximar a política institucional da esfera da cidadania, uma vez que este trabalho mantém uma interface dialógica direta com formulações teóricas relacionadas às campanhas digitais. Nas elaborações teóricas circunscritas ao fenômeno das campanhas online, reivindica-se que a escassez de iniciativas de comunicação direta entre agentes da política e cidadãos comece a ser superada a partir dos pleitos eleitorais. Sob essa perspectiva teórico-normativa, a verificação dos conteúdos das interações discursivas, bem como da constituição real e efetiva dessas interações, não são suficientes para elucidar em quais níveis as campanhas analisadas contemplaram as

expectativas acerca das possibilidades de aproximação dos agentes da política com os cidadãos a partir da comunicação horizontal. Faz-se necessário, portanto, distinguir os perfis dos interlocutores e extrair desse montante o quantitativo referente aos atores sociais não agrupados em coletivos, instituições ou que gozem de status de celebridade nesses processos. 28

Por fim, a terceira razão se refere a uma questão essencialmente pragmática: no decorrer da coleta e análise de dados, a autenticidade de alguns perfis foi colocada em suspeição por algumas de suas características. A ausência de fotos pessoais, informações biográficas, a inatividade de alguns perfis imediatamente após o fim das eleições e a concentração quase ou totalmente exclusiva em publicações sobre temas eleitorais insinuam que tais perfis podem ter sido criados para servir como “escada” para que os candidatos simularem interações e divulgarem informações de seus interesses. Portanto, assim como publicações que servem a simples menções ou reproduções de mensagens de terceiros não representam interações genuínas, o contato direito com um perfil falso, construído com o intuito de apoiar estratégias de campanha, também não se constitui como interação social autêntica e devem ser discriminadas.

Finalmente, o padrão de apresentação das análises dos resultados será o mesmo das seções anteriores. Os perfis dos interlocutores de cada candidato serão apresentados e discutidos em separado. Ao final, um quadro geral com a distribuição dos perfis contemplados nas interações discursivas dos três candidatos servirá como referência para compreender quais estratégias de endereçamento foram adotadas pelas campanhas.

Marina Silva

A campanha da candidata do Partido Verde priorizou majoritariamente a interação com cidadãos “comuns”. A discrepância entre esses perfis e todos os outros é significativa: 82% dos interlocutores de Marina Silva foram constituídos de eleitores, simpatizantes ou militantes. Celebridades representaram 4%, assim como agentes e instituições do jornalismo, e apenas 3% foram identificados como “fakes”. Cerca de 5%

28 As distinções em questão não servem, em qualquer hipótese, à diminuição da importância desses atores

e agrupamentos sociais na esfera pública. Compreende-se apenas que esses sujeitos e grupos gozam de posições públicas privilegiadas e que, portanto, possuem mais facilidade de acesso a oportunidades de comunicação com agentes da política institucional do que aqueles atores sociais atomizados e com pouco ou nenhum prestígio e visibilidade públicas. Daí a importância de se distinguir e mensurar a presença desses sujeitos sem quaisquer privilégios aparentes que foram contemplados nas interações discursivas das campanhas no Twitter.

foram classificados na categoria “outros” em que se enquadraram perfis de grupos de advocacia dos interesses da esfera civil, perfis oficiais de apoio a campanhas e “fakes” autodeclarados.

Agentes políticos figuraram em patamar parecido: 2%. Ao contrário de impressões e suspeitas iniciais – que se julga aqui procedente – o artifício de utilização de perfis falsos para simular interlocuções não representou nada de significatvo na campanha de Marina Silva. Ao contrário: cidadãos comuns foram os reais interlocutores da candidata do PV.

Gráfico 42 – Marina Silva – Perfis dos Interlocutores

José Serra

A quantidade de cidadãos comuns contemplados nas interações discursivas de José Serra foi proporcionalmente inferior ao de Marina Silva.

Em termos absolutos, José Serra contemplou um número maior de cidadãos comuns em comparação à candidata do PV. 681 perfis figuraram nas mensagens do candidato do PSDB contra 661 da candidata do PV. Percebe-se que Serra registrou uma proporção maior da categoria “outros” em comparação a Marina. Este fato se deu em razão do candidato tucano ter interagido com perfis oficiais de apoio a sua campanha com maior frequência.

2% 4%

82% 4% 3% 5%