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CAPÍTULO 2 – A VISÃO DA COMUNIDADE CIENTÍFICA

2.4 Impactes das alterações climáticas

2.4.2 Água

No presente ponto apresenta-se uma síntese do descrito no WGII do AR5 no Capítulo 23 e uma breve análise ao conteúdo dos resumos nacionais, publicados na Scopus, sobre os impactes das alterações climáticas na água.

IPCC WGII AR5 Chapter 23 pp 19-20

As projeções futuras referem diferenças relativamente aos recursos de água entre o Norte e o Sul da Europa. Na Europa do Sul, a quantidade de água no solo vai continuar a decrescer, as capacidades de saturação e drenagem serão progressivamente mais baixas e restringidas a períodos no inverno e na primavera e a acumulação de neve e o seu derretimento sofrerá alterações, especialmente nas zonas de média altitude de áreas montanhosas. Em bacias de rios localizadas no Sul de Itália, Espanha, Norte de França e Bélgica a recarga das águas subterrâneas e/ou de superfície estará significativamente reduzida até ao final do século. Menor precipitação no verão e maior no inverno poderá aumentar a lixiviação de nitratos com impactes negativos na qualidade da água. Mesmo reduzindo a aplicação de fertilizantes com azoto, as concentrações de nitratos na água dos solos irá aumentar até ao final do século na bacia do rio Sena.

A reduzida adequabilidade das produções agrícolas dependentes de água das chuvas vai aumentar as necessidades de água para irrigação de colheitas. No entanto, o aumento da irrigação pode não ser uma opção viável, especialmente na área Mediterrânica devido à descida projetada dos recursos de água dos solos e de águas subterrâneas. Em várias bacias de drenagem os recursos de água já se encontram muitas vezes sobre explorados e ameaçados pela falta de recarga de águas subterrâneas, induzida pelas alterações climáticas. Para suprir esta necessidade, os custos dos sistemas de irrigação podem aumentar entre 20% e 27% no Sul de Itália e novas estruturas de irrigação serão necessárias em algumas regiões. No entanto, visto que se espera que os benefícios económicos sejam baixos, a adoção de novas estruturas de irrigação irá requerer mudanças nas condições instituídas e de mercado. Além disso, dado que os ecossistemas aquáticos e terrestres são afetados pelo uso de água na agricultura, as restrições das necessidades de irrigação estão projetadas nos cenários regionais futuros orientados para estratégias ambientalmente sustentáveis. Datas de cultivo antecipadas, aumento do conteúdo de matéria orgânica no solo, sistemas com

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baixo consumo de energia, menor irrigação e melhor eficiência no uso de água nos sistemas de irrigação e colheitas, podem ser usados como caminhos de adaptação especialmente no Sul e nas regiões do Sudoeste da Europa.

IPCC WGII AR5 Chapter 23 pp 27-28

As alterações climáticas podem afetar a qualidade da água de várias maneiras, com implicações para a produção de alimentos, para a floresta, funcionamento do ecossistema, saúde humana e animal e cumprimento dos padrões da qualidade ambiental. As massas de água menos profundas vão sofrer um aumento mais rápido de temperatura do que as massas de águas mais profundas, dado que o calor é absorvido principalmente nas camadas superficiais da água e a mistura turbulenta é truncada pela falta de profundidade. Paralelamente ocorre uma diminuição na concentração de O2 saturado dissolvido. Desde o último relatório do IPCC que existem mais provas

dos efeitos adversos causados por eventos climáticos extremos: reduções no O2 dissolvido, blooms

de algas durante o tempo quente e contaminação da superfície das águas costeiras com esgotos e/ou químicos (pesticidas) após ocorrências de precipitação. A redução na precipitação pode conduzir a baixos fluxos, aumentando as concentrações de contaminantes químicos e biológicos. A variabilidade nas mudanças de precipitação e escoamento, assim como o aumento da temperatura da água, levará a diferenças nos impactes na qualidade por sub-região. É esperado que as alterações climáticas aumentem as cargas de nutrientes no Sul da Europa. Em rios com maior caudal, o aumento da temperatura de verão e as secas podem levar a condições mais favoráveis para blooms de algas e a uma redução da capacidade de diluição de efluentes da indústria e dos esgotos.

Cientistas portugueses

Como se observa no Gráfico 8 os anos mais fortes em produção de ciência nacional foram os de 2006 e 2007.

Dos 148 resumos que mencionam impactes na água, sensivelmente 70% abordam este tema pela vertente da água como um recurso e 30% focam-se na qualidade da água.

Em relação à qualidade da água, dando como exemplo os Açores, um dos artigos menciona que o aquecimento global irá destruir o balanço normal do fornecimento de água. Durante o inverno, o aumento da frequência de eventos de precipitação irá aumentar as quantidades de fertilizantes e sedimentos, causando um aumento na degradação da qualidade da água. É esperado que o aumento da temperatura esteja ligado com a escassez de água devido ao aumento da evaporação e consequente decréscimo no volume de água dos lagos. Espera-se um aumento da eutrofização. Consequentemente coloca-se a hipótese de que as alterações climáticas irão de uma forma geral potenciar um aumento da degradação da qualidade da água destes reservatórios estratégicos de água.

Os estudos sugerem que o risco da falta de água em regiões afetadas pelas alterações climáticas está a aumentar e que as alterações climáticas podem ter impactes severos no ambiente, incluindo os recursos de água.

Analisam-se os impactes das alterações climáticas sobre os recursos hídricos e identificam-se, em termos gerais, os impactes específicos relacionados com diferentes variáveis hidrológicas e diferentes características dos sistemas de água. Os cenários climáticos considerados, correspondendo a modelos climáticos selecionados, mostram um pequeno aumento da precipitação anual para a região do norte de Portugal e uma diminuição para as regiões central e sul. Os modelos também preveem um aumento da assimetria sazonal, com quedas relevantes na

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precipitação de verão. A temperatura média anual parece aumentar, particularmente no sul de Portugal. Estes cenários climáticos apontam para uma tendência provável para uma concentração de escoamento do rio no inverno e um aumento da assimetria sazonal atual de disponibilidade de água em Portugal. Parece também que a concentração de chuvas no inverno e do aumento geral estimado na frequência de eventos de precipitação intensa é susceptível de aumentar a magnitude e frequência das inundações, especialmente na parte norte do país. A diminuição prevista do fluxo do rio no sul de Portugal, durante o próximo século, associada a um aumento na assimetria espacial e temporal da distribuição dos recursos hídricos, podem ter consequências muito graves e ser uma causa de grande preocupação. Inclusivamente poderá ter fortes implicações para os recursos hídricos estratégicos e políticas de gestão a serem desenvolvidas para Portugal. O estudo conjunto de impactes das alterações climáticas sobre os recursos hídricos compartilhados por Espanha e Portugal é proposto como um foco importante para a cooperação científica e tecnológica dos dois países da Península Ibérica.

Gráfico 8 – Impactes das alterações climáticas nos resumos científicos: água.

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