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CAPÍTULO 2 – A VISÃO DA COMUNIDADE CIENTÍFICA

2.1 Nota metodológica

A análise ao discurso científico, a visão da comunidade científica portuguesa, constitui a primeira fase da componente prática da presente tese e pretende identificar, de acordo com o conhecimento científico, a existência de consenso sobre as alterações climáticas e as suas causas, os impactes e os riscos associados às alterações climáticas em Portugal que despertam a curiosidade científica e as principais soluções apontadas. Este estudo envolve uma análise do Quinto Relatório de Avaliação do IPCC, nos cenários e projeções dos efeitos das alterações climáticas apresentados para a região do Planeta onde se insere o nosso país, e uma análise de conteúdo à produção científica portuguesa, integrada na Scopus.

A análise de conteúdo à produção científica nacional foi desenvolvida de acordo com as seguintes atividades:

- Definição dos resumos a analisar;

- Exportação da base de dados Scopus para o EndNoteX7; - Exportação do EndNoteX7 para o NVivo10;

- Codificação dos resumos;

- Produção dos resultados agregados; e, - Análise dos resultados.

Com este corpus de análise procurou-se examinar e sintetizar de forma metódica literatura de qualidade. A revisão sistemática focou-se sobre trabalhos científicos indexados, desde o início até dezembro de 2013, na base de dados de referências e citações de literatura científica com peer- review, a Scopus. A escolha da base de dados para a recolha dos resumos a analisar recaiu na Scopus, já que é uma base de dados de referências e citações de literatura científica com peer- review, ou seja, literatura científica com sistema de arbitragem, com uma cobertura geográfica global, garantindo uma representação eficiente da produção científica atual, oferecendo uma visão abrangente sobre a investigação produzida no mundo nas áreas de ciência, tecnologia, artes e humanidades, medicina e ciências sociais.

Na Figura 11 podemos observar um esquema dos procedimentos utilizados na análise ao discurso científico. No dia 14 de janeiro de 2014, para a recolha dos resumos, utilizou-se a palavra-chave ‘Climate Change’, no Título, Resumo e Palavras-Chave, obtendo-se 121.678 resultados, entre 1975 e 2013, seguidamente limitou-se a pesquisa aos resultados do país ‘Portugal’. A escolha do termo nesta pesquisa deriva do conhecimento da literatura no domínio. Não foram utilizadas mais palavras-chave nem equações de pesquisa Booleana nesta fase, para que se conseguisse perceber o domínio da temática na sua total extensão. Após a limitação aos resultados de Portugal foram identificados 884 resultados entre 1992 e dezembro de 2013, para posterior análise dos seus resumos. Nesta fase não se utilizaram mais critérios de exclusão. Estes documentos foram exportados para o EndnoteX7 e os seus títulos e resumos novamente exportados para um projeto do NVivo10.

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O NVivo10 é um software, criado pela QSR, uma empresa australiana, de análise qualitativa utilizado para fins de investigação científica. Para uma compreensão de como foi utilizada a ferramenta na codificação dos diferentes nós vide Anexo I.

Seguiu-se uma análise quantitativa e qualitativa utilizando indicadores de formato e de conteúdo. Para os indicadores de formato utilizaram-se as estatísticas da base de dados Scopus, exceto na análise de frequência de palavras, e para os indicadores de conteúdo recorreu-se à análise de conteúdo com o programa NVivo10. A etapa do processo de codificação, durante a análise de conteúdo, com o programa NVivo10, compreende a criação de nós ou categorias e a releitura dos textos, nos relatórios de codificação, com os recortes já incluídos nestas categorias. Considerou-se cada resumo numa unidade de análise.

Os indicadores de formato incluem uma análise às publicações (número de resumos) por ano, autor, tipo de documento, e área de estudo. Foi ainda incluída uma análise de frequência de palavras, realizada no Nvivo10.

A codificação dos indicadores de formato foi realizada em cinco partes distintas: 1. Publicações por ano;

2. Publicações por autor;

3. Publicações por tipo de documento; 4. Publicações por área de estudo; e, 5. Análise de frequência de palavras.

Nos indicadores de conteúdo, a codificação foi realizada em quatro partes distintas: 1. Reconhecem a existência das alterações climáticas;

a. Atribuem às causas naturais a existência das alterações climáticas; b. Atribuem às causas antropogénicas a existência das alterações climáticas. Refutam a existência das alterações climáticas.

2. Mencionam impactes das alterações climáticas; a. Agricultura;

b. Água;

c. Ambiente construído;

d. Deslizamentos de terra e avalanches; e. Ecossistemas; f. Energia; g. Florestas; h. Impactes sociais; i. Indústria e manufatura; j. Infraestruturas críticas; k. Inundações;

l. Património cultural e paisagens; m. Pescas e aquacultura; n. Produção de carne; o. Qualidade do ar; p. Saúde humana; q. Seguros e banca; r. Solo; s. Tempestades; t. Transportes;

67 u. Turismo.

3. Mencionam riscos;

4. Abordam medidas de adaptação e medidas de mitigação: a. Medidas de adaptação;

b. Medidas de mitigação.

A codificação foi realizada para cada um dos nós, individualmente e em relação aos 884 resumos, como se representa na Figura 11, agregando-se posteriormente8 com o intuito de se analisar o peso

percentual, no discurso científico, da existência das alterações climáticas (agregando as causas naturais e as antropogénicas ao nó da Existência), dos impactes das alterações climáticas (agregando os 21 impactes no nó dos Impactes), e as estratégias de mitigação e adaptação (agregando a mitigação com a adaptação).

Na codificação da existência versus inexistência, no relatório de codificação, com os termos de pesquisa “Climate Change” analisou-se se os resumos reconheciam a existência das alterações climáticas ou, se pelo contrário, refutavam a sua existência. As causas naturais foram analisadas com a revisão do relatório de codificação com os termos “natural causes” e “natural processes” e as causas antropogénicas com os termos “anthropogenic”, “human contribution”, human induced” e “human activity”. Os nós das causas naturais e das causas antropogénicas foram posteriormente agregados ao nó da Existência.

Cada um dos 21 impactes das alterações climáticas foi analisado, individualmente, de acordo com a revisão integral dos relatórios de codificação utilizando os termos de pesquisa que se apresentam na Figura 11. Procedeu-se, posteriormente, a uma agregação de codificação de nós secundários, para formar o nó Impactes.

Os riscos foram analisados através da revisão do relatório de codificação resultante da inserção do termo de pesquisa “risk” com o Nível 3 de Resultados Correspondentes, em que o Nvivo inclui automaticamente as palavras: risk; risks; hazard; hazards; dangerously; jeopardy; jeopardized; danger; dangerous; e, endangerment. Com esta análise pretendeu-se entender quais os temas que os cientistas associam diretamente ao conceito de risco. Posteriormente procedeu-se à interligação dos resultados do risco com os dos impactes.

Através da análise do relatório de codificação resultante dos termos de pesquisa “mitigation”e “adaptation” com o Nível 3 de Resultados Correspondentes9 identificaram-se, no discurso científico,

os resumos que abordam as estratégias de combate às alterações climáticas, quando explicitamente designadas ou associadas a medidas de mitigação ou medidas de adaptação. Este capítulo tem por objetivo caracterizar o estado do conhecimento científico sobre as alterações climáticas, da própria existência do fenómeno, dos seus impactes e riscos e das soluções, identificando as questões que a ciência considera mais relevantes na investigação destes domínios. Mais do que uma visão muito aprofundada sobre cada um dos subtemas, tenciona-se obter uma correlação sobre o nível de discussão que cada tema alcança em comparação com os outros.

8 Agregar codificação de nós secundários

9O nível 3 de resultados correspondentes inclui as palavras: adapt, adaptability, adaptable, adaptation, adaptations, adapted, adapting, adaptive, adapts para a adaptação

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2.2 Indicadores de formato: publicações por ano, autor, tipo de documento e

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